Esse Single celebrou a volta de Elvis ao sucesso e principalmente ao retorno a um material mais consistente, de qualidade. Por anos o cantor se dedicou a trilhas sonoras de filmes, algumas delas francamente infantis e juvenis demais. O problema é que Elvis não era mais um artista adolescente, mas um homem com mais de 30 anos de idade. Seus fãs também tinham envelhecido e não estavam mais dispostos a consumir bobagens. Por volta de 1968 Elvis finalmente decidiu voltar aos palcos, gravar material relevante e deixar a tralha de Hollywood para trás. Ao lado de "Memories" essa canção foi a única inédita apresentada no NBC TV Special.
O curioso é que ela foi escolhida e gravada por Elvis mesmo a contragosto do Coronel Parker. O empresário queria que Elvis encerrasse o programa cantando alguma canção natalina. O produtor do especial Steve Binder achou essa realmente uma péssima ideia e acabou convencendo Elvis a gravar uma música mais de acordo com a realidade que o país atravessava. Afinal os Estados Unidos estavam atolados na Guerra do Vietnã, a questão dos direitos civis das populações negras fazia crescer uma constante tensão dentro da sociedade, inclusive eclodindo em movimentos violentos e o clima geral era de desalento entre os americanos. Nada poderia soar mais atual e antenado com os acontecimentos do que a letra dessa música. Para gravá-la Elvis entendeu que precisava de um clima adequado, bem especial. Para isso pediu que as luzes do estúdio fossem apagadas. Ele se sentou no chão - algo que nunca havia feito antes na carreira - e lá mesmo gravou o take perfeito, final, em meio a muita inspiração interior.
No lado B a RCA Victor resolveu enfiar a fraca "Edge of Reality". A canção era da trilha sonora do filme "Live a Little, Love a Little", ou seja, uma típica representante de um aspecto da carreira de Elvis que ele queria deixar para trás definitivamente. Alguns autores inclusive afirmam que Elvis Presley ficou extremamente aborrecido quando soube que ela seria encaixada como o outro lado de sua preciosa "If I Can Dream". Quando tentou reverter já era tarde demais, o single já estava confeccionado e rodando nas máquinas da empresa em Nova Iorque. Olhando para trás temos que concordar com Elvis, esse foi um Lado B realmente fraco e sem propósito. O ideal seria a dobradinha de inéditas do NBC com "If I Can Dream" no Lado A e "Memories" no Lado B. Além de ser perfeita para o consumidor, ainda poderia fazer frente aos singles dos Beatles que dominavam as paradas na época. Ao contrário da RCA o quarteto de Liverpool colocava grandes músicas em ambos os lados de seus singles, o que fazia com que os disquinhos explodissem em vendas no mercado. Quer um exemplo disso? Um mês antes de "If I Can Dream" chegar nas lojas os Beatles lançavam "Hey Jude / Revolution" no mercado. Dois clássicos absolutos, canções fortes e significativas, que entravam destruindo nas paradas. Mesmo Elvis renascendo das cinzas naquele momento era muito complicado para ele bater de frente com um lançamento desse porte! De qualquer maneira os fãs do velho Elvis estavam contentes por ter novamente material de qualidade para comprar. O single de Presley fez sucesso e ganhou inúmeras resenhas elogiosas da crítica especializada. Era um alívio depois de tantos fracassos comerciais e matérias que destruíam seus mais recentes discos e singles.
Pablo Aluísio.
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