domingo, 14 de novembro de 2021

Elvis Presley - Elvis Now (1972)

Os brasileiros de forma em geral gostam bastante desse álbum "Elvis Now". As razões para isso são várias. Vai desde a inclusão de um dos maiores sucessos de Elvis no Brasil com a canção "Sylvia", passa pelo fato de ter uma das músicas mais marcantes dos Beatles, "Hey Jude" (o que levou muitos a comprarem o disco naquele distante ano de 1972), indo até seu design de capa, multicolorida, com jeitão hippie. Também foi um dos LPs mais vendidos de Elvis em nosso país, ganhando várias reedições ao longo dos anos. De fato temos aqui um excelente disco de estúdio, um pouco diferente em sua produção dos grandes discos de Elvis da época, mas que se firmou mesmo por causa de sua bela qualidade artística. Por essa época Elvis estava vivendo seu inferno astral, com o conturbado e complicado divórcio de Priscilla. Isso porém ainda era meio ocultado do público em geral, assim todos apenas pensavam que Elvis estava vivendo mais um bom momento em sua carreira profissional, cantando regularmente em Las Vegas, fazendo turnês, etc. Uma época bacana de sua vida, isso apesar das pistas deixadas por Presley em várias das letras que cantava nesse período.

1. Help Me Make It Through The Night (Kris Kristofferson) - Havia uma variedade de gêneros musicais nesse álbum de Elvis lançado em 1972, mas era inegável também que a country music se fazia muito presente em seu repertório. A primeira faixa do disco era justamente um country chamado  "Help Me Make It Through The Night" de autoria do cantor e compositor Kris Kristofferson. Era uma canção bem recente na época, lançada no disco "Kristofferson" de 1970. Esse álbum tinha se tornado um dos preferidos de Elvis, justamente pelo seu estilo country / rock de Nashville que estava começando a se sobressair nas rádios do sul. A história de criação dessa canção é bem curiosa. Ela foi explicada pelo autor alguns anos depois, em entrevista. Ele disse que leu uma entrevista de Frank Sinatra para a revista Esquire onde o cantor se esquivava de uma pergunta sobre suas crenças religiosas. Frank respondeu: "Em que eu acredito? Eu acredito em um copo de whisky, em uma boa companhia, na bíblia... ou em qualquer coisa que me ajude a atravessar a noite!". Sinatra vinha passando por uma crise depressiva após o fim de seu casamento e passava as noites em claro, tentando chegar no dia seguinte. Foi justamente em cima dessa declaração que Kris Kristofferson escreveu sua canção. Inicialmente ele ofereceu a música para Dottie West, mas ela recusou. Assim ele acabou a gravando originalmente para o seu álbum de 1970. A versão de Elvis surgiria dois anos depois. Para alguns Elvis havia se identificado com a letra, pois ele também vinha passando por problemas relacionados a uma grave depressão, após o fim de seu casamento com Priscilla. Além disso Elvis tinha sérios problemas de insônia, que o deixava acordado por noites seguidas. Assim se tornava bem óbvio que ele tinha muitos motivos para se ver naquelas palavras escritas por Kristofferson.

2. Miracle of the Rosary (Lee Denson) - Elvis nasceu em berço evangélico, mas jamais se fechou dentro da doutrina religiosa dos seguidores de Lutero. Pelo contrário, ao longo da vida ele procurou por várias manifestações religiosas diferentes, tendo estudado as religiões orientais (que sempre o fascinaram, até o fim da vida) e o cristianismo dito mais tradicional. Elvis tinha muito apreço com a religião católica, a primeira religião cristã a surgir na história, principalmente na forma como os católicos tratavam a Virgem Maria. Uma das orações preferidas do cantor aliás era a "Ave Maria" que ele sempre rezava em momentos de reflexão. Assim Elvis decidiu que iria trazer a "Ave Maria" para seus discos. A forma que ele encontrou para isso foi gravar a canção religiosa católica "Miracle of the Rosary", que ele considerava belíssima! Tão inspirado ficou ao ouvi-la pela primeira vez que comprou algumas imagens católicas para ter em sua casa, tanto em Graceland, como na Califórnia. Elvis não se importava com críticas de que aquilo seria algum tipo de idolatria, porque havia estudado o catecismo romano e entendido a razão de ser das imagens católicas. Nada a ver com idolatria ou algo do tipo. Esse era um velho preconceito evangélico que Elvis não aceitava, pelo contrário, sempre tentava explicar teologicamente que as imagens serviam apenas como instrumentos de fé. Além disso ele amava a arte sacra dos católicos, tendo trazido para seu figurino inúmeros crucifixos e adornos da igreja de Roma. Um dos sonhos de Elvis inclusive era fazer uma viagem até Roma, para conhecer o Vaticano. Quando estava servindo o exército na Alemanha ele chegou a programar uma viagem que só foi cancelada na última hora por causa de imprevistos. Acabou assim indo até Paris, mas sem deixar de lado seus planos de ir até a Basílica de São Pedro. Nos anos 70 ele teve bastante vontade de realizar uma grande turnê por toda a Europa, com Roma incluída dentro do cronograma, mas tudo foi por água abaixo por causa do Coronel Parker que não tinha passaporte e não poderia acompanhar o cantor por seus shows pelas grandes cidades históricas da Europa.

3. Hey Jude (Lennon / McCartney) - Bom, é consenso que uma das razões do sucesso de vendas de "Elvis Now" foi mesmo a inclusão de uma bela versão de "Hey Jude", o clássico imortal dos Beatles. Elvis deu uma leveza toda própria à sua versão, culminando em uma sonoridade e uma performance realmente magistral. Um aspecto que gosto muito dessa gravação é que Elvis canta a balada com uma certa suavidade, uma leveza, que não havia nem mesmo na versão original dos Beatles. Isso se deveu ao fato de que Elvis na verdade não tinha programado nada no sentido de gravar a música dos Beatles. A coisa simplesmente aconteceu dentro do estúdio, quase como se fosse um ensaio sem maiores compromissos. Perceba que Elvis não segue à risca a ordem da letra original. Ele começa até mesmo com um verso errado. Também podemos perceber o quanto ele estava relaxado ao rir um pouco quase no final da faixa (coisa que nos velhos tempos inutilizaria qualquer take com pretensões de se tornar uma faixa oficial). No final das contas era apenas Elvis cantarolando uma música de que gostava, sem pressão, sem pretensão de soar perfeito. Outro fato curioso é que durante anos os Beatles silenciaram sobre a gravação de "Hey Jude" por parte de Elvis. Na realidade eles nem sequer existiam mais como grupo em 1972. Isso porém não evitou uma certa expectativa sobre a opinião do quarteto sobre essa faixa. Tudo ficou meio omisso até que Paul McCartney visitou Memphis durante uma de suas concorridas turnês. Ele foi até Graceland, visitou o museu, posou ao lado das guitarras que tinham pertencido a Elvis e depois, falando com a imprensa americana, confidenciou que havia amado a versão de Elvis para uma de suas maiores criações, justamente a versão de "Hey Jude" que ouvimos nesse disco. O próprio explicou tudo com seu jeito peculiar de se expressar ao afirmar: "Adoro ouvir Elvis cantando Hey Jude! É ótimo, tenho o disco até hoje comigo! Fantástica interpretação!". Assim se o próprio criador desse hino imortal dos anos 60 adorou a faixa quem somos nós para criticar qualquer coisa, não é mesmo?

4. Put Your Hand in the Hand (Gene McLellan) - Avançando no disco temos ainda a faixa intitulada "Put Your Hand in the Hand". Confesso que nunca gostei muito dessa canção. Ela tem uma melodia até agradável, mas o excesso de repetições da letra e do refrão cansam o ouvinte após algumas audições. A letra é gospel, trazendo de volta o Elvis religioso, sempre louvando a Deus. A letra basicamente é quase uma oração, incentivando o ouvinte a colocar seu destino nas mãos de Deus, ou melhor dizendo, colocando suas mãos nas mãos do homem da Galileia, que com suas próprias mãos acalmou as águas do mar. Basicamente é isso. Como se trata de uma música religiosa o refrão é repetido inúmeras vezes. Não há nada de errado nesse tipo de composição harmônica, apenas acredito que canse um pouco, funcionando melhor mesmo dentro de um culto religioso, com todos batendo palmas e cantando juntos.

5. Until It's Time For You To Go (Marie) - O Lado A do single extraído desse álbum veio com a melancólica "Until It's Time For You To Go". Essa era uma nova versão de Elvis para um sucesso de meados dos anos 60. A música havia sido escrita e lançada pela artista canadense Buffy Sainte-Marie. Ela foi uma nativa que cantando sobre paz, amor e ativismo político, conseguiu se sobressair no cenário da música naquele período. Sua versão original é bem de acordo com o movimento hippie, com apenas voz e violão, algo singelo, simples, mas ao mesmo tempo bonito e harmonioso. Elvis de certa forma tirou a melodia de suas origens e a levou para um estilo mais country and western. Também sua banda TCB vinha nessa pegada. Elvis assim tornava a música mais palatável para o público do sul dos Estados Unidos, que tinha mais familiaridade com a sonoridade vinda de Nashville. Muito provavelmente Elvis nem tenha se inspirada na gravação original de Sainte-Marie, mas sim na versão do grupo britânico The Four Pennies. Eles a gravaram em 1965 e conseguiram transformar sua gravação em um top 20 da parada. Um feito e tanto. Pena que na voz de Elvis a música não voltou a obter muito sucesso na parada de singles. Muito provavelmente ela já havia chegado ao máximo em termos de êxito comercial com os ingleses, sete anos antes.

6. We Can Make the Morning (Jay Ramsem) - "We Can Make the Morning" tem um belo trabalho vocal por parte dos grupos de apoio de Elvis. Essa canção sempre considerei uma das melhores sob esse aspecto. Talvez não tenha sido tão bem recebida pelo público porque sua sonoridade destoava um pouco do que tocava nas rádios na época. "American Pie" de Don McLean era um hit nas paradas e mostrava bem o que todos estavam querendo ouvir por volta de 1972. Músicas grandiosas como essa de Elvis Presley dificilmente iriam se sobressair no mercado. A RCA Victor porém resolveu ignorar isso e colocou a música de Jay Ramsey como lado B do novo single de Elvis. Não houve boa receptividade, fazendo com que o compacto chegasse apenas ao quadragésimo lugar entre os compactos mais vendidos, um resultado muito longe do que a gravadora pretendia. É uma pena já que definitivamente a canção era bonita e bem executada. Apenas não era a ideal para ser lançada como single naquela ocasião. De qualquer maneira acabou recebendo boas críticas por parte de revistas especializadas em música. Se não foi tão bom do ponto de vista comercial, pelo menos ganhou a simpatia dos críticos musicais.

7. Early Morning Rain (Gordon Lightfood) - Outro bom momento desse álbum "Elvis Now" veio com a faixa "Early Morning Rain". Um belo country, com melodia agradável e relaxante. De todas as canções desse disco essa foi certamente uma das que ele mais utilizou em seus concertos durante os anos 70. Aliás é interessante notar que também foi incluída no especial de TV "Aloha From Hawaii". Aqui Elvis não a usou no show propriamente dito, mas numa sequência própria, sem público, apenas a cantando de forma sóbria, concentrada. Curiosamente apesar de ser um country (um gênero nascido no sul dos Estados Unidos), a canção havia sido composta por um canadense, Gordon Lightfoot, em 1966. A versão porém que inspirou Elvis a gravar a faixa foi a de Peter, Paul and Mary. Elvis simplesmente adorava o estilo vocal desse trio que fez grande sucesso nos anos 60.

8. Sylvia (Geoff Stephens / Les Reed) - É fato que os americanos nunca deram muita bola para a balada romântica "Sylvia". Nos Estados Unidos essa música nunca chegou a ser um sucesso. Nem entre os fãs mais ardorosos daquele país há qualquer destaque dado para a canção. Assim ela é considerada mesmo um verdadeiro "Lado B", ou seja, uma faixa gravada apenas para completar o espaço de um disco. Nada mais do que isso. O curioso é que mesmo em fóruns de colecionadores no exterior há um certo desprezo pela gravação. No Brasil as coisas mudam de figura. "Sylvia" foi certamente um dos maiores sucessos da carreira de Elvis Presley. A música tocou muito nas rádios, ajudou o álbum "Elvis Now" a vender muito em nosso país, além de ter sido colocada como single nacional para aproveitar o sucesso na época. O compacto (único no mundo todo) até hoje é cobiçado por quem coleciona discos de vinil. Em suma, "Sylvia" foi um grande hit verde e amarelo, sob qualquer ponto de vista. Fazendo um exercício de imaginação, se Elvis tivesse vindo ao Brasil realizar algum show por aqui nos anos 70 certamente ele teria que colocar "Sylvia" como um dos destaques de seus concertos, já que o público brasileiro não iria admitir uma apresentação sem essa canção tão querida dos fãs brasileiros. Como infelizmente isso nunca aconteceu e como Elvis ficou mesmo enclausurado dentro dos Estados Unidos pelo resto de sua vida, ele nunca chegou a interpretar a música ao vivo, afinal para os americanos ela nunca passou de ser um mero "Lado B" da discografia do cantor. Que pena!

9. Fools Rush In (Rube Bloom / Johnny Mercer) - Outro country do disco foi a faixa "Fools Rush In". A primeira versão veio com Johnny Mercer em 1940. Tempo de guerra, com os soldados americanos se preparando para lutar na Europa contra os nazistas. Essa versão porém era bem antiga, não marcando muito Elvis (afinal ele tinha apenas cinco anos de idade quando ela foi lançada) As versões que parecem ter inspirado Elvis vieram bem depois, primeiro com Frank Sinatra e depois com Ricky Nelson que a transformou em um grande sucesso em 1963. A letra também demonstrava trazer uma certa identificação para Elvis na época. Afinal apenas os tolos abriam completamente seu coração. Com a traição de Priscilla, o divórcio e tudo o mais que de ruim lhe havia acontecido não era mesmo de se admirar que Elvis não se sentisse apenas magoado com o fracasso de seu casamento, mas também como um verdadeiro tolo por ter acreditado demais no amor

10. I Was Born About Ten Thousand Years Ago (Elvis Presley) - Outro aspecto curioso desse disco foi a opção da RCA Victor em colocar a versão completa, sem cortes, de "I Was Born About Ten Thousand Years Ago". Como sabemos essa música foi picotada no disco "Elvis Country" de maneira até interessante, original, mas também torturante para quem queria ouvi-la completa. Para apaziguar as críticas de quem ficou insatisfeito por tê-la apenas aos pedaços no disco de 1971, a gravadora resolveu ouvir as reclamações, a selecionando aqui da forma como foi gravada, completa, sem  Interrupções ou algo do tipo. A letra, como já tivemos a oportunidade de explicar, ia bem ao encontro de algumas crenças e doutrinas religiosas que Elvis vinha estudando naqueles tempos, com referências a reencarnação e imortalidade da alma. Por isso a afirmação de se ter mais de dez mil anos! Coisas que Elvis conversava praticamente todos os dias com seu cabeleireiro e "guru" Larry Geller. Ler e debater temas religiosos era um dos passatempos preferidos do cantor, algo que ele nunca abandonou, colecionando literatura sobre o assunto até o dia em que morreu.

Elvis Presley - Elvis Now (1972): Elvis Presley (vocais, violão) / James Burton (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Charlie Hodge (Violão) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (bateria) / Kenneth Buttrey (bateria) / David Briggs (piano) / Joe Moscheo (piano) / Glen Spreen (órgão) / Charlie McCoy (gaita) / The Imperials (vocais) / June Page (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / Temple Riser (vocais) / Ginger Holladay (vocais) / Produzido e arranjado por Felton Jarvis e Elvis Presley / Data de gravação: 6 e 8 de junho de 1970, 15 de março, 15 a 21 de maio e 8 a 10 de junho de 1971 / Local de gravação: Estúdios B da RCA em Nashville / Data de Lançamento: Fevereiro de 1972.

Pablo Aluísio.

sábado, 13 de novembro de 2021

Elvis Presley - Love Letters From Elvis

Elvis Presley - Love Letters From Elvis (1971) - "Love Letters from Elvis" foi o último álbum a trazer músicas inéditas gravadas em Nashville, na chamada "Nashville Marathon". Em apenas poucos dias Elvis gravou um número enorme de músicas que foram sendo lançadas aos poucos. Esse "Love Letters" não foi um disco bem sucedido nas paradas. Na verdade fez mais sucesso na Inglaterra do que nos Estados Unidos, onde conseguiu chegar no máximo em um desolador trigésimo terceiro lugar entre os mais vendidos. Na terra da Rainha alcançou o Top 10, mostrando o quanto os ingleses gostavam de Elvis. Isso é bem curioso porque todos viviam perguntando quando Elvis iria se apresentar em Londres. Depois de tantos anos o cantor nunca havia feito uma única apresentação na Europa, algo que era encarado como único e estranho entre os superstars da música mundial. Depois descobriu-se que Tom Parker não poderia sair das fronteiras americanas porque ele não tinha passaporte, afinal era um imigrante ilegal. Pois é, por causa da situação ilegal do seu empresário o velho mundo ficou sem ver Elvis ao vivo, um absurdo!

"Love Letters from Elvis" apresentava um repertório agradável de músicas bem escritas e gravadas, porém temos que reconhecer que nenhuma delas tinha vocação para o sucesso nas paradas. A impressão que fica é que a RCA Victor foi selecionando as melhoras para os discos anteriores (como "That´s The Way It Is") deixando o "resto" para ser lançado tudo de uma vez, nesse disco. Pode até parecer cruel pensar dessa forma, mas se formos analisar bem o que realmente aconteceu, a conclusão que chegamos é exatamente essa. É um disco de retalhos, material que não havia sido aproveitado antes, que tinha que ser lançado de um jeito ou outro. Mesmo assim, como escrevi, isso não significa que seja um disco ruim, longe disso. Na verdade é um disco de músicas que não tinham muita vocação para se tornarem hits nas rádios, mas que nem por isso não deixavam de ter seu valor. A própria faixa título do disco, "Love Letters", já tinha sido gravada antes pelo próprio Elvis em estúdio, durante os anos 60. O resto da seleção não era tinha maior potencial para o sucesso, eram canções diferentes, com letras bonitas, mas nada que fosse virar sucesso nas paradas. Por tudo isso o disco acabou sendo esquecido com os anos. Era um álbum de canções inéditas de Elvis, algo que deveria ter sido mais bem sucedido, porém nem mesmo um astro como Elvis Presley tinha a capacidade de transformar tudo o que gravava em grande fenômeno de vendas. Ele era o Rei do Rock, não o Rei Midas.

1. Love Letters (E. Heyman / V. Young) - Balada romântica que dá título a esse álbum de Elvis Presley, é uma antiga canção, muito popular nos anos 1940. Ela foi composta por Victor Young, violonista, pianista e compositor clássico. Nascido em Chicago, ele foi até Hollywood tentar a sorte. Acabou se dando muito bem, escrevendo canções populares românticas para trilhas sonoras de filmes dos grandes estúdios de cinema. Essa foi uma delas. Ela fez parte da trilha sonora do filme "Um Amor em Cada Vida", um drama estrelado por Jennifer Jones e Joseph Cotten. Acabou sendo indicada ao Oscar na categoria de Melhor Música original naquele mesmo ano. Os créditos foram dados ao próprio Young e ao letrista Edward Heyman. Antes de Elvis ainda haveria uma outra versão, gravada por Ketty Lester em 1962. Elvis raramente gravava uma música em estúdio duas vezes. Isso aconteceu com "Blue Suede Shoes" que foi gravada para o primeiro álbum de Elvis na RCA Victor e depois para a trilha sonora do filme "G.I. Blues" (Saudades de um Pracinha) e depois com "You Don't Know Me" da trilha sonora de "Clambake" (O Barco do Amor), também regravada em estúdio por Elvis após a gravação original. Assim "Love Letters" era igualmente um caso bem raro. Elvis a gravou originalmente na década de 1960 e depois a gravou novamente, sendo essa segunda versão a usada nesse disco. Qual teria sido a razão? Não se sabe ao certo. Particularmente ainda prefiro a versão de 1966. O cantor parece mais concentrado e mais firme. Os arranjos também são mais adequados para essa velha composição romântica. Há um clima de nostalgia que valoriza muito a melodia. De qualquer maneira ambas as versões de Elvis são muito boas, sem dúvida. No final das contas se torna apenas um caso de gosto pessoal de cada ouvinte.

2. When I'm Over You (S. Milete) - Essa foi outra composição de S. Milete a entrar no álbum. Esse autor já havia composto a estranha "Life" e aqui surgia com algo mais convencional. É fato que Elvis procurou por um novo time de compositores nos anos 70. Na década anterior ele ficou muito preso a um grupo de escritores de Nova Iorque e Los Angeles que acabou criando quase todas as músicas de suas trilhas sonoras. Aquele material saturou Elvis que agora procurava por novos caminhos, outras sonoridades. Essa faixa porém não agradou muito. Para muitos ela seria apenas uma canção qualquer, feita para completar cronologicamente o LP. É uma visão até bem pessimista, já que apesar de ser bem comum a melodia desse country ainda apresenta alguns momentos bons, de clara inspiração melódica. A RCA Victor porém não fez nada por ela, se tornando assim mais uma música pouco conhecida fora do círculo dos fãs mais conhecedores da obra de Elvis. "When I'm Over You" nunca foi lançada em outro álbum, nem em coletâneas, nem em nada. E como Elvis também nunca a cantou em concertos ela foi simplesmente sumindo, desaparecendo com o passar dos anos.

3. If I Were You (G. Nelson) -  Outro country considerado bem abaixo da média. Ela foi composta pelo músico Gerald Nelson. Essa canção foi gravada no último dia de sessão da famosa Nahsville Marathon. Era o dia 8 de junho de 1970 e após gravar dezenas e dezenas de canções Elvis estava visivelmente cansado e esgotado. Nessa noite em especial ele conseguiu ainda emplacar outras cinco canções: "There Goes My Everything", "Only Believe", "Patch Up" (que seria lançada no disco "That´s The Way It Is") e "Sylvia" (o grande sucesso de Elvis no Brasil, lançado no disco "Elvis Now" dois anos depois de ser gravada). Impossível não notar um certo clima de fim de festa. Elvis era um cantor muito produtivo dentro dos estúdios, mas depois de tantas gravações ele se mostrava mesmo bem cansado, principalmente em sua performance vocal. A linha de melodia da canção também não ajuda muito, sempre rodando em círculos, sem ir para qualquer direção. A letra era novamente romântica e referencial, onde um homem apaixonado tentava convencer sua paixão a ficar ao seu lado. Um tema até bem batido, mesmo dentro dos padrões de Nashville. Enfim, uma música sem novidades que acabou sendo facilmente esquecida após algum tempo.

4. Got My Mojo Working / Keep Your Hands Off Of It (P. Faster / E. Presley) - Dando sequência na análise das canções do álbum " Love Letters from Elvis" vamos tecer mais alguns comentários sobre essa faixa. A primeira vez que ouvi "Got My Mojo Working / Keep Your Hands" fiquei com a nítida impressão de que se tratava de um mero ensaio ou melhor dizendo, uma animada jam session. Esse tipo de gravação não entrava, via de regra, nos discos oficiais de Elvis. O produtor Felton Jarvis porém teve outra opinião sobre isso. Ele gostou tanto do resultado, da espontaneidade de Elvis e sua banda, que não pensou duas vezes e colocou essa gravação informal dentro do disco. Como não era algo comum de acontecer nos álbuns de Elvis, que sempre saíam com grande produção e profissionalismo, acabou chamando a atenção dos fãs na época de seu lançamento original. É um bom momento do disco, valorizado pelo fato de ser uma versão de Elvis para uma música do grande Muddy Waters, um nome consagrado. Curiosamente embora tenha sido de certa maneira ousado em escolher essa jam session para fazer parte do disco, o produtor Felton Jarvis resolveu editá-la, pois a versão no total tinha quase seis minutos de duração, algo considerado nada comercial naqueles tempos. Assim a versão que ouvimos no LP original é bem mais curta e bem mais editada, com a adição de instrumentos promovidos por Jarvis em seu estúdio.

5. Heart Of Rome (Stephens / Blaikley / Howard) - "Heart Of Rome" era mais uma música Italianíssima que Elvis trazia para seu repertório. Elvis não tinha raízes italianas (seus antepassados tinham vindo da Escócia para os Estados Unidos), mas ele amava a músicalidade daquela grande nação. Provavelmente Elvis tomou gosto pelas canções italianas ouvindo Dean Martin, um dos seus cantores preferidos. Logo percebeu que as melodias italianas soavam perfeitas para ele disponibilizar aos seus fãs grandes performances vocais. Afinal ele tinha obtido excelentes resultados comerciais no passado com gravações como "It´s Now Or Never" e "Surrender". Infelizmente porém dessa vez a RCA Victor resolveu não trabalhar na promoção da música, se limitando a divulgá-la de forma bem tímida nas rádios como mero lado B do single "I´m Leaving". Penso que se houvesse maior capricho por parte de sua gravadora, principalmente em seu lançamento europeu, o compacto teria se tornado um grande sucesso.

6. Only Believe (P. Rader) - Essa música "Only Believe" sempre me pareceu como uma interessante fusão entre gospel e blues. Essa música não é unanimidade entre os fãs de Elvis. Há aqueles que gostam muito de sua proposta e outros que a consideram abaixo da média, uma música sem muita identidade, transitando entre gêneros musicais diversos, sem optar definitivamente por nenhum deles! Penso que é um bom momento do álbum, inclusive chegou a ser escolhida pela RCA Victor para ser o lado B do single "Life" (sim, aquela estranha composição falando sobre a origem do universo e outras coisas sem nexo). Infelizmente o single não foi muito bem sucedido comercialmente, chegando apenas na posição 53 da Billboard. Algo que era até esperado pois nenhuma das faixas tinha potencial mesmo de se tornar um grande hit na paradas!

7. This Is Our Dance (L. Reed / G. Stephens) - Essa canção é uma criação do músico e compositor inglês Leslie David Reed. Ele era o maestro e líder uma orquestra muito popular no Reino Unido na década de 1950, onde também tocavam os músicos Gordon Mills e Barry Mason. Naqueles tempos os bailes tinham se tornado bem populares, assim várias orquestras surgiram, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos (fenômeno que também se repetiu no Brasil, na mesma época). Por essa razão as características dessa música são bem claras no tocante ao seu ritmo e melodia. É uma música romântica de baile, composta para ser tocada nos grandes salões da Europa. Provavelmente Elvis tomou conhecimento dela por causa justamente da The Les Reed Orchestra, uma vez que essa orquestra também gravou um disco com "Also Sprach Zarathustra" que Elvis iria utilizar como abertura de seus concertos na década de 1970.

8. Cindy, Cindy (Kaye / Weisman / Fuller) - Esse country com bela melodia bucólica era bem mais dentro do padrão. Um country rock muito bom, que deveria ter sido usado como música de trabalho do álbum. Curiosamente a música foi composta pelo trio Kaye, Weisman e Fuller. Esse pessoal compôs muitas canções para os filmes de Elvis durante os anos 60. Revê-los aqui, na contracapa de um álbum de Elvis dos anos 70, também soa ao seu modo bem estranho. Houve uma certa ruptura com o trabalho desses autores depois que Elvis deixou Hollywood. Voltar para gravar músicas deles era algo inesperado. De qualquer maneira é uma boa canção, inclusive contando com aquela certa inocência das músicas dos filmes da década anterior. Ela é salva no final das contas pelo alto astral e boa performance de Elvis e banda! O guitarrista James Burton inclusive contou com um belo solo para mostrar sua habilidade. No geral é um momento bem agradável do disco, embora se formos comparar com outras faixas como "Life" a letra pareça bem pueril e bobinha.

9. I'll Never Know (Karget / Wayne / Weisman) - Essa canção foi composta por Ben Weisman. Como se sabe ele foi o autor de dezenas de músicas para Elvis em seus filmes na fase Hollywood. No total chegou a escrever mais de 50 canções para Elvis durante os anos 60! Um recorde dentro da discografia do cantor! Aqui Weisman retorna para a discografia de Presley com uma melodia singela, que para muitos lembra bastante as próprias composições de Hollywood que ele escreveu na década anterior. Penso que embora lembrem mesmo há o diferencial do vocal de Elvis. Nos anos 70 ele tinha deixado a suavidade das trilhas dos anos 60 para trás, adotando um estilo mais forte, grandioso! E isso no final das contas acaba fazendo toda a diferença.

10. It Ain't Big Thing (But is Crowing) (Merrit / Joy / Hall) - E se você gosta de country music mais tradicional certamente vai apreciar "It Ain't Big Thing (But is Crowing)". O vocal de Elvis e o arranjo são bem caipiras, parecendo até mesmo uma banda das montanhas do Kentucky. Essa gravação aliás ficaria muito bem nos tempos da Sun Records e dos Blue Moon Boys. Muitos especulam porque ela não foi acrescentada no repertório do álbum "Elvis Country". De fato seria mais do que adequada. A letra é simples, romântica, levemente melancólica. Nada de surpresas ou esquisitices. Para temas country nada melhor do que letras que evocam os sentimentos românticos da forma mais direta e emocional possível. Tudo aliado a uma boa gravação. Sem dúvida outro bom momento desse álbum que merece inclusive ser redescoberto pelos fãs.

11. Life (S. Milete) - Sempre que se escreve sobre esse álbum se chama a atenção para a música "Life". Realmente, se formos analisar sua letra veremos que dentro da longa e vasta discografia de Elvis Presley nunca se viu nada parecido com isso. S. Milete, que escreveu a letra, começa falando no surgimento da vida, nos primeiros seres vivos, em um universo ainda em formação! Versos como "Em algum lugar no espaço vazio / Muito antes da raça humana / Alguma coisa esquentava / Uma vasta e atemporal fonte se iniciou!" soam bem estranhos. A letra é grande, complicada de memorizar e totalmente fora dos padrões da média do que Elvis seguia em sua carreira na época. O autor, tipicamente uma pessoa influenciada pelo movimento hippie, flower power e derivados, parece ter exagerado um pouco na dose, criando algo até mesmo surreal. Pelo visto ele andou tomando alguma coisa meio esquisita quando compôs essa música! O que levou Elvis a gravar uma faixa como essa ainda é um mistério. Provavelmente ele estava inspirado por causa de suas leituras místicas, religiosas e procurou por algo que se relacionasse a esse tipo de literatura para gravar. Curiosamente a letra, apesar de ser completamente sui generis, misturava visões científicas, religiosas e sentimentos de amor, tudo em um só pacote! O produtor Felton Jarvis procurou melhorar bastante a gravação, acrescentando um background musical que poderia ser qualificado como "esotérico", com uso de flautas e instrumentos adicionais que praticamente nunca eram usados nas gravações de Elvis. Enfim, se existe uma música diferente dentro da discografia de Elvis durante os anos 70 essa é certamente "Life" e sua singular mensagem.

Elvis Presley - Love Letters From Elvis (1971) - Elvis Presley (vocal) / James Burton (guitarra) / Jerry Scheff (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / Chip Young (guitarra) / Bob Lanning (bateria) / Charlie Hodge (violão e voz) / Glen Hardin(piano) / The Imperials (vocais) / The Sweet Inspirations (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / John Wilkinson (guitarra) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (bateria) / David Briggs (piano) / Charlie McCoy (orgão e Harmônica) / Bobby Thompson (Banjo) / Harold Bradley (guitarra) / The Jordanaires (vocais) / Farrel Morris (percussão) / Bobby Morris e sua Orquestra / Produzido por Felton Jarvis / Arranjado por Felton Jarvis, Elvis Presley, Glen D. Hardin, Cam Mullins, David Briggs, Bergen White, Norbert Putnam / Local de gravação: RCA Estúdio B, Nashville, Tennessee, Estados Unidos / Data de Gravação: 4 a 8 de junho de 1970 / Data de Lançamento: Junho de 1971 / Melhor posição nas paradas: 33 (EUA) e 7 (Reino Unido).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Life / Only Believe

Esse single foi muito singular dentro da carreira de Elvis. Não fez muito sucesso, o que já era esperado. A música "Life" não se parecia com nada que Elvis havia gravado antes. Escrita por S. Milete, tinha uma letra estranha para os padrões da discografia do cantor. Era uma enorme metáfora sobre as origens da vida, algo até mesmo um tanto surreal. Duas perguntas ficaram sem respostas. Por que Elvis gravou essa canção tão diferente? E por que a RCA Victor escolheu justamente ela para ser o lado A de um compacto do cantor? No meio de tantos questionamentos "Life" acabou ganhando, com o passar dos anos, um certo status "cult" justamente por ser diferente demais, nada condizente com o tipo de música que vinha aparecendo nos discos de Elvis Presley nos anos 70. É uma verdadeira alienígena dentro da discografia de Mr. Presley. Já nos palcos a canção passou em brancas nuvens pois Elvis nunca a cantou ao vivo em suas turnês e isso apesar de ser o lado A de um single, o que supostamente o levaria a divulgar em seus shows. Isso porém jamais aconteceu.

O Lado B vinha com algo mais convencional, a música "Only Believe". Era um gospel. Importante dizer que ambas as canções (Lado A e Lado B) fizeram parte do álbum "Love Letters From Elvis" que lançado em 1971 não alcançou bons índices de vendas no mercado. Esse single também não se saiu melhor dentro das paradas, não conseguindo chegar sequer ao posto 50 da revista Billboard. Um resultado comercial bem ruim. Isso demonstrava que ou a RCA não havia promovido adequadamente o single ou então o público realmente não se interessou em ouvir Elvis cantando músicas como  a estranha "Life", que passava longe de ser o tipo habitual de letra que ele estava acostumado a cantar. Essa outra faixa "Only Believe" era mais tradicional, porém nunca a considerei uma das melhores desse disco. Tem uma certa levada para o blues, apesar da letra religiosa. Poderia ser melhor trabalhada dentro de um disco gospel como "He Touched Me", direcionado especialmente para o público evangélico, mas aqui ficou mesmo um pouco deslocada, fora do que era de se esperar dentro de umlançamento como esse.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Dias de Trovão

Título no Brasil: Dias de Trovão
Título Original: Days of Thunder
Ano de Produção: 1990
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Tony Scott
Roteiro: Robert Towne, Tom Cruise
Elenco: Tom Cruise, Nicole Kidman, Robert Duvall
  
Sinopse:
Cole Trickle (Tom Cruise) é um piloto que só aceita o lugar mais alto no pódio. Seu lema se resume a vencer e vencer, a qualquer custo. Ousado nas pistas ele sente seu coração balançar ao conhecer uma linda loira, Claire Lewicki (Nicole Kidman) que também parece estar caidinha de amores por ele. Afinal de contas não há como correr mais do que o som do trovão. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Som (Charles M. Wilborn e Donald O. Mitchell). 

Comentários:
Basicamente é um "Top Gun" sobre duas rodas, o que não deixa de ser decepcionante pois aquele filme, apesar de ser em essência um produto pop, tinha seu valor cinematográfico. Esse aqui porém mais parece um longo comercial de pasta de dentes. Cruise, todo sorrisos, interpreta esse arrojado piloto que acaba mesmo derrapando nas curvas dos cabelos encaracolados de uma jovem Nicole Kidman. Recém chegada da Austrália ela acabaria roubando o coração do astro Cruise que ficaria casado com ela por longos anos. O casamento, que parecia feliz e duradouro, porém acabou de forma áspera após as filmagens do último filme do gênio Stanley Kubrick. Mas deixemos esses contos de alcova de lado. "Dias de Trovão" é uma produção que tem ótimas sequências de corridas, tomadas bem realizadas e trilha sonora para tocar na rádio (e tocou mesmo na época). Pena que o roteiro seja fraquinho, fraquinho. Basicamente envolvendo apenas essa Love Story em alta velocidade. Vale a pena rever, nem que seja para conferir como um filme pop pode ficar datado mais rapidamente do que os demais.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Finch

Finch (Tom Hanks) vive em um mundo devastado. Em um futuro próximo mudanças climáticas destruíram a vegetação da Terra. Os animiais ficaram sem alimento. A radiação ultravioleta do Sol matou milhões. A temperatura aumentou. Poucos sobreviveram. Finch vive em uma fábrica abandonada. Quando necessário ele sai de sua "toca" para ir atrás de alimentos em supermercados abandonados e destruídos. Ele vive sozinho ao lado de seu cão. Um dia decide construir um robô para lhe ajudar no dia a dia. Finch era engenheiro antes do grande cataclisma. Sua invenção se revela excepcional. O robô não apenas apresenta uma grande carga de aprendizado, como também começa a revelar traços de sentimentos bem humanos. Vagando por um mundo destruído, fugindo de grandes tempestadoes, FInch decide ir até San Francisco. Seu pai havia lhe enviado um cartão postal de lá, o único que recebeu em toda a sua vida.

Esse filme é muito bom. O cenário pós-apocalíptico e o clima de ficção em um mundo desolado, é apenas pano de fundo para mostrar o lado humano do protagonista e de seu novo invento, um robô meio desajeitado, algumas vezes agindo de forma boba, mas que acaba se revelando bem mais do que poderia prever seu criador. O roteiro também aproveita para passar essa mensagem ecológica que a humanidade precisa cuidar do planeta Terra antes que seja tarde demais. Isso porém é passado de forma sutil, sem ser panfletário ou algo do tipo. No final é um belo filme sobre uma viagem em busca de si mesmo, das coisas que realmente importam na vida humana.

Finch (Finch, Estados Unidos, 2021) Direção: Miguel Sapochnik / Roteiro: Craig Luck, Ivor, Powell / Elenco: Tom Hanks, Caleb Landry Jones, Marie Wagenman / Sinopse: O filme conta a história de um homem e seu robô, tentando sobreviver em um planeta Terra completamente devastado por causa de mudanças climáticas. Filme produzido por Robert Zemeckis, diretor do filme "De Volta Para o Futuro".

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Thomas Crown - A Arte do Crime

Em 1968 o ator Steve McQueen estrelou um dos maiores sucessos de sua carreira, "Crown, o Magnífico" (The Thomas Crown Affair). O estilo mais refinado, a preocupação em ter uma trama mais bem elaborada e pequenos detalhes da produção, como uma elegante trilha sonora, fizeram com que a produção se destacasse entre os demais filmes de ação daquela década. Trinta anos depois foi realizado esse remake, ou quase isso, já que várias inovações foram acrescentadas no roteiro. Pierce Brosnan interpreta Thomas Crown. Ele é um sujeito rico, refinado e charmoso que mantém um aspecto obscuro em sua vida que para muitos parece perfeita. Na sombras, Crown parece estar envolvido com roubo de obras de arte. Quando um famoso quadro de Monet, avaliado em mais de cem milhões de dólares, é roubado da galeria onde estava exposto, ele acaba caindo na mira da investigadora Catherine Banning (Rene Russo) que é contratada justamente para recuperar a valiosa pintura. 

Começa assim um jogo de sedução e traição entre os dois personagens, tudo valorizado por uma produção bem requintada, com ótima fotografia e direção de arte. A direção dessa refilmagem moderna foi entregue ao especialista em filmes de ação John McTiernan (de "Caçada ao Outubro Vermelho", "O Predador" e "Duro de Matar"). Talvez por não ser exatamente sua especialidade o filme apresente uma dualidade bem nítida, funcionando bem nas cenas de ação, o que era de se esperar, mas apresentando pequenas falhas na parte mais sofisticada de seu roteiro (já que isso nunca foi o forte do cineasta). No geral não é ruim, longe disso, mas tampouco pode ser comparado à versão de McQueen, hoje reconhecida como clássica. Definitivamente alguns filmes jamais deveriam sofrer uma revisão como essa. O original já estava de bom tamanho. 

Thomas Crown - A Arte do Crime (The Thomas Crown Affair, Estados Unidos, 1999) Direção: John McTiernan / Roteiro: Alan Trustman, Leslie Dixon / Elenco: Pierce Brosnan, Rene Russo, Denis Leary, Ben Gazzara / Sinopse: Um charmoso ladrão de obras de arte se envolve com uma sedutora mulher que está atrás dele justamente por essa razão.

Pablo Aluísio. 

O Fantástico Mundo do Dr. Kellogg

Você certamente achou o nome Kellogg familiar. Pois é, ele é provavelmente o nome de cereal que você consome todas as manhãs durante seu breakfast. O filme é sobre a história do criador de toda essa indústria, o Dr. John Harvey Kellogg (Anthony Hopkins). Ele era um sujeito estranho, para não dizer bizarro. Com jeitão de cientista maluco ele não tinha medo de criar as mais estranhas invenções. Casualmente acertou em cheio ao criar o famoso e popular cereal para crianças comerem no café da manhã, mas isso era apenas uma faceta de sua personalidade mais do que criativa (e sim, meio louca também). Para celebrar a biografia desse homem foi realizado esse curioso (e divertido) filme estrelado pelo mestre Anthony Hopkins. Aqui ele usou e abusou de uma maquiagem pesada para ficar parecido com o Kellogg da vida real. 

O roteiro não se propõe a ser uma comédia, como foi erroneamente vendido no Brasil, mas sim um filme normal que acima de tudo conta a história de um homem que poderia ser qualificado como tudo, menos como... normal! Com bonita direção de arte e produção classe A temos certamente um bom filme, valorizado ainda mais pelo personagem central, que muitos ainda hoje desconhecem completamente. Some-se a isso o fato de ter sido dirigido por Alan Parker, um dos meus cineastas preferidos, e você entenderá porque recomendo a produção sem reservas. 

O Fantástico Mundo do Dr. Kellogg (The Road to Wellville, EUA, 1994) Direção: Alan Parker / Roteiro: Alan Parker, baseado no livro escrito por T. Coraghessan Boyle / Elenco: Anthony Hopkins, Bridget Fonda, Matthew Broderick / Sinopse: Era uma vez um homem que revolucionou a indústria de alimentos nos Estudos Unidos. Filme indicado aos prêmios da Chicago Film Critics Association, British Society of Cinematographers e CFCA. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Rob Roy: A Saga de uma Paixão

No século XVIII um líder escocês, Rob Roy (Liam Neeson), se revolta contra os desmandos de nobres despóticos e resolve liderar uma enorme revolução popular que dá origem a um sério problema político para a coroa. Bom, é a tal coisa, se deu certo com "Coração Valente" era de se supor que daria certo também com esse "Rob Roy". A produção é muito boa, com excelente direção de arte e reconstituição histórica perfeita. Nada a reclamar nesses aspectos. O problema é que o filme acaba sendo vítima de suas próprias pretensões. Assim o exagero patriótico e as falas cuidadosamente declamadas, como se os atores estivem em uma peça de William Shakespeare, acabam cansando o espectador. Acredito que para um filme épico realmente funcionar é necessário um certo tipo de feeling que nem sempre se repete com frequência. É um tipo de produto cinematográfico muito específico que exige que os deuses da sétima arte estejam realmente inspirados, caso contrário apenas vira um monte de atores vestidos com trajes de época tentando passar alguma veracidade histórica. 

Quem acabou roubando o show de Liam Neeson foi o ator Tim Roth como o vilão Cunningham. Seu trabalho foi tão bom que não apenas ofuscou o astro principal como também lhe valeu várias indicações importantes em premiações internacionais. O pobre Liam Neeson ficou mesmo em sua sombra! Assim chegamos na conclusão que "Rob Roy: A Saga de uma Paixão" não é um filme comum ruim, é apenas um épico histórico meio decepcionante. Mesmo assim se você curte esse tipo de produção vale a pena ao menos tentar conhecer, afinal quem sabe você possa vir a gostar. 

Rob Roy: A Saga de uma Paixão (Rob Roy, Estados Unidos, Inglaterra, 1995) Direção: Michael Caton-Jones / Roteiro: Alan Sharp / Elenco: Liam Neeson, Jessica Lange, John Hurt, Eric Stoltz  / Sinopse: Líder popular escocês levanta uma grande revolta contra a dominação inglesa em sua nação. Filme indicado ao Oscar, ao Globo de Ouro e ao BAFTA na mesma categoria, Melhor Ator Coadjuvante (Tim Roth). 

Pablo Aluísio.