sábado, 13 de novembro de 2021

Elvis Presley - Love Letters From Elvis

Elvis Presley - Love Letters From Elvis (1971) - "Love Letters from Elvis" foi o último álbum a trazer músicas inéditas gravadas em Nashville, na chamada "Nashville Marathon". Em apenas poucos dias Elvis gravou um número enorme de músicas que foram sendo lançadas aos poucos. Esse "Love Letters" não foi um disco bem sucedido nas paradas. Na verdade fez mais sucesso na Inglaterra do que nos Estados Unidos, onde conseguiu chegar no máximo em um desolador trigésimo terceiro lugar entre os mais vendidos. Na terra da Rainha alcançou o Top 10, mostrando o quanto os ingleses gostavam de Elvis. Isso é bem curioso porque todos viviam perguntando quando Elvis iria se apresentar em Londres. Depois de tantos anos o cantor nunca havia feito uma única apresentação na Europa, algo que era encarado como único e estranho entre os superstars da música mundial. Depois descobriu-se que Tom Parker não poderia sair das fronteiras americanas porque ele não tinha passaporte, afinal era um imigrante ilegal. Pois é, por causa da situação ilegal do seu empresário o velho mundo ficou sem ver Elvis ao vivo, um absurdo!

"Love Letters from Elvis" apresentava um repertório agradável de músicas bem escritas e gravadas, porém temos que reconhecer que nenhuma delas tinha vocação para o sucesso nas paradas. A impressão que fica é que a RCA Victor foi selecionando as melhoras para os discos anteriores (como "That´s The Way It Is") deixando o "resto" para ser lançado tudo de uma vez, nesse disco. Pode até parecer cruel pensar dessa forma, mas se formos analisar bem o que realmente aconteceu, a conclusão que chegamos é exatamente essa. É um disco de retalhos, material que não havia sido aproveitado antes, que tinha que ser lançado de um jeito ou outro. Mesmo assim, como escrevi, isso não significa que seja um disco ruim, longe disso. Na verdade é um disco de músicas que não tinham muita vocação para se tornarem hits nas rádios, mas que nem por isso não deixavam de ter seu valor. A própria faixa título do disco, "Love Letters", já tinha sido gravada antes pelo próprio Elvis em estúdio, durante os anos 60. O resto da seleção não era tinha maior potencial para o sucesso, eram canções diferentes, com letras bonitas, mas nada que fosse virar sucesso nas paradas. Por tudo isso o disco acabou sendo esquecido com os anos. Era um álbum de canções inéditas de Elvis, algo que deveria ter sido mais bem sucedido, porém nem mesmo um astro como Elvis Presley tinha a capacidade de transformar tudo o que gravava em grande fenômeno de vendas. Ele era o Rei do Rock, não o Rei Midas.

1. Love Letters (E. Heyman / V. Young) - Balada romântica que dá título a esse álbum de Elvis Presley, é uma antiga canção, muito popular nos anos 1940. Ela foi composta por Victor Young, violonista, pianista e compositor clássico. Nascido em Chicago, ele foi até Hollywood tentar a sorte. Acabou se dando muito bem, escrevendo canções populares românticas para trilhas sonoras de filmes dos grandes estúdios de cinema. Essa foi uma delas. Ela fez parte da trilha sonora do filme "Um Amor em Cada Vida", um drama estrelado por Jennifer Jones e Joseph Cotten. Acabou sendo indicada ao Oscar na categoria de Melhor Música original naquele mesmo ano. Os créditos foram dados ao próprio Young e ao letrista Edward Heyman. Antes de Elvis ainda haveria uma outra versão, gravada por Ketty Lester em 1962. Elvis raramente gravava uma música em estúdio duas vezes. Isso aconteceu com "Blue Suede Shoes" que foi gravada para o primeiro álbum de Elvis na RCA Victor e depois para a trilha sonora do filme "G.I. Blues" (Saudades de um Pracinha) e depois com "You Don't Know Me" da trilha sonora de "Clambake" (O Barco do Amor), também regravada em estúdio por Elvis após a gravação original. Assim "Love Letters" era igualmente um caso bem raro. Elvis a gravou originalmente na década de 1960 e depois a gravou novamente, sendo essa segunda versão a usada nesse disco. Qual teria sido a razão? Não se sabe ao certo. Particularmente ainda prefiro a versão de 1966. O cantor parece mais concentrado e mais firme. Os arranjos também são mais adequados para essa velha composição romântica. Há um clima de nostalgia que valoriza muito a melodia. De qualquer maneira ambas as versões de Elvis são muito boas, sem dúvida. No final das contas se torna apenas um caso de gosto pessoal de cada ouvinte.

2. When I'm Over You (S. Milete) - Essa foi outra composição de S. Milete a entrar no álbum. Esse autor já havia composto a estranha "Life" e aqui surgia com algo mais convencional. É fato que Elvis procurou por um novo time de compositores nos anos 70. Na década anterior ele ficou muito preso a um grupo de escritores de Nova Iorque e Los Angeles que acabou criando quase todas as músicas de suas trilhas sonoras. Aquele material saturou Elvis que agora procurava por novos caminhos, outras sonoridades. Essa faixa porém não agradou muito. Para muitos ela seria apenas uma canção qualquer, feita para completar cronologicamente o LP. É uma visão até bem pessimista, já que apesar de ser bem comum a melodia desse country ainda apresenta alguns momentos bons, de clara inspiração melódica. A RCA Victor porém não fez nada por ela, se tornando assim mais uma música pouco conhecida fora do círculo dos fãs mais conhecedores da obra de Elvis. "When I'm Over You" nunca foi lançada em outro álbum, nem em coletâneas, nem em nada. E como Elvis também nunca a cantou em concertos ela foi simplesmente sumindo, desaparecendo com o passar dos anos.

3. If I Were You (G. Nelson) -  Outro country considerado bem abaixo da média. Ela foi composta pelo músico Gerald Nelson. Essa canção foi gravada no último dia de sessão da famosa Nahsville Marathon. Era o dia 8 de junho de 1970 e após gravar dezenas e dezenas de canções Elvis estava visivelmente cansado e esgotado. Nessa noite em especial ele conseguiu ainda emplacar outras cinco canções: "There Goes My Everything", "Only Believe", "Patch Up" (que seria lançada no disco "That´s The Way It Is") e "Sylvia" (o grande sucesso de Elvis no Brasil, lançado no disco "Elvis Now" dois anos depois de ser gravada). Impossível não notar um certo clima de fim de festa. Elvis era um cantor muito produtivo dentro dos estúdios, mas depois de tantas gravações ele se mostrava mesmo bem cansado, principalmente em sua performance vocal. A linha de melodia da canção também não ajuda muito, sempre rodando em círculos, sem ir para qualquer direção. A letra era novamente romântica e referencial, onde um homem apaixonado tentava convencer sua paixão a ficar ao seu lado. Um tema até bem batido, mesmo dentro dos padrões de Nashville. Enfim, uma música sem novidades que acabou sendo facilmente esquecida após algum tempo.

4. Got My Mojo Working / Keep Your Hands Off Of It (P. Faster / E. Presley) - Dando sequência na análise das canções do álbum " Love Letters from Elvis" vamos tecer mais alguns comentários sobre essa faixa. A primeira vez que ouvi "Got My Mojo Working / Keep Your Hands" fiquei com a nítida impressão de que se tratava de um mero ensaio ou melhor dizendo, uma animada jam session. Esse tipo de gravação não entrava, via de regra, nos discos oficiais de Elvis. O produtor Felton Jarvis porém teve outra opinião sobre isso. Ele gostou tanto do resultado, da espontaneidade de Elvis e sua banda, que não pensou duas vezes e colocou essa gravação informal dentro do disco. Como não era algo comum de acontecer nos álbuns de Elvis, que sempre saíam com grande produção e profissionalismo, acabou chamando a atenção dos fãs na época de seu lançamento original. É um bom momento do disco, valorizado pelo fato de ser uma versão de Elvis para uma música do grande Muddy Waters, um nome consagrado. Curiosamente embora tenha sido de certa maneira ousado em escolher essa jam session para fazer parte do disco, o produtor Felton Jarvis resolveu editá-la, pois a versão no total tinha quase seis minutos de duração, algo considerado nada comercial naqueles tempos. Assim a versão que ouvimos no LP original é bem mais curta e bem mais editada, com a adição de instrumentos promovidos por Jarvis em seu estúdio.

5. Heart Of Rome (Stephens / Blaikley / Howard) - "Heart Of Rome" era mais uma música Italianíssima que Elvis trazia para seu repertório. Elvis não tinha raízes italianas (seus antepassados tinham vindo da Escócia para os Estados Unidos), mas ele amava a músicalidade daquela grande nação. Provavelmente Elvis tomou gosto pelas canções italianas ouvindo Dean Martin, um dos seus cantores preferidos. Logo percebeu que as melodias italianas soavam perfeitas para ele disponibilizar aos seus fãs grandes performances vocais. Afinal ele tinha obtido excelentes resultados comerciais no passado com gravações como "It´s Now Or Never" e "Surrender". Infelizmente porém dessa vez a RCA Victor resolveu não trabalhar na promoção da música, se limitando a divulgá-la de forma bem tímida nas rádios como mero lado B do single "I´m Leaving". Penso que se houvesse maior capricho por parte de sua gravadora, principalmente em seu lançamento europeu, o compacto teria se tornado um grande sucesso.

6. Only Believe (P. Rader) - Essa música "Only Believe" sempre me pareceu como uma interessante fusão entre gospel e blues. Essa música não é unanimidade entre os fãs de Elvis. Há aqueles que gostam muito de sua proposta e outros que a consideram abaixo da média, uma música sem muita identidade, transitando entre gêneros musicais diversos, sem optar definitivamente por nenhum deles! Penso que é um bom momento do álbum, inclusive chegou a ser escolhida pela RCA Victor para ser o lado B do single "Life" (sim, aquela estranha composição falando sobre a origem do universo e outras coisas sem nexo). Infelizmente o single não foi muito bem sucedido comercialmente, chegando apenas na posição 53 da Billboard. Algo que era até esperado pois nenhuma das faixas tinha potencial mesmo de se tornar um grande hit na paradas!

7. This Is Our Dance (L. Reed / G. Stephens) - Essa canção é uma criação do músico e compositor inglês Leslie David Reed. Ele era o maestro e líder uma orquestra muito popular no Reino Unido na década de 1950, onde também tocavam os músicos Gordon Mills e Barry Mason. Naqueles tempos os bailes tinham se tornado bem populares, assim várias orquestras surgiram, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos (fenômeno que também se repetiu no Brasil, na mesma época). Por essa razão as características dessa música são bem claras no tocante ao seu ritmo e melodia. É uma música romântica de baile, composta para ser tocada nos grandes salões da Europa. Provavelmente Elvis tomou conhecimento dela por causa justamente da The Les Reed Orchestra, uma vez que essa orquestra também gravou um disco com "Also Sprach Zarathustra" que Elvis iria utilizar como abertura de seus concertos na década de 1970.

8. Cindy, Cindy (Kaye / Weisman / Fuller) - Esse country com bela melodia bucólica era bem mais dentro do padrão. Um country rock muito bom, que deveria ter sido usado como música de trabalho do álbum. Curiosamente a música foi composta pelo trio Kaye, Weisman e Fuller. Esse pessoal compôs muitas canções para os filmes de Elvis durante os anos 60. Revê-los aqui, na contracapa de um álbum de Elvis dos anos 70, também soa ao seu modo bem estranho. Houve uma certa ruptura com o trabalho desses autores depois que Elvis deixou Hollywood. Voltar para gravar músicas deles era algo inesperado. De qualquer maneira é uma boa canção, inclusive contando com aquela certa inocência das músicas dos filmes da década anterior. Ela é salva no final das contas pelo alto astral e boa performance de Elvis e banda! O guitarrista James Burton inclusive contou com um belo solo para mostrar sua habilidade. No geral é um momento bem agradável do disco, embora se formos comparar com outras faixas como "Life" a letra pareça bem pueril e bobinha.

9. I'll Never Know (Karget / Wayne / Weisman) - Essa canção foi composta por Ben Weisman. Como se sabe ele foi o autor de dezenas de músicas para Elvis em seus filmes na fase Hollywood. No total chegou a escrever mais de 50 canções para Elvis durante os anos 60! Um recorde dentro da discografia do cantor! Aqui Weisman retorna para a discografia de Presley com uma melodia singela, que para muitos lembra bastante as próprias composições de Hollywood que ele escreveu na década anterior. Penso que embora lembrem mesmo há o diferencial do vocal de Elvis. Nos anos 70 ele tinha deixado a suavidade das trilhas dos anos 60 para trás, adotando um estilo mais forte, grandioso! E isso no final das contas acaba fazendo toda a diferença.

10. It Ain't Big Thing (But is Crowing) (Merrit / Joy / Hall) - E se você gosta de country music mais tradicional certamente vai apreciar "It Ain't Big Thing (But is Crowing)". O vocal de Elvis e o arranjo são bem caipiras, parecendo até mesmo uma banda das montanhas do Kentucky. Essa gravação aliás ficaria muito bem nos tempos da Sun Records e dos Blue Moon Boys. Muitos especulam porque ela não foi acrescentada no repertório do álbum "Elvis Country". De fato seria mais do que adequada. A letra é simples, romântica, levemente melancólica. Nada de surpresas ou esquisitices. Para temas country nada melhor do que letras que evocam os sentimentos românticos da forma mais direta e emocional possível. Tudo aliado a uma boa gravação. Sem dúvida outro bom momento desse álbum que merece inclusive ser redescoberto pelos fãs.

11. Life (S. Milete) - Sempre que se escreve sobre esse álbum se chama a atenção para a música "Life". Realmente, se formos analisar sua letra veremos que dentro da longa e vasta discografia de Elvis Presley nunca se viu nada parecido com isso. S. Milete, que escreveu a letra, começa falando no surgimento da vida, nos primeiros seres vivos, em um universo ainda em formação! Versos como "Em algum lugar no espaço vazio / Muito antes da raça humana / Alguma coisa esquentava / Uma vasta e atemporal fonte se iniciou!" soam bem estranhos. A letra é grande, complicada de memorizar e totalmente fora dos padrões da média do que Elvis seguia em sua carreira na época. O autor, tipicamente uma pessoa influenciada pelo movimento hippie, flower power e derivados, parece ter exagerado um pouco na dose, criando algo até mesmo surreal. Pelo visto ele andou tomando alguma coisa meio esquisita quando compôs essa música! O que levou Elvis a gravar uma faixa como essa ainda é um mistério. Provavelmente ele estava inspirado por causa de suas leituras místicas, religiosas e procurou por algo que se relacionasse a esse tipo de literatura para gravar. Curiosamente a letra, apesar de ser completamente sui generis, misturava visões científicas, religiosas e sentimentos de amor, tudo em um só pacote! O produtor Felton Jarvis procurou melhorar bastante a gravação, acrescentando um background musical que poderia ser qualificado como "esotérico", com uso de flautas e instrumentos adicionais que praticamente nunca eram usados nas gravações de Elvis. Enfim, se existe uma música diferente dentro da discografia de Elvis durante os anos 70 essa é certamente "Life" e sua singular mensagem.

Elvis Presley - Love Letters From Elvis (1971) - Elvis Presley (vocal) / James Burton (guitarra) / Jerry Scheff (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / Chip Young (guitarra) / Bob Lanning (bateria) / Charlie Hodge (violão e voz) / Glen Hardin(piano) / The Imperials (vocais) / The Sweet Inspirations (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / John Wilkinson (guitarra) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (bateria) / David Briggs (piano) / Charlie McCoy (orgão e Harmônica) / Bobby Thompson (Banjo) / Harold Bradley (guitarra) / The Jordanaires (vocais) / Farrel Morris (percussão) / Bobby Morris e sua Orquestra / Produzido por Felton Jarvis / Arranjado por Felton Jarvis, Elvis Presley, Glen D. Hardin, Cam Mullins, David Briggs, Bergen White, Norbert Putnam / Local de gravação: RCA Estúdio B, Nashville, Tennessee, Estados Unidos / Data de Gravação: 4 a 8 de junho de 1970 / Data de Lançamento: Junho de 1971 / Melhor posição nas paradas: 33 (EUA) e 7 (Reino Unido).

Pablo Aluísio.

3 comentários:

  1. Elvis Presley
    Love Letters From Elvis
    Pablo Aluísio.

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  2. Pablo:
    Deve existir de 30 a 50 músicas do Elvis conhecidas, e umas 20 muito conhecidas. Entretanto o Elvis gravou mais de 700 músicas. Eu já passei uma semana viajando de carro e ouvindo o máximo que eu podia das músicas pouco, ou nada conhecidas dele e te digo que existe um tanto de música chata e até insuportáveis, mesmo sendo o Elvis que as está cantando, que supera em muito os grandes sucessos.
    Você já percebeu isso?

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  3. Algo natural de acontecer. Elvis gravou muito e quando isso acontece inevitavelmente o artista acaba gravando também músicas ruins, fracas, etc. A longo prazo porém é algo positivo pois se tornou um universo a se descobrir, com seus novos álbuns póstumos sempre trazendo algo curioso a se descobrir.

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