sábado, 4 de setembro de 2021

Maria Cheia de Graça

Um filme com temática muito forte. O que mais impressiona é que se trata de uma história que não apenas aconteceu, mas que acontece ainda, todos os dias. De um lado uma latina, a protagonista, que está grávida, sem dinheiro, desesperada para arranjar alguma coisa para sua família. Do outro lado um grupo de narcotraficantes que a recruta como "mula", como são chamadas as pessoas que são contratadas para levar pequenas quantidades de drogas escondidas para outros países. E o tráfico internacional de drogas não pode parar, mesmo que haja "efeitos colaterais" com a destruição da vida dessas pessoas que aceitam seguir por esse mundo da criminalidade.

O filme causou polêmica quando foi lançado justamente por causa de seu título "Maria Cheia de Graça", uma óbvia referência à Virgem Maria. O diretor e roteirista respondeu dizendo que essas pessoas, como a Maria do filme, eram também pessoas martirizadas, que não tinham outro caminho a tentar. Além disso a própria Maria, mãe de Jesus, também havia sido imigrante em sua vida. Basta lembrar da ida da sua família para o Egito, fugindo as perseguições do reinado do insano Herodes.  Assim o roteiro também busca, mesmo de forma subliminar, essa identifcação. Um bom filme, gostei especialmente de sua mensagem social.

Maria Cheia de Graça (Maria Full of Grace, Colômbia,  Estados Unidos, 2004) Direção: Joshua Marston / Roteiro:  Joshua Marston / Elenco: Catalina Sandino Moreno, Guilied Lopez, Orlando Tobón / Sinopse: Uma colombiana grávida aceita trabalhar como "mula" levando drogas para os Estados Unidos. Filme com enredo baseado em fatos reais.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

A Marca da Pantera

Nos primórdios da humanidade, seres humanos em rituais pagãos acabaram sacrificando mulheres a deuses leopardos e panteras. Desse encontro surgiu uma nova espécie sobre a face da Terra, que ao longo dos séculos conseguiu viver nas sombras. Séculos depois surge em Nova Iorque a bela e sensual Irena Gallier (Nastassja Kinski) que tem um grande segredo a guardar sobre seus ancestrais. Essa é a premisa desse filme que mistura fantasia, ficção e até mesmo pitadas de suspense e terror. "A Marca da Pantera" marcou época, principalmente por causa de seu roteiro fora dos padrões e também pela sensualidade latente em cada aparição da atriz Nastassja Kinski.

Para quem não viveu os anos 80 é bom lembrar que essa atriz foi uma das maiores sex symbols daquela década. Dona de uma beleza estonteante, com impressionantes lábios carnudos, a Nastassja atuou aqui em um dos seus filmes mais conhecidos. Foi justamente com esse "Cat People" que Nastassja Kinski atingiu o auge de sua popularidade no cinema. Como não poderia deixar de ser, o filme usava e abusava de seus generosos dotes estéticos. Obviamente muita gente virou fã da produção justamente pelas generosas cenas de nudez da Kinski, mas mesmo olhando sob um ponto de vista puramente cinematográfico, é de se reconhecer que se trata de uma produção muito charmosa, cheia de clima, com seu roteiro diferente, bastante exótico. E para melhorar ainda mais todo o conjunto, temos ainda a presença do sempre marcante Malcolm McDowell, um dos melhores atores de Hollywood.

A Marca da Pantera (Cat People, Estados Unidos, 1982) Estúdio: RKO Pictures, Universal Pictures / Direção: Paul Schrader / Roteiro: DeWitt Bodeen, Alan Ormsby / Elenco: Nastassja Kinski, Malcolm McDowell, John Heard /  Sinopse: Jovem e bela mulher esconde um grande segredo em sua vida, algo que remonta há séculos em sua linhagem familiar. Remake de um antigo clássico do cinema.

Pablo Aluísio.

Mundo Maravilhoso

Para Ben Singer (Matthew Broderick) o mundo é tudo, menos maravilhoso. Ele tinha um sonho de fazer sucesso como cantor e compositor, mas com o fim das gravadoras seu sonho foi por água abaixo. Acaba trabalhando como revisor de roteiros de comédias para a TV, algo nada empolgante. Vive em um quartinho com um imigrante do Senegal, com quem divide as despesas. A sua filha, fruto de um casamento que já afundou, não gosta dele, acha um cara esquisito, que só fala coisas negativas. E como se tudo isso não fosse ruim o bastante ele acaba sendo demitido e pior... seu colega de quarto entra em coma diabético, ou seja, só desgraça acontece em sua vida, pelo visto.

O auge da carreira do ator Matthew Broderick foi nos anos 80. Ele era um jovem ator de sorte, acabou estrelando sucessos no cinema como "Curtindo a vida adoidado" e "O Feitiço de Áquila". Depois com o tempo sua carreira foi entrando pelo cano. Tentou teatro e até teve uma fase bem promissora nos palcos. Penso que houve uma certa identificação com o personagem desse filme. O roteiro até que é muito bom, mas desliza um pouco quando tenta promover uma espécie de redenção na vida do protagonista, o colocando como par romântico da irmã senegalesa de seu colega de quarto. Achei um romance sem química, forçado, que leva o roteiro por caminhos manjados. É um clichê que não precisava acontecer em um filme que ia até bem, trilhando um caminho mais realista.

Mundo Maravilhoso (Wonderful World, Estados Unidos, 2009) Direção: Joshua Goldin / Roteiro: Joshua Goldin / Elenco: Matthew Broderick, Sanaa Lathan, Michael Kenneth Williams, Philip Baker Hall / Sinopse:  Ben Singer (Matthew Broderick) é um artista frustrado e fracassado que tenta um novo caminho na vida. Só que isso não é fácil diante das derrotas que vai colecionando em seu dia a dia.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Creepshow 2

O primeiro "Creepshow" fez sucesso então era natural o lançamento desse segundo volume. No Brasil não chegou aos cinemas, sendo lançado diretamente no mercado de fitas VHS. E foi assim que assisti a esse número 2. Aqui tínhamos 3 histórias (ao contrário do primeiro que tinha 5, o que sempre me fez confundir ambos os filmes). Essa é uma fórmula muito antiga, ainda dos tempos de Vincent Price e Peter Cushing. Certa vez o próprio Cushing explicou isso em uma entrevista. Os produtores da época acreditavam que o espectador, na pior das hipóteses, iria curtir pelo menos uma das histórias. E na melhor iria gostar de todas, dando aquela sensação de satisfação. Pagou um ingresso e viu 3 histórias diferentes. Coisas da estética do cinema B.

Entre os episódios, vamos chamar assim, o melhor é da estátua de madeira do velho índio que acaba ganhando vida, para horror de todos. Outra mostra um casal de jovens sendo atacados em uma pequena lagoa. O tal monstro (obviamente inspirado na bolha dos filmes antigos) parece ter vindo do espaço. Por fim um casal de idosos cai nas garras de um grupo de criminosos insanos. As histórias foram criadas por Stephen King (dispensa maiores apresentações) e George A. Romero (o Rei dos Zumbis). A produção foi da New World Pictures, companhia especializada em filmes de terror nos anos 80.

Creepshow 2: Show de Horrores (Creepshow 2, Estados Unidos, 1987) Direção: Michael Gornick / Roteiro: Stephen King, George A. Romero / Elenco: George Kennedy, Lois Chiles, Domenick John / Sinopse: Mais uma coletânea de filmes de terror inspirados em histórias em quadrinhos do gênero lançadas na década de 1950.

Pablo Aluísio.

Na Companhia do Medo

Eu gosto de definir esse tipo de filme como um "Suspense Psicológico". Isso é fácil de explicar. Geralmente a trama do filme se torna um desafio ao próprio espectador. A protagonista aqui é uma psiquiatra que certo dia acorda no papel de paciente. Ela não se lembra de nada do que aconteceu, a não ser que encontrou uma mulher andando a esmo no meio de uma estrada, no meio da noite, em meio a uma chuva torrencial. Porém o pior ainda está por vir, pois ela é a principal suspeita de ter matado o próprio marido. Mas afinal o que liga todos esses acontecimentos? Caberá ao roteiro e ao espectador ir juntando as peças para finalmente compreender melhor como se arma esse grande quebra-cabeças cinematográfico.

O ator Robert Downey Jr interpreta o psiquiatra que vai cuidar de sua colega de profissão, agora internada em uma instituição para doentes mentais. Pois é, a mente pode pregar peças ilusórias, distorcendo a realidade das coisas, fazendo crer que algo que nunca aconteceu de fato ocorreu no passado. Esse é um bom filme da carreira da atriz Halle Berry. Ela vinha numa escalada de sucesso, surgindo em uma sucessão de bons filmes, mas o seguinte iria jogar ela no maior erro de sua vida profissional, isso mesmo, ela aceitou fazer "Mulher-Gato" logo após esse bom suspense. Acabou afundando por causa do enorme fracasso de público e crítica.

Na Companhia do Medo (Gothika, Estados Unidos, 2003) Direção: Mathieu Kassovitz / Roteiro: Sebastian Gutierrez / Elenco: Halle Berry, Penélope Cruz, Robert Downey Jr, Charles S. Dutton / Sinopse: Uma psiquiatra procura entender o que estaria acontecendo com sua vida após encontrar uma mulher perdida no meio da estrada, numa noite chuvosa. Depois disso sua vida entraria em um turbilhão de crises sem fim.

Pablo Aluísio.

Um Caminho para Dois

Tecnicamente falando é uma comédia romântica, mas não se engane. O roteiro é muito bem escrito. Para começar não segue uma linha convencional no aspecto narrativo. O passado e o presente se intercalam sem cerimônia. O fim condutor é o de um casal passando férias no Sul da França. A maioria das cenas envolve viagens de carro e o que aconteceu com eles em diversos momentos de sua vida. No presente eles comemoram dez anos de casados. No passado surgem como namorados empolgados, cheios de paixão. No presente a coisa já é mais complicada. O casal já tem uma filha, já existe um certo cansaço com a rotina chata. Nem mesmo uma viagem de férias melhora a situação. A infidelidade também surge no horizonte dos dois.

O que mantém o interesse é a qualidade dos diálogos, muito bem afiados (e muitas vezes ácidos e sarcásticos) e o carisma à toda prova da atriz Audrey Hepburn. Quando ela fez o filme já não era mais a jovial atriz de seus primeiros filmes. Aqui ela já estava em uma idade mais madura, o que no final das contas combinou muito bem com o roteiro. Sua atuação casou muito bem com o estilo de Albert Finney. Ela, mais fina e delicada, sempre charmosa. Ele, mais durão, do tipo inteligente, mas que também sabe ser mais bronco. No final o casal passa mesmo muita veracidade. Eles estão excelentes em seus respectivos personagens. Então é isso. Esse é um daqueles filmes que provam que comédias românticas podem ser muito bem desenvolvidas, com inteligência, humor e romantismo, nas doses certas.

Um Caminho para Dois (Two for the Road, Estados Unidos, 1967) Direção: Stanley Donen / Roteiro: Frederic Raphael / Elenco: Audrey Hepburn, Albert Finney, Eleanor Bron / Sinopse: A vida de um casal completando dez anos de casamento, em diversos momentos de suas vidas, a maioria deles passada em viagem de férias no sul da França.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Sunshine - Alerta Solar

Título no Brasil: Sunshine - Alerta Solar
Título Original: Sunshine
Ano de Produção: 2007
País: Estados Unidos
Estúdio: Fox Searchlight
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Alex Garland
Elenco: Cillian Murphy, Rose Byrne, Chris Evans, Michelle Yeoh, Mark Strong, Troy Garity

Sinopse:
O Sol, como estrela, está chegando ao fim de sua existência cósmica. Isso cria uma situação de completo desespero na Terra pois sem a presença do astro a vida em nosso pequeno planeta se torna simplesmente impossível. Após o envio de uma expedição rumo ao Sol e seu misterioso desaparecimento uma nova equipe é enviada para entender o que de fato aconteceu. A missão porém terá consequências trágicas.

Comentários:
Apesar de ter sofrido inúmeras críticas em seu lançamento gosto bastante dessa boa ficção, "Sunshine - Alerta Solar". Há um clima de desesperança e agonia no ar com a proximidade do fim que me fisgou completamente. O mais interessante é que o roteiro, muito bem escrito, analisa uma situação que acontecerá de fato com o Sol daqui alguns milhões de anos. Como toda estrela do universo um dia ele entrará em um estado chamado Nova, em um processo da natureza onde destruirá tudo por perto - inclusive o nosso frágil planeta Terra. Esse é um fato já amplamente previsto por cientistas de todas as áreas, então o filme mostra realmente de fato o futuro sinistro de toda a humanidade. Além disso é um filme bem diferenciado da carreira do cineasta Danny Boyle, a única ficção científica que dirigiu no cinema até hoje. O resultado se mostra tão bom que ele deveria enveredar mais nesse estilo de filme. Por fim vale também ressaltar a presença de um elenco muito bom, com vários atores que são importantes dentro do universo Sci-fi como Cillian Murphy (o Scarecrow de "Batman - O Cavaleiro das Trevas") e  Chris Evans (que interpreta atualmente o Capitão América na franquia de grande sucesso comercial). Um filme que enfim merece ser redescoberto.

Pablo Aluísio.

Ninfomaníaca: Volume 2

Lars von Trier concluiu a história de sua personagem ninfomaníaca Joe (Charlotte Gainsbourg) nesse segundo filme. O diálogo entre ela e o senhor Seligman (Stellan Skarsgård) continua. Ela vai contando eventos lamentáveis de sua vida, todos ocasionados por seu vício em sexo. Em determinado momento ela até conseguiu ter um relacionamento um pouco estável com Jerôme (Shia LaBeouf), inclusive com a chegada de um filho. Porém não demorou muito e ela fez tudo para destruir essa família. Continuou a sair com outros homens, a participar de situações extremas. Convidou imigrantes ilegais desconhecidos na rua para frequentar seu quarto. Desenvolveu um interesse por masoquismo, misturando sexo e violência. Ficou obcecada por seu "mestre" nesse tipo de fetiche e negligenciou o companheiro e o seu próprio filho. O fim foi inevitável.

Do vício em sexo para o mundo do crime também foi um pulo. Ela entrou para uma quadrilha que cobrava dívidas, usando de todos os meios possíveis. Surgiu uma garota de 15 anos em sua vida e a coisa toda só desandou. Foi ficando pior e pior. O final de tudo é bem surpreendente. Lars decidiu que os momentos decisivos fossem apenas ouvidos e não vistos. Tela escura. Assim você vai um ouvir um tiro e um corpo caindo no chão, mas de quem? Quem matou quem? Eu tenho minha opinião, mas não vou revelar. Lars preferiu deixar tudo em aberto, apenas na mente do espectador. Tire suas próprias conclusões.

Ninfomaníaca: Volume 2 (Nymphomaniac: Vol. II, Estados Unidos, 2013) Direção: Lars von Trier / Roteiro: Lars von Trier / Elenco: Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgård, Stacy Martin, Willem Dafoe, Shia LaBeouf, Jamie Bell / Sinopse: O filme traz a segunda parte da história da ninfomaníaca Joe. Ela vê sua vida pessoal ser destruída por ser viciada em sexo sem limites.

Pablo Aluísio.