quarta-feira, 27 de julho de 2016

Janela Indiscreta

Nessa última semana decidi rever dois filmes do mestre Alfred Hitchcock. Fazia bastante tempo desde que os havia assistido pela última vez (alguns deles há mais de vinte anos!) e por essa razão achei uma boa ideia revê-los. Afinal de contas qualquer filme assinado por Hitchcock vale muito a pena rever, sob qualquer ponto de vista. Os dois que escolhi  foram os clássicos absolutos "Um Corpo Que Cai" e "Janela Indiscreta". Em minha memória havia gostado muito mais do primeiro do que do segundo. A impressão que tinha de "Vertigo" era muito mais sólida, mais forte, mais consistente.

Nessa revisão tardia acabei me surpreendendo pois adorei muito mais rever "Rear Window"! Embora "Um Corpo Que Cai" tenha um roteiro bem mais complexo e coeso, com ótimas tomadas externas e variedade maior de situações e cenários (com um ótimo final), "Janela Indiscreta" nos pega por sua extrema criatividade e originalidade. Para quem nunca viu ou não se lembra o filme conta a estória (simples) de um fotógrafo profissional (interpretado pelo grande James Stewart) que fica preso numa cadeira de rodas em seu apartamento após quebrar sua perna. Sem ter o que fazer para passar o tédio ele começa a espiar com uma câmera seus vizinhos de prédio (em uma maravilhosa recriação em estúdio de um típico condomínio de apartamentos residencial de Nova Iorque). Sim, ele se torna um voyeur da vida alheia!

E assim ele vai conhecendo os tipos mais variados. Há uma senhorita muito solitária e deprimida que passa os seus dias a idealizar o encontro romântico de seus sonhos, o jovem casal em lua de mel, a dançarina bonitona que é cortejada por um batalhão de pretendentes, um estranho casal que dorme na sacada de seu apê, usando uma cesta para descer seu cachorrinho de estimação até o pátio lá embaixo e por fim um velho casal que aparenta toda a saturação de um casamento em frangalhos que vai se arrastando por anos e anos. A esposa está inválida sobre uma cama e seu marido, um vendedor cansado da vida, não parece ter mais paciência para cuidar dela. É a massacrante rotina de uma vida ordinária cobrando seu preço.

É justamente sobre eles que as lentes de Stewart começam a prestar mais a atenção pois durante uma noite chuvosa ele acaba se convencendo que o homem matou sua esposa, a cortou em pedaços e colocou seus restos mortais em várias malas que ele vai tirando de seu apartamento aos poucos, durante as madrugadas! Chocante demais para você? Não para o mestre do suspense... Claro que o assassinato deixa alarmado o personagem de Stewart, mas nem seu velho amigo da guerra acredita em sua versão dos fatos. Para o velho tira seu colega está apenas entediado, inventando estórias em sua própria cabeça! Assim o roteiro joga o tempo todo com a dualidade sobre o que de fato estaria acontecendo... Teria havido realmente um crime ou tudo não passaria de uma maluquice na mente entediada do protagonista? Perceba que com tão pouco em mãos o grande Hitchcock acabou criando uma verdadeira obra prima do suspense, inclusive com toques de fino humor negro! E como se isso tudo ainda não bastasse o filme ainda traz a beleza eterna de Grace Kelly no auge de sua juventude e carisma! Dizem que o velho diretor ficou caidinho por ela - completamente apaixonado! Quem poderia condená-lo? Absolutamente ninguém...

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 26 de julho de 2016

Sua Majestade, o Aventureiro

O ator Burt Lancaster começou sua carreira no circo, como malabarista. Quando foi para Hollywood os produtores o viram como se fosse um novo Douglas Fairbanks, o acrobata dos filmes de piratas durante o auge do cinema mudo. Claro que o tempo iria provar que Lancaster não era apenas um atlético homem de circo, mas sim um ator realmente muito bom, que conseguia se sair bem tanto em filmes de pura ação, como essa aventura, como àqueles em que tinha que atuar muito mais dramaticamente (como o sempre lembrado "O Homem de Alcatraz").

Em 1954 porém a imagem de Burt Lancaster ainda não tinha evoluído muito. O que havia sido posto sobre a mesa dos grandes chefões era a de que ele poderia se sair muito bem em aventuras dos sete mares. Assim o ator foi escalado para esse filme sobre um capitão que no Pacífico Sul tentava tirar a sorte grande ao explorar uma ilha remota povoada por nativos ainda bem primitivos. O lugar, cheio de coqueiros, era um manancial de riquezas. O óleo da casca do coco era fartamente usado na época pela indústria recém nascida. Levar aquele óleo para a distante Europa seria a sua salvação. Certamente ele ficaria rico. Só faltava saber como...

O protagonista interpretado por Burt Lancaster porém teria que antes disso vencer uma série de desafios. O principal deles era arranjar uma nova embarcação pois seu último navio havia sido tomado pela própria tripulação em um motim violento. Preso e jogado no mar em um pequeno bote o capitão só conseguiu sobreviver por causa das marés que o levaram até uma paradisíaca ilha em Fiji (um dos cartões postais mais bonitos do planeta, com suas águas límpidas, cristalinas e azuis). E é justamente nesse lugar que o velho capitão vivido por Lancaster começa novos planos de exploração. É claro que sob um ponto de vista atual tudo soará meio indigesto. O homem branco americano de Lancaster nem pensa duas vezes em colocar todos aqueles nativos morenos e primitivos para trabalharem em seu proveito pessoal, quase numa relação de escravismo. E olha que o personagem era visto como um herói naqueles distantes anos 50.

Deixando essas questões puramente ideológicas de lado o fato é que o filme como diversão funciona muito bem. O roteiro é redondinho, bem articulado e só derrapa mesmo na cena final, na conclusão do enredo que soa meio forçado. A ilha de Lancaster acaba virando um barril de pólvora, com disputas internas envolvendo o poder entre os selvagens. Alguns decidem apoiar Lancaster e outros ficam do lado de colonizadores franceses e belgas (que também querem explorar comercialmente a ilha). Qual seria a conclusão óbvia de uma situação assim? Claro que no mínimo uma sangrenta guerra civil, mas o roteiro parece ignorar a natureza humana, tudo terminando em um improvável Happy Ending, com todos de braços dados, felizes e sorridentes. De qualquer forma, levando-se em consideração a época em que o filme foi produzido, até que isso não incomoda muito. Embargue em sua proposta aventuresca e procure se divertir o máximo possível. Agindo assim esse "Sua Majestade o Aventureiro" vai servir bem aos seus objetivos.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

A Ponte do Rior Kwai

Muito bem, se você gosta de cinema eu aconselho conhecer a filmografia de alguns maravilhosos diretores do passado, entre eles David Lean que em 1957 realizou essa obra prima chamada "The Bridge on the River Kwai" (A Ponte do Rio Kwai, no Brasil). O roteiro foi baseado no livro de Pierre Boulle, que por sua vez usou como fonte a história real do tenente coronel inglês Philip Toosey. Ele se tornou prisioneiro do exército japonês durante a II Guerra Mundial. Ao seu lado de seus subordinados foi enviado para as florestas tropicais da Birmânia, um dos lugares mais hostis do mundo por causa de sua natureza implacável.

No filme o roteiro parte da mesma premissa, só que a figura de Toosey foi transformado no personagem do Coronel Nicholson (em ótima interpretação do grande Alec Guinness). Oficial britânico orgulhoso e determinado ele resolve enfrentar os abusos do comandante japonês Saito (Sessue Hayakawa), A convenção de Genebra é um tratado internacional que rege as relações entre prisioneiros de guerra e é baseado nesse documento jurídico que Nicholson resolve se apoiar para enfrentar as arbitrariedades de Saito. Claro que isso dá origem a uma série de atritos entre eles, levando Nicholson a pagar caro por suas opiniões, porém com uma fibra absoluta ele resolve não ceder às torturas e pressões que sofre.

No começo da produção o produtor Sam Spiegel queria que uma maquete fosse usada para reproduzir a famosa ponte do Rio Kwai, mas o diretor David Lean, extremamente perfeccionista, recusou a sugestão. Assim uma ponte real, tal como a que realmente existiu, foi erguida de verdade a um custo recorde na época de 250 mil dólares. E tudo para depois ser destruída na apoteótica cena final quando ela finalmente é dinamitada por ingleses. O tempo mostrou que Lean estava totalmente certo em suas decisões já que a cena ainda hoje surpreende e o faz simplesmente por ser real, com um trem de verdade despencando nas águas do Rio Kwai.

Um fato histórico interessante é que a construção da ponte real durante a II Guerra Mundial foi mais trágica do que os acontecimentos vistos no filme. No total morreram 12 mil prisioneiros de guerra em sua construção. Ela levou não dois meses para ser erguida, como vemos no filme, mas oito meses. As doenças tropicais mataram muitos homens, além da conhecida brutalidade do exército japonês. Um verdadeiro inferno na Terra que foi recriado com raro brilhantismo por David Lean, um diretor que sempre mereceu ser chamado de mestre da sétima arte. É certamente um dos filmes clássicos de guerra mais imperdíveis da história. Por essa razão se ainda não viu, não deixe de completar essa lacuna em sua cultura cinematográfica.

Pablo Aluísio. 

Mister Roberts

Em 1955 o mestre John Ford rodou uma de suas poucas comédias na carreira. Ford se celebrizou na história do cinema por causa de seus faroestes clássicos, grandes produções que louvavam a coragem do pioneiro colonizador americano que foi para o oeste selvagem com o objetivo de construir uma nação. Quando os Estados Unidos entraram na II Guerra Mundial Ford se alistou para trabalhar no esforço de guerra. São suas as imagens mais impressionantes das grandes batalhas desse conflito, como as que mostram o desembargue das forças aliadas na Normandia no Dia D.

Esse filme "Mister Roberts" foi realizado dez anos após o fim da guerra. Nesse tempo já havia uma certa tranquilidade em tratar aquele conflito, onde muitos americanos morreram, de uma forma mais bem humorada, sem tanto heroísmo como era comum em filmes do gênero na época. Assim as câmeras de Ford se concentram na história de marinheiros que poderiam ser tudo, menos heróis de guerra ao velho estilo. Enquanto seus companheiros de farda lutavam em grandes e decisivas batalhas épicas contra as forças japonesas a tripulação desse velho cargueiro caindo aos pedaços (chamado de "banheira" por seus próprios marinheiros) se limitava a transportar papel higiênico, frutas e utensílios para as tropas que lutavam no front.

Essa aliás passa a ser a grande frustração do Tenente Doug Roberts (Henry Fonda). Ele se alistou para ser um herói, não para transportar papel higiênico. Pior do que isso é estar sob o comando de um louco varrido, o Capitão Morton (James Cagney), um oficial que só pensa em subir na carreira, tratando mal todos os seus subordinados, com uma estranha obsessão por uma palmeira que ele mantém a bordo do navio, longe do alcance de todos os seus homens. Essa obsessão maluca dá origem a uma das melhores (e mais divertidas) cenas do filme quando Doug em um ato de revolta joga a planta no mar! O que pode parecer um ato sem maiores consequências acaba virando o fim do mundo para seu capitão!

"Mister Roberts" foi a adaptação para o cinema de uma peça de teatro da Broadway que fez muito sucesso na década de 1940. Isso também trouxe certas características teatrais ao filme, principalmente em relação aos diálogos e a própria forma da dramaturgia do roteiro pois tudo se passa dentro do navio, sem muitas cenas externas. Melhor para Jack Lemmon que levou o Oscar. Percebam como ele manteve a postura teatral em sua atuação. Esse foi o segredo do prêmio que acabou levando para casa. No fim de tudo o grande interesse em assistir "Mister Roberts" é conferir como um grupo de atores não acostumados ao gênero comédia (com exceção do próprio Lemmon, é claro), dirigido por um diretor de épicos do velho oeste (John Ford) conseguiu realizar um filme tão bom e divertido como esse. Quem diria que tantos veteranos dramáticos teriam tanto êxito assim em uma produção como "Mister Roberts"...

Pablo Aluísio.

domingo, 24 de julho de 2016

A Feiticeira

Fracasso de público e crítica essa comédia "A Feiticeira" é na realidade um remake camuflado para o cinema de uma série que foi muito popular na década de 1960. Durante oito temporadas o público acompanhou as aventuras de Samantha (interpretada na série por Elizabeth Montgomery), uma típica dona de casa americana que também tinha poderes mágicos. Era uma sitcom com uma pitadinha de fantasia que cativou a audiência. Era divertido, engraçado e carismático. Bom, infelizmente nada se repete nesse remake. Estrelado pela linda Nicole Kidman o estúdio tinha esperanças que se tornasse uma nova franquia com a atriz, mas tudo foi mesmo por água abaixo. 

A crítica malhou impiedosamente e o público deixou os cinemas vazios. Hoje, por uma ironia do destino, a Rede Globo está exibindo o filme na Sessão da Tarde. Pois bem, na época de lançamento do filme foi dito que ele seria ao estilo Sessão da Tarde, o que acabou se confirmando. Embora conte também em seu elenco com um dos comediantes mais insuportáveis de todos os tempos (o sem graça Will Ferrell) o filme tem pelo menos um presente para os cinéfilos de plantão: a presença da sempre exuberante Shirley MacLaine. Mito do cinema clássico não merecia ter um abacaxi desses listado em sua maravilhosa filmografia. Mostra que infelizmente nem as deusas da sétima arte estão livres de pagar grandes micos na carreira.

A Feiticeira (Bewitched, Estados Unidos, 2005) Direção: Nora Ephron / Roteiro: Nora Ephron, Delia Ephron / Elenco: Nicole Kidman, Will Ferrell, Shirley MacLaine / Sinopse: Jack Wyatt (Ferrell) é um ator fracassado que decide jogar todas as suas fichas na produção de uma nova versão da conhecida série "A Feiticeira". O que ele nem desconfia é que a atriz que contrata tem um poder real, sendo uma verdadeira feiticeira.

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de julho de 2016

O Exorcista

Considerado por muitos como o melhor filme de terror de todos os tempos o clássico "The Exorcist" de 1973 foi baseado em fatos reais. O roteiro foi escrito em cima do romance de William Peter Blatty, porém esse autor usou como fonte um caso real acontecido em 1949 na cidade de Cottagy City, no estado americano de Maryland. O diferencial básico era que o caso real aconteceu com um menino de 13 anos e não uma jovem garota como vemos no filme. Naquela ocasião o garoto teria tentado entrar em contato com uma tia que havia falecido. Usando uma tábua Ouija ele acabou abrindo o portal para algo mais sinistro. Em pouco tempo começou a ter um comportamento enlouquecido, falando línguas mortas, causando vários ferimentos em si mesmo. Após médicos não conseguirem chegar a uma solução para seus problemas seus pais resolveram entrar em contato com a Igreja Católica, que acabou tendo que lidar com um dos casos mais complicados de possessão demoníaca de sua história recente (os documentos originais sobre esse exorcismo seguem guardados em segredo dentro dos arquivos do Vaticano). A coisa foi tão séria do ponto de vista religioso que a Igreja comprou a casa onde teria sido realizado o exorcismo, a demoliu e construiu uma praça pública onde padres e seminaristas se revezam até hoje para rezar.

Provavelmente por ter esse pé na realidade o filme "O Exorcista" segue sendo imbatível no aspecto aterrorizante. O enredo é dos mais simples possíveis. Uma garotinha é possuída por uma antiga entidade do mal, dois padres são enviados para exorcizá-la e o drama realmente começa. Existem filmes que se tornam tão marcantes que acabam sendo considerados verdadeiros ícones inspirativos para todo um subgênero cinematográfico que surge. Por exemplo, todos os filmes pós apocalipse se inspiraram de uma forma ou outra em "Mad Max". No caso de "O Exorcista" não existe um só filme sobre possessões que não se utilize de elementos desse clássico absoluto do terror. O diretor William Friedkin assim não realizou apenas a grande obra prima de toda a sua carreira, mas na verdade aquele que é considerado a obra prima insuperável do terror em todos os tempos. Um filme que marcou (e ainda marca) dentro da história do cinema.

Pablo Aluísio.

Nascido em 4 de Julho

Outro excelente drama de guerra que foi lançado nesse ciclo de filmes sobre a intervenção americana no Vietnã foi esse "Born on the Fourth of July" (Nascido em 4 de Julho, no Brasil). Dirigido também por Oliver Stone esse filme procurava dar voz para os milhares de veteranos que voltaram da guerra com problemas físicos e psicológicos, o que de certa maneira acabou destruindo o resto de suas vidas. O roteiro foi baseado na história real do soldado Ron Kovic. Quando a guerra do Vietnã se tornou um fato consumado, Kovic, empedernido por um sentimento patriótico, resolveu se alistar no exército americano. Ele era jovem, promissor, tinha uma bela vida pela frente. Mesmo assim resolveu assumir os riscos em nome da bandeira de seu país. O destino porém lhe reservava um momento trágico. Durante uma operação ele foi atingido por um tiro que lhe custaria os movimentos de suas pernas para sempre. Paralítico, teve que encarar a volta para os Estados Unidos. Inicialmente foi recebido como um herói de guerra, mas o tempo pode ser cruel nesse tipo de situação. Abandonado pela garota que ele considerava o grande amor de sua vida (pois são poucas que aceitam o desafio de enfrentar uma situação como essa), o que antes era orgulho começou a virar desespero.

Seguramente esse filme explora um dos aspectos mais tristes na vida de um veterano que retorna ao lar aleijado. Ele que era um atleta, que tinha um verdadeiro sonho americano pela frente, acaba encontrando apenas um futuro sombrio, um verdadeiro pesadelo. Depois que a ficha cai o que sobra é o alcoolismo, a desilusão e em muitos casos até mesmo o suicídio, pois muitos desses jovens não suportam o peso que agora precisam carregar pelo resto de suas vidas. O diferencial de Ron Kovic foi que ele resolveu adotar uma postura ativa e militante, transformando sua vida numa eterna busca pelo fim de guerras injustificadas como foi a Guerra do Vietnã. Ele acabou assim se tornando um dos mais conhecidos pacifistas veteranos, sempre na mídia denunciando tudo o que estava acontecendo. Já indo para o campo puramente cinematográfico temos aqui aquela que talvez seja a melhor atuação da carreira de Tom Cruise. Ele deixou o estigma de galã de lado para interpretar Kovic com uma dedicação fora dos padrões. Por essa época Cruise ainda lutava para ser reconhecido pela academia, procurando ganhar seu próprio Oscar, algo que até agora não aconteceu. Indicado três vezes ao prêmio (sendo uma delas por esse filme), Cruise foi deixando o cinema mais artístico de lado para se esbaldar em filmes puramente comerciais como "Missão Impossível". Pena, acredito que ele teria sido premiado mais cedo ou mais tarde se continuasse a investir em produções como essa.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Taxi Driver

Ontem assisti, completamente por acaso, um pequeno resumo biográfico da carreira do ator Robert De Niro. Em canais a cabo existe uma variedade desses programas. Nenhum deles é grande coisa, na verdade eles se limitam a comentar os principais filmes do astro enfocado e nada muito além disso. A verdade é que nada mesmo é muito bem desenvolvido ou aprofundado, mas pelo menos servem para nos lembrar como alguns nomes do cinema eram interessantes no passado. O caso mais notório é justamente o de Bobby Milk (seu apelido de juventude). Basta você passar os olhos na filmografia de De Niro na década de 1970 para ficar impressionado como sua carreira começou de forma fulminante. É uma obra prima atrás da outra. Depois de se formar no Actors Studio com o apoio de seus pais (que também eram artistas), ele ficou um pouco à deriva, em busca de trabalho em Nova Iorque. Algo normal de acontecer com alguém ainda sem experiência. Havia algumas oportunidades no meio teatral e em busca de papéis ele chegou até mesmo a atuar como o leão medroso de "O Mágico de Oz". Peças de teatro infantil porém não eram o seu caminho. Assim De Niro aceitou até mesmo trabalhar de graça em alguns filmes, só pela chance de se tornar mais conhecido. O sucesso porém não tardou muito para esse talentoso jovem aspirante a ator.

Algumas dessas produções de começo de carreira até que são bem interessantes como "Festa de Casamento" de 1969, mas apenas com "Taxi Driver" é que Robert De Niro se tornou realmente grande em termos de atuação e talento. Claro que ninguém pode ignorar suas boas atuações em "A Última Batalha de um Jogador", "Caminhos Perigosos" e "O Poderoso Chefão II", mas o fato é que apenas com essa obra prima de Martin Scorsese o jovem De Niro conseguiu provar que poderia levar um filme sozinho em frente, causar impacto apenas com seu trabalho, sem ser apenas parte de uma engrenagem bem maior. O tema é a insanidade. A loucura de se viver em um mundo caótico. O personagem de De Niro no filme sabe muito bem o que é isso. Veterano no Vietnã ele volta para os Estados Unidos vivo, mas com muitos problemas psicológicos a superar. De volta a uma vidinha banal e maçante, vivendo como motorista de táxi pelas ruas da grande e infecta cidade, eles aos poucos vai perdendo a sanidade por causa do mundo ao seu redor. Todos os valores parecem que estão mortos e enterrados. Ninguém mais se importa com eles ou os respeita. A cidade de Nova Iorque assim surge como uma selva ou uma lata de lixo. Jodie Foster acaba sendo o alvo de suas mais intensas pretensões de tentar construir uma vida normal, mas há problemas. Ela é uma garota menor de idade e... prostituta. Ele não consegue lidar direito com seus sentimentos. E nem ela parece se importar com eles. Pior do que isso, ela não faz o tipo garotinha indefesa, pelo contrário, é cheio de personalidade, mesmo que construída nas ruas imundas da grande maçã (que aliás é uma boa alegoria para o roteiro do filme). Hoje em dia muitos ainda lembram de De Niro completamente enlouquecido, com as mãos cheias de sangue, cabelo moicano ao estilo punk, com olhar de quem já deixou a sanidade para trás após promover atos de barbárie e violência. Ele no fundo é apenas fruto da loucura ao seu redor. O próprio Martin Scorsese (um gênio do cinema em minha opinião), explicou que quando realizou o filme também estava insano, não pela violência da guerra ou das ruas, mas sim pelo vício em cocaína que o acompanharia por anos a fio. Pois é, no fundo, dentro desse mundo surtado de "Taxi Driver" o único que parecia ter alguma ligação com o mundo normal era justamente, quem diria, o próprio Robert De Niro...

Pablo Aluísio.

Conan, O Bárbaro

Mesmo após tantos anos de seu lançamento original (o filme chegou nas telas de cinema em 1982) esse segue sendo considerado o melhor filme sobre o personagem bárbaro Conan. É curioso porque Conan é uma criação antiga. Criado por Robert E. Howard na década de 1930 ele levou anos para se tornar popular entre o grande público. Com ares de Tarzan e outros ícones da literatura de aventura, Howard resolveu criar um mundo mais brutal, violento, sem espaço para bom mocismos. O que valia no universo de Conan era a força bruta. Nada muito além disso. Durante décadas os estúdios flertaram com a ideia de levar o guerreiro para as telas de cinema, mas isso nunca parecia dar certo por causa de problemas jurídicos envolvendo os direitos autorais do personagem. Apenas no final da década de 1970 foi que o produtor Dino de Laurentiis conseguiu ter o controle pleno para transformar em realidade uma adaptação cinematográfica. O halterofilista, fisiculturista, brutamontes e troglodita Arnold Schwarzenegger foi contratado e essa foi o primeiro grande acerto do estúdio. Ele não convencia ninguém como ator, mas como Conan era basicamente um personagem físico e brutal, isso acabava combinando muito bem com suas precárias capacidades dramáticas. 

Ninguém iria mesmo contratar um ator shakesperiano para encarnar Conan, mas sim um monte de músculos que soubesse usar uma espada. Se pudesse declamar algumas frases básicas também seria bem-vindo. O ator nunca havia ouvido falar de Conan até aquele momento até que o produtor lhe deu uma pilha de revistas em quadrinhos. Pesquisando Arnold também descobriu que Conan era popular entre os jovens que curtiam aquele tipo de literatura e comics ao estilo Pulp Fiction. O que pesou porém para ele foi o fato de assinar um contrato de longa duração com a empresa de Dina de Laurentiis no incrível valor de 10 milhões de dólares! Em compensação ele teria que se comprometer a fazer quatro filmes com o bárbaro (no final ele faria dois e um derivado chamado "Os Guerreiros de Fogo"). O resultado foi o melhor do que esperado. Em certo sentido o filme chegava até mesmo a superar o material original. Arnold Schwarzenegger que era praticamente um desconhecido colocou seu nome entre os mais promissores em termos de bilheteria. Logo após ele faria um clássico sci-fi chamado "O Exterminador do Futuro" e a partir daí não haveria mais obstáculos para sua subido ao topo de Hollywood.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Deuses do Egito

Na falta de novas ideias em Hollywood vale tudo para tentar inovar de alguma forma. Assim os roteiristas de Gods of Egypt (Deuses do Egito, no Brasil) resolveram transformar uma religião antiga, que predominava nos tempos dos faraós, adaptando tudo em uma espécie de Fúria de Titãs do Rio Nilo. Dirigido pelo cineasta Alex Proyas o filme comete todos os tipos de excessos visuais possíveis, indo na mesma trilha de projetos como John Carter ou Battleship e tais como esses exemplos citados caindo no mesmo problema: a falta de um bom roteiro. Isso porque com poucos minutos de filme você já estará cansado e farto de tantos deuses, num aglomerado desnecessário de personagens secundários que mais atrapalham do que ajudam na diversão (que é a única coisa que essa produção poderia almejar entregar ao seu espectador). Havia um dualismo nessa religião egípcia antiga. Como acontecia quase sempre em crenças com muitos deuses (politeístas) existia uma infinidade de divindades que controlavam praticamente todos os aspectos das vidas dos pobres mortais. Assim existiam divindades que cuidavam da sabedoria, outras do amor, da honra, das forças da natureza e por aí vai. Na base desse roteiro temos dois adversários bem delimitados. O primeiro é Hórus (Waldau), filho de Osíris (Brown) que lhe dá de presente o trono de todo o Egito. Essa sucessão causa fúria e inveja em Set (Butler) que logo parte para a tomada do poder pela força. Deus dos desertos, de personalidade perversa e traidora, ele não aceita ser colocado de lado em relação ao trono. Após matar Osíris, seu próprio irmão, arranca os olhos de Hórus e o joga numa prisão distante.

Essa parte do roteiro é bem fiel ao que fazia parte da tradição da religião do antigo Egito. O problema é que tudo se resume nesse ponto de partida. A partir disso tudo é reconstruído como se fosse um novo filme de super-heróis. Os deuses ganham asas e superpoderes, seu sangue jorra como se fosse ouro líquido e eles nunca parecem estar dispostos ao diálogo, indo logo para a força bruta. São deuses bem violentos mesmo e nada sofisticados. Eles me lembraram inclusive dos personagens da mitologia de Thor (que é bom lembrar também era um deus dos povos que habitavam o norte da Europa). Pelo visto quanto mais antigo é uma divindade dentro do imaginário humano, mais violento ela seria. Está aí uma boa tese de discussão para historiadores de religião em geral. Em épocas brutais os deuses refletiam as próprias sociedades que acreditavam neles. Não havia espaço para misericórdia, perdão ou paz. Em todas as divindades de civilizações antigas o que imperava era o poder e a força. Penso que esse filme se tornará uma espécie de Simbad no futuro, sendo constantemente reprisado nas TVs, conquistando toda uma nova geração de crianças e adolescentes por causa de seu visual bem realizado, monstros e deuses alados, mas que no final das contas não conseguirá marcar muito do ponto de vista cinematográfico. O que fica mesmo na mente depois de uma exibição de Deuses do Egito é sua excelente direção de arte. Se o estúdio tivesse caprichado um pouquinho mais no roteiro, com tanto dinheiro disponível no orçamento, poderíamos realmente ter algo melhor, talvez um novo Stargate ou algo nesse nível. O problema é que muitas vezes a ganância fala mais alto e o que era para ser ao menos promissor acaba se perdendo em fórmulas vazias, clichês, visando unicamente atrair o público mais mediano que frequenta cinemas hoje em dia. Quando se valoriza demais o comercial em detrimento do artístico acontece justamente isso o que vemos nesse filme: uma obra visualmente deslumbrante, mas sem conteúdo nenhum.

Pablo Aluísio:.