terça-feira, 4 de junho de 2019

Retorno a Howards End

Um filme tipicamente britânico, bem sofisticado e elegante, contando com a assinatura do talentoso cineasta James Ivory; O roteiro é baseado na obra do romancista E.M. Forster que publicou seu romance originalmente em 1910. Assim somos apresentados aos principais personagens. As irmãs Margaret Schlegel (Emma Thompson) e Helen Schlegel (Helena Bonham Carter) vivem em Londres. Ambas são solteiras. Margaret acaba se aproximando de Ruth Wilcox (Vanessa Redgrave) e se torna sua amiga. Ela é esposa de um bem sucedido homem de negócios chamado Henry Wilcox (Anthony Hopkins). O que Margaret não sabe é que Ruth está em seus últimos dias de vida. Assim ela acaba sendo surpreendida por sua morte após algumas semanas. Um choque na sociedade londrina.

Sem saber de nada, Ruth deixa de herança para Margaret sua casa de campo,  Howards End, um lugar bucólico e muito agradável onde ela passou sua infância. Só que o marido Henry esconde esse fato. Ele quer deixar o imóvel para seu filho mais velho. O destino porém tem suas artimanhas e assim o viúvo acaba se apaixonando pela amiga de sua esposa falecida. Após alguns desencontros eles finalmente decidem se casar. A irmã mais jovem Helen não simpatiza muito com o novo marido dela, uma vez que ela tem suas próprias ideias de liberdade social, que conflitam quase sempre com o capitalista que Henry se torna. Para piorar um conhecido, o desafortunado Leonard Bast (Samuel West), perde seu emprego, justamente por algo que Henry indiretamente causa. Esse e outros acontecimentos acabam desgastando o relacionamento entre as irmãs. Helen vai embora morar na Alemanha. Quando retorna a situação se complica ainda mais, gerando um grande mal-estar entre todos os envolvidos.

Esse filme tem muitas características de outra produção inglesa que gosto muito, "Vestígios do Dia". É praticamente a mesma equipe técnica, o mesmo produtor (Ismail Merchant, antigo parceiro de Ivory) e a mesma classe e sofisticação. É curioso porque a casa de Howards End funciona não apenas como cenário para as cenas, mas também como um catalisador de momentos importantes. Sempre que algo fundamental na trama vai acontecer o escritor Foster desloca todos os personagens para esse lugar bem bucólico, longe da agitação de Londres. Com excelente elenco e uma nobreza ímpar, esse filme é essencial para quem aprecia o melhor do cinema inglês dos anos 90.

Retorno a Howards End (Howards End, Inglaterra, 1992) Direção: James Ivory / Roteiro: Ruth Prawer Jhabvala, baseado na obra de E.M. Forster / Elenco: Anthony Hopkins, Emma Thompson, Vanessa Redgrave, Helena Bonham Carter, Samuel West / Sinopse: Após a morte de sua amiga Ruth Wilcox (Vanessa Redgrave), Margaret Schlegel (Emma Thompson) se casa com seu marido Henry Wilcox (Anthony Hopkins). Afinal ambos são livres e desimpetidos, nada tendo contra esse casamento. Só que a irmã mais jovem de Margaret, a temperamental Helen Schlegel (Helena Bonham Carter), não gosta de Henry e seu jeito de ricaço arrogante, criando assim um abismo entre elas. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Emma Thompson), Melhor Roteiro Adaptado (Ruth Prawer Jhabvala) e Melhor Direção de Arte (Luciana Arrighi e Ian Whittaker).

Pablo Aluísio.

As Bruxas de Salém

É assombroso saber que a história desse filme realmente aconteceu em Salem, uma cidadezinha à beira-mar durante o século XVII. Até hoje os historiadores não chegaram em um consenso sobre o que de fato aconteceu. Seria um delírio coletivo? Uma contaminação com fungos venenosos? Ou tudo não passou mesmo de um surto de fanatismo religioso sem freios? Pode ser que tenha sido tudo isso ao mesmo tempo. O fato é que mais de duzentas pessoas foram acusadas de bruxaria! Quase vinte delas foram enforcadas! Tudo se baseando em depoimentos de meninas (meninas mesmo, pois algumas tinham apenas 14 anos de idade) que começaram a dizer que o demônio havia tomado conta da vila.

O roteiro desse filme não segue tão de perto os eventos históricos. Na realidade ele é baseado mais na peça teatral escrita por Arthur Miller. Na época ele próprio estava sendo perseguido por um novo tipo de caça às bruxas, também conhecido por Macarthismo, que via comunistas em todos os setores da sociedade americana. Por isso escreveu a peça, para fazer uma inteligente analogia entre o que havia acontecido em Salem e o que estava acontecendo nos Estados Unidos durante a década de 1950. Seria a mesma paranoia insana. De qualquer forma o que historicamente aconteceu em Salem serviu de base para o argumento de Miller. Encaixou tudo muito bem.

No filme tudo começa com algo simples, banal. Um grupo de jovens de Salem decide fazer um ritual na floresta. Quem comanda tudo é a escrava Tituba. É algo até bobo, um tipo de simpatia para atrair os homens pelos quais elas eram apaixonadas. Bobagem adolescente. Só que o ritual acaba sendo pego em flagrante pelo pastor local. E aí começa a loucura. As meninas começaram a inventar mentiras, querendo com isso cair fora de uma suposta acusação de bruxaria. Só que isso desencadeia algo sem limites, pois em pouco tempo todo mundo praticamente passa a ser acusado de bruxaria. Um tribunal de inquisição protestante (sim, porque todos eles eram protestantes) começa a perseguir pessoas inocentes. Uma mera palavra mal colocada já servia como indícios de bruxaria. Uma insanidade completa. Desnecessário dizer que o filme é excelente. Todos os personagens são bem construídos, com uma reconstituição histórica perfeita. Só não espere por um final feliz, isso realmente você não vai encontrar aqui.

As Bruxas de Salém (The Crucible, Estados Unidos, 1996) Direção: Nicholas Hytner / Roteiro: Arthur Miller / Elenco: Daniel Day-Lewis, Winona Ryder, Paul Scofield, Joan Allen, Bruce Davison / Sinopse: Um grupo de meninas começa uma onda de acusações de bruxaria na pequena Salem, durante o século XVII. Isso desencadeia uma série de julgamentos que acabam executando pessoas inocentes na forca. História baseada em fatos reais. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor atriz coadjuvante (Joan Allen) e melhor roteiro adaptado (Arthur Miller).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Alien 3

Resolvi rever ontem esse terceiro filme da série "Aliens". Tudo começa exatamente onde parou "Aliens, o Resgate". A Tenente Ripley (Sigourney Weaver) e o que restou da tripulação está vagando pelo espaço dentro de uma nave de salvamento. Ela está hibernando até que algo sai errado e o compartimento cai em um planeta inóspito. O lugar não poderia ser pior. É uma velha penitenciária semi desativada que agora funciona como fundição de metais pesados. Apenas 25 pessoas vivem ali. Só a escória, estupradores, assassinos, psicopatas, etc. Ripley é resgatada e descobre que ninguém da sua tripulação sobreviveu. Estão todos mortos, inclusive a garotinha que ela tanto se afeiçoou no filme anterior.

Para piorar o que já está bem ruim descobre-se que o Alien estava também dentro da nave. A criatura sobrevive à queda e sai em busca de um hospedeiro. Acaba encontrando um cão pela frente e aí começa o verdadeiro terror. Um a um os prisioneiros daquele lugar são devorados e levados como hospedeiros humanos do alienígena, só que esse parece ser de uma espécie diferente, pois apresenta ter maior inteligência, poupando propositalmente inclusive a vida da tenente por um motivo que só ficará mais claro depois. O roteiro desse terceiro filme inova ao procurar uma nova ambientação, um novo cenário para os ataques do monstro. Ao invés de tudo acontecer numa espaçonave, agora os corredores pouco iluminados daquele presídio se tornam o lugar ideal para os ataques.

Confesso que o filme decai um pouco a partir da terceira parte, quando tudo vira um jogo de gato e rato entre os homens e o aliens. A correria em câmera subjetiva já não tem mais o mesmo impacto de antes. Isso porém não tira o brilho das boas sacadas do roteiro, como o próprio destino inglório de Ripley (se você ainda não se lembra, ela se sacrifica, colocando um suposto ponto final na infestação); Além disso vale ressaltar o estilo mais realista e cruel do diretor  David Fincher; que inclusive quis filmar tudo em preto e branco e só foi contido por exigências do estúdio. Enfim, como ficção pessimista e violenta, esse "Alien 3" resistiu bem ao tempo. Não é tão bom como os dois primeiros filmes, mas continua sendo um filme muito bem realizado, que pode ser apreciado hoje em dia sem nenhum problema. Ele não envelheceu e pareceu melhorar mesmo com o passar dos anos.

Alien 3 (Alien³, Estados Unidos, 1992) Direção: David Fincher / Roteiro:  Vincent Ward, David Giler / Elenco: Sigourney Weaver, Charles S. Dutton, Charles Dance, Lance Henriksen / Sinopse: Após ficar no espaço hibernando, o compartimento de salvamento contendo o corpo de tripulantes mortos e a tenente Ripley chega em um planeta praticamente abandonado. Um velho presídio que hoje funciona como fábrica de fundição, com apenas 25 homens vivendo por lá. A presença de uma mulher no meio de todos aqueles homens, criminosos no passado, cria uma tensão no lugar. Porém nada será pior do que a presença do Alien, que também estava na nave que caiu. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais.

Pablo Aluísio.

Alien - A Ressurreição

Aproveitando que revi "Alien 3" decidi rever também esse quarto filme da série. A vaga lembrança que tinha era de não ter gostado muito do filme. Fazia muitos anos que tinha assistido uma única vez, ainda em seu lançamento original. Revendo agora já não achei tão ruim, pelo contrário. Os roteiristas desse filme tiveram um problemão para superar. A Tenente Ripley havia se matado no final de "Alien 3". Ela pulou dentro de um caldeirão de aço em fundição. Impossível ter sobrado nada. Como trazer de volta uma personagem com um fim tão definitivo como aquele?

Assim os roteiristas avançaram no tempo. A história desse quarto filme se passa 200 anos depois da morte de Ripley. A solução foi encontrada na engenharia genética. Através de gotas de sangue de Ripley eles conseguem criar uma clone, só que igualmente contaminada com o sangue alienígena. A companhia não tinha exatamente a intenção de trazer Ripley de volta, mas sim o DNA do alien, uma arma biológica que poderia ser usada em campo de batalha. O "soldado" perfeito. Por isso quando o filme começa os personagens estão em uma nave militar. O Alien já foi trazido de volta à vida. Está preso em um laboratório. Como se trata de uma Rainha-Mãe ela logo dará origem a uma nova linhagem de criaturas.

Para alimentar os monstros um grupo de mercenários é contratado. Sua missão é trazer cobaias humanas vivas para serem devoradas pelos aliens. Esses mercenários são interpretados por novos atores dentro do universo da série de filmes, contando com gente como Ron Perlman e Winona Ryder, essa última no melhor estilo replicante de "Blade Runner", uma máquina com consciência, que deseja destruir qualquer vestígio desses aliens. Já a atriz  Sigourney Weaver interpreta a clone número 8 de Ripley. É uma personagem mais sombria, que fica entre sua humanidade e seu código genético alien. Aliás a atriz só concordou em voltar para a franquia após receber um cachê milionário. Também acabou se tornando produtora executiva. O filme, como disse, ficou melhor nessa revisão. Gostei e me diverti. Talvez na época em que vi pela primeira vez a enxurrada de críticas negativas tenham influenciado para pior minha opinião. Hoje já revejo tudo com mais boa vontade. Com isso a diversão de fato ficou garantida.

Alien - A Ressurreição (Alien Resurrection, Estados Unidos, 1997) Direçao:  Jean-Pierre Jeunet / Roteiro: Joss Whedon / Elenco: Sigourney Weaver, Winona Ryder, Dominique Pinon, Ron Perlman / Sinopse: A companhia espacial consegue produzir um clone da Tenente Ripley, 200 anos após sua morte. A intenção é trazer de volta à vida também o alien que infectava seu organismo. A experiência de retorno é um sucesso, mas tudo logo sai do controle quando as criaturas conseguem fugir do laboratório de uma nave espacial onde os experimentos estão sendo realizados.

Pablo Aluísio.

domingo, 2 de junho de 2019

Rocketman

O filme do Queen abriu as portas dos estúdios para esse tipo de filme. Cinebiografias de cantores famosos, principalmente nas décadas de 70 e 80. Um tipo de marketing de nostalgia que parecia perfeito. O resultado comercial desse filme sobre Elton John porém tem sido morno. Nada comparável ao sucesso do filme enfocando Mercury e seus colegas de banda. O público provavelmente torceu o nariz para a proposta desse roteiro, que tencionava contar a história de Elton John ao mesmo tempo em que transformaria os momentos importantes de sua vida em bem elaboradas coreografias musicais, bem ao estilo da velha escola, da Broadway.

Esse talvez seja o ponto mais vulnerável do filme. Nem todos vão comprar a ideia de, por exemplo, saber mais sobre a infância do cantor através de um garotinho vestido de aluno, dançando ao lado de seus pais em plena rua de um subúrbio londrino da década de 1950. Particularmente não me incomodei com isso, aceitei a proposta do filme, mas claro, muita gente achou fora de foco. Até porque o roteiro realmente não se decide se é um drama convencional ou um musical filmado da Broadway.

O ator que interpreta Elton John, chamado Taron Egerton, é muito bom, porém é mais alto e mais esquio do que o Elton John do mundo real. Assim mesmo fantasiado com todas aquelas fantasias espalhafatosas dele, nem sempre consegue convencer de que estamos vendo Elton John na tela. Por fim e não menos importante: o que novamente salva o filme, o redime completamente, é a excelente trilha sonora, cheia de sucessos do passado. A trilha é excelente, mas devo dizer que não completa. Esqueceram de "Nikita" e outros sucessos. Mesmo assim, no saldo final, é um bom filme. Tem seus erros e desacertos, porém no final agrada.

Rocketman (Estados Unidos, Inglaterra, 2019) Direção: Dexter Fletcher / Roteiro: Lee Hall / Elenco: Taron Egerton, Jamie Bell, Richard Madden, Bryce Dallas Howard / Sinopse: O filme se propõe a contar a história do cantor e compositor Elton John. Através de sua música, cenas mais dramáticas e coreografias em sequências musicais, somos apresentados à obra e a vida desse artista inglês.

Pablo Aluísio.

White Boy Rick

A história desse filme é baseada em fatos reais. Nos anos 1980 um jovem de classe média baixa acaba se envolvendo com a criminalidade, com o tráfico de drogas. O pai Richard Wershe Sr. (Matthew McConaughey) tenta sobreviver um dia de cada vez. Pobre, desempregado e sem escolaridade, ele precisa se virar. Para isso vai em feiras de armas e compra as pechinchas, tudo de forma legal. Depois as revende nas ruas, geralmente para membros de gangues formadas por jovens negros. Isso vale para a sua subsistência. O filho Rick Wershe Jr. (Richie Merritt) decide ir além. Ele se torna amigo de garotos negros de sua idade. Pessoas que conhece desde sempre. Eles vivem de pequenos crimes pelo bairro. Em pouco tempo começa a traficar drogas e se dá muito bem (pelo menos financeiramente).

Pela pouca idade (tinha 17 anos na época) começa também a entrar em um jogo perigoso, pois se torna informante não oficial do FBI, ajudando a revelar crimes para os policiais. Claro, isso coloca sua vida em risco. Em pouco tempo também vira alvo. O filme tem um estilo realista que me lembrou bastante filmes policiais do passado, principalmente os produzidos na década de 1970. Como se trata de uma história real o roteiro e a direção optaram por uma visão fria daquele mundo, um jovem branco, pobre, que acaba indo para o lado da criminalidade, até porque ele parece não ter muitas opções A cidade onde mora é um centro industrial decadente, sem empregos e sem esperanças. O pai vive de pequenos delitos. Então dar um passo rumo ao tráfico de drogas se torna algo natural a se fazer. Só que ele acabou pagando bem caro por essa escolha.

White Boy Rick (Estados Unidos, 2018) Direção: Yann Demange / Roteiro: Andy Weiss, Logan Miller / Elenco: Matthew McConaughey, Richie Merritt, Bel Powley, Jennifer Jason Leigh / Sinopse: Durante a década de 1980 pai e filho tentam sobreviver numa cidade sem empregos e sem esperança. O velho Richard Wershe Sr. (Matthew McConaughey) vende armas compradas legalmente nas ruas, geralmente para criminosos negros. O filho Rick Wershe Jr. (Richie Merritt) acaba se transformando em um traficante de drogas juvenil, ao mesmo tempo em que faz serviços informais de informante para agentes do FBI.

Pablo Aluísio.

sábado, 1 de junho de 2019

No Portal da Eternidade

O final da vida do pintor Vincent van Gogh (Willem Dafoe) não foi feliz. Ele estava solitário, pobre e entregue ao alcoolismo. Como se tudo isso não fosse ruim o bastante ele começou também a apresentar sinais de que estava perdendo a sanidade. Via sombras e figuras em sua mente, ouvia vozes. Vivendo em pequenas cidades do sul da França, ele buscava refúgio justamente em sua arte. O roteiro desse excelente filme explora justamente esses momentos finais de sua vida. Assim voltamos no tempo para encontrar esse gênio completamente abandonado em sua época. Nunca teve o devido reconhecimento em vida e jamais conseguiu vender um só quadro de sua coleção. Até mesmo donos dos bares mais deploráveis se recusavam a expor seus quadros em suas paredes. Era uma situação bem desanimadora para qualquer artista.

Porém a despeito de todo o fracasso comercial, mesmo com as críticas que lhe eram feitas pessoalmente, de pessoas que não entendiam de arte e que diziam que seus quadros eram feios, ele seguiu em frente. Há uma cena muito bem elaborada de uma conversação entre van Gogh e um padre interpretado pelo ator Mads Mikkelsen que retrata bem isso. Muito sutilmente o sacerdote pergunta ao pintor se ele se considerava mesmo um homem de talento, uma vez que ele pessoalmente não achava grande coisa de suas obras. A conversa devassa o espírito de Van Cogh que sai dali com uma semente de dúvida sobre suas próprias qualidades como pintor. Algo para desabar qualquer um que tente vencer na vida como artista.

O roteiro do filme aliás é muito bem escrito, procurando captar um pouco da natureza que inspirou van Gogh em sua vida ao mesmo tempo que tece nuances sobre aspectos de sua conturbada vida pessoal. O famoso episódio em que ele, em um acesso de loucura, cortou sua própria orelha é sutilmente desenvolvida no enredo. Até mesmo detalhes de sua morte que nunca foram esclarecidas direito se tornam pano de fundo para a obra desse grande homem das artes. Some tudo isso à brilhante atuação do ator Willem Dafoe e você terá sem dúvida um grande filme. Um dos melhores já feitos sobre esse pintor.

No Portal da Eternidade (At Eternity's Gate, França, Inglaterra, Estados Unidos, 2018) Direção: Julian Schnabel / Roteiro: Jean-Claude Carrière, Julian Schnabel / Elenco: Willem Dafoe, Rupert Friend, Oscar Isaac, Mads Mikkelsen / Sinopse: O filme retrata os últimos meses de vida do pintor Vincent van Gogh (Willem Dafoe). Vivendo uma vida de cão, pobre e abandonado, ele tenta encontrar alguma felicidade em sua arte. Com a ajuda do irmão Theo van Gogh (Rupert Friend) e do amigo, também pintor, Paul Gauguin (Oscar Isaac), ele tenta sobreviver um dia de cada vez. Filme indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator (Willem Dafoe).

Pablo Aluísio.

A Morte Te Dá Parabéns 2

O primeiro filme não foi grande coisa, porém rendeu o suficiente para que os produtores investissem nessa sequência. Coisas do mercado cinematográfico. A premissa segue sendo basicamente a mesma, quando uma jovem garota universitária se vê diante de um loop temporal em sua vida. A consequência é que ela sempre acorda no dia de seu aniversário. O pior é que no final desse mesmo dia ela sempre é morta por um serial killer mascarado. Ok, repetir o primeiro filme seria muito cansativo. Aliás o primeiro filme é mesmo cansativo em certos momentos. Para mudar um pouco eles decidiram inovar, expandir um pouco esse roteiro, trazendo agora as explicações do porquê disso sempre acontecer com a protagonista.

E aí, meus caros, o meio de campo enrola. Há uma explicação meio pífia de que tudo estaria acontecendo em razão de experimentos de física quântica feitas no laboratório da universidade por um bando de nerds. A mocinha então precisa se aliar a esses caras para finalmente se ver livre desse inferno de repetição temporal. Quem assistiu ao último filme dos Vingadores e a animação do Homem-Aranha que lida com universos paralelos, saltos no tempo, etc, vai sentir um certo cheirinho de imitação no ar. Não é para menos. Hollywood parece embarcar de tempos em tempos em certos argumentos e os repete à exaustão numa série de filmes. No mais, nenhuma grande novidade. O roteiro segue uma fórmula que vem sendo utilizada desde os anos 80, com jovens bonitos sendo mortos por assassinos mascarados (olha o exemplo de "Sexta-Feira 13" por aí). Enfim, uma continuação um tanto desnecessária que tenta complicar o que por si deveria ser simples. Filmes de terror não combinam muito bem com física de universos paralelos, essa é a principal conclusão que chegamos após assistirmos a esse novo terrorzinho teen.

A Morte Te Dá Parabéns 2 (Happy Death Day 2U, Estados Unidos, 2019) Direção: Christopher Landon / Roteiro: Christopher Landon, Scott Lobdell / Elenco: Jessica Rothe, Israel Broussard, Phi Vu / Sinopse: A loirinha Tree Gelbman (Jessica Rothe) está de volta oa mesmo loop temporal do primeiro filme. Assim ela acorda todos os dias em seu aniversário e em todos eles é morta pelo assassino da máscara de bebezinho. Agora ela se une a um bando de nerds da universidade para achar uma saída desse inferno pessoal.

Pablo Aluísio.

sábado, 25 de maio de 2019

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 10

Uma estrela em Hollywood - A primeira grande chance de se tornar uma estrela para Marilyn Monroe apareceu em 1953 quando ela foi escalada para atuar em "Gentlemen Prefer Blondes" que no Brasil recebeu o título de "Os Homens Preferem as Loiras". Era uma comédia musical dirigida pelo excepcional cineasta Howard Hawks. O filme seria estrelado pela star Jane Russell e Marilyn estaria no enredo como uma espécie de escada para ela. Pelo menos foi isso que o estúdio disse a Monroe. Por baixo dos panos havia uma clara tentativa da Fox em testar a atriz para saber se ela poderia se tornar um novo chamariz de bilheteria para suas produções. O fato é que Marilyn conseguiu se tornar uma celebridade fora das telas, mesmo tendo participado na maioria das vezes como mera coadjuvante por anos e anos. Sem grandes chances nos filmes a atriz começou então uma bem sucedida campanha pessoal de auto promoção, se tornando amiga de jornalistas e produtores influentes, dando entrevistas, abrindo aspectos de sua vida pessoal e aparecendo em jornais, revistas e eventos promocionais.

O aparente desinteresse da Fox escondia uma pretensão bem mais ousada. Marilyn aos poucos foi percebendo que o estúdio finalmente parecia acreditar nela. Infelizmente isso não se refletia em seu salário que praticamente continuou o mesmo. Sua colega Jane Russell receberia quase vinte vezes mais do que ela pela atuação no filme. Isso logo chamou a atenção da imprensa e Marilyn resolveu brincar um pouco com a situação fazendo piada com o título do filme. A um jornalista amigo declarou: "Bom, eu deveria ganhar o mesmo que Jane, não acha? Até porque eu sou a loira do filme e ele se chama Os Homens Preferem as Loiras!". Depois disso arregalou seus grandes olhos azuis para a câmera, numa pose engraçada. Na verdade Marilyn iria provar no set de filmagens que ela tinha um maravilhoso timing para comédias e enredos engraçados, algo que ela não demonstrava tanto em dramas ou filmes mais melodramáticos. Em pouco tempo esse seu talento pelo cômico iria despertar a atenção da Fox que entenderia que finalmente havia descoberto o grande filão para explorar comercialmente o talento daquela loira. Dali em diante Marilyn seria escalada para brilhar em comédias românticas musicais.

Outro fato chamou bastante a atenção em Hollywood. Assim que o projeto do filme foi anunciado muitos entenderam que as duas atrizes não iriam se dar bem no set. Era um tanto tradicional haver brigas em filmes que fossem coestrelado por duas atrizes. Geralmente uma tentava superar a outra, querendo roubar o filme para si, e isso terminava em longas brigas nos sets de filmagens. As colunas de fofocas da época esperavam por enormes brigas envolvendo Marilyn e Jane, mas no final das contas acabaram se decepcionando. Ao contrário do que muitos aguardavam Monroe se deu muito bem com Jane Russell. Ambas ficaram até mesmo bastante amigas durante as filmagens. Uma apoiando a outra, dando sugestões. Isso para Marilyn era mais do que bem-vindo. Sua insegurança nas filmagens era notória dentro do estúdio. Ela sempre ficava apavorada antes de entrar em cena. Contar com um ombro amigo atrás e na frente das câmeras foi algo maravilhoso para ela. Em troca ofereceu uma amizade sincera e muito carinhosa para com Jane. Essa amizade parece ter trazido muito para o resultado final da película.

 "Gentlemen Prefer Blondes" custou relativamente barato pois foi quase que todo rodado em estúdio em Los Angeles. Assim que chegou nas telas de cinema se tornou um sucesso de público e crítica. Também pudera, o roteiro era deliciosamente divertido com ótima trilha sonora e números musicais extremamente bem realizados. O papel de Marilyn foi um dos mais caricatos de sua carreira, o que não significa que tenha sido ruim, muito pelo contrário, foi excelente, captando um lado de comediante na atriz que pouca gente conhecia. Para não fazer feio nos números musicais Marilyn tomou aulas de canto e dança com o departamento de arte da Fox. Uma das primeiras regras que teria que cumprir era ser disciplinada e pontual nas aulas, algo que ela conseguiu a duras penas pois chegar na hora marcada era um problema e tanto para ela, sempre. Algo que iria piorar muitos nos anos seguintes. De qualquer maneira como almejava muito ser uma estrela de sucesso, Marilyn por essa época adotou o estilo "garota boazinha e obediente". Mal sabia a Fox no que estava se metendo.

Pablo Aluísio.

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 9

Marilyn Monroe e os desajustados - Quando John Huston anunciou que iria dirigir "Os Desajustados" ele disse com euforia que iria fazer "O máximo em cinema!". Para isso o estúdio não mediu esforços e contratou além de Marilyn Monroe, a atriz mais popular do mundo naquela época, dois outros ícones da sétima arte, Clark Gable e Montgomery Clift. Com o próprio nome indicava, o roteiro (escrito pelo marido de Marilyn, Arthur Miller) mostrava um grupo de personagens perdidos na sua existência, tentando encontrar uma razão para viver, um sentido para a vida.

Quando o filme começou a ser rodado nos desertos de Nevada e Califórnia, John Huston percebeu que não, esse não seria o seu melhor filme. Como sempre Marilyn causou problemas. Não chegava na hora certa, não decorava suas falas e tinha ataques de Pânico. Pior do que isso, ele criou uma inimizade, uma raiva irracional contra o ator Clark Gable. O galã veterano já não tinha idade para segurar uma barra daquelas. Era muito stress para ele naquele momento de sua vida.

Estranhamente após a morte de Gable, poucos meses depois do filme ficar pronto, a própria Marilyn confessaria que estava se vingando da figura de seu pai ausente ao tratar mal o velho ator. Acontece que Marilyn associou sua imagem à do próprio pai, que para ela era desconhecido, pois sua mãe jamais conseguiu contar a Marilyn quem era o seu pai verdadeiro. Numa crise que apenas Freud poderia explicar perfeitamente, Marilyn resolveu tratar mal Gable, que no final das contas não tinha nada a ver com seus traumas e complexos de infância.

Nunca é demais lembrar que Marilyn Monroe havia entrado numa espécie de frenesi com psicólogos e analistas de Los Angeles, o que a tornou mais confusa ainda do que já era, segundo disse Billy Wilder. Assim Marilyn indiretamente boicotou o filme que mesmo com todas as dificuldades seria o seu último a ser terminado e lançado nos cinemas. Talvez por vingança ou talvez por pura maldade, o diretor John Huston encaixou uma cena gratuita onde Marilyn ficava jogando pingue pongue, rebolando da forma mais vulgar. Era uma cena desnecessária, mas que para Huston demonstrava que Marilyn era acima de tudo uma "boneca do sexo".

Os Desajustados (The Misfits, EUA, 1960) Direção de John Huston / Elenco: Clark Gable, Marilyn Monroe, Montgomery Clift, Thelma Ritter, Eli Wallach / Sinopse: Roslyn Taber (Marilyn Monroe) é uma mulher sensível, que está se divorciando. Gay Langland (Clark Gable) e um cowboy frio, que passou a vida pegando cavalos e conquistando mulheres divorciadas. Ela não aceita a captura de cavalos selvagens para virarem comida de cachorro, enquanto que ele não haveria nada demais naquilo. No meio de tantos conflitos, nasce uma paixão entre os dois.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 8

O casamento italiano de Marilyn Monroe - O casamento de Marilyn Monroe com o astro do esporte americano Joe DiMaggio estava fadado ao fracasso desde o começo. Eles se conheceram por acaso quando Marilyn foi contratada para fazer uma peça publicitária em um campo de beisebol. Embora Joe fosse nacionalmente conhecido pelos fãs do esporte mais popular da América, Marilyn não tinha a menor ideia de quem ele era e por isso não lhe deu muita bola quando apertaram as mãos pela primeira vez. O primeiro encontro, como se pode perceber, não causou qualquer efeito sobre ela, mas DiMaggio ficou perdidamente apaixonado por ela, um caso típico de amor à primeira vista. Ele tinha que ver aquela garota novamente. Isso porém iria demorar um pouco pois Marilyn tinha outros interesses. Ela na verdade tinha que se desdobrar com os inúmeros amantes ocasionais, namorados fugazes e flertes casuais que cultivava por onde andava. Seu empresário porém alertou para Marilyn que um romance com Joe DiMaggio iria trazer boa publicidade para sua carreira nos jornais e assim ela resolveu dar uma chance a ele, um encontro foi marcado e o casal saiu para jantar junto em uma cantina tipicamente italiana.

Marilyn porém não continuou impressionada por ele. Na verdade o esportista tinha pouco a trazer para Marilyn, além da já mencionada publicidade na imprensa. Ele não era particularmente culto e nem estava interessado nas mesmas coisas que a atriz. Não era conhecedor do mundo do cinema e nem tampouco tinha interesse em qualquer tipo de arte (no máximo era um fã de faroestes, mas nada muito além disso). Meio a contragosto ela levou o breve namorico em frente, tudo meio ao estilo "chove não molha". Ao mesmo tempo que saía com DiMaggio, Marilyn continuava a manter seus outros namorados. O que fez Marilyn mudar seu modo de agir com o jogador aposentado foi sua extrema dedicação a ela. Não importava o que precisasse, sempre que Marilyn precisava de uma ajuda ela pedia a Joe que lhe ajudasse. E ele jamais vacilava quando era chamado. Assim foi nascendo uma cumplicidade que jamais acabou, mesmo quando se separaram alguns anos depois. De fato Joe era extremamente devotado a ela, muitas vezes abrindo mão de sua própria vida para ir ao socorro de Marilyn, em qualquer situação e em qualquer lugar que sua ajuda fosse necessária (não raro viajava para lugares distantes onde Marilyn filmava, apenas para ficar ao lado dela).

Outro fato que serviu para aproximá-los foi a forte ligação familiar que Joe mantinha com seus parentes. Marilyn, que foi uma garotinha órfã, que não tinha tido muitos laços fraternais e familiares ao longo da vida, valorizava muito esse tipo de coisa. Quando o irmão de Joe foi assassinado numa praia deserta, Marilyn ficou bastante comovida com os sentimentos que Joe demonstrou na ocasião. Marilyn ficou particularmente impressionada com tudo o que viu em seu funeral, com todos os membros da família de Di Maggio reunidos, a missa de corpo presente e tudo mais. Era aquele tipo de aproximação que ela almejava um dia. Embora não fosse apaixonada por Joe ela percebeu que ele poderia ser um bom pai de família. Ora, seu sonho sempre foi ter uma bela família no futuro e Joe parecia ser o homem ideal para isso.

Mas havia dois problemas para a realização de seus sonhos. O primeiro era que, como iria descobrir com os anos, Marilyn jamais poderia ter filhos. Na juventude ela realizou um aborto que foi muito complicado em termos médicos. Após o procedimento realizado ela ficou impossibilitada de um dia vir a se tornar mãe. Embora tenha ficado grávida algumas vezes, nada seguiu em frente. Invariavelmente Marilyn acabava perdendo seus filhos por causa de uma sucessão de gravidezes mal sucedidas e dolorosas, tanto do ponto de vista físico como emocional. O outro problema insuperável para ter um relacionamento feliz com Di Maggio vinha da própria personalidade dele. Joe era da velha escola, um sujeito machista, que desejava que Marilyn abandonasse a profissão para ser apenas dona de casa. Verdade seja dita, durante um pequeno período de sua vida Marilyn até tentou... mas era impossível trocar Hollywood pela cozinha da casa do marido. Não havia possibilidade. A vida, para Marilyn, era algo mais, uma oportunidade única de tornar sonhos em realidade. Passar o dia inteiro enfurnada na cozinha fazendo bolos e doces para o maridão era algo impensável para ela, algo simplesmente insuportável. Assim, como era de se esperar, o casamento de Marilyn logo chegou ao fim. Eram pessoas diferentes demais para uma união assim dar certo por muito tempo.

Pablo Aluísio.

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 7

As noites de solidão - O sucesso de "Os Homens Preferem as Loiras" elevou Marilyn Monroe ao time das grandes atrizes de Hollywood. De repente a jovem aspirante que estava sempre implorando por papéis insignificantes havia sido catapultada para o grupo de elite do elenco da Fox. Com o sucesso veio também a pressão. Marilyn era agora nome certo nas listas das principais festas e premiações da indústria do cinema. Além disso veio junto também toda a repercussão na mídia, nas revistas de cinema, de moda e nos ensaios de publicidade. Marilyn, no fundo apenas uma jovem garota que mal conseguia organizar os aspectos mais simples de sua vida, tinha agora que se manter na linha, comparecer a todos os eventos, sempre surgindo com a melhor imagem possível. Por essa época a Fox incentivava seus astros a se consultarem regularmente com o departamento médico da empresa. O objetivo não era apenas ajudar seu elenco, mas principalmente ficar de olho se todos estavam bem tanto do ponto de vista médico como psicológico.

Nem é preciso ser expert na história de Marilyn para entender que ela deixava muito a desejar nesse último aspecto. Com um histórico de vida muito complicado a atriz vivia em um fio de navalha, tentando se mostrar segura, firme e de bem com a vida em público, enquanto que na vida pessoal as coisas pareciam desmoronar rapidamente. Marilyn tinha um segredo: ela estava se viciando em bolinhas, como eram chamadas as pílulas em Los Angeles durante os anos 50. Para se manter magra, esbelta e atenta com tudo o que acontecia ao redor, Marilyn começou a usar uma enorme série de inibidores de apetite, de estimulantes e soníferos. Era uma roleta russa. Para ficar bonita Marilyn tomava os inibidores. Para ficar sóbria e atenta nos sets de filmagens usava estimulantes e para conseguir dormir depois muitos soníferos. Sua figurinista na Fox sempre ficava surpresa quando Marilyn surgia no estúdio com um saco cheio de comprimidos, de todas as cores e tamanhos.

Esse uso indiscriminado de drogas muitas vezes trazia problemas para a atriz. Ao misturar todos eles com champagne, que Marilyn tomava durante as festas, era criada uma reação que ora a deixava completamente nauseada, ora totalmente bêbada. E quando Marilyn ficava de pileque ela costumava dar vexames em público, ficando super agitada, dando gritinhos e saindo seduzindo despudoradamente todos que encontrava no meio do salão, até mesmo dando em cima de homens casados na frente de suas próprias esposas. Era uma situação delicada. Numa dessas festas aconteceu uma saia justa. Marilyn esbarrou na cantora Billie Holiday. A atriz era grande fã daquela voz e estilo únicos e quis lhe conhecer, mas Billie Holiday a esnobou e o pior, foi extremamente grosseira, chegando ao ponto de lhe chamar de "puta"!

A Fox também logo entendeu que Marilyn não podia ficar muito tempo sem trabalhar pois ela, mais cedo ou mais tarde, se envolveria em confusões na sua vida pessoal. Assim o estúdio a escalou para filmar a comédia musical "Como Agarrar um Milionário". O filme seria dirigido por Jean Negulesco e contaria o divertido enredo envolvendo três mulheres  interesseiras em busca de maridos ricos. Marilyn dividiria o estrelato com duas outras famosas atrizes: Betty Grable e Lauren Bacall! Eram veteranas, profissionais e muito queridas em Hollywood. Perto delas Marilyn era apenas uma novata de sorte. Será que juntar três estrelas desse naipe em um só filme daria realmente certo? Só o tempo responderia a essa pergunta...

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 6

Os Amores de Marilyn Monroe - Marilyn nunca foi uma garota convencional. Mesmo quando jovem, ela não se furtava em experimentar uma nova aventura amorosa, mesmo se estivesse tendo um caso sério com alguém. Na realidade olhando para sua biografia de relacionamentos podemos definir a atriz como uma mulher de espírito livre, que nunca dizia "não" se estivesse interessada romanticamente por alguém. Durante sua trajetória Marilyn namorou e teve casos com inúmeros homens que de uma forma ou outra refletiam suas ambições pessoas em determinadas fases de sua vida. Assim Marilyn acabou tendo casos com homens mais velhos, pessoas influentes e poderosas na indústria cinematográfica já que nessa época ela almejava ter bons papéis em filmes importantes. Jamais negou que fez o "teste do sofá" com executivos de cinema, algo que lhe trazia bons filmes, mas também confusões.

Embora tivesses casos com esse tipo de gente, isso não impedia Marilyn de também sair ao mesmo tempo com homens mais jovens que não tinham nada a lhe oferecer em termos profissionais. Marilyn usava os velhotes ricaços donos de estúdios para subir na vida, mas se apaixonava mesmo pelos bonitões, muitas vezes tão pobres como ela. Certa vez Marilyn Monroe marcou um encontro com o chefão da Columbia Pictures, Harry Cohn, em um hotel de Los Angeles. Como era muito desorganizada acabou marcando para o mesmo dia e na mesma hora um outro encontro com um fotógrafo desempregado que ela havia conhecido há poucas semanas. De repente Marilyn se viu na embaraçosa situação de ter dois homens em sua porta, ambos com flores, um olhando para o outro, sem entender o que estava acontecendo. Cohn ficou tão furioso que acabou demitindo a atriz da Columbia depois daquela tarde confusa!

Os maridos de Marilyn também sofreram nas mãos da atriz. Enquanto estava casada com Joe DiMaggio ela se apaixonou por um jovem italiano que era conhecido da família de DiMaggio. Joe queria que Marilyn se comportasse como as matronas italianas, que passasse sua roupa enquanto assistia filmes de faroeste na TV, tomando cerveja com seus amigos barrigudos. Claro que isso jamais daria certo. Logo cedo Marilyn entendeu que aquela vida de casada não era para ela. Marilyn queria conquistar o mundo, não ficar lavando roupas para Joe DiMaggio. Sufocada pelo tédio de seu relacionamento italiano tradicional ao velho estilo ela logo arranjou um amante mais jovem na vizinhança. Era algo proibido, sedutor e travesso, tudo que Marilyn tanto amava! E engana-se quem pensa que esse era o único amante de Marilyn na época. Ela também deu suas saídas em Hollywood, inclusive com outro mito do cinema, Marlon Brando. Marilyn adorava a fama de rebelde do ator e quando surgiu a primeira oportunidade saiu com ele para uma noite de loucuras ao seu lado em um hotel da Sunset Strip. Brando achava Joe DiMaggio um idiota cheio de si, um estúpido, e por isso decidiu que iria seduzir Marilyn. Em sua autobiografia ele diz que não precisou fazer muito esforço para isso. Apenas ligou para Marilyn e marcou um encontro furtivo. Foi uma paixão fugaz em sua vida, mas muito gratificante.

Marilyn era tão fora dos padrões que ela chegou a fugir com um namoradinho para o México, onde numa noite de loucuras e bebedeiras acabou se casando com ele em uma capelinha local! Uma loucura completa que quase enlouqueceu os agentes e executivos da Fox, que imediatamente a forçaram voltar àquele país para pedir anulação do enlace por estar "bêbada demais" para entender que estava se casando. Alguns desses relacionamentos rápidos de Marilyn podiam ser bem destrutivos também. Seu caso amoroso com o cantor Frank Sinatra foi complicado. Sinatra logo percebeu que Marilyn tinha muitos problemas com drogas e comprimidos. Ela estava sempre carregando uma bolsa cheia deles para onde ia. Quando Monroe misturava as drogas que tomava com bebidas ela ficava fora de si. Se já era louquinha sóbria, imagine alcoolizada! Talvez por isso tenha surgido um boato (até hoje não se sabe se foi verdade) de que Marilyn, completamente embriagada, teria sido abusada por Sinatra e seu grupo de amigos em uma noite de orgias em Las Vegas. Ela teria sido usada por todos aqueles caras porcalhões em uma suíte privativa de Frank Sinatra. Se era mentira ou não, o fato foi que Joe DiMaggio ficou sabendo da fofoca e imediatamente baniu Sinatra de seu círculo de amigos (ambos eram muito próximos, mas depois disso DiMaggio se recusou a falar com Sinatra novamente e o impediu de ir até no enterro de Marilyn).

Arthur Miller, o famoso dramaturgo que se tornou o último marido de Marilyn, também logo descobriu esse lado pouco fiel de sua esposa. No começo de seu namoro Marilyn ficou perdidamente apaixonada por Miller, mas depois que se casou foi perdendo o interesse. Começou a considerar o marido intelectual um "chato" que ficava o tempo todo em casa escrevendo suas peças de teatro e seus romances. Essa vida era uma chatice sem tamanho para ela e quando isso acontecia Marilyn aprontava. Arranjou não apenas um amante, mas dois. Eles eram famosos, figurões da política. Eram irmãos! Como se isso fosse pouco um era o presidente dos Estados Unidos, JFK. O outro era seu irmão, o procurador geral Robert Kennedy! Segundo alguns autores Marilyn pagaria muito caro por essa última aventura de sua vida, mas essa é realmente uma outra história.

Pablo Aluísio.

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 5

Os homens preferem as loiras? - O sucesso de "Os Homens Preferem as Loiras" fez com que a Fox desse uma estrela na calçada da fama para Marilyn Monroe e Jane Russell, as estrelas do filme. Era uma grande honraria, só dada aos grandes astros e estrelas do passado. Jane reagiu muito bem à homenagem, chegando a dizer que "Já estava na hora" disso acontecer. Já Marilyn ficou completamente apavorada. Ela sentia-se muito jovem para ter sua própria estrela da fama e além disso passava longe de se considerar naquela altura de sua vida uma verdadeira estrela de cinema. No máximo Marilyn se achava uma modelo que tivera a sorte grande de ser levada à sério como atriz.

A insegurança e o medo de ir para a cerimônia se tornou mais uma vez um problema. Como recorda sua cabeleireira particular Gladys, a quem Marilyn chamava carinhosamente de Gladyness, ela ficou em crise quando soube que seria homenageada em Hollywood. "Marilyn tinha um problema de auto estima muito grave, desenvolvido provavelmente em seus anos como órfã, em lares adotivos onde ninguém dava muita atenção para ela. Quando se é assim qualquer elogio ou homenagem é visto como algo embaraçoso demais para se lidar. Assim na manhã do dia em que haveria a fixação de sua estrela na calçada da fama ela me ligou logo cedo. Pelo tom de sua voz pensei que era algo muito sério, pois ela parecia estar em pânico. Quando cheguei em sua casa, dirigindo em alta velocidade, pude perceber que Marilyn estava aterrorizada na verdade apenas por não saber qual vestido usaria naquela tarde!". A insegurança de Marilyn já tinha ficado clara para sua amiga Jane Russell que relembrou anos depois em uma entrevista: "Marilyn era completamente insegura. Ela chegava mais cedo do que eu no set de filmagens, completamente preparada, com o texto na ponta de língua, mas ficava apavorada demais dentro do camarim, com medo de enfrentar a câmera. Era algo patológico em sua personalidade".

Para aliviar a tensão Marilyn começou a tomar doses e mais doses de Vodka russa. Quando chegou na calçada da fama ao lado de Jane Russell já estava devidamente calibrada para enfrentar aquele momento. Tudo o que ela tinha que fazer era molhar as mãos para colocar no cimento fresco e depois assinar com um palitinho seu nome ao lado da estrela da fama. Só sorrisos, ensaiou até algumas piadas para o público presente, dizendo que Jane deveria se abaixar para que o cimento preservasse seu famoso busto - e não parou por aí, chegou a dizer que iria sentar no cimento para que seu bumbum ficasse eternamente gravado na calçada da fama em Hollywood. Era óbvio que Marilyn estava de fogo por causa da vodka que havia tomado, mas ninguém se importou muito com isso, todos riram e a cerimônia foi um sucesso de divulgação e publicidade. A Fox até colocou um pequeno diamante no pingo do "i" de Marilyn para causar ainda mais impacto nos jornais (no final do dia os próprios funcionários do estúdio foram até o local para tirar a peça valiosa, uma vez que seria seguramente roubada durante a noite). Marilyn ficou extasiada com a homenagem e começou a dizer para amigos que pela primeira vez sentia-se uma verdadeira estrela. Todos na Fox a adoravam pois Marilyn procurava tratar todos os funcionários de maneira igual, fossem eles altos executivos ou empregados comuns, como faxineiros, maquiadoras, cabeleireiras, guardas, etc. Marilyn conhecia todos pelo nome e sempre os cumprimentava, mesmo depois quando virou a maior estrela do estúdio. No fim de ano ela também providenciava pequenas lembranças para todos, presentes que saía distribuindo a cada um. Eram mimos simples, mas significativos, que ela fazia questão de presentear.

Para sua professora particular de interpretação, Natasha Lytess, Marilyn foi além e deu de presente seu próprio carro, um Potomac branco que havia sido dado a ela pela Fox. O relacionamento de Natasha Lytess com Marilyn aliás ia muito além da simples relação professora e aluna. Natasha tinha desenvolvido ao longo dos anos uma grande paciência com a personalidade e o modo de agir de Marilyn. Como se sabe Marilyn poderia ser uma doce pessoa, quase uma criança indefesa, como também um monstro de irritação e ataques de raiva, pânico ou depressão. Natasha conseguia passar por cima de tudo isso. Para muitos autores a professora de Marilyn era na verdade lésbica e tinha uma grande atração pela atriz. Ao que tudo indica Marilyn, que era muito sensitiva sobre esse tipo de questão, logo percebeu que sua professora estava apaixonada por ela, e procurou respeitar sua opção sexual, mas sempre deixando subentendido nas entrelinhas que jamais haveria um romance entre elas. A verdade é que Marilyn Monroe tinha curiosidade em relação às lésbicas, embora soubesse que era cem por cento heterossexual. Naqueles tempos o preconceito era muito forte na sociedade e os gays em geral eram tratados como verdadeiras párias da sociedade. Marilyn porém tinha uma visão diferente e procurava respeitar todos eles. Quando alguém lhe contava uma piada sobre bichas, Marilyn imediatamente se sentia ofendida, dizendo que aquilo não era engraçado, mas sim um grande desrespeito com as pessoas homossexuais.

A verdade é que a atriz precisava mesmo de uma pessoa com muita paciência para lidar com ela no dia a dia. Monroe era completamente desorganizada em sua vida cotidiana. Ela poderia levar horas para chegar em um encontro e mesmo quando era algo relacionado ao seu trabalho a atriz poderia simplesmente esquecer de aparecer. Mais de uma vez ligou para Natasha para que ela a viesse buscar na rodovia de Los Angeles pois tinha esquecido de colocar gasolina em seu carro e tinha ficado parada no meio do caminho, sem combustível. Seu apartamento era de uma bagunça incrível, com roupas jogadas pelo chão e móveis fora do lugar. Anos depois Natasha confidenciou que tinha ficado chocada na primeira vez que entrou no apê de Marilyn. Havia roupas em todos os lugares, malas abertas, gavetas fora do lugar. Por anos Marilyn havia vivido em diversos apartamentos perto de Hollywood. Quase sempre deixava de pagar o aluguel e era despejada. Isso criou nela um hábito de deixar sua mala sempre por perto, pois era quase certo ela de repente precisaria colocar tudo dentro dela para ser despejada mais uma vez. Contas de telefone também eram outro problema na vida de Marilyn. Ela ficava horas e horas conversando ao telefone, mas nunca se lembrava de pagar as contas. Ao longo da vida Marilyn foi processada mais de dez vezes por longas contas de telefone que nunca pagou.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 22 de maio de 2019

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 4

O último ano de Marilyn Monroe - O último ano da vida de Marilyn Monroe foi bem turbulento. Ela resolveu se livrar de coisas e pessoas que não estavam lhe fazendo bem. Por recomendação de seu terapeuta Marilyn resolveu que pela primeira vez em sua vida iria comprar uma casa própria. A atriz viveu toda a sua vida alugando e sendo despejada de apartamentos de Los Angeles e seu psicólogo lhe disse que isso criou nela uma espécie de trauma, onde seu subconsciente lhe passava a mensagem subliminar de que ela na verdade não pertencia a lugar nenhum e nem tinha raízes seguras onde se fixar. Marilyn gostou da explicação e comprou uma bela casa nos arredores da cidade - nada luxuoso ou extravagante, mas acima de tudo aconchegante. Conformou confessou a um repórter adorou a sensação de ser dona de sua própria casa, onde poderia ficar como bem entendesse, totalmente à vontade.

Como o casamento também vinha de mal a pior Marilyn resolveu despachar seu marido, o escritor Arthur Miller. Marilyn havia se apaixonado por ele principalmente por ser uma pessoa culta que passava uma imagem paterna para ela. Na vida a dois Marilyn porém se decepcionou completamente com ele. Miller caiu em um ostracismo incrível na carreira onde não produzia ou escrevia mais nada que fosse relevante ou elogiado. Além disso se mostrou totalmente submisso a esposa, carregando suas malas para cima e para baixo. Nos últimos meses Miller havia virado praticamente um empregado de Marilyn e isso a deixou completamente decepcionada com ele. Marilyn queria um homem de verdade ao seu lado, não um capacho, um verme que dizia sim a praticamente tudo o que ele queria ou mandava. Não demorou muito e Marilyn o mandou embora de sua vida, dizendo que além de ser um banana ele havia se revelado um tremendo de um chato!

Marilyn na verdade estava mirando nos irmãos Kennedy. Seria uma reviravolta e tanto em sua vida se ela conseguisse conquistar Bob ou então tivesse a chance de emplacar um romance com o próprio presidente dos Estados Unidos, JFK! Não seria o máximo se tornar a primeira dama do país depois de brilhar por tantos anos no mundo do cinema? Isso tudo porém não passava de um delírio de Marilyn já que nenhum deles estava disposto a colocar a carreira política em jogo por causa de Marilyn e suas loucuras. De qualquer forma Marilyn estava pelo menos respirando ares novos em sua vida. Uma sensação de mudança a tinha deixado de melhor humor a tal ponto que convidou o fotógrafo George Burns para tirar algumas fotos de seu novo lar para a capa de uma revista de decoração. A foto acima, por exemplo, foi tirada apenas seis semanas antes de sua morte.

Nas fotos Marilyn surgia feliz e sorridente porém os velhos fantasmas do passado ainda a incomodavam. Marilyn tinha dois grandes receios na vida, o primeiro era terminar louca como sua mãe, internada em uma instituição psiquiátrica. Muitos parentes de Marilyn tinham desenvolvido problemas mentais no passado de sua família e ela tinha pavor de também começar a apresentar sinais de insanidade. O segundo grande medo de sua vida era terminar sozinha seus dias, sem marido ou filhos. Por ter feito muitos abortos na juventude, Marilyn sabia que agora com mais de 30 anos o sonho da maternidade ficava cada vez mais distante. Isso a deixava deprimida, principalmente nas noites solitárias. E foi justamente numa noite dessas, na privacidade de seu quarto, ouvindo um disco de Frank Sinatra, que ela finalmente encontraria a paz que tanto desejava.

Pablo Aluísio.

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 3

O Casamento com Arthur Miller - Quando a imprensa descobriu que Marilyn Monroe e Arthur Miller tinham um caso amoroso um jornalista escreveu que era a combinação perfeita entre um cérebro privilegiado e o corpo mais desejado da América. Miller realmente era um grande intelectual, mas sua fama na literatura jamais conseguiu ofuscar o mito de Marilyn. Miller se tornou conhecido com a publicação de "A Morte do Caixeiro Viajante", um texto celebrado até os dias de hoje. Marilyn tinha esperanças de ser feliz ao seu lado, mas o casamento não deu certo. Ela morreria de uma overdose acidental de pílulas aos 36 anos. Ele teve uma vida longa, morrendo apenas aos 89 anos. Sua carreira estava destruída e segundo os principais críticos de sua obra jamais conseguiu escrever nada de importante após a morte de Marilyn. Assim completava-se a triste sina na vida de Norma Jean Baker. Ela jamais conseguiria ser feliz em sua vida amorosa. Filha de um relacionamento obscuro, onde nunca conseguiu saber direito quem havia sido seu pai, com uma mãe esquizofrênica, Marilyn não teve uma vida fácil. Na verdade ela foi muito dura. A atriz cresceu em uma série de lares adotivos. Entre uma família ou outra sempre retornava para o orfanato californiano onde viveu grande parte de sua infância.

Quando tinha apenas 16 anos a "mãe" adotiva de ocasião lhe arranjou um casamento sem amor com um rapaz que morava no bairro. Marilyn não o amava, porém não havia outro jeito ou outro caminho a se seguir. A única boa coisa era que o marido era marinheiro e passava longos períodos distantes de casa. Isso trouxe uma certa independência para Marilyn que aproveitou sua ausência para quem sabe ir atrás de seu velho sonho de ser atriz. Ela foi descoberta por um fotógrafo quando trabalhava numa fábrica. Virou a garota do calendário e depois resolve ir embora de vez, para Hollywood, para tentar arranjar emprego na indústria de filmes de Los Angeles. Era mais uma mocinha em busca do sonho de ser uma estrela. Marilyn conseguiu. Ficou famosa, namorou homens desejados e ganhou bastante dinheiro. A felicidade porém não veio. Durante muito tempo ela não foi levado à sério como atriz, mas sim como uma loira burra gostosona com talento para comédias. Marilyn porém queria mais. Ela queria se reconhecida como boa atriz. Assim foi embora para Nova Iorque estudar no famoso Actors Studio que era dirigido por Lee Strasberg, o gênio da arte de atuar.

Foi em Nova Iorque, respirando e convivendo com a classe intelectual artística da cidade que conheceu o escritor Arthur Miller. Marilyn que procurava por cultura e sabedoria viu tudo isso em Miller. Ele era um homem respeitado, vencedor do prêmio Pulitzer. Embora fosse casado Marilyn investiu em sua nova paixão. Depois de um namoro um tanto desajeitado, finalmente se casaram em 1956. Marilyn achava que seu novo marido parecia muito com Lincoln, que ela idolatrava. Obviamente que o casamento enlouqueceu a imprensa. Todos queriam entender essa estranha atração entre o homem das letras e a garota bonita das telas. O dramaturgo ficou no centro da atenção e começou a ser cortejado também pelos grandes estúdios de Hollywood. Ele certamente não seria o primeiro escritor a virar um roteirista de sucesso.

O casamento parecia perfeito nos jornais e revistas, mas a realidade era bem outra. Miller queria que Marilyn se dedicasse a ser uma esposa em tempo integral, que deixasse um pouco a badalação da capital do cinema em prol de uma vida caseira e dedicada ao lar. Nessa época Miller disse a Marilyn que ela deveria ser acima de tudo sua esposa, deixando a fama de lado. Claro que não deu certo. Marilyn jamais deixaria seu sonho de lado por nenhum homem. Ela foi para a Inglaterra filmar ao lado do grande Laurence Olivier. Com sérios problemas envolvendo pílulas e drogas as filmagens foram caóticas. Marilyn começou a tratar mal seu marido Arthur Miller, o destratando na frente de todos. Aos poucos também foi perdendo o interesse por ele. Marilyn estava sempre o chamado de ser "um chato" e que nunca saía para se divertir. Mesmo tendo ficado ao seu lado durante a "Ameaça Vermelha", Marilyn já não encontrava nada de interesse em seu esposo.

Não demorou muito e ela começou a humilhar Miller durante as filmagens. O diretor John Huston disse que durante as filmagens de "Os Desajustados" Miller não parecia nada muito além do que seu carregador de malas. O casal até tentou consertar as coisas, comprando uma bela casa de campo em Connecticut, mas ela não conseguia mais passar muito tempo ao seu lado. Marilyn também não colaborava pois estava bebendo como nunca e tomando pílulas na mesma proporção. Ela também começou a ter relacionamentos fora do casamento. Se envolveu com o ator Yves Montand e depois se apaixonou perdidamente pelo presidente JFK. Miller não tinha chances de competir com esses homens. Logo foi deixado de lado, como a uma mala velha. Em pouco tempo ela resolveu o colocar para fora de casa e depois pediu o divórcio. Achava insuportável viver mais alguns anos com Miller de novo. Ele era naquela altura de sua vida apenas um chato enfadonho.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 21 de maio de 2019

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 2

Marilyn, Princesa de Mônaco? - Uma das mais curiosas passagens da história de Marilyn Monroe envolveu a atriz e o nobre Rainier III, Príncipe de Mônaco. Na virada dos anos 1950 para 1960 o novo monarca de Mônaco estava preocupado. Se antes seu pequeno principado era muito badalado e cheio de celebridades, agora as coisas não andavam tão bem. Os cassinos e hotéis de sua cidade  estavam operando com baixa frequência. Rainier então entendeu que precisava colocar Mônaco novamente no mapa, transformar o lugar mais uma vez em um point dos ricos e famosos. Para isso precisava de publicidade, envolvendo Mônaco em um evento de enorme repercussão nos meios de comunicação. A solução então seria se casar com alguma estrela de cinema, de preferência famosa a glamourosa. Seus assessores pensaram inicialmente em Elizabeth Taylor, mas Rainier descartou por causa da instabilidade emocional da jovem atriz, afinal ela vivia se casando, se divorciando, para se casar novamente poucos meses depois. Tudo bem que era um casamento promocional acima de tudo, mas Rainier também almejava algo duradouro, que lhe trouxesse filhos e filhas para herdarem o seu trono.

Depois que Liz foi deixada de lado ele lembrou da atriz mais famosa da época, Marilyn Monroe! Estaria a loira disponível? Ela já havia se separado de Joe DiMaggio e se encontrava solteira, livre, leve e solta. De vez em quando saia em alguma revista notícias de seus namoricos, mas nada sério. Sem pensar duas vezes Rainier providenciou que dois de seus mais próximos assistentes voassem rumo a Nova Iorque para se encontrar com Marilyn Monroe pessoalmente. A missão era encontrar Marilyn e lhe fazer um gentil convite para que fosse até Mônaco, pois o príncipe era grande admirador seu. Quem sabe, eles poderiam sugerir sutilmente, que algo a mais poderia surgir desse encontro! Eles porém logo descobriram que isso não seria nada fácil. Era mais fácil encontrar o presidente dos Estados Unidos do que a famosa estrela de cinema. Marilyn, que era complicada até mesmo de ser encontrada nos sets de filmagens de seus próprios filmes, simplesmente desaparecia sem deixar rastros. Poucos conseguiam ver ou falar com ela. De uma forma ou outra, os enviados de Rainier conseguiram com muito esforço encontrar com a assistente pessoal da atriz nos corredores da Fox e com muita diplomacia e cautela explicaram o que desejavam. Será que Marilyn não estaria disposta a um encontro com o príncipe de Mônaco?

O curioso é que Marilyn sequer conhecia Mônaco, imagine Rainier. No dia seguinte ao acordar e se dirigir ao seu café da manhã - lá pelas três da tarde, como quase sempre fazia - Monroe foi informada do estranho convite! "Ele quer me conhecer? Para quê?" - indagou a loira com seus profundos olhos azuis e seu conhecido modo de agir de garotinha assustada! A assistente de Marilyn tentou explicar: "Pelo que eu entendi o príncipe deseja ter filhos com uma grande estrela americana" - Marilyn arregalou seus olhos com aquela revelação! Sim, era surreal. Marilyn não se conteve e logo caiu na gargalhada, rindo ainda mais depois quando viu a foto do pobre Rainier que poderia ser um príncipe, milionário até dizer chega, mas que não era nada rico em termos de beleza. Marilyn logo começou a brincar com sua aparência, suas orelhas de abano e cara de ratinho de milharal do meio oeste.

Não havia a menor possibilidade dela sequer encontrar com aquele nobre europeu algum dia. Ela não tinha interesse nenhum nisso. Tampouco queria se envolver em um romance arranjado, em um estranho encontro às escuras do outro lado do Atlântico. Aquilo tudo parecia muito bizarro para Marilyn. Não, de jeito nenhum ela iria conhecer o tal príncipe. O convite assim foi recusado e a história esquecida, a não ser como piada de salão, para Marilyn se divertir um pouco com aquele esquisito príncipe de Mônaco. Agora imagine sua enorme surpresa depois de alguns meses quando descobriu que uma outra estrela como ela aceitara o convite! Sim, Grace Kelly estava muito interessada em reinar em Mônaco. Não pensou muito e se comprometeu com o pouco atraente Rainier. Marilyn ficou muito surpresa com o fato, mas teve o gesto espirituoso de ligar para a colega parabenizando pelo casamento. Rindo, comentou: "Que bom que você encontrou um jeito de sair desse negócio de Hollywood!".

Pablo Aluísio.

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 1

A sexualidade de Marilyn - Apesar de ter sido um dos maiores símbolos sexuais da história do cinema, Marilyn nunca conseguiu ser plenamente feliz em sua vida sexual. Isso pode ser comprovado nos escritos que deixou ao longo dos anos. Em vários deles Marilyn deixou bem claro que, em muitos aspectos, sentia-se frustrada nesse aspecto. Assim não faltaram farpas para os homens que conseguiram levar a estrela para a cama. Marilyn costumava dar apelidos engraçados para os vários tipos de parceiros sexuais que teve. Um dos que mais lhe irritavam eram os "lobos". Marilyn usava essa denominação para qualificar homens que se aproximavam dela com segundas intenções. Na superfície pareciam homens bondosos que queriam lhe ajudar, mas que no fundo mesmo só queriam explorar a atriz para fins, digamos, libidinosos. Outros que não agradavam em nada eram os "apaixonados por si mesmos". Homens bonitos, fortes e musculosos, que perdiam mais tempo se olhando no espelho do que dando atenção para a mulher ao seu lado. Tipos egocêntricos, com cabelos cheios de brilhantina, e sorrisos falsos. Sexualmente esse tipo de parceiro, segundo Marilyn, não era nada interessante na cama. Só procuravam se satisfazer sexualmente a si mesmos, ao seus egos famintos, deixando as pobres garotas ao seu lado insatisfeitas.

Marilyn reclamava bastante também da forma como os homens de sua época faziam amor. Para a atriz a grande maioria deles eram puramente "mecânicos" e não se importavam em dar carinho ou afeto para ela. Assim Marilyn ficava com a impressão que esses tais "garanhões" se comportavam na verdade como se estivessem em algum atividade esportiva, em maratonas de exercícios e não em uma relação que exigia também cumplicidade e afeição com a parceira. Como teve muitos amantes Marilyn também acabou conseguindo ter uma boa experiência com homens em geral. Os vários relacionamentos e namoros fizeram com que ela logo descartasse os bonitões de estúdio que lhe importunavam.

O tipo ideal de homem para Marilyn acabou sendo bem mais velho do que ela, geralmente pessoas mais carinhosas e que sabiam ouvir. Também começou a ter uma queda por homens intelectualmente interessantes, que pudessem lhe trazer mais cultura e conhecimento. O sexo, na opinião de Marilyn, jamais poderia ser o fator mais importante em um relacionamento e ela provou seu ponto de vista no casamento com Joe DiMaggio. Sexualmente eles se davam muito bem, mas Joe era intelectualmente medíocre. Um italiano que preferia falar sobre esportes a ter algum tipo de conversa com mais conteúdo ao lado de sua jovem esposa. Não demorou então e o casamento entre eles logo acabou. Afinal de contas como ela própria dizia: "Uma relação sexual dura poucos minutos, depois você terá que aturar seu homem pelo resto do dia! Se não for uma pessoa interessante você estará em uma situação complicada de se lidar".

Outro fato curioso sobre Marilyn embaixo dos lençóis é que ela geralmente ficava frustrada após uma noite de amor. Ela não tinha muito prazer e isso lhe deixou bem encucada por um bom tempo. Em seu diário confessou: "Devo ser frígida, porque nunca fico plenamente satisfeita com sexo!". O pior acontecia quando ela tinha relações com homens que pouco se importavam se ela estava tendo algum prazer. Depois de uma transa rápida simplesmente viravam para o lado na cama e iam dormir. Não raro Marilyn ficava devastada quando isso acontecia. Sua frustração chegou ao ponto dela se perguntar se ainda gostava mesmo de homens, se era de fato heterossexual. "Será que se eu me relacionasse com uma mulher teria maior prazer?" - era um pensamento recorrente que Marilyn resolveu inclusive colocar no papel. Curiosamente porém ela nunca quis dar um passo à frente nessa questão e pelo que se saiba não existem evidências fortes o suficientes para revelar algum caso lésbico em sua vida. Pelo visto a atriz seguiu mesmo o caminho dos frustrantes relacionamentos com homens, ainda que muitos deles fossem decepcionantes e sexualmente insatisfatórios.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Confidências à Meia Noite

Infelizmente Doris Day se foi nessa semana, deixando muitas saudades naqueles que assistiram aos seus filmes ao longo de todos esses anos. Esse "Confidências à meia noite" foi um dos mais lembrados em artigos e matérias comentando sua morte. Não é para menos, sem dúvida é um de seus filmes mais populares, aquele que de certa forma definiu sua carreira no cinema. "Pillow Talk" é certamente um dos melhores filmes de sua filmografia (se não for o melhor). Essa é uma simples constatação para quem gosta de cinema clássico. A primeira parceria com Rock Hudson (faria mais dois filmes ao lado dele) rendeu ótimas cenas de humor. Considerado ousado e sofisticado demais para os anos 50, o filme fez um tremendo sucesso. Rock em sua biografia afirmou que esse foi um dos trabalhos que mais gostou de fazer, pois o clima no set era o melhor possível, muito descontraído e alegre. Além disso ele criou uma ótima química com Doris nas cenas. Foram amigos até o fim de suas vidas. Amizade verdadeira, pouco comum em Hollywood.

Hudson havia recentemente se separado da esposa e procurava por novos caminhos em sua carreira. Depois de estrelar faroestes e dramas com Douglas Sirk e George Stevens, Rock tinha dúvidas se poderia fazer bem um papel de playboy numa comédia romântica sofisticada como essa. Depois de pensar por um tempo resolveu arriscar. O interessante é que o sucesso de "Confidências à Meia Noite" acabou significando uma mudança completa nos rumos de sua filmografia. A partir daqui ele deixaria definitivamente os dramas pesados de lado para se dedicar a filmes bem mais leves, divertidos como "Volta meu Amor", "Não me Mandem Flores", "O Esporte Favorito do Homem" e "Quando Setembro Vier". Ele mudou seu estilo, mudou sua carreira a partir desse ponto.

Já Doris Day atribuiu ao filme à sua fama de "virgem profissional" e disse não ter entendido a razão de ter recebido esse "rótulo" por parte da imprensa. No filme sua personagem se recusava a ceder ao conquistador barato interpretado por Rock. Além disso a personagem era dona de si, profissional e no comando de sua vida. Nada parecida com uma dondoca.  Segundo Doris Day aqui ela não interpretava uma "virgem" mas sim uma mulher independente, inserida no mercado de trabalho, profissional, que pela primeira vez tinha o direito de escolher o homem com quem queria se casar - ou não casar, de acordo única e exclusivamente com sua consciência. O filme foi divisor de águas também porque acabou criando um dos filões mais usados em Hollywood - o da comédia romântica com roteiros mais picantes. Antes de Pillow Talk ("conversa de Travesseiro", seu título original) os estúdios não prestavam muito atenção nesse estilo. Com o sucesso do filme eles começaram a investir mais no gênero - que atingiria seu auge vinte anos depois, nos anos 80. Uma fórmula que até hoje não demonstra sinais de desgaste perante o público, principalmente feminino.

Confidências à Meia Noite (Pillow Talk, EUA, 1959) Direção de Michael Gordon / Roteiro de Stanley Shapiro e Maurice Richlin / Elenco: Rock Hudson, Doris Day, Tony Randall, Thelma Ritter  / Sinopse: Jovem playboy (Rock Hudson) se faz passar por uma caipirão para conquistar sua vizinha (Doris Day) que implica com ele por causa da linha de telefone que ambos dividem. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original. Também indicado nas categorias de Melhor Atriz (Doris Day), Melhor Atriz Coadjuvante (Thelma Ritter), Melhor Direção de Arte e Melhor Música. Indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Comédia ou Musical, Melhor Atriz (Doris Day) e Melhor Ator Coadjuvante (Tony Randall).

Pablo Aluísio.

Moby Dick

O livro original foi escrito por Herman Melville em 1851. Curiosamente não foi um grande sucesso de vendas em seu lançamento, mas ao longo dos anos foi sendo redescoberto pelos estudiosos de literatura. Hoje é considerada uma obra prima. O filme nasceu da insistência pessoal de John Huston que viu no texto várias características com as quais ele próprio se identificava. A adaptação para as telas realmente ficou excelente, fruto de seu trabalho como grande cineasta que sempre foi. Muita gente pensa que se trata apenas de um filme de aventura que mostra um capitão alucinado na caça de uma baleia cachalote albina. Não é bem isso. Bom, isso é a superfície, na realidade Moby Dick é uma grande metáfora sobre a obsessão que corrói a mente dos homens. Basta trocarmos a baleia por qualquer outra coisa que cause a obsessão ao ser humano para entendermos muito bem o que o autor do livro quis passar. No fundo é a história de um homem disposto a sacrificar tudo (até sua vida) para ir atrás de um objetivo, nem que isso leve ele e seus tripulantes à ruína completa.

Existem outras versões de Moby Dick, mas nenhuma delas sequer conseguem chegar ao nível dessa de 1956 que foi dirigida por John Huston. Não é surpresa nenhuma que ele tenha feito esse filme. O tema era muito próximo a Huston que se empenhou em uma história parecida quando estava filmando na África (assistam “Coração de Caçador” de Clint Eastwood para entender). Outro ponto que conta muito a favor nessa versão é a dupla de atores: Gregory Peck (como o obcecado capitão e sua voz de trovão) e Orson Welles (em uma ótima cena passada num culto religioso). Os diálogos são ricos e declamados com eloquência, então é garantido o show de interpretação desses atores. Até os efeitos ainda são charmosos, mesmo com mais de 50 anos de sua realização. Enfim, Moby Dick é excelente, uma viagem em busca do monstro interior de cada um de nós.

Moby Dick (EUA, 1956) Direção: John Huston / Roteiro: John Huston, Ray Bradbury baseado na obra de Herman Mellvile / Elenco: Gregory Peck, Orson Welles, Richard Basehart, Leo Genn / Sinopse: O Capitão Ahab (Gregory Peck) é um velho homem do mar que se torna obcecado em encontrar e matar uma baleia branca cachalote conhecida como Moby Dick. Para isso não medirá esforços exigindo severamente o máximo dos homens de sua tripulação. A obsessão da caça se torna sua ruína pessoal.

Pablo Aluísio.

domingo, 19 de maio de 2019

O Destino Bate à Sua Porta

A grande maioria dos cinéfilos conhece essa estória através do remake que foi feito muitos anos depois com Jack Nicholson e Jessica Lange. Esse aqui é o filme original mostrando a trama de assassinato orquestrada por dois amantes contra o marido mais velho da garota. Na trama somos apresentados a um vagabundo errante, Frank Chambers (John Garfield), que chega até uma lanchonete de beira de estrada numa cidadezinha da Califórnia. O pequeno estabelecimento é tocado por Nick (Cecil Kellaway) e sua jovem esposa, a bela Cora (Lana Turner). Logo Frank cai nas graças de Nick e este o contrata para trabalhar no local. Não demora muito para que Frank e Cora se sintam atraídos um pelo outro. A partir daí tudo caminha para um desfecho trágico pois o casal de amantes começa a planejar um jeito de liquidar Nick para continuarem juntos sem o velho marido que agora se tornou um estorvo na vida deles. O roteiro chama atenção pela sordidez dos eventos. O casal age de forma natural mas planeja um assassinato com raro sangue frio. A personagem de Lana Turner (belíssima em cena) não parece ter maiores conflitos pelo que está fazendo, aliás é justamente ela que concebe a idéia e passa para o amante Frank Chambers. No fundo ela está de olho não apenas na lanchonete do marido mas também em um rico seguro de vida no nome dele (algo que negará depois).

A produção é a primeira em língua inglesa baseada no livro que lhe deu origem, escrito pelo autor James M. Cain. Hollywood só se interessou pela estória após ela ter sido filmada duas vezes, uma na França e outra na Itália. Esse pode ser considerado o primeiro grande papel de expressão de Lana Turner. Antes desse personagem amoral, Cora, ela apenas passeava sua beleza em cena sem grandes interpretações a tiracolo. Como era uma starlet apenas tirava proveito de sua beleza e nada mais. Aqui porém já foi exigida bem mais em seu papel, tanto que ganhou grandes elogios da crítica na época. Outro que também está muito bem é John Garfield, em um papel que ficaria melhor com Jack Nicholson décadas depois. A caracterização de Jack é muito mais rica pois expõe os motivos de Frank Chambers com mais intensidade. Na pele de Garfield não conseguimos entender muito bem suas motivações para um crime tão bárbaro. Em conclusão diria que "O Destino Bate à Sua Porta" vale por um direção segura e pela bela atuação de Lana Turner mas a despeito de tudo isso não consegue ser superior à versão de Bob Rafelson em um caso raro de remake superior ao original.

O Destino Bate à Sua Porta (The Postman Always Rings Twice. EUA, 1946) Direção: Tay Garmett / Roteiro: Harry Huskin, Niven Busch baseados no livro de James M. Cain / Elenco: Lana Turner, John Garfield, Cecil Kellaway / Sinopse: Jovem esposa com seu amante planejam a morte de seu marido mais velho para herdar sua lanchonete e um seguro de vida de 10 mil dólares.

Pablo Aluísio.

O Fantasma da Ópera

Título no Brasil: O Fantasma da Ópera
Título Original: The Phantom of the Opera
Ano de Produção: 1925
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Rupert Julian
Roteiro: Gaston Leroux
Elenco: Lon Chaney, Mary Philbin, Norman Kerry, Arthur Edmund Carewe, Gibson Gowland, John St. Polis

Sinopse:
No passado um homem aplaudido pelas massas, compositor de sucesso. No presente uma triste figura, desfigurado, se escondendo pelos porões da ópera. Uma ruína de si mesmo, conhecido como um fantasma, um ser que vive escondido nas trevas. Filme preservado como patrimônio cultural dos Estados Unidos pelo National Film Registry.

Comentários:
Essa foi uma das primeiras adaptações do Fantasma da Ópera no cinema americano. Filme muito bem produzido, com ótima fotografia e maquiagem. O clima soturno foi realmente fantástico, influenciando inúmeros filmes nos anos que viriam. Assim, mesmo sendo feito na era do cinema mudo, em nada se perdeu em termos de impacto e ambientação. Some tudo isso ao trabalho do ator Lon Chaney e você entenderá porque esse filme ainda é reverenciado. Não vá também confundir Lon Chaney com Lon Chaney Jr, que era seu filho. O primeiro Lon Chaney (pai) foi considerado um dos maiores atores de todos os tempos, tanto que passou a ser conhecido como "o homem das mil faces". Já Lon Chaney (seu filho) ficou famoso interpretando o lobisomem na primeira versão do estúdio, algumas décadas depois. De qualquer forma o talento parecia ser mesmo de família. Por fim uma curiosidade: esse filme foi dado como desaparecido por anos, pois não se conseguia encontrar uma cópia, até que a salvação veio de Paris. Um antigo colecionador tinha guardado uma cópia completa em sua coleção, salvando assim esse clássico do cinema do desaparecimento total.

Pablo Aluísio.

sábado, 18 de maio de 2019

O Homem das Mil Caras

Belo filme clássico. O que temos aqui é uma cinebiografia do ator Lon Chaney. É Hollywood olhando para si mesma, contando parte de sua história. Chaney não era um galã bonitão como Clark Gable e nem tampouco um comediante talentoso como Charles Chaplin. Fisicamente ele tinha a aparência de um homem comum, já entrando na velhice. Isso não o impediu de se tornar um dos atores mais populares de seu tempo. Para alcançar esse sucesso nas telas ele usava não apenas de seu talento dramático, mas também de seus talentos como maquiador, criando personagens apenas com suas ferramentas artísticas. Isso criou um estilo próprio de fazer cinema. Assim ele ficou muito popular interpretando figuras trágicas como o fantasma da ópera e o corcunda de Notre Dame. Tudo criado por ele mesmo, usando de figurinos e maquiagem em doses excessivas. Por isso os posters de seus filmes traziam o título de "O Homem das Mil Faces", já que ele conseguia se transformar em qualquer personagem, sejam piratas, orientais, palhaços sinistros, qualquer coisa que o roteiro de um filme pedisse. O filme assim celebra sua vida como ator, mas também mostrando muitos detalhes de sua vida pessoal, como o casamento conturbado e infeliz, a perda da guarda do seu filho e uma certa vergonha que tinha por causa de seus pais, que eram deficientes.

O roteiro que concorreu ao Oscar é primoroso. Consegue mesclar o lado profissional e pessoal desse ator de forma magistral. Não há espaços para vazios ou cenas gratuitas. Tudo tem uma razão de ser. E por falar em talento dramático uma das melhores coisas nesse clássico é o trabalho de James Cagney. Claro, se você gosta de cinema clássico imediatamente o associa a personagens de gangsters durões. Foi nesse tipo de filme que ele se tornou famoso no cinema. Só que aqui temos o ator em um papel dramático que exigiu muito dele em termos de dramaturgia. E ele se saiu excepcionalmente bem. Diria que ficou à altura do próprio personagem que retratou. Afinal de contas temos que salientar que apenas um grande ator conseguiria interpretar um grande ator do passado como Lon Chaney. Nesse aspecto James Cagney merece todos os nossos aplausos por seu brilhante trabalho nesse filme.

O Homem das Mil Caras (Man of a Thousand Faces, Estados Unidos, 1957) Direção: Joseph Pevney / Roteiro: Ralph Wheelwright, R. Wright Campbell / Elenco: James Cagney, Dorothy Malone, Jane Greer, Marjorie Rambeau / Sinopse: O filme conta a história do ator Lon Chaney, aqui interpretado pelo astro James Cagney. Um resgate histórico da obra e da vida desse grande ator da era de ouro do cinema mudo americano. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original.

Pablo Aluísio.

O Paraíso Infernal

Em um país da América do Sul, o aviador americano Geoff Carter (Cary Grant) administra uma pequena empresa de aviação, formada por pilotos destemidos que precisam levar cargas, pessoas e alimentos para regiões inóspitas e distantes do continente. Se utilizando de velhos aviões, em climas hostis, eles precisam levar em frente um negócio não apenas arriscado, mas muitas vezes mortal. Bonnie Lee (Jean Arthur) é uma viajante que acaba conhecendo o grupo durante uma parada de seu navio na região. Em pouco tempo ela se encanta por Geoff, embora ele não esteja muito interessado em realmente se apaixonar novamente por alguém. Indicado a dois Oscars (Melhor Fotografia e Melhores Efeitos Especiais) esse "Only Angels Have Wings" já traz todas as características que seriam muito presentes na obra do cineasta Howard Hawks. Um dos diretores mais ecléticos da história do cinema americano aqui ele procura mesclar aventura com romance, drama com humor. O resultado é muito bom, mesmo com algumas pequenas falhas de roteiro.

Como basicamente se trata de um enredo aventuresco o diretor precisou utilizar de duas técnicas básicas para contar sua estória. Na primeira ele se utilizou de maquetes de aviões (bem charmosas aliás) para reproduzir os momentos de maior perigo, principalmente em acidentes aéreos e pousos perigosos. Na segunda conseguiu ótimas sequências reais, usando aviões de verdade. Existe uma cena onde temos dois aviões - um de filmagem e outro em ação - que impressiona até hoje. As aeronaves sobrevoam montanhas íngremes e realizam verdadeiras manobras em sua encosta. Tudo realizado com extrema perícia e competência. Em termos de elenco o galã Grant interpreta um piloto durão que após uma decepção amorosa no passado (a sua ex-mulher não suportou sua vida de desafios e perigos no ar) decide que não mais irá se apaixonar. Isso se torna um problema para a personagem de Jean Arthur que fica caidinha por seus encantos. Para completar o triângulo amoroso surge uma jovem Rita Hayworth, esposa de um dos pilotos que trabalham para Grant, embora ela esteja interessada mesmo é nele! Enfim, como eu já frisei, Hawks conseguia mesclar vários gêneros em um só filme. Aqui ele conseguiu novamente, realizando assim um de seus melhores trabalhos na década de 1930. Diversão garantida, como bem queria o grande mestre.

O Paraíso Infernal (Only Angels Have Wings, Estados Unidos, 1939) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Howard Hawks / Roteiro: Jules Furthman / Elenco: Cary Grant, Jean Arthur, Rita Hayworth / Sinopse: Geoff Carter (Cary Grant) é um piloto de aviões comerciais que voam em regiões distantes e perigosas da América do Sul. Enquanto tenta sobreviver a cada voo vai se apaixonando por mulheres interessantes que vão cruzando seu caminho.

Pablo Aluísio.