Em 1953 Marlon Brando entrou no set de seu novo filme, "The Wild One" que no Brasil seria intitulado "O Selvagem". Brando, já naquela altura considerado o maior rebelde de Hollywood, iria interpretar o papel de um jovem motoqueiro chamado Johnny Strabler. A direção seria do cineasta húngaro Laslo Benedek que havia dirigido a adaptação para o cinema do clássico da literatura "A Morte do Caixeiro Viajante" dois anos antes. Inicialmente Brando não viu grande coisa no roteiro. Para ele seria um filme apenas para cumprir contrato com o produtor Stanley Kramer. Como era um filme pequeno, de curta duração e com enredo simples, não haveria muito trabalho à vista. Nada que poderia se comparar com os filmes anteriores do ator, verdadeiras obras primas como "Espíritos Indômitos", "Uma Rua Chamada Pecado", "Viva Zapata!" e principalmente "Júlio César" que havia exigido muito dele em termos de atuação. Afinal de contas Brando havia suado a camisa para se sair bem em seus primeiros filmes, em especial o último, uma complicada adaptação para o cinema da famosa peça escrita por William Shakespeare, sob direção do austero Joseph L. Mankiewicz. Assim interpretar Johnny era quase como um passeio no parque. Além do mais Brando adorava motos e o universo que as cercava, então foi mesmo a união de algo que gostava de fazer em sua vida pessoal com a possibilidade de dar um tempo nos filmes mais sérios e desafiadores.
Para sua surpresa porém o filme virou um dos maiores cult movies da história. Inicialmente Brando não gostou da película. Como ele próprio recordou em suas memórias a primeira vez que assistiu a "O Selvagem", logo após sua estreia nos cinemas, não gostou mesmo do que viu. Achou o filme violento e sem conteúdo. Curiosamente a fita acabou virando o estopim de uma série de revoluções comportamentais ocorridas na juventude americana nos anos 1950, desembocando na revolução cultural que iria estourar nos anos 1960. Para Brando foi tudo uma grande surpresa. Ele não tinha consciência na época que havia todo um sentimento reprimido por parte dos jovens e que seu filme seria usado para aprofundar todos esses anseios. Johnny, na visão de Brando, era apenas mais um personagem a interpretar. A juventude da época porém viu de outro modo. Aquele motoqueiro, vestido de couro preto da cabeça aos pés, era a personificação da liberdade. O roteiro dava a ele uma conotação ruim, algo que não poderia ser usado como modelo, mas como um aviso contra a delinquência juvenil. Para reforçar isso o estúdio colocou um texto avisando sobre os males de se seguir o exemplo dos personagens. Brando percebeu que o tiro sairia pela culatra. A juventude em geral ignorou a mensagem moralista quadrada e obsoleta e abraçou o personagem como um ícone, um mito, um exemplo a seguir. Para Brando não poderia ser melhor e ele foi elevado à altura de símbolo máximo entre os jovens da época.
Realmente, do ponto de vista puramente cinematográfico "O Selvagem" não pode ser comparado aos demais clássicos que Brando rodou por essa época em sua carreira. Já do ponto de vista meramente cultural e sociológico é de fato um dos mais marcantes momentos de sua carreira no cinema. Isso porque o filme não pode ser visto apenas sob a ótica do que se vê na tela, e sim muito mais além disso, pois teve enorme influência dentro da sociedade, principalmente entre os jovens, que viram ali um modelo de liberdade incrível. Numa época em que havia grande repressão e os controles morais eram extremos, ver Johnny atravessando a América de moto, sem dar satisfações a ninguém, e vivendo com um grupo de rebeldes como ele, era de fato um impacto para o jovem americano típico dos anos 1950. Depois que Brando surgiu com aquela imagem ícone, nasceu toda uma cultura jovem no país, até porque a juventude de um modo em geral era completamente ignorada dentro da sociedade até então, sendo considerada apenas uma transição entre a infância e a vida adulta. Depois de Brando vieram James Dean - o maior símbolo de juventude que o cinema jamais produziu - o Rock ´n´ Roll, Elvis Presley e toda a iconografia da cultura jovem que conhecemos hoje em dia.
Para Brando o filme passou logo, mas os efeitos dele se tornaram duradouros. Assim que terminou as filmagens da fita ele foi procurado novamente por Elia Kazan. Ele o convidou para participar do filme "On the Waterfront" (no Brasil, "Sindicato de Ladrões"). Assim que leu o roteiro Brando entendeu do que se tratava. Era uma grande metáfora em forma de película, que justificava de certa forma o comportamento do próprio Kazan durante o Macartismo, onde ele havia dedurado vários colegas de profissão. Depois disso a biografia do cineasta havia sido manchada para sempre. Ele tencionava com o filme resgatar parte de seu prestígio dentro da comunidade cinematográfica, ao mesmo tempo em que justificava seu ato e pedia desculpas pelo que fez. No começo Brando relutou em fazer o filme. Desde sempre ele se considerava um liberal e o que Kazan havia feito era realmente algo desprezível. A vontade porém de realizar mais uma obra prima foi maior do que seus escrúpulos pessoais. Assim, ainda vestido de Johnny, ele se encontrou nos corredores da MGM e assinou o contrato com Kazan. Mal sabia que estaria prestes a realizar um dos maiores filmes de toda a sua carreira.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 21 de janeiro de 2020
segunda-feira, 20 de janeiro de 2020
Guerra e Paz
Baseado no romance escrito por Leo Tolstoy o filme "Guerra e Paz" conta a história de uma série de personagens que vivem na Rússia no momento em que sua nação é invadida por tropas comandadas por Napoleão Bonaparte. Entre os que sentem na pele os efeitos da guerra está Natasha Rostova (Audrey Hepburn), uma doce jovem da pequena nobreza e Pierre Bezukhov (Henry Fonda), um moscovita que se torna herdeiro de uma grande fortuna. Adaptar o romance "Guerra e Paz" para o cinema nunca foi algo simples ou fácil de fazer. Recentemente assisti a uma minissérie da BBC e mesmo nesse formato percebemos que ainda falta muito para trazer todo o universo de Tolstoy para a tela. Se é assim para uma série, imagine para um filme!
O diretor King Vidor sempre teve a mão pesada e aqui ela ficou ainda mais pesada por causa do material que precisou adaptar. O resultado foi um filme com três horas e meia de duração, com muitos personagens, que em muitas ocasiões se torna cansativo. A produção é ótima pois o filme foi rodado em Roma, nos estúdios da Cinecittà, com produção do grande Dino De Laurentiis e Carlo Ponti, dois dos maiores produtores da história do cinema europeu, porém nem a grande pompa e luxo escondeu alguns problemas do roteiro. Para se ter uma ideia foram necessários nove roteiristas para se chegar numa versão final do texto. Mesmo assim não ficou tão tão bom.
Era necessário enxugar ainda mais a história, para que não ficasse tão dispersa. Bom, mesmo com eventuais problemas como esses que foram citados, é inegável que se trata de um grande filme, um daqueles épicos que não são feitos mais hoje em dia. Outro ponto que merece destaque é o elenco. Henry Fonda me pareceu um pouco perdido em seu personagem, que era muito mais jovem do que sua idade na época em que o filme foi feito. Sua presença ainda assim é um dos grandes atrativos do filme. Melhor se sai a bela e carismática Audrey Hepburn! Ela só não se torna melhor porque sua personagem não foi tão bem tratada pelo roteiro. Do jeito que ficou, por exemplo, sua paixão por um outro pretendente, enquanto seu noivo prometido está na guerra, acabou soando pouco verossímil. A questão é justamente essa, mesmo com três horas de duração o filme não conseguiu dar conta de tantos personagens complexos e relevantes para a trama. Adaptar Tolstoy para o cinema realmente nunca foi algo simples.
Guerra e Paz (War and Peace, Estados Unidos, Itália, 1956) Estúdio: Paramount Pictures / Direção: King Vidor / Roteiro: Bridget Boland / Elenco: Henry Fonda, Audrey Hepburn, Mel Ferrer, Vittorio Gassman, Anita Ekberg, Tullio Carminati / Sinopse: Durante a Rússia Czarista um jovem acaba recebendo uma grande fortuna de herança. Ele porém não tem a experiência de vida e nem a vivência para lidar com essa riqueza. Pior do que isso, sua nação está prestes a ser invadida pelas tropas do general francês Napoleão Bonaparte, algo que mudará a vida de todas as pessoas daquele período histórico. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção (King Vidor), Melhor Fotografia (Jack Cardiff) e Melhor Figurino (Maria De Matteis).
Pablo Aluísio.
O diretor King Vidor sempre teve a mão pesada e aqui ela ficou ainda mais pesada por causa do material que precisou adaptar. O resultado foi um filme com três horas e meia de duração, com muitos personagens, que em muitas ocasiões se torna cansativo. A produção é ótima pois o filme foi rodado em Roma, nos estúdios da Cinecittà, com produção do grande Dino De Laurentiis e Carlo Ponti, dois dos maiores produtores da história do cinema europeu, porém nem a grande pompa e luxo escondeu alguns problemas do roteiro. Para se ter uma ideia foram necessários nove roteiristas para se chegar numa versão final do texto. Mesmo assim não ficou tão tão bom.
Era necessário enxugar ainda mais a história, para que não ficasse tão dispersa. Bom, mesmo com eventuais problemas como esses que foram citados, é inegável que se trata de um grande filme, um daqueles épicos que não são feitos mais hoje em dia. Outro ponto que merece destaque é o elenco. Henry Fonda me pareceu um pouco perdido em seu personagem, que era muito mais jovem do que sua idade na época em que o filme foi feito. Sua presença ainda assim é um dos grandes atrativos do filme. Melhor se sai a bela e carismática Audrey Hepburn! Ela só não se torna melhor porque sua personagem não foi tão bem tratada pelo roteiro. Do jeito que ficou, por exemplo, sua paixão por um outro pretendente, enquanto seu noivo prometido está na guerra, acabou soando pouco verossímil. A questão é justamente essa, mesmo com três horas de duração o filme não conseguiu dar conta de tantos personagens complexos e relevantes para a trama. Adaptar Tolstoy para o cinema realmente nunca foi algo simples.
Guerra e Paz (War and Peace, Estados Unidos, Itália, 1956) Estúdio: Paramount Pictures / Direção: King Vidor / Roteiro: Bridget Boland / Elenco: Henry Fonda, Audrey Hepburn, Mel Ferrer, Vittorio Gassman, Anita Ekberg, Tullio Carminati / Sinopse: Durante a Rússia Czarista um jovem acaba recebendo uma grande fortuna de herança. Ele porém não tem a experiência de vida e nem a vivência para lidar com essa riqueza. Pior do que isso, sua nação está prestes a ser invadida pelas tropas do general francês Napoleão Bonaparte, algo que mudará a vida de todas as pessoas daquele período histórico. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção (King Vidor), Melhor Fotografia (Jack Cardiff) e Melhor Figurino (Maria De Matteis).
Pablo Aluísio.
Jezebel
Dois aspectos históricos bem interessantes acompanham o enredo de "Jezebel". O primeiro é o fato da história se passar apenas poucos anos antes do começo da guerra civil americana. Já naquela época os ânimos surgem bem aflorados, dominando as conversas dos sulistas pelos salões das cidades. Outro é o surgimento da febre amarela no sul, levando morte e destruição em uma escala jamais vista. Essa doença que se dissemina com extrema rapidez vai ser essencial no desenrolar da história, culminando numa forte cena final que certamente marcou época e é o grande momento de todo o filme.
"Jezebel" foi baseado numa peça escrita por Owen Davis. De certa forma foi uma produção que antecipou em um ano o impacto do clássico "E o Vento Levou". As duas histórias dos filmes são bem parecidas, com enredos se passando no sul escravocrata, nos tempos da guerra civil. As duas protagonistas também são bem semelhantes. Até mesmo em termos de premiação da academia temos semelhanças pois Bette Davis foi merecidamente premiada com a estatueta de melhor atriz do ano com essa interpretação. Ela era ainda bem jovem, mas já imprimia a marca de sua forte personalidade em sua personagem. Décadas mais tarde, após o falecimento de Bette Davis, o diretor Steven Spielberg compraria o Oscar que ela havia sido premiada por esse filme e que estava à venda em um leilão em Londres. Ele comprou a estatueta e a devolveu para o museu da academia em Hollywood. Um gesto de preservação da história do cinema. Em suma, esse é de fato um dos melhores filmes históricos desse momento crucial na história dos Estados Unidos. Um clássico absoluto do cinema americano em sua era de ouro.
Jezebel (Jezebel, Estados Unidos,1938) Direção: William Wyler / Roteiro: Clements Ripley, Abem Finkel / Elenco: Bette Davis, Henry Fonda, George Brent / Sinopse: Julie (Bette Davis) é uma jovem mimada e de personalidade forte. Ela tem um romance com um jovem banqueiro chamado Preston (Fonda), mas esse vai aos poucos perdendo a paciência com seus inúmeros caprichos. Quando a febre amarela assola a região o casal se colocará a prova, principalmente quando Julie descobrir que o grande amor de sua vida se casou com uma jovem do norte após o rompimento de seu conturbado namoro. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Fotografia (Ernest Haller) e Melhor Música (Max Steiner). Vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Bette Davis) e Melhor Atriz Coadjuvante (Fay Bainter).
Pablo Aluísio.
domingo, 19 de janeiro de 2020
Lolita
É interessante notar que mesmo tendo sido diretor por várias décadas, Stanley Kubrick dirigiu poucos filmes. No total foram apenas 16 direções assinadas por ele. Em quatro décadas de trabalho ele de fato dirigiu poucos filmes. Passou longe de ter uma filmografia extensa. Acontece que Kubrick ficava trabalhando nos roteiros por anos e anos. E só depois de muito pensar, finalmente assinava um contrato com os estúdios de cinema. E por ficar muito tempo sem ter novos filmes, cada vez que algo dele chegava aos cinemas chamava bastante atenção dos críticos e cinéfilos. Em 1962 ele chocou a todos quando seu novo filme chegou nos cinemas da Europa e Estados Unidos. Era uma adaptação da controversa e polêmica obra escrita por Vladimir Nabokov. O livro havia sofrido ataques por todos os setores da sociedade. Para os mais conservadores o seu texto trazia uma espécie de apologia à pedofilia, mesmo que de forma muito sutil e camuflada.
Stanley Kubrick tinha uma outra visão sobre tudo. Para ele era apenas um filme romântico, embora o casal protagonista estivesse fora dos padrões esperados pelos conservadores. Certamente a jovem adolescente Lolita (Sue Lyon) e o cinquentão Prof. Humbert Humbert (James Mason) não estavam dentro do que se esperaria de um casal na época. Um homem de sua idade se relacionar com uma ninfeta como Lolita era mesmo um escândalo. O curioso é que a obra de Vladimir Nabokov ainda hoje causa muita controvérsia. Penso inclusive que nos dias atuais o filme (e o livro) despertem ainda mais incômodo, porque afinal o politicamente correto jamais aceitaria um enredo como o que vemos por aqui.
Stanley Kubrick tinha bastante receio de adaptar esse livro para o cinema, não por causa dos padrões morais que ele infringia, mas sim porque em sua opinião seria muito complicado achar uma atriz para interpretar Lolita. Ela tinha que ser uma adolescente com certo ar ainda infantil, mas ao mesmo tempo ter muita malícia. Levar isso para o público não seria fácil. Para sorte de Kubrick ele acabou achando a atriz certa. A loirinha Sue Lyon acabou sendo a escolha perfeita. Ela não apenas era linda, como também era uma ótima atriz! Ela já tinha 18 anos quando fez o filme, mas com traços de menina mais jovem, convencia plenamente como Lolita. James Mason também se arriscou. Mesmo contra a vontade de seu agente ele aceitou fazer o filme. Outro destaque vem da presença do comediante Peter Sellers, aqui em um papel até mesmo bem perturbador. Nada de humor em seu personagem. Enfim, se você gosta do cinema de Stanley Kubrick esse filme se torna indispensável. Caso a história seja um pouco fora dos padrões de sua moralidade pessoal, então basta ignorar o filme como um todo. Caso contrário não deixe de assistir.
Lolita (Lolita, Estados Unidos, Inglaterra, 1962) Direção: Stanley Kubrick / Roteiro: Stanley Kubrick, Vladimir Nabokov, baseado na obra de Vladimir Nabokov / Elenco: James Mason, Sue Lyon, Shelley Winters, Peter Sellers / Sinopse: Escritor cinquentão fica perdidamente apaixonado por uma adolescente chamada Lolita. Ele tenta superar de todas as formas a atração que sente pela jovem, mas acaba cedendo aos seus desejos, ainda mais depois de perceber que ela também se mostra interessada em seus avanços. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor roteiro adaptado.
Pablo Aluísio.
Stanley Kubrick tinha uma outra visão sobre tudo. Para ele era apenas um filme romântico, embora o casal protagonista estivesse fora dos padrões esperados pelos conservadores. Certamente a jovem adolescente Lolita (Sue Lyon) e o cinquentão Prof. Humbert Humbert (James Mason) não estavam dentro do que se esperaria de um casal na época. Um homem de sua idade se relacionar com uma ninfeta como Lolita era mesmo um escândalo. O curioso é que a obra de Vladimir Nabokov ainda hoje causa muita controvérsia. Penso inclusive que nos dias atuais o filme (e o livro) despertem ainda mais incômodo, porque afinal o politicamente correto jamais aceitaria um enredo como o que vemos por aqui.
Stanley Kubrick tinha bastante receio de adaptar esse livro para o cinema, não por causa dos padrões morais que ele infringia, mas sim porque em sua opinião seria muito complicado achar uma atriz para interpretar Lolita. Ela tinha que ser uma adolescente com certo ar ainda infantil, mas ao mesmo tempo ter muita malícia. Levar isso para o público não seria fácil. Para sorte de Kubrick ele acabou achando a atriz certa. A loirinha Sue Lyon acabou sendo a escolha perfeita. Ela não apenas era linda, como também era uma ótima atriz! Ela já tinha 18 anos quando fez o filme, mas com traços de menina mais jovem, convencia plenamente como Lolita. James Mason também se arriscou. Mesmo contra a vontade de seu agente ele aceitou fazer o filme. Outro destaque vem da presença do comediante Peter Sellers, aqui em um papel até mesmo bem perturbador. Nada de humor em seu personagem. Enfim, se você gosta do cinema de Stanley Kubrick esse filme se torna indispensável. Caso a história seja um pouco fora dos padrões de sua moralidade pessoal, então basta ignorar o filme como um todo. Caso contrário não deixe de assistir.
Lolita (Lolita, Estados Unidos, Inglaterra, 1962) Direção: Stanley Kubrick / Roteiro: Stanley Kubrick, Vladimir Nabokov, baseado na obra de Vladimir Nabokov / Elenco: James Mason, Sue Lyon, Shelley Winters, Peter Sellers / Sinopse: Escritor cinquentão fica perdidamente apaixonado por uma adolescente chamada Lolita. Ele tenta superar de todas as formas a atração que sente pela jovem, mas acaba cedendo aos seus desejos, ainda mais depois de perceber que ela também se mostra interessada em seus avanços. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor roteiro adaptado.
Pablo Aluísio.
As Chuvas de Ranchipur
Para superar problemas no casamento o rico Lord inglês Albert Esketh (Michael Rennie) e sua elegante esposa Lady Edwina Esketh (Lana Turner) decidem viajar até a distante Índia, província do império britânico, para fazer turismo e comprar cavalos de raça para seu plantel na Inglaterra. Seu destino é a região de Ranchipur. Uma vez lá Lady Edwina acaba se apaixonando por um médico idealista, o Dr. Major Rama Safti (Burton), dando origem a um perigoso triângulo amoroso. Todo o intenso jogo romântico porém é interrompido por um enorme desastre natural que se abate sobre o exótico lugar. Aventuras exóticas em países distantes fizeram muito sucesso na época de ouro do cinema clássico americano. Havia um frescor em conhecer outras culturas sendo bastante para isso apenas a compra de um ingresso de cinema que custava poucos centavos de dólar. Assim houve no começo da década de 1950 um verdadeiro boom de interesse por parte do público diante desse tipo de filme.
E se o estúdio colocasse pitadas de romance com astros e estrelas de sucesso a boa bilheteria certamente seria certa. Todos esses ingredientes podem ser encontrados aqui em "The Rains of Ranchipur". Estrelado por Lana Turner e Richard Burton o roteiro explorava justamente esse nicho de mercado. Romance, aventura, terras exóticas e ação. Hoje em dia o filme é lembrado bastante por causa de seus bem realizados efeitos especiais (que chegaram a concorrer ao Oscar na categoria). De certa maneira é uma antecipação do que viria a se tornar bem popular algumas décadas depois, quando grandes desastres da natureza se tornavam o tema principal dos filmes que passaram a ser conhecidos como "cinema catástrofe". Tudo isso porque no enredo há um grande cataclisma natural. Se esse tipo de situação não lhe interessa é bom saber que a produção desfila um belo figurino em cena, principalmente nos trajes elegantes usados pelo personagem de Richard Burton. Lana Turner também não fica atrás, sempre tão fina e sofisticada. Em suma, uma aventura ao velho estilo, valorizado por um glamour tipicamente Hollywoodiano.
As Chuvas de Ranchipur (The Rains of Ranchipur, Estados Unidos, Inglaterra, 1955) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Jean Negulesco / Roteiro: Louis Bromfield, Merle Miller / Elenco: Lana Turner, Richard Burton, Fred MacMurray, Joan Caulfield / Sinopse: Um elegante e nobre casal inglês decide fazer uma viagem de turismo na exótica Índia, naquele momento uma colônia do poderoso império britânico. O que eles não poderiam prever é que iriam estar no país indiano bem no meio de um grande desastre natural. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais (Ray Kellogg e Cliff Shirpser).
Pablo Aluísio.
E se o estúdio colocasse pitadas de romance com astros e estrelas de sucesso a boa bilheteria certamente seria certa. Todos esses ingredientes podem ser encontrados aqui em "The Rains of Ranchipur". Estrelado por Lana Turner e Richard Burton o roteiro explorava justamente esse nicho de mercado. Romance, aventura, terras exóticas e ação. Hoje em dia o filme é lembrado bastante por causa de seus bem realizados efeitos especiais (que chegaram a concorrer ao Oscar na categoria). De certa maneira é uma antecipação do que viria a se tornar bem popular algumas décadas depois, quando grandes desastres da natureza se tornavam o tema principal dos filmes que passaram a ser conhecidos como "cinema catástrofe". Tudo isso porque no enredo há um grande cataclisma natural. Se esse tipo de situação não lhe interessa é bom saber que a produção desfila um belo figurino em cena, principalmente nos trajes elegantes usados pelo personagem de Richard Burton. Lana Turner também não fica atrás, sempre tão fina e sofisticada. Em suma, uma aventura ao velho estilo, valorizado por um glamour tipicamente Hollywoodiano.
As Chuvas de Ranchipur (The Rains of Ranchipur, Estados Unidos, Inglaterra, 1955) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Jean Negulesco / Roteiro: Louis Bromfield, Merle Miller / Elenco: Lana Turner, Richard Burton, Fred MacMurray, Joan Caulfield / Sinopse: Um elegante e nobre casal inglês decide fazer uma viagem de turismo na exótica Índia, naquele momento uma colônia do poderoso império britânico. O que eles não poderiam prever é que iriam estar no país indiano bem no meio de um grande desastre natural. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais (Ray Kellogg e Cliff Shirpser).
Pablo Aluísio.
sábado, 18 de janeiro de 2020
O Escarlate e o Negro
Em seu silêncio Pio XII teria ajudado milhares de refugiados, dando-lhes documentos e passaportes para fugir do horror alemão. Infelizmente os documentos históricos da época estão fechados na biblioteca do Vaticano e não serão abertos tão cedo. O tema ainda é muito delicado, tanto que há alguns anos houve uma tentativa de canonização de Pio XII que foi suspensa por causa da forte reação de grupos de sobreviventes do holocausto que até hoje não perdoam a posição do Papa na época. Afinal durante a maior tragédia humanitária da história o papa foi um santo ou um covarde?
Em “O Escarlate e o Negro” podemos encontrar algumas respostas. O filme foi baseado em fatos reais. O personagem principal da trama é o monsenhor Hugh O'Flaherty (Gregory Peck). Durante a II Guerra Mundial esse corajoso religioso irlandês se envolveu ativamente na salvação de centenas de procurados do regime nazista. Através de uma extensa rede de colaboradores católicos ele conseguiu salvar da morte muitas famílias de judeus, além de aliados e militares que encontravam em sua igreja um local de refúgio e apoio.
Seus esforços acabaram chamando a atenção do chefe local da Gestado em Roma, o Coronel Kappler (Christopher Plummer), que começou uma série de investigações em torno do religioso. Para Kappler o monsenhor estaria se utilizando de sua imunidade diplomática do Vaticano para ajudar essas pessoas. Estaria o religioso agindo por conta própria ou cumprindo ordens da alta cúpula da Igreja? Esse é um dos grandes mistérios que ronda até hoje a Igreja durante aqueles anos terríveis. De fato ele foi um dos "agentes secretos" do Papa, cuja principal função era ajudar judeus em sua fuga do nazismo. Um excelente filme com um tema histórico dos mais importantes. Assim deixo a dica e a recomendação desse belo filme que trata de um tema mais do que polêmico, com muito talento e delicadeza.
O Escarlate e o Negro (The Scarlet and the Black, Estados Unidos, 1983) Direção: Jerry London / Roteiro: David Butler, baseado no livro de J.P. Gallagher / Elenco: Gregory Peck, Christopher Plummer, John Gielgud / Sinopse: Um Monsenhor começa a ajudar refugiados e perseguidos do regime nazista a escapar do holocausto. Em seu encalço segue um alto oficial da Gestapo que pretende puni-lo por ajudar os inimigos do Estado alemão.
Pablo Aluísio.
Intriga Internacional
Não é dos filmes mais celebrados do mestre Alfred Hitchcock, porém é um dos melhores em cenas de ação. Também é considerado uma espécie de pioneiro nos filmes envolvendo o mundo da espionagem. Antes de James Bond surgir nas telas, Alfred Hitchcock resolveu explorar esse universo, tão em voga na época da guerra fria. O toque de mestre foi misturar o mundo da espionagem internacional com a vida das pessoas comuns. Imagine todo esse aparato mortal atingindo em cheio a vida de um homem inocente. Na trama temos o protagonista Roger O. Thornhill (Cary Grant), um publicitário falastrão de Manhattan, que acaba sendo confundido com um espião americano. Jogado no meio de um jogo de vida e morte da espionagem internacional que mal consegue compreender, ele tenta se manter vivo. No meio do caos que sua vida se torna, ele acaba se apaixonando pela bonita e misteriosa Eve Kendall (Eva Marie Saint), sem desconfiar contudo que ela também faz parte dessa mortal intriga internacional.
O mestre do suspense Alfred Hitchcock costumava dizer que não estava muito interessado nas estórias que contava, mas sim na forma como as contava. Ele se considerava um "pintor de flores" do mundo cinematográfico. Esse filme "North by Northwest" se encaixava bem nesse ponto de vista. O filme não tem um grande enredo. Na verdade tudo se resume na estória de um homem errado que se encontra no lugar errado, no momento errado, sendo confundido com um assassino internacional, um espião há muito procurado por serviços de inteligência ao redor do mundo. Depois que isso acontece sua vida se torna caótica, onde ele tenta sobreviver de todas as maneiras às várias tentativas de eliminá-lo! O curioso é que, como o roteiro explica depois, o espião verdadeiro com o qual ele é confundido sequer existe, sendo apenas uma invenção da CIA para despistar seus perseguidores.
Além do habitual suspense, Alfred Hitchcock também investiu bastante nas cenas de ação É o seu filme mais movimentado nesse aspecto. Há duas sequências que ficaram bem conhecidas. A primeira acontece quando o personagem de Grant é perseguido por um avião no meio do nada! Essa cena é a mais conhecida do filme até os dias de hoje. Também é a que melhor aproveita o suspense que foi a marca registrada da filmografia do diretor. Outro ponto alto acontece no clímax do filme, em seu final, quando Grant e Marie Saint participam de uma perseguição no alto do monte Rushmore (com os rostos dos presidentes americanos mais memoráveis da história, esculpidos na rocha). A cena é tecnicamente perfeita e demonstra muito bem que os efeitos especiais em Hollywood na época já eram bem avançados.
Quando o filme termina, chegamos em algumas conclusões. É fato que Alfred Hitchcock aqui optou pelo lado mais comercial do cinema americano, deixando seu lado autoral (que sempre foi seu maior legado) um pouco de lado. Fica evidente que ele estava em busca de um sucesso de bilheteria, acima de qualquer outra coisa. Outro aspecto é perceber que Hitchcock já tinha entendido que haveria um boom de filmes de espionagem. A MGM já tinha anunciado que iria trazer James Bond para o cinema e o velho mestre logo entendeu que essa seria uma tendência a dominar o cinema na década que estava para nascer. Algo que efetivamente aconteceu mesmo nos anos 1960. Pelo visto Hitchcock tinha talento não apenas para realizar bons filmes de suspense, como também para antecipar o que iria cair no gosto do público.
Intriga Internacional (North by Northwest, Estados Unidos, 1959) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: Ernest Lehma / Elenco: Cary Grant, Eva Marie Saint, James Mason, Martin Landau, Jessie Royce Landis, Josephine Hutchinson / Sinopse: Um homem comum, publicitário de Nova Iorque, é confundido com um perigoso e mortal espião internacional. A partir daí ele passa a lutar por sua própria sobrevivência. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Roteiro Original (Ernest Lehman), Melhor Direção de Arte (William A. Horning, Robert F. Boyle) e Melhor Edição (George Tomasini).
Pablo Aluísio.
O mestre do suspense Alfred Hitchcock costumava dizer que não estava muito interessado nas estórias que contava, mas sim na forma como as contava. Ele se considerava um "pintor de flores" do mundo cinematográfico. Esse filme "North by Northwest" se encaixava bem nesse ponto de vista. O filme não tem um grande enredo. Na verdade tudo se resume na estória de um homem errado que se encontra no lugar errado, no momento errado, sendo confundido com um assassino internacional, um espião há muito procurado por serviços de inteligência ao redor do mundo. Depois que isso acontece sua vida se torna caótica, onde ele tenta sobreviver de todas as maneiras às várias tentativas de eliminá-lo! O curioso é que, como o roteiro explica depois, o espião verdadeiro com o qual ele é confundido sequer existe, sendo apenas uma invenção da CIA para despistar seus perseguidores.
Além do habitual suspense, Alfred Hitchcock também investiu bastante nas cenas de ação É o seu filme mais movimentado nesse aspecto. Há duas sequências que ficaram bem conhecidas. A primeira acontece quando o personagem de Grant é perseguido por um avião no meio do nada! Essa cena é a mais conhecida do filme até os dias de hoje. Também é a que melhor aproveita o suspense que foi a marca registrada da filmografia do diretor. Outro ponto alto acontece no clímax do filme, em seu final, quando Grant e Marie Saint participam de uma perseguição no alto do monte Rushmore (com os rostos dos presidentes americanos mais memoráveis da história, esculpidos na rocha). A cena é tecnicamente perfeita e demonstra muito bem que os efeitos especiais em Hollywood na época já eram bem avançados.
Quando o filme termina, chegamos em algumas conclusões. É fato que Alfred Hitchcock aqui optou pelo lado mais comercial do cinema americano, deixando seu lado autoral (que sempre foi seu maior legado) um pouco de lado. Fica evidente que ele estava em busca de um sucesso de bilheteria, acima de qualquer outra coisa. Outro aspecto é perceber que Hitchcock já tinha entendido que haveria um boom de filmes de espionagem. A MGM já tinha anunciado que iria trazer James Bond para o cinema e o velho mestre logo entendeu que essa seria uma tendência a dominar o cinema na década que estava para nascer. Algo que efetivamente aconteceu mesmo nos anos 1960. Pelo visto Hitchcock tinha talento não apenas para realizar bons filmes de suspense, como também para antecipar o que iria cair no gosto do público.
Intriga Internacional (North by Northwest, Estados Unidos, 1959) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: Ernest Lehma / Elenco: Cary Grant, Eva Marie Saint, James Mason, Martin Landau, Jessie Royce Landis, Josephine Hutchinson / Sinopse: Um homem comum, publicitário de Nova Iorque, é confundido com um perigoso e mortal espião internacional. A partir daí ele passa a lutar por sua própria sobrevivência. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Roteiro Original (Ernest Lehman), Melhor Direção de Arte (William A. Horning, Robert F. Boyle) e Melhor Edição (George Tomasini).
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 17 de janeiro de 2020
Amargo Triunfo
Filme de guerra estrelado pelo ator Richard Burton. Ele interpreta o capitão inglês Leith (Burton), Especialista em arqueologia, ele é designado para participar numa perigosa missão que deve entrar em uma cidade ocupada pelos nazistas no norte da África, na Líbia. O objetivo é roubar documentos de uma guarnição do exército alemão. As informações poderiam ser vitais para o esforço de guerra. O problema é que esse comando será subordinado ao Major Brand (Curd Jürgens), O capitão tem problemas pessoais com ele. No passado ele teve um caso amoroso com a atual esposa do Major. E ele descobre sobre isso um dia antes da missão. Claro, de uma forma ou outra o oficial vai tentar prejudicar o personagem de Burton. E para piorar eles precisam atravessar um deserto hostil, uma situação nada fácil, nem para militares experientes.
Temos aqui um bom filme. Não é nada espetacular, nem grandioso, mas é uma boa diversão. O ator Richard Burton fez muitos filmes nesse estilo, sendo um dos mais lembrados o clássico "Selvagens Cães de Guerra", onde a fórmula atingiu sua perfeição. Nesse aqui as coisas são um pouco mais modestas. A questão é que o filme foi assinado pelo ótimo diretor Nicholas Ray, o que elevou minhas expectativas antes de assistir. E aí aconteceu o velho problema quando expectativas grandes encontram filmes meramente medianos. Fica um gostinho de decepção no ar.
O roteiro poderia ter explorado melhor a rivalidade entre o Capitão de Burton e o Major, esse com a dor de saber que sua esposa na verdade amava outro homem. Para um filme de guerra também não há grandes cenas de ação. Existe o combate contra os alemães na cidade da Líbia, depois eles fogem para o deserto e aí o filme se concentra mais em uma tensão psicológica entre os homens. Curiosamente - e aqui vai um spoiler - foi um dos poucos filmes em que vi o personagem de Richard Burton morrer. E não em campo de batalha. Ele é picado por um escorpião do deserto. Em um filme com heróis e covardes em cena os roteiristas poderiam ter escrito um final melhor para seu personagem. Porém a intenção foi mesmo colocar em evidência a pouca honradez do Major, o que acabou funcionando na cena final, com os bonecos de pano do exercício militar. Enfim, não é dos melhores filmes da carreira de Richard Burton, mas cumpre bem seu papel no quesito entretenimento.
Amargo Triunfo (Bitter Victory, Estados Unidos, França, 1957) Direção: Nicholas Ray / Roteiro: René Hardy, Nicholas Ray / Elenco: Richard Burton, Curd Jürgens, Ruth Roman, Christopher Lee / Sinopse: Durante uma expedição no deserto, na II Guerra Mundial, dois oficiais ingleses duelam psicologicamente entre si. A esposa do Major Brand (Curd Jürgens) foi apaixonada pelo Capitão Leith (Burton) no passado, o que cria uma grande tensão entre eles durante a missão. Filme indicado ao Venice Film Festival.
Pablo Aluísio.
Temos aqui um bom filme. Não é nada espetacular, nem grandioso, mas é uma boa diversão. O ator Richard Burton fez muitos filmes nesse estilo, sendo um dos mais lembrados o clássico "Selvagens Cães de Guerra", onde a fórmula atingiu sua perfeição. Nesse aqui as coisas são um pouco mais modestas. A questão é que o filme foi assinado pelo ótimo diretor Nicholas Ray, o que elevou minhas expectativas antes de assistir. E aí aconteceu o velho problema quando expectativas grandes encontram filmes meramente medianos. Fica um gostinho de decepção no ar.
O roteiro poderia ter explorado melhor a rivalidade entre o Capitão de Burton e o Major, esse com a dor de saber que sua esposa na verdade amava outro homem. Para um filme de guerra também não há grandes cenas de ação. Existe o combate contra os alemães na cidade da Líbia, depois eles fogem para o deserto e aí o filme se concentra mais em uma tensão psicológica entre os homens. Curiosamente - e aqui vai um spoiler - foi um dos poucos filmes em que vi o personagem de Richard Burton morrer. E não em campo de batalha. Ele é picado por um escorpião do deserto. Em um filme com heróis e covardes em cena os roteiristas poderiam ter escrito um final melhor para seu personagem. Porém a intenção foi mesmo colocar em evidência a pouca honradez do Major, o que acabou funcionando na cena final, com os bonecos de pano do exercício militar. Enfim, não é dos melhores filmes da carreira de Richard Burton, mas cumpre bem seu papel no quesito entretenimento.
Amargo Triunfo (Bitter Victory, Estados Unidos, França, 1957) Direção: Nicholas Ray / Roteiro: René Hardy, Nicholas Ray / Elenco: Richard Burton, Curd Jürgens, Ruth Roman, Christopher Lee / Sinopse: Durante uma expedição no deserto, na II Guerra Mundial, dois oficiais ingleses duelam psicologicamente entre si. A esposa do Major Brand (Curd Jürgens) foi apaixonada pelo Capitão Leith (Burton) no passado, o que cria uma grande tensão entre eles durante a missão. Filme indicado ao Venice Film Festival.
Pablo Aluísio.
Aguirre, a Cólera dos Deuses
Título no Brasil: Aguirre, a Cólera dos Deuses
Título Original: Aguirre, der Zorn Gottes
Ano de Produção: 1972
País: Alemanha
Estúdio: Werner Herzog Filmproduktion
Direção: Werner Herzog
Roteiro: Werner Herzog
Elenco: Klaus Kinski, Ruy Guerra, Helena Rojo, Peter Berling, Cecilia Rivera, Daniel Ades
Sinopse:
Em 1561 uma expedição espanhola é enviada para os confins da selva amazônica. O objetivo dos espanhóis é localizar a lendária cidade de El Dorado, com suas ruas, casas e templos revestidos do mais puro ouro. Só que ao invés de encontrar tesouros inigualáveis, os homens de Pizarro só encontram a devastadora realidade da natureza, matando os homens da expedição com doenças, fome e desespero.
Comentários:
Werner Herzog sempre foi um cineasta visceral. Quando ele decidiu contar essa história, que é baseada nos relatos de um padre jesuíta que acompanhou essa expedição pelas profundezas da selva, ele decidiu que iria filmar tudo na própria região onde aconteceram os fatos históricos. Assim ele levou toda a sua equipe técnica e elenco para o lado peruano da selva amazônica. Obviamente as filmagens foram muito complicadas, praticamente um caos, mas quando se assiste ao filme percebe-se que tudo valeu a pena. O filme é muito interessante justamente por capturar a beleza exótica da Amazônia em toda a sua plenitude. Outro ponto de destaque desse filme é a atuação do ator Klaus Kinski. Ele interpreta um militar de baixa patente chamado Aguirre. Quando as coisas começam a dar errado na expedição ele resolve comandar uma rebelião, destituindo o comandante espanhol por nobre bobalhão que obviamente fica sob seu julgo. Enlouquecendo cada vez mais enquanto se aprofunda na selva, Aguirre é corroído pela ganância e pela loucura. Herzob optou por um filme sensorial, que apela mais para as emoções do espectador do que por um roteiro cheio de diálogos e palavras. Isso funcionou muito bem, porque muitas vezes o silêncio entre os personagens funciona como mais um elemento de tensão naquele inferno verde amazônico. Dizem que na selva, durante as filmagens, Klaus Kinski quase enlouqueceu, tal como seu personagem! Não poderia ser mais conveniente a um filme cujo tema trata justamente disso. Sem sombra de dúvidas esse é um dos melhores trabalhos de Werner Herzog e se você gosta do trabalho desse cineasta simplesmente não pode deixar de assistir.
Pablo Aluísio.
Título Original: Aguirre, der Zorn Gottes
Ano de Produção: 1972
País: Alemanha
Estúdio: Werner Herzog Filmproduktion
Direção: Werner Herzog
Roteiro: Werner Herzog
Elenco: Klaus Kinski, Ruy Guerra, Helena Rojo, Peter Berling, Cecilia Rivera, Daniel Ades
Sinopse:
Em 1561 uma expedição espanhola é enviada para os confins da selva amazônica. O objetivo dos espanhóis é localizar a lendária cidade de El Dorado, com suas ruas, casas e templos revestidos do mais puro ouro. Só que ao invés de encontrar tesouros inigualáveis, os homens de Pizarro só encontram a devastadora realidade da natureza, matando os homens da expedição com doenças, fome e desespero.
Comentários:
Werner Herzog sempre foi um cineasta visceral. Quando ele decidiu contar essa história, que é baseada nos relatos de um padre jesuíta que acompanhou essa expedição pelas profundezas da selva, ele decidiu que iria filmar tudo na própria região onde aconteceram os fatos históricos. Assim ele levou toda a sua equipe técnica e elenco para o lado peruano da selva amazônica. Obviamente as filmagens foram muito complicadas, praticamente um caos, mas quando se assiste ao filme percebe-se que tudo valeu a pena. O filme é muito interessante justamente por capturar a beleza exótica da Amazônia em toda a sua plenitude. Outro ponto de destaque desse filme é a atuação do ator Klaus Kinski. Ele interpreta um militar de baixa patente chamado Aguirre. Quando as coisas começam a dar errado na expedição ele resolve comandar uma rebelião, destituindo o comandante espanhol por nobre bobalhão que obviamente fica sob seu julgo. Enlouquecendo cada vez mais enquanto se aprofunda na selva, Aguirre é corroído pela ganância e pela loucura. Herzob optou por um filme sensorial, que apela mais para as emoções do espectador do que por um roteiro cheio de diálogos e palavras. Isso funcionou muito bem, porque muitas vezes o silêncio entre os personagens funciona como mais um elemento de tensão naquele inferno verde amazônico. Dizem que na selva, durante as filmagens, Klaus Kinski quase enlouqueceu, tal como seu personagem! Não poderia ser mais conveniente a um filme cujo tema trata justamente disso. Sem sombra de dúvidas esse é um dos melhores trabalhos de Werner Herzog e se você gosta do trabalho desse cineasta simplesmente não pode deixar de assistir.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2020
A Rainha Tirana
Inglaterra, 1580. A rainha Elizabeth I (Bette Davis) governa de forma absoluta em seu reino. Filha de Henrique VIII, ela dá sequência nos reinados da dinastia Tudor. Governante inteligente e sagaz, passa por um momento delicado em sua vida pessoal. Mesmo chegando numa idade mais avançada ela ainda não escolheu um marido para dar continuidade a sua linhagem. Um herdeiro traria estabilidade para os anos que viriam e por essa razão um casamento real logo se torna um importante assunto de Estado. A rainha da França, Catarina de Médici, logo sugere que ela se case com um nobre importante de sua própria corte, mas Elizabeth não parece muito interessada. Ao invés disso começa a ter sentimentos por um soldado plebeu inglês chamado Walter Raleigh (Richard Todd), que mesmo sem qualquer título de nobreza acaba conquistando o coração da rainha absolutista britânica.
Elizabeth I (1533 - 1603) passou para a história como a "Rainha Virgem". Esse nome foi dado por seus próprios súditos pois Elizabeth (Isabel I, no Brasil) não parecia empenhada em se casar para ter filhos. Durante muitos anos os historiadores se perguntaram se ela foi lésbica ou simplesmente era frígida demais para se interessar por assuntos matrimoniais. De qualquer forma sua relutância em se casar e ter filhos acabou marcando sua biografia. Nessa produção da Fox temos uma parte de sua história, justamente em um momento em que ela passou a se interessar por um plebeu, Walter Raleigh. Ele era um veterano de guerra contra a Irlanda e desejava construir uma frota para ir até o novo mundo (a América) para fazer fortuna. Para isso eram necessários navios e apenas a rainha poderia lhe conceder tamanho privilégio. Ao adentrar a corte de Elizabeth, levado por um nobre que havia sido amigo de seu pai no passado, Raleigh começou a entender que a forma mais fácil de chegar em seus sonhos era mesmo conquistar o coração da solitária monarca.
O problema é que Elizabeth I não era uma mulher fácil de lidar. Sujeita a explosões de raiva e ira, que atingia a todos ao seu redor, ela costumava tratar seu pretendentes de forma humilhante. Não era raro dispensar a eles um tratamento digno de um cão de estimação, fazendo questão de criar intrigas e fofocas na corte sobre sua nova aquisição ou como ela costumava dizer seu novo "pet". Raleigh, um homem de convicção e temperamento duro e forte, logo enfrentou Elizabeth sobre isso e muito provavelmente por causa dessa sua personalidade independente a rainha acabou caindo de amores por ele. Um romance que não interessava a outros nobres e que tampouco era bem visto dentro da corte. O filme captura o momento histórico do auge do absolutismo inglês, com a Casa Tudor em seu apogeu de glória e poder.
Essa mesma soberana seria retratada em dois filmes mais recentes muito bons chamados "Elizabeth" e "Elizabeth: A Era de Ouro" com Cate Blanchett no papel central. Embora sejam produções excelentes, com maravilhosa produção, o fato é que a presença da clássica atriz Bette Davis faz toda a diferença do mundo se formos comparar os filmes. Assim como a histórica figura da realeza inglesa, Davis também tinha uma personalidade marcante. Aqui ela encontrou um papel muito adequado ao seu jeito de ser. Também em termos de reconstituição histórica a sua rainha surge mais de acordo com os figurinos e costumes da época, inclusive com o estranho corte de cabelo que não foi reproduzido nos filmes modernos sobre Elizabeth (provavelmente porque deixaria o público espantado com os estranhos adereços). No geral o que temos aqui em "The Virgin Queen" é uma produção muito digna de todos os aplausos, tanto em sua tentativa de trazer um pouco de história para o público em geral como também pela sua fidelidade histórica dos acontecimentos originais. Um belo clássico do cinema americano que certamente vai agradar aos gostos mais refinados.
A Rainha Tirana (The Virgin Queen, Estados Unidos, 1955) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Henry Koster / Roteiro: Harry Brown, Mindret Lord Elenco: Bette Davis, Richard Todd, Joan Collins / Sinopse: O filme resgata a história da monarca inglesa Elizabeth I, conhecida entre seus súditos como a "Rainha Virgem" e entre seus inimigos como a "Rainha Tirana". Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Figurino (Charles Le Maire e Mary Wills).
Pablo Aluísio.
Elizabeth I (1533 - 1603) passou para a história como a "Rainha Virgem". Esse nome foi dado por seus próprios súditos pois Elizabeth (Isabel I, no Brasil) não parecia empenhada em se casar para ter filhos. Durante muitos anos os historiadores se perguntaram se ela foi lésbica ou simplesmente era frígida demais para se interessar por assuntos matrimoniais. De qualquer forma sua relutância em se casar e ter filhos acabou marcando sua biografia. Nessa produção da Fox temos uma parte de sua história, justamente em um momento em que ela passou a se interessar por um plebeu, Walter Raleigh. Ele era um veterano de guerra contra a Irlanda e desejava construir uma frota para ir até o novo mundo (a América) para fazer fortuna. Para isso eram necessários navios e apenas a rainha poderia lhe conceder tamanho privilégio. Ao adentrar a corte de Elizabeth, levado por um nobre que havia sido amigo de seu pai no passado, Raleigh começou a entender que a forma mais fácil de chegar em seus sonhos era mesmo conquistar o coração da solitária monarca.
O problema é que Elizabeth I não era uma mulher fácil de lidar. Sujeita a explosões de raiva e ira, que atingia a todos ao seu redor, ela costumava tratar seu pretendentes de forma humilhante. Não era raro dispensar a eles um tratamento digno de um cão de estimação, fazendo questão de criar intrigas e fofocas na corte sobre sua nova aquisição ou como ela costumava dizer seu novo "pet". Raleigh, um homem de convicção e temperamento duro e forte, logo enfrentou Elizabeth sobre isso e muito provavelmente por causa dessa sua personalidade independente a rainha acabou caindo de amores por ele. Um romance que não interessava a outros nobres e que tampouco era bem visto dentro da corte. O filme captura o momento histórico do auge do absolutismo inglês, com a Casa Tudor em seu apogeu de glória e poder.
Essa mesma soberana seria retratada em dois filmes mais recentes muito bons chamados "Elizabeth" e "Elizabeth: A Era de Ouro" com Cate Blanchett no papel central. Embora sejam produções excelentes, com maravilhosa produção, o fato é que a presença da clássica atriz Bette Davis faz toda a diferença do mundo se formos comparar os filmes. Assim como a histórica figura da realeza inglesa, Davis também tinha uma personalidade marcante. Aqui ela encontrou um papel muito adequado ao seu jeito de ser. Também em termos de reconstituição histórica a sua rainha surge mais de acordo com os figurinos e costumes da época, inclusive com o estranho corte de cabelo que não foi reproduzido nos filmes modernos sobre Elizabeth (provavelmente porque deixaria o público espantado com os estranhos adereços). No geral o que temos aqui em "The Virgin Queen" é uma produção muito digna de todos os aplausos, tanto em sua tentativa de trazer um pouco de história para o público em geral como também pela sua fidelidade histórica dos acontecimentos originais. Um belo clássico do cinema americano que certamente vai agradar aos gostos mais refinados.
A Rainha Tirana (The Virgin Queen, Estados Unidos, 1955) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Henry Koster / Roteiro: Harry Brown, Mindret Lord Elenco: Bette Davis, Richard Todd, Joan Collins / Sinopse: O filme resgata a história da monarca inglesa Elizabeth I, conhecida entre seus súditos como a "Rainha Virgem" e entre seus inimigos como a "Rainha Tirana". Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Figurino (Charles Le Maire e Mary Wills).
Pablo Aluísio.
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