domingo, 19 de janeiro de 2020

Lolita

É interessante notar que mesmo tendo sido diretor por várias décadas, Stanley Kubrick dirigiu poucos filmes. No total foram apenas 16 direções assinadas por ele. Em quatro décadas de trabalho ele de fato dirigiu poucos filmes. Passou longe de ter uma filmografia extensa. Acontece que Kubrick ficava trabalhando nos roteiros por anos e anos. E só depois de muito pensar, finalmente assinava um contrato com os estúdios de cinema. E por ficar muito tempo sem ter novos filmes, cada vez que algo dele chegava aos cinemas chamava bastante atenção dos críticos e cinéfilos. Em 1962 ele chocou a todos quando seu novo filme chegou nos cinemas da Europa e Estados Unidos. Era uma adaptação da controversa e polêmica obra escrita por Vladimir Nabokov. O livro havia sofrido ataques por todos os setores da sociedade. Para os mais conservadores o seu texto trazia uma espécie de apologia à pedofilia, mesmo que de forma muito sutil e camuflada.

Stanley Kubrick tinha uma outra visão sobre tudo. Para ele era apenas um filme romântico, embora o casal protagonista estivesse fora dos padrões esperados pelos conservadores. Certamente a jovem adolescente Lolita (Sue Lyon) e o cinquentão Prof. Humbert Humbert (James Mason) não estavam dentro do que se esperaria de um casal na época. Um homem de sua idade se relacionar com uma ninfeta como Lolita era mesmo um escândalo. O curioso é que a obra de Vladimir Nabokov ainda hoje causa muita controvérsia. Penso inclusive que nos dias atuais o filme (e o livro) despertem ainda mais incômodo, porque afinal o politicamente correto jamais aceitaria um enredo como o que vemos por aqui.

Stanley Kubrick tinha bastante receio de adaptar esse livro para o cinema, não por causa dos padrões morais que ele infringia, mas sim porque em sua opinião seria muito complicado achar uma atriz para interpretar Lolita. Ela tinha que ser uma adolescente com certo ar ainda infantil, mas ao mesmo tempo ter muita malícia. Levar isso para o público não seria fácil. Para sorte de Kubrick ele acabou achando a atriz certa. A loirinha Sue Lyon acabou sendo a escolha perfeita. Ela não apenas era linda, como também era uma ótima atriz! Ela já tinha 18 anos quando fez o filme, mas com traços de menina mais jovem, convencia plenamente como Lolita. James Mason também se arriscou. Mesmo contra a vontade de seu agente ele aceitou fazer o filme. Outro destaque vem da presença do comediante Peter Sellers, aqui em um papel até mesmo bem perturbador. Nada de humor em seu personagem. Enfim, se você gosta do cinema de Stanley Kubrick esse filme se torna indispensável. Caso a história seja um pouco fora dos padrões de sua moralidade pessoal, então basta ignorar o filme como um todo. Caso contrário não deixe de assistir.

Lolita (Lolita, Estados Unidos, Inglaterra, 1962) Direção: Stanley Kubrick / Roteiro: Stanley Kubrick, Vladimir Nabokov, baseado na obra de Vladimir Nabokov / Elenco: James Mason, Sue Lyon, Shelley Winters, Peter Sellers / Sinopse: Escritor cinquentão fica perdidamente apaixonado por uma adolescente chamada Lolita. Ele tenta superar de todas as formas a atração que sente pela jovem, mas acaba cedendo aos seus desejos, ainda mais depois de perceber que ela também se mostra interessada em seus avanços. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor roteiro adaptado.

Pablo Aluísio. 

14 comentários:

  1. Lolita
    Versão de Stanley Kubrick
    Pablo Aluísio.

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  2. Pablo, a Sue Lyon morreu em dezembro do ano passado.

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  3. Muito bem lembrado Lord Erick!
    Ela foi a melhor Lolita do cinema, em minha modesta opinião.

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  4. Pablo:
    Eu acho que, mesmo hoje, uma relação de um adulto com uma criança só e enquadrado legalmente com.pedofilia se a criança em questão tiver menos de 14 anos, na verdade bem menos. No caso só filme realmente foi mais um caso de forte moralismo por conta da relação de um homem bem mais velho com uma menina muito jovem e menor de idade. Aqui no Brasil temos um caso famoso desse com o Caetano Veloso e Paula Lavigne.
    Serge Renine.

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  5. A personagem Lolita do livro, cujo nome era Dolores, tinha 12 anos no livro. No filme ela tem 13 anos. A atriz que a interpretava tinha 18 anos. Acho que se tivessem colocado uma menor de idade no filme ele teria sido proibido.

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    1. 12 anos já é complicado. Bem complicado nós nos dias de hoje.

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  6. Nabokov era um véio babão, mas nunca cometeu crime nenhum, a não ser nas páginas de seus livros. Lolita não é biográfico e segundo ele nunca teve moralidade. É um livro muito bem escrito.

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    1. Erick:
      Do jeito que anda as coisas hoje,condenariam a imaginação do sujeito.
      Serge Renine.

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    2. Correção; ...andam as coisas...

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    3. Personagens de literatura não podem ser criminalizados.

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    4. Não, não podem, mas quem os criou, nunca se sabe.

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  7. O livro é espetacular em termos literários, mas vamos dividir algumas coisas. O personagem do Humbert no livro é, na minha opinião, claramente um pedófilo. Ele tem uma obsessão por meninas, lá pelos 12 anos. E não é um sujeito confiável. Pelo contrário. No cinema o Kubrick suavizou isso e criou mesmo um tipo de romance. Por isso eu sempre digo que a Lolita da literatura é bem mais barra pesada que a do cinema.

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  8. Eu considero o livro dúbio. Por exemplo, o leitor sabe que o Humbert foi preso no passado. Mas por quê? O autor não vai te dizer. Será que foi por pedofilia? Não sei! O protagonista tem essa obsessão por garotinhas porque o primeiro amor dele foi uma menina de 12 anos. Ficou obcecado. OK, muitas leituras acusam o protagonista de pedofilia, mas há outras interpretações também. É típico caso "Dom Casmurro". Traiu ou não traiu? É pedófilo ou não é pedófilo?

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  9. Eu li esse livro lá por volta de 1996 ou 97, não lembro exatamente. Recordo muito bem porém minhas conclusões. O Humbert era pedófilo. Ele não tinha amor por Lolita, mas tara. Tara de pedófilo. O filme de Kubrick por outro lado vai aí pela sua visão. A de que há um romance entre eles. Acredito que isso nunca foi a intenção do Vladimir Nabokov. O personagem do livro não é um romântico, ele seria mesmo um pedófilo.

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