sábado, 26 de outubro de 2019

007 Contra Goldfinger

Terceiro filme de Sean Connery no papel de James Bond. Na trama o famoso agente inglês é enviado para investigar as atividades do magnata do ouro Auric Goldfinger (Gert Fröbe). Embora mantenha uma fachada de homem de negócios honesto e sério, que age dentro da lei, há fortes suspeitas de que ele na realidade comande uma rede internacional de contrabando de ouro. Aos poucos Bond descobre muito mais, inclusive um ousado plano envolvendo o roubo da maior reserva de ouro dos Estados Unidos. De posse dela Goldfinger poderia colocar a economia global de joelhos. De volta ao papel de 007, Sean Connery esbanja charme e elegância no papel. Esse filme tem algumas particularidades que até hoje são lembradas pelos fãs do agente inglês. Uma delas é o fato de ser o primeiro filme em que Bond surge com seu carro Aston Martin DB5. O automóvel iria virar um dos maiores símbolos do modo de vida de Bond, uma marca registrada. Aliás já nessa sua primeira aparição nos filmes de 007 o carro mostra sua importância em várias cenas de ação que marcaram bastante, como a perseguição a uma assassina profissional nos alpes suíços. As inovações tecnológicas chamam a atenção, como as rodas especiais e o assento de passageiro ejetável.

Assim o estúdio descobriu uma nova forma de faturar em cima do personagem, uma vez que essa produção foi uma porta de entrada para que a franquia de filmes servisse como uma espécie de instrumento de publicidade para marcas luxuosas e de grife. Ao longo dos anos que viriam a produtora iria explorar ainda mais esse aspecto, com James Bond sempre surgindo com novas roupas, relógios e todo tipo de produto que poderia ser sutilmente divulgado nas cenas do filme. Afinal o glamour também era um aspecto essencial na vida desse agente secreto. Outro destaque a se chamar a atenção é a beleza das Bond Girls. Uma delas, Shirley Eaton, acabou virando uma modelo famosa. Aliás a cena em que uma bela mulher surge toda pintada de ouro virou sensação na época. A sensualidade do elenco feminino começava a ganhar cada vez mais espaço nos filmes. E Bond, claro, surgia como uma conquistador incorrigível para todas elas. Por fim destaco os bem humorados diálogos do roteiro. Em um deles James Bond brinca com os Beatles (em plena Beatlemania) ao dizer ironicamente: "Isso é tão perigoso quanto ouvir os Beatles sem proteção de ouvidos!". Tudo muito divertido. Enfim, "Goldfinger" é sem dúvida um dos melhores filmes de Bond com Sean Connery. Doses exatas de aventura, mistério e ação para fã nenhum colocar defeito.

007 Contra Goldfinger (Goldfinger, Estados Unidos, Inglaterra, 1964) Estúdio: United Artists, Eon Productions / Direção: Guy Hamilton / Roteiro: Richard Maibaum, baseado na obra de Ian Fleming   / Elenco: Sean Connery, Gert Fröbe, Honor Blackman, Shirley Eaton / Sinopse: O agente secreto inglês James Bond (Connery) é designado para investigar um estranho milionário, um sujeito que parece esconder um plano maquiávelico. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhores Efeitos Sonoros (Norman Wanstall).

Pablo Aluísio.

007 Contra a Chantagem Atômica

Mais um filme de James Bond, da primeira fase, com Sean Connery no papel principal. Na trama a Spectre consegue colocar as mãos em duas bombas atômicas roubadas de um avião da OTAN. Com elas em seu poder, jogam a ameaça em cima de Inglaterra e Estados Unidos: Ou as nações pagam o valor de 100 milhões de libras esterlinas em diamantes ou a Spectre jogará as duas armas nucleares em duas das maiores cidades desses países. Para recuperar os artefatos roubados o agente James Bond é enviado até as distantes ilhas de Nassau. A missão se revelará uma das mais perigosas da carreira do famoso espião. É o quarto filme de James Bond com Sean Connery. Em termos de qualidade fica abaixo de "Moscou Contra 007" e "007 Contra Goldfinger", mas bem acima de "O Satânico Dr. No" e "007 - Os Diamantes São Eternos" (O pior filme de Bond com Connery no personagem). Se fosse possível resumir essa produção em apenas uma frase poderíamos dizer que se trata da aventura submarina de James Bond.

São várias as tomadas usadas nesse estilo e como sabemos não é fácil dar agilidade a esse tipo de cena. Mesmo assim são bem realizadas e mantém o bom padrão técnico da produção. Praticamente todo o enredo se passa em Nassau, região conhecida por suas belas praias e mares de água azul. Quem assistiu certamente se lembra da piscina com tubarões, algo que ficou bem marcado dentro da franquia. E como sempre acontecia em filmes de Bond dessa época também há diálogos bem espirituosos mostrando aspectos da personalidade do agente mais famoso do cinema. Num deles Bond analisando o rifle de um inimigo pergunta: "Isso é uma arma para mulheres?". Seu interlocutor responde: "Sim, você entende de armas?" ao que Bond tira de letra: "Não, mas entendo de mulheres".

Em outro momento divertido uma agente pergunta porque Bond sempre dorme com várias mulheres em suas missões. A resposta de James: "Faço tudo pela Inglaterra!". Entre as geringonças mostradas podemos citar um dispositivo de voo (que foi usado na abertura das Olimpíadas de Los Angeles anos depois) e uma caneta explosiva, ou seja, nada que saia da rotina das aventuras do agente no cinema. Para padrões atuais o James Bond de Sean Connery seria considerado um machista! Ele é pouco afeito às mulheres com quem se envolve. Na verdade não passam de mera diversão (isso quando não estão tentando matá-lo!). Mesmo assim o filme se mantém como um bom exemplar da série cinematográfica. No geral tem boa trama, é bem movimentado e com ótimas sequências de ação. Chegou inclusive a ganhar um Oscar técnico, de melhores efeitos especiais! Um bom filme de Bond certamente.

007 Contra a Chantagem Atômica (Thunderball, Inglaterra, 1965) Estúdio: Eon Productions, MGM / Direção: Terence Young / Roteiro: Richard Maibaum, John Hopkins / Elenco: Sean Connery, Claudine Auger, Adolfo Celi / Sinopse: O agente inglês James Bond (Sean Connery) precisa destruir um plano de chantagem atômica envolvendo um perigoso grupo de criminosos. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais (John Stears).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

A Vida Íntima de Sherlock Holmes

Esse é um dos mais diferenciados filmes da carreira do diretor Billy Wilder. Foi realizado em 1970 quando o mestre já estava pensando em se aposentar do cinema (de fato ele só dirigiria mais alguns filmes nessa década, deixando o cinema definitivamente apenas alguns anos depois). Como se pode perceber é uma produção bem realizada, com ótimos toques de humor e aventura, realizando um velho sonho do cineasta que era dirigir uma película enfocando um de seus personagens preferidos de todos os tempos, o genial detetive inglês Sherlock Holmes. Depois de surgir em mais de cem produções, era de se esperar que Wilder procurasse um novo caminho para Sherlock em sua volta às telas. Além do mais os tempos eram outros e uma nova visão surgia como necessária. Deixando um pouco de lado o aspecto mais sisudo de Holmes, Wilder se concentrou em aspectos mais pessoais do famoso detetive. Assim seus problemas com drogas, sua solteirice convicta, entre outras coisas, são tratados no roteiro com mais ênfase do que nas outras aparições de Holmes nas telas, mas não se preocupe, pois o filme realmente passa longe de ser algo dramático, pelo contrário, tudo é visto sob o viés do riso e do bom humor.

A verdade é que Billy Wilder quis mesmo realizar um entretenimento bem despretensioso, que hoje em dia pode até mesmo soar como bobo ou banal. Os fãs das tramas mais elaboradas dos livros de  Arthur Conan Doyle, com suas tramas complicadas e complexas, também podem vir a se decepcionarem pois nesse quesito Wilder também quis amenizar bastante. Talvez por essas razões o filme não tenha sido muito bem recebido em sua época de lançamento. A questão é que qualquer coisa com a assinatura de Billy Wilder já vinha com certa expectativa de ser uma verdadeira obra prima cinematográfica e quando isso não acontecia o clima de desapontamento e decepção era geral entre público e crítica. A verdade pura e simples é que não existe cineasta na história do cinema que tenha conseguido ser genial em todos os seus filmes. Assim é perfeitamente compreensível que obras menores, feitas com essa intenção, fiquem lado a lado com verdadeiros clássicos do cinema na filmografia desses realizadores. Certamente "The Private Life of Sherlock Holmes" não é um filme inesquecível ou algo parecido, mas é divertido e bem humorado o suficiente para agradar bastante os fãs de Wilder, o que no final das contas era exatamente o que ele queria.

A Vida Íntima de Sherlock Holmes (The Private Life of Sherlock Holmes, Inglaterra, 1970) Direção: Billy Wilder / Roteiro: Billy Wilder, baseado na obra do escritor Arthur Conan Doyle / Elenco: Robert Stephens, Christopher Lee, Colin Blakely / Sinopse: O famoso detetive Sherlock Holmes (Robert Stephens) e seu fiel escudeiro Dr. Watson (Colin Blakely) são contratados para desvendar um misterioso caso que levarão ambos a descobrirem o que está por trás do mundialmente conhecido monstro do Lago Ness.
  
Pablo Aluísio.

Os Ritos Satânicos de Drácula

Esse foi um dos muitos filmes feitos em que o ator Christopher Lee interpretou o Conde Drácula, icônico personagem da literatura de terror. Novamente produzido pelos estúdio da Hammer, aqui temos um problema e tanto. Os melhores filmes ingleses de Drácula na Hammer se passavam no século XVIII ou XIX. Havia um inegável charme na ambientação de uma era que não existia mais. Ajudava e muito na criação do clima envolvendo o mais famoso vampiro das telas. Só que as coisas foram mudadas para pior nesse filme. O Drácula que surge nesse filme vive nos tempos atuais. Ele quer promover uma espécie de apocalipse com a velha peste negra. Para isso se torna um figurão, dono de uma grande empresa, que controla pessoas importantes do governo, como cientistas, generais, políticos e ministros.

A tentativa de transformar Drácula numa espécie de vilão corporativo afunda o filme totalmente. Vai embora o charme, vai embora o clima, os figurinos de época e até mesmo a trama, que nunca consegue convencer ninguém. Para piorar ainda mais o filme tem uma série de assassinos em motos (todos parecendo mais o vocalista do Queen, Freddie Mercury) que me deixou quase em modo de humor involuntário. E se você pensa que as mudanças se resumem a essa troca de tempo, é bom saber que a morte do Conde Drácula é completamente surreal (e estranha). Nunca tinha visto nada parecido no cinema, nem antes e nem depois. Bizarro mesmo. Por fim, para não deixar apenas visões negativas sobre o filme, vale a pena elogiar o ator Peter Cushing. aqui interpretando o Dr. Van Helsing. Seguramente é a melhor coisa desse datado filme do Drácula. Cushing tinha mais dignidade e elegância do que todos os demais atores do elenco. Ele realmente conseguia sobreviver a qualquer coisa, até mesmo a filmes fracos como esse.

Os Ritos Satânicos de Drácula (The Satanic Rites of Dracula, Inglaterra, 1973) Direção: Alan Gibson / Roteiro: Don Houghton / Elenco: Christopher Lee, Peter Cushing, Michael Coles / Sinopse: Drácula (Lee) ressurge, agora comandando uma poderosa empresa. Controlando um grupo de pessoas poderosas ele quer reviver a idade média, quando a peste negra matou milhões de seres humanos na Europa. Para combater seus planos surge o professor Van Helsing, disposto a tudo para matar o lendário vampiro.

Pablo Aluísio.

Drácula - O Perfil do Diabo

Durante uma visita à Transilvânia um Monsenhor católico (Rupert Davies) descobre que o povo daquela região ainda vive apavorado, mesmo após a morte de Drácula (Lee). Ele então decide subir as montanhas, onde está o castelo do conde vampiro, para realizar um rito de exorcismo e purificação no lugar. Após suas orações e rituais finca uma grande cruz nos portões do castelo amaldiçoado. De volta à existência, Drácula fica furioso com isso e decide seguir o sacerdote até sua terra natal, na Alemanha, para acertar contas com ele. Durante a viagem transforma um padre em seu escravo pessoal e começa a procurar obsessivamente por Maria (Carlson), a sobrinha do Monsenhor, para seduzi-la. O confronto assim se torna inevitável entre o bem e o mal. Dez anos depois de interpretar Drácula pela primeira vez em "O Vampiro da Noite" o ator Christopher Lee voltou para a Hammer para rodar mais esse novo filme de terror com o personagem. Um aspecto que chama a atenção é que de uma maneira em geral o roteiro do primeiro filme acabou servindo de base para essa nova produção. Claro que há diferenças substanciais, mas de um modo em geral ambos os filmes são bem semelhantes. O grande rival que agora enfrenta o mitológico vampiro não é mais Van Helsing, como era de se esperar, mas sim um Monsenhor que vê sua própria sobrinha cair nas garras do conde sanguinário.

Por falar nessa personagem, a da indefesa jovem Maria, temos que chamar a atenção para o fato dela ter sido interpretada pela atriz inglesa Veronica Carlson, uma beldade que acabou se tornando musa dos filmes da Hammer. Modelo na juventude, ela era certamente uma boa razão para se conferir filmes como esse, até mesmo por causa das ousadas cenas de quase nudez em que aparecia. Seu namorado no filme é um rapaz que não acredita em Deus e que precisará, mesmo sem fé nenhuma, enfrentar o vampiro. Tempos difíceis. Por fim e não menos importante, temos que sempre valorizar a presença do veterano Christopher Lee em cena. Seu Drácula aqui surge um pouco mais sedutor, com mais diálogos do que nos filmes anteriores. Nota-se, mesmo de forma bem tímida, uma pequena mudança no personagem. Ao invés de ser apenas um monstro feroz como era retratado nos primeiros filmes, aqui já há uma certa sedução no ar, principalmente nas cenas em que ele encontra a jovem Maria em seu quarto.

Esse tipo de característica pessoal de Drácula só iria aumentar nos anos que viriam a ponto do conde ter se transformado quase em um personagem puramente romântico, sempre atrás do grande amor de sua vida, como no filme de 1979 onde seria interpretado por Frank Langella, em uma das melhores adaptações já feitos do imortal vampiro criado por Bram Stoker para as telas. Então é basicamente isso. Um boa produção, valorizada ainda mais pela atuação de Christopher Lee, um ator cuja a simples presença sempre valia a sessão de cinema. Em suma, uma pequena obra, um pouco esquecida, do cinema de horror inglês. Vale conferir.

Drácula - O Perfil do Diabo (Dracula Has Risen from the Grave, Inglaterra, 1968) Estúdio: Hammer Films / Direção: Freddie Francis / Roteiro: Anthony Hinds / Elenco: Christopher Lee, Rupert Davies, Veronica Carlson, Barbara Ewing, Ewan Hooper, Barry Andrews / Sinopse: Uma estranha criatura surge no meio da noite, um conde milenar que se alimenta de sangue humano. O grande lord vampiro, o Conde Drácula!

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Irma la Douce

Esse é um clássico assinado pelo genial diretor Billy Wilder. No saboroso enredo a atriz Shirley MacLaine interpreta a personagem Irma La Douce, uma dama de companhia das ruas de Paris que acaba tendo sua vida mudada com a chegada de um novo policial no local onde tem seu ponto. Nestor Patou (Jack Lemmon) é um novato na corporação que segue a lei ao pé da letra. Quando percebe que há um batalhão de mulheres nas ruas esperando seus clientes, decide prender todas elas, causando um verdadeiro rebuliço em seu departamento de polícia. A partir daí, contra todas as previsões, acaba se apaixonando justamente por Irma, que não está disposta a mudar a forma como leva sua sua vida. O diretor Billy Wilder conseguiu aqui nesse filme algo bem raro de se alcançar no mundo do cinema. Baseado na peça escrita originalmente por Alexandre Breffort, Wilder conseguiu realizar um filme leve, divertido, em cima de um tema que a priori deveria ser tratado como algo realmente mais pesado. Imagine contar a estória de uma prostituta de rua em Paris, explorada por cafetões violentos, que acaba se apaixonando por um policial e mesmo assim transformar tudo em uma obra com muito bom humor e leveza.

Certamente não era algo fácil de se realizar. Há estereótipos nesse roteiro que deixariam as feministas de hoje em dia com os cabelos em pé. A personagem Irma La Douce interpretada por Shirley MacLaine é um exemplo. Assim que se liberta das garras de um cafetão que lhe agride sempre que possível, resolve, com muito orgulho, sustentar um novo namorado (justamente o ex-policial vivido por Jack Lemmon). Ela tem grande prazer em lhe comprar coisas caras, mesmo que seja desesperadamente pobre e more em um pequeno cortiço. Nos tempos politicamente corretos em que vivemos, haveria muita má vontade se "Irma la Douce" chegasse hoje em dia aos cinemas.

Deixando essa visão, digamos, sociológica, um pouco de lado, temos que tecer vários elogios para o elenco. Shirley MacLaine ainda estava em seu auge, tanto em termos de simpatia como de beleza. Ela imprime um certo exagero em sua caracterização (que acaba sendo bem-vindo) pois sua personagem está sempre fumando e agindo com uma certa vulgaridade, embora seja no fundo apenas uma mulher que tente levar a vida adiante naquela situação. Ela engana propositalmente seus clientes contando estórias inventadas de um passado de dramas, apenas para ganhar mais alguns trocados no final de seus programas. Vestindo um figurino quase sempre verde, acaba trazendo para sua personagem uma imagem que depois será complicada de esquecer, de tão marcante. Já Jack Lemmon dá vida ao policial Nestor Patou, um sujeito simplório e até ingênuo, que acredita que deve aplicar a lei, mesmo que ela esteja em desuso e seja considerada inconveniente, como no caso das prisões de garotas em sua praça. Aliando o talento da dupla central com a fina ironia de Billy Wilder, temos de fato uma obra bem divertida, com ótimos momentos, apesar de seu tema até mesmo complicado.

Irma la Douce (Irma la Douce, Estados Unidos, 1963) Estúdio: United Artists / Direção: Billy Wilder / Roteiro: Billy Wilder,  Alexandre Breffort / Elenco: Jack Lemmon, Shirley MacLaine, Lou Jacobi, Bruce Yarne / Sinopse: Irma la Douce vive nas ruas de Paris. Sua vida muda completamente quando se apaixona por um policial que quer seguir todas as regras à risca. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante (Shirley MacLaine) e Melhor Fotografia (Joseph LaShelle) e vencedor na categoria de Melhor Canção Original (André Previn). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz - Comédia ou Musical (Shirley MacLaine).

Pablo Aluísio.

Os Amores de Shirley MacLaine

Durante anos ela foi a queridinha de Hollywood. Irmã mais velha do astro Warren Beatty ela entrou pela porta da frente no seleto grupo de grandes astros do cinema. Apesar disso nunca conseguiu ser muito próxima do próprio irmão, pessoa que ela aliás admite não gostar muito. Na juventude Shirley fazia o estilo "garota sapeca" e seu jeito terno lhe rendeu vários personagens inesquecíveis. Essa imagem angelical porém escondia um verdadeiro furacão nos bastidores. MacLaine colecionou amores e namorados famosos em sua passagem por Hollywood e hoje aos 76 anos não tem mais medo de confessar as histórias de alcova que viveu.

Em recente entrevista a um popular programa de TV nos EUA Shirley MacLaine resolveu contar alguns segredos da elite da capital do cinema mundial. "Eu tive muitos casos amorosos em minha vida, com atores, diretores e produtores famosos. Em Hollywood muita gente dormia com todo mundo. Já cheguei a ir para cama com três homens diferentes numa só noite! Era assim que as coisas aconteciam. Havia muitas festas e muito sexo! Eu já namorei muitos atores famosos, verdadeiros astros das telas". Nas festas após as premiações as trocas de casais era um fato comum relembra a atriz.

Um de seus romances mais famosos e indefinidos foi com o ator Robert Mitchum com o qual contracenou em "Dois na Gangorra". Shirley recorda: "Ele era mais velho do que eu mas eu me apaixonei por ele. Por trás da fachada de sujeito durão havia um coração de ouro. Era uma pessoa muito romântica". Embora gostasse sinceramente de Mitchum acabou se casando com outro homem, o produtor Steve Parker. Isso porém não a impediu de buscar por novos casos amorosos. Seu casamento acabou sendo do tipo aberto pois assim como ela tinha amantes, ele também tinha as suas. "Na minha juventude eu tinha muitos casos e muitas escapadas sexuais. Alguns eram bem famosos mas também eram amantes terríveis, ruins de cama mesmo". Para esses Shirley, por pura educação, evita citar nomes. "Dos meus casos com astros famosos o que mais me marcou foi meu longo relacionamento com Mitchum. Ficamos juntos até o dia de sua morte. Outro que tenho saudades é Yves Montand, uma pessoa muito fina e elegante".

Mesmo gostando dos dois namorados, MacLaine não diminuiu seu interesse para com o sexo oposto e acabou se tornando bem eclética em suas escolhas, como ela mesma gosta de dizer. Chegou a namorar pessoas bem diferentes entre si, como o comediante Danny Kaye e o ministro das relações exteriores Andrew Peacock. Já em relação a outros atores com quem trabalhou MacLaine desmente qualquer envolvimento amoroso. "Eu achava Jack Lemmon um doce, um amor, mas nunca tive nada com ele realmente". Por ser muito festeira e gostar de embalos MacLaine acabou entrando para o grupinho de Frank Sinatra que ainda contava com Dean Martin e Sammy Davis Jr. "Virei a mascote da turma. Nos divertimos muito naqueles anos". Também cultivou uma longa amizade com a diva Elizabeth Taylor, que classificava como "um amor de pessoa". O único ator que MacLaine diz ter sentido receio em se relacionar em sua longa história em Hollywood foi Jack Nicholson! "Ele realmente é um sujeito perigoso, as mulheres devem ter cuidado com Jack" - completa sorrindo. Hoje em dia MacLaine está sozinha e feliz e diz preferir a companhia de animais de estimação. "Dão menos trabalho do que os homens" finalizou.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

El Camino

A série "Breaking Bad" realmente marcou época. Até hoje é considerada uma das melhores séries já produzidas. O tempo passou e agora temos um filme que procura dar uma certa continuidade nos acontecimentos. Olhando para trás um dos poucos personagens principais que conseguiram sobreviver foi justamente Jesse Pinkman (Aaron Paul). No começo da série ele foi o jovem estudante recrutado por seu professor de química para vender o produto de seus esforços, a droga Metanfetamina. Nos primeiros episódios ele era um sujeito meio bobão e inconsequente que foi crescendo ao longo da série, principalmente por causa dos perigos que foram se acumulando.

Aqui o encontramos em fuga. Ele escapou de uma jaula (literalmente falando), e tenta ir embora para o Alaska, fugindo da polícia e de quadrilhas inimigas. Para isso precisa de dinheiro e isso desencadeia uma série de eventos impensáveis. A direção e o roteiro ficaram nas mãos do próprio criador da série original, Vince Gilligan. Isso trouxe a autenticidade e a qualidade que todos os fãs da série estavam acostumados. Alguns disseram que na verdade seria apenas um novo episódio com quase duas horas de duração. Penso diferente. É um filme realmente, tal como sugere seu subtítulo "A Breaking Bad Movie" que inclusive pode ser assistido por si mesmo, até por aqueles que nunca viram um episódio da série que lhe deu origem. É um arco narrativo completo, que não necessita de prévio conhecimento dos personagens. Já para os fãs originais há uma pequena surpresa, com o aparecimento de Walter White (Bryan Cranston) em uma única cena, em flashback. Até achei gratuita a cena, mas valeu para relembrar dos episódios antigos. Então é isso. Gostei realmente desse novo suspiro de vida de "Breaking Bad". Fica a recomendação.

El Camino (El Camino: A Breaking Bad Movie, Estados Unidos, 2019) Direção: Vince Gilligan / Roteiro: Vince Gilligan / Elenco: Aaron Paul, Jonathan Banks, Matt Jones / Sinopse: Jesse precisa escapar, fugir para fora do país. A polícia e traficantes rivais querem sua cabeça. Sua única chance de sobrevivência é se mandar para o lugar mais longe possível, o distante e frio Alaska, onde ele pretende recomeçar sua vida.

Pablo Aluísio.

Silverado

Excelente faroeste produzido em meados da década de 1980. "Silverado" surgiu em uma época em que os grandes estúdios tentavam revitalizar o gênero western. É bem sintomático chamar a atenção para o fato do filme ter sido produzido nos anos 80, quando não havia mais regularidade no lançamento de faroestes no cinema. John Wayne havia partido seis anos antes e deixado uma lacuna, um mercado de fãs de western sem novos lançamentos, sem novos filmes. O faroeste italiano ainda produzia filmes com regularidade, mas esses iam ficando cada vez mais baratos ao longo dos anos. A indústria americana de cinema parecia não investir mais em filmes de western, o que era algo a se lamentar. Como os antigos astros já estavam velhos e aposentados, o jeito foi adaptar todo um elenco de novatos para encarar o desafio. O elenco é liderado por Kevin Kline cuja carreira foi construída em cima de comédias como “Um Peixe Chamado Wanda” e “Será Que Ele é?”, não tendo muito a ver com o estilo. Curiosamente ele acabou se saindo bem no filme. Danny Glover da série “Máquina Mortífera” também foi escalado. Sua escolha foi mais uma jogada comercial, para chamar mais atenção ao filme. Melhor se saem Brian Dennehy, que aqui repete um personagem bem parecido com o que fez em "Rambo", o xerife corrupto que abusa de sua autoridade e Scott Glenn, que lembrava fisicamente muito Clint Eastwood. Outro aspecto curioso de "Silverado" foi a presença de um jovem Kevin Costner, interpretando um garotão inconsequente que sempre se metia em problemas por onde passava. E pensar que alguns anos depois o próprio Costner iria dirigir e atuar em um clássico do western, "Dança com Lobos". Esse "Silverado" foi, de certa forma, seu ensaio no gênero.

O enredo de Silverado era uma miscelânea de vários e vários faroestes do passado. Uma espécie de homenagem aos aspectos mais valorizados da mitologia do velho oeste. Na estória acompanhamos um grupo de amigos que chega na cidade de Silverado, no Colorado (com locações reais no Novo México), agora dominada completamente por um xerife corrupto e seu grupo de capangas. Aterrorizando os moradores, o xerife, na realidade um antigo bandoleiro e pistoleiro se fazendo passar por bom cidadão, acabava literalmente tomando conta do lugar, se tornando proprietário do saloon local e das propriedades circunvizinhas à cidade. Para aumentar ainda mais seu domínio, ele não hesitava em matar, ameaçar e massacrar todos os que ousavam se opor ao seu poder.

A trilha sonora de "Silverado" foi assinada por Bruce Broughton e chamava atenção pela sua beleza. De fato a música incidental não deixava espaços em branco durante o filme, preenchendo tudo de forma bem suntuosa. Seu trabalho acabou sendo indicado ao Oscar. O diretor Lawrence Kasdan poderia ter dado mais agilidade ao filme, com um corte em sua duração – que muitas vezes soa excessiva – mas o saldo final foi inegavelmente positivo. "Silverado" fez sucesso de bilheteria e agradou ao público na época. Pena que mesmo sendo bem sucedido o filme não conseguiu redimir o gênero que ficaria ainda mais alguns anos na geladeira com poucas e esparsas novas produções em Hollywood.

Silverado (Silverado, Estados Unidos, 1985) Direção: Lawrence Kasdan / Roteiro: Lawrence Kasdan, Mark Kasdan / Elenco: Kevin Kline, Scott Glenn, Danny Glover, Kevin Costner, John Cleese, Rosanna Arquette, Brian Dennehy, Linda Hunt, Jeff Goldblum / Sinopse: Um xerife inescrupuloso e corrupto (Brian Dennehy) domina a pequena cidade de Silverado. Contra ele se opõem um grupo de cowboys e bandoleiros que vão enfrentar seu poder. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Som (Donald O. Mitchell, Rick Kline e Kevin O'Connell) e Melhor Música - Trilha Sonora Original (Bruce Broughton)

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Embrutecido Pela Violência

Filme bem marcante da carreira do ator Kirk Douglas. No enredo ele interpreta Len Merrick (Kirk Douglas), um orgulhoso Marshal federal (uma espécie de xerife com jurisdição em todo o país), que evita um enforcamento numa cidade do velho oeste. O acusado, Timothy 'Pop' Keith (Walter Brennan), está para ser enforcado por supostamente ter roubado gado e assassinado o filho de um rico e influente rancheiro da região. Para Len sua execução é completamente ilegal e por essa razão ele se compromete a levar Keith até um tribunal do júri na cidade de Santa Loma onde finalmente será devidamente julgado, perante um juiz de direito e um corpo de jurados, tudo como manda a lei. A jornada até lá porém não será tranquila e nem pacífica pois a família Roden está disposta a vingar a morte de um de seus membros. Esse western dirigido pelo mestre Raoul Walsh tem um argumento muito mais sofisticado do que pode parecer à primeira vista. A história não foge muito do que vemos na tela, com um obcecado homem da lei tentando seguir os trâmites legais a todo custo, mesmo sendo ameaçado e perseguido por um bando de justiceiros pelo deserto afora. A questão é que uma vez em Santa Loma - para onde está levando um acusado - ele descobre que nem sempre a justiça é devidamente feita pelos tribunais. Há uma série de influências econômicas, sociais e extra jurídicas que determinam se alguém é considerado culpado ou não.

Durante a jornada até lá ele vai colhendo impressões e verdades sobre o homem que tem sob custódia e descobre que seu próprio julgamento pessoal, criado na convivência com o suposto criminoso, tem mais validade do que um apressado e mal feito julgamento na calada da noite. Só esse aspecto já tornaria o filme bem acima da média dos demais faroestes da época, mas há outras qualidades dignas de nota. Walsh rodou um filme enxuto, diria até econômico, porém muito bonito, em bela fotografia em preto e branco. Rodado no deserto da Califórnia, em belas locações com penhascos e rochas enormes, o filme se valoriza enormemente por causa desse cenário natural rico em bonitas paisagens. O elenco também é outro ponto forte.

Kirk Douglas está de certo modo em seu tipo habitual, a do xerife durão, até insensível que carrega velhos traumas do passado, em especial uma certa culpa pelo que aconteceu ao seu pai anos atrás (ele também era um homem da lei íntegro que acabou sendo linchado por tentar cumprir o que dizia a letra fria do devido processo legal). Agora, firme em suas convicções, ele precisa levar o acusado perante um juiz para que seja devidamente julgado. A questão é que a filha do homem preso, interpretada pela linda atriz Virginia Mayo, também quer justiça, mas ao seu modo. Douglas e Mayo inclusive soltam faíscas de atração no meio do deserto. Uma dupla que deu muito certo e que trouxe muita paixão reprimida para a tela. Com cabelos curtinhos e jeito até bem rude, Mayo acaba roubando todas as atenções por causa de sua personalidade ao mesmo tempo geniosa e sensual. Então é isso. "Embrutecidos Pela Violência" é muito mais do que aparenta ser. Um bom argumento, bem sólido e coerente, apoiado por um enredo que não nega os mais tradicionais cânones do western americano.

Embrutecido Pela Violência (Along the Great Divide, Estados Unidos, 1951) Estúdio: Warner Bros / Direção: Raoul Walsh / Roteiro: Walter Doniger, Lewis Meltzer / Elenco: Kirk Douglas, Virginia Mayo, John Agar, Walter Brennan / Sinopse: Veterano xerife tenta manter a lei em uma região violenta e hostil do velho oeste dos Estados Unidos.

Pablo Aluísio.