quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Invasão de Privacidade

Depois do grande sucesso comercial de “Instinto Selvagem” era natural que Sharon Stone, mais cedo ou mais tarde, voltasse a interpretar uma personagem parecida com a loira fatal do filme anterior. Também era mais do que esperado que os estúdios direcionassem seus futuros filmes para a sensualidade à flor da pele, marca registrada de seu maior sucesso nas telas. O fato é que “Instinto Selvagem” mudou o status de Sharon Stone em Hollywood. Ela deixou de ser apenas uma atriz bonita para se tornar uma estrela, com tudo de bom e ruim que isso possa significar. Inteligente e muito extrovertida ela conseguiu se manter na mídia, indo a programas de entrevistas, aparecendo em capas de revistas, alimentando fofocas sobre sua vida pessoal, sempre se promovendo da melhor forma possível. Dentro desse contexto o roteiro sensual e (novamente) pervertido de “Invasão de Privacidade” parecia cair como uma luva em suas pretensões de alcançar mais um grande sucesso de bilheteria em sua carreira. Por um cachê milionário ela finalmente aceitou realizar o filme. Tudo parecia se encaixar bem. O roteirista seria o mesmo Joe Eszterhas  de “Instinto Selvagem” e a trama baseada na novela de Ira Levin parecia ser suficientemente picante para atrair novamente um grande público aos cinemas. O diretor seria o premiado australiano Phillip Noyce que já havia causado bastante polêmica com seu visceral “Terror a Bordo”.

Sharon Stone sabia que para o filme se tornar um sucesso tão grande quanto o anterior ela deveria ir além nas cenas sensuais e de erotismo. De fato o enredo, focado bastante no lado mais voyeur dos homens serviria bem a esse propósito. No filme ela interpreta Carly Norris, uma mulher dona de si e do seu destino. Ela se muda para um novo apartamento em um dos endereços mais exclusivos de Nova Iorque. Na vida emocional acaba se envolvendo com dois homens ao mesmo tempo em um excitante jogo de poder e sedução. Tudo caminha bem até o momento em que começa a desconfiar que de alguma forma alguém anda espionando sua vida, até nos mínimos detalhes. O argumento assim abre um aspecto curioso, levando o espectador a uma posição de pleno voyeurismo, vendo a vida privada da personagem principal, se deliciando com cada momento de sua intimidade. Como se esperava um grande sucesso de bilheteria a Paramount investiu pesado em marketing e promoção. O resultado porém se mostrou muito fraco. A produção que custou 40 milhões de dólares conseguiu apurar apenas pouco mais de 100 milhões. Não foi um fracasso como se chegou a dizer na época mas foi um resultado bem abaixo do esperado. Um alto executivo do estúdio chegou a afirmar que a Paramount esperava por pelo menos uns 300 milhões de caixa. Passou bem longe disso.  Artisticamente falando “Invasão de Privacidade” também deixou a desejar. O filme de um modo geral confunde sensualidade com vulgaridade e termina por não se tornar eroticamente interessante. Além disso a conclusão é sensacionalista e de mal gosto. Assim o chamado filme da consagração de Sharon Stone não passou de uma decepção demonstrando mais uma vez que já não se fazem mais estrelas de cinema como antigamente.

Invasão de Privacidade (Sliver, Estados Unidos, 1993) Direção: Phillip Noyce / Roteiro: Joe Eszterhas baseado na novela de Ira Levin / Elenco: Sharon Stone, Tom Berenger, William Baldwin, Martin Landau, Colleen Camp, Polly Walker, C. C. H. Pounder, Nina Foch. / Sinopse: No filme Sharon Stone interpreta Carly Norris, uma mulher dona de si e seu destino. Ela se muda para um novo apartamento em um dos endereços mais exclusivos de Nova Iorque. Na vida emocional acaba se envolvendo com dois homens ao mesmo tempo em um excitante jogo de poder e sedução. Tudo caminha bem até o momento em que começa a desconfiar que de alguma forma alguém anda espionando sua vida, até nos mínimos detalhes.

Pablo Aluísio.

A Casa da Rússia

Alguns filmes são literalmente atropelados pela história. Um exemplo claro disso aconteceu com esse “A Casa da Rússia” que foi lançado no mesmo ano em que o Muro de Berlim caiu! Como adaptação de uma típica novela da Guerra Fria, com todos aqueles espiões russos retratados como vilões e malvados, o filme entrou em cartaz justamente no momento histórico em que tudo isso estava mudando de forma radical. A Perestroika e a Glasnost sob o comando do premier Mikhail Gorbachev simplesmente colocaram abaixo o antigo regime que era a essência do bloco soviético e do Pacto de Varsóvia. Assim a Rússia sempre vista como o “Império do Mal” deixou de ter essa conotação tão maniqueísta. Como conseqüência o filme também perdeu sua razão de existência, se tornando ultrapassado, anacrônico, fora de moda. E isso tudo aconteceu em questão de semanas. John Le Carré, o autor do livro no qual o filme foi baseado, que praticamente só escrevia sobre espiões da Guerra Fria, de repente se tornou um dinossauro ideológico. “A Casa da Rússia” hoje soa muito curioso pois capta todos aqueles valores que estavam na ordem do dia na época em que o mundo era basicamente dividido em dois grandes blocos, o dos países ocidentais capitalistas e o dos países comunistas orientais liderados pela temida União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Claro que hoje em dia isso tudo ficou para trás e só existe nos livros de história, mas mesmo assim é muito interessante acompanhar a mentalidade que predominava naqueles anos de grande tensão entre as potências mundiais.

A trama gira em torno de uma série de dossiês cujos conteúdos revelam terríveis planos do governo comunista de Moscou em relação aos Estados Unidos. Os textos foram escritos por um renomado cientista soviético de codinome Dante (Klaus Maria Brandauer, amigo pessoal de Sean Connery e incluído no elenco atendendo a seu pedido pessoal). Katya (Michelle Pfeiffer) é uma amiga de Dante que é designado por esse para levar os dossiês até o Ocidente. Sua intenção é revelar os planos do governo russo para assim impedir que uma catástrofe mundial ocorra entre as nações. Katya assim tenta passar os documentos para um famoso editor britânico chamado Barley (Sean Connery). Convencido pelo serviço secreto inglês, Barley então é enviado até Moscou para colocar as mãos nos dossiês ao mesmo tempo em tentará descobrir quem realmente é Dante. De quebra deverá se certificar se os documentos são verdadeiros ou não, uma vez que táticas de contra espionagem eram muito comuns na época. Como se pode perceber “A Casa da Rússia” é um típico filme de espionagem da Guerra Fria. É muito curioso ver Sean Connery nesse tipo de filme, uma vez que ele tentava se afastar de seu personagem mais famoso, justamente o espião 007.  Apesar de seu personagem não ser um espião aos moldes do anterior a trama cheia de reviravoltas, planos e espionagem lembrava bastante os livros de Ian Fleming. Mais interessante ainda é saber que ele fez o filme logo após sua premiação de Melhor Ator por “Os Intocáveis” que de certa forma coroavam esses novos rumos trilhados em sua carreira, ao se distanciar da franquia que o tornou famoso. O filme acabou não dando certo nas bilheterias pelas razões já expostas. Um famoso crítico americano inclusive denominou a produção de “um fantasma da guerra fria”. Assim foi um dos últimos de uma grande série de películas que mostravam o eterno conflito entre União Soviética e Estados Unidos. O mundo definitivamente havia mudado e para melhor e não havia mais espaço para esse tipo de roteiro. Não havia outra conclusão, o filme “A Casa da Rússia” havia sido literalmente atropelado pela história.  

A Casa da Rússia (The Russia House, Estados Unidos, 1989) Direção: Fred Schepisi / Roteiro: Tom Stoppard baseado na obra de John Le Carré /  Elenco: Sean Connery, Michelle Pfeiffer, Roy Scheider, Klus Maria Brandauer, James Fox, John Mahoney, Michael Kitchen, J.T. Walsh, Ken Russell. / Sinopse: Uma série de arquivos contendo um complexo dossiê revela segredos do governo russo durante a Guerra Fria. Para tentar colocar as mãos neles o serviço secreto britânico envia um editor até Moscou onde ele acaba se vendo envolvido numa grande conspiração de espionagem.

Pablo Aluísio.

Splice

Confesso que estava esperando outra coisa desse filme. Pensei que ele era mais centrado na questão cientifica do tema mas me enganei. O filme é fantasioso em seu roteiro, da primeira à última cena. Nem por isso desgostei de Splice, achei um bom thriller de terror, com um roteiro bem resolvido, principalmente quando mostra o desenvolvimento psicológico da criatura. Esse aliás é o grande mérito do filme pois ao contrário de outros de temas semelhantes (como a Experiência) o filme procura dar uma personalidade e emoções à Dren.

Alguns pontos porém merecem críticas. O comportamento anti ético do casal é extremo, principalmente por parte do personagem de Adrien Brody. Não entrarei em detalhes mas seus atos beiram à monstruosidade (mais do que as da criatura). O desfecho me incomodou um pouco, achei extremamente violento, principalmente para quem vinha acompanhando o envolvimento da criatura com os dois personagens principais. Algumas mutações da Dren também me soaram muito, digamos assim, à la "Van Helsing", mas tirando esse tipo de coisa o filme como um todo pode divertir. Não foi dessa vez que trataram o tema da engenharia genética com a devida seriedade. Apesar disso, como diversão, o filme até cumpre a que se propõe, isso se você não for esperar demais.

Splice (Splice, Estados Unidos, 2009) Direção: Direção: Vincenzo Natali / Roteiro: Vincenzo Natali (screenplay), Antoinette Terry Bryant / Elenco: Adrien Brody, Sarah Polley, Delphine Chanéa / Sinopse: Cientistas desenvolvem pesquisas no campo da biogenética para a criação de uma nova forma de vida. O resultado é uma espécie nova com instintos assassinos.

Pablo Aluísio.

RoboCop 3

Título no Brasil: RoboCop 3
Título Original: RoboCop 3
Ano de Produção: 1993
País: Estados Unidos
Estúdio: Orion Pictures Corporation
Direção: Fred Dekker
Roteiro: Frank Miller, Fred Dekker, Edward Neumeier
Elenco: Nancy Allen, Robert John Burke, Mario Machado

Sinopse: 
A OCP é comprada por um grupo corporativo japonês que resolve finalmente colocar em prática a construção de Delta City. Para isso tem que expulsar os moradores da antiga Detroit o que acaba criando um grupo de ativistas de resistência. Seguindo as diretrizes de sua programação de proteger os inocentes, RoboCop entra na luta a favor da população. Para combater sua força a OCP então resolve enviar um novo ciborgue ninja cuja missão será destruir RoboCop definitivamente.

Comentários:
Assim que o nome de Frank Miller foi anunciado para RoboCop 3 muita gente pensou que viria um grande filme pela frente. Infelizmente quem apostou nisso acabou se decepcionando. Frank Miller escreveu a estória de RoboCop 3 e também participou ativamente do roteiro mas nada disso salvou o filme de ser um fracasso. Os problemas são muitos. O enredo é pouco original, apenas uma salada dos dois filmes anteriores e os clichês estão em todos os lugares. Um novo ator entrou na franquia para interpretar Alex Murphy - RoboCop mas sem surpreender ninguém. Curiosamente também a atriz Nancy Allen deu adeus aos filmes já que sua personagem morre na estória, de forma gratuita e sem graça. E para piorar um filme bem equivocado ainda temos que ver uma das maiores bobagens da cultura pop pois Frank Miller caiu na besteira de colocar RoboCop voando pelos ares como se fosse um novo Superman! Achou péssimo isso? Imagine ver a cena em si com efeitos especiais nada convincentes, mesmo para a época. Enfim, RoboCop 3 foi de fato uma grande decepção para os fãs dos filmes do tira robô.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Instinto Selvagem

Provavelmente seja um dos thrillers eróticos mais conhecidos da história do cinema. O roteiro de Joe Eszterhas já vinha circulando em Hollywood há um bom tempo e despertado interesse de vários estúdios. Após começar um verdadeiro leilão pela venda de seus direitos a Carolco em sociedade com a produtora Canal + finalmente bateram o martelo e o compraram por uma soma substancial – três milhões de dólares – uma das maiores quantias já pagas dentro da indústria americana por um roteiro original. Michael Douglas usando de seu poder dentro de Hollywood logo conseguiu entrar no projeto para interpretar o detetive Nick Curran. Já o principal personagem feminino, a bela Catherine Tramell, se tornou um desafio e tanto. Afinal a atriz que iria interpretá-la tinha que ter o sex appeal perfeito aliado a um certo charme fatal. Conciliar ambas as características não seria nada fácil. Foi aí que Sharon Stone resolveu se candidatar antes mesmo que fosse procurada pelos produtores. Através de contatos conseguiu uma cópia do roteiro e gravou por conta própria um teste de câmera vestida como a sensual personagem. Foi até o diretor Paul Verhoeven e lhe deu a fita dizendo que era a atriz perfeita para o papel. E era mesmo. Não demorou muito para ser finalmente escalada para o personagem que seria o mais popular e icônico de toda a sua carreira.

O filme começa com um misterioso assassinato. Um importante homem de negócios da vida noturna de San Francisco é localizado morto, numa execução com tintas de sadismo e perversão. Logo o policial Nick Curran (Michael Douglas) é designado para investigar a morte do executivo. Seguindo pistas ele chega até a escritora de livros de mistério Catherine Tramell (Sharon Stone). O fato é que o crime cometido tinha enormes semelhanças com uma morte de ficção de um de seus mais populares livros. Além disso a vítima tinha um conhecido romance com a autora. Sensual, provocadora e muito sedutora ela logo joga todo o seu charme no velho tira que não demora a cair de amores pela beldade. Enquanto segue o jogo de sensualidade entre o casal, novas mortes vão surgindo em série mostrando que o policial está inerte, pois se encontra completamente seduzido pela bonita escritora. O filme fez um sucesso estupendo. Sharon Stone no auge da beleza deita e rola (literalmente) usando de todo seu charme para encantar o público masculino. Sua famosa cena quando cruza as pernas, revelando estar sem calcinhas, entrou para o imaginário erótico dos homens que ficaram extasiados. Michael Douglas conseguiu mais um grande sucesso numa fase de muitos êxitos comerciais em sua carreira de ator. O problema é que ele literalmente sumiu ao lado de Sharon Stone. Foi ofuscado completamente pela loira sensual. De qualquer modo o filme marcou muito e se tornou um pequeno clássico moderno. Infelizmente há alguns anos resolveram apelar ao realizaram uma continuação (péssima por sinal). Ignore e reveja o original, simplesmente perfeito em seu resultado final.

Instinto Selvagem (Basic Instinct, Estados Unidos, 1992) Direção: Paul Verhoeven / Roteiro: Joe Eszterhas, Gary L. Goldman / Elenco: Michael Douglas, Sharon Stone, George Dzundza, Jeanne Tripplehorn, Denis Arndt, Leilani Sarelle./ Sinopse: Tira veterano (Michael Douglas) se apaixona por autora de livros de mistério (Sharon Stone) que pode estar relacionada a uma série de mortes em San Francisco. Indicado ao Globo de Ouro de Melhor Atriz para Sharon Stone.

Pablo Aluísio.

A Vila

Muitas pessoas torceram o nariz para “A Vila”, um dos filmes mais conhecidos do diretor indiano M. Night Shyamalan. Eu me recordo perfeitamente da reação do filme na época de seu lançamento. Ao final da exibição muitos espectadores declararam que se sentiram literalmente traídos pois pensavam estar vendo um tipo de filme para no final se revelar outro completamente diferente. Eu penso diferente, da safra lançada desse cineasta após o grande marco “O Sexto Sentido”, “A Vila” pode ser até mesmo ser considerado um de seus melhores momentos no cinema. De fato é aquele tipo de roteiro onde se deve falar o mínimo possível pois a surpresa das cenas finais é que dá a tônica do filme. A estória de “A Vila” se passa supostamente no ano de 1897. Em uma comunidade rural do Estado da Pensilvânia de apenas 60 moradores encontramos uma perene sensação de medo e suspense entre os habitantes. Acontece que a vila é cercada por uma extensa floresta que seria habitada por criaturas terríveis e sobrenaturais. Há anos que nenhum morador local adentra a mata fechada. O confinamento porém começa a ser questionado pelos mais jovens, entre eles Lucious (Joaquin Phoenix) que tem o desejo de conhecer terras distantes, novos lugares, novas pessoas. Seu desejo de ultrapassar as fronteiras de sua pequenina vila, chamada de Covington, acabará por revelar um grande segredo, guardado a sete chaves pelos mais velhos.

Um dos maiores exageros em relação a Shyamalan ocorreu justamente no lançamento desse filme. De uma hora para outra muitos admiradores e até críticos renomados de cinema começaram a afirmar que o cineasta era o legítimo sucessor do cinema de Alfred Hitchcock. Afinal de contas seus intrigados roteiros também se sustentavam em muito suspense e tensão. Conforme se descobriu depois pouca consistência existia nessa comparação. Além de ser um erro em si comparar dois diretores diferentes, a semelhança só serviu para mostrar a debilidade da obra do indiano. Certamente ele sabe criar climas e momentos de suspense, o problema é que seus roteiros muitas vezes são mal trabalhados e não dão a estrutura necessária para suas tramas. A Vila é um exemplo. Ele arquiteta toda uma situação para enganar o espectador na cena final. Não que isso seja ruim, faz parte do jogo, o problema é que a revelação se mostra apressada, mal revelada, jogada de qualquer jeito no colo do público. Não é de se admirar o descontentamento que houve nas primeiras sessões. Faltou sutileza a ele no momento da revelação, algo que jamais faltou ao velho e bom mestre do suspense, Hitchcock. Além do mais uma vez revelado o tal segredo pouca coisa sobreviveu do filme – e os furos começam a surgir quando o espectador começa a levantar hipóteses que desmascarariam tudo com certa singeleza. Como resultado descobrimos que “A Vila” passa longe da boa trama de “O Sexto Sentido”, sendo no fundo apenas um simulacro, assim como as tais criaturas da floresta.

A Vila (The Village, Estados Unidos, 2004) Direção: M. Night Shyamalan / Roteiro: M. Night Shyamalan / Elenco: Joaquin Phoenix, Bryce Dallas Howard, William Hurt, Sigourney Weaver, Adrien Brody./ Sinopse: Numa pequena comunidade rural do século XIX um grupo de moradores vivem com medo de estranhas e misteriosas criaturas que habitam a floresta que cerca sua vila. Tudo porém começa a desmoronar quando os mais jovens tentam explorar os segredos da região adentrando a mata local em busca de respostas.

Pablo Aluísio.

Duro de Matar

Na década de 80 o cinema americano era povoado por uma série de heróis de ação – homens de um exército só, que enfrentavam batalhões praticamente sozinhos e conseguiam sair completamente ilesos desses conflitos. Stallone, Schwarzenegger e Chuck Norris conseguiram emplacar vários sucessos com esse tipo de personagem invencível. Foi então que quase no final da década surgiu finalmente um tipo de herói diferente para essas produções. O oficial John McClane (Bruce Willis) do Departamento de Polícia de Nova Iorque não apenas se machucava nos tiroteios em que se envolvia como também sangrava e se feria para valer em cena. Era um novo tipo de atitude dentro dos filmes de ação ininterrupta. 

Interpretado por Bruce Willis em seu primeiro filme nesse gênero a fragilidade e vulnerabilidade do tira logo caiu no gosto do grande público e “Duro de Matar” se tornou um sucesso estrondoso de bilheteria. O curioso é que ninguém em Hollywood apostava muito em Bruce Willis para estrelar um filme desse tipo. Na época ele era apenas um ator de TV que interpretava o cínico e engraçadinho detetive da série “A Gata e o Rato”. Fazer a transição da telinha para a telona dos cinemas não estava muito fácil para ele. Seu primeiro filme, uma comédia romântica chamada “Encontro às Escuras” com Kim Basinger, tinha feito um sucesso apenas modesto nas bilheterias. Ninguém realmente esperava que Willis iria emplacar um sucesso tão grande como esse “Duro de Matar”.

O roteiro era bem simples mas procurava tirar o melhor proveito possível da situação limite mostrada no filme. Um grupo de terroristas tomava controle de um grande arranha-céu. Exigindo um resgate milionário os terroristas só não contavam com a presença no local do tira casca grossa McClane (Willis) que a partir daí faria qualquer coisa para libertar sua esposa que se encontrava entre os reféns. Com a trama armada o espectador passa a acompanhar uma sucessão de cenas de ação no monumental edifício (na verdade a sede dos estúdios Fox em Los Angeles). O sucesso espetacular de “Duro de Matar” daria origem a uma franquia praticamente sem fim, com várias sequências nos anos seguintes. Bruce Willis também redirecionaria completamente sua carreira a partir daqui. Deixaria o estilo de comediante simpático e cheio de cinismo de lado para investir firme em várias fitas de ação nos anos que viriam. Mesmo com longo currículo de produções no gênero depois de tantos anos o fato é que nenhuma delas conseguiu superar o impacto e a qualidade desse primeiro “Duro de Matar”, um dos melhores filmes de ação de uma década que ficou marcada justamente pela profusão desse tipo de filme. Era o melhor do cinema de ação da década de 80.

Duro de Matar (Die Hard, Estados Unidos, 1988) Direção: John McTiernan / Roteiro: Steven E. de Souza, Jeb Stuart, baseado no livro de Roderick Thorp / Elenco: Bruce Willis, Alan Rickman, Bonnie Bedelia, Reginald VelJohnson / Sinopse: Policial de Nova Iorque acaba se envolvendo em um seqüestro em andamento sob liderança do terrorista Hans Gruber (Alan Rickman) que exige uma grande quantia em ações para libertar um grupo de reféns.

Pablo Aluísio.

Esfera

Junte um grupo de atores desesperados por um sucesso de bilheteria após sucessivos fracassos comerciais, una a uma adaptação de livro de sucesso de autoria de Michael Crichton e acrescente um diretor veterano. O resultado? “Esfera”, uma ficção científica que foi criada para se tornar um blockbuster mas que falhou completamente em suas pretensões pois foi um fracasso de bilheteria. A trama acompanha um grupo de cientistas das mais diferentes áreas do conhecimento humano (astrofísica, matemática, bioquímica, psicologia, etc) que partem para uma missão das mais complexas: analisar o que parece ser uma espaçonave secular afundada nas profundezas do Oceano Pacífico. Como não poderia deixar de ser o contato com essa tecnologia extraterrestre é ultra confidencial, de ciência apenas dos altos escalões do governo americano. O que encontram porém irá mudar o destino de todas aquelas pessoas da equipe de pesquisa, alterando psicologicamente o modo deles entenderem o universo e o mundo ao redor.

A obra de Michael Crichton não tem segredo. Sob uma falsa capa de ciência e seriedade sempre se escondeu um escritor pop por excelência. Seus livros nunca foram feitos para serem levados à sério do ponto de vista científico. São no fundo apenas aventuras infanto-juvenis sob uma máscara de profundidade. Do ponto de vista da ciência são apenas bobagens divertidas. Esse “Esfera” não foge desse padrão. Como se não bastasse ter que encarar a loira Sharon Stone como cientista, o espectador ainda tem que esquecer os vários furos do roteiro que vão surgindo em seqüência para aproveitar o filme apenas como passatempo ligeiro, mesmo que a produção tenha muitas pretensões de ser levada a sério. O resultado é pífio do ponto de vista científico e fraco no quesito diversão. A única coisa que salva “Esfera” de ser um desperdício completo é a excelente qualidade técnica de seus efeitos digitais (ainda em fase de experimentalismo no mundo do cinema). Esses realmente fazem valer a pena o tempo em que se perde vendo todo o restante do papo pseudo científico mostrado nas cenas. De resto Sharon Stone tenta mas não consegue demonstrar que era uma boa atriz e Dustin Hoffman mostra certo constrangimento por estar fazendo papel de coadjuvante de luxo. E a tal esfera do título? Do que se trata? Ora, veja o filme para descobrir e boa sorte!

Esfera (Sphere, Estados Unidos, 1998) Direção: Barry Levinson / Roteiro: Kurt Wimmer,Stephen Hauser e Paul Attanasio baseados no livro de Michael Crichton / Elenco: Dustin Hoffman, Samuel L. Jackson, Sharon Stone, Queen Latifah / Sinopse: A trama acompanha um grupo de cientistas das mais diferentes áreas do conhecimento humano (astrofísica, matemática, bioquímica, psicologia, etc) que partem para uma missão das mais complexas: analisar o que parece ser uma espaçonave secular afundada nas profundezas do Oceano Pacífico.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Elizabeth - A Era de Ouro

Com o êxito do primeiro filme, “Elizabeth”, era natural que os produtores levassem adiante a saga da Rainha Elizabeth I nos cinemas. Praticamente toda a equipe do filme anterior foi mantida. Uma vez contada sua origem o roteiro de “Elizabeth – A Era de Ouro” se concentra agora em um dos maiores desafios da Rainha durante os anos em que esteve à frente da coroa britânica. A trama se passa no ano de 1585. Nessa época a Espanha se torna a maior potência do planeta, fruto de sua política de expansionismo além-mar. As novas colônias descobertas no chamado novo mundo trouxeram uma riqueza inimaginável para o país Ibérico. Ouro, metais preciosos, tudo parecia brotar da terra com incrível facilidade. De posse de tanta riqueza a Coroa espanhola logo tratou de construir uma poderosa armada para consolidar seus domínios nas terras da chamada América. Como todo império que se preze os interesses da coroa espanhola logo entraram em choque com a Inglaterra, outra potência colonialista. Para piorar o Rei espanhol defendia abertamente a irmã de Elizabeth, Mary Stuart, como a verdadeira Rainha da Inglaterra, sucessora legítima do Rei Henrique VIII. Católica fervorosa, filha de mãe espanhola, Mary era a preferida das cortes espanholas para assumir o trono inglês. Não apenas por ser a filha mais velha de Henrique VIII mas também por causa de suas origens que a ligavam diretamente com o trono espanhol. Seria maravilhoso para a Espanha ter naquele momento histórico uma Rainha com sangue espanhol correndo em suas veias. Na visão das cortes espanholas Elizabeth era apenas a filha da devassa Ana Bolena, uma mulher sem virtudes.

Com tantos interesses conflitantes não é de se admirar que as duas potências tenham entrado numa feroz guerra que iria determinar os rumos da Europa (e do mundo) nos séculos seguintes. Para suportar todas as pressões externas, Elizabeth ainda teve que lidar com problemas internos, entre eles sua indefinição para se casar e ter filhos, garantindo assim uma sucessão tranqüila para sua dinastia. E é justamente nesse momento em que ela acaba simpatizando com a chegada do nobre aventureiro Walter Raleigh (Clive Owen) que logo se tornou inaceitável para as cortes como seu par romântico. Ele definitivamente não tinha as qualificações certas para se tornar o consorte real da Rainha. “Elizabeth – A Era de Ouro” é uma produção bem mais movimentada que o primeiro filme sobre Elizabeth I. As grandes batalhas, os conflitos em mar e terra, tudo isso deixa a produção com um aspecto bem mais atrativo para o público atual. Some-se a isso o ótimo uso de efeitos digitais nos momentos mais cruciais da guerra entre Inglaterra e Espanha. O saldo final como sempre é muito bom. A crítica adorou e o público prestigiou. Outro ponto positivo foi o fato de finalmente ter sido agraciado com o Oscar de Melhor Figurino, sanando um erro na premiação do primeiro filme. Para Cate Blanchett o resultado também não poderia ter sido melhor pois conseguiu indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro de melhor atriz. Um reconhecimento merecido de seu trabalho nas duas produções enfocando a Rainha Elizabeth I.

Elizabeth – A Era de Ouro (Elizabeth: The Golden Age, Estados Unidos, 2007) Direção: Shekhar Kapur / Roteiro: Michael Hirst, William Nicholson / Elenco: Cate Blanchett, Clive Owen, Samantha Morton, Geoffrey Rush, Tom Holland, Abbie Cornish / Sinopse: Segundo filme sobre a rainha Elizabeth I. Lutando contra os interesses da coroa espanhola que deseja colocar Mary Stuart no trono inglês e de pressões internas que querem que se case para garantir uma sucessão tranqüila, a Rainha tenta sobreviver dentro do quadro político de sua época.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Elizabeth

Elizabeth I (1533 -1603) também conhecida no Brasil como Isabel I, foi uma das rainhas mais controvertidas da história britânica. Governou a nação em um período particularmente turbulento onde se proliferaram as pestes, as guerras e a forme em seus vastos domínios. Vivendo em um mundo dominado por interesses poderosos e líder de uma corte onde planos de conspiração para matá-la estavam na ordem do dia, Elizabeth teve que adotar uma postura dura e implacável contra seus inimigos. Era filha de Henrique VIII, um dos monarcas absolutistas mais sanguinários que se tem notícia. Para se ter uma idéia ele matou a mãe de Elizabeth, Ana Bolena, após ter desconfianças de que ela o estaria traindo. Elizabeth foi poupada embora muitos nobres da época defendessem que também deveria ser morta para erradicar a sujeira e a raça de Ana Bolena dentro da linhagem real. Em um raro caso de bom senso Henrique poupou sua jovem filha de ser decapitada como a mãe. Como se pode perceber foi nesse meio violento e hostil que Elizabeth cresceu. A monarquia inglesa era notória pelas mortes de nobres patrocinadas por outros nobres, geralmente familiares na luta pelo poder. Isso prova que dentre todos os sistemas existentes a monarquia é seguramente um dos piores.

Já Elizabeth, o filme, é um show aos olhos. Produção rica, de bom gosto, com figurinos deslumbrantes é aquele tipo de filme que marca e fica na mente do espectador pela beleza técnica de cenários, roupas e perfeita reconstituição de época. Cate Blanchett é um destaque em sua interpretação. Fisicamente parecida com a verdadeira Rainha ela dá um show de postura, elegância e sofisticação. Elizabeth I, que ficou conhecida na história como a "Rainha Virgem", era dura com os inimigos mas nunca se descuidava dos protocolos reais, o que incluía ter uma educação das mais finas e um código de comportamento que não poderia ser quebrado. Desfilando com réplicas perfeitas das melhores roupas reais da época - algumas que hoje em dia soam bem estranhas - a atriz de fato nos leva a acreditar que estamos vendo a própria Elizabeth em cada cena. O elenco de apoio também é excepcional com destaque para o sempre marcante Geoffrey Rush. Já Joseph Fiennes encarna com perfeição seu papel, um tipo que oscila entre a canalhice completa e o heroísmo inesperado. Em seu lançamento Elizabeth foi aclamado pela crítica e concorreu ao Oscar de Melhor filme perdendo infelizmente para outra produção de época, “Shakespeare Apaixonado”. Uma injustiça sem a menor sombra de dúvidas. Outra injustiça foi ter perdido os Oscars de Melhor Figurino e Direção de Arte - dois prêmios que eram dados como certos para o filme. No final levou apenas a estatueta de melhor Maquiagem mostrando mais uma vez como a Academia pode ser injusta em sua premiação. Isso não atrapalhou que o filme tivesse uma continuação chamada “Elizabeth e a Era de Ouro” ao qual falaremos aqui no blog em uma outra oportunidade. De qualquer modo fica a dica: Elizabeth, uma produção atual com o estilo das grandes produções do passado. Um belo retrato de uma das figuras históricas mais marcantes da Inglaterra.

Elizabeth (Elizabeth, Estados Unidos, 1998) Direção: Shekhar Kapur / Roteiro: Michael Hirst / Elenco: Cate Blanchett, Geoffrey Rush, Joseph Fiennes, Christopher Eccleston, Richard Attenborough / Sinopse: Cinebiografia da rainha inglesa Elizabeth I. Monarca em um época particularmente conturbada da história inglesa se destacou pelo pulso forte e firme na condução dos assuntos de Estado.

Pablo Aluísio.