quinta-feira, 26 de abril de 2012

Highlander, O Guerreiro Imortal

Antes que estraguem de vez com Highlander em mais um remake idiota resolvi conferir o original mais uma vez. Concordo com a opinião dominante: Highlander jamais deveria ter tantas continuações horríveis como teve. É um filme que se fecha em si mesmo, não tendo lógica nenhuma os filmes que vieram depois. Em termos narrativos o filme é bem eficiente com duas linhas narrativas bem enxutas (uma no passado mostrando sua origem nas terras altas escocesas) e outra no presente (onde ele se esconde sob uma falsa identidade em Nova Iorque). O roteiro não perde muito tempo com detalhes, é uma fita que nasceu para ser ágil, sem muita perda de tempo, o que transparece inclusive na explicação da origem dos imortais (que no fundo não são explicados, como se fossem frutos apenas de um evento natural).

No elenco a curiosidade fica por conta da caracterização de Sean Connery. Para uma pessoa que se orgulha das tradições escocesas fica no mínimo estranho ele aparecer como um misto de espanhol / egípcio em cena! Sua participação não é lá grande coisa mas dentro do contexto consegue ser marcante. O filme envelheceu, obviamente, principalmente em seus efeitos especiais. Na cena final a animação utilizada fica muito evidente. De qualquer forma a trilha sonora do Queen é muito adequada (mais até do que me lembrava) e Lambert não compromete (apesar de ser apático em alguns momentos). Enfim é isso. Highlander deveria ter ficado por aqui mas a ganância fez surgir várias continuações toscas e um remake que vem por aí que provavelmente vai ser igualmente horrível. Highlander era imortal mas no cinema conseguiram matar o personagem.

Highlander, O Guerreiro Imortal (Highlander, Estados Unidos, 1986) Direção: Russell Mulcahy / Roteiro: Gregory Widen, Gregory Widen / Elenco: Christopher Lambert, Roxane Hart, Clancy Brown, Sean Connery, Beatie Edney / Sinopse:: Connor MacLeod (Christopher Lambert) faz parte de uma estranha linhagem de imortais que se enfrentam ao longo dos séculos entre eles para cumprir a lenda que afirma só poder existir um imortal.

Pablo Aluísio.

Matrix

Quando "Matrix" surgiu nos cinemas causou grande repercussão. Era uma ficção com um argumento bem mais elaborado do que se estava acostumado a ver. De certa forma nada mais era do que uma visão pop feita em cima de crenças e conceitos bem mais profundos do conhecimento humano em relação à religião, filosofia e teorias de conspiração em geral. Como a juventude via de regra não gosta muito de ler, não indo direto às fontes dessa idéias, Matrix vinha bem a calhar pois tudo o que tinham que fazer era assistir a essa produção. Claro que todos esses conceitos foram tratados no roteiro do filme de forma bem mais superficial, apenas tangendo a verdadeira essência na qual se baseou. Seria uma espécie de cartilha de ABC sobre filosofia para jovens que não conheciam ou não queriam ler os grandes filósofos da cultura ocidental como Platão, Sócrates, etc. Até porque "Matrix" nada mais é do que um chiclete pop feito em cima do mito da caverna.de Platão. Mesmo assim não há como negar que apesar de ser mesmo um produto de cultura pop comercial "Matrix" serviu ao menos para criar o interesse nos jovens nesse tipo de tema. Esse aliás é o seu grande mérito: despertar a curiosidade dos mais jovens sobre esse tipo de questionamento existencial.

O enredo todos já conhecem: Neo (Keanu Reeves) é um jovem programador em um futuro distante que descobre ser a realidade apenas uma mera simulação. O mundo real parece ser um lugar inóspito controlado por computadores que mantém os corpos dos seres humanos em eterno torpor alimentado por ilusões meramente virtuais. Para enfrentar as máquinas no mundo real, Neo resolve se unir a outros rebeldes que pensam como ele, como Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity (Carrie-Anne Moss). A produção, feita em cima de um avassalador nível técnico (que venceu os Oscars de Melhor Edição, Efeitos Visuais, Som e Efeitos Sonoros) tenta desnortear o espectador enquanto o roteiro procura trilhar um rumo para aquilo tudo que vemos na tela. "Matrix" fez tanto sucesso que virou trilogia mas conforme as sequências foram sendo lançadas fomos descobrindo que os diretores irmãos Wachowski não conseguiram ficar à altura das expectativas, se perdendo pelo meio do caminho. De qualquer modo mesmo "Matrix" se perdendo nas suas sequências não podemos deixar de louvar seus méritos. É cultura pop em essência, cinema chiclete sim, mas que tentou ser mais inteligente do que a média geral do que estava sendo feito. Pena que as continuações não conseguiram desenvolver tudo a contento.

Matrix (Matrix, Estados Unidos, 1999) Direção: Larry Wachowski), Andy Wachowski / Roteiro: Larry Wachowski, Andy Wachowski / Elenco: Keanu Reeves, Laurence Fishburne, Carrie-Anne Moss, Hugo Weaving, Joe Pantoliano, Gloria Foster./ Sinopse: Neo (Keanu Reeves) é um jovem programador em um futuro distante que descobre ser a realidade apenas uma mera simulação. O mundo real parece ser um lugar inóspito controlado por computadores que mantém os corpos dos seres humanos em eterno torpor alimentado por ilusões meramente virtuais. Junto dos rebeldes resolve enfrentar as máquinas que escravizaram a humanidade.

Pablo Aluísio.

Coração de Cavaleiro

O tempo é interessante. Eu me recordo que quando "Coração de Cavaleiro" chegou aos cinemas brasileiros em 2001 muitos críticos arrasaram com o filme e um de seus alvos principais de chacotas foi o fato do filme ser estrelado por Heath Ledger. Os jornalistas fizeram piada com a tentativa do estúdio em lançar Ledger para o estrelato. O ator foi satirizado de várias formas, tachado de inepto, pouco talentoso e medíocre. O tempo passou, Ledger fez grandes filmes após esse e com Batman se consagrou definitivamente com um grande ator. Curiosamente muitos que o desqualificaram impiedosamente em "Coração de Cavaleiro" se viram depois elogiando sua atuação como Coringa na famosa produção. A nota de lamento vem pelo fato de Ledger ter partido muito cedo, justamente no momento em que despontava para o auge de sua carreira. Diante de uma morte tão prematura (e sem explicação para muitos até hoje) sobrou como seu legado apenas sua filmografia que analisada friamente mostra sua grande versatilidade pois ele participou de filmes bem diversos, de quase todos os gêneros.

Esse "Coração de Cavaleiro" foi um deles. Realmente se tratou de uma tentativa de transformar o ator em ídolo juvenil. O filme foi concebido para tentar levar ao público mais jovem o charme das antigas produções épicas de Hollywood, mais especificamente àquelas passadas na Idade Média. A trama é simples:
William Thatcher (Heath Ledger) é filho de um camponês que sonha um dia se tornar cavaleiro. Como se sabe na Idade Média a sociedade era rigidamente hierarquizada, onde se tornava quase impossível subir na escala social. Quem era de filho de camponeses geralmente morria camponês. Apenas nobres de alta estirpe viravam cavaleiros. O filme gira em torno desse sonho do rapaz mas não se preocupe, a produção não se leva tanto à sério assim. Tudo é levado em tom mais leve, soft, sem grandes pretensões. Chegam ao ponto de usar uma trilha sonora moderna (com músicas do Queen) em uma produção de época! No fundo isso nem importa muito. De fato "Coração de Cavaleiro" tem que ser assistido apenas como entretenimento ligeiro, fugaz. Ledger parece se divertir com o filme então o espectador deve seguir pelo mesmo caminho. Não é marcante, mas até que como produto pop tem seus méritos e para os fãs do ator se torna obrigatório.

Coração de Cavaleiro (A Knight's Tale, Estados Unidos, 2001) Direção: Brian Helgeland / Roteiro: Brian Helgeland / Elenco: Heath Ledger, Mark Addy, Rufus Sewell, Shannyn Sossamon, Paul Bettany, Laura Fraser, Alan Tudyk / Sinopse: William Thatcher (Heath Ledger) é filho de um camponês que sonha um dia se tornar cavaleiro. Para realizar seus sonhos acaba se envolvendo em muitas aventuras ao lado de seus amigos.
 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Contra o Tempo

Um soldado americano acaba sendo selecionado para fazer parte de uma experiência envolvendo regresso no tempo / espaço. Algumas considerações iniciais: "Contra o Tempo" é um filme extremamente bem elaborado, pensado e construído. Ele lida com muitos temas que inclusive vão passar em branco para a maioria dos espectadores (como o conceito de universos paralelos) e o mais interessante de tudo, o filme só tem 8 minutos de duração. Isso mesmo, embora obviamente sua metragem não seja essa, o fato é que o filme se desenvolve apenas nesses oito minutos de trama. Claro que poderia ser bem cansativo assistir algo assim, nesse formato, mas o roteiro é tão bem desenvolvido que não ficamos aborrecidos, pelo contrário, o argumento realmente flui bem nesse aspecto. Além disso o manejo eficiente de conceitos físicos como tempo, espaço, universos paralelos, teoria do caos e relação causa e efeito são tão bem articulados que convidam o espectador a rever o filme várias vezes para que ele consiga penetrar em todas as nuances do intrigante argumento. Uma boa revisão naquele seu velho livro de física da escola também ajuda na compreensão do roteiro do filme.

Como conceito "Contra o Tempo" é muito bom e por incrível que pareça consegue ao mesmo tempo ser boa diversão. Algo que é bem raro para filmes assim, conceituais. Na minha forma de pensar o filme mesmo bem construído apresenta alguns furos de lógica. Não vou aqui desenvolver esses furos pois seria impossível delimitar eles sem entregar toda a estória - algo que não farei para não estragar o filme para quem ainda não viu. Mesmo assim, se ignorarmos esses pequenos deslizes racionais, teremos enfim um ótimo programa, inteligente, bem sacado e com final surpresa (e altamente científico, por mais incrível que isso possa parecer). Enfim, recomendo bastante e sugiro para quem gostar do filme que procure conhecer os novos campos de estudo da física moderna. Certamente muita coisa foi utilizada pelos roteiristas.

Contra o Tempo ((Source Code, Estados Unidos, 2011) Direção: Duncan Jones / Roteiro: Ben Ripley / Elenco: Jake Gyllenhaal, Michelle Monaghan, Vera Farmiga / Sinopse: Um soldado americano acaba sendo selecionado para fazer parte de uma experiência envolvendo regresso no tempo / espaço.

Pablo Aluísio.

O Retorno a Howard´s End

O Retorno a Howard´s End é mais um excelente drama de costumes dirigido por James Ivory, o mais britânico dos diretores americanos. Com elenco de primeira o filme retrata o complicado relacionamento de duas irmãs (Emma Thompson e Helena Bonham Carte) com um rico burguês da classe alta, interpretado pelo sempre ótimo Anthony Hopkins. No centro de tudo surge Howard´s End, uma casa tradicional familiar, disputada por todos. O interessante em "O Retorno a Howard´s End" é que apesar de Anthony Hopkins ser creditado como o ator principal - aparecendo em primeiro lugar nos créditos - seu papel não é em definitivo o central. Na realidade a principal personagem é interpretada por Emma Thompson em um papel complicado (uma solteirona que não tem papas na língua, falando pelos cotovelos que se casa com um rico dono de empresa). Em torno dela vários personagens curiosos desfilam: uma irmã também solteirona que não sabe muito bem o que quer da vida, um irmão tímido, de pouca presença e um pouco afeminado e um casal que ela mal consegue saber de quem se trata mas que será importante no desfecho da trama. Seu trabalho lhe valeu o merecido Oscar de Melhor atriz daquele ano.

Eu considero Howard´s End um bom filme da safra de James Ivory mas não o melhor. Ele fica bem abaixo de "Vestígios do Dia", esse sim uma obra prima. De qualquer forma a elegância da produção, o bom gosto dos figurinos, a excelente reconstituição de época (quem gosta de veículos antigos vai certamente apreciar os modelos que aparecem em cena) e a boa atuação dos atores mantém o filme em um excelente patamar de qualidade. O filme inclusive venceu na categoria de melhor direção de arte. O roteiro não tem a fluidez de "Vestígios do Dia" mas credito isso muito mais ao próprio livro em que foi inspirado (que por si só é bem minucioso, detalhista, com várias sub-tramas em seus capítulos). Trazer toda a riqueza da obra de E.M. Forster para as telas certamente não é uma tarefa das mais simples. O esforço do roteirista veio na premiação de melhor roteiro adaptado, um prêmio que em minha opinião não foi muito justo. De quialquer forma a produção em um contexto geral é realmente excelente, particularmente indicada para quem quer assistir uma elegante crônica sobre costumes ingleses no começo do século passado. Sutileza, charme e elegância não irão faltar, certamente.

O Retorno a Howard´s End (Howards End, Japão / Inglaterra, 1992) Direção: James Ivory / Roteiro: Ruth Prawer Jhabvala / Elenco: Anthony Hopkins, Emma Thompson, Vanessa Redgrave, Helena Bonham Carter, Joseph Bennett, Prunella Scales, Adrian Ross Magenty. / Sinopse: o filme retrata o complicado relacionamento de duas irmãs (Emma Thompson e Helena Bonham Carte) com um rico burguês da classe alta, interpretado pelo sempre ótimo Anthony Hopkins. No centro de tudo surge Howard´s End, uma casa de campo tradicional e familiar, almejada por todos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Busca Implacável

Bryan Mills (Liam Neeson) é um ex agente da CIA que tem sua filha sequestrada por um grupo de criminosos. Em busca dela ele acaba caçando os sequestradores pelo continente europeu, numa busca que beira à obsessão pessoal. "Taken" foi um projeto pensado e executado para transformar Liam Neeson em um novo herói dos filmes de ação. Aqui ele conta com um eficiente produto, de edição rápida, cortes ágeis e muita correria, perseguições e caçadas humanas. Bem ao gosto do público atual. Sua filha está nas mãos de uma quadrilha especializada em prostituição internacional, muito comum nos países do leste Europeu (República Tcheca, Hungria e Romênia). Curiosamente optou-se no filme pela França, muito provavelmente para aproveitar as belas locações de Paris. Eu pessoalmente achei um produto bem realizado, tecnicamente muito bem feito embora em termos de roteiro e argumento não traga nenhuma novidade. Liam Neeson se esforça mas não empolga. Sua carreira não foi projetada e nem começou para ser um ator de filmes de ação, sua participação aqui é uma tentativa apenas.

O filme foi dirigido pelo cineasta francês Pierre Morel. Eu não tenho boas referências sobre ele uma vez que dirigiu Carga Explosiva com Jason Statham. Eu considero esse filme simples ação pela ação sem nenhuma idéia dentro. O curioso é que apesar de ser bem modesto em termos artísticos acabou fazendo sucesso e virou franquia. Uma produção que também foi roteirizado por Luc Besson, conhecido diretor francês. Besson é uma figura interessante no cinema internacional. Ele geralmente posa de intelectual e participa de júris de festivais famosos mas parece gostar de fazer fortuna com filmes como esse "Taken" que ele obviamente não gosta muito de creditar a si mesmo. Em suma, "Busca Implacável" pode até funcionar se você estiver a fim de ver um filme como puro entretenimento escapista. Mais do que isso não encontrará aqui.

Busca Implacável (Taken, Estados Unidos, 2008) Direção: Pierre Morel / Roteiro: Luc Besson, Robert Mark Kamen / Elenco: Liam Neeson, Maggie Grace, Famke Janssen / Sinopse: Bryan Mills (Liam Neeson) é um ex agente da CIA que tem sua filha sequestrada por um grupo de criminosos. Em busca dela ele acaba caçando os sequestradores pelo continente europeu, numa busca que beira à obsessão pessoal.

Pablo Aluísio.

Speed Racer

Alguns filmes tinham tudo para dar certo! Orçamento milionário, elenco excelente, efeitos digitais dos mais modernos mas... curiosamente acabam virando literalmente um desastre. Esse é o caso desse Speed Racer, uma produção que foi muito aguardada e que todos tinham esperanças que seria uma ótima releitura do famoso personagem que fez a alegria dos mais jovens durante as décadas de 60 e  70. Infelizmente logo as esperanças se transformaram em desapontamento e decepção. É uma pena, Speed Racer é um dos personagens de cultura pop mais cativantes que existem. Criado por Tatsuo Yoshida, Speed Racer foi inspirado nos filmes de corrida estrelados por Elvis Presley na década de 60. A animação original chamada  Mach Go Go Go foi um enorme sucesso no Brasil e fazia a alegria da garotada da época. Todos os ingredientes já estavam na animação original: muita aventura, carros fantásticos (entre eles o inesquecível Mach 5) e uma galeria de excelentes personagens que gravitavam em torno de Speed. O problema é que os irmãos Wachowski (de Matrix) fizeram uma tremenda lambança nessa adaptação para o cinema.

O que era simples foi estragado pelo exagero visual dos diretores. Ao invés de filmar ótimas sequências de corrida com carros reais em pistas de verdade os cineastas optaram por realizar um delírio digital com jeito de videogame que acabou desagradando a todo mundo, dos antigos fãs da charmosa animação aos mais jovens que não curtiram o resultado. Ao custo de 120 milhões de dólares o filme não conseguiu recuperar seus custos de produção, mesmo com o uso massacrante de marketing pesado do estúdio. Até os excelentes Emile Hirsch e Susan Sarandon surgem perdidos em seus respectivos personagens. Pouca coisa se salva nessa produção muito equivocada para falar a verdade. O roteiro, muito mal escrito, consegue ser pior do que muitos dos episódios televisivos de Speed. Até o charme da relação entre Speed e o Corredor X se perde completamente. Enfim, um desastre que provavelmente matou o personagem nos cinemas por um longo tempo. Uma pena, o velho Speed certamente merecia algo muito melhor do que isso!

Speed Racer (Speed Racer, Estados Unidos, 2008) Direção: Andy Wachowski, Lana Wachowski / Roteiro: Andy Wachowski, Lana Wachowski baseado nos personagens criados por Tatsuo Yoshida / Elenco: Emile Hirsch, Nicholas Elia, Susan Sarandon, John Goodman, Christina Ricci, Matthew Fox / Sinopse: Speed Racer (Emile Hirsch) é um piloto de corridas que se envolverá em grandes aventuras ao lado de seus amigos, familiares e o misterioso Corredor X (Matthew Fox).

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O Código da Vinci

"O Código da Vinci" é certamente um dos mais curiosos produtos culturais surgidos nos últimos anos. A obra original de Dan Brown é um caldeirão de teorias da conspiração, história deturpadas, meias verdades, religião apócrifa e mil e uma coisas todas emboladas, tentando manter uma coesão mínima para que o leitor não se perca completamente. Nesse balaio de gatos são misturadas sem a menor cerimônia as biografias dos gênios Da Vinci e Newton, um suposto casamento de Jesus de Nazaré e Maria Madalena, sociedades secretas como o Priorado de Sião, Cavaleiros Templários e o diabo a quatro. Tudo isso tem um nome: pseudociência. Dan Brown na realidade não descobriu nada, não revelou nenhum segredo histórico e nem tampouco mostrou a verdadeira história de Jesus Cristo. Sua única grande habilidade é realmente dar uma falsa camada de respeitabilidade a um monte de bobagens sem nenhum fundamento. Por isso há duas formas de encarar sua obra: ou o leitor cai na lorota do escritor e acredita naquilo que lê e nesse caso estará fazendo papel de bobo ou então encara tudo como simples entretenimento escapista. Nessa última hipótese não há problema algum. É apenas uma estória divertida para passar o tempo.

O filme "O Código da Vinci" terminou não agradando nem os leitores de Dan Brown e nem os cinéfilos que nunca tinham lido uma linha escrita por ele. Foi uma produção muito criticada talvez porque se criou uma absurda expectativa sobre o filme. Como eu sempre gosto de dizer nem tudo que funciona na literatura dá certo nas telas. Algumas obras inclusive são impossíveis de adaptar com êxito. "O Código da Vinci" nesse aspecto até que não é um desafio insuperável. A adaptação é correta, burocrática certamente, mas no final não havia mais nada além do que aquilo que se vê em cena para se levar aos cinemas. A própria obra de Dan Brown é um tipo de Pulp Fiction mais sofisticado mas que nunca deixa de ser em essência uma tremenda pseudociência, bem bolada, bem arquitetada mas que não consegue ser mais do que uma grande bobagem no final das contas. O filme, como não poderia deixar de ser, teve uma bilheteria monstruosa, de quase 1 bilhão de dólares o que mostra a força do livro, um best seller. Não há nada de errado em assistir e até mesmo gostar do filme, só não se deve encarar  toda aquela salada como verdade - porque definitivamente não é. O elenco é liderado por Tom  Hanks, com um dos cortes de cabelo mais bizarros do cinema. Sua atuação não é grande coisa, também o personagem não abre muito espaço para isso. Já a direção de Ron Howard surge pesada, burocrática, quadrada, sem ousadia. O resultado final definitivamente não foi nada memorável.

O Código da Vinci (The Da Vinci Code, Estados Unidos, 2006) Direção: Ron Howard / Roteiro: Akiva Goldsman, baseado no livro de Dan Brown / Elenco: Tom Hanks, Ian McKellen, Alfred Molina, Jean Reno, Audrey Tautou, Paul Bettany. / Sinopse: Robert Langdon (Tom Hanks) é um conceituado professor especializado em símbolos históricos que se vê envolvido numa intrigada rede de conspirações onde o que parece ser uma sociedade secreta faz de tudo para encobrir uma terrível verdade da história.

Pablo Aluísio.

Você Não Conhece Jack

Jack Kevorkian (Al Pacino) é um médico defensor da chamada morte assistida. Pessoas com doenças incuráveis teriam direito a finalizar suas próprias vidas sem dor e nem sofrimento com o auxílio de um médico ao lado. O filme mostra a luta do médico pela legalização desse procedimento de atendimento a pacientes terminais. "Você Não Conhece Jack" já nasceu polêmico por causa de seu personagem principal que acabou ficando conhecido como o "Dr Morte". O filme é muito bom e a interpretação do Pacino mereceu todos os prêmios. O alto nível de interpretação porém não se restringe somente a ele. Susan Sarandon também tem uma participação muito digna, trazendo muita humanidade a uma personagem que até poderia ter sido mais bem explorada. Ela sempre foi uma liberal em defesa de causas sociais semelhantes e não me admira em nada estar no elenco dessa produção. Danny Huston que interpreta o advogado também se sobressai, embora em alguns momentos fique caricato. Em termos técnicos repito: o filme é muito bom, acima da média. A HBO mantém seu alto padrão de qualidade. Embora seja um telefilme tenho certeza que se fosse lançado no cinema ninguém notaria a diferença, tal sua qualidade.

Já sobre Jack Kevorkian, o "Dr Morte" sua atuação desperta admiração e ódio em doses semelhantes. Alguns acreditam ser bastante válida sua visão enquanto outros simplesmente abominam esse procedimento que no fundo não passaria de um suicídio assistido por um profissional de saúde. A chamada "Máquina de suicídio" realmente me pareceu algo fora dos padrões da razoabilidade. Em alguns países, inclusive o Brasil, o induzimento e auxílio ao suicídio é crime previsto no código penal. Nos EUA os grupos religiosos nunca aceitaram os métodos do médico e por isso ele foi processado até o fim de seus dias. O médico morreu ano passado sem conseguir legalizar o seu invento e o debate continua principalmente envolvendo familiares de pacientes terminais em confronto com grupos religiosos e de apoio à vida! O assunto pelo visto vai longe ainda. De qualquer forma o filme serve como belo documento de suas idéias, para o bem ou para o mal.

Você Não Conhece Jack (You Don't Know Jack, Estados Unidos, 2010) Direção: Barry Levinson / Roteiro: Adam Mazer / Elenco: Al Pacino, Brenda Vaccaro, John Goodman. Susan Sarandon, Danny Huston / Sinopse: Jack Kevorkian (Al Pacino) é um médico defensor da chamada morte assistida. Pessoas com doenças incuráveis teriam direito a finalizar suas próprias vidas sem dor e nem sofrimento com o auxílio de um médico ao lado. O filme mostra a luta do médico pela legalização desse procedimento de atendimento a pacientes terminais.

Pablo Aluísio.

domingo, 22 de abril de 2012

SWAT - Comando Especial

A série SWAT durou apenas duas temporadas - de fevereiro de 1975 a abril de 1976. No total só foram produzidos 37 episódios. Mesmo não tendo vida longa na TV americana a série ganhou muitos fãs que ao longo dos anos sempre se recordaram dela, principalmente de seu tema marcante que até hoje é bem familiar dos admiradores de seriados em geral. Como Hollywood vive uma fase de reciclagem resolveram ressuscitar o projeto. Com nova roupagem, elenco e direção, SWAT tentava se aproveitar da fama da obra original. Com custo generoso de 70 milhões de dólares a intenção do estúdio era inaugurar uma nova franquia de sucesso nas telas. Infelizmente as coisas não deram muito certo. O filme mal se pagou e o sonho de lucrar muito em um novo blockbuster foi por água abaixo. O que afinal deu errado? Em primeiro lugar SWAT tem um formato mais adequado para séries mesmo. São muitos personagens, é necessário tempo para contar a história pessoal de cada policial para assim criar identidade com o público. Em um filme, por mais longa que seja sua duração, não há tempo suficiente para isso. Além desse problema de estrutura outra coisa que pesou muito contra SWAT foi o tempo transcorrido desde o fim da série na TV. Isso foi em 1976, o público jovem que frequenta as salas de cinema certamente nem sabia da existência da série original.

O elenco dessa nova versão de SWAT não se empenha muito. Colin Farrell é o principal nome entre os atores. Na época os estúdios estavam querendo transformar o ator em uma nova estrela. Não deu certo. Ele não conseguiu atrair público para esse SWAT assim como não atraiu para Alexandre, o Grande e nem para Miami Vice (outro remake de série televisiva). Definitivamente virar astro de primeira grandeza não é com ele, pois não tem vocação nenhuma para isso. O que acaba salvando o filme no quesito atuação é a presença bem humorada e inspirada de Samuel L. Jackson. Ele não parece estar levando nada à sério mas é justamente essa postura, essa presença de espírito que traz uma alma ao filme como um todo.  Michelle Rodriguez, a musa lésbica de Hollywood, é outra participação que faz diferença. Eu poderia encerrar essa resenha recomendando SWAT para os fãs do seriado original mas não o farei. São produtos tão diferentes em suas propostas que no final o que temos mesmo é apenas o uso comercial do nome da série no filme como chamariz de bilheterias. Melhor conhecer (ou rever) o seriado policial original da década de 70 - provavelmente será bem mais divertido. 

SWAT - Comando Especial (S.W.A.T., Estados Unidos, 2003) Direção: Clark Johnson / Roteiro: David Ayer, David McKenna / Elenco: Samuel L. Jackson, Colin Farrell, LL Cool J., Michelle Rodriguez, Josh Charles, Jeremy Renner. /  Sinopse: Grupo especial das forças policiais americanas enfrenta o crime organizado. Remake da série televisiva SWAT da década de 1970 que no Brasil foi exibida pela Rede Globo.

Pablo Aluísio.