domingo, 14 de fevereiro de 2010

Anticristo

O filme "Antichrist" do diretor Lars Von Trier não é indicado para todos os tipos de público, muito pelo contrário. Na realidade poucas pessoas irão compreender na totalidade todas as nuances e subtextos inclusos nele durante sua projeção. A maior prova disso aconteceu justamente em Cannes quando o diretor acabou se aborrecendo com as perguntas dos jornalistas sobre qual seria o verdadeiro significado desse filme. Ora, este é o tipo de produto cinematográfico que não é para ser explicado para a coletividade como um todo e sim compreendido por cada um à sua própria maneira, da forma que melhor lhe couber. Explicar ou tentar explicitar as verdadeiras razões do filme seria tirar pelo menos metade de seu conteúdo e fascínio. Antichrist não é para ser explicado ou entendido, ao invés de levantar respostas ele serve justamente para o oposto disso, ou seja, formular ainda mais dúvidas em quem o assiste.

O argumento em si pode soar banal para alguns. Um casal sofre a perda de seu único filho, que cai da janela de seu apartamento. Após essa tragédia o casal resolve se refugiar em um bosque, numa casa isolada, para tentar superar o trauma da perda da criança. Assim durante praticamente todo o filme só temos dois personagens em cena, justamente a esposa e seu marido, cujos os nomes em nenhum momento são citados. Simplesmente são identificados como "ele" e "ela". Willem Dafoe, como o marido, está muito bem. Como terapeuta ele tenta ajudar a esposa na dura batalha de superação da morte do filho. O grande destaque porém em termos de interpretação fica com a excelente e talentosa atriz francesa Charlotte Gainsbourg. Seu trabalho no filme é digno de aplausos, pois a personagem principal em crise exige uma entrega ao papel fora do comum. Ela está perfeita em cena, a série de emoções que tem que passar ao público demonstra que estamos realmente na presença de uma atriz acima da média.

Apesar do título, Antichrist não é nem de longe um filme de terror ou algo semelhante. Na realidade a violência, a angústia e o desespero são retratados de forma intimista, bem mais interior. O diretor confessou em entrevista que concebeu o filme quando estava passando por uma série crise de depressão. No caso notamos isso em cada minuto de projeção. O filme é tenso, soturno e sombrio. O cenário, dentro da floresta, deixa tudo ainda mais depressivo. O uso de cenas fortes (inclusive breves momentos de sexo e violência explicitas) deixam claro que o filme não é, em nenhum momento, um passatempo agradável ou de fácil assimilação. Os subtextos sobre o jardim do Éden, do casal isolado na floresta, do filho com defeitos congênitos (seria ele o anticristo realmente?), da força da natureza, tudo nos leva à reflexão após o assistir. Em dias atuais, onde o cinema está cada vez mais pipoca e juvenil do que nunca, isso não é pouca coisa. Que venham outros brilhantes trabalhos de Lars Von Trier, os cinéfilos agradecem. Afinal de contas o caos reina!

Anticristo (Antichrist, Suécia, Polônia, Alemanha, França, Itália, Dinamarca, 2009) Direção: Lars von Trier / Roteiro: Lars von Trier / Elenco: Willem Dafoe, Charlotte Gainsbourg, Storm Acheche / Sinopse: Após a morte de seu único filho um casal se isola em uma floresta distante para repensar e superar o trauma e o choque da perda. O isolamento do local porém dá margem ao surgimento dos instintos mais básicos e violentos do ser humano.

Pablo Aluísio.

Scarface

Al Pacino é um dos grandes atores do século. Disso tenho certeza poucas pessoas ainda tem dúvidas. Recentemente assisti um filme dele que me deixou bastante desapontado. Intitulado 88 minutos, o filme é um completo equívoco. Roteiro fraco, situações clichês e o pior: um Pacino atuando no piloto automático. Muito longe dos seus dias de glória quando apresentava atuações tão brilhantes que salvavam até mesmo filmes medianos ou com certos problemas de script e argumento. Um desses filmes que foram salvos completamente pelo talento de Pacino foi o (agora) clássico "Scarface", dirigido por Brian De Palma. Uma refilmagem atualizada de "Scarface, a Vergonha de uma Nação", filmado na década de 30 e que acabou sendo o grande precursor dos chamados filmes de Gangsters. Nessa nova versão o então roteirista Oliver Stone mudou completamente o foco do filme, tirando o cenário de uma Chicago empoeirada dos anos de ouro de Capone para uma Flórida ensolarada, atual e cheia de imigrantes provenientes de Cuba.

Entre esses cubanos que saíram da ilha de Fidel Castro está justamente Tony Montana, o personagem de Pacino. Com ficha criminal ele é praticamente banido pelo governo cubano para ir como refugiado aos EUA. Obviamente uma estratégia dos comunistas para expulsar a escória da sociedade cubana, visando justamente transferir o problema para os "irmãos" ianques. Como todo imigrante que chega na América seu grande sonho é aproveitar as oportunidades que a sociedade capitalista lhe oferece para subir na vida rapidamente. Porém como um cubano sem instrução formal e sem formação profissional tudo o que lhe resta é tentar subir no escalão das organizações criminosas, participando do submundo do tráfico de drogas.

Scarface não envelheceu muito. Seu roteiro é bem escrito e com situações bem armadas. Tem boa produção e conta com a sempre inspirada direção de Brian De Palma, aqui prestes a entrar na melhor fase de sua carreira, que iria se prolongar por toda a década de 80 e que culminaria na obra prima "Os Intocáveis", seguramente um dos melhores filmes sobre a era dos grandes gangsters já realizados. No elenco duas presenças de peso: Al Pacino e Michele Pfeiffer. Ele, ainda está esbanjando juventude, recém saído de uma década brilhante de sucessos nos anos 70 e prestes a afundar na pior fase de sua carreira, com o super fracasso "Revolução" e ela, mais bela do que nunca, esbanjando charme e sofisticação.

Embora seja excessivamente longo, pois a estória poderia muito bem ser contada em duas horas, o filme resistiu bem ao tempo e deixou várias referências aos filmes que viriam. Basta assistir "Cassino", por exemplo, de Scorsese para verificar como "Scarface" fez escola (A personagem de Sharon Stone em Cassino é praticamente a mesma de Pfeiffer em Scarface, só mudando levemente de enfoque). Embora para muitos o final de "Scarface" soe hoje demasiadamente exagerado e kitsch, a mais pura verdade é que tudo aquilo que acontece condiz certamente com a personalidade e a trajetória do personagem de Tony. Quem viveu de excessos só poderia encontrar seu final daquela forma. Em suma, se por acaso você gosta do gênero ao estilo "Os Bons Companheiros", "Cassino" ou até mesmo "Os Intocáveis", "Scarface" é mais do que bem recomendado.

Pablo Aluísio.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Inimigos Públicos

Michael Mann volta a acertar a mão na cinebiografia do lendário criminoso John Dillinger. Talvez seu grande mérito tenha sido contar a história real do Gangster sem muitas liberdades criativas, o que certamente estragou um pouco a outra biografia que tinha dirigido antes, "Ali" com Will Smith. O roteiro do filme é simples e conta parte da vida do famoso bandido, desde o momento em que consegue fugir de um presidio de segurança máxima após cumprir dez longos anos de pena até a noite em que encontrou seu trágico fim nas mãos dos agentes do FBI. Entre esses dois pontos cruciais do filme o espectador é apresentado a vários dos arrojados assaltos feitos por Dillinger e sua gangue durante a grande depressão que arrasava a economia dos EUA naqueles anos. O filme não é tão movimentado como alguns possam pensar, só existem duas grandes cenas de ação durante as mais de duas horas de duração. Não esperem por isso uma chuva de balas em cada cena, pois o diretor foi bem sucedido em tomar outra direção ao mostrar, mesmo que de forma rápida e sem muita profundidade, aspectos da vida pessoal do personagem, dando destaque para o romance de Dillinger com Billie, o grande amor de sua vida.

No elenco dois nomes se destacam: Johnny Deep como John Dillinger está, como sempre, ótimo, mas aqui um pouco mais contido do que o normal. Não há a menor sombra de exageros como seus outros personagens mais famosos como em Piratas do Caribe ou A Fantástica Fábrica de Chocolate. Ele faz um Dillinger bem mais soturno e realista, um bandido que vive o presente pois sabe que na vida que leva não terá um futuro. Já Christian Bale no papel do principal agente na caçada de Dillinger, Melvin Purvis, não consegue empolgar em nenhum momento. Para falar a verdade o ator repete o problema de Exterminador do Futuro 4, quando sua falta de carisma atrapalha o desenvolvimento de seus personagens. Mesmo fazendo o papel do homem da lei sua atuação não empolga e é apática.De qualquer maneira esse é o tipo de filme obrigatório nesse ano para quem gosta de cinema. Provavelmente ganhará algumas indicações ao Oscar na próxima premiação, pois sem dúvida é um filme feito para brilhar na noite de entrega dos prêmios da Academia. A produção é de luxo e sua estréia nos EUA já demonstra que será um grande sucesso de bilheteria.

Inimigos Públicos (Public Enemy, EUA, 2009) / Direção: Michael Mann / Elenco: Johnny Depp, Christian Bale, Marion Cotillard, Giovanni Ribisi, Channing Tatum, Stephen Dorff, David Wenham, Stephen Graham. / Sinopse: Durante a grande depressão nos anos 30, o FBI forma uma equipe especial para caçar o bando de assaltantes liderados por John Dillinger. Eleito o inimigo número 1 dos EUA todos os esforços são concentrados para colocar o criminoso atrás das grades.

Pablo Aluísio.

A Onda

Hoje em dia está tão complicado assistir bons filmes que quando encontramos algo realmente interessante logo nos empolgamos. Ultimamente tenho me dedicado a assistir muitos clássicos do passado e só de vez em quando procuro me atualizar sobre os filmes atuais. Uma boa surpresa dessa nova safra que está chegando em DVD agora no Brasil é justamente "A Onda", filme alemão extremamente interessante que levanta várias questões de relevância sobre a natureza do ser humano. O roteiro parte de uma premissa interessante: tentando atrair a atenção de seus alunos um professor resolve colocar em prática as aulas sobre "autocracia" que está lecionando. Para isso impõe para a sua classe todos os princípios e diretrizes que formam esse tipo de sistema ditatorial de Estado. Conceitos como disciplina, nacionalismo e ordem saem das páginas dos livros para se tornar parte do cotidiano de cada um dos alunos.

O problema é que embora utilizasse as bases da autocracia para que todos desenvolvessem um espírito crítico sobre o tema o tiro acaba saindo pela culatra e os jovens que formam seu alunado acabam tomando gosto pela coisa toda e invertem completamente seus valores, abraçando as ideias que deveriam criticar durante o curso que frequentam. "A Onda" é interessante pois demonstra que apesar de todas as lutas e todas as batalhas travadas contra regimes ditatoriais e fascistas ainda resiste no espírito humano as sementes que fizeram germinar coisas como o Nacional Socialismo (Nazismo) e o próprio Fascismo italiano. Como é brilhantemente exposto pelo professor tudo o que se precisa para que regimes autoritários voltem à ordem do dia é uma crise, um líder carismático, palavras de ordem, símbolos e uma ideologia de intolerância para que tudo volte a tomar forma.

"A Onda" demonstra como é fácil moldar e formar a mentalidade das pessoas mais jovens, bastando para isso reforçar a identidade do grupo e o espírito de união. Como o final trágico demonstra em pouco tempo a personalidade pessoal e individual é anulada em favor do grupo, do pensamento coletivo, por mais absurdas e obtusas que sejam as ideias que dão base a todo tipo de ideologia de força. Um filme que nos faz pensar sobre a atual conjuntura mundial, pois estamos vivendo atualmente um momento de crise econômica mundial, muito próxima do contexto histórico que fez com que homens como Adolf Hitler subissem ao poder supremo em seus respectivos países.

E por falar em ditaduras históricas: um dos fatos mais relevantes desse filme em particular é que ele foi inteiramente rodado na Alemanha atual. Maior simbolismo do que esse não há. O país que levou o mundo à II Grande Guerra enfrenta seu passado de peito aberto e com extrema sinceridade em um tema extremamente melindroso e perigoso. A grande lição que temos sobre o filme a "A Onda" é justamente esse. Se para muitos os fantasmas do nazismo e do fascismo estão inteiramente soterrados para outros nunca se deve baixar a guarda, pois a qualquer momento esse tipo de ideologia pode despertar e ganhar terreno rapidamente, principalmente entre os mais jovens. A natureza do ser humano jamais pode ser subestimada, tanto para o lado do mal como para o lado do bem. Assista "A Onda" e tire suas próprias conclusões.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Bastardos Inglórios

Bastardos Inglórios é o novo filme do cineasta Quentin Tarantino. Como sempre acontece em seus filmes, Tarantino inverte a lógica dos gêneros nos quais se envolve e procura produzir algo original e único. É justamente o que acontece aqui. Embora o filme não fuja de muitos clichês dos clássicos filmes de guerra o diretor procura deixar sua marca registrada em cada minuto de exibição da película. Assim embora os vilões do filme sejam naturalmente (como sempre) soldados e oficiais alemães sem alma e piedade, um toque singular de seu roteiro procura trazer sempre algo de novo nessas velhas caracterizações.

E é justamente na figura do Coronel nazista Hans Landa (brilhantemente interpretado por Christoph Waltz) que se encontra o melhor de todo o filme. Hans Landa traz todas as características que eram valorizadas nas fileiras da SS. Embora sádico e impiedoso ao extremo, era possuidor também de uma finesse e gentileza típicos das melhores famílias prussianas. Com encanto pessoal e charme promovia as maiores atrocidades e barbaridades em nome do Reich mas sem jamais perder a postura e elegância tanto valorizada nas fileiras dos principais oficiais do comando alemão. A atuação do ator Christoph Waltz, desconhecido do grande público, é certamente, como já escrevi antes, brilhante e digna de aplausos. Como Tarantino procurou valorizar as cenas em que há longos diálogos, a presença de excelentes atores como Waltz praticamente segura boa parte do filme como um todo, sua interpretação prende a atenção do espectador e em nenhum momento ficamos cansados ou entediados nos duelos travados nas cenas mais vitais do filme.

Embora esse seja o ponto forte de Bastardos Inglórios, ele também tem sua dose de problemas. Os principais são os equívocos históricos cometidos. Claro que um diretor como Tarantino ao se deparar com material envolvendo a II Guerra Mundial não cometeria tantos pecados históricos se não fosse proposital. Mas mesmo agindo assim, conscientemente, temos que nos ater pelo menos aos fatos históricos mais notórios. A forma como Tarantino trata a figura histórica de Adolf Hitler é simplesmente caricatural e boba. Depois que brilhantes filmes sobre o líder nazista foram lançados, como a "A Queda", por exemplo, fica complicado aceitar uma visão tão superficial e ultrapassada como a que o diretor tenta nos passar. Para piorar o caldo desanda de uma vez nos minutos finais do filme, deixando decepcionado quem pretendia assistir um filme sério de guerra. Muitos irão se perguntar nessa hora: Então tudo não passava de uma bobagem?!

Para finalizar temos Brad Pitt. Bom, a participação do ator, a despeito do uso massivo de sua imagem nos posters e na publicidade do filme, não passa de coadjuvante. Pitt, embora importante para o desenvolvimento da estória e do roteiro, aparece pouco, em momentos pontuais. Os bastardos, grupo que dá nome ao filme e do qual o personagem de Brad faz parte, também não chega a dominar a trama em nenhum momento. Embora esteja creditado como o ator principal e estrela, Pitt é totalmente ofuscado por outros atores, em especial Christoph Waltz. Nas cenas que compartilham juntos podemos notar bem a diferença do nível de atuação, pois não há como negar que em sua presença Pitt simplesmente desaparece. Enfim, como diversão ligeira Bastardos Inglórios cumpre sua função, como retrato histórico é um desastre, e como meio de promoção de seu astro principal é apenas tímido.

Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, Estados Unidos, 2009) Direção: Quentin Tarantino / Roteiro: Quentin Tarantino / Elenco: :Brad Pitt, Christoph Waltz, Mélanie Laurent, Diane Kruger, Eli Roth, Michael Fassbender / Sinopse: Na França ocupada pelos Nazistas durante a II Guerra Mundial um grupo de soldados americanos e judeus são designados para caçar e matar o maior número de alemães possível.

Pablo Aluísio.

Distrito 9

No meio do lugar comum que impera em Hollywood atualmente, Distrito 9 é uma pequena amostra de que um pouco de originalidade não faz mal nenhum, principalmente para quem deseja assistir algo diferente. O filme, que só saiu após o projeto de Halo de Peter Jackson ser cancelado pela produtora, inova em vários aspectos e trata o tema Aliens de forma bem diferente. Com ares de filme independente Distrito 9 tenta mostrar da forma mais realista possível o que aconteceria se uma nave extraterrestre chegasse à terra com uma população de alienígenas. Longe de ser uma ameaça esses ETs nada mais seriam do que verdadeiros refugiados acolhidos pelo governo da África do Sul. O roteiro, por mais estranho que possa parecer, começa de forma interessante mas infelizmente logo se perde em soluções fáceis, tipicamente Hollywoodianas.

No começo o tom adotado é de um reality show que acompanha um simples funcionário público na tarefa de retirar grande parte da população de extraterrestres de uma área de isolamento chamada Distrito 9. O filme se desenvolve até bem nesse ponto. O espectador inclusive vai demorar um pouco para se situar no começo frenético do filme. O personagem principal não é nenhum pouco atraente, mais parecendo aquele ator da série The Office. Chato e terrivelmente convencional vamos sendo apresentados a ele, bem no meio de preparativos para a tal evacuação do Distrito 9 (tudo transformado agora em uma grande favela terceiro mundista). O problema do filme reside justamente no segundo ato do filme. Se no começo tínhamos um ponto de partida original, no desenrolar dos acontecimentos vamos sucessivamente perdendo as esperanças pois os clichês vão se amontoando aos montes, um atrás do outro. Não falta, por exemplo, a eterna perseguição "gato e rato" típica dos filmes de Hollywood, a luta para conseguir o antídoto que salvará o mocinho, as más intenções do governo americano, os interesses bélicos das grandes corporações, as explosões e tiros e, claro, os africanos do terceiro mundo, malvados, armados até os dentes e que só servem mesmo para traficarem drogas.

Nesse ponto o filme desanda. O próprio governo da Nigéria barrou a entrada do filme em seu país e em nota explicou a medida: "O filme ilustra os nigerianos como gangsters e canibais. Além disso mostra mulheres nigerianas mantendo relações sexuais com não humanos. Também diz que os nigerianos se alimentam de carne humana e acreditam em rituais mágicos e no vodu". Realmente tenho que concordar que a forma como são retratados os cidadãos nigerianos (e de países pobres da África) é realmente assustadoramente preconceituosa e maniqueísta. A impressão que deixou foi que apesar dos esforços do diretor estreante Neill Blomkamp em fazer algo novo, a força do estúdio falou mais alto e seu produtor Peter Jackson, sem poder contar com seus orcs de plantão, resolveu transferir esse papel para os africanos de uma forma em geral. Mas exagerou na dose de preconceito. Enfim o filme nada mais é do uma boa idéia que ficou pelo meio do caminho.

Distrito 9 (District 9, Estados Unidos, 2009) Direção: Neill Blomkamp / Roteiro: Neill Blomkamp, Terri Tatchell / Elenco: Sharlto Copley, David James, Jason Cope / Sinopse: ETs são restritos a um gueto na terra aonde são rigidamente controlados por autoridades da terra.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Deixa Ela Entrar

Essa pequena obra prima é uma das gratas surpresas do ano nas telas de cinema do Brasil. "Deixa Ela Entrar" tem todo os ingredientes que vão agradar aos fãs de terror, além dos que gostam de bom cinema de uma forma em geral. Baseado em um livro de sucesso do escritor John Lindqvist o filme tem um desenvolvimento único e cativante, que prende a atenção do espectador desde o primeiro momento. Como o filme é sueco ficamos salvos dos velhos clichês que imperam nos filmes de vampiro provenientes de Hollywood. Não há profusão de sangue e nem de efeitos especiais, tudo é realizado e mostrado de forma sutil e delicada, com cadência, o que exalta ainda mais as virtudes do roteiro inteligente e bem escrito. 

 O argumento em si é simples. Logo no começo do filme somos apresentados à tediosa rotina de vida do garotinho Oskar (Kare Hedebrant). Ele vive em um conjunto habitacional de prédios em sua cidade na Suécia. De dia frequenta o colégio, onde logo vira alvo de bullying de alguns garotos de sua classe. Solitário e sem amigos uma noite ele encontra uma garotinha de 12 anos chamada Eli (Lina Leandersson) no pátio em frente ao local onde mora. Logo nasce uma bela amizade entre os dois. Ao mesmo tempo a pequena cidade onde vive vira inexplicavelmente palco de inúmeras mortes de moradores locais, embora isso pareça ter pouca importância para Oskar nos divertidos momentos em que passa ao lado de sua amiguinha. O que ele provavelmente nem desconfie é que ambas as situações tem ligação entre si.

O filme tem um roteiro extremamente impactante. Em tempos de moda, o vampirismo ganha uma nova conotação e um novo enfoque, completamente originais. Curiosamente os produtores suavizaram um pouco o teor do livro original que é bem mais pesado e mais enigmático. Flashbacks que explicam a história de Eli foram completamente omitidos em prol de uma maior leveza no desenvolvimento da trama. Outro aspecto que foi mudado foi o próprio sexo de Eli. No original se tratava de um garoto, andrógino ao extremo, que acaba se envolvendo com Oskar, mas a direção do filme resolveu dar características femininas ao personagem principal para não chocar o público. 

Além disso o homem que auxilia Eli no filme não tem sua origem explicada. Já no livro o papel desse companheiro é bem claro: se trata de um pedófilo que havia tentado violentar Eli no passado e que agora lhe serve como escravo. Nenhuma dessas mudanças porém comprometem em absoluto as qualidades desse filme. "Deixa ela entrar" é inovador, original e traz um sopro de qualidade ao tão batido tema dos filmes de vampiros. Em tempos de Crepúsculo e outras bobagens é sempre bom assistir um filme que respeite a longa tradição dos sugadores de sangue da noite, mesmo que no final, temos que admitir, essa herança tenha sido salva justamente por uma garotinha pré adolescente. Em tempo: já está acertado o remake do filme em Hollywood. Só nos resta rezar para que tudo não seja destruído nas mãos dos produtores americanos.

Deixa Ela Entrar (Låt den rätte komma in, Suécia, 2008) Direção: Tomas Alfredson / Roteiro: John Ajvide Lindqvist, John Ajvide Lindqvist / Elenco: Kåre Hedebrant, Lina Leandersson, Per Ragnar / Sinopse: Garotinho de nome Oskar (Kåre Hedebrant) sofre bullying escolar mas encontra apoio em sua nova vizinha, a garota Eli (Lina Leandersson)

Pablo Aluísio.

O Segredo do Abismo

Título no Brasil: O Segredo do Abismo
Título Original: The Abyss
Ano de Produção: 1989
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: James Cameron
Roteiro: James Cameron
Elenco: Ed Harris, Mary Elizabeth Mastrantonio, Michael Biehn

Sinopse:
Equipe formada por mergulhadores, exploradores e cientistas é contratada para descer até as profundezas do oceano com o objetivo de resgatar um submarino nuclear desaparecido. Uma vez na fossa oceânica descobrem que há no local uma estranha presença de seres desconhecidos da ciência. Intrigados tentarão levar o resgate até o final, embora sejam surpreendidos pela natureza daquelas entidades alienígenas. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais. 

Comentários:
Analisando de um ponto de vista bem imparcial já podemos encontrar nessa ficção "The Abyss" todos os pontos positivos e negativos que iriam acompanhar James Cameron em toda a sua carreira. Entre os pontos positivos podemos citar o uso de tecnologia de ponta em termos de efeitos especiais. Aqui nessa produção James Cameron já antecipava o que viria a mostrar em "O Exterminador do Futuro 2", ou seja, criaturas que mais parecem fluidos sem definição. Nesse aspecto não há como negar que o filme seja extremamente bem realizado, até mesmo se levarmos em conta o padrão atual da tecnologia digital usada no cinema americano. Por outro lado temos também os velhos erros que sempre acompanharam Cameron desde o começo de sua filmografia, sendo o mais visível deles o próprio roteiro escrito pelo diretor. Os personagens são vazios e as situações bem clichês. James Cameron pode até ser um bom coordenador de equipes especializadas em efeitos especiais, mas como diretor de elenco e escritor de roteiros ele deixa mesmo a desejar. Assim se você estiver em busca de um filme que exponha o lado bom e ruim de Cameron, "O Segredo do Abismo" é sem dúvida uma boa pedida.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Missão Impossível: Protocolo Fantasma

Não é de hoje que acompanho a carreira do ator Tom Cruise, pelo contrário. Desde 1985 quando assisti seu primeiro grande sucesso nos cinemas, "Top Gun - Ases Indomáveis" venho assistindo sempre seus filmes. Cruise é um dos astros de Hollywood que posso afirmar ter visto a filmografia completa, do primeiro ao último filme que ele fez. Apesar disso não me considero fã ou algo assim. Na verdade ele chegou ao estrelado com blockbusters até banais (como "Top Gun", "Dias de Trovão", "Cocktail" etc) mas logo depois começou a surpreender participando de filmes realmente muito bons ("A Cor do Dinheiro", "Rain Man" e principalmente "Nascido em 4 de Julho"). Parecia que fugia do rótulo de galã de filmes vazios. O que seria uma guinada na carreira porém parou repentinamente com essa franquia "Missão Impossível". O sucesso desses filmes levou Cruise de volta para os arrasa quarteirões sem conteúdo. Uma pena. Eu pessoalmente sempre achei esses filmes muito fracos, até porque a própria série televisiva que lhe deu origem nada mais era do que uma cópia das aventuras de James Bond no cinema. Se até os filmes de Bond não são muito adultos imaginem a cópia deles. Claro que quando "Missão Impossível" foi para o cinema deram uma recauchutada completa em sua concepção mas mesmo assim continuou a ser muito tolo e infantil. Há ótima produção, cenas muito bem realizadas, parafernálias tecnológicas de todos os tipos e toda a pirotecnia que você queira. O problema é que também pára por aí. Os filmes MI não possuem tramas mais bem elaboradas que fujam do chiclete, é tudo muito oco, vazio.

Esse "Missão Impossível 4" segue a mesma trilha dos anteriores. Novamente há cenas de impacto como Cruise "escalando" um enorme edifício em Dubai ou então sua perseguição no meio de uma tempestade de areia. Tudo muito bem produzido e realizado não há como negar. As bugigangas da tecnologia de última geração também estão lá. Seu personagem também tem que salvar o mundo no último segundo... enfim, nada de novo no front. Esse enredo de espião tentando salvar o planeta de uma guerra nuclear causada por um megalomaníaco é a base de praticamente todos os filmes de James Bond da década de 1960. Se já não era original há 50 anos imagine agora! Qual afinal é a novidade disso? Nenhuma. Curiosamente o público não parece se importar pelo fato do filme ser no fundo mais do mesmo e lotou as salas. De fato MI4 foi o sucesso que Cruise tanto aguardava. Desde que foi despedido da Paramount ele não conseguia um grande sucesso de bilheteria então o êxito do filme veio como tábua de salvação. Bom pra ele já que a idade finalmente está chegando e o antigo galã de sorriso largo está demonstrando sinais na tela de que o tempo realmente chegou para ele. Em conclusão MI4 é isso, uma variação dos filmes de James Bond e praticamente uma cópia dos filmes anteriores da franquia. Se você gosta desse tipo de filme, bon appetit!

Missão: Impossível - Protocolo Fantasma (Mission: Impossible - Ghost Protocol, Estados Unidos, 2012) Direção: Brad Bird / Roteiro: Josh Appelbaum, André Nemec / Elenco: Tom Cruise, Jeremy Renner, Simon Pegg / Sinopse: Terrorista rouba arma nuclear russa. Uma equipe de agentes especiais são então designados na missão de recuperar a arma roubada além de impedir que ele use os códigos necessários para seu uso.

Pablo Aluísio.

Desbravadores

Título no Brasil: Desbravadores
Título Original: Pathfinder
Ano de Produção: 2007
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Marcus Nispel
Roteiro: Laeta Kalogridis, Nils Gaup
Elenco: Karl Urban, Clancy Brown, Moon Bloodgood

Sinopse:
Durante um ataque Viking na costa americana, durante o período pré-colombiano, uma criança da expedição é deixada para trás após o naufrágio de um dos barcos nórdicos. Ela acaba sendo salva e criada pela tribo dos Wampanoag, índios nativos da região. Os anos passam e quinze anos mais tarde uma nova invasão Viking chega no local. Agora o jovem Ghost (Karl Urban) precisa se decidir em qual lado da batalha ficará.

Comentários:
Durante muitos anos a arqueologia desconfiou que outros europeus estiveram nas costas da América do Norte antes da chegada de Cristovão Colombo. Essa teoria adveio do encontro de achados arqueológicos de povos Vikings encontrados na costa dos Estados Unidos datando de séculos atrás. A ideia de ver Vikings em solo americano brigando com nativos indígenas era boa demais para o cinema ignorar. Assim nasceu esse "Desbravadores". Obviamente não vá esperando por nada muito preciso do ponto de vista histórico. O que está valendo aqui é realmente a batalha entre índios americanos que viviam nas regiões costeiras com os nórdicos Vikings que chegavam na costa com a única finalidade de ali saquear e roubar metais preciosos. O filme por essa razão é bem violento, com poucos diálogos, e lutas sem fim. A direção de arte é até bem realizada, embora transformem os Vikings em determinados momentos em bestas ferozes de guerra. Vale assistir pelo menos uma vez, principalmente para quem gosta de produções com muito sangue e conflitos.

Pablo Aluísio.