terça-feira, 15 de maio de 2007
A Águia Solitária
O diretor aqui é o consagrado Billy Wilder, famoso por sua fina ironia e cinismo que usava em seus filmes. Porém aqui em "Águia Solitária" nada disso acontece. Claro que ele coloca pequenos momentos de humor aqui ou acolá mas em relação a Lindberg ele não arrisca e adota uma postura de respeito e consagração. Interessante é que anos depois a figura desse "herói" foi seriamente arranhada pois alguns historiadores afirmaram que ele tinha uma simpatia nada disfarçada pelo regime nazista! Claro que nada disso é mostrado no filme, pois foi algo que surgiu anos depois mas mesmo que não fosse o caso duvido muito que alguém fosse mexer em um vespeiro desses na época da realização do filme. Enfim, apesar dos pesares, da longa duração, do ufanismo e da falta de leveza, "Águia Solitária" é um bom entretenimento - e serve também como aula de história para os que achavam a escola um tédio!
A Águia Solitária (The Spirit of St. Louis, Estados Unidos, 1957) Direção: Billy Wilder / Elenco: James Stewart,: Murray Hamilton, Patricia Smith e Marc Connelly./ Sinopse: O piloto Charles Lindeberg (James Stewart) tenta pela primeira vez na história cruzar sozinho em seu avião o Oceano Atlântico, saindo de Nova Iorque até Paris. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais (Louis Lichtenfield).
Pablo Aluísio
Gata Em Teto de Zinco Quente
Direção: Eu considero o cineasta Richard Brooks, que dirigiu esse filme, muito mais um roteirista do que um diretor propriamente dito. Sua carreira como diretor é um pouco irregular, onde se mesclam filmes bons e ruins na mesma proporção. Mas aqui seu talento de bom escritor foi conveniente pois ele não promove alterações substanciais no texto de Tennessee Williams e consegue transmitir sem problemas tudo que o dramaturgo queria passar ao público. No fundo o Brooks não complicou e isso já é um mérito e tanto.
Elenco: Ótimo. Elizabeth Taylor, linda e talentosa, mostra serviço e esbanja naturalidade e carisma. Paul Newman, que passa o tempo todo de muletas e engessado, mostra muito talento no papel de Brick Pollitt, talvez o único personagem que valha realmente alguma coisa dentro daquela casa. O curioso é que mesmo atores com escolas diferentes (Newman do teatro e Liz basicamente uma atriz de cinema) conseguem se entender extremamente bem em cena. Sua química salta aos olhos, mesmo Paul Newman interpretando um marido que diante de tantos problemas negligencia sua bela e jovem esposa. Do elenco de apoio tenho que destacar primeiramente Burl Ives (Big Daddy, ótimo em sua caracterização de um homem que não conseguiu passar afeto aos seus familiares) e Madeleine Sherwood (que faz a insuportável Mae Pollitt). Dentre as cenas a que destaco como a melhor na minha opinião é aquela que se passa entre Newman e Ives no porão quando em tom de nostalgia Big Daddy se recorda de seu falecido pai, um mero vagabundo. Ótimo momento no quesito atuação.
Gata em Teto de Zinco Quente (Cat on a Hot Tin Roof,Estados Unidos, 1958) Diretor: Richard Brooks / Roteiro: James Poe e Richard Brooks baseado na peça "Cat on a Hot Tin Roof" de Tennessee Williams / Elenco: Elizabeth Taylor, Paul Newman, Burl Ives, Jack Carson, Judith Anderson./ Sinopse: Jovem esposa (Elizabeth Taylor) não consegue entender o que se passa com seu marido (Paul Newman), um homem em constante crise existencial.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 14 de maio de 2007
Os Incompreendidos
Título no Brasil: Os Incompreendidos
Título Original: Les Quatre Cents Coups
Ano de Produção: 1959
País: França
Estúdio: Les Films du Carrosse, Sédif Productions
Direção: François Truffaut
Roteiro: François Truffaut, Marcel Moussy
Elenco: Claire Maurier, Jean-Pierre Léaud, Albert Rémy
Sinopse:
Antoine Doinel tem apenas quatorze anos. Negligenciado pelos próprios pais ele não tem muito interesse pelos estudos. Seu passatempo preferido é ir ao cinema com seu grupo de amigos. Sua adolescência comum acaba sofrendo um abalo quando descobre que sua mãe tem um amante. A partir daí o garoto fica em uma encruzilhada na vida. Vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Cannes (1959).
Comentários:
Um exemplo do ótimo cinema de François Truffaut. Com rara sensibilidade ele joga um olhar muito poético (embora realista também) sobre os dramas, sonhos e anseios de um garoto entrando na adolescência da forma mais complicado possível. Afinal quando seus modelos caem por terra o que sobra? Nesse sentido o personagem Antoine Doinel é um achado. Mostra muito bem a complexidade de seus pensamentos e sua peculiar visão de vida. François Truffaut, o crítico que virou diretor talentoso, tem aqui o seu melhor filme em minha opinião. Gosto muito do final e da habilidade que François Truffaut mostra nesse momento em especial. Dizem que todo crítico de cinema é na verdade um cineasta frustrado. Bom, François Truffaut provou que esse pensamento é totalmente absurdo e sem noção. Duvida? Então assista a esse maravilhoso 'Os Incompreendidos.
Pablo Aluísio.
Drácula, O Príncipe das Trevas
Por falar em monstro o público atual certamente vai estranhar a caracterização de Drácula nesse tipo de filme. Aqui ele não passa de um monstro, que apenas busca sua presa e nada mais. O Drácula interpretado por Christopher Lee entra mudo e sai calado de cena. Não existe nenhum tipo de herói romântico envolvido nas cenas em que aparece e nem muito menos os sinais de galanteio que vimos em tantos filmes sobre o famoso personagem. Para falar a verdade longe da sedução o Conde aqui é simplesmente brutal com as mulheres - quando chega perto delas é apenas para morder ou então dar uns sopapos! O diretor Terence Fischer foi um grande especialista do gênero terror e aqui consegue bons resultados em uma produção até modesta, sem grande orçamento. Na época as produções de terror não eram levados muito à sério e os filmes eram feitos sem grande preocupação com orçamentos de primeira linha. Mesmo assim o resultado se mostra satisfatório. Enfim, "Drácula, O Príncipe das Trevas" é bem interessante pois traz um vampiro que no final das contas é apenas um monstro - bem diferente dos dândis românticos que enchem as telas dos cinemas atualmente.
Drácula, O Príncipe das Trevas (Dracula Prince of Darkness, Inglaterra, 1966) Direção: Terence Fisher / Com Christopher Lee, Barbara Shelley, Andrew Keir, Francis Matthews, Suzan Farmer, Charles 'Bud' / Sinopse: Depois de sua destruição pelo Dr. Van Helsing no filme Vampiro da Noite (1958), a lenda do Conde Drácula ainda aterroriza a população local. Um grupo de turistas ingleses, apesar dos alertas, inclui em seu roteiro pelos Cárpatos a cidade de Carlsbad, nas cercanias do castelo de Drácula.
Pablo Aluísio
domingo, 13 de maio de 2007
Rio Violento
No filme Montgomery Clift (excepcionalmente bem) interpreta o personagem Chuck Glover, um agente do governo dos Estados Unidos que tem a missão de retirar uma senhora idosa que mora em uma ilha no rio Tennessee. Ela se recusa a abandonar o local pois foi ali que nasceu e criou seus filhos, enterrou seu marido e viveu ao lado de negros libertos e demais moradores do local. Lutando por seus valores tradicionais e por aquilo que lhe é mais importante a senhora resolve enfrentar até mesmo o poder do governo americano. E isso obviamente criou uma disputa jurídica que iria repercutir em todo o sistema judiciário norte-americano.
O filme apresente um excelente elenco. Aliás essa sermpre foi uma característica marcante nos filmes de Elia Kazan. A atriz Jo Van Fleet está simplesmente maravilhosa. Interpretando a matriarca Ella Garth, ela tem duas grandes cenas que a fazem ser o grande destaque de todo o filme. Em uma delas explica ao personagem de Montgomery Clift a dignidade de quem viveu e trabalhou no rio Tennessee há gerações. Devo dizer que poucas vezes vi Clift ser superado em cena, mas aqui ele realmente foi colocado de lado, até mesmo pela força do texto que a atriz tem a declamar. Socialmente consciente, tocando em temas tabus para a época (como o racismo do sul dos Estados Unidos), "Rio Violento" é um dos melhores trabalhos de Kazan. Ele foi um diretor que via o cinema como algo a mais e não apenas um mero entretenimento. Por isso seus filmes sempre tinham alguma mensagem a passar ao público.
Rio Violento (Wild River, Estados Unidos, 1957) Direção: Elia Kazan / Elenco: Montgomery Clift, Lee Remick, Jo Van Fleet / Sinopse: Chuck Glover (Clift) é um jovem agente do governo dos Estados Unidos que tem a missão de retirar um grupo de moradores de uma ilha no meio do rio Tennessee. As pessoas não querem ir embora de lá, deixando suas casas e sua história para trás. Porém é do interesse do Estado que elas deixem aquelas terras. Filme indicado no Berlin International Film Festival.
Pablo Aluísio.
sábado, 12 de maio de 2007
Sublime Obsessão
Devo confessar que a atuação de Rock no filme é apenas mediana. Ele, para falar a verdade, não era um grande ator mas simplesmente um galã, que se saía muito melhor em filmes mais leves como as comédias românticas que rodou ao lado de Doris Day. Aqui, principalmente nas cenas mais tensas, faltou um pouco mais de talento. Já a atriz Jane Wyman (primeira esposa do presidente Ronald Reagan) também não era lá essas coisas. Confesso que esperava mais de sua interpretação. Na maioria das cenas ela se limita a fazer o papel de "boazinha". Apesar da dupla central não estar à altura do que o roteiro exige, o filme não deixa de ser interessante. Para falar a verdade é bem didático assistir filmes antigos assim pois nos anos 50 ainda era possível realizar produções como essa, sem nenhum traço do cinismo que hoje impera na sociedade. Se você gosta da cultura vintage fique à vontade para curtir "Sublime Obsessão".
Sublime Obsessão (Magnificent Obsession, Estados Unidos, 1954) Direção: Douglas Sirk / Elenco: Jane Wyman, Rock Hudson, Agnes Moorehead, Barbara Rush, Otto Kruger, Sara Shane, Gregg Palmer, Jack Kelly, Myrna Hansen / Sinopse: Um milionário irresponsável causa um sério acidente em uma mulher. Para se redimir ele tentar restaurar a saúde dela, se tornando especialista médico na área.
Pablo Aluísio.
A Queda do Império Romano
Direção: Acredito que o diretor Anthony Mann se perdeu com o tamanho da produção. O filme tem três horas de duração mas o enredo fica disperso, sem foco. Mesmo com todo esse tempo ele não conseguiu contar direito a história. Em muitos momentos se percebe que a direção está mais preocupada em explorar os cenários luxuosos do que investir nos personagens do filme. Na minha opinião esse é o típico caso em que a direção foi engolida pela produção do filme.
Elenco: Tem altos e baixos. Entre as interpretações de grande categoria o filme traz Alec Guiness perfeito na pele do Imperador Marco Aurélio. Suas cenas são excelentes, inclusive um inspirado monólogo de grande impacto. Christopher Plummer como o Imperador Comodus também está acima da média. Já do lado ruim no quesito de elenco temos uma Sophia Loren muito bonita mas canastrona até o último fio de cabelo encaracolado e um Livius (o mocinho do filme) muito xoxo interpretado por Stephen Boyd. Ele é tão sem graça que quase coloca todo o filme a perder. E pensar que esse papel seria do Charlton Heston.
Roteiro: Toma grandes liberdades com a história real dos Imperadores retratados no filme. Certamente não é historicamente correto e acredito inclusive que essa nunca foi a intenção dos roteiristas. De qualquer forma consegue, aos trancos e barrancos, prender a atenção do espectador.
A Queda do Império Romano (The Fall of the Roman Empire, Estados Unidos, 1964) Direção de Anthony Mann / Com Alec Guiness, Sophia Loren, Christopher Plummer, Omar Sharif, James Mason e Stephen Boyd / Sinopse: Maior império que o mundo já conheceu o Império Romano começa a entrar em colapso por causa de problemas internos ao qual o filme explora muito bem: corrupção, brigas internas, politicagem e um Imperador frívolo que negligencia a administração do Império em razão de sua obsessão por lutas de gladiadores.
Pablo Aluísio
sexta-feira, 11 de maio de 2007
Uma Rua Chamada Pecado
Baseado na obra premiada do dramaturgo americano Thomas Lanier Williams ou simplesmente, Tennessee Williams, a obra trata de um redemoinho alucinante de sentimentos. Tudo começa quando Blanche Du Bois (Vivien Leigh), uma professorinha de alma delicada e decadente do Mississipi, vai passar alguns dias com sua irmã Stella (Kim Hunter), e o cunhado Stanley Kowalski (Marlon Brando) em Nova Orleans. Frágil e sedutora, seu comportamento contrasta com os modos rudes e animalescos de Kowalski. A visita de poucos dias parece não ter mais fim, pois o esforço de Blanche, forçando uma convivência pacífica, irrita profundamente Kowalski que aos poucos vai se transformando numa fera. O pequeno apartamento parece ficar menor a cada minuto, sufocante, claustrofóbico. Uma panela de pressão a ponto de explodir. É justamente toda essa atmosfera, que pôs Marlon Brando em evidência para o mundo. Mal ele podia imaginar que sua atuação como Stanley Kowalski, o tornaria uma espécie de marco fundamental. Um divisor de águas entre o cinema pré e pós Marlon Brando. Ou seja: o cinema, mas, principalmente, os atores que vieram posteriormente, não seriam mais os mesmos.
A influência dos chamados "monstros sagrados" do Actor's Studios, entraria como um vírus, para sempre em suas veias. Brando, na pele do animalesco Kowalski, consegue manifestar toda a sua capacidade interpretativa e criativa. Numa completa desambiguidade o organismo Brando-Kowalski é um corpo incandescente que se move lentamente, com olhos injetados de um animal, transpirando suor, ódio e testosterona, quase sempre na mesma medida. Em uma leitura personalíssima e explosiva da obra, Brando se entrega de corpo e alma a um personagem de maldade e furor acachapantes. Sua atuação majestosa é o que Roland Barthes chamava de "quantificação da qualidade" - "pouco interessa o que se fala, o que interessa mesmo é o suor, o grito, o medo e o ódio". Parece que Uma Rua Chamada Pecado foi feita na medida certa para transformar-se depois num réquiem eterno para o genial Marlon Brando. Nota 10.
Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire, EUA, 1951) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Oscar Saul baseado na peça de Tennessee Williams / Elenco: Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter,Karl Malden / Sinopse: Blanche (Vivien Leigh) uma problemática mulher resolve ir visitar sua irmã Stella (Kim Hunter) em New Orleans. Lá conhece Stanley (Marlon Brando) o rude e provocativo cunhado. Não tarda a se instalar um clima de tensão entre todos os moradores daquele pequeno apartamento.
Telmo Vilela Jr.
Os Desajustados
As brigas com o marido no set também foram constantes. Em certa ocasião deixou Arthur Miller abandonado no meio do deserto (onde o filme estava sendo filmado) se recusando a deixá-lo entrar em seu carro. O diretor John Huston teve então que voltar para ir pegá-lo, caso contrário morreria naquele lugar seco e inóspito. Marilyn também continuava com seu medo irracional dos sets de filmagens. Antes de entrar em cena ela ficava nervosa, em pânico. Errava muito suas falas e fazia o resto do elenco perder a paciência com suas atitudes. Seu medo de atuar nunca havia desaparecido mesmo após tantos anos de carreira. Interessante é que apesar de Marilyn não sair das revistas e jornais por causa dos acontecimentos ocorridos nas filmagens o filme não conseguiu fazer sucesso o que é uma surpresa e tanto pelo elenco estelar e pela publicidade extra que recebeu dos tablóides. Muitos atribuem o fracasso ao próprio texto de Arthur Miller que não tinha foco e nem uma boa dramaturgia. Aliás desde que se casou com Marilyn o autor parecia ter perdido o toque para bons textos. Tudo soava sem inspiração, sem talento. "Os Desajustados" também foi a última produção com o mito Clark Gable. Envelhecido e decadente sofreu bastante com os problemas do filme, o levando a um esgotamento físico e mental, vindo a falecer pouco depois. Acusada de ter contribuído para o colapso de Gable, Marilyn sentiu-se culpada e ganhou mais um motivo para sua depressão crônica. De qualquer forma só pelo fato de "Os Desajustados" ter sido o último filme de Monroe e Gable já vale sua existência. Não é tecnicamente um excelente filme mas está na história do cinema pelo que representou na vida de todos esses grandes mitos que fizeram parte de sua realização.
Os Desajustados (The Misfits, Estados Unidos, 1960) / Direção de John Huston / Elenco:: Clark Gable, Marilyn Monroe, Montgomery Clift, Thelma Ritter, Eli Wallach / Sinopse: Roslyn Taber (Marilyn Monroe) é uma mulher sensível, que está se divorciando. Gay Langland (Clark Gable) e um cowboy frio, que passou a vida pegando cavalos e mulheres divorciadas. Ela não aceita a captura de cavalos selvagens para virarem comida de cachorro, enquanto que ele não vê nada demais. No meio de tudo isto nasce uma paixão entre os dois.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 10 de maio de 2007
Filmografia Comentada: Gregory Peck
O Homem do Terno Cinzento
O filme é extremamente bem feito e roteirizado. Basicamente é um retrato de um homem comum que volta da II Guerra Mundial e tenta criar sua família da melhor forma possível nos anos 50. Ex-capitão do exército americano Tom Rath (Gregory Peck) sente na pele os problemas após seu retorno aos EUA. Passando por dificuldades financeiras, com três filhos e uma esposa insatisfeita e infeliz (Jennifer Jones) ele tenta administrar os problemas familiares e profissionais em meio a uma crise de identidade. Gostei bastante do tom da produção pois é um filme extremamente sério e realista e não joga panos quentes na situação, principalmente quando se descobre anos depois que o capitão teria tido um filho com uma mulher italiana. Outro aspecto curioso é a forma como é mostrada uma agência de publicidade naquela época - coisa que hoje em dia é justamente o foco do seriado de grande sucesso da AMC, Mad Men. Curiosamente o filme se torna bem atual pois muitos ex-militares americanos ainda encontram dificuldades de se inserirem na vida civil após servirem anos nas forças armadas. Falta de qualificação profissional, desemprego ou sub-empregos ainda são bastante comum na vida dessas pessoas. Pelo visto mesmo após muitos anos a situação ainda permanece a mesma. Outro ponto positivo de "O Homem do Terno Cinzento" é seu elenco. Gregory Peck novamente repete seu papel de homem íntegro, embora aqui haja fendas no caráter de seu personagem. Seu estilo de interpretação minimalista até hoje causa impacto. Peck era sutil e conseguia transmitir muito bem as emoções de seus personagens sem recorrer a exageros dramáticos. Já Jennifer Jones derraba um pouco nas caras e bocas mas nada que comprometa. Eu gosto dessa atriz, recentemente a vi em "A Canção de Bernadette" e ela sempre conseguia mostrar um bom trabalho. O diretor Nunnally Jonhson era na realidade um roteirista conceituado em Hollywood que ganhou a chance de dirigir alguns filmes (nenhum extremamente marcante). Isso talvez explique o alto nível do roteiro de "O Homem do Terno Cinzento" que procura sempre desenvolver todos os personagens em cena, mostrando seus dramas familiares e pessoais. Enfim, aqui temos um excelente drama dos anos 50. Um ótimo exemplo para se conhecer o que era realizado no gênero pelo cinema americano na época
A Hora Final
Filme estranhíssimo da carreira de Gregory Peck. Quem pensa que vai assistir um filme convencional de submarinos vai ter uma surpresa e tanto! Para começo de conversa a estória se passa após uma guerra nuclear entre Estados Unidos e União Soviética! Isso mesmo, você não leu errado! Peck é tudo o que sobrou da outrora gloriosa marinha americana e só escapou do hecatombe nuclear justamente porque estava dentro de um submarino! O interessante é que esse cenário pós apocalipse só vai sendo informado ao espectador aos poucos, enquanto se vai acompanhando o estranho flerte entre o Peck e Ava Gardner. Aliás uma das coisas que mais chamam atenção aqui é o elenco. Formado por jovens atores que iria despontar para o estrelado nos anos seguintes (como o estranho Anthony Perkins de Psicose) e veteranos das telas (como Fred Astaire em um papel particularmente melancólico). Mas o principal mérito de “A Hora Final” é realmente a ousadia da proposta do argumento do filme. Claro que em plena guerra fria, onde a paranóia na sociedade americana estava a mil, o filme fazia mais sentido. Hoje em dia se torna muito anacrônico e estranho. O diretor também foca muito em cima das relações pessoais dos personagens que mesmo sabendo que vão morrer em breve tentam seguir com suas vidas, namorando, passeando à beira mar, etc. Confesso que esse clima surreal é uma das coisas mais surpreendentes que já vi, ainda mais em filmes antigos. “A Hora Final” tem pinta e jeito de filme de guerra mas não é. É uma ficção apocalíptica que pode ser considerado o “avô” das produções pós apocalipse como “O Dia Seguinte”. Assista e se surpreenda.
Círculo do Medo / Cabo do Medo
Max Cady (Robert Mitchum) sai da prisão e parte atrás de vingança contra as pessoas que ele considera responsáveis por sua condenação. Entre elas está o advogado Sam Bowden (Gregory Peck) que se vê ameaçado pela presença do criminoso de volta na cidade em que vive. Ele havia sido testemunha no processo que jogou Max durante longos oito anos na prisão. Agora é a hora dele promover o que entende ser o acerto de contas entre ambos. "Círculo do Medo" é um eficiente thriller de suspense dirigido pelo apenas mediano J. Lee Thompson, um diretor que ao longo da carreira alternou filmes bons com abacaxis medíocres. Esse "Círculo do Medo" (que teve o título mudado anos depois no Brasil por causa do famoso remake "Cabo do Medo" de Scorsese) tem como maior destaque e mérito a ótima caracterização do ator Robert Mitchum. Ele passa longe da caricatura feita por De Niro anos depois do mesmo personagem. Se no remake tínhamos um sujeito completamente fora de controle, violento, com ares de delírio completo, aqui Mitchum desenvolve uma caracterização bem mais sutil (e eficiente na minha opinião). A maldade está lá, porém em um nível mais interior, sem profusão de cenas violentas desnecessárias. Obviamente que muitos preferem o filme recente de Martin Scorsese porém não compartilho dessa opinião. "Círculo do Medo" é bem melhor em termos de tensão e clima psicológico. O advogado interpretado por Gregory Peck não tem muito o que fazer já que o filme pertence mesmo a Mitchum e seu personagem. Se limitando a se defender na medida do possível, Peck se mostra competente em sua interpretação, embora pela própria estrutura do roteiro seja limitada. Claro que não podemos aqui comparar com outras atuações brilhantes do ator como a que ele apresentou em "O Sol é Para Todos", por exemplo. É um diferente tipo de atuação, mais ligeira, com propósito específico de entreter e não conscientizar como naquela produção. Mesmo assim o saldo é muito positivo embora se deva reconhecer que o filme perde um pouco de pique justamente no terceiro ato, quando todos vão para um lugar isolado nos pântanos da Flórida (o próprio lugar que dá nome ao filme, cabo do medo). Até esse momento o filme tem um ritmo muito bom, de caçada gato ao rato entre os dois personagens principais. Depois disso a tensão perde espaço para a violência e o filme decai um pouco. De qualquer forma o resultado final é muito bom (e bem melhor que seu famoso remake). Não deixe de conferir para comparar depois com o famoso filme de Martin Scorsese. Eu certamente recomendo
MacArthur
Acabei de assistir esse MacArthur, um excelente filme para quem quer saber mais da história da II Guerra Mundial. Eu tinha assistido há pouco um excelente filme com o Gregory Peck chamado "O Escarlate e o Negro" e assim resolvi conferir mais um filme dele. Peck como sempre está fenomenal, interpretando um personagem que por si só já é muito polêmico, o generalíssimo Douglas MacArthur, um dos comandantes supremos que venceram a guerra contra o Japão no Pacifico. O sujeito por si só já era uma figura: usava um cachimbo feito de espiga de milho e detestava todos os politicos de Washington, especialmente o presidente Truman que acabou sendo o seu grande atrito nos rumos tomados pela política norte americana do pós guerra (MacArthur orientou a reconstrução do Japão e comandou as forças americanas na Guerra da Coreia). Enfim, excelente aula de história, filmado com muita classe e bom gosto. Se tiverem oportunidade de assistir não percam.
A Profecia
Hoje resolvi rever "A Profecia". Na verdade fazia tanto tempo que tinha visto o original que me lembrava de pouca coisa do filme. É o que eu sempre digo: não adianta fazer remake de grandes filmes, fica tudo ridículo. Eu nem vou me alongar muito comparando o original com seu remake picareta, basta apenas citar um nome para destruir a desnecessária versão recente que fizeram: Gregory Peck. Que baita ator ele era! Nunca assisti uma atuação de Peck que não fosse altamente digna. Aqui ele repete a dose, interpretando o embaixador americano que acaba adotando um garotinho pra lá de esquisito. "A Profecia" mostra que para se fazer um bom filme de terror não é preciso encher a tela de monstros sanguinários e efeitos digitais bobocas. Basta um bom roteiro, um argumento interessante e boas atuações. Some-se a isso uma excelente trilha sonora incidental (no caso desse filme a sonoridade dos antigos filmes de terror aparece bem nitidamente em cada cena). O roteiro é bem construído e se fecha muito bem (não era necessária a produção de continuações, pois a trama é muito bem conduzida e finalizada em si mesmo). De qualquer forma é um filme para se assistir e entender porque os filmes de suspense e de terror de antigamente eram bem melhores do que as bobagens de hoje. Assista que você não vai se arrepender.
O Sol é Para Todos
Que filme maravilhoso! Fiquei impressionado como em um só roteiro tantos valores são repassados ao espectador! Não é necessário aqui expor todos os significados importantes dentro do argumento mas um dos que mais me chamou atenção foi o desfecho do julgamento mostrado no filme. Fugindo de clichês baratos a obra mostra a verdadeira face da extrema debilidade do sistema judiciário americano. O argumento também explicita alguns fundamentos jurídicos importantes como o direito ao contraditório e a ampla defesa. Como demonstrado na estória nem sempre a sociedade é a mais adequada para julgar e punir seus pares uma vez que o senso comum é extremamente falho e para dizer a verdade, infantil e tolo. Assim apenas a lei e o direito a um julgamento justo se mostram viáveis para saciar o sentimento de justiça dentro da comunidade. O fato é que Gregory Peck, de uma dignidade fora do comum, mostra claramente que o sistema é falho, injusto e nocivo, principalmente quando a emoção e o preconceito superam a razão. Seu posicionamento como advogado no filme é uma lição de postura, ética e comprometimento com a causa de seu cliente. Nenhuma outra profissão no mundo lida tão de perto com esses valores como a de advogado, que quando bem cumprida e desempenhada pode trazer enorme satisfação pessoal. Tirando esse aspecto outro também me chamou muito a atenção: O lirismo e nostalgia envolvidos. Ao mesmo tempo em que conta o drama de tribunal, "O Sol é Para Todos" também expõe a bucólica vida dos filhos do advogado. Subindo em árvores, brincando pelas redondezas e curiosos em relação a Boo, um vizinho deficiente mental que será vital para o desfecho do filme. Essa visão inocente contrasta exatamente com a mentalidade dos moradores locais: ignorantes, racistas e preconceituosos. Recentemente o presidente Obama promoveu uma exibição do filme na Casa Branca, algo muito significativo sobre a importância dessa obra cinematográfica. Nada mais justo uma vez que "O Sol é Para Todos" é um filme grandioso, maravilhoso. Um dos melhores que vi esse ano. Mais do que recomendado.
Moby Dick
O Capitão Ahab (Gregory Peck) é um velho homem do mar que se torna obcecado em encontrar e matar uma baleia branca cachalote conhecida como Moby Dick. Para isso não medirá esforços exigindo severamente o máximo dos homens de sua tripulação. O livro original foi escrito por Herman Melville em 1851. Curiosamente não foi um grande sucesso de vendas em seu lançamento mas ao longo dos anos foi sendo redescoberto pelos estudiosos de literatura. Hoje é considerada uma obra prima. O filme nasceu da insistência pessoal de John Huston que viu no texto várias características com as quais ele próprio se identificou. A adaptação para as telas realmente é excelente. Muita gente pensa que se trata apenas de um filme de aventura que mostra um capitão alucinado na caça de uma baleia cachalote albina. Bom, isso é a superfície, na realidade Moby Dick é uma grande metáfora sobre a obsessão que corrói a mente dos homens. Basta trocarmos a baleia por qualquer outra coisa que cause a obsessão ao ser humano para entendermos muito bem o que o autor do livro quis passar. No fundo é a história de um homem disposto a sacrificar tudo (até sua vida) para ir atrás de um objetivo, nem que isso leve ele e seus tripulantes à ruína completa. Existem outras versões de Moby Dick mas nenhuma delas sequer conseguem chegar ao nível dessa de 1956 que foi dirigida por John Huston. Não é surpresa nenhuma que ele tenha feito esse filme. O tema era muito próximo a Huston que se empenhou em uma história parecida quando estava filmando na África (assistam “Coração de Caçador” de Clint Eastwood para entender). Outro ponto que conta muito a favor nessa versão é a dupla de atores: Gregory Peck (como o obcecado capitão e sua voz de trovão) e Orson Welles (em uma ótima cena passada num culto religioso). Os diálogos são ricos e declamados com eloquência então é garantido o show de interpretação desses atores. Até os efeitos ainda são charmosos, mesmo com mais de 50 anos de sua realização. Enfim, Moby Dick é excelente, uma viagem em busca do monstro interior de cada um de nós.
Almas em Chamas
Oficial General linha dura (Gregory Peck) é designado para comandar uma esquadrilha de bombardeiros da força aérea americana durante a II Guerra Mundial. Sua missão é realizar várias excursões sobre as instalações industriais do Terceiro Reich visando destruí-las, quebrando assim o eixo econômico do inimigo. Para isso deveriam realizar operações diurnas que eram extremamente perigosas para os pilotos que participavam dessas incursões ao território inimigo. "Almas em Chamas" é um excelente filme de guerra que foi realizado apenas quatro anos depois do fim do maior conflito armado da história da humanidade. Essa proximidade temporal permitiu aos realizadores do filme se utilizarem dos mesmos aviões reais que participarem dessas missões. Além disso a maioria dos figurantes eram aviadores da USAF que inclusive estiveram lá no front, no campo de batalha, a começar pelo próprio Peck que foi educado em colégio militar e se alistou durante a Guerra indo para a Europa enfrentar as forças nazistas. Com tanto grau de veracidade o resultado não poderia ser melhor. As cenas de batalha que surgem no filme com a guerra nos ares entre os pesadões bombardeiros americanos e os caças alemães são todas verídicas, reais, como é informado ao espectador logo no começo do filme. "Almas em Chamas" tem além das excelentes cenas de guerra um bônus a mais. Seu roteiro é extremamente bem escrito com muito cuidado no desenvolvimento dos personagens em terra. Cada membro da equipe é cuidadosamente construído. O General Frank Savage, personagem de Peck, por exemplo, é mostrado como um militar que sabe que tem que cumprir uma perigosa missão e vai fazer de tudo para cumpri-la da melhor forma possível. Ao contrário do comandante anterior ele não tinha a menor intenção de ser popular entre seus pilotos, pelo contrário, logo impõe respeito e ordem à esquadrilha. Em outras palavras é um sujeito realmente "Caxias" que não se importa de ser assim, pelo contrário, faz questão de ser. "Almas em Chamas" foi dirigido pelo ótimo Henry King de tantas aventuras medievais. Apesar de veterano nas telas esse foi apenas seu segundo filme de guerra (curiosamente o anterior, "Um Americano na Aviação", também focava em membros da força aérea). Seu grande mérito aqui realmente foi não cair na armadilha de fazer um filme vazio de ação e nada mais. Seu cuidado com os personagens em cena fez toda a diferença. Em suma "Almas em Chamas" é quase um documentário dessas missões de destruição do parque industrial alemão. Se você gosta de história militar o filme é obrigatório. Não perca!
O Matador
Jimmy Ringo (Gregory Peck) é um famoso pistoleiro do velho oeste que chega na pequena cidade de Cayenne. Ele almeja reencontrar a mãe de seu filho, além de finalmente encontrar o garoto que não vê há muitos anos. O problema é que Ringo não consegue se desvencilhar de sua fama de rápido no gatilho. Isso lhe causa todo tipo de problemas pois sempre encontra pela frente alguém que queira desafiá-lo para um duelo. Além disso as mortes que causou nunca o deixam em paz pois sempre há alguém na espreita tentando vingar um parente, um filho ou um amigo morto por Ringo. Esse “O Matador” é um clássico absoluto do chamado western piscológico. Aqui acompanhamos Ringo tentando ter um momento de normalidade em sua vida, algo simplesmente impossível pois sua fama o precede. Assim que chega na nova cidade a garotada corre para ver o famoso pistoleiro em pessoa. Os moradores obviamente ficam apreensivos com sua presença pois é quase certo acontecer algo inesperado na pacata localidade. Essa é uma das mitologias mais caras ao oeste americano, a do pistoleiro errante que não consegue mais viver em paz pois a cada novo lugar que chega é desafiado. Com isso acaba colecionando um enorme número de mortes em sua trajetória além de sempre ter que enfrentar potenciais vingadores aonde quer que vá. O personagem Jimmy Ringo interpretado por Gregory Peck é inspirado no famoso pistoleiro Johnny Ringo. Esse foi um dos mais famosos foras da lei do velho oeste. Sua história é bem conhecida por historiadores e especialistas no assunto. Ele era inimigo declarado do famoso xerife Wyatt Earp e seus irmãos, alem de possuir uma grande rixa pessoal com o famoso Doc Holliday. De fato ambos se odiavam. Quase sempre se encontrando em esfumaçados saloons a dupla entrou em confronto várias vezes. Infelizmente o roteiro de “O Matador” esqueceu de citar Doc na história de Ringo, embora não tenha esquecido de colocar Wyatt Earp no enredo. Aliás é bom frisar que muita coisa ficou fora da produção o que é compreensível pois o filme não se propõe a ser uma biografia de Ringo mas apenas ser um bom western psicológico – o que faz muito bem. Na história real Ringo foi o principal suspeito da morte de Virgil Earp, irmão do famoso xerife. Algum tempo depois foi encontrado morto no deserto e sua morte até hoje é motivo de controvérsias. Algumas teorias afirmam que ele encontrou-se finalmente com Doc Holliday em uma última e decisiva vez e que teria sido morto em um duelo mortal contra o famoso pistoleiro, mas nada disso é mostrado no filme. Seu destino aliás toma outros rumos no roteiro dessa produção, de forma totalmente ficcional. O resultado final, apesar das omissões históricas propositais, é de alto nível. Até hoje “O Matador” é citado em livros e revistas especializadas, sendo considerado um dos grandes faroestes do cinema americano. Johnny Ringo apareceria em muitas outras ocasiões no cinema, geralmente retratado como vilão sanguinário. O que importa aqui é a forma como parte de sua história é contada. Impossível não recomendar “O Matador”, um filme obrigatório para quem gosta da história do oeste selvagem.
Pablo Aluísio.