sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Paul McCartney - CHOBA B CCCP

CHOBA B CCCP foi o álbum que Paul McCartney gravou especialmente para o povo russo em 1987. Ele ficou sabendo que os fãs russos compravam cópias contrabandeadas dos discos dos Beatles na época da guerra fria e decidiu que iria gravar algo especial para seus fãs que viviam atrás da cortina de ferro. O regime comunista soviético proibiu a venda dos discos dos Beatles durante os anos 60, por entender que o material era propaganda decadente do capitalismo ocidental. Uma típica visão radical e idiota, própria dos comunistas em geral.

O LP foi gravado meados de 1987, com vários covers e novas versões de Paul para clássicos do rock, principalmente da primeira geração do rock ´n´ roll americano. É interessante notar que esse tipo de disco iria até se tornar bem comum depois dentro da discografia de Paul (basta lembrar de "Run Devil Run"), mas que naquele momento era algo inédito em sua carreira. O curioso é que Paul quis desde o começo que o disco fosse vendido apenas na Rússia (na época chamada de União Soviética). A Perestroika e a Glasnost já estavam na ordem do dia e com a abertura do regime linha dura comunista Paul conseguiu, pela primeira vez em sua vida, lançar um disco oficial em solo russo!

Como a EMI Odeon não tinha autorização de abrir filiais e vender seus produtos na URSS, Paul precisou vender os direitos autorais para uma gravadora russa pequena chamada Melodiya. No começo foram prensadas apenas 10 mil cópias que imediatamente começaram a chegar ao ocidente, através da Alemanha. Era uma grande ironia do destino. Na época dos Beatles os fãs russos compravam cópias no mercado negro para ouvir. Agora eram os russos que vendiam os discos de Paul para os ocidentais, atraídos principalmente pelo alto valor de cada cópia, uma vez que o disco não havia sido lançado na Europa ocidental. De qualquer forma "CHOBA B CCCP" acabou se tornando mais uma preciosidade na discografia de Paul McCartney, algo que iremos falar em detalhes nos próximos textos. Até lá!

Pablo Aluísio.

The Beatles - Long Talll Sally

Sempre achei esse um dos mais curiosos lançamentos dos Beatles. Se trata de um EP (sigla em inglês que no Brasil significava o equivalente ao nosso compacto duplo, pequeno vinil com apenas quatro ou cinco faixas). É interessante porque os Beatles resolveram gravar três covers e uma faixa que embora composta por Lennon e McCartney havia sido dada para ser gravada pelo grupo Billy J. Kramer and The Dakotas.

Estamos falando de "I Call Your Name", uma canção que passa longe de ser uma das melhores do grupo, mas que mantém o interesse, principalmente por causa da boa performance. Anos depois algumas biografias afirmaram que os Beatles resolveram gravar a música após John Lennon se sentir "enciumado" com a boa gravação de Kramer. Ele achava que poderia fazer melhor e sugeriu ao conjunto que registrasse sua própria gravação nos estúdios da Abbey Road. O resultado pode ser ouvido aqui.

Já as três outras gravações covers são maravilhosas. "Long Tall Sally" é o grande sucesso da carreira de Little Richard (Richard Penniman). Essa vinha acompanhando os Beatles desde os tempos em que eles eram apenas um grupo de adolescentes sonhando em gravar um disquinho algum dia. Paul McCartney era um fã do estilo de Richard e conseguia, mesmo quando tinha apenas 15 anos, tirar ótimas versões da música. Um momento bem nostálgico para os Beatles, um rock dos velhos e bons tempos. Também é bom lembrar que esse rock também havia sido gravado por Elvis Presley, fazendo parte de seu segundo álbum pela RCA Victor, em 1956. Como os Beatles eram grandes fãs de Elvis, era algo natural eles também decidirem gravar sua versão.

"Slow Down" de Larry Williams era geralmente usada para finalizar os concertos ao vivo. Segundo as próprias palavras de Paul era um "rock numa nota alta" que os Beatles usavam para se despedir de seu público de maneira bem empolgante, para cima. Geralmente era usada quando os Beatles estavam meio fartos de tocar suas próprias composições. O EP se encerra com "Matchbox" de Carl Perkins. Como se sabe os garotos de Liverpool tiveram seu primeiro contato com o rock americano através de singles que vinham dos Estados Unidos através do porto da cidade. Singles da Sun Records eram especialmente apreciados e Carl Perkins sendo um artista do selo logo se tornou também ídolo dos Beatles. Assim o que temos aqui é uma pequena amostra de onde veio a musicalidade do Fab Four. Uma justa homenagem deles aos pioneiros do rock americano. Melhor do que isso impossível.

The Beatles - Long Tall Sally (1964)
1. Long Tall Sally (Johnson, Richard Penniman, Robert Blackwell)
2. I Call Your Name (Lennon - McCartney)
3. Slow Down (Larry Williams)
4. Matchbox (Carl Perkins)

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Paul McCartney - Press To Play (1986)

Depois dos ótimos discos "Tug Of War" e "Pipes of Peace" Paul McCartney deu continuidade em sua carreira nos anos 80 lançando em 1986 o álbum "Press to Play". Eu me recordo que o disco foi esperado com grande expectativa pelos fãs do ex beatle. O fato é que nos anos 80 Paul conseguiu emplacar vários hits inesquecíveis e formou parcerias musicais extremamente produtivas ao lado de artistas como Stevie Wonder e Michael Jackson. Além do sucesso nas paradas musicais Paul também vinha apresentando uma ótima sequência de excelentes clips promocionais para suas canções. Dessa forma tudo soava a favor de seu novo lançamento, que chegaria ao mercado bem no auge de sua popularidade na carreira solo. O primeiro clip promocional do disco foi vinculado no programa Fantástico da Rede Globo (não existia ainda a MTV em nosso país) e mostrava um cantor bem à vontade pegando carona no Metrô de Nova Iorque. Era de certa forma um videoclip bem mais simples e modesto do que o material que vinha sendo apresentando antes, mas cumpria sua meta de promover o novo disco que estava para ser lançado. A canção era muito boa e tinha bom ritmo. Além disso trazia uma novidade para o nosso país: a participação talentosa do guitarrista brasileiro Carlos Alomar. Na mesma semana o disco finalmente foi lançado no Brasil.

Provavelmente eu fui uma das primeiras pessoas a comprar o disco no Brasil já que o adquiri quando ele literalmente chegou nas prateleiras. Naquele momento só conhecia mesmo "Press" que já vinha tocando regularmente nas rádios brasileiras com extrema habitualidade. Era um novo sucesso de Paul, não restava dúvidas. A direção de arte da capa de "Press To Play" era de extremo bom gosto, uma foto tirada com o mesmo equipamento usado na era de ouro de Hollywood na década de 30. Por isso a capa possui todo esse charme retrô e vintage que lhe caía muito bem. O álbum apesar de não ser duplo vinha com dupla capa, sendo que em seu interior Paul colocou dois desenhos com as respectivas fichas técnicas de forma esquematizada. Se a parte gráfica era excelente, a musical deixou a desejar. Confesso que a primeira audição do disco me causou certa decepção. De primeira mão só consegui encontrar 3 faixas fortes no disco: Stranglehood (muito bem arranjada com inspirada execução de cordas), "Only Love Remains" (uma das mais belas baladas românticas de Paul na era pós Beatles, com lindo arranjo de piano) e a própria "Press" (com uma sonorização diferente da versão que saiu nos EUA - muito superior na minha opinião). As demais músicas do disco não ficavam à altura das expectativas. Paul chegava inclusive a requentar velhos arranjos de seu passado como os que tinha utilizado em "London Town" (na parte falada do disco "spoken word"). Também não havia nenhuma parceria digna de maior nota no restante do álbum (seu trabalho ao lado de Eric Stewart não foi muito bom na minha opinião).

O fato é que Paul formou uma banda nova para o disco, chamando músicos talentosos mas o resultado final ficou abaixo do que se esperava. O disco também não correspondeu muito bem nas paradas pois das demais músicas apenas "Only Love Remains" ganhou algum destaque, sendo promovida inclusive com um bonito videoclip (o segundo e último do disco). O LP também trazia uma sonoridade que tentava se comunicar melhor com os arranjos mais em moda dos anos 80 com farto uso de sintetizadores, o que causou o efeito oposto com o tempo o deixando bem datado hoje em dia. Atualmente o disco está meio esquecido. As músicas não estão entre as mais populares de Paul e ele ignorou completamente o disco em suas apresentações ao vivo. "Press to Play" no final das contas demonstra que até mesmo os grandes nomes da música possuem seus momentos "menores". O fato é que depois da pouca repercussão do disco Paul acabou deixando de lado discos mais produzidos como esse para alcançar novos limites e tentar novas ideias para sua carreira, lançando, por exemplo, um disco "pirata" na União Soviética e gravando um belo trabalho ao lado de Elvis Costello (Flowers In The Dirty) para fechar com chave de ouro a década de 1980. Mas essa é uma outra história...

1. Stranglehold (Paul McCartney / Eric Stewart) - Alguns arranjos sempre vão soar bons, não importa o tempo passado. Veja, por exemplo, o caso da música "Stranglehold". Esse tipo de sonoridade poderia estar em qualquer disco dos pioneiros do rock americano na década de 1950. Carl Perkins, Buddy Holly, qualquer um deles poderia assinar uma canção com essa levada. Aqui Paul valoriza os instrumentos básicos das primeiras bandas de rock, dando destaque para o bom e velho violão. Um sax maroto, que sempre me pareceu ter saído dos Comets, o grupo que acompanhava Bill Halley, completa o quadro musical. Paul usa em sua letra também um velho clichê dos primeiros compositores do rock, com várias perguntas que vão se repetindo ao longo da canção. Também gosto do estilo de composição "apoteótica", onde a harmonia vai sempre num crescente, um velho estilo que sempre apresentou ótimos resultados. Em suma, esse é uma das melhores músicas desse álbum de Paul McCartney. Deveria inclusive ter virado single, com maior divulgação.

2. Good Times Coming / Feel the Sun (Paul McCartney) - A música anterior mostrava que Paul sempre soava melhor quando ia nas raízes musicais, sem muita pretensão. Um pouco disso também se ouve em "Good Times Coming / Feel the Sun", na verdade uma dobradinha que Paul trouxe direto dos tempos dos Wings. Não precisa ir muito longe para perceber bem isso. Basta entrar aquele corinho com Linda e demais vocalistas de apoio para entender bem isso. Paul ainda inseriu uma bela melodia, tocada numa guitarra melosa ao estilo David Gilmour. Gosto da parte "Good Times Coming", mas não tanto de "Feel The Sun". Falta letra nessa segunda parte. Penso que esse foi um dos motivos de Paul ter unido as duas canções em uma pequeno medley. O refrão é bom, contagiante, simpático e agradável aos ouvidos, mas nada muito além disso. O solo de guitarra novamente salva tudo do lugar comum nos últimos acordes. Eric Stewart sempre um craque com seu instrumento.

3, Talk More Talk (Paul McCartney) - Que Paul McCartney é um dos grandes gênios da história da música, disso ninguém tem dúvidas. Agora, que até mesmo os gênios dão pequenos tropeços, poucos param para pensar um pouco sobre isso. O álbum "Press To Play" trazia excelentes canções em seu repertório, porém havia alguns deslizes também. Músicas sem muita inspiração que passavam a impressão de que Paul não tinha se esforçado muito ou então as incluiu no disco apenas para preencher espaço. "Talk More Talk" era bem isso. A introdução por si só já era horrível, mesmo contando com a participação muito especial da família de Paul, com destaque para o filho James. Aquele arranjo com violinos até poderia esconder as fragilidades da canção, mas é impossível negar que é uma faixa muito vazia, sem consistência harmônica. Paul usa e abusa de um refrão supostamente pegajoso para transformar a música em sucesso FM, mas é de se perguntar: a que preço? Essas partes faladas também não funcionavam. Paul já havia usado isso em "London Town" de 1978. Se naquele disco isso não funcionava porque ele voltou à repetir o mesmo erro? Estaria tentando provar algo aos críticos? Quem sabe o que se passava em sua cabeça... o fato era que essa faixa sim era bem fraca, sem muita qualidade.

4. Footprints (Paul McCartney / Eric Stewart) - "Footprints" tem uma simplicidade cativante. Aquele tipo de música que poderia ser tocada ao lado de uma fogueira na praia, durante um luau. Paul manteve a simplicidade da composição original na gravação de estúdio. Ele também canta a música de forma bem terna, sem qualquer afetação. Outra coisa que salvou a gravação é que Paul afastou qualquer resquício daquele tipo de som bem de acordo com os anos 80, com aqueles sintetizadores incômodos. O resultado ficou bonito. Existem alguns efeitos sonoros, mas bem pontuais e dentro da proposta da canção. Gosto bastante dessa faixa. É um dos bons momentos do álbum.

5. Only Love Remains (Paul McCartney) - Bom, se há uma música que justifica a existência desse álbum de Paul McCartney essa é "Only Love Remains". Com um arranjo belíssimo, ao piano, essa é sem favor algum uma das melhores melodias escritas por Paul nos anos 80. Em um disco com tantos altos e baixos, McCartney conseguiu criar uma verdadeira obra prima (mais um em sua longa lista de belas baladas românticas). "Only Love Remains" aliás prova algumas coisas, uma delas que muitas vezes o caminho é a simplicidade. Essa não é uma canção extremamente arranjada, com arroubos orquestrais. Pelo contrário, tudo está no lugar certo e nunca atropela a melodia, essa sua grande qualidade. E letra traz sua mensagem definitiva com a frase "E o amor é tudo o que fica, apenas o amor permanece", Perfeito, sem retoques.

6. Press (Paul McCartney) - Em 1986 Paul lançou mais um álbum, intitulado "Press To Play". As reações não foram tão boas como em outros discos de sua carreira solo. Isso era até previsível pois Paul vinha de uma sucessão de grandes discos nos anos 80. Basta lembrar de "Tug of War" (provavelmente seu melhor trabalho após os Beatles) e até mesmo "Pipes of Peace" (que trazia nada mais, nada menos, do que Michael Jackson como artista convidado). Assim as expectativas estavam altas demais para qualquer novo lançamento de músicas inéditas assinadas por Paul. A música de trabalho desse novo disco foi "Press". A canção ganhou um cilp (como era de praxe na época) e foi bastante divulgada nas rádios. Acabou virando um hit, porém curiosamente não ficou tão marcada na carreira de McCartney como tantos outros clássicos. Ele nunca a tocou ao vivo e nem a trouxe de volta aos seus shows. De certa maneira é aquele tipo de faixa que ficou parada mesmo lá nos anos 80. Isso porém não significa que seja uma música ruim ou fraca. Longe disso. "Press" tem um ótimo arranjo, com destaque para a participação do músico brasileiro Carlos Alomar, em um brilhante solo de guitarra. A gravação é de alto nível, beirando o perfeccionismo, como é comum nos trabalhos de Paul McCartney.

7. Pretty Little Head (Paul McCartney / Eric Stewart) - Uma das músicas mais trabalhadas por Paul nas rádios da Europa foi "Pretty Little Head" que inclusive chegou a ser lançada como single na Inglaterra. Essa música era nitidamente uma tentativa de Paul em soar moderninho, tentando capturar a sonoridade da música techno britânica dos anos 80. Nunca gostei da música em si. Paul McCartney foi um Beatle, fez parte de uma das bandas mais importantes da história do rock de todos os tempos. O que ele precisava ainda provar? Que era modernoso? Bobagem. McCartney simplesmente não precisava desse tipo de coisa. Simples assim. E no final das contas o que era moderno acabou ficando bem datado. Esses sintetizadores já aborreciam na época de lançamento do disco, imaginem hoje em dia! Esse tipo de gravação soa hoje em dia mais envelhecida do que qualquer outra coisa que Paul tenha feito na década anterior.

8. Move Over Busker (Paul McCartney / Eric Stewart) - Para dar certo bastava voltar para o bom e velho rock ´n´ roll, onde Paul finalmente se recuperou com "Move Over Busker". Para gravar essa simpática música ao estilo anos 50, Paul chamou duas feras no estúdio onde estava gravando o álbum, trazendo Pete Townshend para a guitarra e Phil Collins na bateria. Havia se tornado uma tradição desde os tempos de "Tug of War" esse tipo de participação especial de grandes músicos nos discos de Paul. Era uma parceria que havia rendido ótimos frutos, então nada mais natural do que repetir a dose. Pete Townshend, por exemplo, estava bastante inspirado nesse dia, tirando ótimos solos de seu instrumento. Paul o incentivou a improvisar, tocar numa boa, sem amarras. O resultado ficou simplesmente perfeito. Puro rock, sem bobagens, frescuras e modernices desnecessárias.

9. Angry (Paul McCartney / Eric Stewart) - Outra canção que merece destaque é "Angry". Ao contrário de "Press" ela não foi trabalhada por Paul para ser tocada nas rádios e nem virou sucesso na época. Acabou circulando apenas entre os fãs dos Beatles e de Paul que compraram o LP. De certa maneira ela tem uma sonoridade que lembra o punk inglês dos anos 70, mas com uma pitada dos velhos sucessos do rock´n´n roll em seus primórdios, lá nos anos 50, quando os primeiros singles desse novo gênero musical chegavam nas lojas. Em um disco com pouco mais de dez faixas afirmo que há pelo menos quatro grandes momentos (o que convenhamos não deixa de ser uma boa média). Uma das faixas que foram injustamente subestimadas e caíram no esquecimento foi justamente esse rock com espírito anos 50 chamado "Angry". A gravação inclusive me lembra uma jam session por parte de Paul e seu grupo de apoio (contando, olhem só, com Pete Townshend na guitarra e Phil Collins na bateria!). É bom salientar que isso não é um defeito, mas um mérito, simplesmente porque nem sempre uma grande produção garante uma grande música. Muitas vezes a simplicidade é tudo em uma faixa como essa! Tirando os vocais típicos do Wings (que nos remete aos anos 70) tudo o mais me faz lembrar das velhas gravações dos tempos da Sun Records ou até mesmo antes disso! O ritmo é bem envolvente e a letra, sucintamente simplória, completa ainda mais o quadro nostálgico. Só resta saber como um quarentão como Paul na época ainda encontrou toda essa energia adolescente revoltosa e rebelde em plenos anos 80! Ponto para o bom e velho Sir Macca e sua eterna juventude roqueira. É assim que se faz meu caro...

10. However Absurd (Paul McCartney / Eric Stewart) - O mesmo infelizmente não pode ser dito da teatral "However Absurd". Aqui há excessos que não caem bem. Paul erra até mesmo no estilo vocal que adota. Não digo que a melodia seja ruim, suas linhas musicais repetitivas possuem seu charme, mas Paul deveria ter escolhido a simplicidade em seus arranjos, algo como voz e violão. Outra coisa que vai incomodar alguns é a escassez de maiores notas musicais, o que traz uma sensação de repetição que vai cansando o ouvinte pela repetição. Também não gosto da letra. Versos como os que reproduzo a seguir não me dizem nada: "Orelhas contorcidas, como um cachorro / Quebrando ovos em um prato / Não me zombe quando eu digo / Que isso não é uma mentira". Vamos convir, não ficou bom.

11. Write Away (Paul McCartney / Eric Stewart) - Esse projeto "Press to Play" não foi composto apenas pelas músicas que saíram no disco original, no vinil de 1986. Paul gravou outras faixas que ele arquivou e que só foram conhecidas pelos fãs anos depois na edição especial do álbum lançado em meados de 1993. Nenhuma dessas gravações é excepcionalmente boa, mas funcionam como curiosidade. "Write Away", por exemplo, não encontrou espaço nas faixas do disco. Assim Paul resolveu lançá-la discretamente como Lado B do single com "Pretty Little Head". Passou longe de ser um sucesso, nem os próprios fãs mais aguerridos de Paul se lembram dela, para falar a verdade.

12. It's Not True (Paul McCartney) - Outras duas faixas foram arquivadas. "It's Not True" tem até um belo acompanhamento vocal, mas seu arranjo ficou pesado demais, lembrando em certo sentido algumas músicas do Pink Floyd na fase David Gilmour. Depois aos poucos ela vai abraçando um jeito mais Wings de ser. Não considero grande coisa, mas Paul a cantando baixinho tem seus atrativos. Provavelmente Paul não a considerou uma grande composição por isso a colocou na gaveta. "Tough On A Tightrope" parece uma baladinha, uma música de ciranda, para falar a verdade. Paul poderia até mesmo tê-la aproveitada em algum álbum conceitual, quem sabe. É simples e em certos aspectos até mesmo meio bobinha. Não admira que Paul a tenha deixado de lado.

Paul McCartney - Press To Play (1986) - Paul McCartney (baixo, violão, guitarra, vocais) / Eric Stewart (violão, guitarra) / Phil Collins (bateria, percussão) / Pete Townshend (guitarra) / Carlos Alomar (violão, guitarra) / Linda McCartney (teclados, vocais) / Lenny Pickett (saxofone tenor) / Gavin Wright (violino) / Produzido e arranjado por Paul McCartney, Padgham Hugh e Phil Ramone / Selo: Parlophone / EMI / Data de gravação: Março a Dezembro de 1985 / Data de Lançamento: 22 de agosto de 1986 / Melhor posição alcançada na parada  Billboard 200: #30.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Paul McCartney - Press to Play

Bom, se há uma música que justifica a existência desse álbum de Paul McCartney essa é "Only Love Remains". Com um arranjo belíssimo, ao piano, essa é sem favor algum uma das melhores melodias escritas por Paul nos anos 80. Em um disco com tantos altos e baixos, McCartney conseguiu criar uma verdadeira obra prima (mais um em sua longa lista de belas baladas românticas). "Only Love Remains" aliás prova algumas coisas, uma delas que muitas vezes o caminho é a simplicidade. Essa não é uma canção extremamente arranjada, com arroubos orquestrais. Pelo contrário, tudo está no lugar certo e nunca atropela a melodia, essa sua grande qualidade. E letra traz sua mensagem definitiva com a frase "E o amor é tudo o que fica, apenas o amor permanece", Perfeito, sem retoques.

O mesmo infelizmente não pode ser dito da teatral "However Absurd". Aqui há excessos que não caem bem. Paul erra até mesmo no estilo vocal que adota. Não digo que a melodia seja ruim, suas linhas musicais repetitivas possuem seu charme, mas Paul deveria ter escolhido a simplicidade em seus arranjos, algo como voz e violão. Outra coisa que vai incomodar alguns é a escassez de maiores notas musicais, o que traz uma sensação de repetição que vai cansando o ouvinte pela repetição. Também não gosto da letra. Versos como os que reproduzo a seguir não me dizem nada: "Orelhas contorcidas, como um cachorro / Quebrando ovos em um prato / Não me zombe quando eu digo / Que isso não é uma mentira". Vamos convir, não ficou bom.

Esse projeto "Press to Play" não foi composto apenas pelas músicas que saíram no disco original, no vinil de 1986. Paul gravou outras faixas que ele arquivou e que só foram conhecidas pelos fãs anos depois na edição especial do álbum lançado em meados de 1993. Nenhuma dessas gravações é excepcionalmente boa, mas funcionam como curiosidade. "Write Away", por exemplo, não encontrou espaço nas faixas do disco. Assim Paul resolveu lançá-la discretamente como Lado B do single com "Pretty Little Head". Passou longe de ser um sucesso, nem os próprios fãs mais aguerridos de Paul se lembram dela, para falar a verdade.

Outras duas faixas foram arquivadas. "It's Not True" tem até um belo acompanhamento vocal, mas seu arranjo ficou pesado demais, lembrando em certo sentido algumas músicas do Pink Floyd na fase David Gilmour. Depois aos poucos ela vai abraçando um jeito mais Wings de ser. Não considero grande coisa, mas Paul a cantando baixinho tem seus atrativos. Provavelmente Paul não a considerou uma grande composição por isso a colocou na gaveta. "Tough On A Tightrope" parece uma baladinha, uma música de ciranda, para falar a verdade. Paul poderia até mesmo tê-la aproveitada em algum álbum conceitual, quem sabe. É simples e em certos aspectos até mesmo meio bobinha. Não admira que Paul a tenha deixado de lado.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Paul McCartney - Press to Play

Alguns arranjos sempre vão soar bons, não importa o tempo passado. Veja, por exemplo, o caso da música "Stranglehold". Esse tipo de sonoridade poderia estar em qualquer disco dos pioneiros do rock americano na década de 1950. Carl Perkins, Buddy Holly, qualquer um deles poderia assinar uma canção com essa levada. Aqui Paul valoriza os instrumentos básicos das primeiras bandas de rock, dando destaque para o bom e velho violão. Um sax maroto, que sempre me pareceu ter saído dos Comets, o grupo que acompanhava Bill Halley, completa o quadro musical.

Paul usa em sua letra também um velho clichê dos primeiros compositores do rock, com várias perguntas que vão se repetindo ao longo da canção. Também gosto do estilo de composição "apoteótica", onde a harmonia vai sempre num crescente, um velho estilo que sempre apresentou ótimos resultados. Em suma, esse é uma das melhores músicas desse álbum de Paul McCartney. Deveria inclusive ter virado single, com maior divulgação.

A música anterior mostrava que Paul sempre soava melhor quando ia nas raízes musicais, sem muita pretensão. Um pouco disso também se ouve em "Good Times Coming / Feel the Sun", na verdade uma dobradinha que Paul trouxe direto dos tempos dos Wings. Não precisa ir muito longe para perceber bem isso. Basta entrar aquele corinho com Linda e demais vocalistas de apoio para entender bem isso. Paul ainda inseriu uma bela melodia, tocada numa guitarra melosa ao estilo David Gilmour. Gosto da parte "Good Times Coming", mas não tanto de "Feel The Sun". Falta letra nessa segunda parte. Penso que esse foi um dos motivos de Paul ter unido as duas canções em uma pequeno medley. O refrão é bom, contagiante, simpático e agradável aos ouvidos, mas nada muito além disso. O solo de guitarra novamente salva tudo do lugar comum nos últimos acordes. Eric Stewart sempre um craque com seu instrumento.

"Footprints" tem uma simplicidade cativante. Aquele tipo de música que poderia ser tocada ao lado de uma fogueira na praia, durante um luau. Paul manteve a simplicidade da composição original na gravação de estúdio. Ele também canta a música de forma bem terna, sem qualquer afetação. Outra coisa que salvou a gravação é que Paul afastou qualquer resquício daquele tipo de som bem de acordo com os anos 80, com aqueles sintetizadores incômodos. O resultado ficou bonito. Existem alguns efeitos sonoros, mas bem pontuais e dentro da proposta da canção. Gosto bastante dessa faixa. É um dos bons momentos do álbum.

Pablo Aluísio.

Paul McCartney - Press To Play

Que Paul McCartney é um dos grandes gênios da história da música, disso ninguém tem dúvidas. Agora, que até mesmo os gênios dão pequenos tropeços, poucos param para pensar um pouco sobre isso. O álbum "Press To Play" trazia excelentes canções em seu repertório, porém havia alguns deslizes também. Músicas sem muita inspiração que passavam a impressão de que Paul não tinha se esforçado muito ou então as incluiu no disco apenas para preencher espaço. "Talk More Talk" era bem isso. A introdução por si só já era horrível, mesmo contando com a participação muito especial da família de Paul, com destaque para o filho James.

Aquele arranjo com violinos até poderia esconder as fragilidades da canção, mas é impossível negar que é uma faixa muito vazia, sem consistência harmônica. Paul usa e abusa de um refrão supostamente pegajoso para transformar a música em sucesso FM, mas é de se perguntar: a que preço? Essas partes faladas também não funcionavam. Paul já havia usado isso em "London Town" de 1978. Se naquele disco isso não funcionava porque ele voltou à repetir o mesmo erro? Estaria tentando provar algo aos críticos? Quem sabe o que se passava em sua cabeça... o fato era que essa faixa sim era bem fraca, sem muita qualidade.

Uma das músicas mais trabalhadas por Paul nas rádios da Europa foi "Pretty Little Head" que inclusive chegou a ser lançada como single na Inglaterra. Essa música era nitidamente uma tentativa de Paul em soar moderninho, tentando capturar a sonoridade da música techno britânica dos anos 80. Nunca gostei da música em si. Paul McCartney foi um Beatle, fez parte de uma das bandas mais importantes da história do rock de todos os tempos. O que ele precisava ainda provar? Que era modernoso? Bobagem. McCartney simplesmente não precisava desse tipo de coisa. Simples assim. E no final das contas o que era moderno acabou ficando bem datado. Esses sintetizadores já aborreciam na época de lançamento do disco, imaginem hoje em dia! Esse tipo de gravação soa hoje em dia mais envelhecida do que qualquer outra coisa que Paul tenha feito na década anterior.

Para dar certo bastava voltar para o bom e velho rock ´n´ roll, onde Paul finalmente se recuperou com "Move Over Busker". Para gravar essa simpática música ao estilo anos 50, Paul chamou duas feras no estúdio onde estava gravando o álbum, trazendo Pete Townshend para a guitarra e Phil Collins na bateria. Havia se tornado uma tradição desde os tempos de "Tug of War" esse tipo de participação especial de grandes músicos nos discos de Paul. Era uma parceria que havia rendido ótimos frutos, então nada mais natural do que repetir a dose. Pete Townshend, por exemplo, estava bastante inspirado nesse dia, tirando ótimos solos de seu instrumento. Paul o incentivou a improvisar, tocar numa boa, sem amarras. O resultado ficou simplesmente perfeito. Puro rock, sem bobagens, frescuras e modernices desnecessárias.

Pablo Aluísio.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Pat Boone

Pat Boone foi um cantor muito popular nos anos 1950. Ele fazia uma linha bem mais comportada do que um Elvis Presley, por exemplo. Ao invés do roqueiro selvagem com cabelo cheio de brilhantina, Boone encarnava o bom moço, o genro que toda mãe gostaria de ter. Para entender bem esse aspecto basta ver a capa desse disco. Boone está em um ambiente universitário, estudando, sorridente, enquanto espera a chamada para entrar em sala de aula. Mais inofensivo do que isso impossível.

Nesse disco aqui, lançado no auge de sua popularidade, Boone desfila seu repertório. O curioso é que há grandes clássicos do rock como por exemplo Tutti Frutti (também gravada por Elvis em composição original de Little Richard) e Ain't That A Shame (trazendo o melhor do rock blues da Louisiana). Como era de se esperar o bom e velho Pat ameniza o aspecto mais, diríamos, rebelde e selvagem dessas canções. Tudo é bem mais suavizado. De qualquer maneira ainda gosto bastante dessas faixas. Acho inclusive que exageram quando tentam desqualificar a discografia de Pat Boone o chamando de "Mauricinho" ou coisas do tipo. Ele tinha talento, boa voz e seus discos eram bem produzidos. Resumir tudo apenas em puro preconceito é algo bem rasteiro.

Pat Boone - Pat Boone (1956)
Ain't That A Shame
Rich In Love
Two Hearts
No Other Arms
Now I Know
Gee Whittakers
At My Front Door
Take The Time
Tutti Frutti
Tra-La-La
Tennessee Saturday Night
I'll Be Home

Pablo Aluísio.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Queen

Queen e Fritz Lang
No último dia 24 de novembro o mundo lembrou novamente da morte do cantor Freddie Mercury, morto em novembro de 1991. Em termos de Queen um dos meus discos preferidos segue sendo "The Works" de 1984. Esse álbum continua sendo um dos mais populares, mas curiosamente a crítica não o considera muito. Fica longe das listas de "obras primas" da banda. Uma injustiça certamente.

Vou a partir de hoje tecer alguns comentários sobre as canções desse disco. Uma das minhas preferidas sempre foi "Man On The Prowl" e é fácil entender a razão. A melodia dessa faixa parece que foi tirada dos anos 50. Fica claro que o Queen quis fazer um revival 50´s com ela. Até os vocais de apoio vão por esse lado.

A letra imediatamente nos leva a pensar em um Teddy Boy, típico dos anos 50, com seu cabelo cheio de brilhantina dizendo para sua ex-namorada ter cuidado pois ele está pronto a agitar as coisas novamente. É um "homem à espreita", esperando por novas oportunidades. Muito boa a gravação com solos de piano que ficariam muito à vontade em um disco de Fats Domino, por exemplo. Bem evocativa sobre aquela época.

"Radio Ga Ga" que abre o disco também é nostálgica, porém voltar mais atrás no tempo, mais precisamente na época do clássico do cinema "Metrópolis" de Fritz Lang. Só os cinéfilos mais antenados (e cultos) vão pegar todas as referências em termos de letra e melodia. Simplificando muito a canção tenta capturar o futuro, visto sob o ângulo e ponto de vista de alguém do passado, mais especificamente da década de 1920, quando o filme foi lançado. Eu considero essa canção um magnífico trabalho de criação. Mostra como os membros do Queen eram acima de tudo músicos com bastante bagagem cultural. Definitivamente não havia espaço para tolices nos discos dessa mitológica banda de rock que marcou a história da música.

Queen - Live Aid

Quando o Queen aceitou o convite para tocar no Live Aid todos ficaram surpresos. O grupo não lançava um disco há muito tempo e os boatos que circulavam eram de que a banda iria se separar em breve. O próprio Freddie Mercury não vinha bem de saúde, com a voz prejudicada por algumas infecções que tinha sofrido nos últimos meses.Mesmo com tantas coisas contra a apresentação, a banda aceitou o convite e a razão foi explicada depois pelo cantor Freddie Mercury. Durante uma entrevista para um jornalista americano ele disse: "Eu fui criado e educado em uma colégio inglês na Índia. Havia dois mundos bem diferentes. A dos ricos, onde tudo havia em excesso e a dos pobres, onde faltava tudo. Isso me criou uma consciência social que nunca me deixou!"

Amigos próximos depois diriam que Mercury sentia-se muito culpado por causa de sua riqueza em um mundo onde muitos não tinham nem o que comer. Tão ressentido ficava com a situação de pobreza extrema em certos lugares que Freddie Mercury não conseguia sequer assistir a um documentário sobre pessoas famintas e crianças morrendo de fome na África. Ele não suportava aquilo, simplesmente se levantava e desligava a TV. Era demais para sua sensibilidade suportar.

Assim quando surgiu a ideia do Live Aid, Freddie Mercury decidiu que o Queen iria participar apesar de todos os problemas. Não importava que Brian May e Roger Taylor quase não se falavam mais, não importava as brigas internas, nada importava. O Queen era seu grupo musical e Mercury fazia questão que ele se apresentasse. Durante o dia em que o grupo iria subir ao palco Freddie deixou todos surpresos por andar no meio do público, interagindo com as pessoas e os fãs. Enquanto os demais membros do Queen ficavam trancados em suas suítes no hotel, Mercury resolveu interagir com as pessoas que estavam no festival. Ele tomou lanches nas barraquinhas, conversou com jornalistas, foi uma pessoa completamente humilde e acessível. Nada parecido com a fama de diva que alguns diziam ter. O resultado de tanto boa vontade se materializou no palco pois até hoje os críticos concordam que o concerto do Queen foi o melhor de todo o festival.

Pablo Aluísio.

Queen - The Works

Queen - The Works
O primeiro LP do Queen que comprei, ainda na década de 1980, foi justamente esse "The Works". Corria o ano de 1983 e o clip de "Radio Ga Ga" não parava de passar na TV. Até hoje considero um dos videoclips mais geniais da história do rock, não pelo resultado em si, mas sim da ideia de se homenagear o clássico Metrópolis de Fritz Lang. Para um jovem que adorava cinema clássico não poderia haver nada melhor pois em um só pacote se misturava com grande bom gosto o universo do rock e dos velhos clássicos da sétima arte. A mistura se revelou irresistível, pelo menos no meu caso particular. Era exatamente essa canção que abria o álbum. Um belo cartão de apresentação.

Confesso que nunca fui fã de carteirinha da banda Queen. Claro que hoje em dia, nessa decadência musical em que vivemos, uma banda dessas faz uma enorme falta no cenário artístico, nas rádios, mas na década de 80 havia tanta coisa boa rolando ao mesmo tempo que o Queen poderia ser visto apenas como mais um grupo talentoso de rock. Talentoso, mas não imprescindível, De qualquer maneira esse tipo de constatação só vem mesmo para demonstrar o tamanho do vazio que vivemos atualmente em termos de música mundial.

Pois bem, a segunda canção do disco é "Tear It Up" do guitarrista Brian May. Esse é aquele tipo de som que você sabe que é do Queen, seja em que lugar você venha a ouvir a música pela primeira vez. Acredito que poucas melodias sejam tão representativas do som do grupo como ela. Essa batida aliás é encontrada em vários hits do Queen. Soa quase como uma marca registrada - o que talvez seja de fato. Muito usada por torcidas de futebol pelo mundo afora, mas em especial dentro do campeonato inglês de futebol. Coisas que apenas os hooligans entenderiam completamente. Como May a compôs a canção fecha com um maravilhoso solo de guitarra. A música que vem a seguir, "It's a Hard Life", foi escrita por Freddie Mercury e não é apenas um dos maiores sucessos do conjunto em sua carreira - é um verdadeiro hino do universo de baladas do rock inglês. De arrepiar realmente. Grande letra, grande melodia e uma excelente interpretação de Mercury (vamos falar a verdade: ele foi sim um dos maiores vocalistas da história do rock, sem favor algum!).

"Man On The Prowl" que vem logo a seguir também foi escrita por Mercury. Dessa já gosto muito. Ela fez um sucesso razoável nas rádios em seu lançamento, mas sempre a considerei muito infestada por clichês por todos os lados. Mesmo assim não deixo de curtir.  Aprecio bastante seu acompanhamento vocal que lembra as velhas canções do estilo rockabilly dos anos 1950. Aliás o feeling da música vai exatamente por esse lado. Mais uma vez Brian May arrasa em um solo de guitarra onde ele usou uma velha Gibson dos 50´s. A tônica é realmente de nostalgia simpática. Um momento simpático do disco. O curioso é que "Machines (or 'Back to Humans')" é o extremo oposto desse sentimento. Aqui o Queen tenta soar futurista, em um clima meio pós apocalipse. Combina muito bem com a proposta de "Radio Ga Ga"e Metropólis. Musicalmente porém a considero fraca, com arranjos que hoje em dia soam totalmente datados. A melodia também não me atrai. Anda, anda e não chega em lugar nenhum.

E então chegamos em "I Want To Break Free". Foi o maior sucesso do álbum e vendeu milhões de cópias de seu single. O clip era verdadeiramente divertido com todo o grupo vestido de donas de casa entediadas. Ver Mercury com seu bigodão em roupas femininas e seios falsos, pilotando um aspirador de pó foi realmente muito engraçado. Tudo a ver com a proposta da letra, afinal pense, o que poderia ser mais contrário ao significado da palavra liberdade do que uma mulher casada, cheia de filhos, levando uma vida chata e suburbana? Todos merecem ser livres! Um sucesso imortal dos anos 80. Ótima canção.

Depois desse hit o disco fecha com três canções que não chegaram nem perto do sucesso de "I Want To Break Free", mas que são boas músicas no final das contas. "Keep Passing The Open Windows" de Mercury é a melhor delas. Lembra de certo modo "It's a Hard Life", porém é mais animadinha, pra cima! Gosto muito do refrão dessa linha melódica. Realmente ótima para levantar o astral. Depois dela Brian May retorna com seus solos furiosos de guitarra em ""Hammer To Fall". Outra que pode ser entoada tranquilamente em um estádio de futebol - embora a letra já não seja tão adequada. O disco enfim termina com "Is This The World We Created?", baladona escrita pela dupla Mercury / May. Bonito arranjo de piano e violão. Sempre considerei o Mercury um tanto subestimado. A verdade era que ele era um cantor com muitos recursos vocais. Pena um talento desses ter partido tão cedo.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Paul McCartney - Press to Play

Em 1986 Paul lançou mais um álbum, intitulado "Press To Play". As reações não foram tão boas como em outros discos de sua carreira solo. Isso era até previsível pois Paul vinha de uma sucessão de grandes discos nos anos 80. Basta lembrar de "Tug of War" (provavelmente seu melhor trabalho após os Beatles) e até mesmo "Pipes of Peace" (que trazia nada mais, nada menos, do que Michael Jackson como artista convidado). Assim as expectativas estavam altas demais para qualquer novo lançamento de músicas inéditas assinadas por Paul.

A música de trabalho desse novo disco foi "Press". A canção ganhou um cilp (como era de praxe na época) e foi bastante divulgada nas rádios. Acabou virando um hit, porém curiosamente não ficou tão marcada na carreira de McCartney como tantos outros clássicos. Ele nunca a tocou ao vivo e nem a trouxe de volta aos seus shows. De certa maneira é aquele tipo de faixa que ficou parada mesmo lá nos anos 80. Isso porém não significa que seja uma música ruim ou fraca. Longe disso. "Press" tem um ótimo arranjo, com destaque para a participação do músico brasileiro Carlos Alomar, em um brilhante solo de guitarra. A gravação é de alto nível, beirando o perfeccionismo, como é comum nos trabalhos de Paul McCartney.

Outra canção que merece destaque é "Angry". Ao contrário de "Press" ela não foi trabalhada por Paul para ser tocada nas rádios e nem virou sucesso na época. Acabou circulando apenas entre os fãs dos Beatles e de Paul que compraram o LP. De certa maneira ela tem uma sonoridade que lembra o punk inglês dos anos 70, mas com uma pitada dos velhos sucessos do rock´n´n roll em seus primórdios, lá nos anos 50, quando os primeiros singles desse novo gênero musical chegavam nas lojas. Em um disco com pouco mais de dez faixas afirmo que há pelo menos quatro grandes momentos (o que convenhamos não deixa de ser uma boa média). Uma das faixas que foram injustamente subestimadas e caíram no esquecimento foi justamente esse rock com espírito anos 50 chamado "Angry".

A gravação inclusive me lembra uma jam session por parte de Paul e seu grupo de apoio (contando, olhem só, com Pete Townshend na guitarra e Phil Collins na bateria!). É bom salientar que isso não é um defeito, mas um mérito, simplesmente porque nem sempre uma grande produção garante uma grande música. Muitas vezes a simplicidade é tudo em uma faixa como essa! Tirando os vocais típicos do Wings (que nos remete aos anos 70) tudo o mais me faz lembrar das velhas gravações dos tempos da Sun Records ou até mesmo antes disso! O ritmo é bem envolvente e a letra, sucintamente simplória, completa ainda mais o quadro nostálgico. Só resta saber como um quarentão como Paul na época ainda encontrou toda essa energia adolescente revoltosa e rebelde em plenos anos 80! Ponto para o bom e velho Sir Macca e sua eterna juventude roqueira. É assim que se faz meu caro...

Pablo Aluísio.

The Doors - L.A. Woman

Jim Morrison já estava completamente destruído por todos os excessos quando os Doors se reuniram para a gravação de mais um álbum - que iria se tornar o último com o Rei Lagarto nos vocais. Esse disco, todos os fãs sabem, bem poderia se chamar "The Doors Blues Album" porque realmente a levada é de homenagem ao bom e velho blues. Jim estava particularmente interessado no ritmo e não era apenas porque frequentava todos os dias bares de blues em Los Angeles para encher a cara ao lado de seus parças  caminhoneiros e motoqueiros. O sucesso do disco anterior, "Morrison Hotel", se tornou um inegável êxito de público e crítica, abrindo o caminho para esse tipo de som, se mostrando bem viável para Jim e seus colegas de banda.

De todas as faixas uma das mais representativas é justamente essa "Crawling King Snake". Esse é um blues antigo, clássico, um verdadeiro standart. Presume-se (ninguém tem certeza) que a canção foi composta por cantores de blues de cabarés na década de 1920. Só depois vieram as primeiras gravações. Naquela época os compositores e cantores de blues eram considerados vagabundos, artistas que vendiam suas criações em troca de uma garrafa de whisky, as gravando em pequenos estúdios do tipo fundo de quintal. Assim as origens de músicas como essa acabavam se perdendo nas areias do tempo. A versão de Morrison bebe diretamente (sem trocadilhos infames, por favor!) da gravação de John Lee Hooker dos anos 1940. Em minha opinião essa versão dos Doors é inclusive superior às gravadas por Howlin' Wolf e Muddy Waters, Um registro excelente, com muita alma e espírito (provavelmente vindo diretamente das entidades que norteavam a mente do embriagado Morrison). Melhor do que isso, impossível.

Outro blues, "The Changeling", foi escolhida para abrir o álbum. Aqui Jim Morrison fez um pedido inusitado. Ele queria um arranjo diferenciado, algo que remetesse aos velhos bares de beira de estrada da Louisiana. Assim o produtor da Elektra Records criou um som bem diferente mesmo. Um crítico do New York Times chegou a dizer que a música tinha um som que fazia lembrar uma serpente ou uma cobra à beira da estrada. Jim que adorava répteis provavelmente adorou esse sentido, essa interpretação. Na letra Jim incorpora um andarilho, um homeless (sem-teto)! Um sujeito livre, que vive em todos os lugares em troca de alguns trocados dados pelos transeuntes. Nada das velhas amarras da sociedade. Jim Morrison sempre teve um interesse a mais nos que viviam à margem, os ditos marginalizados pelo status quo.

"The WASP (Texas Radio and the Big Beat)" soava por sua vez como se você estivesse dirigindo por alguma estrada do Texas e sintonizasse uma rádio de blues no dial. A sigla WASP era uma referência aos brancos, aos protestantes, aos anglo-saxões, considerados "a nata" da sociedade americana. Essa sigla inclusive foi usada por organizações racistas para classificar o que era um "verdadeiro americano", pessoas bem acima do restante da escória, ou seja, dos negros, dos latinos, dos imigrantes e de todos aqueles que não se enquadrassem na visão racista e canalha da Klan. Jim obviamente usou o WASP como ironia, como crítica, como uma forma de debochar da mentalidade dessa gente. Jim incorpora um DJ na música e declama versos como esse: "Os negros brilhantemente enfeitados na selva / Estão dizendo "Esqueçam as noites" / Vivam conosco na floresta azulada / Aqui fora no perímetro não há estrelas / Aqui estamos petrificados - imaculados.". Morrison estava particularmente inspirado para escrever letras nesse disco.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Snow Patrol - Eyes Open

Revirando velhos CDs me deparei novamente com esse álbum do Snow Patrol. Sempre gostei muito do som desses escoceses, mas parei de acompanhar a carreira deles há algum tempo (por onde será que andam nesse momento?). Esse "Eyes Open" foi meu primeiro CD da banda. Comprei assim que saiu, por volta de 2006. O som melódico das canções continua tão bom quanto antes. O Snow Patrol tem uma sonoridade que poderia definir como um Stereophonics mais romãntico, com menos guitarras estridentes, o que é ideal para quem gosta do lado mais suave do Britpop. Aqui temos onze faixas que podem ser definidas como, de forma bem singela, agradáveis. As baladas predominam, até porque são ideais para a voz de Gary Lightbody. A faixa inicial "You're All I Have" sempre foi a minha preferida. Começa quase como um trenó no meio da neve. É curioso que depois desse começo calmo a canção dá uma levada alto astral, com vocais pra cima, empolgantes, quase como se estivessem vibrando com alguma notícia animadora, alegre. Esse som feliz demais pode ser meio complicado para os fãs do Travis, outros escoceses excelentes, mas vale a pena pela intensa alegria que tentam passar. Para ouvir numa fase mais relaxante, curtindo a vida. Por falar em Travis a balada "Chasing Cars" poderia se encaixar perfeitamente em qualquer CD deles que ninguém iria notar a diferença. Snow Patrol querendo dar uma de depressivos. Não é bem a praia dos caras, vamos ser sinceros.

Em termos de arranjos vale também a menção de "Shut Your Eyes". O dedilhado atravessa toda a faixa. O refrão pegajoso não é unanimidade entre os críticos do rock britânico, mas está valendo, até porque o Snow Patrol sempre teve mesmo vocação para tocar nas rádios (pelo menos nas rádios inglesas, claro!). Isso ficou bem claro em "It's Beginning to Get to Me". Se bem que eles não deveriam exagerar tanto. Ficou óbvio demais. E essa caixinha de ninar que ouvimos em "You Could Be Happy"? Provavelmente seja feita para tocar para os seus filhos pequenos dormirem de noite. Para uma banda escocesa que não quer ser tão depressiva como o Travis vai soar tudo um pouco fora do lugar! A última grande faixa do álbum vem com "Headlights on Dark Roads". Suas linhas ansiosas e nervosinhas bateram muito bem com a proposta do grupo nesse CD.

Snow Patrol - Eyes Open (2006)
1. You're All I Have
2. Hands Open
3. Chasing Cars
4. Shut Your Eyes
5. It's Beginning to Get to Me
6. You Could Be Happy
7. Make This Go On Forever
8. Set the Fire to the Third Bar
9. Headlights on Dark Roads
10. Open Your Eyes
11. The Finish Line

Pablo Aluísio.

Chet Atkins - Mister Guitar

Chet Atkins - Mister Guitar (1961)
Chet Atkins não foi apenas o produtor de Elvis Presley na RCA Victor. Ele foi muito mais. Certamente Atkins foi um dos guitarristas mais talentosos da história do rock e da country music americana. Tem dúvida sobre isso? Então aconselho a audição desse ótimo LP (hoje em dia infelizmente bem raro de encontrar). Nele Atkins desfila todo o seu talento, indo do R&B ao blues, do rock ao pop, do country ao soul. Ele era genial, vamos convir. A música que abre o álbum, "I Know That You Know", talvez seja uma das faixas mais conhecidas. Eu a considero uma espécie de skiflle americano (como todos sabemos o skiffle original nasceu na Inglaterra). Aqui Atkins, extremamente antenado com o som da música britânica resolveu fazer sua própria versão do ritmo, tudo Made in USA. Ficou excelente o resultado, embora eu saiba muito bem que esse tipo de som instrumental será visto hoje em dia quase como algo pueril. Música de desenho animado? Não vamos exagerar a esse ponto também. É skiffle, o ritmo em que nasceu os Beatles.

"Rainbow" tem um sabor bem mais country, bem melódica. A música foi criada por Atkins para fazer parte de um western, porém com o cancelamento do filme pela Universal ele resolveu reescrever parte de seu arranjo. O resultado está aí. Muito bem executada (Atkins era mestre), a gravação original contou a presença de Scotty Moore, o guitarrista da banda de Elvis Presley que resolveu dar uma canja. É dele a segunda guitarra, de apoio. "Country Gentleman" segue na mesma linha, música country instrumental, com belas melodias. Essa é uma baladinha rural que fez muito sucesso nas rádios de Nashville e Memphis a tal ponto que Elvis o parabenizou pessoalmente pela faixa. O álbum se encerra com "Piano Concerto in B-Flat Minor" que considero a melhor gravação do disco. Essa já tem mais elementos de pop, tudo embalado por uma sonoridade agradável e relaxante. Chet Atkins foi certamente um genial guitarrista, infelizmente também subestimado em seu talento.

Chet Atkins - Mister Guitar (1961)
I Know That You Know
Rainbow
Hello Bluebird
Siesta
Country Style
Show Me the Way to Go Home
I'm Forever Blowing Bubbles
Backwoods
Country Gentleman
Slinkey
Jessie
Piano Concerto in B-Flat Minor

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

The Byrds - Turn! Turn! Turn!

Título Original: Turn! Turn! Turn!
Artista: The Byrds
Ano de Produção: 1965
País: Estados Unidos
Estúdio / Selo: Columbia Records
Produção: Terry Melcher
Formato Original: Vinil
Músicos:  David Crosby, Gene Clark, Michael Clarke, Chris Hillman, Jim McGuinn

Faixas: Turn! Turn! Turn! (To Everything There is a Season) / It Won't Be Wrong / Set You Free This Time / Lay Down Your Weary Tune / He Was a Friend of Mine / The World Turns All Around Her / Satisfied Mind / If You're Gone / The Times They Are a-Changin / Wait and See / Oh! Susannah.

Comentários:
Em meados dos anos 1960 muitos críticos e especialistas em música decretaram que o Rock americano estava morto e enterrado. Elvis estava afundando em trilhas sonoras pavorosas em Hollywood e os demais pioneiros do gênero como ele tinham decaído na carreira. Ninguém mais na América conseguia fazer frente à invasão britânica promovida por Beatles, Rolling Stones e cia. Durante essa fase apenas os Beach Boys conseguiam colocar a cabeça para fora do buraco. Com o The Byrds finalmente havia um segundo grupo de rock relevante para fazer frente aos britânicos. Esse álbum "Turn! Turn! Turn!" foi um enorme sucesso de público e crítica e até hoje é considerado a verdadeira obra prima dos Byrds. Tem uma sonoridade incrível e letras poderosas que fogem dos temas bobinhos que vinham infestando os discos dos roqueiros americanos. De certa forma é um disco que antecipava o que estava prestes a surgir no cenário como os Doors, que levariam à proposta de unir rock, filosofia e poesia às últimas consequências. De certa maneira o grupo só não foi maior por causa dos problemas internos e das próprias personalidades de seu integrantes pois nem sempre é uma boa ideia reunir tantos dândis poéticos em apenas uma formação. Mesmo assim deixamos aqui o registro dessa verdadeira obra de arte do rock americano dos anos 60. Esse é aquele tipo de disco que simplesmente não pode faltar em sua coleção.

Pablo Aluísio.

Norah Jones - Studio 104

Norah Jones - Studio 104
Ultimamente a cantora Nora Jones tem deixado a desejar no que se refere aos seus últimos álbuns. Ele trilhou um caminho mais alternativo que muitas vezes não caiu muito bem, nem em sua voz e nem em seu repertório de baladas. A verdade é que Jones já havia encontrado seu caminho certo desde as primeiras gravações. Foi mexer em time que estava ganhando e deu no que deu. Para relembrar os bons tempos de sua carreira, quando tudo caminhava muito bem vou deixar uma dica diferente. Se trata desse maravilhoso bootleg. Norah Jones tem uma voz linda, com um repertório da mais fina classe.

Aqui ele junta o útil ao agradável, se apresentando na cidade luz, Paris. A gravação foi realizada no Studio 104 (programa de uma popular emissora de rádio parisiense) no dia 26 de janeiro de 2007. É importante prestar atenção na data pois Norah na ocasião estava colhendo os frutos de seu melhor álbum, "Come Away With Me", vencedor de vários prêmios Grammy. Além de ter sido um sucesso de crítica o disco ainda se tornou uma sensação de vendas, batendo os vinte milhões de CDs vendidos - o que em tempos atuais é um número de respeito! Mas deixemos aspectos comerciais de lado, o que realmente importa é a beleza de sua música, essa sim acima de qualquer crítica. Por falar nisso, apesar de ser um bootleg, "Studio 104" não deixa a desejar em termos de qualidade sonora, afinal de contas as emissoras de rádio da Europa são bem equipadas nesse aspecto, sob qualquer ponto de vista técnico que você possa pensar. Assim não deixe de ouvir e curtir uma das mais belas vozes femininas da atualidade. Norah Jones, senhoras e senhores, em seu melhor momento na carreira. Imperdível deixar de conferir todos essas obras primas modernas em suas versões ao vivo.

Norah Jones - Studio 104 (2007)
Cold cold heart
Sunrise
Thinking about you
Sinkin' soon
Not too late
Not my friend
Humble me
Wake me up
Broken
Until the end
 Creepin' in
The long way home
Little room
My dear country
Rosie's lullaby
Be my somebody
Don't know why
Come away with me
Encore, applause
Lonestar.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

The Beatles - John Lennon e o desastre da Apple

Quando Brian Epstein morreu os Beatles ficaram sem saber como administrar os negócios da banda. Foi então que John Lennon propôs a criação de uma nova empresa chamada Apple. Ela iria gerir todos os assuntos ligados aos Beatles, além de abrir novas oportunidades a artistas que só queriam ter uma chance. Na coletiva de imprensa de anúncio da Apple John Lennon declarou: "Eu quero que todos os que são artistas nos enviem seus materiais. Na Apple vocês vão ter espaço e não irão precisar se ajoelhar a ninguém para ter uma chance!". Como se pode perceber as intenções eram as melhores possíveis só que na prática a Apple se transformou em uma desastre comercial e financeiro completo. O anúncio de John fez com que milhares de pessoas enviassem fitas e gravações para o prédio do novo selo dos Beatles em Londres só que ninguém estava realmente disposto a ouvi-los. Os Beatles não iam até a Apple e seus funcionários não passavam de amigos e colegas do grupo, pessoas sem formação nenhuma para gerir uma grande empresa. O próprio George Harrison reconheceu isso quando resolveu fazer uma visita surpresa na Apple e descobriu que não havia ninguém trabalhando de fato por lá. Os funcionários passavam o dia todo fumando maconha!

John não queria saber da Apple, nem George e nem muito menos Ringo. O único que se mostrou a fazer algo pela empresa foi Paul McCartney. Ele percebeu que a empresa era uma bagunça completa e que muito dinheiro estava sendo perdido com ela. O pior é que era o seu dinheiro, por isso resolveu convidar seu sogro Lee Eastman para administrar aquele caos. A ideia não foi bem recebida pelos demais Beatles. Eles achavam que Paul iria dominar completamente a empresa com seu sogro no comando, assim John, George e Ringo se uniram para desmontar os planos de Paul. Isso daria origem a uma das maiores brigas da história dos Beatles, algo que iria só crescer com os anos, desandando para a separação definitiva do grupo alguns anos depois. John Lennon lançou o nome de Allen Klein para controlar a Apple e os Beatles. Klein era um astuto homem de negócios de Nova Iorque que já tinha trabalhado com os Rolling Stones antes. Ele tinha fama de não ser muito honesto, mas Lennon resolveu confiar nele! "Alguém com essa fama de tubarão e ladrão como Klein não pode ser um mau sujeito!" - teria dito. Paul obviamente não aceitou ter Klein como empresário e uma guerra começou dentro dos Beatles, uma guerra onde milhões seriam perdidos, outros roubados e a banda não sairia viva dela.

O fato de John Lennon ter escolhido Allen Klein para ser o novo empresário dos Beatles colocou ele em confronto direto com Paul McCartney. Assim que John declarou sua decisão, Paul foi taxativo ao dizer: "Esse cara jamais vai ser o meu empresário!" ao que John retrucou: "Vai ser sim. Ele vai ser o empresário dos Beatles e sendo você da banda não vai ter outra opção! Aceite Klein!". Paul jamais aceitaria. Isso criou uma verdadeira rachadura dentro dos Beatles. De um lado John, George e Ringo e do outro Paul. Até aquele momento os Beatles tinham um trato não escrito dizendo que qualquer decisão dentro do grupo deveria ser unânime. Sempre que alguém dissesse "não" a decisão não seria tomada. John ignorou isso e quis impor a decisão da maioria, dizendo que Paul iria aceitar Klein de todas as maneiras. Isso criou uma tensão que duraria meses, sempre com Paul dizendo não, não e não! Esse tipo de briga não ajudou em nada para o desastroso balanço financeiro da Apple. Para aliviar um pouco a situação Paul compôs "Hey Jude" para ser o primeiro single no novo selo. Era uma grande música, que rapidamente se tornou um sucesso mundial, mas nem o ótimo resultado comercial do compacto livrou os Beatles de muitos problemas comerciais. Na época a EMI queria renovar o contrato do grupo. John então indicou Allen Klein para as negociações, mas Paul não aceitou ser representado por ele. Ao invés disso informou à EMI que seus contratos futuros deveriam ser negociados como seu sogro Lee Eastman.

John Lennon ficou possesso com a decisão de Paul. Quando se encontraram na sede da Apple, no centro do Londres, eles trocaram todos os tipos de insultos e acusações entre si. Duas revelações pioraram ainda mais a situação. John descobriu que Paul estava falando mal de Yoko Ono pelas suas costas e que seus royalties com a EMI seriam maiores do que os dos demais Beatles. Para John isso foi uma traição para o conjunto. Paul deu de ombros. Seu novo empresário Lee Eastman tinha sido mais eficiente do que Klein. Qual era o problema disso? Paul também comprou briga com George Harrison ao ridicularizar sua postura de Hare Krishna com todo aquele papo de espiritualidade ao mesmo tempo em que enviava parte de sua fortuna para paraísos fiscais, para fugir dos impostos ingleses. Para Paul o seu companheiro de banda George Harrison não passava de um baita de um hipócrita. Nem precisa dizer que isso piorou ainda mais o relacionamento interno entre os Beatles que ficaram a um passo da separação.

O clima de tensão e rivalidade entre Paul e John só aumentou com o passar do tempo. Já por volta de 1969 Paul McCartney resolveu consultar alguns advogados pois ele estava planejando processar a Apple e os demais Beatles. Claro que algo assim significaria o fim do conjunto, mas era uma possibilidade que não poderia ser descartada. Enquanto Paul se decidia ou não em processar todo mundo surgia um novo foco de conflito dentro da Apple. John Lennon, sem consultar ninguém do grupo, decidiu por conta própria dar as fitas originais das gravações das sessões de Let It Be para o produtor Phil Spector. Lennon achava o material muito ruim, sem rumo, sem foco. Talvez Spector conseguisse transformar horas e horas de gravações ruins em um álbum! Quando soube disso Paul ficou completamente fora de si, afinal aquelas também eram suas músicas e nunca alguém tinha mexido nelas antes sem sua expressa autorização. Canções como "The Long and Winding Road" e a própria "Let It Be" estavam inacabadas, precisando de um complemento em seus arranjos, algo que Paul estava preparando para fazer nos estúdios de Abbey Road. Antes que isso acontecesse John se antecipou e deu tudo para Spector em Nova Iorque dizendo que ele fizesse o que bem entendesse com as gravações. Paul ligou para John e ambos tiveram uma conversa tensa, cheia de ofensas pessoais e ameaças de processo. John disse que não voltaria atrás ao que Paul avisou que se as fitas não voltassem a Londres ele iria processar os Beatles, a EMI e o próprio Phil Spector.

John parecia se divertir com a situação. Ele chegou a afirmar que todo o material era uma grande m* e não estava nem aí para o que Phil Spector iria fazer com ele. Esse seria o começo de uma parceria entre John e o produtor, algo que se estenderia em sua carreira solo, quando Spector iria produzir muitos de seus discos. Para Paul porém não estava nada OK. Ele se irritou quando soube que Spector estava escrevendo um novo arranjo para "The Long and Winding Road". Talvez esse fato tenha sido a gota d'água! As más notícias porém não paravam por aí. Durante outra daquelas reuniões cheias de desaforos e ofensas na Apple, John deixou todos chocados ao bater o punho sobre a mesa, avisando: "Estou fora dos Beatles! Para mim chega!". John Lennon deixou todos surpresos na Apple quando anunciou que iria embora dos Beatles. Para Paul era um choque completo! Tudo bem, o relacionamento entre os membros do grupo era cada dia pior, porém ele jamais poderia imaginar que John iria pular fora do barco! A reação de Paul foi tensa. Quando John lhe disse que estava fora, ele ficou branco como uma parede! Mal podia acreditar no que ouvia de seu companheiro de tantos anos... E John parecia bem decidido, era o fim mesmo!

"Você não pode deixar os Beatles!" - disse um chocado Paul. "Nós acabamos de assinar um contrato com a EMI até 1975! Você está louco?" - ao que John respondeu: "Que se dane! Me processem! Eu não faço mais parte dos Beatles". A reunião continuou com muita tensão e a única coisa positiva que Paul conseguiu de John foi que ele não anunciasse nada na imprensa até o lançamento do próximo álbum dos Beatles, agora intitulado "Let It Be". John concordou, mas avisou que nunca mais voltaria a gravar nada com os Beatles. Ringo ficou estupefato, sem saber o que pensar ou fazer, mas curiosamente George, conforme confessaria anos depois, ficou aliviado! Havia muita tensão entre George e Paul nos estúdios e ele criou uma aversão ao estilo de Paul, sempre controlador, sempre querendo que tudo fosse feito ao seu jeito. Apesar disso McCartney tinha razão quando disse a John que os Beatles não podiam se separar naquele momento. A EMI contava com discos inéditos dos Beatles até meados da década de 1970 - ninguém poderia pensar que os Beatles iriam se auto destruir tão cedo! E era certo que todos eles seriam processados por quebra de contrato! Era um desastre completo!

Anos depois em uma entrevista John Lennon explicou sua decisão: "Eu fiquei ali dizendo não, não é não para tudo e para todos. Paul agiu como se eu tivesse pedido um divórcio! Os Beatles, na verdade, já estavam acabados há pelo menos uns três anos. Paul fez um bom trabalho nos mantendo unidos enquanto não sabíamos que caminho seguir na vida. Nessa fase ele supostamente nos liderou, mas para que serve uma liderança se você fica andando em círculos?". Naquela época a Apple se preparava para o lançamento de dois discos, "Let It Be" e "McCartney", que seria o primeiro disco solo de Paul. Havia um clima de tensão sufocante no selo, mas Paul, para choque mundial, se adiantou e foi à imprensa dizendo que ele estava deixando os Beatles! No dia seguinte manchetes de todo o mundo diziam: "Paul deixa os Beatles!". John se sentiu completamente traído por ele. Lennon havia concordado em esperar, antes de anunciar publicamente que estava deixando os Beatles e agora Paul o apunhalava pelas costas, fazendo o mesmo! Era o fim da picada! O sonho estava definitivamente acabado.

Em 1967 Paul McCartney comprou uma fazenda na Escócia. Ele comprou na planta, sem nunca ter colocado os pés lá. Só alguns meses depois Paul resolveu visitar o lugar ao lado de sua namorada Jane Asher. Realmente era uma região bem isolada, uma das propriedades rurais mais inacessíveis que se poderia pensar. Não havia muita coisa por lá, a não ser uma pequena cabana, sem luz elétrica ou qualquer luxo do mundo civilizado. Jane achou tudo horrível, mas Paul adorou o jeito rústico do lugar. Ele estava procurando por algo assim há bastante tempo, um refúgio que o tiraria da loucura dos Beatles e dos compromissos na carreira. Paul resolveu chamar seu rancho de High Park e em pouco tempo aquele seria um dos seus lugares preferidos.

Linda, a futura esposa de Paul, com seu jeito meio hippie, também adotaria a fazenda na Escócia como um dos melhores lugares para se estar. Paul e ela iam com regularidade para lá, onde ficavam isolados por semanas a fio. Nos primeiros meses Paul não modificou em nada a rudeza do lugar. Quando apareceu um buraco no teto ele mesmo tratou de consertar. Depois comprou equipamentos como um trator e começou uma criação de ovelhas. Acabou até mesmo seguindo a moda dos fazendeiros da região, deixando crescer uma grande barba vitoriana! Também mandou instalar energia elétrica, porque viver sem luz também já era demais! Assim quando Paul queria escapar das pressões era para lá que ele ia embora. Com as melhorias Paul foi levando cada vez mais coisas para High Park. Ele instalou praticamente um estúdio de gravação por lá, uma sugestão de Linda. E foi nesse lugar bucólico, isolado e de paz, que Paul acabou gravando seu primeiro disco solo. Em "McCartney", o álbum, Paul fez tudo. Ele compôs as canções, tocou todos os instrumentos sozinho, gravou sua parte vocal e depois produziu as fitas. Foi um disco de um homem só. Paul tinha intenção de colocar o LP para venda logo no começo de 1970, mas como era de se prever em termos do selo Apple logo surgiram problemas. John Lennon parecia disposto a sabotar o disco de Paul. E ele tinha uma arma bem poderosa em suas mãos, o novo disco dos Beatles, "Let It Be". John arquitetou um plano para lançar o novo disco dos Beatles na mesma semana em que o novo disco de Paul fosse lançado. Sua intenção era acabar com Paul nas lojas, gerando uma concorrência pesada no mercado.

Quando soube disso Paul ficou indignado! Se aquilo acontecesse realmente suas vendas seriam baixas, pois os fãs certamente iriam escolher o disco dos Beatles ao invés do seu. Provavelmente essa deslealdade de John tenha sido o motivo que Paul estava esperando para processar todo mundo. Em poucos dias Paul abriu um processo contra a companhia de Allen Klein, o novo empresário dos Beatles, contra a Apple e contra os Beatles. Amigos desde quando eram adolescentes Paul agora processava John, George e Ringo. Isso abriu uma verdadeira caixa de Pandora e de repente todos eles estavam processando a si mesmos. "O fim dos Beatles foi uma situação do tipo 'eu processo você e você me processa!" - lamentaria Ringo anos depois. Não haveria mais volta depois de algo assim.

Derek Taylor, que trabalhou muitos anos com os Beatles, resumiu bem os bastidores do grupo: "Na Apple havia todo tipo de coisa, menos paz e amor". Era uma frase irônica, um sarcasmo, sobre a diferença entre a imagem pública dos Beatles e as brigas sem fim que caracterizavam o cotidiano dos integrantes da banda. Quando Paul McCartney saiu dos Beatles em 1970 a primeira coisa que ele fez foi fundar sua própria empresa, a MPL. A partir de então tudo o que se referia a sua carreira seria administrada única e exclusivamente por ele mesmo, sem a interferência de empresários ladrões e agentes corruptos. Paul havia aprendido muito com o desastre da Apple e usou aquilo como experiência profissional, algo que ele não queria mais repetir. Já John, George e Ringo cometeram um erro fatal. Com a saída de Paul eles resolveram dar mais poder ainda ao empresário Allen Klein! John Lennon queria provar um ponto de vista para Paul, a de que Klein era realmente o nome certo para os Beatles. O problema é que ele não era. Em pouco tempo começaram a surgir denúncias de mal gerenciamento de Klein sobre os direitos dos Beatles. Ele foi acusado pela imprensa americana de ter ficado com a maior parte dos lucros do lançamento do álbum "Let It Be" nos Estados Unidos. Além disso havia forte indícios de que Klein estava vendendo para o mercado negro gravações inéditas da banda. Em poucas palavras: ele estava roubando os Beatles!

Paul McCartney obviamente se sentiu gratificado com tudo. Ele havia dito que Klein não era o nome certo para gerenciar os negócios dos Beatles e isso basicamente criou a crise que o fez abandonar o conjunto. John Lennon assim pagou caro por ter comprado essa briga. Em 1973 John cansado das histórias mal explicadas de Klein finalmente o demitiu. Lennon acreditava que o contrato do empresário havia chegado ao final e por isso não queria mais renová-lo. Klein alegou quebra de contrato e abriu processos milionários contra John, George, Ringo e Paul. Em relação a McCartney ele conseguiu se livrar da ação, principalmente ao provar nos tribunais que jamais havia assinado um documento considerado crucial na causa. John porém não teve a mesma sorte. Ele assinava tudo o que Klein colocava em sua frente. Acabou perdendo milhões de dólares por causa disso. Já a empresa Apple, que os Beatles tinham fundado, continuou as atividades, embora a própria banda já não mais existisse. "Uma situação surreal!" - resumiu Neil Aspinall, que ficou à frente do selo após a explosão dos Beatles nos tribunais. A EMI porém não abriria mão do contrato que os Beatles havia assinado, cuja duração previa o lançamento de discos até 1975. A situação acabou sendo resolvida em acordos individuais, onde cada um membro da banda gravaria seus discos solos que iriam valer para o cumprimento do contrato. Era uma saída que acabou poupando os ex-Beatles de novos processos e novas dores de cabeça.

O fim dos Beatles significou também o fim da amizade entre John, Paul e George. Apenas Ringo procurou manter a velha aproximação com seus ex-colegas de banda. Paul e John ficaram anos sem se falar. Só depois que houve uma trégua nos processos judiciais é que John e Paul ensaiaram uma rápida reaproximação. Sempre que ia até Nova Iorque Paul fazia esforços para encontrar John, indo em seu apartamento, mas quase nunca era muito bem sucedido. John não queria ter a mesma amizade de antes. Ele mesmo chegou a declarar em entrevistas que após o fim dos anos de escola era natural deixar os antigos amigos de lado, caso contrário isso significaria que você ainda não havia conseguido sair da adolescência. A coisa de ter um bando, nas próprias palavras de John, havia chegado ao fim.

A relação entre John e George era ainda mais tensa. Embora eles tenham chegado a tocar juntos novamente, John nunca mais se sentiria à vontade ao lado de George. Para Lennon o ex-beatle tinha uma espécie de mágoa misturada com decepção em relação a ele, tudo porque segundo John, ele havia ido embora de casa (dos Beatles). George tinha uma relação de pupilo e mestre em relação a John desde o começo do grupo. Ele era muito mais jovem do que John e o líder dos Beatles nunca o havia levado muito à sério, mesmo após tantos anos. "George vivia atrás de mim, me admirando e procurando que eu o ensinasse algo sobre a vida! Eu não quero ser mestre de ninguém!" - declarou Lennon, resumindo a questão. Além disso o próprio John havia ficado decepcionado com a biografia de George que em sua visão havia propositalmente apagado sua influência e ajuda após anos de apoio e incentivo dentro dos Beatles. Para John, George não passava de um ingrato, um sujeitinho que não lhe deu o reconhecimento devido após o fim dos Beatles. Depois da separação John e George poucas vezes se viram pessoalmente. Geralmente George tentava entrar em contato com John, inclusive fazendo ligações para ele, mas John não tinha muita vontade de encontrá-lo novamente ou manter uma amizade próxima. John encarava George como o garoto que Paul havia trazido para os Beatles anos antes. Nada muito além disso.

E se John e George não se davam mais muito bem o pior acontecia entre George e Paul. Harrison criou uma antipatia e uma aversão absoluta em relação a McCartney. Em várias ocasiões ele declarou que jamais gostaria de trabalhar novamente ao lado de Paul. Claro que anos depois engoliria todas as suas opiniões ao voltar a tocar ao lado de Paul em "Anthology", mas isso em nada amenizou o fato dele nunca mais sentir prazer ao gravar ao lado do ex-companheiro dos tempos dos Beatles. Nesse meio de tantas inimizades, o único que conseguiu manter um companheirismo com todos foi realmente Ringo. Ele, sempre com espírito conciliador, acabou sendo o único elo de ligação real entre os Beatles. Todo o resto se transformou em raiva, mágoa, decepção e indiferença. Uma das coisas que Paul lamentaria após o fim dos Beatles foi a forma como ele tratou Ringo Starr quando esse o visitou em sua casa em Londres para convencê-lo a segurar o lançamento de seu primeiro disco solo até que o novo disco dos Beatles, "Let It Be" finalmente chegasse nas lojas. Nessa ocasião Paul tratou muito mal Ringo, o xingando de todos os palavrões possíveis, o expulsando de sua casa, quase a pontapés! Eles jamais brigaram daquele jeito, mesmo após tantos anos de convívio nos Beatles.

"Foi uma vergonha!" - admitiria Paul anos depois. Ringo estava na casa de Paul para tentar convencer ele que Klein era o melhor nome para se tornar o empresário dos Beatles. "Eu nunca vou aceitar ele!" - gritou Paul. É interessante que anos depois Paul tenha admitido em entrevista que naquela época sentiu-se numa situação clara de "Eu contra eles", o que não deixava de ser verdade, mas que também tinha um pouco de paranoia envolvida. Decidido a abandonar os Beatles, Paul escreveu uma longa carta para John Lennon, explicando sua visão do assunto. Ao invés de responder com outra longa carta, Lennon simplesmente mandou como resposta uma foto sua, com um balãozinho de quadrinhos onde ele perguntava: "Basta dizer, onde, como e porquê". Era o velho besteirol Lenniano que Paul conhecia muito bem, desde os tempos do colégio quando eles se conheceram. De fato, nos últimos dias dos Beatles houve uma clara divisão na banda, de um lado Paul, do outro John, George e Ringo. Obviamente os três quartos restantes dos Beatles eram comandados por Lennon, capitaneado por ele. Os Beatles estavam rachados.

Durante uma entrevista John Lennon finalmente resumiu a questão ao dizer as frases: "Os Beatles estão mortos! Viva os Beatles" e a mais conhecida lápide da história sobre o fim de uma banda: "O Sonho Acabou!". Na verdade John Lennon sabia que não haveria volta. Um empresário de Nova Iorque resolveu oferecer uma fortuna por apenas um show dos Beatles na cidade, no Madison Square Garden, mas Lennon desconsiderou completamente a questão. "Dane-se, os Beatles não existem mais. Eu não sou mais aquele cara de terninho com uma guitarra cantando para um bando de garotas gritando! Isso é bobagem! Hoje eu sou um outro homem. Os Beatles jamais vão voltar simplesmente porque eles não existem mais. Eu não tenho mais 20 anos de idade. Não seria legal trazer Elvis de volta aos seus primeiros anos? Seria, mas é impossível. Isso é passado, se conformem!" - concluiu de forma avassaladora John, com seu conhecido pragmatismo ácido.

Um fato pouco conhecido dos fãs dos Beatles é que nos últimos momentos da banda houve uma derradeira tentativa de salvar os Beatles. Aconselhado por Allen Klein, John Lennon resolveu fazer um último esforço para ressuscitar o grupo. Uma sessão de gravação foi marcada nos estúdios de Abbey Road. George e Ringo confirmaram sua presença. Então John ligou para Paul informando a sessão, dizendo: "Vamos gravar na sexta. Estaremos esperando por você!". Paul não confirmou nada, ficou em silêncio. No dia marcado todos os três Beatles compareceram. A intenção era gravar um novo single dos Beatles. Seria o primeiro lançamento deles após o lançamento do álbum "Let It Be". Com vinte minutos de atraso John adentrou o Abbey Road. Encontrou George e Ringo na sala de controle. George Martin também estava lá, mas Paul... jamais apareceu! Ringo ainda perguntou aos companheiros de grupo: "Paul não virá, vamos gravar alguma coisa ou não?". Certamente os Beatles poderiam seguir em frente sem Paul. Várias sessões nos últimos tempos tinham acontecido sem um ou até mesmo dois Beatles. Aquela porém era uma sessão diferente. Era uma tentativa de manter os Beatles unidos. Tudo fracassou.

John não ficou magoado com Paul, ficou com raiva! Poucos dias depois ele resolveu dar uma entrevista para uma famosa revista de música americana e então abriram-se as portas do inferno. John Lennon deixou sua imagem de pacifista de lado e como uma metralhadora giratória disparou para todos os lados. Acusou Paul de tudo. Disse que McCartney dominava os demais Beatles, que só suas músicas ganhavam destaque nos discos do grupo, que ele boicotava as composições dos demais colegas, que ele tratava George e Ringo como seus músicos de apoio, como empregados. Pior do que isso, perguntado sobre o primeiro disco solo de seu ex-companheiro, John foi taxativo: "O disco de Paul é um lixo!". Nem o prestativo George Martin escapou da ira de John. Ele ofendeu o talentoso maestro, que tanto havia feito pelos Beatles por todos aqueles anos. Martin jurou que nunca mais trabalharia ao lado de Lennon em sua vida. Paul respondeu dizendo que John havia sido um babaca na entrevista. Aliás John havia sido um babaca em inúmeras ocasiões. Paul queria recomeçar, sem os Beatles, sem a Apple, sem Yoko e principalmente sem Allen Klein. Em sua fazenda isolada na Escócia Paul também explicou que John jamais o havia perdoado pelo fato dele ter barrado a entrada de Yoko Ono nos Beatles. Isso mesmo, durante as gravações do "White Album", John havia pedido apoio de todos para que Yoko Ono se tornasse parte dos Beatles. Paul disse não e então uma guerra interna começou para valer entre eles. E esse clima de tensão entre os dois acabou explodindo de vez quando John deu a sua infame entrevista em Nova Iorque. Os tempos sombrios tinham finalmente chegado.

Para que a Apple pudesse sobreviver os Beatles tiveram que morrer. Um aspecto curioso sobre o fim do grupo de rock mais famoso do mundo é que a empresa criada e idealizada por John Lennon conseguiu sobreviver ao fim do conjunto pelo qual foi criada. Após a dissolução de fato dos Beatles eles começaram uma ciranda de processos que duraria praticamente toda a década de 1970. No centro de todos esses processos estava justamente e luta pelo poder dentro da Apple. Quando essa empresa foi bolada por John Lennon ele queria que esse novo selo musical fosse aberto a qualquer pessoa de talento. Não seria mais preciso implorar para gravar um disco ou fazer alguma gravação. A ideia de John foi realmente boa, só que ninguém quis colocá-la em prática. Nenhum dos Beatles (talvez com exceção de Paul) quis realmente se envolver no dia a dia na empresa, administrá-la e gerir a imensa soma de dinheiro que circulava em seus balancetes.

O descaso imperou durante longos anos na Apple, até que no final dos anos 70 todos estavam cansados de tantas brigas judiciais. Ao invés de liquidar a Apple, dando a cada um dos ex-Beatles sua fatia do bolo, acabou-se optando por algo mais racional. A Apple não seria mais extinta e fechada. Ao contrário disso o selo continuaria a administrar o legado dos Beatles, mesmo que eles estivessem separados. O interesse nos Beatles nunca cessou. Ao contrário do que muitos pensavam os anos só consolidaram ainda mais a obra da banda. Os discos foram sendo relançados ao longo dos anos, com excelentes resultados comerciais. CDs, filmes, especiais de TV, tudo ainda estava de pé. E para administrar tudo, lá estava a Apple novamente no centro das atenções.

A Apple nasceu bagunçada e desorganizada, com aquele velho sonho do flower power que jamais daria certo dentro de uma corporação. A partir dos anos 80 porém a empresa começou a ser bem administrada, com a nomeação de executivos de negócios para gerenciá-la, tudo resultando em ótimos resultados financeiros. Paul, Ringo, George e Yoko (que herdou a parte de John), continuaram sócios e donos da Apple. O bom senso, que nunca havia prevalecido na época dos Beatles, finalmente tomou conta de todos. Hoje em dia a Apple ainda mantém o controle sobre os lançamentos dos Beatles no mercado, provando que mesmo com todos os problemas conseguiu resistir ao teste do tempo. No final de tudo o desastre da Apple levou os Beatles ao seu fim, mas paradoxalmente coube à mesma empresa manter viva a chama do maior grupo de rock da história.

Pablo Aluísio.

The Beach Boys - Surfin' Safari

The Beach Boys - Surfin' Safari
A resposta americana à invasão britânica não veio através de grupos ou cantores consagrados, mas sim de um grupo de jovens bem despretensiosos, que cantavam músicas bem simples, com letras louvando uma vida de surf e diversão. O Beach Boys acabou se tornando o grande rival dos Beatles nas paradas americanas. É interessante isso porque eles surgiram no mesmo ano em que os Beatles foram se firmando na carreira. Era 1962 e os dois conjuntos estavam prestes a travar uma batalha pelos primeiros lugares nas paradas americanas. Esse primeiro disco dos Beach Boys mostra bem com era a sua musicalidade nesses primeiros anos de carreira. As melodias eram irresistíveis e os vocais muito bem elaborados. As letras eram invariavelmente monotemáticas, sem nenhuma grande riqueza poética, porém os Beach Boys não posavam de intelectuais. Eles apenas gravavam músicas bonitas, bem melodiosas, para tocar entre os jovens enquanto eles estivessem na praia, esperando para pegar a próxima onda. A Capitol Records, que depois compraria os direitos autorais dos Beatles nos Estados Unidos, resolveu apostar nessa moçada.

O resultado, pelo menos do ponto de vista comercial, foi excelente. Em certos álbuns os Beach Boys conseguiam vender mais cópias que os próprios Beatles ou até mesmo Frank Sinatra, o grande nome contratado do selo. Era surpreendente isso, porém demonstrava que o mercado consumidor jovem era uma potência em termos comerciais. A gravadora ganhou muito, muito dinheiro mesmo com esses discos dos garotos da praia. Esse álbum tinha alguns dos maiores sucessos do grupo. Entre eles a própria faixa "Surfin' Safari". No mínimo era uma mistura esquisita. Safáris se faziam na África, não nas praias da Califórnia. E o que isso tinha a ver com surf? Não importa. O que era importante era o fato de que foi justamente essa gravação que levou os Beach Boys para a galeria dos artistas contratados pela Capitol. Eles enviaram uma fita demo para a Capitol e um dos executivos gostou muito do que ouviu. Ele qualificou a música como o "grande hit do próximo verão"!.

Acertou em cheio. Lançado como single 45 RPM, o disquinho vendeu muito, colocando os Beach Boys entre os 10 mais vendidos da Billboard. Um feito e tanto para um grupo novato e praticamente desconhecido. Foi a porta de entrada para que esse álbum fosse gravado. A Capitol tinha grandes planos para eles.
  
Pablo Aluísio.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Paul McCartney e os Wings

Os Beatles estavam destruídos. Por volta de 1969 Paul já sabia que o grupo não iria mais muito longe. Durante uma reunião na Apple (a empresa fundada pelo grupo) em Londres, Paul propôs que os Beatles tinham que voltar a fazer shows ao vivo. Ele lançou a proposta de fazer concertos em pequenos lugares, para pequenos públicos, talvez até mesmo usando outro nome, que não fosse Beatles. Era uma volta aos primeiros anos, para recuperar o prazer de tocar ao vivo. A resposta de John Lennon para a proposta de Paul foi a pior possível. Ele encarou o colega de banda e disparou: "Eu acho que você está louco, Paul!". John não tinha a menor intenção de tocar ao vivo de novo com os Beatles. O mesmo acontecia em relação a George Harrison. O pior aconteceu depois quando Lennon e Harrison trocaram socos por causa de uma desavença de negócios. Era isso, os Beatles se odiavam, não queriam mais trabalhar uns com os outros e a chegada de um novo empresário, não aceito por Paul, acabou decretando o fim do conjunto. Paul anunciou publicamente que estava fora e com isso abriu-se uma caixa de Pandora, com inúmeros processos e brigas sem fim.

Paul McCartney sabia que mais cedo ou mais tarde ele teria que voltar para a estrada. Embora tenha ficado financeiramente bem no fim dos Beatles o fato é que ele perdeu muito dinheiro ao longo dos anos. Nem sequer tinha mais os direitos sobre as próprias músicas que havia escrito - algumas delas entre as mais populares do século. O empresário Allen Klein que havia sido contratado por John Lennon enfrentava acusações de que estava roubando os Beatles e a Apple. Foi tudo muito feio, muito trágico. Paul não queria deixar os Beatles, para falar a verdade. Ele superou várias crises causadas pelos demais membros. Ringo, por exemplo, disse que ia deixar os Beatles ainda na época do White Album. Um dia ele simplesmente se levantou da bateria e foi embora. Só com muita diplomacia por parte de Paul ele decidiu voltar. George Harrison era um dos mais problemáticos. Ele não aceitava as sugestões de McCartney e se irritava com qualquer coisa, qualquer observação. Embora posasse como Hare Krishma, Harrison tinha uma personalidade extremamente difícil, era temperamental, tinha sempre uma frase mordaz para dizer e ofendia Paul diretamente. E John não ajudava em nada. Ele estava obcecado por Yoko Ono. Assim para Paul não sobrou outra alternativa do que pegar seu boné, ir embora e formar uma nova banda de rock. Ela já tinha até nome: Wings! Uma nova fase em sua carreira estava prestes a começar.

Logo no comecinho dos anos 70 Paul McCartney resolveu viajar para os Estados Unidos, para Nova Iorque. Ele tinha planos de gravar seu novo disco lá. O repertório era composto basicamente por canções compostas por Paul em sua fazenda na Escócia. Tudo foi feito da forma mais informal possível. Paul alugou um velho estúdio punk, que pertencia a um dos membros dos Ramones. Não era um estúdio sofisticado, nem tinha conforto algum. Na realidade parecia mais um velho porão cheio de poeira. Para Paul porém tudo estava bem, ele gostou do clima mais rústico do lugar. Obviamente Paul não queria repetir a experiência de seu primeiro disco solo, "McCartney" onde ele tocou todos os instrumentos, gravando o disco praticamente sozinho. Assim ele tinha que contratar músicos para acompanhá-lo. Todos os contatos foram feitos pessoalmente por Paul, sem a interferência de produtores, empresários, etc. Paul ligou pessoalmente para os músicos, os convidando para a sessão de gravação. Não haveria contratos escritos, nem nada do tipo. Paul pagaria pelo dia de gravação e após um aperto de mão hippie tudo estaria resolvido.

O primeiro contratado foi o baterista Denny Seiwell que mal sabia que estava prestes a gravar um disco ao lado do ex-beatle. Paul quis contratá-lo por uma semana. O pagamento foi feito e tudo estava resolvido. Dave Spinozza foi chamado para uma das guitarras. Paul queria que ele gravasse por seis dias, mas Dave já tinha compromissos e ele só poderia tocar por três dias. Por fim outro guitarrista foi contratado, Hugh McCracken. Era uma banda bem básica, sem luxos. Os trabalhos então começaram. Esse pacote de canções não se destacaria dentro da carreira de Paul, a não ser duas faixas que se tornariam hits, a bem elaborada "Uncle Albert / Admiral Halsey" e "Another Day" que se tornaria o primeiro single de grande sucesso da carreira solo de Paul. Depois das sessões em Nova Iorque Paul, Linda e as crianças viajaram para Los Angeles. onde o álbum seria mixado. McCartney resolveu chamar seu novo disco de "Ram", uma expressão que significava manter-se firme, aguentar o tranco. Era justamente o que Paul tinha que passar na época. Em breve ele teria que voltar para Londres para as tediosas sessões de julgamento do fim dos Beatles, onde Paul estava processando Allen Klein, o desonesto empresário dos Beatles. Paul também estava com pressa no lançamento de seu novo disco porque estava completamente sem dinheiro. Klein havia suspenso o pagamento de seus direitos na época dos Beatles e a parte que lhe cabia no selo Apple. Era imperativo colocar o novo disco nas lojas pois Paul estava completamente descoberto na questão financeira.

Depois de gravar "Ram" Paul se convenceu que precisava formar uma nova banda. Ele sentiu falta de gravar com um conjunto de verdade e não apenas com músicos contratados de estúdio. Inicialmente Paul pensou em formar um super grupo de rock, com Eric Clapton, Pete Townshend, Billy Preston e outros feras do rock mundial. Só a nata da música, porém depois desistiu dessa ideia pois não se sentia muito confortável de ter que passar por tudo de novo, com brigas de egos e confusões, como havia acontecido com os Beatles. Era melhor formar um novo grupo com músicos menos conhecidos, mas que fossem bons o suficiente para fazer um bom trabalho, tanto em estúdio, como em concertos ao vivo. Nesse aspecto um dos nomes que vieram à mente de Paul foi o de Denny Laine, do grupo The Moody Blues. Esse conjunto havia sido empresariado por Brian Epstein, o mesmo empresário dos Beatles, por isso Paul conhecia Laine muito bem, desde os primeiros tempos dos Beatles, quando ambos excursionavam juntos pela Inglaterra. Paul gostava de seu estilo e sabia que o The Moody Blues estava com a carreira praticamente estagnada, sem um sucesso há anos. Convidar Laine assim se tornou algo natural. Para o guitarrista o convite caiu do céu pois ele estava passando por dificuldades financeiras, com pilhas de contas para pagar. Sem trabalhar há muito tempo, a proposta de fazer parte do Wings foi realmente uma salvação.

O outro nome que Paul pensou para o grupo foi o da sua própria esposa Linda. Se John havia colocado Yoko Ono em sua banda, Paul faria o mesmo com sua patroa. O problema é que Linda era uma excelente fotógrafa, mas jamais havia tocado nenhum instrumento. Sua habilidade musical era zero. Ok, Linda havia participado timidamente da gravação de "Let It Be", fazendo vocais de apoio, mas se tornar uma das "instrumentistas" do Wings já era demais. Paul porém estava decidido e Linda entrou para a banda. Ele lhe ensinou alguns acordes no teclado, só para que ela não ficasse o palco parada, sem ter o que fazer. O núcleo central dos Wings estava completo, com Paul, Denny e Linda. Essa seria a sua formação básica, até que Paul teve uma ideia maluca! Será que John Lennon aceitaria fazer parte dos Wings? John era, segundo as próprias palavras de Paul, o único ex-Beatle que gostaria de trabalhar novamente. Eles estavam juntos desde a adolescência e Paul sabia que John era o parceiro ideal. As relações com George estavam péssimas desde as sessões de "Let It Be" e Paul não tinha a menor intenção de trabalhar de novo com ele. Ringo era apenas o baterista, não fazendo grande diferença, mas John... bem, John era o grande parceiro de sua vida! Só que após algumas semanas Paul chegou na conclusão que John jamais aceitaria tal convite depois da separação dos Beatles. Era uma ideia bizarra demais para virar realidade.

Pablo Aluísio.