Um dos melhores álbuns de Elvis Presley nos anos 60 foi também um dos mais subestimados. Lançado no meio de vários filmes, singles e trilhas sonoras, Something For Everybody foi sendo paulatinamente esquecido pelos fãs do cantor ao longo dos anos. Grande injustiça. O disco é excepcionalmente bom e retrata um ótimo momento vocal de Elvis. Talvez a pouca atenção que tenha recebido ao longo das décadas que se seguiram ao seu lançamento tenha advindo do fato desse ser mais um grande representante do momento em que Elvis trocou definitivamente o Rock´n´Roll dos anos 50 pelo suave e doce pop romântico do começo da década de 60.
É fato. O disco é essencialmente um trabalho anos luz de distância dos momentos mais roqueiros do cantor. Elvis canta canções ternamente suaves como Gently e mesmo quando se arrisca a acelerar o ritmo, como em I´m Coming Home, não se arrisca a ultrapassar a linha que separa o pop do rock mais visceral. Muito se criticou essa nova postura que Elvis tomou em sua carreira mas os críticos se esqueceram também de analisar o contexto musical em que a volta de Elvis do exército estava inserida.
Não foi apenas Elvis que suavizou sua música, todos os cantores do ínício da década de 60 fizeram isso. Até mesmo artistas que foram endeusados pela mídia, como os Beatles, faziam um som bastante suave, com letras pueris e comportadas em sua primeira fase. Com o fim da década de 50 os antigos roqueiros caíram em ostracismo e o Rock teve que se adequar e se reinventar para sobreviver. Analisando friamente em contexto histórico o Rock, como gênero musical, só conseguiu encontrar sua antiga garra após 1967, quando surgiu o movimento Hippie e o Rock abraçou o psicodelismo que imperava entre a juventude da época.
Exigir uma postura diferente dessa, antes dessa data, soa fora de foco. Para 1961 e para o som que se ouvia nessa época, Something For Everybody se enquadrava bem na média do que era produzido pela indústria do disco nos Estados Unidos. O álbum chegou ao primeiro lugar naquele país e consolidou uma ótima fase comercial em sua carreira, que iria se acentuar depois com a trilha sonora de Blue Hawaii, um grande sucesso de vendas. Para Elvis, naquele momento, tudo parecia ir bem e no caminho correto pois desde sua volta das forças armadas no ano anterior Elvis vinha colecionando um sucesso após o outro. Something For Everybody também se destaca por ser um dos poucos discos de estúdio de Elvis nos anos 60.
Como sabemos Elvis se dedicou de corpo e alma a Hollywood durante essa fase da carreira e o foco foi desviado para a gravação de trilhas sonoras, deixando em segundo plano os LPs convencionais de estúdio. Ao lado de Pot Luck e Elvis is Back, Something For Everybody foi o único disco convencional gravado por Elvis até 1969 quando foi lançado From Elvis in Memphis! Por tudo isso e muito mais o disco realmente necessitava de um revisão que lhe colocasse no lugar que sempre mereceu.
Foi então que o selo FTD promoveu o lançamento de um CD duplo com grande parte das sessões que deram origem ao disco original. Ernst Jorgensen, produtor e diretor do selo FTD, também resolveu prestigiar as canções dos singles I Feel So Bad, Good Luck Charm, Little Sister, His Latest Flame e Anything That´s Part Of You. Foi uma decisão correta e evita que o CD fique cansativo, pois como demonstrado em outros títulos, a repetição de poucas músicas em um CD duplo acaba cansando de certa forma o ouvinte. Ouvindo as canções hoje, tantos anos depois, podemos perceber que não há muito o que debater em termos de qualidade. O disco em si continua ótimo.
O único senão é que no CD 2 não houve, pelo menos na minha visão, um trabalho mais consistente de restauração. Mesmo que as fitas masters estivessem um pouco estragadas pela passagem do tempo penso que um trabalho mais criterioso teria deixado os takes ali presentes com uma sonoridade mais qualificada. De qualquer forma o resgate histórico já tem em si mesmo seu valor. Uma das características mais lembradas de Something For Everybody é a extrema agilidade em que Elvis gravou a maioria das músicas. Em tempos atuais, quando cantores levam meses para finalizar um álbum, Elvis nesse disco demonstrou com rara felicidade que nem sempre a qualidade está desvinculada da agilidade.
Ouvindo os takes percebemos como Elvis estava entrosado com a banda, sutis diferenças existem entre os takes alternativos e a versão master provando que todos estavam afiados quando entraram em estúdio. Dessa forma foi apenas uma questão de tempo até que a versão definitiva fosse gravada. Por todas essas razões o FTD Something For Everybody é altamente recomendado aos fãs de Elvis Presley. Captura o cantor em plena atividade e como protagonista dos eventos, algo que não aconteceu em suas trilhas sonoras onde o cantor era mero coadjuvante do ator Elvis, infelizmente.
Pablo Aluísio - junho de 2009.
Elvis e o Pop dos anos 60!
ResponderExcluirPablo Aluísio
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Parabéns pelo blog dedicado a Elvis Presley! Seria interessante se fizesse uma matéria falando sobre Elvis e a musica na primeira metade dos anos 60, pois haviam estourado naquela época bandas como The Beach Boy, The Beatles dentre outros artista que começaram a fazer muito sucesso, mas e Elvis como ficou nessa história toda? Após 1965 todos nos já sabemos que ele estava no ostracismo ate 1968, mas na fase 1960 - 1964 pouco se tem noticias do que aconteceu.
ResponderExcluirObrigado Leonardo.
ResponderExcluirNa primeira metade dos anos 60 Elvis ainda conseguiu gravar bons álbuns (Elvis is Back, Pot Luck e Something For Everybody) que inclusive venderam bem. Até trilhas como GI Blues e Blue Hawaii foram grandes sucessos de vendas, mas ao mesmo tempo isso acabou levando para a saturação completa de sua carreira, porque com o tempo o Coronel Parker direcionou tudo para os filmes de Hollywood. As trilhas foram ficando piores, os filmes também e as vendas foram decaindo progressivamente...
Ai do lado do blog, na sessão "Outros Blogs" você encontrará um blog apenas dedicado a Elvis com muitos textos, inclusive dessa época a que você se refere. Fica o convite para você conhecer. Basta clicar em "Elvis Presley - Pablo Aluísio".
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