segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

A Pistola do Mal

Lorn Warfield (Glenn Ford) é um pistoleiro errante há muito longe de sua casa e família. Após vários anos decide retornar para seu lar ao lado de sua esposa e dois filhos. Quando chega em seu antigo rancho porém acaba descobrindo que tudo está em cinzas, sendo o paradeiro de sua família desconhecido. Partindo em busca deles acaba descobrindo que muito provavelmente estejam reféns de uma tribo Apache que mora nas montanhas. Esses nativos usam brancos sequestrados como moeda de troca com outras tribos e traficantes de armas. Sem alternativa Lorn decide enfrentar o deserto hostil para libertar seus familiares."A Pistola do Mal" é um western muito bem realizado. Embora seu enredo lembre em certos momentos antigos clássicos como "Rastros de Ódio" o filme consegue ter identidade própria, apostando numa linguagem naturalista, pé no chão, onde o velho oeste surge com toda sua crueza: doenças, miséria e cidades abandonadas à própria sorte.

Glenn Ford surge em cena novamente com seu eterno figurino: jaqueta, chapéu surrado e sapatos de espora. Aqui ele repete seu tipo habitual, mas consegue excelente atuação em pelo menos duas excelentes cenas. Na primeira delas, amarrado pelos Apaches no meio do deserto, tenta espantar os abutres que chegam para esperar sua morte certa. Na outra boa sequência enfrenta um grupo de índios em uma cidade abandonada junto a um grupo de renegados que se fazem passar por um regimento da cavalaria americana. "A Pistola do Mal" é um faroeste americano que já mostra sinais de influência do chamado Western Spaguetti. A edição, a música e a sordidez das situações lembram em muito os filmes de Sergio Leone. "Por um Punhado de Dólares", realizado quatro anos antes, certamente é uma referência. Enfim, "A Pistola do Mal" é uma produção a se conhecer. Hoje em dia o filme já não é tão lembrado pelo apreciadores de filmes de faroeste, porém vale a pena ser redescoberto.

A Pistola do Mal (Day of the Evil Gun, Estados Unidos, 1968) Direção: Jerry Thorpe / Roteiro: Charles Marquis Warren, Eric Bercovici / Elenco: Glenn Ford, Arthur Kennedy, Dean Jagger, Nico Minardos,  Harry Dean Stanton / Sinopse: Pistoleiro parte em busca de sua família sequestrada por Apaches. No meio do caminho encontra doenças, miséria e um grupo de renegados que se fazem passar por soldados da cavalaria norte-americana.

Pablo Aluísio.

Galante e Sanguinário

Ben Wade (Glenn Ford) é líder de um bando de assaltantes e assassinos cruéis. Eles interceptam uma diligência atravessando o deserto e a assaltam, matando o condutor do veículo. Após o ato criminoso chegam em uma pequenina cidade perdida do velho oeste. Lá Ben é finalmente capturado pelo xerife local. O resto do bando porém foge mas jura voltar para resgatar seu chefe. Praticamente sozinho o xerife decide recrutar alguns moradores locais para lhe ajudar entre eles Dan Evans (Van Heflin) um rancheiro endividado que pretende provar aos seus filhos menores que tem bravura suficiente para levar Ben até a estação de trem onde ele finalmente será levado para julgamento no tribunal da cidade de Yuma. Mesmo que você não assista filmes de western clássicos certamente conhece esse enredo. Isso porque “Galante e Sanguinário” virou remake há poucos anos com Russel Crowe e Ben Foster com o nome de “Os Indomáveis”. A estória é praticamente a mesma, com pequenas mudanças pontuais. O que faz de “3:10 to Yuma” tão interessante é seu enredo, tirando muito proveito da tensão crescente envolvendo a custódia do líder do grupo criminoso por um simples rancheiro. Cercado por todos os lados por membros de sua gangue ele decide demonstrar sua bravura, levando com firme propósito a missão de colocar Ben no trem que o levará às raias da justiça.

Esse é provavelmente um dos melhores momentos da carreira de Glenn Ford. Acredito que apenas “Cimarron” seja melhor. Ele está perfeito em sua caracterização do frio assassino Ben Wade. Para um ator que sempre fazia o papel de mocinho ele demonstrou muito jeito e estilo como o bandido que joga psicologicamente o tempo inteiro com o rancheiro que o mantém prisioneiro. Esse é mais um ótimo faroeste dirigido por Delmer Daves. Roteirista de mão cheia ele fez pouco mais de 30 filmes mas praticamente todos bem marcantes. Ao lado de Glenn Ford brilhou em faroestes como nesse “Galante e Sanguinário” e “Cowboy” que rodaria logo depois. É inegável que Daves usou muitos elementos que já tinham marcado muito em “Matar Ou Morrer” com Gary Cooper. A tensão, a ansiedade, os closes no relógio que teima não passar os minutos e a passagem em tempo real da ida à estação de trem. Vejo nesse aspecto uma homenagem ao grande clássico de Cooper que mesmo já tendo sido utilizado brilhantemente antes volta a funcionar muito bem aqui também. Em conclusão podemos dizer que “Galante e Sanguinário” é um western psicológico bem marcante que joga muito bem com a situação chave da trama. Um grande momento da carreira de Glenn Ford em um papel que o marcaria para sempre.

Galante e Sanguinário (3:10 to Yuma, Estados Unidos, 1957) Direção: Delmer Daves / Roteiro: Halsted Welles, Elmore Leonard / Elenco: Glenn Ford, Van Heflin, Felicia Farr, Henry Jones, Richard Jaeckel / Sinopse: Ben Wade (Glenn Ford) é líder de um bando de assaltantes e assassinos cruéis. Eles interceptam uma diligência atravessando o deserto e a assaltam, matando o condutor do veículo. Após o ato criminoso chegam em uma pequenina cidade perdida do velho oeste. Lá Ben é finalmente capturado pelo xerife local. O resto do bando porém foge mas jura voltar para resgatar seu chefe.

Pablo Aluísio. 

domingo, 12 de janeiro de 2020

O Irresistível Forasteiro

Jason Sweet (Glenn Ford) é um criador de ovelhas que chega em um vale de terras públicas com seu rebanho mas é hostilizado pelos criadores de gado da região. Esses são liderados pelo chamado "Coronel" (Leslie Nielsen), um antigo pistoleiro que inventou uma nova identidade e se instalou no local. "O Irresistível Forasteiro" é um bom veículo para Glenn Ford, na época se tornando cada mais popular justamente pelos faroestes que vinha estrelando como "Galante e Sanguinário" e "Cowboy". Suas produções no velho oeste davam ótimas bilheterias e dois anos depois desse "Sheepman" ele iria realizar a obra prima de sua filmografia, o inesquecível "Cimarron".Aqui Glenn interpreta um sujeito levemente espertalhão que entra em conflito contra toda uma cidade com sua ideia inconveniente de criar milhares de ovelhas em pastos de gado (como se sabe as ovelhas acabam destruindo os pastos os tornando imprestáveis para a criação bovina).

O tom do filme não é tão pesado quanto supõe a leitura da sinopse, de fato o clima é bem ameno, leve. A presença da simpática e jovem Shirley MacLaine acentua ainda mais esse aspecto. É divertido ver a atriz nesse que foi um de seus primeiros filmes. Ela está encantadoramente jovial, chegando a entoar uma canção numa cena de festa. Já no lado dos vilões uma curiosidade muito interessante, a presença de Leslie Nielsen na pele do "Coronel". Antes de se consagrar como o comediante de muitos filmes que todos acompanharam anos depois, Nielsen participava de produções como essa, filmes de western com muitos duelos, tiros e ação."O irresistível Forasteiro" foi dirigido pelo veterano George Marshall, um dos cineastas mais produtivos que já passaram por Hollywood, tendo dirigido quase 200 filmes! - um número impensável nos dias atuais. Em mais de 60 anos de carreira dirigiu todos os tipos de filmes. Um verdadeiro recordista do Guinness Book!

O Irresistível Forasteiro (The Sheepman, EUA, 1958) Direção: George Marshall / Roteiro: William Bowers, James Edward Grant / Elenco: Glenn Ford, Leslie Nielsen, Shirley MacLaine, Mickey Shaughnessy / Sinopse: Jason Sweet (Glenn Ford) é um criador de ovelhas que chega em um vale de terras públicas com seu rebanho mas é hostilizado pelos criadores de gado da região. Esses são liderados pelo chamado "Coronel" (Leslie Nielsen), um antigo pistoleiro que inventou uma nova identidade e se instalou no local.

Pablo Aluísio.

A Difícil Vingança

Produção canadense modesta, com orçamento de apenas 5 milhões de dólares, que tenta resgatar um pouco do velho charme dos filmes de bang bang. Na realidade temos aqui um remake de um antigo filme de John Wayne da década de 1930. Eu sou da opinião de que certos filmes não se mexem, são obras definitivas, cujas estórias já encontraram sua versão definitiva nos cinemas. Esse é o caso. A obra com Wayne já era boa o suficiente, não era necessário em hipótese alguma ser objeto de mais um remake desnecessário. A trama é a mesma: “Cincinatti” John Mason (Slater) é um pistoleiro perseguido por um caçador de recompensas interpretado por Donald Sutherland (com barba messiânica se torna logo a melhor presença do elenco). Sua cabeça está a prêmio por ter matado três homens no Ohio. Na fuga decide voltar para sua cidade natal com o objetivo de rever seu pai. Chegando lá descobre que o local está sendo palco de vários crimes comandados por um grupo de bandidos mascarados. Depois de um assalto o pai de “Cincinatti” acaba sendo morto por esse bando. Agora o pistoleiro terá que caçar os bandidos para saciar sua sede de justiça, ao mesmo tempo em que é caçado por Sutherland.

A edição do filme deixa um pouco a desejar. A produção, apesar do orçamento restrito, é bem bonita, com farto uso das paisagens canadenses (bem conhecidas por suas belezas naturais). Falta no elenco um ator com mais presença. Fica complicado acreditar que Christian Slater seja um pistoleiro famoso no velho oeste. Baixinho, com as sobrancelhas sempre arqueadas, ele não passa a virilidade que é necessária para esse tipo de personagem. Slater é ator para outro tipo de papel, ao estilo malandro da grande cidade. No velho oeste ele definitivamente não se encaixa bem. Quem acaba salvando o filme nesse aspecto é o veterano Donald Sutherland no papel do caçador de recompensas. Sua caracterização é perfeita, inclusive sua barba que surge em cena de acordo com o estilo usado pelos homens da época. Enfim é isso, “A Difícil Vingança” não chega a ser um filme propriamente ruim, só desnecessário. Melhor rever o original com o “Duke” John Wayne.

A Difícil Vingança (Dawn Rider, Canadá, 2012) / Direção: Terry Miles / Roteiro: Evan Jacobs, Joseph Nasser / Elenco: Christian Slater, Jill Hennessy, Donald Sutterland, Lochlyn Munro, Matt Bellefleur, George Canyon, Douglas Chapman, Ben Cotton, Claude Duhamel, G. Michael Gray, Adrian Hough / Sinopse: Quadrilha de homens mascarados mata o pai do pistoleiro “Cincinatti” John Mason (Christian Slater). Fugindo de um caçador de recompensas (Donald Sutherland) ele agora partirá para sua vingança pessoal.

Pablo Aluísio.

sábado, 11 de janeiro de 2020

Águas Sangrentas

Após o assalto a uma diligência, Chris Danning (Randolph Scott) sai no encalço dos criminosos responsáveis pelo roubo e morte dos passageiros. Após cavalgar por várias cidades atrás de pistas chega na pequena Coroner Creek no Arizona. Lá descobre que um próspero homem de negócios e fazendeiro chamado Younger Miles (George Macready) está por trás do terrível crime. “Águas Sangrentas” é mais um bom western do final da década de 40 que traz todos os elementos que os fãs do estilo certamente vão gostar. Há o cavaleiro errante que parte em busca de vingança, o malfeitor rico e poderoso que usa de seu poder econômico para dominar toda uma região e por fim a sede de justiça que move o personagem principal. Só no final conseguimos compreender completamente porque o personagem de Randolph Scott se empenha tanto em vingar a morte dos passageiros da diligência no assalto que ocorre no começo do filme. Uma odisséia em busca de vingança, justiça e redenção pessoal e também uma bela estória de amor.

A produção de “Águas Sangrentas” é de bom nível. O filme foi produzido pela Columbia, na época a lanterninha entre os estúdios de Hollywood. Mesmo assim nada deixa a desejar no filme nesse aspecto. As filmagens foram realizadas no conhecido Iverson Ranch, localizado nos arredores de Los Angeles, na Califórnia. A Columbia quase sempre rodava seus faroestes nesse local e muitos anos depois ele ficaria ainda mais conhecido por ter sido utilizado como locação da famosa e popular série de TV Bonanza. ”Coroner Creek” foi dirigido pelo conhecido cineasta Ray Enright que inclusive já havia trabalhado com Randolph Scott anos antes no popular “Gung Ho”, um grande sucesso de bilheteria. Detalhista e disciplinado sempre fazia um bom trabalho mesmo quando lidava com orçamentos mais modestos. “Águas Sangrentas” é mais uma interessante película assinado por ele. Também é considerado um momento marcante da carreira de Randolph Scott. Algumas cenas aqui ficaram bem conhecidas entre os fãs do ator como a que ele tem uma de suas mãos esmagada nas pedras de um leito do rio (dando origem ao título nacional). Ferido, acaba tendo que passar o restante do filme sacando e atirando com a mão esquerda o que era bem complicado para ele já que era destro! Enfim, temos aqui mais um trabalho marcante na extensa e rica filmografia do velho Randy. Não deixe de conhecer.

Águas Sangrentas (Coroner Creek, EUA, 1948) Direção: Ray Enright / Roteiro: Kenneth Gamet baseado no livro de,Luke Short / Elenco: Randolph Scott, Marguerite Chapman, George Macready, Sally Eilers, Edgar Buchanan / Sinopse: Após o assalto a uma diligência, Chris Danning (Randolph Scott) sai no encalço dos criminosos responsáveis pelo roubo e morte dos passageiros. Após cavalgar por várias cidades atrás de pistas chega na pequena Coroner Creek no Arizona. Lá descobre que um próspero homem de negócios e fazendeiro chamado Younger Miles (George Macready) está por trás do terrível crime.

Pablo Aluísio.

O Signo do Zorro

Título no Brasil: O Signo do Zorro
Título Original: The Sign of Zorro
Ano de Produção: 1958
País: Estados Unidos
Estúdio: Walt Disney Productions
Direção: Lewis R. Foster, Norman Foster
Roteiro: Norman Foster, Lowell S. Hawley
Elenco: Guy Williams, Henry Calvin, Gene Sheldon, Romney Brent, Britt Lomond, George J. Lewis

Sinopse:
Don Diego (Williams) volta para casa e encontra sua cidade sob o calcanhar de um cruel ditador, um homem corrupto e vil que explora a boa fé das pessoas do vilarejo. Para combater essa injustiça ele precisa voltar a encarnar o Zorro.

Comentários:
Esse filme lançado na década de 1950 nada mais era do que uma compilação de oito episódios da série de TV produzida pela Disney. O que mais surpreende é que apesar de tudo isso funcionou muito bem, realmente parecendo um longa-metragem próprio, a ser lançado nos cinemas. Palmas para os roteiristas e editores que conseguiram essa proeza. No geral esse filme, como não poderia deixar de ser, segue a mesma linha da série (aliás o filme foi extraído da série, não podemos esquecer), por isso se você gosta do Zorro de Guy Williams nada mais adequado. Pena que a série não durou mais, pois de fato marcou época para os fãs desse famoso personagem. Sob um ponto de vista de revisão do passado, esse seguramente foi uma das melhores adaptações do Zorro que foi produzida. Os roteiros também eram muito bons, mesclando aventura, cenas de ação, com um pouco de humor, principalmente na figura rotunda do Sargento Garcia. Enfim, entretenimento de primeira qualidade que inclusive resistiu bem ao passar dos anos.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Globo de Ouro 2020

Tradicionalmente se diz que o Globo de Ouro é a prévia do Oscar. Bom, se isso se confirmar esse ano teremos algumas surpresas na premiação da Academia. Isso porque o filme vencedor da noite, na principal categoria de Melhor Filme - Drama, foi "1917" de Sam Mendes. Levou também o cobiçado prêmio de Melhor Direção. Quem estava esperando por isso? Praticamente ninguém. Até porque o filme nem havia estreado nos Estados Unidos ainda. Todos estavam esperando pela consagração de "O Irlandês", mas o filme de Scorsese decepcionou completamente na noite. Em termos de Globo de Ouro todo o seu elenco e equipe ficaram a ver navios. Robert De Niro ficou visivelmente aborrecido com isso tudo. O que não causou surpresa nenhuma (e assim espero que seja repetido no Oscar) foi a premiação de Joaquin Phoenix por "Coringa". Merecido demais. Mesmo competindo com outros gênios da atuação (Jonathan Pryce, por "Dois Papas" era o segundo mais cotado), não houve como deixar de premia-lo. Ele está excepcional no filme inspirado no vilão da DC Comics. Aliás que não façam uma continuação porque com um filme como esse não há a menor necessidade. É uma obra-prima cinematográfica.

Na categoria ator coadjuvante (que estava mais acirrada do que a de ator principal) o premiado foi Brad Pitt por "Era uma Vez em… Hollywood". Não era o meu preferido, mas não fiquei chateado por sua premiação. Ele está de fato muito bem no filme de Tarantino. Pelo visto dar uma surra em Bruce Lee foi um negócio e tanto para ele. O ator, que só havia sido premiado antes por "Doze Macacos" ficou claramente tocado pela premiação. Até se viu pedindo desculpas aos demais concorrentes que ele chamou de "Deuses da atuação". O bom e velho Pitt merece, tenho que dizer.

E por falar em Quentin Tarantino ele levou prêmios importantes na noite. O Globo de Ouro de Melhor Roteiro prova mais uma vez que o diretor é mesmo o rei das referências da cultura pop. Seu filme aliás é mais um exemplo disso. Só achei que deixaram de dizer algumas palavras em memória da atriz Sharon Tate. Ela não foi lembrada nos discursos e nem nas entrevistas. Furo complicado de entender. Russell Crowe foi premiado por "The Loudest Voice", porém ele não compareceu na cerimônia. O ator está na Austrália, tentando ajudar no desastre natural que se abate sobre seu país. Mandou um texto de conscientização sobre as mudanças climáticas globais. Foi algo bem conveniente.

Em termos de atrizes também surgiram surpresas.  Renée Zellweger venceu por "Judy – Muito Além do Arco-Íris". É uma espécie de retorno após uma fase muito ruim na carreira e na vida pessoal. Achei sua aparência bem melhor. Ela passou por uma série de cirurgias de reconstrução de seu antigo rosto e os resultados ficaram bons. Não é a mesma loirinha do passado, mas pelo menos agora podemos reconhecer ela de novo! Laura Dern foi também premiada como atriz coadjuvante por "História de um Casamento". Ela interpretou a advogada da esposa no filme. Essa produção também derrapou feio na premiação. E era o segundo filme favorito da noite, ao lado de Scorsese. Por fim tivemos homenagens a Tom Hanks (um sujeito muito bacana, com uma filmografia espetacular) e Ellen DeGeneres (que sempre considerei muito forçada e sem graça). Assim tivemos uma noite de erros e acertos. Nada muito diferente do que acontece também no Oscar.

Pablo Aluísio.

Doutor Sono

"O Iluminado" é um clássico do terror. Dirigido por Stanley Kubrick e estrelado por Jack Nicholson, foi um daqueles filmes que marcaram época. Agora, muitos anos depois, chega aos cinemas uma espécie de sequência daquela obra-prima. O garotinho que andava de triciclo pelos corredores do hotel mal-assombrado cresceu. Agora ele é um homem adulto, cheio de problemas. Dan Torrance (Ewan McGregor) cresceu tendo que lidar com seu dom de ver e interagir com pessoas mortas. É o que lhe qualifica como uma pessoa iluminada. Só que isso também lhe trouxe vários problemas psicológicos, traumas, etc. Para superar tudo ele se entregou à bebida durante anos.

Seu desafio agora é ajudar uma garotinha chamada Abra Stone (Rebecca Ferguson). Ela também é uma iluminada, com muitos mais poderes paranormais, iguais aos de Dan. Isso a torna uma vítima em potencial de um estranho grupo de assassinos que sequestra e mata crianças para literalmente sugar suas almas. Essa gente tem sede de sangue e os iluminados são especialmente apreciados por eles. A garota Abra e uma caça primordial.

Quando esse filme terminou, eu fiquei com a sensação de que certas estórias não precisam de continuação. Elas já são bem fechadinhas em si. O primeiro "O Iluminado" era um primor do gênero terror psicológico. Sua força vinha muito do suspense criado em torno dos acontecimentos naquele hotel isolado e frio, no alto da montanha. Não foi necessário explicar muita coisa, apenas explorar bem as cenas. Nesse segundo filme o terror psicológico desaparece. Não há nada nessa linha. Tudo se resume em uma narrativa bem clichê do confronto entre o bem e o mal. Os vilões me pareceram bem caricatos. Do lado do bem apenas Dan desperta algum interesse. A jovem Abra é chatinha. A atriz que a interpreta é pior ainda. Bem genérica. Nada expressiva ou talentosa.

A falha, é bom frisar, não é apenas dos produtores desse filme, mas também do próprio Stephen King. Que ele é um bom escritor de terror, bom, isso todo mundo sabe. O problema é que ele não sabe quando parar. "O Iluminado" não precisa de continuação e nem de tantas explicações irrelevantes como vemos aqui. Esses personagens do mal estragaram tudo. Mais parecem vilões de séries do tipo "Buffy, a Caça-Vampiros"! Nada a ver. Mesmo que o escritor quisesse continuar a contar a história de Dan ele deveria ter feito isso com mais criatividade e elegância. Aqui o filme se mostra condenado desde o começo simplesmente porque a estória que conta é ruim. Com isso não há muita salvação. Culpa de quem? Em minha opinião, do próprio Stephen King.

Doutor Sono (Doctor Sleep, Estados Unidos, 2019) Direção: Mike Flanagan / Roteiro: Mike Flanagan, baseado no livro escrito por Stephen King / Elenco: Ewan McGregor, Rebecca Ferguson, Kyliegh Curran, Zahn McClarnon / Sinopse: Sequência tardia do clássico "O Iluminado". Na trama Dan Torrance (Ewan McGregor) precisa ajudar a garotinha Abra Stone (Rebecca Ferguson). Ela tem os mesmos poderes paranormais que ele e está sendo seguida por um grupo que sequestra e mata crianças.

Pablo Aluísio.