quarta-feira, 11 de março de 2015

Hitchcock

Quem gosta de cinema certamente vai gostar de “Hitchcock”. No filme acompanhamos as filmagens do maior clássico da carreira do diretor, “Psicose”. Após filmar “Intriga Internacional” Hitchcock (Anthony Hopkins) acaba lendo em uma crítica que ele precisava se renovar, trazer coisas realmente novas. Assim o cineasta acaba saindo em busca de algo que surpreendesse seu público para seu novo filme. Acaba se interessando pelo livro “Psicose”, uma obra de ficção baseada livremente nos terríveis crimes do psicopata Ed Gein. Famoso pelas barbaridades que cometeu e pela obsessão psicótica em relação à mãe, Ed era o protótipo perfeito de Norman Bates, o principal personagem do livro. Na literatura havia um desfecho completamente perturbador e surpreendente que logo fisgou o mestre do suspense. Além disso existia toda uma coleção de momentos que ficariam perfeitos nas telas, como a famosa cena do chuveiro. Hitchcock via ali um grande material mas a Paramount pensava diferente. Achava o livro violento e apelativo demais e recusou bancar o projeto. Acreditando cegamente no sucesso do filme o velho Hitch resolveu então bancar do próprio bolso a realização do filme, apostando nesse processo o sucesso absoluto ou a mais terrível bancarrota. O roteiro de “Hitchcock” passeia deliciosamente por esse período da vida do diretor. Além da natural tensão de investir tudo o que tinha em “Psicose” o cineasta ainda tinha que lidar com aspectos complicados de sua vida pessoal, como o envolvimento da esposa com um aspirante a escritor.

Impossível não gostar de uma produção como essa que mostra o grande mestre do cinema sob uma perspectiva íntima e pessoal. O Hitchcock que surge é uma pessoa absolutamente genial em seus filmes mas ao mesmo tempo complexo e contraditório em sua vida particular. Suas constantes paixões platônicas em relação às suas atrizes loiras também são mostradas com a devida elegância. Como se sabe Hitch sempre se apaixonava platonicamente por praticamente todas as suas atrizes que acabavam representando o seu tipo ideal de mulher, a loira perfeita de seus sonhos. Ao mesmo tempo em que as destacava nas telas exigia completa dedicação, se metendo inclusive nas vidas pessoais delas. O caso mais famoso ocorreu justamente com Grace Kelly, que era a musa perfeita dentro da mente do diretor. Quando ela se foi para se tornar princesa de Mônaco ele se sentiu profundamente traído e abandonado. Anthony Hopkins, sob pesada maquiagem, realiza um trabalho muito bom, embora em certos momentos abra espaço apenas para o aspecto mais caricatural da imagem do diretor. É um pecado menor. Mesmo assim seu trabalho merece aplausos. Já Helen Mirren está muito adequada como a esposa de Hitch, uma mulher que abre mão de sua própria vida para viver a do marido, o acompanhando nos êxitos e nos fracassos de sua carreira. Não é por menos que ela foi indicada a todos os principais prêmios (Oscar, Globo de Ouro, SAG e Bafta). Assim se você se interessa pela história do cinema “Hitchcock” se torna item obrigatório. Um filme saborosamente nostálgico e docemente irônico sobre um dos maiores diretores de todos os tempos.

Hitchcock (Hitchcock, Estados Unidos, 2013) Direção: Sacha Gervasi / Roteiro: John J. McLaughlin, Stephen Rebello / Elenco: Anthony Hopkins, Helen Mirren, Scarlett Johansson, Danny Huston, Toni Collette, Michael Stuhlbarg, Michael Wincott, Jessica Biel, James D'Arcy, Richard Portnow, Kurtwood Smith, Ralph Macchio / Sinopse: Após seu novo projeto, “Psicose”, ser recusado pela Paramount, o diretor Alfred Hitchcock (Anthony Hopkins) resolve fazer o filme com seu próprio dinheiro. Hipoteca sua casa e parte para o tudo ou nada. Tamanho esforço para contar a estranha estória de Norman Bates e sua obsessão psicótica pela mãe.

Pablo Aluísio.

Um Lobisomem Americano em Londres

O melhor filme sobre Lobisomens já feito. Engraçado que nossos queridos licantropos não tem mesmo muita sorte no cinema, pois poucos são os clássicos envolvendo suas aventuras. Pior é que ultimamente estão usando os lobinhos como meros coadjuvantes de luxo em filmes de vampiros (vide Crepúsculo e Anjos da Noite). Em Anjos da Noite eles não passam de cães ferozes de estimação e em Crepúsculo são anabolizados andróginos. Assim não dá. Até hoje ainda não fizeram um filme de lobisomens tão bom quanto esse e olha que já tentaram muito. O que mais me agrada nesse filme é que apesar de ser um terror classe A o humor não foi deixado de lado, mostrando que bom humor e terror podem conviver perfeitamente dentro de um mesmo roteiro, sem necessariamente resultar em um terrir (expressão usada pelo diretor brazuca David Cardoso). Na trama acompanhamos dois jovens estudantes americanos em férias que são atacados por terríveis criaturas em uma região sombria e distante do interior da Inglaterra. Um deles não sobrevive ao ataque mas o outro é hospitalizado. Após receber alta ele começa a ter estranhas alucinações com seu amigo morto. O falecido inclusive vai sofrendo o processo de decomposição natural dos cadáveres enquanto vai aconselhando ao seu amigo a agir de forma definitiva para cessar as mortes ao seu redor. 

A cena da transformação segue imbatível até os dias de hoje. Nem toda a computação gráfica do mundo conseguiu superar o impacto dessa sequência. Na realidade o cérebro humano não reage bem a cenas com muita computação gráfica porque uma mensagem do inconsciente nos é enviada imediatamente informando que aquilo não é real. Por isso tudo fica falso demais. Já essa cena da transformação utilizou muito mais de maquiagem (real), ângulos de câmera e truques de montagem. O resultado logo se nota. A aparição do Licantropo é perfeita. Já a continuação desse filme é uma decepção total, mais uma vitima de uma overdose de CG. Dispense. Assim temos uma produção única que marcou época. Sempre presente em qualquer lista dos melhores filmes de terror já feitos, "Um Lobisomem Americano em Londres" é simplesmente obrigatório para todos os fãs do gênero. Depois dele você nunca mais verá uma lua cheio do mesmo jeito que antes.

Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London, Estados Unidos, Inglaterra, 1981) Direção: John Landis / Roteiro: John Landis / Elenco: David Naughton, Griffin Dunne, Jenny Agutter, Frank Oz, John Woodvine / Sinopse: Dois jovens estudantes americanos são atacados por terríveis criaturas em uma região sombria e distante do interior da Inglaterra. Um deles não sobrevive ao ataque mas o outro é hospitalizado. Após receber alta ele começa a ter estranhas alucinações com seu amigo morto. Estaria enlouquecido ou teria adquirido alguma maldição milenar? Assista para descobrir. "Um Lobisomem Americano em Londres" foi o vencedor do Oscar de melhor maquiagem e do prêmio Saturn Award, como melhor filme de terror do ano.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 10 de março de 2015

As Vantagens de Ser Invisível

Superficialmente até parece um daqueles filmes americanos que falam sobre a dureza da vida dos estudantes no High School. Como se sabe há muita vulgaridade, ofensas, bullyng e toda aquela selva que todos conhecem da vida colegial. Como sempre também encontramos os tipos que sempre habitam esse tipo de produção: há os populares, os atletas, as patricinhas, os mauricinhos, os nerds e os freaks (esquisitos). Charlie (Logan Lerman) faz parte desse último grupo. Introvertido e com dificuldades de fazer amigos ele começa o filme indo para seu primeiro dia de aula na nova escola (o terror de muitos estudantes). Como sempre há toda aquela chatice que povoa o velho sistema educacional (que apesar da tecnologia ainda continua obsoleto com suas aulas de giz e quadro negro). No meio do tédio Charlie consegue finalmente fazer amizade com dois irmãos (ou meio irmãos), a gatinha Sam (Emma Watson) e o divertido Patrick (Ezra Miller), um jovem homossexual enrustido que namora às escondidas o atleta mais popular da escola. Juntos passam pelas experiências típicas da idade. O primeiro beijo, a primeira paixão, as descobertas sexuais, as decepções, as desilusões, etc. O repertório completo daquela fase tão complicada da vida de todos nós, a adolescência.

Para quem pensa encontrar apenas uma comédia leve passada no mundo jovem acaba se surpreendendo conforme o filme avança. Isso ocorre porque Charlie começa a apresentar transtornos que indicam  uma clara doença mental. Sem medicação adequada ele começa a delirar, ouvir vozes e perder o senso de realidade. Para piorar acaba conhecendo a LSD, uma droga alucinógena que funciona como catalisador de doenças mentais. A partir desse ponto o filme ameaça virar um drama pesado, daqueles com finais trágicos. O diretor porém puxa o freio de mão para não transformar tudo em uma daquelas tragédias que tanto conhecemos do cinema ianque. Em certo momento pensei que tudo iria desbancar para algo no gênero “Tiros em Columbine”. Mas nada disso acontece. O elenco traz como destaque Emma Watson, de "Harry Potter". Atriz simpática e carismática ela defende bem seu papel. Ao seu redor temos vários atores de séries americanas famosas. Logan Lerman, por exemplo, fez parte do elenco de "Jacky & Bobby". Fora ele o espectador ainda vai encontrar muitos rostos conhecidos da TV americana de séries como "The Vampire Diaries", "Americano Horror Story" e "Parenthood". Em conclusão podemos dizer que vale a pena assistir no final das contas. Não é uma película brilhante mas é humana. Procura fugir do dramalhão para contar uma estória de pessoas comuns em uma fase particularmente complicada para muitas pessoas, o que no final se torna bem-vindo. Em tempos de tantos filmes de efeitos especiais, pirotecnias e super-heróis pode ser uma boa opção para quem procura por algo mais profundo e sério.

As Vantagens de Ser Invísivel (The Perks of Being a Wallflower, Estados Unidos, 2012) Direção: Stephen Chbosky / Roteiro: Stephen Chbosky / Elenco: Emma Watson, Nina Dobrev, Logan Lerman, Paul Rudd, Ezra Miller, Mae Whitman, Melanie Lynskey, Kate Walsh, Dylan McDermott, Johnny Simmons, Nicholas Braun, Zane Holtz, Reece Thompson, Julia Garner / Sinopse: Charlie (Logan Lerman) é o novo aluno em um colégio de ensino médio (high School) nos EUA na década de 1980. Ele é introvertido o que lhe causa problemas para fazer novas amizades. Aos poucos porém acaba se aproximando de Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson), dois meio irmãos que se tornam grandes amigos dele. Juntos vão passar pelas dificuldades da juventude e da escola.

Pablo Aluísio

Os Bons Companheiros

“Os Bons Companheiros” é até hoje considerado uma das grandes obras primas do diretor Martin Scorsese. O filme que narra a ascensão e queda de um membro da família Luchese mantém seu charme mesmo após tantos anos de seu lançamento. A trama é baseada em fatos reais e foi inspirada nas memórias de Henry Hill (Ray Liotta). Ainda quando era apenas um garoto começou a fazer pequenos serviços para os mafiosos de seu bairro no Brooklyn em Nova Iorque. Depois caindo nas graças dos membros da “família” foi alcançando postos cada vez mais altos na hierarquia mas havia um problema para sua ascensão completa rumo ao topo: ele não tinha origem italiana, era filho de irlandeses e por isso jamais ocuparia um posto relevante dentro da máfia mesmo sendo leal e eficiente. Para piorar ele começou a se sentir frustrado dentro da organização o que acabou o levando ao abuso de drogas, transformando sua vida em uma roleta russa. Em pouco tempo ele finalmente tomou consciência do beco sem saída que sua vida havia se transformado. O espectador é premiado assim com um dos melhores filmes de máfia da história do cinema americano só superado talvez por “O Poderoso Chefão” e “Era Uma Vez na América”. Scorsese capricha ao capturar a época e os costumes de todas as fases da vida de Herny, seja pela excelente trilha sonora seja pelo elegante e fino figurino dos membros da Cosa Nostra.

“Os Bons Companheiros” retrata uma realidade que o próprio Scorsese vivenciou pois também nasceu nas redondezas em que Henry Hill viveu. Inclusive durante as entrevistas de promoção do filme ele declarou de forma bem sincera: “De onde eu venho só existiam dois caminhos a serem seguidos por um descendente de italianos como eu: ou você entrava para a Igreja ou então para a máfia! Não havia meio termo!” Assim Scorsese conta sua estória com um misto de familiaridade e até mesmo carinho por seus personagens. Mas não é só. Conforme o filme avança ele acelera o ritmo das cenas como uma forma de retratar o gradual enlouquecimento por abuso de drogas de seu protagonista. Um toque genial. A galeria de tipos no filme também é outro ponto alto do filme e para dar vida a essas pessoas violentas e irascíveis mas também bem humanas o diretor contou com um elenco de primeira linha onde se destacam Robert De Niro, como um mentor mais velho para Henry Hill e Joe Pesci, como um gangster criado nas ruas que não consegue mais conter seus impulsos psicóticos e violentos. Assim como Francis Ford Coppola fez em seu grande clássico, “O Poderoso Chefão”, Scorsese aqui também trata com uma perturbadora naturalidade as cenas mais violentas possíveis. Os mafiosos de “Os Bons Companheiros” matam não como uma maneira de se auto afirmarem ou infringirem sofrimento alheio de forma gratuita mas sim como mera parte de seus negócios habituais. As mortes raramente são pessoais mas sim apenas ossos do ofício. O resultado de tudo isso é um espetáculo aos olhos, um filme que faz jus à longa tradição de grandes clássicos sobre esse tema.  Simplesmente imperdível aos amantes da sétima arte.

Os Bons Companheiros (Goodfellas, Estados Unidos, 1990) Direção: Martin Scorsese / Roteiro: Martin Scorsese, Nicholas Pileggi baseados no livro “Wiseguy” de Nicholas Pileggi / Elenco: Robert De Niro, Ray Liotta, Joe Pesci, Lorraine Bracco, Paul Sorvino / Sinopse: Os Bons Companheiros mostra a vida de Henry Hill (1943 – 2012), garoto nascido em um bairro dominado por gangsters em Nova Iorque. Fazendo pequenos serviços ele acaba caindo nas graças da máfia e entra para seu quadro permanente de membros. Vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante (Joe Pesci). Indicado aos Oscars de Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado, Edição e Atriz Coadjuvante (Lorraine Bracco).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Justiça Para Todos

Advogado criminalista (Al Pacino) acaba tendo que aceitar defender um juiz que odeia e que está sendo acusado de estupro contra uma garota. O cinema americano tem longa tradição em filmes que mostram o meio jurídico. Não é para menos. Quem trabalha na área sabe que esse é repleto de dramas e situações aflitivas que acabam gerando ótimos roteiros e filmes. Um processo judicial não é apenas uma sucessão de atos jurídicos ou procedimentos mas também um capítulo de extrema importância da vida das pessoas que atuam nele. O filme mostra justamente esse aspecto. O ponto alto é novamente a atuação do elenco. Al Pacino está brilhante na minha opinião e nem adianta argumentar dizendo que ele está novamente "over", exagerado ou fora de controle em cena. Nada disso, achei sua atuação muito adequada principalmente pela situação que seu personagem se encontra. Se existe algum exagero em "Justiça Para Todos" talvez seja seu clímax que é realmente um pouco inverossímil. Mesmo assim não macula o resto da produção que é muito relevante, diria até didática, sobre o que acontece debaixo dos olhos vendados do poder judiciário.

Outro destaque de "Justiça Para Todos" é a mensagem subliminar que ele transmite. Em um deles Pacino diz a seu velho avô que está sofrendo os problemas da velhice: "Ser honesto e ao mesmo tempo ser advogado é algo bem complicado". Realmente, poucas profissões do mundo transitam tanto entre a moralidade e a imoralidade, a legalidade e a ilegalidade. O profissional do direito vive realmente em um fio da navalha e o filme toca muito bem nisso ao colocar o sócio de Pacino no filme em crise existencial (ele consegue liberar um cliente da cadeia que acaba matando duas crianças poucos dias depois de solto). Quais são os limites, a linha que separa a ética da necessidade de se defender o cliente? Como se sente um advogado ao defender um criminoso capaz de atos bárbaros contra o próximo? É isso, "Justiça Para Todos" é um filme para se pensar sobre o poder judiciário, seus anacronismos e contradições. Uma lição que não se aprende nas faculdades de direito.

Justiça Para Todos (...And Justive For All, Estados Unidos, 1979) Direção: Norman Jewison / Roteiro: Valerie Curtin, Barry Levinson / Elenco: Al Pacino, Jack Warden, John Forsythe / Sinopse: Arthur Kirkland (Al Pacino) é um advogado criminalista que tenta transitar entre sua ética pessoal e a necessidade de defender seus clientes, entre eles um juiz corrupto e acusado de estupro contra uma inocente garota.

Pablo Aluísio

O Turista

Título no Brasil: O Turista
Título Original: The Tourist
Ano de Produção: 2011
País: Estados Unidos
Estúdio: Spyglass Entertainment
Direção: Florian Henckel von Donnersmarck
Roteiro: Julian Fellowes, Christopher McQuarrie
Elenco: Johnny Depp, Angelina Jolie, Paul Bettany, Timothy Dalton
  
Sinopse:
Frank Tupelo (Johnny Depp) e Elise Clifton-Ward (Angelina Jolie) formam um casal de turistas americanos que decide descobrir os encantos do velho continente europeu. Viajando por belos cenários e descobrindo a rica e milenar cultura europeia eles acabam se envolvendo em uma conspiração internacional de proporções imprevisíveis. Filme indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Comédia ou Musical, Melhor Ator (Johnny Depp) e Melhor Atriz (Angelina Jolie), ambos também na categoria Comédia ou Musical.

Comentários:
Sinceramente pensei que fosse bem pior. "O Turista" tenta de todo modo imitar os antigos filmes de suspense do mestre Alfred Hitchcock, principalmente aqueles em que as tramas eram passadas em locações luxuosas na Europa, como por exemplo, "Ladrão de Casaca". Em termos gerais é um filme bonito de se assistir por causa da maravilhosa fotografia do especialista John Seale. Ele conseguiu extrair excelentes tomadas de cenas, algumas delas parecendo verdadeiros quadros de arte! Também não poderia ser diferente pois o filme foi rodado em lindas locações, de cidades históricas da Europa, ficando em destaque a beleza e o charme de Paris e Veneza. A trilha sonora também tem uma inegável sofisticação, tudo para combinar com esse visual de primeira linha. O figurino também é classe A, com profusão de vestidos de alta costura, roupas de grife e joias milionárias. Assim a atriz Angelina Jolie fica mais parecendo uma modelo em cena do que qualquer outra coisa. Em termos de luxo na produção, nada a reclamar. O problema é que um filme não vive só de produção luxuosa. Tem que haver boas atuações e roteiro coeso. Infelizmente apesar dos bons nomes no elenco (que incluem o ex James Bond, Timothy Dalton) o filme não deslancha nesse aspecto. Angelina Jolie confunde glamour com afetação! Ela passa o filme inteiro tentando dar uma de Grace Kelly, mas derrapa feio nisso. Primeiro porque não tem a sofisticação da clássica atriz. Segundo porque suas caras e bocas soam bem ridículas em vários momentos do filme. Sua atuação soa forçada, não natural e o espectador logo percebe isso. Já Johnny Depp surge em total controle remoto. Na realidade ele soa sonolento na maioria das cenas e não convence. Não vi nada de especial em seu personagem ou em sua atuação. Ele parece entediado com o filme. Então é isso, "O Turista" demonstra que nem sempre uma produção de primeira linha salva um filme cujo roteiro é oco e derivativo.

Pablo Aluísio.

domingo, 8 de março de 2015

Educação

A festa do Oscar premia blockbusters comerciais vazios como Avatar e ignora filmes menores mas com muito mais qualidade como esse lírico e instrutivo "Educação" O filme não teve maior repercussão quando foi exibido em poucas salas aqui no Brasil. Uma pena, pois privou o público de conhecer um belo retrato da sociedade inglesa no pós guerra. No filme somos apresentados a Jenny Mellor (Carey Mulligan) uma jovem estudante que anseia por uma vida melhor da que atualmente leva. Entediada com a vida banal e com a repressão moralista da rígida sociedade britânica da época ela resolve fazer o impensável naqueles tempos ao se envolver com um homem bem mais velho. Nem é preciso dizer o que tal decisão significaria em sua vida pessoal, em especial entre seus pais. Isso era algo como uma bomba sendo explodida dentro de seu núcleo familiar. A temática do roteiro foi inspirada em fatos reais e mostra como era o impacto de um relacionamento assim visto sob a ótica de uma típica família suburbana de Londres daquele período.

A personagem interpretada por Carey Mulligan é uma garota inteligente, que está prestes a ir para a universidade. Impaciente, ela procura alguma aventura emocional mais transgressora antes de ingressar definitivamente na chamada vida adulta. O argumento explora bem a ruptura que surge daí pois ao tomar uma decisão precipitada (típica de adolescentes) a personagem se vê jogada de forma abrupta nas responsabilidades de um relacionamento adulto. Além do roteiro bem escrito "Educação" também tem uma produção caprichada. A reconstituição de época do filme é do mais alto nível, tudo recriado com excelente bom gosto e finesse. Para quem gosta da chamada cultura vintage é um prato cheio. Já Carey Mulligan é um caso á parte. Mesclando ingenuidade com sensualidade ela traz à tela uma dose extra de carisma. Sua personagem, com toques de Lolita, certamente mexerá com o imaginário sexual dos quarentões. O roteiro também é muito bem escrito pois se contenta em apenas narrar os acontecimentos de forma espontânea e natural, sem cair nos perigos da simples e pura condenação moral. Enfim, recomendo "Educação" para o público que procura por um filme relevante do ponto de vista histórico. Uma produção que consegue mostrar velhos tabus e costumes que hoje em dia são totalmente ultrapassados mas que ainda teimam em persistir nas camadas mais conservadoras e atrasadas de nossa sociedade.

Educação (An Education, Inglaterra, 2009) Direção de Lone Schefrig. / Elenco: Carey Mulligan, Peter Saasgard, Alfred Molina e Emma Thompson. / Sinopse: Durante o pós guerra, jovem inglesa (Carey Mulligan) decide se envolver com homem mais velho. Produção inglesa que concorreu ao Oscar de melhor filme.

Pablo Aluísio

Guerra Mundial Z

Título no Brasil: Guerra Mundial Z
Título Original: World War Z
Ano de Produção: 2013
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Marc Forster
Roteiro: Matthew Michael Carnahan, Drew Goddard
Elenco: Brad Pitt, Mireille Enos, Daniella Kertesz

Sinopse:
Gerry Lane (Brad Pitt) é um especialista do governo americano e da ONU que começa uma busca ao redor do mundo pelo chamado paciente zero após uma grande contaminação mundial por um vírus que transforma todos os infectados em verdadeiros zumbis. Da Coréia do Sul a Jerusalém ele luta para encontrar a cura para o terrível vírus. Filme indicado ao prêmio da Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films nas categorias Melhor Thriller e Melhor Ator (Brad Pitt).

Comentários:
Super produção da Paramount que explora o mundo dos zumbis! Ao custo de 190 milhões de dólares o filme não poupa esforços em ser um festival de efeitos digitais de última geração. Baseado na obra de Max Brooks a produção tenta resgatar o cinema pipoca blockbuster dentro do gênero terror. Curiosamente foi um projeto bem pessoal do ator Brad Pitt que só não dirigiu o filme, mas que ao invés disso coordenou todos os pequenos detalhes nas filmagens. É de se admirar que um ator como ele, que vem lutando há anos para ser reconhecido como bom intérprete, venha abraçar algo assim tão voltado para o cinema de pura diversão. O resultado, apesar da riqueza de recursos, é apenas razoável. Não há maiores novidades no roteiro que se baseia basicamente em cenas e mais cenas de ataques de multidões de zumbis sedentas por cérebros humanos. Assim Pitt se resume a correr de um lado para o outro, parando de vez em quando para soltar algum diálogo pseudo-científico. Sua atuação não convence e o filme vai ficando cada vez mais repetitivo (velho problema que se vê em praticamente todos os filmes de zumbi) até se chegar finalmente a um final inconclusivo, obviamente abrindo uma brecha para mais uma continuação milionária! Sinceramente falando é melhor rever os filmes originais com a assinatura do mestre George Romero. Esse aqui é um pipocão zumbi apenas.

Pablo Aluísio.