domingo, 10 de janeiro de 2016

Os Bad Boys

Michael Bay nunca pensou em realizar filmes com muito conteúdo. Na verdade de todos os cineastas em atividade hoje em dia ele é o mais sincero em dizer que realiza filmes para pura diversão, chicletes de consumo rápido e fácil. Por isso não adianta procurar pelo em casca de ovo, você jamais encontrará um grande roteiro em obras assinadas por Bay. Nem atuações Shakesperianas, nem dramas profundos, nem... nada! Os filmes de Bay são assim mesmo, produções vazias para o grande público - em especial jovens - que não possuem muita coisa na cabeça. Por essa razão também os filmes de Bay via de regra são extremamente bem sucedidos nas bilheterias. Agora verdade seja dita, para quem dirigiu grandes pastéis de vento ao longo de toda a carreira esse "Os Bad Boys" é pelo menos bem divertido.

Claro que grande parte do charme e da qualidade da fita vem dos atores protagonistas. Will Smith é aquele negócio. Ele veio da TV onde interpretava um jovem negro que ia morar com os tios ricaços de Beverly Hills na série popular "Um Maluco do Pedaço". Como fez muito sucesso logo tentou a carreira no cinema (e novamente de deu bem). Smith nesse papel não foge muito do lugar comum, do tipo habitual que vinha apresentando em seus trabalhos anteriores. Na verdade em muitos aspectos ele funciona apenas como escada para Lawrence, esse o verdadeiro comediante da fita. Some-se a isso (em um roteiro tendente para o lado do humor mais acentuado) um monte de carros voando, inúmeras explosões gratuitas (marca registrada do diretor) e você vai entender direitinho a fórmula de Michael Bay para fazer sucesso. Seus filmes são como aquele fast food da esquina: não alimentam, não trazem nada de substancial, mas pelo menos servem para divertir a garotada. Só não vá engordar muito os meninos só consumindo esse tipo de porcaria.

Os Bad Boys (EUA, 1995) Direção: Michael Bay / Roteiro: Michael Barrie, George Gallo / Elenco: Will Smith, Martin Lawrence, Lisa Boyle / Sinopse: Dois tiras, colegas de trabalho, são designados para proteger uma testemunha importante em um perigoso caso envolvendo traficantes de heroína. Logo percebem que a missão não será nada fácil e nem tampouco tranquila.

Pablo Aluísio.

Arnold Schwarzenegger

Recentemente assisti a uma palestra do ator Arnold Schwarzenegger e achei tudo muito interessante. Bom, quem foi jovem na década de 80 sabe muito bem o impacto que o sobrenome Schwarzenegger causava nas bilheterias. Certamente seu nome era praticamente impronunciável, porém era ao mesmo tempo um chamariz de público como pouco se via naqueles tempos. Talvez apenas Steven Spielberg (o Midas de Hollywood em seu auge criativo e comercial) e Stallone rivalizavam com ele em termos de popularidade.

Pois bem, nessa palestra o ator austríaco relembra que seu sobrenome fora dos padrões, o fato de ser um Mister Universe e o seu péssimo sotaque foram logo apontados como fatores que o fariam fracassar em Hollywood. Todos diziam que ele jamais seria um astro do cinema americano, que era esquisito demais, sem paralelo com qualquer outra história de sucesso na capital do entretenimento mundial. O segredo de seu sucesso, segundo o próprio Arnold, foi ignorar todos eles. Não dar ouvidos a quem o puxava para baixo, quem profetizava seu insucesso. Ao invés disso Schwarzenegger continuou batalhando, brigando por oportunidades e por bons papéis em filmes de sucesso.

Olhando para trás o que definiu Schwarzenegger como grande campeão de bilheteria foi o filme "Conan, O Bárbaro" de 1982. O personagem dos quadrinhos já era conhecido e todos queriam ter a oportunidade de ver nas telas uma super produção com suas aventuras. Para aquele papel o halterofilista se mostrava ideal. Quem o escolheu a dedo foi o famoso produtor Dino de Laurentiis, um sujeito que sabia encontrar o caminho do sucesso cinematográfico. Dirigido por John Milius, o mesmo cineasta de obras como "O Vento e o Leão" e "Amargo Reencontro" o filme mostrava a simbiose perfeita entre a aventura mitológica e o drama trágico do personagem criado por Robert E. Howard. Até hoje a fita é considerada a melhor transposição de Conan para as telas.

Depois veio o estouro de "O Exterminador do Futuro" de James Cameron. Era uma ficção B que tinha um grande fator a seu favor: um roteiro com uma trama muito bem bolada e até mesmo inteligente. "Terminator" selou o destino de Arnold Schwarzenegger para sempre. Como Stallone despontava também como ator de sucesso em filmes de ação ao estilo Rambo, a indústria correu para explorar o novo filão, nascendo daí o cinema brucutu cheio de violência e ação dos anos 80. Nada foi tão marcante naquela época como esse estilo de fazer fitas com muita adrenalina e um toque de absurdo que hoje em dia soa até mesmo charmoso aos que viveram aqueles tempos. Provavelmente se Arnold tivesse ouvido todos aqueles que diziam que ele não conseguiria ele não teria feito parte desse momento. Teria voltado para a Áustria para se concentrar ao mundo do fisiculturismo. Fica então sua lição de vida para todos nós.

Pablo Aluísio.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Karate Kid 3 - O Desafio Final

Título no Brasil: Karate Kid 3 - O Desafio Final
Título Original: The Karate Kid, Part III
Ano de Produção: 1989
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: John G. Avildsen
Roteiro: Robert Mark Kamen
Elenco: Ralph Macchio, Pat Morita, Robyn Lively
  
Sinopse:
Ignorando os conselhos de seu instrutor, professor e mestre Sr. Miyagi (Pat Morita) o agora já adulto Daniel LaRusso (Ralph Macchio) decide treinar de forma exaustiva para vencer um campeonato de Karatê de sua cidade. O romance com a linda japonesa que havia conhecido no filme anterior chega ao final e Daniel assim resolve se empenhar para a vitória. Só que ele terá que passar por velhos rivais do passado que não querem deixar passar barato a derrota que sofreram no campeonato anterior. Filme dirigido por John G. Avildsen, o mesmo cineasta que dirigiu os dois primeiros filmes da série.

Comentários:
Ralph Macchio já estava com 27 anos de idade quando realizou essa terceira parte da franquia "Karate Kid". Obviamente já estava ficando velho demais para o papel de Daniel LaRusso. A série na verdade deveria ter se encerrado no segundo filme que ainda era bom, embora mostrasse já um certo sinal de repetição. Aqui os roteiristas resolveram tornar o personagem principal um pouco mais cínico e adulto. A grande diferença também vem pelo fato de Daniel começar a ignorar os conselhos de seu mestre, o Sr. Miyagi (Pat Morita). Segundo o guru as artes marciais deveriam ser usadas como uma filosofia de vida e não apenas como trampolim para vencer competições de luta. Daniel esquece tudo o que aprendeu e parte justamente para conquistar o tal almejado prêmio. O instrutor que havia sido derrotado por Daniel no filme anterior está arruinado financeiramente por causa da desmoralização que sofreu e agora conta com um amigo dos tempos da Guerra do Vietnã - uma amizade que sugere até mesmo toques de homossexualismo, mas tudo de forma bem escondida e amena. Enfim, um filme apenas mediano, repetindo velhos clichês da própria franquia. Rendeu bem menos do que o esperado e por isso a série em pouco tempo seria cancelada pelo estúdio. Também passou pela vergonha de ter sido "agraciado" com várias indicações ao Framboesa de Ouro (que coloca em destaque os piores filmes do ano). Hoje só funciona como diversão nostálgica dos anos 80 e nada mais.

Pablo Aluísio.

Religulous

Título Original: Religulous
Título no Brasil: Sem Título Definido
Ano de Produção: 2008
País: Estados Unidos
Estúdio: Lions Gate Entertainment
Direção: Larry Charles
Roteiro: Larry Charles
Elenco: Bill Maher, Tal Bachman, Jonathan Boulden
  
Sinopse:
Documentário onde o comediante e ator Bill Maher, um ateu convicto, procura demonstrar o lado ridículo das religiões. Ao lado de uma pequena equipe de filmagem ele visita templos e igrejas, mostrando o lado histérico e monetarista dos evangélicos, a estranha história que deu origem à Igreja dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons), as loucuras da Cientologia e as contradições existentes entre a doutrina e a prática do Catolicismo Romano, tudo baseando-se em entrevistas de membros e ex-membros de todas essas vertentes religiosas. Documentário premiado pela Sitges - Catalonian International Film Festival na categoria de Melhor Filme de Não Ficção.

Comentários:
Se você estiver interessado em entender como funciona o modo de pensar de um ateu, uma boa dica é esse documentário americano dirigido pelo humorista de stand up Bill Maher. Católico de formação, ele resolveu deixar de acreditar em Deus após entender que tudo não passaria de uma invenção da mente humana. Para provar seu ponto de vista Bill e sua equipe resolveram percorrer os bastidores das mais populares religiões dos Estados Unidos. A proposta de Maher não é colocar um ponto final nesse polêmico assunto, mas sim mostrar o lado mais ridículo das igrejas americanas. Assim ele procura entrevistar líderes religiosos, seguidores e críticos das chamadas religiões institucionalizadas. Não deixa de ser interessante. Ao lado de um bem sucedido pastor ele se surpreende ao perceber que o tal sujeito defende a riqueza material como símbolo de bênção divina. Chega ao ponto de defender um Jesus histórico rico, cheio de posses e se vestindo com as melhores roupas de sua época. Depois conversa com ex-membros da Igreja Mórmon e expõe a estranha doutrina da religião que afirma que um americano chamado Joseph Smith teria sido visitado pelo próprio Jesus que o teria revelado ter estado na América antes da chegada do colonizador europeu, para pregar para judeus que viviam nas terras do novo continente. 

Depois fica pasmo ao saber que os Mórmons batizam pessoas mortas (como Hitler e Stálin) e que acreditam que Deus seria uma pessoa de 1,89 de altura vivendo em uma galáxia distante. Os cientologistas também não escapam da acidez de Maher, principalmente pelo fato de acreditarem que todos os seres humanos carregam ETs em seus próprios corpos e que são fruto de um Império Intergaláctico que já dura 80 trilhões de anos! O mais curioso é que o ex católico Bill Maher em seu documentário acabou encontrando as pessoas mais sensatas justamente em sua antiga religião. Ele bate um excelente papo com o astrônomo do Vaticano que tenta lhe explicar que religião e ciência podem sim andar juntas. Depois encontra um bem humorado padre na praça de São Pedro (um dos momentos mais divertidos do documentário). Em suma, embora teologicamente bem vazio (já que seu realizador não tem muito conhecimento dos assuntos que trata em seu filme), o documentário não deixa de ser divertido. Só não deixe de perceber que o texto é bem maniqueísta e em certos casos mal intencionado, sempre tentando retratar as pessoas religiosas como incultas ou estúpidas (a entrevista com o senador americano é bem óbvia nesse aspecto). Mesmo assim, tirando esses deslizes, até que não deixa de ser um programa interessante.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Globo de Ouro 2016

Ontem aconteceu a festa de premiação do Globo de Ouro. Muitos gostam de dizer que o Golden Globe é a verdadeira prévia do Oscar ou seu termômetro. Eu prefiro encarar de outro modo, como uma premiação própria, singular, com identidade bem particular. Nesse ano o destaque (pelo menos para nós, brasileiros) foi para a indicação de Wagner Moura por "Narcos". E como sempre acontece houve muita torcida para que ele vencesse, o que só não aconteceu porque no meio do caminho havia Jon Hamm e a maravilhosa série "Mad Men". Quem acompanha o blog sabe que gosto muito dessa série, para mim uma das marcantes dos últimos tempos, então na minha forma de ver não houve nenhuma injustiça. Como a série chegou ao final recentemente era mesmo de se esperar que os membros que votaram resolvessem premiar o conjunto da obra. Foi merecido. "Narcos" e a atuação de Wagner Moura realmente não conseguem chegar perto da qualidade de "Mad Men" que acompanho há anos sem me decepcionar. Cabe a Wagner Moura agora agradecer pela indicação e partir para frente, sem reclamar.

Outro fato que chamou muito a atenção na premiação - a ponto de virar piada na internet - foi a reação do ator Leonardo DiCaprio quando Lady Gaga (por "American horror story: Hotel") foi anunciada como vencedora na categoria de Melhor atriz em minissérie ou filme para a TV. Leo parecia se divertir muito e acabou levando um "chega pra lá" nada sutil da cantora. Nem se fosse proposital, escrita por roteiristas da cerimônia, seria tão divertida a cena. Foi o momento mais comentado da noite. Por falar em DiCaprio ele também levou seu prêmio pelo elogiado "O Regresso", um dos melhores filmes de sua carreira que em breve irei comentar por aqui. Essa produção também levou o prêmio mais importante da noite, o da categoria Melhor Filme Drama. E como se isso não fosse o bastante ainda levantou o prêmio de Melhor Direção. Nada mal. Com isso se torna o favorito ao Oscar. Os outros atores premiados da noite foram Sylvester Stallone (por "Creed", quem diria) e Matt Damon (por "Perdido em Marte", um prêmio um pouco exagerado). No campo da animação "Divertida Mente" foi premiada. Muitos apostavam no filme do Snoopy.

Entre as atrizes foram premiadas Jennifer Lawrence (por "Joy", um filme apenas mediano), Brie Larson (por "O quarto de Jack", desbancando a favorita Cate Blanchett por "Carol") e Taraji P. Henson (pela série "Empire"). Na categoria comédia musical a simpática Rachel Bloom foi premiada por sua atuação em "Crazy ex-girlfriend". Kate Winslet também não foi esquecida e acabou sendo premiada pelo fraco "Steve Jobs". Um prêmio de consolação por um filme que foi muito esperado, mas que passou longe de cumprir as expectativas criadas. Já para os nostálgicos o grande momento da noite veio com o reconhecimento e o prêmio de Ennio Morricone pela trilha sonora do faroeste"Os 8 odiados". Merecido? Mais do que isso. Já o prêmio de Melhor Canção achei bem fraco ( a chatinha "Writing on the wall" de "007 contra Spectre" se tornou vencedora). Por fim, as séries. A estranha "Mr. Robot" caiu nas graças dos membros do Globo de Ouro e levou dois prêmios importantes: Melhor Ator Coadjuvante para Christian Slater e Melhor Série Drama, vencendo fortes concorrentes como "Game of Thrones" e "Narcos". Por essa pouca gente realmente esperava. Bom, se você estava precisando de um empurrão para conhecer a nova série eis ai sua deixa. Outra surpresa e tanto foi a premiação de "Mozart in the jungle", passando por cima da grande favorita "Orange is the New Black" (que tem um imenso fã clube no Brasil) na categoria de Melhor série de comédia ou musical. Pois é, para que tudo não ficasse muito chato não faltaram zebras nessa noite. Foi a cereja do bolo de uma noite divertida e agradável.

Mad Men - Jon Hamm foi novamente premiado no Globo de Ouro por sua atuação na consagrada série "Mad Men". Obviamente que houve quem não gostasse, principalmente para os brasileiros que torceram por Wagner Moura em Narcos. Bobagem. O prêmio de Hamm foi mais do que merecido. Grande parte do sucesso de "Mad Men" aliás se deve a ele, pois suas atuações são realmente na medida certa. Analise Don Draper. Ele passa longe de ser um personagem fácil de interpretar. Na superfície ele passa a imagem de um profissional bem sucedido, quase um gênio da publicidade. Por baixo de toda essa estampa se encontra um homem com muitos problemas emocionais e um passado conturbado. Draper nem é mesmo quem diz ser. Na verdade ele teve uma infância miserável, toda passada em um bordel imundo. Como se isso não fosse o bastante sua própria mãe era uma prostituta. Quem não levaria vários traumas de uma infância dessas?

O tempo passou e Draper deu a volta por cima, ainda mais depois que resolveu assumir a identidade de um colega morto em combate. Renovado, com outro nome, deixando tudo para trás ele acabou na verdade se reinventando. E é justamente dessa dualidade que vem o grande mérito do trabalho de Jon Hamm. Ele se saiu igualmente bem dando vida ao macho alfa bem sucedido que levava todas as mulheres para a cama, como também ao introspectivo, traumatizado e conturbado homem que tinha uma bagagem emocional muito pesada para levar nas costas. Com tudo isso toda crítica feita a Hamm se mostra vazia e sem sentido. Além do mais vamos convir que Wagner Moura não estava realmente bem como Pablo Escobar, principalmente por ostentar um péssimo sotaque, nada convincente. Juntando as falhas do ator brasileiro com o fato da série "Mad Men" ter encerrado suas temporadas (o que justificou um prêmio ao estilo "pelo conjunto da obra") você facilmente entenderá porque nenhum outro ator merecia levar o Globo de Ouro de 2016. Não apenas está de bom tamanho, como também, está mais do que justa sua premiação.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Pegando Fogo

Bom, se você considera cozinhar bem uma verdadeira arte, então vou deixar a dica desse interessante filme chamado "Pegando Fogo" (Lamentavelmente mais um título nacional completamente sem noção). O enredo gira em torno de Adam Jones (Bradley Cooper). No passado ele foi um consagrado chef de cuisine em Paris. Seus pratos eram respeitados e ele era admirado como profissional inovador e criativo. Em seu auge chegou a ser qualificado como um dos melhores da cidade, o que definitivamente não era pouca coisa, uma vez que Paris sempre foi o centro da gastronomia mundial. Infelizmente os anos de glória ficaram para trás após ele mesmo colocar tudo a perder por causa de mulheres, drogas e bebidas. Depois da queda resolveu então voltar para os Estados Unidos. Trabalhando em um boteco de quinta categoria em New Orleans ele decide se redimir de uma vez por todas, novamente jogando tudo para o alto, com a intenção de voltar para a Europa, para recuperar seu prestígio e fama do passado nos melhores restaurantes do continente. Ao invés de retornar a Paris, Jones resolve então ir dessa vez para Londres, onde um antigo colega de profissão agora trabalha como maitre. Será que haverá uma segunda oportunidade para ele no concorrido mercado de finas iguarias da capital inglesa?

Quando esse filme começou me recordei imediatamente de um filme mais antigo com Catherine Zeta-Jones e Aaron Eckhart chamado "Sem Reservas" (No Reservations, EUA, 2007). A temática é bem parecida e mostra o lado mais concorrido desse mundo da alta culinária mundial. Para trazer mais apelo dramático a esse roteiro os escritores criaram uma personalidade muito atormentada para o personagem central interpretado por Bradley Cooper. Ele aliás está muito bem no papel desse temperamental chefe que vira e mexe protagoniza acessos de fúria e raiva em sua cozinha. Basta um pequeno erro no sabor, um excesso de algum condimento para que tudo voe pelos ares. Como se isso não fosse o bastante há ainda explosões de raiva contra seus subordinados o que transforma seu ambiente de trabalho em um verdadeiro caos de tensão incontida. Ele deseja a cobiçada terceira estrela da famosa publicação Michelin, um guia com os melhores restaurantes e chefes de cozinha de todo o mundo e está decidido a ganhar sua redenção na profissão. Ser um profissional três estrelas no guia iria lhe transformar em um dos cozinheiros mais respeitados de todo o planeta. Para isso Jones realmente não está disposto a ser nada menos do que perfeito em suas criações, o que não será nada fácil uma vez que ele tem uma vida conturbada, com um passado complicado de apagar. No saldo final o filme me agradou, não apenas pela boa dramaticidade como também pelas cenas de preparo dos pratos finos. Cada refeição é tratada praticamente como uma obra de arte. Para um gourmet não poderia haver nada melhor do que isso. Não deixe de conferir e Bon Appétit!

Pegando Fogo (Burnt, EUA, 2015) Direção: John Wells / Roteiro: Steven Knight, Michael Kalesniko / Elenco: Bradley Cooper, Emma Thompson, Uma Thurman, Sienna Miller, Matthew Rhys, Daniel Brühl / Sinopse: Após arruinar sua carreira em Paris, um cozinheiro americano chamado Adam Jones (Bradley Cooper) resolve voltar para a Europa, mais especificamente Londres, para um retorno triunfal ao mercado mais concorrido da alta culinária em todo o mundo. Ele deseja ser reconhecido por seu talento, ganhando a tão cobiçada terceira estrela do Guia Michelin de restaurantes. O caminho até a consagração porém não será nada fácil.

Pablo Aluísio. 

Os Oito Odiados

Aqui vão algumas impressões iniciais sobre o novo filme do diretor Quentin Tarantino "The Hateful Eight" que no Brasil recebeu o título de "Os Oito Odiados". Posteriormente irei escrever uma resenha mais na linha tradicional, sendo que nesse texto irei apenas comentar algumas conclusões tiradas no calor do momento (faz pouco mais de uma hora que terminei de assistir ao filme). Algumas coisas os espectadores precisam saber logo de cara. A primeira delas é que Tarantino realizou um filme extremamente longo, fora dos padrões atuais. São quase três horas de projeção, o que provavelmente vai prejudicar o filme em termos comerciais. Afinal de contas que jovem hoje em dia tem paciência para encarar uma sessão tão demorada? Ainda mais com a overdose tecnológica que o fazem conferir o celular a cada minuto? Bom, azar deles. Ainda bem que Tarantino não resolveu fazer concessões comerciais, preferindo realizar o seu filme ao seu modo, mesmo contra a opinião dos produtores (dizem que foi aconselhado até mesmo a lançar o filme em duas partes, o que seria um disparate desproporcional).

A segunda informação importante é que Tarantino resolveu fazer um faroeste à moda antiga. Não é segredo para ninguém que os dias de glória do western há muito se foram. Os fãs do gênero (no qual também me incluo) precisam muitas vezes rever antigos clássicos ou então encarar filmes atuais sem grande produção, com lançamento restrito, ou em outras palavras: filmes B lançados diretamente no mercado de venda direta ao consumidor. É triste, mas é a realidade. Pois é, o velho e bravo faroeste anda tão fora de moda que muitas vezes sequer consegue espaço no circuito comercial dos cinemas. Mais uma vez Tarantino jogou essa questão para o alto e resolveu fazer uma obra honesta, quase uma homenagem aos antigos filmes que assistia quando era apenas um atendente de videolocadora. Há claramente um estilo que nos remete ao Western Spaghetti, porém em menor escala do que vimos no filme anterior, "Django Livre", esse sim um filme assumidamente paródia ao cinema italiano.

Outro aspecto que merece louvores é que Tarantino continuou fiel ao seu próprio estilo, privilegiando muitas vezes o diálogo ao invés da pura ação. Tudo bem que não existe nenhum texto tão brilhante como os que ele escreveu para obras primas do passado, como por exemplo "Pulp Fiction", mas isso não significa que não sejam muito bons, longe, bem longe, da mediocridade que costumeiramente se anda vendo nos filmes atuais. Isso ficou extremamente realçado no primeiro ato do filme quando os personagens estão em uma diligência no meio da nevasca. Dois caçadores de recompensas (Kurt Russell e Samuel L. Jackson) e uma mulher acusada de assassinato. Aqui eu vou abrir um pequeno parêntese para mais uma vez elogiar o fato de que Tarantino novamente desprezou os conselhos dos produtores. Jogando o politicamente correto para o alto o diretor apostou uma linguagem bem ofensiva em relação aos negros (com farto uso da palavra "Nigger" considerada um insulto nos Estados Unidos) e na violência contra a mulher (o que a personagem interpretada por Jennifer Jason Leigh apanha não está no gibi, com socos que lhes quebram todos os dentes frontais, cotoveladas e chutes em todo o corpo!). A reação veio de determinados protestos de grupos feministas e de combate ao racismo contra Tarantino e seu roteiro. O diretor deu de ombros afirmando que as pessoas daquela época agiam assim - e ele está completamente com a razão! Ao invés de ser polido e politicamente correto, Tarantino optou pela veracidade histórica. Ponto para ele!

Lendo o texto você pode pensar que o filme acabou ficando chato e apelativo, afinal é longo, cheio de diálogos ofensivos e com a maior parte da trama se passando dentro de uma estalagem, um tipo de estabelecimento muito comum no velho oeste onde as diligências em viagem reabasteciam. É um equívoco. O filme tem muita violência - é extremamente violento para ser sincero, um verdadeiro banho de sangue - e não apresenta nada de muito brilhante em seu enredo. A história é extremamente simples, tudo em três atos básicos. A viagem de diligência, a chegada na estalagem e um pequeno flashback para mostrar tudo o que teria acontecido antes dos personagens chegarem naquele local. Isso tudo porém quer dizer pouca coisa. Em sua simplicidade Tarantino acabou realizando um filme muito interessante.

Todos do elenco estão excelentes, porém destaco algumas coisas que me chamaram muito a atenção. Tarantino é seguramente um fã de séries pois ele escalou vários atores de seriados americanos. Walton Goggins, por exemplo, é um profissional brilhante. Quem acompanhou "Justified" sabe muito bem disso. Ele roubou a série para si, embora interpretasse um personagem secundário. Demián Bichir, o mexicano, veio do excelente "The Bridge" onde interpreta um detetive do outro lado da fronteira que precisa lidar com policiais americanos de El Paso. Isso demonstra que Tarantino realmente está por dentro do universo televisivo dos principais canais americanos. Agora em termos de elenco quem mais me agradou foi realmente Kurt Russell. Outro dia comentando seu último filme (também um western) escrevi que ele deveria realizar mais filmes do gênero. Então foi duplamente gratificante vê-lo aqui interpretando esse caçador de recompensas durão e nada simpático. 

Assim "The Hateful Eight" é um filme que no final das contas não decepcionará nenhum admirador da obra de Tarantino. O estilo do cineasta está em cada cena, em cada diálogo e em cada detalhe. Ele obviamente não está tão brilhante como em suas principais obras primas de um passado hoje já distante, isso porém em nada atrapalha o resultado final do filme que me deixou extremamente satisfeito. Algumas coisas ele poderia ter mudado um pouco, como escolher uma duração menos longa, mas isso é um detalhe menor. Em minha visão Tarantino ainda conseguiu manter algo muito importante que é a fidelidade ao seu jeito de fazer filmes. Enquanto ele for assim tão genuíno continuará a ser considerado um dos melhores autores da sétima arte dos tempos atuais.

Os oito odiados (The Hateful Eight, Estados Unidos, 2015) Direção: Quentin Tarantino / Roteiro: Quentin Tarantino / Elenco: Kurt Russell, Samuel L. Jackson, Jennifer Jason Leigh, Tim Roth, Walton Goggins, Demián Bichir, Michael Madsen, Bruce Dern / Sinopse: O caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell) tem um objetivo bem claro em sua mente: levar a assassina Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) para Red Rock onde será julgada e muito provavelmente enforcada. Ela é procurada viva ou morta e o prêmio por sua captura está estimado em dez mil dólares. Para isso Ruth resolve contratar uma diligência exclusiva, apenas para ele e sua prisioneira. Durante a viagem porém eles encontram no meio do caminho, sob forte nevasca, o veterano de guerra e agora também caçador de recompensas Marquis Warren (Samuel L. Jackson). Como se isso não fosse o bastante mais a frente também esbarram em Chris Mannix (Walton Goggins) que se diz ser o novo xerife de Red Rock. Com todos a bordo eles param em uma estalagem de reabastecimento, mas descobrem que existe algo muito estranho naquele lugar. Filme indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Roteiro (Quentin Tarantino), Melhor Atriz Coadjuvante (Jennifer Jason Leigh) e Melhor Trilha Sonora (Ennio Morricone).  

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

The Knick

The Knick 1.01 - Method and Madness
Basta dar uma pequena olhada nos nomes que estão envolvidos nessa nova série da Home Box Office (HBO), para perceber que o mundo do cinema está cada vez mais interessado no que se está produzindo na TV. Estrelada por Clive Owen e dirigida por Steven Soderbergh, a série The Knick é de fato uma grata surpresa. O enredo se passa em 1900, em Nova Iorque. A medicina, ainda sem os recursos adequados, luta para salvar vidas. No centro de tudo está o Dr. John W. Thackery (Owen), um cirurgião arrojado que deseja aprimorar as técnicas de cirurgia. Esqueça os protagonistas nesse estilo, principalmente daquelas séries tradicionais de médicos bonitões e virtuosos. O Dr. Thackery é bem diferente dos heróis de branco que você está acostumado a ver. Ele é arrogante, viciado em drogas e racista! Achou pouco?! Pois é, um retrato mais próximo das pessoas reais. Some-se a isso o fato do episódio piloto ser bem realista e cru (a ponto de mostrar em detalhes aspectos das cirurgias, com bastante sangue espirrando na tela) e você certamente terá um programa e tanto. Só não recomendo mesmo para quem tem horror a ver sangue jorrando aos montes. Outra série que já mostra desde os primeiros momentos que tem grande qualidade e que veio para ficar. Aproveite e acompanhe, já que estamos em plena estréia da primeira temporada. / The Knick 1.01 - Method and Madness (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 1.02 - Mr. Paris Shoes
No segundo episódio da série "The Knick" continuamos a acompanhar a rotina de médicos e enfermeiras de um hospital de Nova Iorque no começo do século xx. A série tem ótimos roteiros que mostram não apenas as técnicas utilizadas naqueles tempos (que eram primitivas e bem longe do que se vê hoje em dia) como também os aspectos sociais da interação entre os personagens. A principal delas vem do racismo velado que existia entre brancos e negros. Veja, não estou me referindo a um racismo sutil, feito de pequenas nuances, mas sim de um racismo direto, frontal, sem meias palavras. O Dr. Algernon Edwards (André Holland) é um cirurgião talentoso, sério e muito competente no que faz. Sua opinião dentro da equipe de cirurgia do hospital porém de nada vale simplesmente porque ele é negro! E para piorar o episódio deixa claro que o racismo não partia apenas dos brancos, mas dos próprios negros também. Em determinado momento ele tenta atender uma paciente negra que sem sutileza nenhuma deixa claro que prefere ser atendida em outro hospital a ser tratada por um médico negro como ele! Morando em um bairro afastado, numa pensão só para pessoas de cor, no meio da sujeira e insetos, ele ainda tem que entrar em uma briga corporal um irmão de sua raça que implica com seus belos sapatos comprados em Paris (daí o título do episódio). Além dessa linha narrativa ainda acompanhamos o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) se afundando cada vez mais em seu vício de ópio e cocaína e os desafios do uso pioneiro da energia elétrica dentro dos centros cirúrgicos naqueles tempos primitivos. / The Knick - Mr. Paris Shoes (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 1.03 - The Busy Flea
E continua a saga de "The Knick". O cenário é um hospital de Nova Iorque no começo do século XX. A ciência ainda não está muito avançada, mas já registra vitórias importantes. Nesse episódio o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) recebe a visita de uma antiga paixão do passado. Ela teve um caso ardente e apaixonado com ele, mas no último minuto se decidiu por casar com outro homem. Péssima escolha. O sujeito não era fiel e acaba contraindo sífilis de uma prostituta. Depois obviamente ela fica doente também. O pior é que parte de sua face é corroída e ela, ainda jovem, se vê desfigurada pelos rastros terríveis deixados pela enfermidade. Apenas Thackery seria de confiança para realizar uma cirurgia que amenizasse tais danos estéticos. O problema é que ele também não anda muito bem, sempre abusando da heroína, sua companheira até mesmo dentro do hospital, na hora do trabalho! Já o Dr. Algernon Edwards (André Holland) continua sofrendo forte preconceito racial de seus colegas de profissão. Embora seja inteligente, culto e preparado, ele é tratado como um médico de segunda classe, onde não se abre oportunidade para que ele demonstre suas habilidades com o bisturi. Revoltado por dentro, resolve ajudar pessoas pobres no porão do hospital, mas isso é certamente uma péssima ideia pela falta de mínimas condições para a prática segura da medicina. O resultado acaba sendo previsível, infelizmente. Temos aqui mais um excelente episódio dessa nova série "The Knick" que desde seu começo tem demonstrado ser uma das melhores coisas da TV americana. / The Knick 1.03 - The Busy Flea (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 1.04 - Where's the Dignity
As coisas não são fáceis para o Dr. Algernon Edwards (André Holland). Ele é um excelente médico, centrado, focado e estudioso. Some-se a isso o fato dele dominar uma nova técnica de cirurgia que foi criada na Europa. O lógico seria que ele fosse o responsável pelo uso do procedimento no hospital, mas isso não acontece. Como se sabe Edwards é negro e nessa condição sofre todos os tipos de preconceitos na Nova Iorque do começo do século XX. Os demais médicos não confiam nele e até os enfermeiros fazem pouco caso de seu preparo intelectual, o chamando às escondidas de "Dr. Negrinho". Até os pacientes (mesmo sendo também negros) não querem ser atendidos por ele! Uma situação lamentável. Então diante desse quadro a única coisa que sobra a Edwards é também jogar duro. Ele aceita dar instruções na cirurgia, mas impedido de agir, resolve se calar bem no meio da sala de cirurgia. Agora ou os brancos lhe deixam operar o paciente ou esse morrerá ali mesmo. Alguns espectadores podem se chocar com o racismo mostrado pela série, mas isso se justifica pelo contexto histórico que os roteiros exploram. No outro arco narrativo o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) divide seu tempo entre a recuperação de uma velha amiga que ficou sem a cartilagem de seu próprio nariz por causa de uma doença devastadora e as visitas noturnas constantes a um antro de consumo de ópio em Chinatown. A enfermeira Lucy Elkins (Eve Hewson) decide segui-lo até aquele inferninho para ter certeza sobre seu vício cada vez mais frequente na popular droga oriental. Afinal de contas onde foi parar a dignidade no meio de todas aquelas pessoas? / The Knick 1.04 - Where's the Dignity (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Roteiro: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 1.06 - Start Calling Me Dad
No começo do século XX, a medicina ainda não tinha todo o aparato tecnológico que vemos hoje em dia. Dessa forma os próprios médicos tinham que procurar por algum meio para suprir as deficiências próprias da época. Em jogo a vida de muitos pacientes à beira da morte. Valia de tudo, inclusive adaptar aspiradores na sala de cirurgia e coisas do tipo. Para o cirurgião Dr. John W. Thackery (Clive Owen) a busca por novas invenções que salvam vidas era o mais importante obstáculo a ser superado. Assim ele acaba inventando um novo instrumento cirúrgico para reverter as enormes hemorragias que matavam muitas mulheres em trabalhos de parto naqueles tempos pioneiros. Um tubo de borracha inserido no útero nas pacientes que evitava que elas viessem a morrer em pleno parto. Essa busca por inovações tecnológicas acaba sendo a salvação do Dr. Algernon Edwards (André Holland). Pego em flagrante, ao usar instalações do hospital sem autorização, para atender doentes carentes, ele é salvo da demissão quando Thackery descobre que mesmo sob condições adversas, Edwards conseguiu inventar uma nova técnica cirúrgica que salva vidas em procedimentos de operação de hérnia. Admirado pelas habilidades cientificas de seu colega, decide não apenas poupá-lo de ir para a rua como também o leva para o quadro ilustre de cirurgiões do estabelecimento. Um bom episódio da série, mostrando as dificuldades enfrentadas pelos profissionais da saúde em um tempo onde a improvisação e a imaginação poderiam ser a única tábua de salvação para muitos enfermos. / The Knick 1.06 - Start Calling Me Dad (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 1.07 - Get the Rope
A série "The Knick" tem investido bastante na questão racial. Embora seja passada no começo do século XX, os roteiristas acharam por bem criarem certas pontes com o momento atual em que vive os Estados Unidos. Nesse episódio um homem branco confunde uma negra com uma prostituta de rua. O mal entendido acaba mal. O rapaz negro que a defende dos insultos acaba sendo morto. Isso causa uma explosão de revolta pelas ruas da cidade de Nova Iorque e o caos se instala. Nem o hospital escapa do pandemônio que é instaurado. Nem é preciso ser muito inteligente para entender que o roteiro desse episódio tem tudo a ver com um caso recente que aconteceu em Ferguson, no estado americano do Missouri, quando um jovem negro chamado Michael Brown levou seis tiros dados por um policial branco. Foi uma forma indireta e até mesmo sutil encontrado pelos produtores para tratar sobre o caso que abalou a mídia por lá. Além disso desde o primeiro episódio um dos conflitos dramáticos mais explorados pela série vem justamente das dificuldades enfrentadas pelo Dr. Algernon Edwards (André Holland) em se impor na profissão. Inteligente e competente, ele nunca é levado à sério ou respeitado, nem mesmo pelos pacientes, simplesmente porque é negro. Pelo menos a partir desse episódio o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) começa a superar seus próprios preconceitos em relação ao colega de profissão e começa a valorizar suas ideias e seu trabalho. Viciado em ópio e cocaína, sua vida particular tem se revelado uma bagunça completa. Grande profissional, não consegue superar seus problemas particulares, amenizados em parte depois que resolveu se envolver com a enfermeira Lucy Elkins (interpretada pela atriz Eve Hewson, que diga-se de passagem é uma gracinha). Enfim, "Get the Rope" tenta assim tocar em um assunto importante, mas sem parecer panfletário ou chato demais. Conseguiu. / The Knick 1.07 - Get the Rope (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco:  Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb, Eve Hewson.

The Knick 1.08 - Working Late a Lot
Um aspecto até bem comum e pouco conhecido é o vício em drogas de médicos. Como profissionais de saúde eles possuem amplo acesso a substâncias que outras pessoas comuns não têm. Para se tornar um viciado é questão apenas de pequenos passos. O protagonista da série "The Knick" vive esse drama. Brilhante cirurgião, o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) tem sérios problemas nesse campo. Além de seu conhecido vício em ópio, que era bastante popular naqueles tempos, comercializado abertamente em casas orientais, ele também se mostra dependente químico da cocaína. Quando o hospital e a cidade ficam sem cocaína (usada legalmente no começo do século XX) por causa de problemas de importação, ele fica completamente fora de si. Aparentando problemas de abstinência o Dr. Thackery começa rapidamente a surtar pela falta da droga. Tudo bem claro, a olhos vistos, inclusive por outros médicos do hospital. O pior é que ele precisa fazer uma conferência para um grupo de pesquisadores e inventores de sua área, o que deixa a situação ainda mais delicada. Completamente alucinado sobe ao palco, mostrando para todos os presentes os efeitos da falta do entorpecente em seu organismo (esse tipo de situação iria, com os anos, classificar a cocaína como substância viciante, sendo banida para sempre das práticas médicas). Se a vida profissional vai se tornando caótica, a vida pessoal não vai também pelo rumo certo. Ele está cada vez mais envolvido com uma enfermeira que conhece todos os seus problemas e até ajuda ao conseguir um último frasco de cocaína disponível no hospital. Por falar nisso, o chefe da unidade hospitalar resolve ir atrás de doadores privados para que o hospital não feche as portas por falta de recursos. Infelizmente não consegue muito retorno. Chega até mesmo a procurar a Igreja Católica, mas essa já possui seus próprios hospitais de caridade e não pode ajudar a curto prazo. Pelo visto a vida na medicina não era nada fácil há cem anos. / The Knick 1.08 - Working Late a Lot (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 1.09 - The Golden Lotus
No começo do século XX a cocaína era um produto legal, comercializada e vendida em farmácias, geralmente usada em procedimentos cirúrgicos como fator anestésico. Só depois de um certo tempo é que as autoridades de saúde descobriram que ela tinha um alto poder de gerar dependência química em seus usuários. O enredo desse episódio gira exatamente em torno disso. Embora seja um cirurgião brilhante o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) se revela também um viciado em cocaína. Quando a substância some de Nova Iorque por problemas de distribuição ele simplesmente surta com uma pesada crise de abstinência. Chega ao ponto inclusive de arrombar uma farmácia da cidade em busca da droga. Preso em flagrante, é levado para a delegacia e só consegue ser liberado após o dono do hospital onde trabalha oferecer propina ao corrupto policial que o tem em custódia. Isso em nada abala sua jornada em busca da substância. Ele entra em desespero. Para ajudá-lo a enfermeira Lucy Elkins (Eve Hewson) promete a ele que irá conseguir sua cocaína. Ela é perdidamente apaixonada pelo médico e está disposta a fazer tudo, absolutamente tudo, pelo seu amado. Lucy chega ao ponto de ir ao bairro chinês de Nova Iorque, numa casa de ópio, para conseguir algumas gramas da droga. Para isso chega ao ponto mais baixo que uma mulher pode chegar, tudo para amenizar um pouco a dor do Dr. Thackery. Na outra linha narrativa o Dr. Algernon Edwards (André Holland) recebe uma notícia surpreendente. Há alguns meses ele teve um romance com uma jovem senhorita branca. Ela vem ao hospital lhe informar que está grávida! Inicialmente Edwards fica feliz com a notícia, mas logo depois se decepciona completamente com o fato de que ela quer o aborto pois não estaria preparada para lidar com o preconceito da sociedade. Afinal Edwards é negro e seu filho seria mestiço. Em um mundo onde o racismo imperava ela queria se livrar o mais rapidamente possível do "problema". Claro que essa situação acaba deixando o médico completamente devastado. Será que ele teria coragem de realizar o aborto em seu próprio filho? Como sempre "The Knick" mantém um excelente nível. Essa série criada pelo diretor e roteirista Steven Soderbergh é seguramente uma das melhores coisas da TV americana em exibição. Não deixe de conferir. / The Knick 1.09 - The Golden Lotus (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Steven Katz, Jack Amiel / Elenco:  Clive Owen, André Holland, Eve Hewson, Jeremy Bobb.

The Knick 1.10 - Crutchfield
No começo do século XX a cocaína era usada de forma cotidiana em procedimentos cirúrgicos e médicos. Não se tinha ainda a noção de que essa droga pudesse criar uma forte dependência dentro do organismo. É justamente esse o drama pelo qual passa o Dr. John W. Thackery (Clive Owen). Brilhante cirurgião, ele simplesmente não consegue mais viver sem doses diárias da droga. Imerso em seu próprio vício, sem limites, ele começa então a ter delírios de pura paranoia. Quando um outro médico anuncia que fará uma publicação sobre os tipos sanguíneos existentes na humanidade, Thackery entra em parafuso. Ele se considera muito mais inteligente e competente do que seu concorrente. Assim ele emerge em uma insana busca para compreender o que determinaria os tipos sanguíneos e como se poderia superar o velho problema que sempre surgia quando eram feitas tentativas de transfusão de sangue. Como está completamente surtado e chapado ele levanta teorias completamente idiotas e malucas sobre o tema, apostando que o tipo sanguíneo seria determinado pelo tamanho das hemácias e outros absurdos. Seu acesso de loucura acaba levando à morte uma pequena garotinha de nove anos e então Thackery finalmente compreende que chegou mesmo o momento de ir em busca de ajuda. Acaba sendo internado em uma clínica de recuperação com o falso nome de Crutchfield (que acabou sendo também usado para nomear o episódio). Na última cena há um momento de fino humor negro quando descobrimos que na clínica se tentava curar o vício em cocaína com doses de... heroína! Acredite se quiser! Isso me fez lembrar de um livro best-seller que fez muito sucesso anos atrás chamado "A Assustadora Historia da Medicina", de Richard Gordon. Até evoluir, a medicina realmente tentou e experimentou tratamentos que eram de fato bem assustadores. Pura tentativa e erro. Enfim, esse episódio que fecha a primeira temporada foi um dos melhores da série, mostrando mais uma vez o grande talento do diretor e roteirista Steven Soderbergh. Esse sabe realmente como fazer uma boa série de TV. / The Knick 1.10 - Crutchfield (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 2.01 - Ten Knots
O Dr. John W. Thackery (Clive Owen) continua sua luta contra o vício de cocaína. Como foi mostrado no episódio anterior ele começou a ser tratado dessa dependência com... heroína! Coisas de um tempo em que a medicina ainda engatinhava, um festival de horrores para falar a verdade. Ao visitá-lo, seu colega de profissão, o Dr. Everett Gallinger (Eric Johnson), descobre que ele está pior do que nunca, completamente surtado, tendo alucinações e sofrendo de delírios. Além da paranoia começa a ver a garotinha que morreu em suas mãos na sala de operação enquanto operava com a mente cheia de drogas. Diante daquela situação horrenda Everett resolve então colocar em prática uma solução radical para a situação. Ele resolve retirar John da clínica de forma clandestina e o leva até seu veleiro. Amarrando Thackery ele pretende dar um choque de reabilitação no amigo. Obviamente que a crise de abstinência bate forte, mas Everett acredita que está no caminho certo. Apenas a desintoxicação completa daquelas drogas salvariam sua vida. John obviamente surta mais uma vez e até tenta agredir Everett, porém aos poucos vai percebendo que a agonia de ficar sem suas doses diárias vai diminuindo com o tempo. Everett também lhe propõe um desafio para ajudar a passar o tempo, desviando o pensamento de John das drogas. O desafia a aprender dez complicados nós de marinheiro, já que eles estão em alto mar. Se conseguir ele o levaria de volta a Nova Iorque. Mais amena é a paixão que a enfermeira Lucy Elkins (Eve Hewson) nutre por John. Ela não consegue esquecê-lo de jeito nenhum, é um amor que foge da razão. Mesmo com todos os problemas pela frente, ela não consegue deixar de pensar em seu querido amado e fica desesperada quando descobre que ele sumiu da clínica. O amor realmente é lindo e supera todos os desafios e barreiras... Temos aqui o primeiro episódio da segunda temporada, mais uma vez de excelente nível. O sucesso da primeira temporada tem permitido ao diretor e roteirista Steven Soderbergh caprichar cada vez mais, tudo resultando em uma das melhores séries da atualidade. / The Knick 2.01 - Ten Knots (EUA, 2015) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb, Eve Hewson, Eric Johnson.

The Knick 2.02 - You're No Rose
O Dr. John W. Thackery (Clive Owen) volta ao trabalho no hospital. Viciado em cocaína e heroína, ele garante à direção do Knick que está apto para voltar como chefe da cirurgia. O problema é que a confiança já não é mais a mesma de antes. Quem fica muito feliz com sua volta é a enfermeira Lucy Elkins (Eve Hewson). Ela é completamente apaixonada por ele e no passado fez de tudo por esse que ela considera o grande amor de sua vida. Thackery porém tem outros planos e já em seu primeiro reencontro com Lucy a diz que não a ama e que só teria ficado com ela no passado porque estava sob efeitos de drogas pesadas. A rejeição amorosa deixa Lucy arrasada. Para complicar ainda mais ela recebe a visita de seu pai, um pastor evangélico. Ele quer saber como vai Lucy, como é a sua rotina e sua vida. Enquanto isso o Dr. Algernon Edwards (André Holland) resolve contar a Thackery que está sofrendo de um sério problema de visão e que ele poderia comandar uma cirurgia experimental para tentar curá-lo. Uma má ideia. Apesar de estar afastado das drogas, Thackery ainda tem alucinações, inclusive com a de uma garotinha que morreu em suas mãos durante uma operação mal sucedida. Sofrendo de abstinência ele também está prestes a sofrer uma recaída, principalmente quando resolve ir a um bar cheio de prostitutas perto do caís de Nova Iorque. Lá a oferta de drogas é farta, colocando em risco seus desejos de se manter limpo. Mais um bom episódio de "The Knick". Se você gosta de séries médicas essa tem vários aspectos singulares, diferenciados, é bem escrita, atuada e tem um contexto histórico dos mais interessantes. Outra que recomendo sem receios. / The Knick 2.02 - You're No Rose (EUA, 2015) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb, Eve Hewson.

The Knick 2.03 - The Best with the Best to Get the Best
Depois de um breve período em que conseguiu ficar longe das drogas, o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) tem uma tremenda recaída. Dessa vez ele não se contenta em apenas usar cocaína ou heroína, pelo contrário, ele resolve fundir ambas numa mistura que futuramente seria conhecida como Speedball, um explosão química, fatal em muitos casos. E é assim, alucinado e viciadão, que ele começa a pesquisar para tentar achar a cura de uma doença que matou muitos no começo do século XX nos Estados Unidos: a sífilis. Curiosamente o Brasil inclusive passa por uma epidemia dessa antiga DST nos dias de hoje. Pois bem, na outra linha narrativa a enfermeira Lucy Elkins (Eve Hewson) resolve confessar todos os seus pecados em um culto protestante. Detalhe 1: seu pai é o pastor da igreja. Detalhe 2: sua confissão é tão cheia de coisas pesadas (como sexo, drogas e depravação de todos os tipos) que seu pai fica furioso pois acredita que foi humilhado perante todos os seus seguidores! Afinal se a filha dele é uma depravada, como ele pode indicar o caminho da salvação para os outros? Ao invés de lhe dar a eterna e infinita misericórdia de Deus o que ele faz nos bastidores? Promove uma agressão física contra a própria filha! Socos e pontapés para todos os lados. Por falar em evangélicos descontrolados esse episódio ainda tira outra casquinha ao mostrar um juiz protestante completamente parcial e colérico que resolve descontar seu fanatismo religioso contra uma freira católica que vai a julgamento. Por fim, fechando o episódio, o Dr. Algernon Edwards (André Holland) é surpreendido pela chegada de uma mulher a casa de seus pais se dizendo ser sua esposa! O pior é que ela não fala nada além da pura e cristalina verdade. Durma-se com um barulho desses. / The Knick 2.03 - The Best with the Best to Get the Best (EUA, 2015) Direção:  Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 2.04 - Wonderful Surprises
A medicina era qualquer coisa de brutal no começo do século XX. Usando pouco método científico e seguindo mais na linha da tentativa e erro os médicos de Nova Iorque procuravam por curas para doenças que matavam muitos na época como a terrível sífilis (uma doença sexualmente transmissível). Assim o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) resolve aumentar artificialmente a temperatura de uma paciente após usar essa mesma técnica em porcos. O objetivo é destruir os vírus com o aumento da temperatura corporal. Nos animais deu certo, realmente o aumento de temperatura interna eliminou as doenças, mas em seres humanos a coisa toda desanda para o desastre completo. Um detalhe do roteiro desse episódio também traz um aspecto bem curioso das relações sociais dos membros da elite daqueles tempos. O motorista da ambulância do hospital resolve chantagear um grupo de mulheres ricas da sociedade. Todas elas abortaram usando da ajuda de uma freira, religiosa essa que está prestes a ser condenada. Dessa maneira ou elas a ajudam a escapar da cadeia ou então ela contará tudo o que sabe no tribunal. Em pouco tempo a justiça resolve absolvê-la, mostrando que o sistema judiciário americano nunca foi a maravilha que todos sempre pensaram. Pequenas e grandes corrupções já eram comuns naqueles tempos distantes. / The Knick 2.04 - Wonderful Surprises (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 2.05 - Whiplash  
O Dr. Dr. John W. Thackery (Clive Owen) realiza uma pesquisa para vencer o vício em morfina. Ele pensa ter localizado no cérebro humano a exata localização onde se cria essa dependência. Assim, em sua forma de entender a questão, basta tirar um pedaço desse lugar para que o paciente fique curado do vício em drogas! Claro que sob o ponto de vista atual isso é um absurdo científico, mas naquela época tudo era possível em termos de pesquisa. Assim ele arranca uma parte do cérebro do pobre paciente e essa fica completamente catatônico, lobotomizado. Enquanto isso a enfermeira gatinha Lucy Elkins (Eve Hewson) começa a aceitar os galanteios de um médico do hospital. Ela o acha meio devagar, mas pelo fato do sujeito ser um médico bem posicionado pode ser uma boa ideia se envolver com ele. Por fim o hospital precisa atender uma grande demanda de pacientes que chegam de uma explosão ocorrida na construção do metrô de Nova Iorque. / The Knick 2.05 - Whiplash (Estados Unidos, 2015) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Steven Katz, Jack Amiel / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 2.06 - There Are Rules
Nesse episódio o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) vai até um parque de diversões, daqueles com atrações bizarras, bem populares no começo do século XX. Nessa noite em especial ele acaba conhecendo duas irmãs siamesas, expostas como aberração para curiosos. Ele resolve ajudá-las. Ao examinar as garotas vê que elas possuem órgãos internos independentes, com exceção do fígado. Isso significa que uma cirurgia de separação poderia ser realizada. O problema é que as jovens são praticamente escravas de um imbecil, um sujeito asqueroso que alega ter "comprado" as duas (olha o absurdo completo!) em uma viagem à Rússia. O máximo da barbaridade. Assim Thack pede que um dos empregados do hospital resgate as garotas, dando uma tremenda surra no canalha. Nesse episódio também vemos a morte da mãe de um dos cirurgiões do hospital. Ela está com um ofensivo câncer no esôfago (tudo mostrado em cenas fortes!). A cirurgia usando corrente eletrônica (um método experimental) se torna um completo fracasso, com a morte da paciente. Em tempos como aqueles a medicina ainda procurava um caminho seguro a seguir, com muitos experimentos que na maioria das vezes acabava em mortes na sala de cirurgia. Uma triste realidade. A ciência como todos sabemos, pode sim, ser bem assustadora. Por fim esse episódio tem uma cena bem, digamos, peculiar, quando a enfermeira Lucy Elkins (Eve Hewson) masturba um dos diretores do hospital para receber o convite de um baile beneficente! Pois é, não está fácil para ninguém mesmo! / The Knick 2.06 - There Are Rules (Estados Unidos, 2015) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 2.10 - This Is All We Are
Episódio final da série "The Knick" de Steven Soderbergh. No geral foi uma boa série, muito bem produzida, com roteiros caprichados, tudo para mostrar aspectos da medicina no começo do século XX. Tudo se passa em um hospital de Nova Iorque, apelidado pelos moradores justamente de "Knick". O personagem central sempre foi o médico cirurgião Dr. John W. Thackery (Clive Owen). Alucinado, viciado em morfina e cocaína, ele ainda assim conseguia ser um excelente profissional. Nesse episódio final temos uma apoteose digna de seu carisma. Ele precisa passar por uma cirurgia e pensa adotar uma nova técnica desenvolvida por ele mesmo. O problema é que os demais médicos do hospital não saberiam usar esse procedimento. Sem pensar duas vezes o Dr. Thackery decide se operar!!! Isso mesmo, usando de espelhos ele decide fazer a cirurgia em si mesmo! Simplesmente bizarro. O curioso é que o roteiro deixa uma situação em aberto. Tackert desmaia na sala de cirurgia, mas nunca fica claro se ele apenas perdeu a consciência ou se morreu mesmo. Como se trata do último episódio penso que ele morreu de fato. Foi um final justificado para um médico que sempre teve um ego descomunal. / The Knick 2.10 - This Is All We Are (Estados Unidos, 2015) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb, Juliet Rylance, Eve Hewson, Michael Angarano.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

30 Dias de Noite

Título no Brasil: 30 Dias de Noite
Título Original: 30 Days of Night
Ano de Produção: 2007
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: David Slade
Roteiro: Steve Niles, Stuart Beattie
Elenco: Josh Hartnett, Melissa George, Danny Huston
  
Sinopse:
Adaptação dos quadrinhos escrito por Ben Templesmith e Steve Niles (que também assina o roteiro), o filme "30 Dias de Noite" mostra o cotidiano da pequena cidadezinha de Barrow, no Alasca. Em uma região extremamente fria e isolada do mundo, que durante o inverno não se vê a luz do sol, ficando toda a vila imersa em uma noite de 30 dias, que parece eterna. Um cenário perfeito para o ataque de um grupo de vampiros sedentos por sangue humano. Filme indicado ao prêmio da Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films na categoria de Melhor Filme de Terror.

Comentários:
"30 Days of Night" é um filme visceral! Não há outra definição para essa fita extremamente violenta que vai diretamente ao ponto. Temos aqui uma cidadezinha do Alaska que fica submersa nas trevas da noite por 30 dias seguidos. O lugar isolado e indefeso logo se torna o alvo perfeito para um ninho de vampiros violentos, sádicos e insanos. O enredo assim pode até parecer simplório demais, diria até simplista, mas não se engane, se trata mesmo de um ótimo filme de terror com muito sangue e vísceras por todos os lados. Não há nada de sensual ou romântico nesses vampiros, eles são monstros ao velho estilo, e não estão nada dispostos a interagir com os seres humanos que são encarados apenas como alimento e nada mais. O visual gótico, o ótimo cenário congelado e desolador e uma fotografia muito bem realizada (graças ao talentoso Jo Willems) tornaram o filme cult com o tempo. A maquiagem e os efeitos especiais são também os ideais, bem realizados, nunca tomando o lugar da trama, se adequando muito bem às cenas. O clima de desespero e violência logo se impõe. De certa maneira esse roteiro era quase uma resposta para a romantização que vinha sendo feita em cima dos vampiros no mundo do cinema e quadrinhos. Esses aqui certamente não estão interessados em paixões humanas e nem em relacionamentos. Eles querem se banhar no sangue alheio, matando o maior número possível de humanos que encontrarem pelo caminho. O curioso de tudo é que o diretor David Slade, que havia chamado a atenção da indústria pelo ótimo suspense "Menina Má.Com", acabou sendo estigmatizado depois de dirigir em 2010 o filme "A Saga Crepúsculo: Eclipse", justamente o extremo oposto do que propunha nesse violento "30 Dias de Noite". Pois é, ninguém é perfeito.

Pablo Aluísio .

O Exorcismo de Molly Hartley

Título no Brasil: O Exorcismo de Molly Hartley
Título Original: The Exorcism of Molly Hartley
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: 20th Century Fox
Direção: Steven R. Monroe
Roteiro: Matt Venne
Elenco: Sarah Lind, Devon Sawa, Gina Holden
  
Sinopse:
O jovem padre John Barrow (Devon Sawa) acaba participando de um exorcismo de um mulher grávida que termina muito mal, com sua morte. Após o incidente ele é condenado por uma corte civil e enviado para uma instituição de internação psicológica para criminosos (uma espécie de manicômio judiciário). Destituído de suas funções sacerdotais pela Igreja ele precisa recomeçar sua vida de algum ponto. Tudo muda quando Molly Hartley (Sarah Lind) é internada na mesma instituição. Ela é acusada de um duplo homicídio acontecido em seu apartamento após uma noite de baladas e bebedeiras. Ouvindo vozes que atribui ao próprio diabo, Hartley começa a dar sinais de que está possuída por demônios. Caberá a Barrow tentar exorcizar a jovem mulher, mesmo sem autorização da Igreja para isso.

Comentários:
Inédito nos cinemas, foi lançado nos Estados Unidos no mercado de venda direta ao consumidor. Esse tipo de produção costuma ser bem mais modesta, porém como o filme foi lançado pela 20th Century Fox você pode esperar por um padrão mínimo de qualidade. Isso porém não significa que "The Exorcism of Molly Hartley" seja excepcional ou acima da média. Na verdade está até um pouco abaixo do que se vê por ai no nicho de filmes de terror. O roteiro é até interessante e desenvolve uma boa trama, porém derrapa em certos detalhes que incomodam, como por exemplo, o uso de uma espécie de "máquina religiosa" que aprisiona os espíritos malignos em forma de insetos. Basta ler isso para vermos que é uma coisa completamente boba e adolescente. As cenas de exorcismo - que deveriam ser o forte de todo o filme - também não conseguem ser bem realizadas. Há uma maquiagem excessivamente emborrachada na face da atriz que interpreta a personagem possuída Molly Hartley. Isso tira grande parte da veracidade que se esperaria de cenas como essa. Além disso a tal reviravolta na história (que não convém entregar aqui) decepciona completamente, desembocando numa ridícula cena de invocação do mal. Algo que já vimos tantas vezes antes que já saturou totalmente. O diretor Steven R. Monroe é um veterano de telefilmes, alguns até muito bons, mas aqui não traz nada de novo ou original. Ele se limita a seguir velhos clichês que não causam qualquer impacto no espectador. Dentro desse recente revival de filmes sobre exorcismo esse "The Exorcism of Molly Hartley" é certamente um dos mais fracos e derivativos. Perda de tempo apenas.

Pablo Aluísio.