sábado, 16 de março de 2013

Artistas e Modelos

Hoje é aniversário do grande Jerry Lewis (nascido em 16 de março de 1926). Quem foi garoto nas décadas de 70 e 80 certamente assistiu a muitos de seus filmes que sempre eram reprisados na Sessão da Tarde da Rede Globo (que hoje em dia perdeu muito de seu charme pois não se passam mais filmes antigos como naquela época, uma pena!). De todos os filmes estrelados pelo comediante esse “Artistas e Modelos” sempre foi um dos meus preferidos. O filme ainda hoje mantém um clima de nostalgia muito especial, além de ser extremamente divertido e engraçado. Para quem gosta do cantor Dean Martin temos aqui as melhores músicas de sua parceira ao lado de Jerry Lewis. A fita foi outra produção da dupla com Hall Wallis que na Paramount produziu praticamente todos os seus filmes (Wallis também foi produtor de várias comédias musicais com Elvis Presley no mesmo estúdio). A trama acompanha os amigos Rick Todd (Dean Martin) e Eugene Fullstack (Jerry Lewis) que sonham vencer juntos no mundo das histórias em quadrinhos em Nova Iorque na década de 50. Rick é um cartunista de mão cheia que se utiliza dos sonhos e pesadelos malucos de Eugene para criar suas estórias de sucesso.

“Artistas e Modelos” tem uma ótima direção de arte, um roteiro muito inspirado e uma direção que merece alguns comentários adicionais. O diretor do filme é o hoje reconhecido Frank Tashlin. Ele foi seguramente o melhor cineasta que trabalhou ao lado de Jerry Lewis e o humorista reconheceu isso várias vezes ao longo de sua carreira tanto que anos depois disse em entrevistas que havia aprendido a dirigir de verdade com Tashlin na Paramount. Era o seu mestre no mundo do cinema. De fato foi um bom aprendizado pois na década seguinte Jerry Lewis iria se tornar diretor de seus próprios filmes. Como Tashlin era cartunista no começo de sua carreira ele trouxe essa experiência para essa comédia muito charmosa da fase mais produtiva da dupla Martin e Lewis. Outro destaque digno de nota para os cinéfilos é a presença maravilhosa de Shirley MacLaine no filme. Ela sempre teve um timing impecável para o humor e aqui esbanja essa característica. Há uma cena dela com Jerry Lewis que até hoje me leva às gargalhadas. Shirley está no pé de uma escada cantando enquanto Jerry desce a mesma cheio de coisas na mão, artefatos de praia como bolas, uma prancha de surfe, bonecos infláveis, etc... só vendo pra crer. Essa seqüência me divertia muito na infância e ainda hoje consegue divertir do mesmo jeito mostrando a longevidade do humor de Jerry Lewis que merece todos os nossos parabéns nesse dia de hoje. Certamente um dos grandes nomes da história do humor americano. Parabéns Jerry e obrigado pelos grandes momentos divertidos que nos proporcionou por todos esses anos.

Artistas e Modelos (Artists and Models, Estados Unidos, 1955) Direção: Frank Tashlin / Roteiro: Herbert Baker, Michael Davidson / Elenco: Dean Martin, Jerry Lewis, Shirley MacLaine / Sinopse: Uma dupla de amigos tenta vencer no concorrido mundo das histórias em quadrinhos durante a década de 50 em Nova Iorque.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Além da Eternidade

Na década de 1980 nenhum cineasta obteve mais sucesso ou foi mais famoso do que Steven Spielberg. De fato aqueles foram seus mais bem sucedidos anos. Curiosamente depois de uma década de tantos filmes de fantasia e ficção o diretor resolveu fechar os anos 80 com algo completamente diferente. Seu novo projeto era um filme que saia bastante de sua zona de conforto habitual. Nada de extraterrestres e nem aventuras com arqueólogos aventureiros, aqui Steven Spielberg resolveu realmente inovar participando do primeiro remake de sua carreira! Como se isso não bastasse era ainda um filme romântico, como os da era de ouro de Hollywood. “Além da Eternidade” é na realidade uma refilmagem de “Dois no Céu”, clássico de 1943, estrelado por Spencer Tracy e dirigido por Victor Fleming. O argumento é bem espiritualista: um piloto de combate a incêndios florestais morre durante uma das missões. O problema é que ele deixa assuntos inacabados na Terra. Sua tarefa agora é voltar ao plano físico para ajudar sua antiga paixão, que ficara destruída emocionalmente após sua morte, a reencontrar o caminho da felicidade em sua vida.

Steven Spielberg fez algumas modificações em relação ao filme anterior. Em “Dois no Céu” a ação se passava durante a II Guerra Mundial e o aviador morto era um comandante militar. Aqui o diretor resolveu modificar o personagem, o colocando como um aviador de combate a incêndios florestais. O personagem entregue a Richard Dreyfuss também se tornou mais jovial e atuante, se concentrando menos no humor do filme original para dar mais espaço ao drama e ao romantismo nessa nova releitura da estória. Já a trilha sonora se concentrava bastante em sucessos do surgimento do rock americano da década de 50 e 60, com destaque para a balada maravilhosa “Smoke Gets In Your Eyes”, gravação imortal dos Platters em 1958. O resultado porém fica abaixo dos demais filmes de Spielberg. Ele parece perder o controle da pieguice em um roteiro tão romântico como esse. O que era para ser puro lirismo se perde em um filme com muitas boas intenções mas que termina apenas com resultados meramente medianos. De certa forma o elenco é quem salva por completo a produção. Basta lembrar que a grande atriz Audrey Hepburn dá o ar de sua graça nas telas pela primeira vez em muitos anos – algo que ela não fazia desde o começo da década, em 1981, com o filme “Muito Riso e Muita Alegria”. Sua personagem não é tão marcante (ela interpreta um anjo) mas quando aparece realmente rouba todas as atenções para si. Infelizmente essa seria sua última aparição no cinema. Só esse fato já justificaria a existência do filme. De qualquer modo fica o registro desse “Spielberg menor” que no final das contas foi salvo pela deslumbrante aparição final do mito Hepburn. Vale a pena ser conhecido (ou redescoberto). 

Além da Eternidade (Always, Estados Unidos, 1989) Direção: Steven Spielberg / Roteiro: Jerry Belson, baseado no filme “Dois no Céu” de 1943 / Elenco: Richard Dreyfuss, Holly Hunter, Brad Johnson, John Goodman, Audrey Hepburn / Sinopse: Pete Sandich (Richard Dreyfuss) é um piloto de combate a incêndios florestais que morre tragicamente durante uma das missões. O problema é que ele deixa assuntos inacabados na Terra. Sua tarefa agora é voltar ao plano físico para ajudar sua antiga paixão, que ficara destruída emocionalmente com sua morte, a reencontrar o caminho da felicidade em sua vida.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Francesco

A recente eleição do Papa Francisco (Jorge Mario Bergoglio) trouxe de volta aos meios de comunicação a figura histórica de Francisco de Assis (1182 – 1226), um homem de uma história de vida realmente impressionante. Nascido em uma rica família italiana Francisco (ou no original Francesco) resolveu em determinado momento de sua vida largar toda a riqueza material que tinha para viver na mais absoluta pobreza, dedicando-se a partir daí a ter uma existência puramente cristã, no mais estrito sentido da fé. De fato Francisco de Assis, que após sua morte seria canonizado, foi de certa forma um dos mais fiéis seguidores da doutrina cristã pois viveu o evangelho de forma intensa, na prática, sem qualquer tipo de apego material a absolutamente nada. Provavelmente foi o cristão que mais chegou perto da verdadeira essência da mensagem de Jesus Cristo. Vivia ajudando ao próximo, no meio de pessoas que eram destituídas de sua própria humanidade, naquele duro período medieval. Ele procurava acalentar todos os excluídos, os que eram considerados parias da comunidade. Estendia sua mão a quem não contava com a ajuda de ninguém. Um exemplo foi sua dedicação aos leprosos e doentes pobres, que eram completamente abandonados pela sociedade de uma forma em geral. Com seu exemplo de vida também mostrou os excessos da cúpula romana, ao se mostrar diante do papa da época como um homem desprovido de tudo, até mesmo de vestimentas decentes. Sua visita ao Papa Inocêncio III aliás demonstrou como poucos momentos na história a contradição entre uma corte papal luxuosa e rica e os fundamentos da mensagem cristã que entre outras coisas pregava a humildade, a caridade e o desapego aos bens materiais.

A história de Francisco de Assis já deu origem a muitos filmes mas eu destaco esse aqui chamado simplesmente de “Francesco” como um dos melhores já feitos sobre o grande homem. Sua biografia é mostrada com extrema fidelidade histórica, recriando de forma magistral os grandes momentos de Francesco em sua existência terrena. A idéia era no mínimo inusitada: colocar o ator outsider Mickey Rourke para interpretar São Francisco de Assis. O mais interessante é que tudo acabou dando muito certo. Rourke se mostra dedicado em cena, encarnando com muita sensibilidade um dos personagens mais importantes do Cristianismo, um homem rico de família influente que na Idade Média resolve largar tudo isso para se dedicar aos fundamentos mais profundos dos ensinamentos de Cristo: o amor ao próximo, a caridade, o despojamento do mundo material e a busca pela elevação espiritual. O filme também é extremamente bem realizado, todo filmado em locações na Itália onde o verdadeiro Francisco passou e pregou a palavra de Deus. Seja você católico ou não o fato é que a história desse homem realmente impressiona até hoje. Na época Mickey Rourke foi bastante elogiado pela sua sensível atuação, principalmente na cena final quando o santo finalmente recebe os sinais de consagração que tanto almejava em vida. Assim, diante do novo Papa que o homenageia nada mais conveniente do que assistir a um belo filme que mostra a vida de Francisco com raro talento. Não deixe de conhecer.

Francesco (Francesco, Estados Unidos, Itália, Alemanha, 1989) Direção: Liliana Cavani / Roteiro: Liliana Cavani / Elenco: Mickey Rourke, Helena Bonham Carter, Andréa Ferréol, Nikolaus Dutsch / Sinopse: “Francesco” narra a história real de Francisco de Assis (1182 – 1226), rico italiano que abandonou tudo o que tinha para dedicar sua vida ao evangelho de Jesus Cristo. Pregando a humildade, o amor ao próximo e o respeito à natureza e aos animais, Francisco acabou se tornando um dos mais populares cristãos da história.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Rocky II – A Revanche

O título é bem explicativo. Depois dos acontecimentos do primeiro filme o pugilista Apollo Creed (Carl Weathers) implora por uma revanche, afinal ele havia perdido sua credibilidade de campeão para o desconhecido e desacreditado Rocky Balboa (Sylvester Stallone) no final do primeiro filme. O problema é que Rocky se encontrava muito machucado após a luta anterior e resolve anunciar, para surpresa de todos, que se aposentaria dos ringues. O lutador preferia se dedicar assim ao seu relacionamento com Adrian (Talia Shire), sua namorada em “Rocky, o Lutador” e agora sua esposa. Porém as necessidades financeiras acabaram falando mais alto e surpreendendo mais uma vez Rocky finalmente se decide a voltar para enfrentar Apollo naquela que ele acreditava ser sua última luta na vida! Como se vê “Rocky II” repete de certa maneira a fórmula que havia dado tão certo no primeiro filme. Stallone ainda surge extremamente preocupado em desenvolver no seu roteiro toda uma dramaticidade em torno da vida de Rocky, algo que seria amenizado bastante no filme seguinte e que sumiria por completo em Rocky IV – o filme mais pop da franquia.

A critica de uma forma em geral ainda gostou de Rocky II. Na época não se sabia que Stallone iria levar o personagem ao limite em várias continuações sucessivas e por isso o filme foi recebido com resenhas bastante favoráveis. O New York Times, por exemplo, elogiou o esforço dos realizadores em conseguirem manter o mesmo nível do primeiro filme. O público também prestigiou lotando os cinemas e dando a Stallone mais um grande sucesso de bilheteria. Já a Academia não gostou muito. Stallone tinha esperanças de repetir o que aconteceu com “O Poderoso Chefão II” que foi vencedor em dois Oscars seguidos, levantando os principais prêmios. Já “Rocky II” foi esnobado pelos membros da Academia e não conseguiu sequer indicações importantes. Isso certamente foi um desapontamento para o ator que havia se dedicado bastante na lapidação de seu roteiro. A direção de Stallone também foi solenemente ignorada pelo Oscar. No final o que se sobressaiu mesmo foi o excepcional retorno comercial (mais de 280 milhões de dólares em ingressos vendidos) e a aclamação popular. Stallone não perdeu muito tempo e logo anunciou que novos filmes viriam em breve e ele, como todos sabemos, cumpriria realmente essa promessa nos anos seguintes.

Rocky II (Rocky II, Estados Unidos, 1979) Direção: Sylvester Stallone / Roteiro: Sylvester Stallone / Elenco: Sylvester Stallone, Talia Shire, Burt Young, Carl Weathers, Burgess Meredith, Tony Burton / Sinopse: Após lutar contra o campeão mundial Apollo Creed (Carl Weathers) no primeiro filme o pugilista Rocky Balboa (Sylvester Stallone) é desafiado para uma revanche. Com problemas de saúde ele decide abandonar os ringues mas as necessidades financeiras acabam por lhe fazer mudar de idéia.

Pablo Aluísio.

Leões e Cordeiros

Através de três estórias paralelas o espectador é convidado a refletir sobre a intervenção militar americana no Oriente Médio. Na primeira linha narrativa acompanhamos as tentativas da jornalista Janine Roth (Meryl Streep) em entrevistar o jovem senador Jasper Irving (Tom Cruise), um defensor da política externa dos Estados Unidos. Com todos os argumentos errados ele demonstra, mesmo que de forma indireta, o equivoco daquela guerra sem sentido. Na segunda linha narrativa somos apresentados ao professor universitário Stephen Malley (Robert Redford) que tenta, através de sólida argumentação, convencer seus alunos do erro do envolvimento americano naquele país. Para piorar o veterano mestre ainda tem que lidar com os medos e anseios de seu aluno Todd (Andrew Garfield) que totalmente desmotivado com a vida acadêmica pensa em ir para o exército. Por fim o espectador é levado até o front, onde dois soldados americanos, Ernest (Michael Peña) e Arian (Derek Luke), tentam sobreviver ao fogo cerrado do combate.

Após romper definitivamente com a Paramount por causa de atritos ocorridos durante “Missão Impossível 3” Tom Cruise se lançou como ator independente. Um de seus primeiros projetos nessa nova fase de sua carreira foi esse bom drama dirigido por Robert Redford. O filme segue o estilo mosaico, várias estórias paralelas são contadas para no final se revelar as conexões que as unem. No filme Tom Cruise interpreta um astuto político em Washington. Ao lado de Meryl Streep e Robert Redford o ator fica um pouco ofuscado mas consegue disponibilizar uma boa atuação. O roteiro do filme é muito bem trabalhado, apoiado quase que exclusivamente em tornos de diálogos extremamente bem escritos e inteligentes. A proposta do filme não é tanto dar respostas mas sim fazer perguntas pertinentes. Longe de soluções fáceis o filme “Leões e Cordeiros” é no fundo um estudo sobre tudo o que aconteceu depois de 11 de setembro. Todos os efeitos danosos e sem sentido que ocorreram com os Estados Unidos depois daqueles ataques. O filme foi lançado discretamente e teve mais repercussão apenas entre um público bem mais seleto, intelectualizado. De qualquer modo se você estiver em busca de uma produção que discuta o  intervencionismo militar americano nos países do Oriente Médio de forma muito inteligente e com conteúdo esse é certamente o filme mais indicado.

Leões e Cordeiros (Lions for Lambs, Estados Unidos, 2007) Direção: Robert Redford / Roteiro: Matthew Michael Carnahan / Elenco: Robert Redford, Meryl Streep, Tom Cruise, Michael Peña, Peter Berg, Derek Luke, Andrew Garfield / Sinopse: Três linhas narrativas, uma passada no front de guerra, outra nos gabinetes políticos do senado americano e a última no meio acadêmico, tentam decifrar os mecanismos que levaram os Estados Unidos para a guerra no Oriente Médio.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 12 de março de 2013

Brubaker

O sistema penitenciário é certamente um dos grandes problemas enfrentados pelos Estados nacionais ao redor do mundo. As condições degradantes em nosso país já são bem conhecidas mas nos Estados Unidos o problema sempre foi escondido da opinião pública. Um dos filmes mais interessantes sobre esse tema é justamente esse “Brubaker”, cujo enredo é baseado em fatos reais. A estória conta as agruras do prisioneiro Henry Brubaker (Robert Redford) que vai parar em uma penitenciária de segurança máxima do Arkansas. Torturas, violência e ofensa aos direitos humanos eram comuns naquela prisão, tudo feito em um ambiente sem a menor condição de abrigar prisioneiros. Para piorar dentro da prisão há um verdadeiro esquadrão da morte, especializado em matar os prisioneiros que não mais interessavam ao sistema. Diante de tantas barbaridades cometidas ao seu redor o detento Brubaker resolve então denunciar tudo o que está acontecendo, mesmo sabendo que ao fazer isso ele está colocando em risco sua própria vida dentro daquele presidio perigoso e desumano.

O roteiro de “Brubaker” foi baseado na história real de Tom Murton, um diretor de presídio do Estado do Arkansas que resolveu denunciar as péssimas condições dos presos na década de 50. Sua denúncia surtiu efeitos e ecoou em todo o sistema prisional americano, dando origem assim a melhorias e regras que até hoje são seguidas nos Estados Unidos. O filme foi inicialmente rodado pelo diretor Bob Rafelson que depois de poucas cenas gravadas teve que deixar a produção por motivos de saúde. Em seu lugar o estúdio escalou o ótimo Stuart Rosenberg, diretor de “Rebeldia Indomável”, “A Piscina Mortal” e “Horror em Amytville”. Seu toque mais realista trouxe muita qualidade ao filme em si, narrando tudo sem medo de expor as mais abertas feridas do sistema penal de seu país. No elenco, como não poderia deixar de ser, se destaca o ator Robert Redford, cujo personagem guarda uma bela surpresa para o público em seu final. Aliás essa reviravolta final – muito bem explorada pelo texto do filme – rendeu a “Brubaker” uma indicação ao Oscar de Melhor roteiro. Outro destaque no elenco vem com Morgan Freeman, fazendo um prisioneiro veterano que vai aos poucos perdendo a sanidade diante daquela realidade dura e sem esperanças. Em suma, fica a recomendação de “Brubaker”, um dos melhores filmes de prisão já feitos na história do cinema americano.

Brubaker (Brubaker, Estados Unidos, 1980) Direção: Stuart Rosemberg / Roteiro: W.D. Richter, Arthur A. Ross baseados no livro de autoria de Joe Hyams e Thomas O. Murton / Elenco: Robert Redford, Yaphet Kotto, Morgan Freeman, Murray Hamilton / Sinopse: O prisioneiro Brubaker (Robert Redford) chega para cumprir sua pena numa das piores prisões do Arkansas onde vivencia todos os tipos de barbaridades cometidas contra os demais detentos. Mesmo contra tudo e contra todos ele finalmente resolve denunciar os crimes cometidos dentro da penitenciaria.

Pablo Aluísio.

Sorte no Amor

Depois do sucesso em “Os Intocáveis” o ator Kevin Costner se tornou o astro mais quente em Hollywood. Vários papéis em filmes de destaque lhe foram oferecidos nesse período mas ele os recusou em série. Na verdade Costner queria algo menos pretensioso, um filme pequeno, menor, mas com bom roteiro. Curiosamente ele voltaria ao tema do beisebol (que iria explorar mais uma vez na carreira em “Campo dos Sonhos”). O filme “Sorte no Amor” é exatamente isso. Uma comédia romântica sem qualquer pretensão, ambientada no mundo do beisebol. Na verdade era um projeto bem pessoal do casal Susan Sarandon e Tim Robbins que começou bem pequeno mas que ganhou ares de grande produção com a entrada de Costner no projeto. O filme narra a chegada de um jogador veterano, Crash Davis (Kevin Costner), em uma pequena cidade da Carolina do Norte para integrar o modesto time local. Lá ele entra em contato com Annie (Susan Sarandon) uma grande fã do esporte que logo se sente atraída pelo novo membro da equipe. A partir daí já sabemos de antemão o que vai acontecer.

O roteiro brinca com a mitologia de um dos esportes mais queridos dos americanos, fazendo uma ponte entre o sentimento religioso do povo americano com a paixão de alguns devotam pelo beisebol. Kevin Costner está completamente à vontade no papel. Esse de fato foi seu primeiro filme nesse estilo, onde ele basicamente interpretava um personagem galã e bonitão. Com figurino estilizado o ator realmente surpreende e se dá muito bem com sua parceira em cena, Susan Sarandon, aqui investindo sem pudores em seu lado mais sensual. A fita foi extremamente barata (orçamento de meros sete milhões de dólares) e rendeu mais de 50 milhões no mercado interno, um ótimo resultado. Tudo fruto do crescente interesse do público americano pelo ator Kevin Costner. O bom resultado garantiu inclusive o lançamento da película nos cinemas brasileiros, algo raro de acontecer em filmes sobre beisebol pois o público brasileiro sempre pareceu ter aversão a produções sobre esse esporte. Mas não se preocupe sobre isso. Quem não entende nada do beisebol pode ficar tranqüilo pois ele aqui funciona apenas como pano de fundo. O tema central é realmente o relacionamento entre os personagens principais. Como romance o filme se sai muito bem e por isso deixo a recomendação. “Sorte no Amor”, uma bela produção da década de 80 com Kevin Costner no auge de sua popularidade.

Sorte no Amor (Bull Durham, Estados Unidos, 1988) Direção: Ron Shelton / Roteiro: Ron Shelton / Elenco: Kevin Costner, Susan Sarandon, Tim Robbins / Sinopse: jogador veterano chega em pequena cidadezinha da Carolina do Norte para participar da modesta equipe local de beisebol. De quebra acaba se apaixonando por uma fã do esporte.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Trocando as Bolas

Esse foi o segundo filme da carreira do comediante Eddie Murphy (ele havia estreado no cinema com o policial “48 Horas” ao lado do ator Nick Nolte). Na época Murphy era muito conhecido do público americano por causa de seu trabalho no programa de TV “Saturday Night Live”, um dos mais populares dos Estados Unidos. Já no Brasil quase ninguém o conhecia uma vez que o SNL não era exibido em nosso país. Assim Murphy pelo menos por aqui se tornou conhecido mesmo por causa de seus filmes. “Trocando as Bolas” é um dos mais curiosos filmes de toda a sua carreira. O roteiro é todo construído apenas em torno de uma pergunta: Seria o homem fruto apenas de seu meio social? Em outras palavras, seria o sucesso ou o fracasso pessoal apenas o resultado do lugar onde se teria nascido? Para testar a veracidade da tese dois milionários excêntricos (interpretados com muita elegância por Dom Ameche e Ralph Bellamy) resolvem fazer um teste com duas pessoas completamente diferentes. Um bem nascido, filho de família bem situada, formado em uma das melhores universidades do país, com bom emprego e freqüentador dos melhores círculos sociais. O outro um vagabundo de rua, criado na malandragem dos bairros da periferia, formado e educado na escola da vida.

O que aconteceria se o grã-fino perdesse absolutamente tudo e fosse jogado nas ruas e o malandro fosse agraciado com todas as oportunidades de sucesso, dinheiro e posição social? O personagem das ruas é Billy Ray Valentine (Eddie Murphy) e o esnobe da alta classe é Louis Winthorpe III (Dan Aykroyd). Da noite para o dia um perde tudo e o outro é alçado a executivo de Wall Street. Os papéis são literalmente trocados. Fazia muitos anos que tinha assistido essa comédia e nessa revisão pude perceber que embora não soe mais tão engraçado como antes ainda é um roteiro muito bem conectado, inteligente, bem escrito. De certa forma os dois milionários que trocam as bolas dos personagens principais estão na realidade testando, entre outras coisas, as bases do chamado Darwinismo social, teoria muito polêmica e controvertida que até hoje é motivo de debates no meio acadêmico. Claro que o filme não avança a fundo nesse ponto, preferindo apenas trazer diversão com uma pequena lição de moral em seu final. Mesmo assim ainda é uma diversão válida que a despeito de ter envelhecido um pouco ainda faz pensar – algo que definitivamente não se encontra mais em comédias como essa. Assim fica a dica de “Trocando as Bolas”, comédia dos anos 80 que diverte mas que consegue também intrigar ao mesmo tempo.

Trocando as Bolas (Trading Places, Estados Unidos, 1983) Direção: John Landis / Roteiro: Timothy Harris, Herschel Weingrod / Elenco: Eddie Murphy, Dan Aykroyd, Ralph Bellamy, Dom Ameche, Denholm Elliott / Sinopse: Dois milionários resolvem mudar as posições sociais de duas pessoas completamente diferentes. A um grã-fino esnobe resolvem lhe tirar o emprego, o trabalho e a posição social. A um malandro de rua resolvem lhe arranjar uma posição de executivo em Wall Street. No fundo tudo não passa de uma aposta para saber com certeza se o homem é realmente apenas fruto de seu meio social.

Pablo Aluísio.

Estrada Para Perdição

Muito provavelmente o melhor filme da carreira de Sam Mendes (embora “Beleza Americana” costumeiramente ostente esse título). “Estrada Para a Perdição” é uma homenagem ao cinema clássico, mais particularmente aos chamados filmes noir, com suas sombras e personagens fatais. O clima de nostalgia se reflete inclusive na estrutura do roteiro que foi escrito em cima das memórias de um homem adulto que relembra sua conturbada infância. A estória se passa na década de 1930 no auge da era dos gangsters. Michael Sullivam Jr (Tyler Hoechlin) relembra os poucos momentos que conviveu ao lado do pai, Michael Sullivan (Tom Hanks). Ele é homem de confiança de um irlandês poderoso e ameaçador, John Rooney (Paul Newman em atuação primorosa) que manda Sullivan realizar alguns serviços sujos para ele. O problema é que o garotinho acaba descobrindo toda a verdade desencadeando uma série de problemas envolvendo inclusive a chamada “queima de arquivo” pois ele agora se torna um alvo em potencial uma vez que testemunhas de crimes não vivem de acordo com a lei imposta pelo chefão Rooney. Para liquidar o jovem é enviado então Connor (Daniel Graig) mas tudo acaba saindo muito errado.

No fundo o roteiro lida com aquela situação tão comum no mundo do crime, conhecida popularmente como “acerto de contas”. Em um ambiente tão brutal poucos acabam sobrevivendo às regras impostas pelo crime organizado. Além da direção excepcional de Sam Mendes o filme “Estrada da Perdição” se destaca ainda por dois aspectos que logo chamam a atenção. O primeiro é o elenco simplesmente primoroso. Tom Hanks e Paul Newman brilham intensamente. Hanks consegue captar todo o conflito psicológico de seu personagem pois de uma hora para outra ele se vê entre a lealdade ao seu chefe e a proteção ao seu próprio filho. Já Paul Newman, o mito, se despede do cinema com uma obra digna de seu talento. Seu papel é intenso, sem concessões e o ator, mesmo com a idade já bem avançada, esbanja sofisticação e elegância, mesmo em um personagem tão brutal e violento. Coisa que só grandes mestres conseguem. O elenco principal é completado ainda por Daniel Graig (antes de virar Bond) e Jude Law (perfeito como um matador da máfia com ares de psicopata cruel). A segunda grande característica que salta aos olhos aqui é a linda direção de arte que recria o clima da década de 1930 com extremo bom gosto. Tudo é perfeitamente recriado nos mínimos detalhes, carros, utensílios, armas, moveis, figurinos, um primor transformando “Estrada Para Perdição” em um filme bonito de se assistir, realmente belo e bem fotografado. Em suma, uma obra prima moderna com o sabor dos antigos filmes de gangster. Quem precisa de mais alguma coisa? Simplesmente imperdível.

Estrada Para Perdição (Road to Perdition, Estados Unidos, 2002) Direção: Sam Mendes / Roteiro: David Self baseado na graphic novel de Max Allan Collins e Richard Piers Rayner / Elenco: Tom Hanks, Paul Newman, Jude Law, Daniel Craig, Jennifer Jason Leigh, Tyler Hoechlin, Rob Maxey / Sinopse: Garoto, filho de um assassino da máfia, se vê em perigo de vida após presenciar um crime dentro da organização da qual seu pai faz parte.

Pablo Aluísio.

domingo, 10 de março de 2013

Detona Ralph

Até agora nenhuma união entre o cinema e o mundo dos games havia dado muito certo. Até mesmo os mais famosos videogames deram origem a filmes simplesmente horrorosos. A boa notícia é que embora não seja propriamente uma adaptação de nenhum game, essa animação “Detona Ralph” conseguiu unir os dois universos de forma excepcionalmente bem. Na trama conhecemos o personagem Ralph (voz no original do ator John C Reilly) que há 30 anos participa de um game onde ele faz o vilão do enredo (um sujeito durão que destrói tudo por onde passa). Cansado de fazer sempre o papel de vilão ele decide mudar sua vida, ganhando reconhecimento. E em sua opinião isso virá a partir do dia em que ele ganhar uma medalha de herói tal como Felix, o sujeito bonzinho de seu jogo. Assim Ralph resolve invadir um outro game em busca da tal medalha. O problema é que o lugar é infestado de insetos (tal como vemos em “Tropas Estelares”) e na ânsia de conseguir seu objetivo ele acaba criando uma grande confusão não apenas nesse jogo mas em outros também, inclusive no infantil chamado Sugar Rush, onde conhece uma garotinha que parece ser apenas um “bug” do programa!

O roteiro de “Detona Ralph” é muito bem escrito e divertido. Além disso suas inúmeras referencias ao mundo dos jogos irão agradar desde as crianças até os mais velhos (quarentões que jogavam por exemplo o clássico Pac Man em sua infância). O filme tem um grande mérito de não cair na armadilha de tentar imitar um jogo em seu enredo (algo que aconteceu por exemplo em filmes como Mortal  Kombat, Speed Racer, etc). Ao contrário disso o que vemos é uma estória muito bem contada, original e com ótimas cenas animadas. O mundo de Sugar Rush, por exemplo, é muito bem idealizado e atraente, um cenário de algodão doce que certamente vai agradar em cheio as crianças pequenas pois as personagens são ao estilo fofinhas, como a rebelde Vanellope von Schweetz, que só quer ter a chance de correr e se tornar uma vencedora em seu próprio jogo. Seu design é claramente inspirado em Boo, a menininha de “Monstros S.A” o que não é complicado de explicar uma vez que ambas as animações são do mesmo estúdio Disney. Esse é o primeiro grande filme no cinema do diretor Rich Moore que trabalhou anos nas séries televisivas “Os Simpsons” e “Futurama”. Seu trabalho se revela excepcional para alguém que está entrando em outro meio como ele. Mostrou talento e segurança na condução da animação. Desse modo fica a recomendação: “Detona Ralph”, uma animação acima da média que consegue divertir unindo esses dois universos (cinema e games) que até o momento nunca tinham se dado muito bem nas telas. 

Detona Ralph (Wreck-It Ralph, Estados Unidos, 2012) Direção: Rich Moore / Roteiro: Jennifer Lee, Phil Johnston /  Elenco: John C. Reilly, Jane Lynch, Sarah Silverman, Stefanie Scott, Jack McBrayer, Jamie Elman, Gerald C. Rivers, Brandon T. Jackson, Jack Angel, George Kotsiopoulos / Sinopse: Vilão de um jogo decide ganhar reconhecimento. Assim ele resolve invadir um outro game para tentar ganhar uma medalha de herói, algo que irá dar origem a várias confusões.

Pablo Aluísio.