quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
O Solista
Como se vê tudo parece se encaixar em “O Solista” – trama edificante, assunto importante e temática mais do que humana. Infelizmente o filme não consegue decolar. Não há dúvidas que o cineasta Joe Wright é talentoso. O problema é que particularmente nessa produção ele surge com a mão pesada demais. O filme não tem sutileza e nem ameniza o tema para o público em geral. O excesso de crueza e melancolia acaba tornando a obra cinematográfica um exercício muito enfadonho e complicado de acompanhar. A música que poderia ser a salvação da película surge muito tímida e em segundo plano. Além disso o excesso de exploração em torno da doença mental do protagonista deixa aquela sensação ruim de que estão forçando a barra para sensibilizar os membros da Academia para quem sabe depois concorrer a algum Oscar. Não é por aí. Temas difíceis como esse exigem uma certa sensibilidade e sutileza que certamente faltam em “O Solista”. Foxx até está bem mas não empolga e nem consegue transformar seu personagem em alguém carismático que cative o espectador. Robert Downey Jr também não ajuda muito, repetindo à exaustão todos os seus maneirismos que já conhecemos tão bem. No saldo final “O Solista” promete mais do que cumpre. A sensação de desapontamento no final da sessão resume bem o resultado final do filme.
O Solista (The Soloist, Estados Unidos, 2008) Direção: Joe Wright / Roteiro: Susannah Grant / Elenco: Jamie Foxx, Robert Downey Jr., Catherine Keener, Rachael Harris / Sinopse: Após estudar por dois anos na prestigiada escola de música Juilliard em Nova Iorque um músico negro começa a desenvolver sintomas de esquizofrenia. Diagnosticada e abandonado à própria sorte ele tenta sobreviver da melhor forma possível pelas ruas de Los Angeles até sua história ser resgatada por um famoso jornalista de um dos grandes jornais dos EUA, o Los Angeles Times.
Pablo Aluísio.
Lilo & Stitch
Outro fator que diferencia “Lilo & Stitch” das demais animações é a sua trilha sonora, formada basicamente por músicas de Elvis Presley. Como a estorinha se passa no Havaí a Disney pensou ser uma boa idéia rechear a trilha com canções do cantor americano. Após uma negociação pelos direitos autorais com a EPE, que controla o catalogo de Elvis, as músicas do Rei do Rock foram finalmente adicionadas à animação. A fusão deu muito certo, até porque a maioria das faixas foram pinceladas da fase mais pop de Elvis na década de 1960. Essas canções são ótimas e mantém a jovialidade, mesmo após tantos anos de seu lançamento original. Presley é aquele tipo de artista atemporal, sua voz suave e melódica desse período faz a diferença, cativando bastante a garotada. Assim ganharam todos, a Disney pela possibilidade de trazer uma ótima seleção musical para sua animação, a EPE pela chance de divulgar a obra de Elvis Presley entre as crianças e a BMG que colecionou ótimos números com as vendas da trilha sonora no mercado. Um belo desfecho para essa animação muito simpática e carismática que vale a pena ser assistida.
Lilo & Stitch (Lilo and Stitch, Estados Unidos, 2002) Direção: Chris Sanders, Dean DeBlois / Roteiro: Chris Sanders / Elenco (vozes): Daveigh Chase, Jason Scott Lee, Tia Carrere, Ving Rhames, Chris Sanders, David Ogden Stiers./ Sinopse: Ao som de Elvis Presley a garotinha Lilo e o ET Stitch vivem grandes aventuras e confusões no paradisíaco Havaí.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Os Infratores
O roteiro não esconde o fato de simpatizar completamente com esses personagens criminosos. Eles são tratados com grande simpatia e mesmo quando cometem crimes (como assassinatos e mutilações) são justificados como meros justiceiros. Na verdade não existem pessoas de bem no enredo pois todos são bandidos, até mesmo os policiais, vistos apenas como corruptos e sujos. Por falar em homens da lei a melhor coisa do elenco é a atuação de Guy Pearce como um agente almofadinha que comete as maiores barbaridades sem amassar o paletó da moda! O elenco é muito bom analisando os nomes que fazem parte dele mas são praticamente todos mal aproveitados. O ótimo Gary Oldman, por exemplo, interpreta um gangster famoso mas suas cenas são poucas e esporádicas. Em suma, “Os Infratores” não é um grande filme de gangsters e para falar a verdade não chega nem perto dos grandes clássicos do gênero mas pode ser encarado como um mero entretenimento. Sua maior falha talvez seja o tom ameno e de leve farsa, suavizando a figura dos criminosos, mas isso acaba sendo de menor importância. Fora isso pode ser assistido sem maiores pretensões.
Os Infratores (Lawless, Estados Unidos, 2012) Direção: John Hillcoat / Roteiro: Nick Cave / Elenco: Tom Hardy, Guy Pearce, Gary Oldman, ShiaLaBeouf, Jessica Chastain, Mia Wasikowska, Dane DeHaan, Noah Taylor, Jason Clarke, / Sinopse: Três irmãos começam a vender bebidas ilegais durante a década de 1930 na vigência da lei seca. Pressionados a pagarem propina para as autoridades, para assim continuarem suas atividades ilegais se rebelam e enfrentam a ira dos “homens da lei”, entre eles um procurador sujo e um agente especial corrupto.
Pablo Aluísio.
Até o Limite da Honra
O roteiro e o argumento são auto afirmativos, combatem um preconceito que ainda existia dentro das forças armadas americanas. De fato o que estamos presenciando é a quebra de mais um tabu social, fundado em puro preconceito. O exemplo veio do mercado de trabalho da iniciativa privada onde homens e mulheres já gozam, de forma em geral, de uma situação de igualdade. Faltava instalar essa isonomia dentro dos quartéis e o filme em seu enredo reforça essa situação. Na estória acompanhamos os esforços de uma senadora, Lillian DeHaven (Anne Bancroft), para que a Marinha americana aceite pela primeira vez uma mulher dentro de seu grupo de elite. Obviamente que se trata de uma luta contra o preconceito de índole sexual pois era necessário provar aos oficiais que uma mulher conseguiria passar e ser bem sucedida até mesmo nos mais fortes e puxados treinamentos. A escolhida para enfrentar esse desafio acaba sendo a oficial L.T. O´Neil (Demi Moore). Exposta a grandes desafios, que incluem tortura física e mental, ela se mostra focada em levar suas próprias capacidades físicas ao extremo, A própria atriz Demi Moore teve que passar por um rígido treinamento físico para encarar o papel. Além disso abriu mão de sua vaidade feminina ao aparecer em cena careca e musculosa. O resultado final se justifica pelas boas intenções do roteiro e por algumas boas cenas de treinamento e combate, muito embora nunca consiga de fato perder aquele tom ufanista que tanto prejudica os filmes de guerra em Hollywood. O que fica de bom é sua mensagem, a de que homens e mulheres devem ser tratados de forma igualitária, sem discriminações.
Até o Limite da Honra (G.I. Jane, Estados Unidos, 1997) Direção: Ridley Scott / Roteiro: David N. Twohy, Danielle Alexandra / Elenco: Demi Moore, Viggo Mortensen, Anne Bancroft, Jason Beghe, Daniel von Bargen, John Michael Higgins / Sinopse: Militar americana se propõe a participar do rígido sistema de treinamento das forças especiais da Marinha para provar aos seus superiores que uma mulher pode perfeitamente ser aprovada e fazer parte da tropa de elite dessa força.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
Assédio Sexual
O roteiro foi baseado em mais um best seller de Michael Crichton. É curioso pois ele deu um tempo em seus dinossauros e temas de ficção para adentrar em um tema pé no chão, de conteúdo jurídico. Sua visão sobre o tema é um tanto quanto sensacionalista. Mesmo derrapando na questão legal e jurisprudencial conseguiu ao menos criar um bom entretenimento cujos efeitos logo se fizeram sentir também pois o tema voltou ao centro das conversas e debates, popularizando e conscientizando as pessoas em geral sobre o tema em estudo. Muitos até ficaram repletos de dúvidas sobre seu próprio comportamento dentro do ambiente de trabalho até porque qual seria a linha definitiva que marcaria a separação entre a paquera de boa fé e o assédio sexual? Obviamente esse é um tema que envolve várias vertentes mas o roteiro do filme é até bem didático sobre isso ao mostrar que o assédio começa quando a superioridade hierárquica dentro da empresa começa a funcionar como fator de pressão e constrangimento para que se concretize o enlace sexual. Tirando o assunto da esfera puramente jurídica e voltando ao filme não deixa de ser irônico o fato dessa produção ser estrelada por Michael Douglas. Conforme o ator mesmo esclareceu em diversas entrevistas ele foi por muito tempo viciado em sexo, o que tornaria a situação do filme completamente surreal caso fosse transposta para sua vida pessoal. Inclusive não faltaram fofocas que afirmavam que Douglas e Moore foram muito além do profissional durante as filmagens. Bem, isso não importa muito. De qualquer modo fica a dica desse “Assédio Sexual”, um thriller com ares de manual de direito privado. Só não tente imitar os personagens em sua vida pessoal, pois pode ser bem perigoso.
Assédio Sexual (Disclosure, Estados Unidos, 1994) Direção: Barry Levinson / Roteiro: Paul Attanasio baseado no livro de Michael Crichton / Elenco: Michael Douglas, Demi Moore, Donald Sutherland, Roma Maffia / Sinopse: Executiva poderosa começa a assediar seu subordinado dentro da empresa em que trabalha, prejudicando assim sua vida profissional e pessoal.
Pablo Aluísio.
Desventuras em Série
No final das contas o que se salva nesse “Desventuras em Série” é a já citada produção classe A e as presenças de carismáticos atores juvenis que dão muito bem conta do recado. Violet (Emily Browning), Klaus (Liam Aiken) e Sunny (Kara/ Shelby Hoffman) Baudelaire chamam atenção pelo talento precoce. Não é para menos, tanto nos EUA como na Inglaterra há uma longa tradição de ensino de teatro e arte dramática nas escolas (algo inexistente em nosso país) que acaba formando toda uma nova geração de bem desenvolvidos atores mirins. É incrível como conseguem atuar sem receios ao lado de gente como Meryl Streep (aqui fazendo uma pequena participação como a tia Josephine, uma mulher que tem medo de tudo e nutre uma verdadeira obsessão pela gramática falada e escrita corretamente). Já Jim Carrey segue seu estilo. O ator já está acostumado a trabalhar usando forte maquiagem e não se intimida com sua transformação física exigida pelo papel. No making off podemos inclusive ver como era penosa a construção dos vários tipos que o Conde Olaf se utiliza ao longo do filme. Em alguns casos Carrey ficava por até três horas no processo de maquiagem – algo realmente incômodo e complicado. Em suma, “Desventuras em Série” provavelmente irá agradar a garotada, mesmo sendo incompleto como é. Se pelo menos despertar a curiosidade dos mais jovens em relação aos demais livros da série, despertando assim o gosto pela leitura, já terá valido a pena.
Desventuras em Série (Lemony Snicket's A Series Of Unfortunate Events, Estados Unidos, 2004) Direção: Brad Silberling / Roteiro: Robert Gordon, Daniel Handler / Elenco: Jim Carrey, Meryl Streep, Jude Law, Emily Browning, Liam Aiken, Kara Hoffman. / Sinopse: Três órfãos que acabam indo parar nas mãos de um tio ranzinza e inescrupuloso. Acontece que as crianças são herdeiras de uma grande fortuna deixada por seus pais, o que obviamente desperta a cobiça do tio ganancioso, o Conde Olaf (Jim Carrey) que deseja se apoderar do dinheiro.
Pablo Aluísio.
Precisamos Falar Sobre o Kevin
Título no Brasil: Precisamos Falar Sobre o Kevin
Título Original: We Need to Talk About Kevin
Ano de Produção: 2011
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: BBC Films, UK Film Council
Direção: Lynne Ramsay
Roteiro: Lynne Ramsay
Elenco: Tilda Swinton, John C. Reilly, Ezra Miller
Sinopse:
Eva Khatchadourian (Tilda Swinton) tenta reconstruir sua vida familiar que inclui um herdeiro que nunca quis ter. O garoto, além de ser uma das razões do desgaste do relacionamento entre ela e o marido, se transforma em um homicida ao elaborar e executar um massacre na escola onde estuda. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Tilda Swinton). Também indicado ao BAFTA Awards.
Comentários:
"Precisamos Falar Sobre o Kevin" é um dos melhores filmes de 2011. Com roteiro extremamente bem escrito o filme levanta muitas questões relevantes sobre o papel familiar nas tragédias ocorridas com jovens assassinos (como vimos acontecer na vida real em Columbine e outros centros educacionais nos EUA e até no Brasil). Até que ponto o núcleo familiar em que foram criados esses criminosos influenciaram na formação delitiva desses indivíduos? Será que familiares devem ser responsabilizados de alguma forma por esses acontecimentos? Outro ponto central é o debate sobre a educação que é dada hoje em dia em jovens e adolescentes. Será que tratar o filho como um "amigão", sem impor freios ou limites é realmente uma boa ideia?
Por fim, embora muita gente não tenha se apercebido disso, "Precisamos Falar Sobre Kevin" retrata muito bem a meu ver o chamado "amor incondicional de mãe". Curioso como Kevin desde cedo apresenta uma personalidade estranha e sinistra mas mesmo assim sua mãe jamais o abandona. Tenta ter com ele um laço de afeto e carinho, apesar de como sabemos isso é quase impossível em personalidades psicopatas. O elenco é liderado por Tilda Swinton no papel da mãe de Kevin. Seu trabalho é um dos mais ricos e meticulosos que vi recentemente. Sua incapacidade de criar um elo com Kevin, seu estado físico e mental, seu grito interior e desespero são marcantes. John C. Reilly também está muito bem, embora seu papel seja de segunda importância e ele não tenha grande espaço em cena. Dos atores que interpretam Kevin (pois ele é mostrado em várias fases de sua vida desde a infância até a adolescência) o único que não gostei foi do pequeno Kevin. O ator mirim tem cara de capetinha mas mesmo assim não convence muito. Em suma, poderia passar horas aqui falando sobre tudo o que foi enfocado pelo filme, seja de forma direta ou indireta mas isso seria mera perda de tempo. O importante é recomendar para que cada um tire suas próprias conclusões.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Perigo em Bangkok
“Perigo em Bangkok” não traz novidades para a combalida carreira de Nicolas Cage. O roteiro é clichê até dizer chega e a atuação do ator é completamente no controle remoto. Um tanto sorumbático, atuando preguiçosamente, Cage mais parece um burocrata do cinema que tem que encarar projetos como esse para colocar sua vida financeira e fiscal em dia do que alguém que realmente ama o que faz. A tentativa de realizar um remake americano de um filme tailandês também não se revela uma boa idéia. O original é uma fita sem qualquer atrativo além das intermináveis lutas de artes marciais, uma atrás da outra. Roteiro praticamente inexistente, foi feito para as massas iletradas do oriente próximo. Tentar trazer alguma substância e conteúdo para algo assim é perda de tempo. Cage fixa o olhar no horizonte, faz cara de deprimido, tenta de forma bem negligente trazer alguma personalidade ao seu papel mas tudo isso é em vão. As cenas de ação são sonolentas e não empolgam. Enfim, “Perigo em Bangkok” simplesmente não funciona se tornando mais um projeto obtuso nessa péssima fase que o ator vem enfrentando.
Perigo em Bangkok (Bangkok Dangerous, Estados Unidos, 2008) Direção: Oxide Pang Chun, Danny Pang / Roteiro: Jason Richman / Elenco: Nicolas Cage, James With, Charlie Yeung, Shahkrit Yamnarm, Panward Hemmanee, Philip Waley. / Sinopse: Joe (Nicolas Cage) é um assassino profissional que paga caro por seu estilo de vida. Solitário e vivendo de forma obscura ele acaba abrindo mão de seus dogmas profissionais ao contratar os serviços de Kong (Shahkrit Yamnarm), um larápio de rua. Para piorar ainda mais sua situação se apaixona por uma nativa, o que acaba transformando sua vida em um completo caos.
Pablo Aluísio.
O Vingador do Futuro
O filme foi dirigido pelo ótimo cineasta Paul Verhoeven bem no auge criativo de sua carreira. "O Vingador do Futuro" foi muito badalado em seu lançamento porque trazia efeitos especiais inovadores que utilizavam a ainda nova tecnologia dos efeitos digitais que anos depois virariam lugar comum nas produções do gênero. Como não poderia deixar de ser a película também procurava tirar bastante proveito da presença de Arnold Schwarzenegger, na época um campeão de bilheteria absoluto que conseguia atrair um grande público para seus filmes. Por essa razão o roteiro usa e abusa de espetaculares cenas de ação e lutas - algo que sequer foi pensando pelo autor Philip K. Dick em seus escritos originais. Outro destaque é a presença de linda Sharon Stone. Amargando alguns filmes fraquinhos no currículo no começo de sua carreira ela aqui tinha a primeira grande chance de chamar mais a atenção do grande público. Dois anos depois seria alçada a mito sexual do cinema com o grande sucesso de "Instinto Selvagem", naquele que seria o papel definitivo de sua vida. Em suma é isso. "O Vingador do Futuro" é uma excelente ficção que mistura ação, aventura e fantasia na medida certa. Recentemente houve um mal sucedido remake estrelado por Colin Farrell, o que prova mais uma vez que certas obras já encontraram sua versão definitiva no mundo do cinema. Tentar refazer algo assim é simplesmente desnecessário.
O Vingador do Futuro (Total Recall, Estados Unidos, 1990) Direção: Paul Verhoeven / Roteiro: Dan O'Bannon, Ronald Shusett e Gary Goldman baseados na obra de Philip K. Dick / Elenco: Arnold Schwarzenegger, Sharon Stone, Rachel Ticotin, Ronny Cox / Sinopse: Operário resolve fazer uma viagem virtual em sua mente usando de um programa que simula férias para seu usuário. Devido a uma pane no sistema ele acaba se vendo envolvido numa complicada teia de conspirações sobre o planeta vermelho, Marte. Vencedor do prêmio Saturn na categoria melhor filme de ficção científica do ano.
Pablo Aluísio.
domingo, 3 de fevereiro de 2013
Cada Um Vive Como Quer
“Cada Um Vive Como Quer” é um ótimo momento da filmografia do ator Jack Nicholson. O considero um dos três maiores atores vivos ao lado de Al Pacino e Robert De Niro. Aqui Jack está brilhante como um homem que larga tudo para viver da forma que bem entende, mesmo que para isso subestime seu talento e sua virtuosidade no piano clássico. Podendo lutar por um lugar em qualquer orquestra do país ele resolve trilhar outro caminho, exercendo profissões que geralmente são ocupadas por trabalhadores sem educação ou qualificação profissional. Vira um homem comum, vivendo uma vida comum. Seu retorno a casa de seu pai é o grande catarse do roteiro pois lá ele reencontra todos os familiares e amigos que fizeram parte de sua vida, professores de música, intelectuais e escritores, um ambiente completamente diferente do que vive no momento, pois seu círculo de amigos é formado basicamente por membros iletrados do operariado. Até sua nova namorada, uma garçonete histriônica, não parece se encaixar em nada no ambiente culto em que cresceu. Desse choque de realidades nasce o conflito interno do personagem. Jack demonstra isso de forma brilhante em sua caracterização. Sempre beirando a depressão, indeciso sobre suas próprias escolhas na vida, ele hesita bastante antes de seguir em frente. A cena final é sintomática nesse aspecto quando Bob simplesmente resolve dar mais uma guinada nos rumos de sua vida. A indicação ao Oscar de Melhor Ator para Jack Nicholson foi mais do que merecida (ele perderia o prêmio para George C. Scott nesse ano). O estilo e o desenvolvimento do enredo pode ser até mesmo considerado cru, se comparado com o cinema atual, mas isso em nenhum momento desmerece ou diminui o ótimo roteiro que Bob Rafelson soube tão bem lapidar. Outro destaque é a ótima trilha sonora com muito country e música clássica (uma mistura bem incomum). Enfim, ótimo drama sobre o cotidiano ordinário e as lutas internas travadas por um homem comum que busca um rumo definitivo em sua vida.
Cada Um Vive Como Quer (Five Easy Pieces, Estados Unidos, 1970) Direção: Bob Rafelson / Roteiro: Bob Rafelson, Carole Eastman, Carole Eastman / Elenco: Jack Nicholson, Karen Black, Billy Green Bush / Sinopse: Bob é um operário da indústria petrolífera que esconde em seu passado uma realidade que em nada lembra sua atual situação econômica e social. Indicado aos Oscars de Melhor Filme, Melhor Ator (Jack Nicholson), Melhor Atriz Coadjuvante (Karen Black) e Melhor Roteiro Original.
Pablo Aluísio.