domingo, 3 de fevereiro de 2013
Cada Um Vive Como Quer
“Cada Um Vive Como Quer” é um ótimo momento da filmografia do ator Jack Nicholson. O considero um dos três maiores atores vivos ao lado de Al Pacino e Robert De Niro. Aqui Jack está brilhante como um homem que larga tudo para viver da forma que bem entende, mesmo que para isso subestime seu talento e sua virtuosidade no piano clássico. Podendo lutar por um lugar em qualquer orquestra do país ele resolve trilhar outro caminho, exercendo profissões que geralmente são ocupadas por trabalhadores sem educação ou qualificação profissional. Vira um homem comum, vivendo uma vida comum. Seu retorno a casa de seu pai é o grande catarse do roteiro pois lá ele reencontra todos os familiares e amigos que fizeram parte de sua vida, professores de música, intelectuais e escritores, um ambiente completamente diferente do que vive no momento, pois seu círculo de amigos é formado basicamente por membros iletrados do operariado. Até sua nova namorada, uma garçonete histriônica, não parece se encaixar em nada no ambiente culto em que cresceu. Desse choque de realidades nasce o conflito interno do personagem. Jack demonstra isso de forma brilhante em sua caracterização. Sempre beirando a depressão, indeciso sobre suas próprias escolhas na vida, ele hesita bastante antes de seguir em frente. A cena final é sintomática nesse aspecto quando Bob simplesmente resolve dar mais uma guinada nos rumos de sua vida. A indicação ao Oscar de Melhor Ator para Jack Nicholson foi mais do que merecida (ele perderia o prêmio para George C. Scott nesse ano). O estilo e o desenvolvimento do enredo pode ser até mesmo considerado cru, se comparado com o cinema atual, mas isso em nenhum momento desmerece ou diminui o ótimo roteiro que Bob Rafelson soube tão bem lapidar. Outro destaque é a ótima trilha sonora com muito country e música clássica (uma mistura bem incomum). Enfim, ótimo drama sobre o cotidiano ordinário e as lutas internas travadas por um homem comum que busca um rumo definitivo em sua vida.
Cada Um Vive Como Quer (Five Easy Pieces, Estados Unidos, 1970) Direção: Bob Rafelson / Roteiro: Bob Rafelson, Carole Eastman, Carole Eastman / Elenco: Jack Nicholson, Karen Black, Billy Green Bush / Sinopse: Bob é um operário da indústria petrolífera que esconde em seu passado uma realidade que em nada lembra sua atual situação econômica e social. Indicado aos Oscars de Melhor Filme, Melhor Ator (Jack Nicholson), Melhor Atriz Coadjuvante (Karen Black) e Melhor Roteiro Original.
Pablo Aluísio.
O Último Samurai
Mais uma produção com ares de épico da carreira de Tom Cruise. Aqui ele vai até o Japão para combater a arte milenar dos samurais (famosos guerreiros nipônicos) mas acaba sendo seduzido por seu estilo de vida. É o velho choque de culturas entre o oriente e o ocidente, que tão bem já foi explorado pelo cinema em inúmeras produções. A produção é de primeira linha, com ótima fotografia e direção de arte. Tudo foi recriado com muito cuidado e capricho, sempre procurando ser o mais historicamente correto possível. Essa reconstituição histórica minuciosa é certamente uma das melhores coisas de “O Último Samurai”. Não é para menos, o projeto foi inteiramente desenvolvido para o astro Tom Cruise novamente brilhar nas bilheterias. O ator há muito é considerado um dos mais populares no Japão e o filme de certa forma aproveitou disso para faturar em cima de sua popularidade. O resultado comercial foi mais do que bem sucedido com 450 milhões de dólares de faturamento. O filme só não foi considerado um êxito completo porque Cruise e os realizadores tinham pretensões de tornar “O Último Samurai” um campeão também na Academia. Investindo pesado em marketing o estúdio tinha esperanças de que a produção conseguisse várias indicações e Oscars, até mesmo nas principais categorias, mas no final das contas não obteve sucesso nesse aspecto. A Academia sempre teve certo preconceito contra filmes que apelassem demais para a ação. Esse foi o pecado do roteiro, se focou demais nas cenas de combate, não desenvolvendo mais o lado dramático do argumento. Nesse processo acabou sendo esnobado nas premiações. No final das contas “The Last Samurai” só se tornou mesmo um sucesso comercial. De qualquer modo é um filme muito bom que merece ser redescoberto pelas jovens platéias.
O Último Samurai (The Last Samurai, Estados Unidos, 2003) Direção: Edward Zwick / Roteiro: Marshall Herskovitz, John Logan, Edward Zwick / Elenco: Tom Cruise, Ken Watanabe, Billy Connolly, Tony Goldwyn, Masao Harada./ Sinopse: Nathan Algren (Tom Cruise) é um capitão veterano da guerra civil americana vai até o Japão para combater a arte milenar dos samurais (famosos guerreiros nipônicos) mas acaba sendo seduzido por seu estilo e filosofia de vida.
Pablo Aluísio.
Aventureiros de Fogo
Título no Brasil: Os Aventureiros de Fogo
Título Original: FireWalker
Ano de Produção: 1986
País: Estados Unidos
Estúdio: Cannon Group
Direção: J. Lee Thompson
Roteiro: Robert Gosnell, Jeffrey M. Rosenbaum
Elenco: Chuck Norris, Louis Gossett Jr, Melody Anderson
Sinopse:
Dois aventureiros resolvem partir em busca de tesouros das antigas civilizações Astecas, Maias e egípcias, na América Central e em outras regiões inóspitas e perdidas do mundo. Na busca pelo ouro encontrarão muitas aventuras em locais exóticos e perigosos. Um filme de Chuck Norris em uma aventura ao estilo Indiana Jones.
Comentários:
Em 1986 a produtora Cannon Group resolveu escalar seu astro Chuck Norris para estrelar o filme "FireWalker", uma produção que procurava seguir os passos de Indiana Jones. Ao seu lado foi contratado o ator e ídolo black Louis Gossett Jr que tinha se destacado na aventura B “Águia de Aço”, um genérico do grande sucesso “Top Gun – Ases Indomáveis”. A produção seria realizada no México por causa das locações exóticas que o país poderia disponibilizar para a fotografia do filme e os baixos custos de se filmar por lá. Era um filme bem diferente para Chuck Norris. O ator que vinha de vários sucessos em filmes de ação que seguiam o estilo mais cru, tinha agora que bancar o aventureiro cheio de piadinhas do script. Definitivamente não era bem a praia dele. A Cannon apostava em um grande sucesso tanto que investiu mais do que costumava investir em efeitos especiais e pirotecnia. O diretor contratado era J. Lee Thompson, o mesmo que havia dirigido “As Minas do Rei Salomão” outro genérico de Indiana Jones pela mesma Cannon. Já deu para perceber logo de cara que originalidade realmente não era o forte desse “Aventureiros de Fogo”. Apesar dos esforços do estúdio o filme não conseguiu se dar bem nas bilheterias. Os fãs de Norris gostavam de vê-lo em filmes mais simples, de pura pancadaria, não uma produção que procurava seguir os passos dos famosos filmes de Spielberg. Ele tinha seu próprio estilo e imitar os outros soava como uma péssima ideia. O roteiro também não era nada bom, muito mal escrito e sem boas cenas de ação (um pecado para o fã clube de Chuck Norris).
Assim o filme simplesmente não pegou, não deu certo. A crítica por sua vez detestou (mais do que o normal em se tratando de filmes de Norris). “Imbecil”, “Péssimo” e “estúpido” foram adjetivos usados para qualificar o filme. O próprio Chuck Norris ficou chateado com o resultado. Para falar a verdade ele nunca havia comprado inteiramente a ideia. Como resultado da má repercussão do filme ele resolveu dar um tempo e ficou dois anos longe das telas de cinema, só retornando com “Braddock 3” que logo também se tornou um fracasso de público e crítica. De qualquer modo “Aventureiros de Fogo” marcou o fim da melhor fase do ator nas telas de cinema. A década de 1980 foi onde ele realizou seus maiores sucessos comerciais. Filmes simples, sem muitos recursos, com orçamentos bem modestos, mas que conseguiam trazer bom retorno de bilheteria. O erro do estúdio foi tentar transformá-lo em um novo Harrison Ford, coisa que ele definitivamente não era. Depois disso Norris rompeu com a Cannon e tentou bancar seus próprios filmes, algo que não deu muito certo. A salvação só viria mesmo na TV quando finalmente reencontraria o sucesso na pele de um Texas Ranger durão. No final fica a lição, não se pode transformar um ator em outro, por mais sedutora que seja essa ideia.
Pablo Aluísio.
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Guerreiros de Fogo
Revisto hoje em dia “Guerreiros de Fogo” soa bem datado. Não é surpresa. O filme teve um orçamento bem mais modesto do que Conan, por exemplo, e tinha um roteiro frouxo, sem foco. Arnold Schwarzenegger apenas passeia de lá pra cá, solta algumas porradas e não parece estar muito interessado. Pior se sai Brigitte Nielsen que provava com o filme que não tinha carisma suficiente para virar uma estrela. De fato era uma mulher impressionante, alta, bonita, com belo físico, mas como atriz era realmente uma nulidade. Sua carreira no cinema sofreria um golpe mortal quando resolveu trair Stallone com a secretária. Na época não se sabia que ela tinha tendências bissexuais mas o fato é que a mãe de Stallone, ao visitar a mansão do filho de surpresa, a pegou no flagra transando com a secretária particular do ator. A reação de Sly foi o pedido imediato do divórcio e a demissão de sua empregada (óbvio). A partir daí Brigitte cairia em um grande ostracismo. A dinamarquesa que teve seu primeiro papel aqui logo afundou, estrelando uma coleção incrível de filmes sem expressão, medíocres. No saldo final “Guerreiros de Fogo” deve ser assistido pelos fãs de Arnold Schwarzenegger e nada mais. Não é uma grande aventura de ação e nem uma bela adaptação dos quadrinhos que lhe deram origem. Vale apenas como curiosidade de ver o astro austríaco fazendo um genérico de Conan, o Bárbaro.
Guerreiros de Fogo (Red Sonja, Estados Unidos, 1985) Direção: Richard Fleischer / Roteiro: Clive Exton baseado na obra de Robert E. Howard / Elenco: Arnold Schwarzenegger, Brigitte Nielsen, Sandahl Bergman / Sinopse: A guerreira Red Sonja (Brigitte Nielsen) parte para a vingança contra uma rainha maléfica que destruiu sua família. Filme baseado em personagens do mesmo universo que Conan, o cimério de bronze.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
The Factory
Infelizmente “The Factory” não está entre os melhores filmes já realizados sobre o tema. A trama é derivativa demais, pegando pedaços de outras produções de sucesso, jogando tudo no liquidificador para se dar a falsa impressão de se estar assistindo a algo novo. Não colou. O roteiro tem uma das reviravoltas mais absurdas e sem sentido do cinema americano nos últimos anos. Uma mudança no comportamento de um dos personagens principais que não tem a menor lógica e só está no texto para causar surpresa e espanto no público. Infelizmente o efeito passa longe de ser o desejado, só causando mesmo frustração e arrependimento de ter visto o filme. A única coisa mais interessante nessa produção é seu elenco. John Cusack faz o tira obcecado. Eu particularmente gosto do Cusack mas não há como negar que sua carreira está em baixa nos últimos anos. Ao seu lado duas estrelas da TV americana. A primeira é Jennifer Carpenter, que os fãs de séries irão conhecer imediatamente pois ela interpreta uma das principais personagens de “Dexter”. Ela é a irmã tira boca suja do psicopata mais famoso da TV. Curioso é que seu papel aqui lembra e muito o que faz no seriado. A segunda estrela é Mae Whitman, a atriz gordinha de “Parenthood”. Tal como na série ela aqui também faz uma adolescente que tenta lidar com os problemas típicos de sua idade. Enfim, “The Factory” realmente deixa a desejar. No final das contas é um policial com muitos clichês e sem idéias novas. E a tal fábrica do título original? Bom, como não estamos aqui para estragar as surpresas de ninguém que vá assistir ao filme não falaremos nada sobre ela. Você vai ter que ver para entender do que se trata. Boa sorte!
The Factory (The Factory, Estados Unidos, 2012) Direção: Morgan O'Neill / Roteiro: Morgan O'Neill, Paul Leyden / Elenco: John Cusack, Jennifer Carpenter, Mae Whitman, Dallas Roberts, Vincent Messina / Sinopse: Serial Killer mata uma série de prostitutes numa gelada cidade do estado de Nova Iorque. Em seu encalço está um tira obcecado em lhe prender. As coisas se complicam quando a filha adolescente do policial acaba caindo nas mãos do psicopata. Agora ele terá que lutar para salvar sua filha das mãos do criminoso.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Argo
Nesse ponto surge o plano do agente Tony Mendez (Ben Affleck), A CIA tinha consciência que agentes deveriam entrar no Irã para resgatar essas pessoas mas sem conflito. Deveria ser realmente um serviço limpo, sem mortes, de inteligência. Após vários planos que logo se mostravam falhos, Mendez sugeriu um no mínimo ousado e inusitado. Entrar no Irã disfarçados como membros de uma equipe de cinema. Assim eles estariam no país em busca de locações para as filmagens de uma ficção científica típica da década de 70 chamada “Argo”. Para parecer real a CIA realmente teria que armar toda uma encenação ainda nos EUA usando a imprensa para divulgar “Argo”. Dessa forma não levantariam suspeitas de que tudo não passava de um plano de resgate da agência. Um roteiro vagabundo foi adquirido, atores contratados e até mesmo uma conferência de imprensa montada. No comando dessa operação apenas Mendez (Affleck), um especialista em maquiagem chamado John Chambers (John Goodman) e um produtor veterano, Lester Siegel (Alan Arkin) sabiam da verdade, da realidade dos fatos. Embora o enredo pareça muito fantasioso o fato é que tudo aconteceu mesmo de verdade, foi uma história real. Essa operação muito criativa só foi reconhecida pela CIA muitos anos depois. Inclusive nos créditos finais surge a narração do próprio presidente americano da época, Jimmy Carter, explicando os eventos e agradecendo ao verdadeiro agente Tony Mendez pelo seu trabalho.
“Argo” é o segundo candidato ao Oscar de Melhor filme desse ano cujo enredo gira em torno de uma operação secreta da CIA. O primeiro foi o polêmico “A Hora Mais Escura”. Ambos tem semelhanças entre si, pelo próprio contexto em que se passa a estória mas “Argo” se mostra superior em vários aspectos. Curiosamente o ator Kyle Chandler está em ambos os filmes fazendo o mesmo tipo de personagem, um diretor da agência de inteligência americana. Aqui em “Argo” outro destaque do elenco é o excelente ator da série “Breaking Bad”, Bryan Cranston. Quem acompanhou a série sabe de seu inegável talento. Aqui seu personagem não é muito presente em cena mas se destaca por estar no centro de controle da operação em Washington. “Argo” é um projeto pessoal de Ben Affleck. Durante anos ele foi considerado apenas mais um canastrão em Hollywood mas depois que passou a dirigir filmes foi surpreendendo cada vez mais. Certamente o talento que lhe falta como intérprete foi compensado pela sua habilidade em dirigir bem. Recentemente inclusive levou o Globo de Ouro de melhor direção justamente por esse filme. Além disso a produção foi agraciada pelo mesmo prêmio como melhor filme (Drama) do ano. Será que desbancará “Lincoln” na noite do Oscar, levando a mais cobiçada estatueta do cinema? Há grandes possibilidades disso realmente acontecer. “Argo” certamente poderá sair consagrado na noite de premiação da Academia. Só nos restar esperar.
Argo (Argo, Estados Unidos, 2012) Direção: Ben Affleck / Roteiro: Chris Terrio / Elenco: Ben Affleck, Bryan Cranston, John Goodman, Kyle Chandler, Alan Arkin, Victor Garber / Sinopse: Um agente da CIA elabora um plano ousado para resgatar um pequeno grupo de diplomatas americanos que precisam sair do Irã o mais rapidamente possível. Ele se disfarça de produtor de cinema, fingindo estar procurando locações para seu novo filme de ficção chamado “Argo”, para assim retirar os americanos do país. Vencedor do SAG Award de Melhor Elenco.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
A Hora Mais Escura
Estaria a diretora Kathryn Bigelow (a mesma de “Guerra ao Terror” e ex-esposa de James Cameron) dando aval a esse tipo de prática? Sinceramente não consegui ver dessa forma. Na realidade o filme adota uma postura neutra em relação a isso, nem condenando abertamente e nem avalizando esse tipo de prática. O roteiro na verdade apenas mostra o que aconteceu e tenta não passar nenhum juízo de valor sobre isso. Talvez essa falta de condenação com o que ocorre na tela tenha sido o fator que incomodou tanto. A verdade pura e simples é que após 11 de setembro de 2001 a pressa e o desespero de se colocar as garras em Bin Laden passaram a ser justificativas para várias práticas ilegais e criminosas. A pressão da opinião pública fez com que o governo dos EUA partisse para o vale tudo. Nisso se jogou pela janela anos e anos de tradição liberal e de defesa dos direitos individuais das leis e da constituição daquele país. A impressão que passa é que no calor dos acontecimentos simplesmente se ignorou vários fundamentos que formam os ideais mais caros da democracia americana. Para se ter uma idéia todos os presos acusados de terrorismo sequer tiveram direito a julgamentos judiciais. Devido processo legal, contraditório, direito de defesa e vários outros preceitos foram totalmente desprezados. A única “lei” que imperou nessa busca foi a da tortura e da violência sem freios.
O filme adota um tom quase documental. Os personagens são membros da CIA com um único objetivo. Curiosamente o filme mostra dois aspectos bem interessantes: o primeiro mostra bem que a CIA não colocou as mãos em Bin Laden antes, não por falta de informações, mas por excesso delas – no meio de tantos dados ficou realmente complicado entender bem a organização que Bin Laden liderava e quais eram as ligações que poderiam levar até ele. Também mostra que mesmo os mais ferrenhos defensores do terrorismo sucumbiam à força do suborno, do dinheiro vivo. Numa das cenas mais emblemáticas, um membro da CIA consegue uma informação preciosa simplesmente jogando um carro de alto luxo nas mãos do informante. No final das contas a cena que melhor resume “A Hora Mais Escura” é aquela quando o presidente Obama surge na TV negando com veemência que haja tortura promovida contra prisioneiros em Guantanamo. Ao ver aquilo uma agente da CIA dá um sorrisinho irônico, obviamente pensando consigo mesmo sobre a lorota presidencial. “A Hora Mais Escura” é um bom espelho para que os americanos se vejam como realmente são. Talvez por isso tenha sido tão polêmico pois nem sempre se olhar no espelho é uma atitude confortável ou agradável, principalmente para quem viola as leis de seu próprio país.
A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, Estados Unidos, 2012) Direção: Kathryn Bigelow / Roteiro: Mark Boal / Elenco: Jessica Chastain, Kyle Chandler, James Gandolfini, Ricky Sekhon, Joel Edgerton, Scott Adkins, Mark Strong, Jennifer Ehle, Chris Pratt, Taylor Kinney / Sinopse: Agente da CIA começa a participar das investigações que tentam encontrar o paradeiro do terrorista Osama Bin Laden. Usando de métodos de tortura a agência tenta colocar as mãos no líder da Al-Qaeda. Indicado aos Oscars de Melhor Filme, Atriz (Jessica Chastain), Roteiro Original, Edição e Edição de Som. Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Atriz na categoria Drama para Jessica Chastain.
Pablo Aluísio.
sábado, 26 de janeiro de 2013
Lincoln
Infelizmente o filme se foca apenas em um período específico da trajetória do Presidente, quando ele tentava de todas as formas aprovar a décima terceira emenda da Constituição americana. Seu teor era abolir qualquer forma de escravidão ou servidão involuntária dentro do solo norte-americano. O curioso aqui é ver o lado mais humano de Lincoln quando ele torna concreta a frase “Os fins justificam os meios”. Sem o número de deputados necessários ele se utiliza de todos os meios possíveis para passar a emenda, libertando assim milhões de seres humanos da escravidão racial. Há todo um jogo de bastidores, com troca de favores e cargos públicos para se chegar aos votos necessários. Se lá nos EUA isso ainda é motivo de espanto aqui no Brasil é coisa comum, corriqueira, da ordem do dia. De qualquer modo o momento chave é quando ele decide promover a abolição, mesmo com todas as pressões em sentido contrário. Essa foi uma decisão baseada em seus valores morais e de caráter e o filme mostra muito bem isso, expondo a personalidade de Lincoln de forma magistral. O Jogo político que se trava no congresso vai ser especialmente apreciado por estudantes de direito e ciência política pois mostra sem rodeios os mecanismos nada sutis que fazem nascer as leis de uma nação. Muitos reclamaram desse aspecto do filme, por acharem que isso o torna chato e arrastado, mas esse tipo de argumento é um absurdo pois o protagonista era um político e seria impossível fazer um filme sem adentrar nesse tipo de relação entre o parlamento e o presidente.
A produção e a reconstituição de época são, como não poderiam deixar de ser, perfeitas. O presidente surge em cena não apenas como o grande homem da história mas também como um ser humano normal, preocupado com o destino de seus filhos, enfrentando problemas de relacionamento com sua esposa e muitas vezes em grande dilema pessoal em suas decisões. Esse lado desmistificador é o grande achado do roteiro, pois humaniza o personagem histórico, que apesar de sua grandiosidade, se aproxima assim do espectador, que se identifica com ele, com seus pequenos dramas domésticos que acabam se misturando com os assuntos de Estado. Nunca esse presidente esteve tão humano como agora. O elenco de apoio é excepcional com destaque para Tommy Lee Jones, econômico e como sempre eficiente em suas atuações. Se há algo a se criticar em tudo o que vemos em Lincoln talvez seja apenas o fraco enfoque do assassinato do líder da nação. Tudo soa apenas sugerido e não mostrado. O diretor não mostra o momento em que é baleado e nem os acontecimentos que o levaram a tão trágico destino. Provavelmente Spielberg tenha tomado essa decisão para não macular o mito. Não faz mal pois não há nenhum grande problema nisso. O diretor realmente está de parabéns por essa obra excepcional. Um filme à altura do grande homem que foi Abraham Lincoln.
Lincoln (Lincoln, Estados Unidos, 2012) Direção: Steven Spielberg / Roteiro: Tony Kushner, John Logan, Paul Webb, baseados na obra “Team of Rivals” de Doris Kearns Goodwin / Elenco: Daniel Day-Lewis, Tommy Lee Jones, Joseph Gordon-Levitt, Sally Field, James Spader, Lee Pace / Sinopse: Abraham Lincoln, Presidente dos Estados Unidos, enfrenta duas questões cruciais em seu governo: aprovar a emenda à constituição americana que libertará os escravos negros da nação e vencer a Guerra Civil contra os Estados do Sul que formam a Confederação. Além de lidar com esses temas nacionais ainda terá que contornar os problemas domésticos de sua família pois sua esposa não aceita que seu filho mais velho vá a guerra, embora ele deseje ardentemente isso. Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Ator para Daniel Day-Lewis. Indicado aos Oscar de Melhor Filme, Atriz Coadjuvante (Sally Field), Ator Coadjuvante (Tommy Lee Jones), Ator (Daniel Day-Lewis), Direção (Steven Spielberg), Fotografia, Figurino, Edição, Trilha Sonora, Efeitos Sonoros, Roteiro Adaptado e Direção de Arte.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
Proposta Indecente
Para segurar um tema desses e não cair no ridículo a atriz que faria o papel da esposa tinha que realmente ser uma beldade que valesse tanto dinheiro. Demi Moore foi a escolhida. Ainda jovem e bonita e com aquela voz rouca e sensual ela virava a cabeça de Robert Redford, que em um acesso de desejo lançava a proposta de um milhão de dólares para o maridão deixar ele se deitar com sua esposa por uma noite apenas. Já Woody Harrelson faz o sujeito que teria que aceitar ou não a traição remunerada. Para piorar seu personagem era uma pessoa que não conseguia acertar na vida e estava passando por sérias dificuldades financeiras. Pelo visto já deu para perceber que os roteiristas amarraram todas as pontas para piorar ainda mais a situação do pobre rapaz. O estúdio sabia que tinha em mãos um filme que além de polêmico tinha que ser muito sensual. Para isso contrataram Adrian Lyne de “Nove Semanas e Meia de Amor”. Ele deu um visual suave às cenas, com muitas cores sensuais pelo cenário. Tudo soava como paixão e luxúria. Demi Moore foi particularmente privilegiada pelas lentes de Lyne que usando de uma luz ideal para o tom de pele da atriz, conseguiu valorizar toda a sua sensualidade. Tirando a polêmica de lado e se concentrando apenas em seus méritos cinematográficos, “Proposta Indecente” se mostra apenas mediano. Esse tipo de argumento que fica girando apenas em torno de uma questão acaba ficando saturado no desenrolar da estória. Tudo acaba se resumindo em aceitar ou não a milionária proposta. Mesmo assim o filme não deixa de ser ainda hoje curioso. A pergunta não deixa de ser intrigante, mesmo atualmente. E aí você deixaria sua mulher nos braços de um outro homem apenas por uma noite, por um valor, esse sim, indecente?
Proposta Indecente (Indecent Proposal, Estados Unidos, 1993) Direção: Adrian Lyne / Roteiro: Jack Engelhard, Amy Holden Jones / Elenco: Robert Redford, Demi Moore, Woody Harrelson, Seymour Cassel, Oliver Platt, Billy Bob Thornton / Sinopse: Milionário maduro e enxuto (Robert Redford) fica encantado por uma jovem esposa (Demi Moore) de um pobre sujeito (Woody Harrelson) que não consegue acertar na vida e está com sérias dificuldades financeiras. Em um acesso de desejo incontido o ricaço resolve fazer uma proposta indecente, oferecendo um milhão de dólares para dormir com a esposa do pobretão por apenas uma noite. Será que a traição realmente não tem preço?
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
O Voo
Como se pode perceber o tema central do filme é o alcoolismo e o vício em drogas do protagonista. Ele não consegue parar de beber e se drogas, sempre chamando seu traficante a qualquer hora (personagem interpretado por John Goodman com aquele humor que lhe é peculiar). Por isso o órgão responsável pelo controle aéreo nos EUA começa uma série de investigações que o levará ao banco dos réus. Afinal qual foi a causa do acidente do avião que ele pilotava? Um defeito da própria aeronave ou o fato do piloto estar completamente embriagado e drogado? A trama a partir de então girará justamente em torno dessa questão. Denzel Washington está novamente muito bem em seu personagem. Sua caracterização nunca cai na caricatura ou no ridículo e ele sai ileso do filme. Por esse excelente desempenho ele foi inclusive indicado ao Oscar de Melhor Ator. Seu personagem é aquele tipo de sujeito que ainda está em fase de negação completa e não aceita que os outros imponham limites aos seus excessos envolvendo drogas e bebidas. É curioso que um drama assim sobre alcoolismo seja dirigido pelo cineasta Robert Zemeckis, uma vez que sua especialidade sempre foram os filmes de ficção para adolescentes como a franquia “De Volta Para o Futuro”. Apesar de não ser bem sua praia ele até que não se sai mal, muito embora a conclusão do filme possa vir a incomodar alguns pela falta de veracidade (sim, ter ética hoje em dia virou sinônimo de atitude pouco plausível, para espanto de todos nós). No saldo final “The Flight” mantém o bom nível dos filmes estrelados por Denzel Washington, um ator que ao contrário de seu personagem nesse filme, nunca falha!
O Voo (Flight, Estados Unidos, 2012) Direção: Robert Zemeckis / Roteiro: John Gatins / Elenco: Denzel Washington, James Badge Dale, Don Cheadle, John Goodman, Kelly Reilly, Bruce Greenwood, Melissa Leo / Sinopse: Depois de uma noite de bebedeiras, sexo e drogas um piloto comercial tenta pilotar um avião rumo a Atlanta, mesmo estando completamente embriagado e drogado. Indicado ao Oscar de Melhor Ator (Denzel Washington) e Melhor Roteiro Original.
Pablo Aluísio.