quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O Voo

Denzel Washington tem uma regularidade impressionante em sua carreira. Enquanto outros atores derrapam mais cedo ou mais tarde, geralmente fazendo filmes ruins em busca de fartas bilheterias, Denzel segue em sua linha, sem fazer concessões de nenhum tipo. Esse tipo de postura acaba se revertendo em uma seqüência de bons filmes. De fato ver o nome no cartaz de Denzel Washington já virou um motivo para se comprar o ingresso de cinema sem receio de ir ver um produto medíocre. É um padrão de qualidade que nunca decai. Esse seu novo filme “Flight” segue pelo mesmo caminho. O enredo conta a estória de Whip Whitaker (Denzel Washington), um excelente e experiente piloto de aviação comercial que após uma noite de bebedeiras, drogas e sexo com uma aeromoça de sua tripulação segue para mais uma viagem rumo a Atlanta. O problema é que dessa vez ele não consegue se recuperar completamente da noite de farras e chega bêbado na aeronave. Para piorar antes de sair de seu quarto resolve se encher de cocaína, cheirando várias carreiras de pó em sequência. Completamente “alto” ele tenta levar seu avião em frente mas uma pane mecânica joga a situação no caos completo. Sem alternativas resolve fazer um pouso de emergência que trará sérias conseqüências para todos, inclusive para ele próprio.

Como se pode perceber o tema central do filme é o alcoolismo e o vício em drogas do protagonista. Ele não consegue parar de beber e se drogas, sempre chamando seu traficante a qualquer hora (personagem interpretado por John Goodman com aquele humor que lhe é peculiar). Por isso o órgão responsável pelo controle aéreo nos EUA começa uma série de investigações que o levará ao banco dos réus. Afinal qual foi a causa do acidente do avião que ele pilotava? Um defeito da própria aeronave ou o fato do piloto estar completamente embriagado e drogado? A trama a partir de então girará justamente em torno dessa questão. Denzel Washington está novamente muito bem em seu personagem. Sua caracterização nunca cai na caricatura ou no ridículo e ele sai ileso do filme. Por esse excelente desempenho ele foi inclusive indicado ao Oscar de Melhor Ator. Seu personagem é aquele tipo de sujeito que ainda está em fase de negação completa e não aceita que os outros imponham limites aos seus excessos envolvendo drogas e bebidas. É curioso que um drama assim sobre alcoolismo seja dirigido pelo cineasta Robert Zemeckis, uma vez que sua especialidade sempre foram os filmes de ficção para adolescentes como a franquia “De Volta Para o Futuro”. Apesar de não ser bem sua praia ele até que não se sai mal, muito embora a conclusão do filme possa vir a incomodar alguns pela falta de veracidade (sim, ter ética hoje em dia virou sinônimo de atitude pouco plausível, para espanto de todos nós). No saldo final “The Flight” mantém o bom nível dos filmes estrelados por Denzel Washington, um ator que ao contrário de seu personagem nesse filme, nunca falha!

O Voo (Flight, Estados Unidos, 2012) Direção: Robert Zemeckis / Roteiro: John Gatins / Elenco: Denzel Washington, James Badge Dale, Don Cheadle, John Goodman, Kelly Reilly, Bruce Greenwood, Melissa Leo / Sinopse: Depois de uma noite de bebedeiras, sexo e drogas um piloto comercial tenta pilotar um avião rumo a Atlanta, mesmo estando completamente embriagado e drogado. Indicado ao Oscar de Melhor Ator (Denzel Washington) e Melhor Roteiro Original.

Pablo Aluísio.

7 comentários:

  1. Pablo:

    Você tem toda razão. O Denzel é tão bom que no filme American Gangster eu tenho o costume de rever somente as partes em que ele participa, de tão superior que é sobre as outras partes com tramas soporíferas e atores menos intensos.



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  2. Acompanho o Denzel há muito tempo. E um ator diferenciado que sabe escolher bem os projetos em que se envolve. Essa indicação ao Oscar tem sido inclusive colocada em dúvida - se ele merecia mesmo ou não. Em minha forma de pensar por tudo o que já fez no cinema ele tem mais é que ser indicado mesmo.

    Abraços,
    Pablo Aluísio.

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  3. Pablo:

    Assisti a esse O Vôo ontem e como você adiantou o Denzel faz talvez a melhor interpretação da sua vida.

    Porem, como aconteceu no American Gangster, o filme é estragado nos últimos vinte minutos com um final moralista, politicamente correto e ridículo. Os finais covardes de American Gangster e O Vôo desperdiça o talento do Denzel que tanto fez para que esses filmes tivessem uma abordagem mais realista. Esse diretores moralistas deveriam assistir O Senhor da Guerra, que, mesmo com o Nicolas Cage como protagonista, é um filme totalmente visceral, sem concessões, graças a coragem do diretor.

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  4. Sobre o final eu já sabia que iria incomodar, tanto que escrevi: "...muito embora a conclusão do filme possa vir a incomodar alguns pela falta de veracidade (sim, ter ética hoje em dia virou sinônimo de atitude pouco plausível, para espanto de todos nós)." Principalmente no Brasil isso soa bem fora da realidade pois aqui é o país do "jeitinho". De qualquer modo foi uma opção dos realizadores (sim, bastante moralista, devo concordar com você).

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  5. Sabe Pablo, não sei se é o fato do personagem ter sido honesto que incomoda, eu sei que muitas pessoas talvez fizessem mesmo, até no Brasil o País do jeitinho, como você bem observou.

    O que incomoda é a torção na filosofia de vida do personagem com o intuito de dar lição de moral ao modo crente americano.

    Só pra lembrar, a cena da reza no hospital é de entrar debaixo da cadeira e a cara constrangida do personagem do Denzel nesta hora demonstra isso de forma magistral.

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  6. Pablo:

    Havia me esquecido de comentar algo muito absurdo em O Vôo.

    Eu viajo muito e fico muito em hotéis eu me lembrei da hora em que o personagem do Denzel, com o frigobar do seu apartamento contendo somente água e refrigerantes e louco para beber, mas tentando se controlar, acha por "milagre" uma porta de um outro apartamento aberta e, aí que vem o absurdo, acha neste outro apartamento um frigobar muito cheio de várias bebidas destiladas geladas como se fosse um sonho. Você já viu em algum hotel garrafinhas de Whisky dentro do frigobar? Vodka poderia até ser, mas hotel não faz isso. Quando muito há uma três ou quatro garrafinhas em cima do frigobar e dentro, gelado, só refrigerantes, cervejas a águas.

    Você entendeu o que quero dizer? Os crentes, ou políticamente corretos(praga) que fizerem o filme corrompem o personagem, mesmo para isso sacrificando a coerência, para depois humilhá-lo a aí conceder a redenção patética.

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  7. Bem observado Serge, confesso que não tinha reparado nesses detalhes. Pablo Aluísio.

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