Alguns personagens jamais devem ficar fora do cinema. Principalmente quando se trata de criações literárias que fazem parte também da história da sétima arte. Tarzan é um deles. O Rei das Selvas foi criado pelo escritor Edgar Rice Burroughs em 1912. Mal chegou nas páginas na literatura ganhou seu primeiro filme, ainda nos tempos do cinema mudo. Depois disso criou-se uma verdadeira mitologia em torno de suas aventuras nas telas de cinema. No total são mais de cem filmes - um número de respeito, sob qualquer ponto de vista! Apesar disso o herói andava longe das telas nos últimos tempos, uma lacuna que finalmente foi coberta com o lançamento desse "A Lenda de Tarzan". Particularmente gostei muito da decisão dos roteiristas em seguir em frente com as aventuras de Tarzan sem aquela coisa cansativa de contar suas origens pela milésima vez. Não que o filme não conte os primórdios de sua trajetória, mas sim que o realiza de forma eficiente e rápida, em flashbacks pontuais.
Assim o Lord Greystoke (Alexander Skarsgård) já está de volta ao mundo civilizado, morando numa Inglaterra vitoriana de fins do século XIX. O passado de garoto e jovem criado nas selvas ficou para trás. Ele agora já parece completamente adaptado ao mundo europeu, seguindo os conselhos que seu pai havia deixado em um velho diário que sobreviveu aos anos na floresta. Ao seu lado está a bela Jane (Margot Robbie), uma jovem que conheceu na África e que ficou ao seu lado desde então. Tudo começa a mudar novamente em sua vida quando recebe um convite do Rei Belga para que retorne ao continente africano para dar seu aval ao trabalho que os colonizadores europeus estão promovendo por lá. Escolas, estradas e igrejas estão sendo construídas para a melhoria da vida das populações locais. Parece ser algo positivo, que merece seu apoio. O que ele nem desconfia é que tudo não passa de uma armadilha de Leon Rom (Christoph Waltz), um agente colonial que pretende trocar o lendário Tarzan por um manancial de diamantes localizado nas terras de um tribo cujo líder jurou destruir o Rei das Selvas por ele ter supostamente matado seu único filho no passado.
O diretor David Yates (de vários filmes da série "Harry Potter") optou por seguir uma linha bem tradicional nessa nova versão, procurando respeitar a longa e histórica linhagem de filmes sobre Tarzan. Assim embora o roteiro cumpra a função de apresentar um bom background histórico sobre o protagonista, a opção é realmente valorizar a aventura e a ação. Os animais que vão surgindo na tela são todos digitais, assim como os momentos em que Tarzan sai voando nos cipós das grandes árvores da floresta. Em tempos atuais não poderia ser diferente. A sorte é que o filme apresenta um bom elenco, plenamente adaptado aos personagens. Alexander Skarsgård é um bom ator (quem acompanhou seu trabalho na série "True Blood" sabe bem disso) e escolheu o caminho de dar um semblante introspectivo ao seu Tarzan. Uma decisão acertada. Christoph Waltz interpreta o vilão. Ele aliás tem cada vez mais desempenhado esse tipo de papel, com ótimos resultados. Agora está mais contido, mas tem pelo menos duas boas cenas para atuar (numa delas usa um terço católico como arma mortal). Numa estória com tantos europeus e africanos o roteiro achou também um jeito de encaixar Samuel L. Jackson como um agente americano. Ele funciona praticamente como um alívio cômico (mas claro, sem muitos exageros nesse sentido).
O resultado é dos melhores. Claro que não pode ser considerado o melhor filme de Tarzan já feito, uma vez que esse posto ainda pertence ao grandioso "Greystoke - A Lenda de Tarzan" de Hugh Hudson. Há alguns probleminhas no roteiro aqui e acolá, mas sem nunca estragar o filme como um todo. Aqui o que temos é mesmo uma aventura honesta, bem realizada, cujo maior mérito é manter a chama acessa dessa mitologia. Afinal, como eu escrevi, o bom e velho Tarzan não pode mesmo ficar longe das telas de cinema. Um personagem tão icônico como esse deve sempre ser revisado, com lançamentos nos cinemas de tempos em tempos. A chama do Rei da Selva na sétima arte jamais deve ser apagada. Que venham novos filmes... sempre!
A Lenda de Tarzan (The Legend of Tarzan, Estados Unidos, 2016) Direção: David Yates / Roteiro: Adam Cozad, Craig Brewer, baseados na obra de Edgar Rice Burroughs / Elenco: Alexander Skarsgård, Christoph Waltz, Samuel L. Jackson, Margot Robbie / Sinopse: Anos após sobreviver nas selvas da África, Lord Greystoke, mais conhecido como Tarzan, decide aceitar o convite do governo belga para retornar ao continente. O que ele não desconfia é que na verdade está sendo manipulado em um mortal jogo envolvendo diamantes, escravidão e exploração dos nativos da região.
Pablo Aluísio.