Mostrando postagens com marcador Robert Eggers. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Robert Eggers. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 27 de maio de 2022

O Homem do Norte

A história do filme se passa no século nono da era cristã, o cenário é o norte gelado da Europa. Nesse quadro histórico um rei nórdico retorna de uma campanha militar vitoriosa. Como se sabe os Vikings eram grandes navegadores e guerreiros que viajavam pelos mares do norte em busca de novos territórios para saquear e escravizar os povos vencidos. O rei retorna de sua expedição e reencontra sua esposa e seu filho. A Felicidade parece predominar, entretanto há uma conspiração em curso e o rei acaba sendo morto pelo seu próprio irmão. O jovem príncipe, apenas um garoto, consegue escapar e jura vingança pela morte do pai. Os anos passam e ele se torna um homem forte, além de grande guerreiro, sempre obcecado pela sua sede de vingança. Então ele descobre que seu tio regicida está vivendo atualmente na distante ilha gelada da Islândia. Ele se faz passar por um escravo e entra na propriedade do seu tio usurpador. Agora próximo, ele pode saciar seu desejo de se vingar pela morte do pai, algo que o move todos os dias, uma obsessão que o consome totalmente.

O roteiro desse filme pode parecer sem maiores novidades. Afinal é uma tradicional história de vingança, mas espere por surpresas. A narrativa não é tão convencional como parece ser. O protagonista tem delírios e sonhos onde interage com antigos deuses nórdicos e nesses sonhos ele se vê cavalgando em direção ao seu esplendor divino, carregado de glórias por ter matado o assassino de seu pai. A trilha sonora do filme é uma das melhores coisas dessa produção. Os produtores procuraram reproduzir a sonoridade dos antigos povos do norte da Europa, com uso intenso de tambores e uma vocalização gutural que impressiona o espectador. O clima do filme é bem tenso, não há espaço para as cenas leves.

Também destaco aqui nessa galeria de bons personagens, a rainha interpretada pela atriz Nicole Kidman. Inicialmente o espectador pensa que ela é uma mulher oprimida, obrigada a viver ao lado do assassino de seu marido, mas espere por surpresas deste roteiro. As coisas não serão tão simples. Em conclusão digo que esse não é um filme banal de vingança e lutas de espadas. Em aspecto mais profundo, é um filme que investe forte no lado mais psicológico dos personagens. Um filme que fez sucesso nos Estados Unidos e que surpreende por suas boas escolhas artísticas.

O Homem do Norte (The Northman, Estados Unidos, 2022) Direção: Robert Eggers / Roteiro: Robert Egger / Elenco: Alexander Skarsgård, Nicole Kidman, Claes Bang, Anya Taylor-Joy / Sinopse: Após a morte do rei pelas mãos do próprio irmão, seu filho jura vingança. 

Pablo Aluísio. 

domingo, 8 de dezembro de 2019

O Farol

Esse filme está sendo muito elogiado no exterior. Alguns críticos inclusive defendem que ele seja indicado ao Oscar de melhor filme do ano. Exagero? Sim, tenho que discordar desse tipo de opinião com mais entusiasmo. Na verdade o filme - dito por alguns como um terror - não se trata disso. No máximo poderia classificar essa obra como um drama psicológico, com nuances sutis de suspense. A trama é bem básica. Só há dois personagens em cena: os trabalhadores Thomas Wake (Willem Dafoe) e Ephraim Winslow (Robert Pattinson), Eles são levados até uma ilha remota e isolada. A função da dupla é manter o farol local funcionando. O trabalho é duro, principalmente para o mais jovem, Ephraim. Já o velho Thomas é um veterano lobo do mar. Depois que se retirou da profissão de marinheiro, se tornou faroleiro. Logo que eles chegam na ilha o velho se impõe ao mais jovem e deixa claro que naquela ilha perdida ele é quem manda. Também determina que apenas ele poderá cuidar da manutenção das lentes do farol. Isso, claro, cria uma curiosidade no mais novo. O que estaria o velho fazendo lá em cima durante as madrugadas? Porém a solidão e o isolamento logo cobram seu preço. Eles começam a beber demais... e não demora muito a surgirem alucinações. Uma delas inclusive muito peculiar, envolvendo uma sereia! Para quem vive ali por meses, sem contato nenhum com o sexo feminino, era de se esperar mesmo que eles começassem a alucinar com uma bela mulher, mesmo que ela fosse uma figura mitológica.

O filme foi todo rodado com uma fotografia em preto e branco bem escura. A intenção era relembrar antigos filmes dos anos 1940. Para o público atual esse visual e seu roteiro mais estiloso, vai soar como algo bem estranho. Para os amantes da cinefilia porém isso será um bônus a mais em favor do filme. Particularmente até apreciei o filme naquele que ele tem de melhor, em especial no quesito atuação. Que Willem Dafoe é um dos atores mais talentosos de sua geração, acho que ninguém tem mais dúvida. A surpresa vem com Robert Pattinson. Eu sempre o considerei um ator muito fraquinho mesmo. Aqui porém ele cresce, porque precisou estar à altura de Dafoe, ou pelo menos não passar vergonha ao seu lado. Com isso o ator conseguiu sua melhor atuação no cinema. As fãs de Crepúsculo, por outro lado, provavelmente vão odiar o filme. De minha parte até gostei do conjunto, mas daí a indicar ao Oscar como um dos melhores do ano já penso ser um tanto exagerado.

O Farol (The Lighthouse, Estados Unidos, Canadá, Brasil, 2019) Direção: Robert Eggers / Roteiro: Max Eggers, Robert Eggers / Elenco: Willem Dafoe, Robert Pattinson, Valeriia Karaman / Sinopse: Dois faroleiros, Thomas Wake (Willem Dafoe) e Ephraim Winslow (Robert Pattinson), chegam numa ilha isolada e remota da costa. O trabalho deles nos próximos meses será de manutenção e conserto do farol, só que nesse meio tempo coisas estranhas começam a acontecer. Embriagados, começam a ter uma série de alucinações.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

A Bruxa

1630. Nova Inglaterra. América colonial. Expulso da vila de colonizadores puritanos ingleses o patriarca William (Ralph Ineson) leva sua família para viver na floresta. Os perigos são muitos. Além das feras escondidas nos bosques, ainda existe a possibilidade de todos morrerem de fome ou frio durante o inverno. William porém acredita que tudo dará certo pois ele se considera um bom cristão, devoto e temente a Deus. As coisas porém logo começam a dar errado. O jovem caçula, um bebezinho, desaparece misteriosamente. O outro filho volta da floresta com um comportamento estranho, como se estivesse possuído. Aos poucos todos começam a apresentar um estranho e sinistro comportamento que resultará em uma provável tragédia no meio daquele local esquecido por Deus.

É cada vez mais raro encontrar um filme de terror tão bom como esse! Por isso os fãs do gênero podem celebrar. "A Bruxa" é um filme inteligente, que joga mais psicologicamente com o público do que apelando para cenas de efeitos visuais vazios ou sem justificativa. Sim, não se engane, temos aqui um dos melhores filmes de horror psicológico dos últimos anos. O diretor e roteirista Robert Eggers soube muito bem por onde procurar as fontes de seu roteiro. Ele estudou velhas peças judiciais da época da inquisição protestante na América colonial e vitoriana e a partir disso escreveu sua estória que é bem aterrorizante e bem escrita. A família que preza pela devoção a Deus e seu isolamento na floresta, longe da vila de colonizadores ingleses, forma certamente o cenário perfeito para tudo o que acontece.

Há também uma bem colocada exploração em torno de símbolos macabros que estão no inconsciente coletivo de todos: o bode, a casa perdida no meio do nada, os objetos hereges, etc. Um dos aspectos mais curiosos vem da figura da própria bruxa, que diga-se de passagem nunca é muito explorada justamente para aumentar ainda mais o suspense em torno de todos os acontecimentos sobrenaturais que vão surgindo. Destaco o momento em que o jovem Caleb (Harvey Scrimshaw), em plena entrada na sua puberdade, é seduzido por uma sensual figura na porta de um casebre. Tudo de acordo com o que você mesmo pode descobrir ao estudar teologia medieval. O mal muitas vezes pode surgir pela beleza de uma imagem irresistível. Há também um ótimo jogo de pistas falsas, sendo que o espectador quase sempre nunca sabe ao certo quais pessoas daquela família estariam realmente sob o domínio do mal absoluto! Seria a filha mais velha, a mãe destruída emocionalmente pela perda de seu jovem bebê ou os gêmeos que agem e se comportam de forma completamente fora do convencional?

Enquanto os males vão se multiplicando todos os personagens parecem caminhar para a insanidade completa. Seria algo realmente vindo das trevas ou apenas um surto psicótico de todos eles, que viviam imersos em uma espécie de fanatismo religioso fora do comum? Todos esses questionamentos são plenamente válidos e vão surgindo em nossas mentes enquanto assistimos ao filme.  Enfim, falar mais seria estragar as várias surpresas do argumento. É muito bom encontrar novamente um filme desse nível que explora o tema das bruxarias do século XVII sem jamais cair em clichês ou soluções baratas. O diretor Eggers foi muito sutil nesse aspecto e por isso realizou realmente uma obra bem acima da média. Excelente filme de terror. Assista sem receios. Está mais do que recomendado.

A Bruxa (The Witch - A New-England Folktale, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, 2015) Estúdio: Universal Pictures / Direção: Robert Eggers / Roteiro: Robert Eggers / Elenco: Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Kate Dickie, Harvey Scrimshaw /Sinopse: Durante a era colonial uma família passa a ser atormentada por uma estranha criatura da floresta, algo que pode ser definido como uma bruxa satânica. Filme vencedor do London Film Festival e do Sundance Film Festival na categoria de Melhor Direção (Robert Eggers).
  
Pablo Aluísio.

terça-feira, 26 de abril de 2016

A Bruxa

Os fãs de cinema bem sabem que se existe algo em extinção atualmente na sétima arte são bons filmes de terror. Geralmente as produções mais recorrentes na atualidade são meras variações do estilo mockumentary que, em minha opinião, já andam bem saturados. Por isso gostei muito quando surgiu algo de novo nas telas. Esse filme se chama "A Bruxa". Ok, muito provavelmente você torcerá o nariz ao saber que o tema é a velha bruxaria. Desde "A Bruxa de Blair" essa temática anda meio desacreditada. Foram muitos filmes ruins para se manter algum tipo de boa expectativa. O que salvou essa nova produção foi basicamente a ideia do diretor e roteirista Robert Eggers de voltar ao básico do gênero. Veja, um bom filme de terror é proporcionalmente mais assustador quanto mais sua premissa tende para a simplicidade. Não adianta encher a tela de monstros digitais e nem de banhos de sangue para causar medo no público. Nesse estilo cinematográfico o menos geralmente é mais. Pense no maior filme de terror de todos os tempos, "O Exorcista". O roteiro é básico, a estória contada é básica e a produção não passa do mediano. Não existe nada de muito espetacular em termos de produção nesse filme. E por que ele é tão cultuado até os dias de hoje? Fácil de responder, simplesmente porque ele apela para os sentimentos mais primitivos do ser humano. O medo do desconhecido, do sobrenatural. Além disso usou de forma extremamente inteligente de vários símbolos religiosos. O medo em sua expressão mais psicológica.

Claro que "A Bruxa" não pode ser comparado ao "Exorcista", mas os filmes tem bastante coisas em comum. A principal é que tudo caminha em um crescente de suspense que vai se transformando em desespero. Nada é muito explorado de forma explícita. Muita coisa é simplesmente sugerida. Ao invés de encher os olhos de coisas horrendas o roteiro apenas sugere caminhos para a nossa imaginação e o nosso medo. O roteiro também é de uma simplicidade ímpar: há uma família no meio da floresta. Eles foram banidos da comunidade. O lugar é frio, escuro e misterioso. Há boatos de que rituais de bruxaria são realizados nas redondezas. A família que está naquela situação é formada por aqueles primeiros pioneiros que foram para o novo mundo em busca de um recomeço. Só encontraram uma terra ainda muito primitiva e inexplorada. Não é de se admirar que a mente comece a pregar peças em cada um deles. Um mero animal irracional, um bode, pode assumir uma simbologia macabra. Uma sombra entre as árvores pode se transformar na mente em uma manifestação terrena do anjo caído. Algo que realmente pode ser apenas um surto da mente de cada um ou a manifestação real do sobrenatural.

O bom desse roteiro é que se o espectador prestar bem atenção saberá que ele nunca dará uma resposta definitiva às várias perguntas que vão surgindo. Há realmente algo estranho ali, a manifestação do mal, ou tudo o que acontece de ruim foi causado apenas pelos membros da família que simplesmente passam por um surto de fanatismo religioso coletivo? Por fim e não menos importante outra coisa muito interessante desse filme é seu contexto histórico. No século XVII (onde a estória do filme se passa) a mentalidade das pessoas era bem diferente da atual. As bruxas eram criaturas reais e não fruto da imaginação do homem. Elas estavam ao redor, esperando para passar maldições e heresias. Por essa razão tantas mulheres foram mortas nas fogueiras da inquisição. Não era algo abstrato, conceitual. Longe disso, era tudo encarado como realidade concreta! O mal absoluto jamais era encarado como uma abstração da mente, mas algo palpável. Um sinal dos tempos.

A Bruxa (The VVitch: A New-England Folktale, EUA, Canadá, Inglaterra, 2015) Direção: Robert Eggers / Roteiro: Robert Eggers / Elenco: Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Kate Dickie / Sinopse: Em 1660, na colônia da Nova Inglaterra, uma família de peregrinos é expulsa de uma comunidade puritana. Tendo que viver próximo a uma floresta misteriosa eles começam a perceber e sentir a presença de uma entidade maligna. Após o sumiço do bebê as coisas começam a ir de mal a pior, colocando todos no limite de sua própria sanidade.

Pablo Aluísio.