Os irmãos Russo nem queriam fazer esse filme. Existe um certo preconceito que separa cineastas que fazem filmes para serem exibidos no cinema e diretores de filmes para streaming. Para os Russo seria descer um degrau no status profissional fazer um filme para a Netflix. Até mesmo porque um filme feito para streaming não deixa de ser um telefilme! E isso remonta a muitos anos antes, onde esse tipo de mentalidade sempre existiu na classe dos diretores. Diretores que faziam telefilmes estavam abaixo de diretores de filmes para o cinema. Só que a Netflix hoje em dia é uma potência financeira e econômica nessa indústria. Diante da relutância dos irmãos Russo os executivos da empresa colocaram um caminhão de dinheiro na frente deles. E todo mundo tem seu preço. Assim os irmãos Russo deram o braço a torcer e acabaram aceitando fazer um filme para a Netflix. Justamente esse aqui.
É uma ficção juvenil, mostrando um mundo distópico (pero no mucho) em que robôs e seres humanos tentam recomeçar após uma guerra mundial entre eles. Os robôs queriam seus direitos. Não queriam mais ser vistos como meros objetos, mas seres pensantes e tudo mais. Uma luta pela dignidade dos robóticos. A história se repete! Até aí tudo bem, nada que não tenhamos visto em dezenas de outros filmes. A novidade desse roteiro vem da existência de uma consciência humana que é transportada para um dos robôs. É a mente de um garoto que presumia sua irmã estar morto. Só que ele vive, de alguma forma, naquela máquina. Então ela sairá numa jornada do herói (ou heroína) para tentar trazer ele de volta à vida.
Como se vê, muita coisa requentada, com uma pequena pitada de novidade. Eu até apreciei o filme. Ele não foi produzido para pessoas da minha idade. É um filme realmente direcionado para o público juvenil. O design dos robôs, a maioria deles bem na linha fofinhos, entrega isso. A despeito desse fato, é inegável que os irmãos Russo fizeram um bom filme, dentro de seus objetivos mais limitados. Claro que eles não se empenharam tanto quanto em seus filmes produzidos para o cinema, mas sem dúvida entregaram um produto redondinho, até bem realizado. A Netflix certamente não teve do que reclamar, assim como o espectador médio de sua plataforma de streaming.
O Estado Elétrico (The Electric State, Estados Unidos, 2025) Direção: Anthony Russo, Joe Russo / Roteiro: Christopher Markus, Stephen McFeely, Simon Stålenhag / Elenco: Chris Pratt, Millie Bobby Brown, Stanley Tucci, Woody Harrelson / Sinopse: Jovem garota, que acreditava que seu irmão estava morto, descobre que sua consciência vive em um robô antigo, baseado em uma velha série de TV. Agora ela vai precisar encontrar onde se encontra o rapaz, para tentar trazê-lo de volta à vida de seu coma induzido por uma poderosa indústria de inteligência artificial.
Pablo Aluísio.