quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 79

Elvis Presley à mesa
Livro relata os hábitos alimentares do "Rei do Rock", percorrendo as principais fases de sua vida

O culto à Elvis Presley é como um vírus. Você vê de longe, acha graça, quase não entende, mas, quando chega mais perto, pega como um sarampão. Vinte anos depois de sua morte, as locadoras de vídeo, as livrarias, casa de discos e Internet oferecem material para refrescar nossa memória. Foi ontem e já esquecemos. Que História, que cantor, que carreira e que carisma! Uma paixão.

Observo fotos, centenas delas, Elvis menino, carinhosamente abraçado à mãe, Gladys, e ao pai, Vernon. Elvis na sala de aula, sentado na carteira do fundo. Orgulhoso, encostado no caminhão do pai. Em todas as fotos tem os olhos tristes. A boca sorri, mas os olhos são sempre tristes. Uma depressão no olhar, uma cara de "quero mais" que nenhuma torta de pecan ou de banana curaria.

Assisti os filmes que consegui encontrar na locadora. Lembrei vagamente das preguiçosas sessões da tarde e de Flipper, o golfinho. Hollywood conseguiu "Fliperizar" o cantor, repetindo "ad nauseam" os mesmos mergulhos em fundo de céu azul, mar e palmeiras. As músicas eram quase sempre horríveis, mas se era possível, Elvis as tornava palatáveis.

Só os filmes dão assunto para um livro inteiro, mas queria Ter visto Elvis em Shows, pois Hollywood censurava o cantor da cintura para baixo e ele aparecia um pouco duro. Imaginem, Elvis, the pelvis, desengonçado.

No meio do material sobre Presley o achado mais precioso é o livro "The Life and Cuisine of Elvis Presley", de David Adler. Geralmente detesto estes livros de quem comeu o quê, totalmente dispensáveis, mas este é surpreendentemente agradável de ler. Através dos hábitos alimentares de Elvis conseguimos ver uma ponta de realidade da vida do homem, desde sua infância até a morte em Graceland, sua casa em Memphis.

A comida de Elvis é igualzinha a ele. Inocente e mítica, simples e caipira, às vezes complicada como o demônio. O lambiscar sem culpa, hoje chamado de "Grazing", foi a regra dos primeiros anos de fama. O autor do livro fez uma pesquisa, começando em Tupelo, onde Elvis nasceu, e terminando nas casas de fãs que ainda o consideram vivo e fazem para ele bolos de aniversário. Em resumo foi essa a trajetória da comilança de Presley.

Tupelo
Os pobres de Tupelo em meados dos anos 30, comiam basicamente a mesma coisa. Bolinho de fubá frito, legumes, quiabo empanado e, se aparecesse algum dinheiro, um pedaço de carne. A família de Presley tinha a sorte de receber uma cesta de legumes e verduras de uma tia que plantava uma horta. Nunca sentiram falta de mostarda, ervilha, feijão, beringela, tomate couve. Gladys não era lá essas coisas na cozinha. Seu maior desejo era Ter se tornado atriz, mas o amor pelo filho foi tanto que aprendeu a fazer uma comidinha gostosa como mais um modo de expressar amor. Comida de mãe para Elvis, então, era mais que couve passado na gordura de porco, broinha de fubá, sanduíche de manteiga de amendoim, batatas e tomates fritos, que ás vezes acompanhavam um esquilo caçado pelo pai e feito como se fosse galinha frita. Para beber chá gelado muito doce.

Pudim da Sra. Cocke
¾ de xícara de açúcar, 3 gemas, 2 e ½ xícaras de leite, ¼ de xícara de farinha de trigo, 1 colher de (chá) de essência de baunilha, waffers, bananas finamente cortadas, claras batidas para suspiro. Coloque numa tigela o açúcar, as gemas, o leite e a baunilha. Cozinhe em fogo baixo até engrossar, tire e deixe esfriar. Numa vasilha refratária coloque os waffers, a banana e o creme. Repita as camadas. Cubra com suspiros. Leve ao forno para dourar. Sirva gelado.

Primeira Assembleia de Deus
O filho e a mãe não perdiam um Domingo na Igreja. A primeira Assembléia de Deus é uma seita fundamentalista que acredita na realidade do sobrenatural. De acordo com a seita, Deus e o demônio estão conosco, fisicamente reais. As cerimônias são agitadas. Fiéis e ministro se mexem, pulam, requebram por entre as fileiras das cadeiras, braços e pernas sacudidos. Elvis aprendeu lá, segundo ele, todos os hinos que existem. Depois de tanta dança, era feito um piquenique, debaixo de uma árvore com sombra.

Cultura Teen
A cultura Teen só aparece nos anos 50 e nos Estados Unidos, na América afluente do pós guerra, com seus ícones e tradições de consumo. As estradas ficam cheias de Drive-ins de hambúrgueres com desenhos de naves espaciais. Os carros parecem aviões, tudo é fake, até a comida. Os livros de receitas da época são difíceis de acompanhar porque quanto mais coisa em pacotes e em lata mais sofisticada era a refeição. O bolo em formato de coração desmontava sob a camada grossa de açúcar cor de rosa, as saladas eram verdes e azuis, até a lua era azul, o chique era "moop Turtle Soup", "Mock-isto-e-aquilo", (no caso Mock significa imitação). Elvis participou pouco da folia de consumo porque era pobre. Como motorista de caminhão, começou a cantar na estrada em troca de comida. Em pouquíssimo tempo, transformou-se no Teen mais conhecido e famoso do mundo, o "Rei do Rock". Comprou um cadillac cor-de-rosa. Aprendeu a gostar de algodão doce, cachorro quente, pipoca caramelada, karo , Coca-Cola e Pepsi. O sonho dos Teens era não Ter hora para comer, Elvis desistiu de refeições regulares. Era o prêmio, a vantagem de ser célebre.

Salada de 7 Up
2 pacotes de gelatina de limão, 2 xícaras de 7Up, 1 xícara de queijo cottage, 1 lata de abacaxi picado, colorante verde (opcional). Prepare a gelatina de acordo com as instruções do pacote, substituindo a água por 7Up. Deixe esfriar em temperatura ambiente. Junte os demais ingredientes. Despeje em forminhas individuais e deixe na geladeira por algumas horas. Desenforme, passando a forma em água morna por alguns segundos e sirva em seguida.

Graceland
A cozinheira mais requisitada em Graceland era a da noite, pois o cantor tinha hábitos noturnos. David Adler, autor da pesquisa, foi até a casa dela e comeu uma refeição à la Elvis. Pauline, a cozinheira, era uma negra de cabelo branco. A mãe de Elvis era uma branca de cabelo preto. Pois o cantor as achava muito parecidas. Na verdade só tinham em comum o desejo de amamentá-lo. O menu foi "Ugly Steak" (bife feio), um filé de carne, passado na farinha de trigo e frito como frango. Toda a carne de Elvis vinha cortada em pedacinhos, como a comida de uma criança pequena. Ervilhas na lata na manteiga com um pouco de cebolas picada e vagens. E catchup. Em Graceland Elvis comia tudo o que gostava . Rosbife, peru, muito bolo e muito doce. De vez em quando se ouvia falar em regime e as empregadas que tentavam executar a dieta recebiam um chamado de Elvis. "Vamos, meu amor, estou morrendo de fome. Preciso de uma coisa gostosa para comer", dizia. Elas, imediatamente faziam o que ele pedisse.

Tomates à Mississipi
4 tomates grandes verdes, 1/3 de xícara de óleo vegetal, sal e pimenta-do-reino a gosto, ¾ de xícara de farinha de trigo. Mergulhe os tomates por 20 minutos em água gelada até a hora de usar. Corte em fatias de pouco menos de 1 cm de espessura. Aqueça o óleo em numa frigideira sobre fogo médio. Misture o tomate aos temperos e passe na farinha. Frite em óleo quente até ficarem douradas. Sirva quente ou à temperatura ambiente.

Las Vegas
No final de sua vida, Elvis entrou em um mundo só dele. Era o show, o quarto de hotel, nenhum amigo, a TV e a comida. A comida era conforto e companhia. Nos anos 70, começou a comer compulsivamente. Uma vez, em Baltimore, na manhã seguinte a um show, Elvis se levantou e pediu um Sundae com calda quente. Comeu depressa, pediu o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto e... desmaiou. Por estas e outras, era freqüentemente internado no Hospital de Memphis para uma desintoxicação forçada. Lá, ficou uma enfermeira que, mais tarde, escreveu um livro sobre ele, defendendo a idéia polêmica que Elvis não tinha o perfil de um "Junkie". A enfermeira compreensiva fazia uma torta de banana que Elvis adorava e comia inteira. A torta era comida de mãe em qualquer lugar do mundo.

A Pergunta
Elvis está vivo? Gosto da resposta de Madonna, pensando em Lisa Marie Presley, "Elvis está vivo e é muito bonita". Claro que está vivo. Como sua música e como sua comida, que desaponta como moda neste fim de milênio.

Artigo escrito por Nina Horta.

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