Os primeiros discos dos Beatles chegam aos Estados Unidos
Enquanto Elvis afundava no estudo do ocultismo e demais ciências esotéricas, o bravo rock'n'roll renascia com mais força ainda. Começando em 1963, quando os primeiros discos do Beatles chegaram aos Estados Unidos e culminando com a chegada dos Fab Four à América, quando foram vistos por 70 milhões de telespectadores no programa Ed Sullivan Show, o rock atingiu, no ano de 1967 um fervor messiânico. Nunca antes da história da humanidade havia algum fenômeno cultural desenvolvido tanta força e poder.
Estava na cara que algo grandioso estava acontecendo mas, para Elvis, não havia nada de novo, exceto algumas poucas músicas dos Beatles que ele gostava. Não é de se espantar, portanto, que quando os Beatles vieram aos Estados Unidos pela primeira vez, Elvis tenha recusado firmemente um encontro com os quatro cabeludos de Liverpool que aspiravam a mão de sua filha, a juventude americana, muito embora durante o programa do Ed Sullivan, os Beatles tenham recebido um telegrama de boas vindas assinado por ele, mas remetido sem o seu conhecimento pelo coronel Parker.
- "Droga, não quero me encontrar com esses fdp!" – explodiu Elvis quando o coronel lhe propôs um encontro com os Beatles no inicio de 1964
Os Beatles vão encontrar-se com Elvis
Mas o coronel não gostava de aceitar um não como resposta, principalmente de sua marionete Elvis Presley e continuou a campanha para criar a ilusão de bons sentimentos entre seu cliente e os Beatles, enviando-lhe de presente quatro conjuntos de trajes de cowboy completos, inclusive com armas de verdade.
Quando os Beatles voltaram em 1965, eles usaram essas roupas de cowboy em um de seus concertos. Era o sinal que o coronel estava esperando. Novo encontro foi proposto e, dessa vez, Elvis topou
- "Tá legal. Mas eles terão que vir até a minha casa"
Aquilo era bom demais parta ser verdade para o coronel, que ligou para Brian Epstein marcando a reunião. Nesse tempo, Elvis estava de volta à casa de Perugia Way, depois de Ter morado algum tempo em Bellagio Road.
Na noite memorável de 27 de agosto de 1965, Elvis sentou-se no sofá da sala, como sempre fazia, cercado de seus homens: Joe Esposito, Marty Laker, Billy Smith, Jerry Schiling, Alan Fortas, Sonny West, Mike Keaton e Ray Sitton. Logo chegou o coronel Parker e Tom Diskin.
Perto da 9 horas, os Beatles chegaram numa limousine preta, acompanhados por Brian Epstein, o jornalista Derek Taylor e dois guarda costas. A área estava fortemente guardada pela polícia de Los Angeles. Assim que os príncipes do rock entraram na mansão, ouviram seus discos tocando no "Jukebox". Elvis levantou-se para cumprimentá-los, sorrindo e John Lennon brincou:
- "Oh, aí está você!"
Apresentações formais foram feitas e todos sentaram-se no sofá; John e Paul no lado direito de Elvis e Ringo e George no lado esquerdo. Enquanto a "Jukebox"alternava os sucessos de Elvis e dos Beatles, ninguém falou nada. Os Beatles olhavam para Elvis, Elvis olhava para os Beatles. Nenhum dos caras achou que era hora de dizer alguma coisa. Nem o coronel Parker ,que permaneceu silencioso. Finalmente, depois de uns cinco minutos, Elvis não se conteve:
- "Bem, olha aqui" – protestou o rei – "Se vocês vão ficar aí sentados a noite inteira eu vou para a cama. Vamos aproveitar a noite! Podemos conversar sobre música e até tocar um pouquinho!"
Ao ouvir Elvis falar "tocar", todos os Beatles exclamaram:
- "Adoraríamos tocar com você, Elvis"
"Não consigo contar a emoção que foi ontem à noite"
O gelo estava quebrado e o grupo logo se dividiu em rodinhas; Elvis, John e Paul levavam um papo:
- "Quantos sucessos vocês escreveram até agora?", quis saber Elvis, sempre preocupado com números.
John e Paul começaram a contar como se isso tivesse alguma importância. Todavia quando chegou a vez de John Lennon perguntar, ele quis saber algo crucial:
- "Elvis, porque você não volta ao seu velho estilo musical?"
Elvis que não gravava um rock há anos, desculpou-se:
- "Bem, sabe como é... é por causa do meu esquema de filmes. É muito apertado...mas eu ainda vou gravar algum disco"
Lennon comentou:
- "Então esse eu vou comprar"
Era uma piada, mas revelava claramente o que os Beatles pensavam do trabalho musical de Elvis naquela época.
Enquanto isso Ringo jogava sinuca, rodeado pelas crianças, Tom Parker e Joe Esposito montaram uma mesa de roleta e o coronel anunciou:
- "O cassino está aberto"
Imediatamente Brian Epstein se aproximou, Brian tinha tanta curiosidade e vontade de conhecer o coronel quanto os Beatles tinham de conhecer Elvis.
Depois de dar algumas tacadas de sinuca com Ringo Starr, Elvis pegou um contrabaixo elétrico que estava aprendendo a tocar. Ordenando que os Beatles fossem equipados com instrumentos, Elvis deu início a uma animada "Jam Session". O ponto alto foi Elvis tocando baixo em "I Feel Fine', o que provocou o seguinte comentário de Paul McCartney:
- "Você está tocando baixo muito bem, Elvis!"
O encontro das estrelas durou três horas e foi um sucesso, exceto por George Harrison que não quis conversar com ninguém e se comportou como se estivesse com uma doença contagiosa. Quando chegou a hora de puxar o carro, Lennon convidou:
- "Gostaríamos que todos vocês fossem nos visitar amanhã a noite"
- "Bem, eu vou ver" – Elvis respondeu – "Não sei ainda se podemos ir ou não"
Voltando-se para os demais John falou:
- "Vocês serão bem vindos, com Elvis ou sem ele"
Os caras agradeceram, mas sem demonstrar muita vontade de ir, caso contrário poderiam desperdar os ciúmes do chefe. Mas na noite seguinte, Joe Esposito, Marty Laker, Jerry Schiling e Sonny West, conseguiram dar uma escapadinha e foram visitar os Beatles na casa em que eles estavam hospedados em Mulholland Drive. Assim que começaram a conversar com seus anfitriões, John Lennon explicou tudo com aquele seu estilo claro e contundente:
- "Deixa eu contar uma coisa para vocês. Só havia uma pessoa nos Estados Unidos da América que a gente queria conhecer. E nós a encontramos ontem à noite. Não posso dizer como nos sentimos. Nós o idolatrávamos demais. Quando chegamos na cidade, esses caras como Dean Martin e Frank Sinatra e todas essas pessoas queriam nos conhecer e ficar conosco simplesmente porque tínhamos todas as mulheres, todas as gatinhas. Não queremos encontrar essa gente. Eles não gostam de nós. E nós não os admiramos e nem gostamos deles também. A única pessoa que queríamos encontrar nos Estados Unidos da América era Elvis Presley. Não consigo contar a emoção que foi ontem à noite"
Artigo Escrito por Lu Gomes.
Textos publicados no site EPHP
ResponderExcluirCompilação: Pablo Aluísio.