Em setembro de 1948, os Presleys juntaram suas coisas, colocaram tudo num velho Plymouth 37 todo estropiado e foram para Memphis, a capital do Tenneesse. Mais tarde, Elvis contaria que sua família estava completamente na miséria e que Vernon esperava conseguir emprego na grande cidade. Esta súbita mudança de Estado, entretanto, foi conseqüência de outra infelicidade ocorrida com os Presleys. A polícia de Tupelo declarou aos compiladores do livro "All About Elvis", que Vernon Presley fora apanhado vendendo uísque fabricado ilegalmente e havia sido expulso da cidade. Assim, numa manhã ensolarada Elvis, Gladys e Vernon rumaram em direção a Memphis, na esperança de uma vida melhor. Em Memphis, os Presleys foram morar em Lauderdale Courts, um conjunto de prédios do governo Roosevelt para famílias de baixa renda, onde alugaram o apartamento 328, no primeiro andar do grande prédio em forma de C. Foi a sorte grande da família. Eles mudaram em maio de 1949, depois de passarem o inverno numa casa velha infestada de baratas, onde habitavam um único quarto e cozinhavam num fogareio. Agora, em Courts, eles pagavam o mesmo aluguel (35 dólares mensais) por um apartamento de dois cômodos e muito confortável.
O aluguel era pago de acordo com a seguinte fórmula: um mês de aluguel era igual a uma semana de salário, e quem ganhasse mais de 3 mil dólares anuais tinha que sair. Vernon Presley trabalhava como carregador e seu grande problema era ter uma mulher que raramente trabalhava, um filho muito jovem para trabalhar e uma mãe sem nenhuma intenção de arranjar seu primeiro emprego aos 54 anos de idade. Minnie Mae Presley havia ido morar com Vernon logo que esse conseguiu seu apartamento. Ela tinha se divorciado de Jessie Presley em 1947, depois de 34 anos de casada. Vernon sempre dizia que seu pai abandonou sua mãe, mas foi justamente o contrário. Quando se mudaram para seu novo lar Elvis estava quase completando o 9º grau na Humes HIgh School, um colégio vocacional na rua Manassas, a vinte minutos de caminhada de Lauderdale Courts. Gladys só deixou Elvis sair sozinho para brincar sozinho quando ele tinha 15 anos. Mas, mesmo assim, não podia ir muito longe.
Foi quando Elvis começou a sair com uma garota magrinha chamada Betty McMann, sua vizinha do terceiro andar. O par namorou por quase um ano, saindo todo sábado à tarde para ir ao cinema. Betty preferia dançar no salão da igreja St. Mary, mas jamais conseguiu fazer com que seu namorado aprendesse o dois-pra-lá-dois-pra-cá. Elvis era uma dessas pessoas que só sabiam dançar sozinhas. De noite, quando o tempo estava quente, Elvis sentava-se nas escadas do prédio depois do jantar, e entretinha seus vizinhos cantando e tocando violão. Todos gostavam de ouvi-lo e davam a maior força, mas ele era muito tímido. Nas festas por exemplo, Elvis insistia em só cantar quando todas as luzes estivessem apagadas. Durante essas sessões ele descobriu Bette Wardlow, 13 anos, alta e bonita, que também morava no 3º andar. Mas Billie era muito diferente de Betty. Enquanto esta última preferia ir ao baile, mas se contentava com um cineminha, Billie só queria o melhor, e insistia em freqüentar o salão de festas da igreja e dançar com os pracinhas, já que Elvis não sabia. Essa atitude logo pós fim ao romance. Elvis não gostava nada de ver Billie nos braços de outro rapaz. Quando chegou a hora da despedida, ele tinha lágrimas nos olhos: "Billie" - disse Elvis - "eu ia pedir para você se casar comigo". Detalhe: Elvis só tinha 16 anos de idade!
Elvis estava agora com 16 anos. Nunca mais durante seu período escolar, ele se envolveria seriamente com outra garota. Pior ainda: ele começou a sofrer crises emocionais , manifestadas através de pesadelos e ataques de sonambulismo. Toda noite, enquanto dormia no sofá da sala, ele gritava, suava e saía andando, pelo prédio, acordando todo mundo. Qualquer família comum que visse o filho nesse estado, levaria-o ao médico imediatamente. Mas os Presleys não eram pessoas comuns - eram caipiras, uma gente acostumada com o estranho e o inexplicável. Assim, associaram o comportamento de Elvis com os pesadelos que seu pai também tinha, e concluíram que isso era hereditário e simplesmente inevitável. Elvis também começou a ter problemas na escola, por causa da primeira grande manifestação de seu gênio criador. Num dia de verão em 1951, ele decidiu finalmente mudar o penteado do cabelo, depois de muitas experiências anteriores.
Billie Wardlow recorda-se de que, certa vez, ela foi à casa do namorado depois da escola e viu sua mãe lhe fazendo um permanente. Outra vez, Billie levou um susto quando Elvis apareceu com um penteado estilo moicano, uma faixa de cabelo correndo pelo meio da cabeça, igual à moda punk atual. Agora, todas essas experiências iriam conduzi-lo a criação de uma obra prima. Elvis foi até o salão de beleza e mandou o atônico cabeleireiro cortar seu cabelo no estilo "Tony Curtis", que tinha visto num filme. Também já tinha deixado suas costeletas crescerem. Como seu cabelo não parava no lugar, ele comprou uma lata de Royal Crown, uma brilhantina muito popular entre os negros. E, de tanto usá-la seu cabelo loiro começou a escurecer. Só faltavam as roupas: camisas em cores brilhantes e calças pretas com frizos verde-limão ou amarelos (sua fase rosa e preto só aconteceria aos 20 anos). Estava pronto o visual. Essa metamorfose marca o verdadeiro início de sua carreira como herói da cultura pop.
Embora ele estivesse há anos do rock'n'roll e da Sun Records, já estava muito próximo da clássica imagem de Elvis Presley. Quando voltou à escola no verão, todo mundo caiu matando em cima dele. Mas, apesar de toda a pressão, Elvis não mudou seu visual. Sua recusa em se conformar e voltar a ser o que era antes, tem sido glorificada há décadas como o primeiro grande ato de rebeldia do Rock'n'Roll, essa nova música que em breve iria tomar conta da América e do mundo.
Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio.
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