Data: 1976 / Local: Dallas / Texto: Lu Gomes / Photo: RCA Victor.
Retiro na Elvis Presley Boulevard
Caso estivesse num astral romântico, Elvis gostava de ouvir o velho ator Charles Boyer declamar versos sntimentalóides sobre um fundo musical Hollywoodiano: "Se o coração é o lugar de onde vem o amor / Então para onde vai o amor quando se morre? / De volta ao coração de onde veio / Ou se transforma em lágrimas nos olhos?" Depois de mais alguns versos com pensamentos tão profundos como estes, um coro virginal invadia o sistema de som quadrafônico, os violinos subiam em crescendo e a música torna-se estratosférica e muito adequada para curtir uma dor de cotovelo sob efeito de drogas.
Deitado no sofá da sua sala de estar que mais parece o hall de um hotel havaiano, escutando enlevado as açucaradas poesias recitadas pela voz profunda e ressonante de Charlers Boyer e completamente entupido de narcóticos, assim devemos imaginar o Rei do Rock curtindo seus momentos de ócio no período final de sua vida. A única coisa que tirava Elvis desse eterno torpor era a necessidade de voltar à estrada para cumprir seus contratos. Nessa altura de sua vida as viagens já haviam se tornado um farto na vida do cantor, pois viajar já não lhe trazia mais nenhum prazer. Para diminuir o desconforto da estrada, Elvis logo comprou um avião particular. Presley gabava-se de ser o único artista do mundo a possuir seu próprio jato de quatro turbinas batizado de Lisa Marie em homenagem à sua filha. Esse avião foi adquirido para comemorar seu 40º aniversário e sua intenção era voar numa réplica do Air Force One, o Boeing 707 do presidente dos Estados Unidos. Por pouco mais de 1 milhão de dólares, Elvis comprou e redecorou a seu gosto um Convair 880, que transportava 96 passageiros quando em operação pela Delta Airlines.
Quando se olha para o Lisa Marie, lembra-se imediatamente do Air Force One, com aquelas faixas azul e vermelha atravessando o avião branco de cabo a rabo. Mas o interior do Lisa Marie não tem nada a ver com o avião presidencial: dividido em três seções principais, na frente fica a sala de estar e recreação, com sofás e mesas para jogos, televisores e um sistema de som quadrafônico de 15 mil dólares. No meio fica a sala de jantar ou de conferências, com uma grande mesa rodeada por seis poltronas tipo espacial. Esta sala é também um centro de comunicações, contando inclusive com um telefone capaz de fazer ligações para qualquer lugar do planeta. Na parte traseira, onde pode embarcar e desembarcar sem ser visto, fica o compartimento mais importante do avião: o apartamento de Elvis, uma versão aerotransportada de seu quarto e banheiro de Graceland, totalmente decorado em tons azul e com todas as comodidades encontradas na mansão.
Como aquele garoto doente que só podia sobreviver dentro de uma bolha de plástico, Elvis parecia incapaz de viver fora de seu habitat artificial. Enquanto o majestoso avião cruza os céus dos Estados Unidos em direção ao deserto de Nevada, os controladores de tráfego aéreo dos aeroportos vão saudando o Rei do Rock'n'Roll por onde ele passa: "Alô oitenta Eco Papa!...Como gostaríamos de estar aí com vocês...Diga a Elvis que nós o amamos!".
Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio.
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