A morte do ator Gene Wilder no último dia 29 de agosto fez com que todos lembrassem de sua inesquecível interpretação de Willy Wonka no clássico "A Fantástica Fábrica de Chocolate" de 1970. O filme, um dos campeões de exibição na TV brasileira, realmente trazia um daqueles momentos vitais na carreira de qualquer ator, porém Wilder teve uma carreira muito mais interessante do que muitos possam imaginar inicialmente.
O ator nasceu em uma família de imigrantes judeus nos Estados Unidos. Não havia qualquer tipo de tradição familiar no mundo das artes, mas Wilder, um grande fã de cinema e teatro, decidiu bem jovem que queria ser um ator dramático, como Marlon Brando que admirava desde a juventude. Assim ele começou a procurar escolas de arte dramática em Milwaukee, onde nasceu. As oportunidades porém era poucas e raras. Além disso, mesmo que se formasse em alguma universidade ou escola da região para ser ator não haveria mesmo muitas oportunidades de trabalho em sua terra natal. Era preciso ir embora atrás de seus sonhos. Sua saída seria ir morar em Nova Iorque onde estavam as melhores escolas de formação de atores dos Estados Unidos.
Na grande cidade Wilder conseguiu ser aceito no prestigiado Actors Studio, a mesma escola de arte dramática que Marlon Brando havia estudado vinte anos antes. Pelo visto seus planos de se tornar um grande ator estavam dando muito certo. Porém nas aulas seus professores descobriram que o grande talento de Wilder não vinha dos textos dramáticos, mas sim do humor. Ele tinha um grande talento para a comédia, além disso suas feições (com grandes e expressivos olhos) pareciam adequados para personagens que exploravam essa característica. Precisando trabalhar e convencido dos argumentos de seus mestres Wilder resolveu então apostar nessa linha de atuação. Ele seria comediante.
Sob um ponto de vista crítico Wilder realmente teve muita sorte na carreira. Logo em um de seus primeiros filmes, o clássico "Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas", ele teve uma pequena, mas marcante participação, que logo chamou a atenção dos produtores de Hollywood. Sua amizade pessoal com a atriz Anne Bancroft também lhe ajudou muito. Esposa do diretor Mel Brooks, Anne conseguiu que Gene fosse escalado para outro filme marcante da época, a adaptação para o cinema do clássico teatral "Primavera Para Hitler". O sucesso de público e crítica abriu ainda mais as portas da indústria para Wilder que a partir daí teria a fase mais bem sucedida de toda a sua carreira. Por esse filme também ganhou sua primeira indicação ao Oscar, um feito e tanto para alguém que mal começara a atuar no cinema.
"A Fantástica Fábrica de Chocolate" de Mel Stuart acabou transformando Wilder em um astro. O filme, uma fábula divertida e ao mesmo tempo delicada e emocional, sobre um pobre jovem que conseguia tirar a sorte grande ao achar um convite para conhecer a famosa fábrica de chocolates de sua cidade natal, mudando sua vida para sempre, é ainda hoje considerado um dos melhores filmes já realizados no gênero. Wilder tinha um carinho muito especial pelo filme, sempre destacando que aquele havia sido realmente um ponto de mudança completa em sua filmografia.
Depois de dar vida ao inesquecível Willy Wonka, Wilder deu prosseguimento em sua excelente e muito produtiva parceria ao lado do diretor Mel Brooks, que o adotou como ator símbolo de seus filmes. Ao lado do cineasta, Wilder rodou grandes sucessos de público e crítica como "Banzé no Oeste" (uma divertida sátira ao western americano) e "O Jovem Frankenstein" (outra sátira, só que dirigida aos filmes de terror). Esse último filme aliás trouxe uma surpresa e tanto para Wilder quando acabou sendo indicado ao Oscar por seu roteiro (que ajudou a escrever junto ao diretor Brooks). E ele não pararia por aí. Com Woody Allen rodou uma participação impagável em "Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo E Tinha Medo de Perguntar", uma das melhores comédias do diretor.
Gene Wilder também se aventurou na direção com ótimos resultados. Dirigiu filmes tão interessantes como "O Irmão mais Esperto de Sherlock Holmes" (ótima brincadeira com o famoso personagem detetive) e "A Dama de Vermelho" (provavelmente seu filme mais lembrado como diretor, aproveitando a beleza da atriz Kelly LeBrock). Depois de mais uma divertida comédia, "Lua de Mel Assombrada", Wilder resolve se afastar do cinema, devastado pela morte da esposa por um agressivo câncer.
Depois dessa tragédia pessoal o ator passou por momentos complicados em sua vida pessoal, desenvolvendo uma depressão que o acompanhou por muitos anos. Só aceitou voltar a trabalhar em pequenos projetos, comédias menos pretensiosas, geralmente ao lado do amigo e comediante Richard Pryor. São dessa fase fitas como "Cegos, Surdos e Loucos!" e "Um Sem Juízo, Outro Sem Razão". Nenhum desses filmes era exatamente um clássico, mas serviam para deixar Wilder em cartaz, trabalhando. Em 1991 Wilder deixou o cinema para sempre, só voltando a atuar em pequenas participações eventuais e esporádicas em séries e pequenos telefilmes. O ator considerava concluída sua carreira. Ela já havia feito (e muito) pela sétima arte. Disso certamente ninguém iria discordar.
Pablo Aluísio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário