sábado, 3 de novembro de 2007

Yul Brynner

Poucos sabem, mas o ator Yul Brynner era na verdade russo de nascimento. Ele nasceu em distantes ilhas localizadas na costa de Vladivostok (no extremo oriente do país) em julho de 1920. Sua família era tradicionalmente nômade, o que fez com que Yul tenha morado em vários países até a adolescência. Com poucos anos de vida seus pais resolveram ir embora da Rússia, passando alguns anos na China. Lá Brynner aprenderia a língua local (no final da vida ele falaria fluentemente russo, mandarim, francês e inglês). Foi um período bastante rico em termos culturais para o jovem russo Yuli Borisovich (seu nome real).

Depois de cinco anos nova mudança, dessa vez para a França. Em Paris Yuli se interessou no mundo das artes. Ele começou como artista de circo, músico, pintor e depois encontrou um bom emprego como radialista numa estação francesa que passava um programa apenas com músicas russas e eslavas. Era uma programação voltada exclusivamente para imigrantes russos. Sua boa voz e postura o fez ser convidado para fazer o programa da Voz da América em russo na cidade de Nova Iorque. Ir para os Estados Unidos lhe pareceu uma boa ideia e assim ele resolveu embarcar nessa aventura. Mal sabia que uma nova vida lhe esperava na América.

Trabalhando como locutor ele tinha muito tempo livre que aproveitou para aprender uma nova profissão: a de ator de teatro. Nova Iorque tinha um cenário teatral muito rico, principalmente na Broadway, e Yuli percebeu que poderia vencer nesse meio. Trocou o nome para Yul Brynner e foi à luta em busca de papéis na cidade. Tirou a sorte grande ao estrelar a peça "O Rei e Eu", grande sucesso na Broadway. Como artista nato convenceu plenamente e arrancou elogios por sua atuação como o Rei Mongkut de Sião.

A partir daí as portas de Hollywood lhe foram abertas. Embora tenha atuado em algumas séries e teleteatros, sua estreia nas telas de cinema foi considerada arrebatadora. Uma versão de "O Rei e Eu", dirigida por Walter Lang, com Deborah Kerr no elenco, se tornou também um grande sucesso de público e crítica. O filme foi premiado em cinco categorias no Oscar, inclusive a de Melhor Ator para Brynner, o que o transformou em astro precocemente. Mal atuava em seu primeiro filme e já se firmara entre os grandes nomes da capital do cinema americano.

Por causa de seu tipo físico, bem oriental e exótico, além do domínio de várias línguas, o astro viu sua carreira decolar, principalmente estrelando épicos históricos e bíblicos. Interpretou o grande faraó Ramsés II em "Os Dez Mandamentos", o General Sergei Pavlovich Bounine em "Anastácia, A Princesa Esquecida" e Dmitri Karamazov em "Os Irmãos Karamazov". Como se isso não bastasse brilhou ainda como o Rei Salomão no clássico "Salomão e a Rainha de Sabá". Hollywood parecia aos seus pés nessa fase de grande sucesso comercial e artístico.

Seu grande sucesso de bilheteria porém viria em um faroeste. Interpretando o pistoleiro vestido de negro Chris Larabee Adams em "Sete Homens e um Destino", Brynner viu seu cachê ficar entre os 10 mais caros de Hollywood. Depois vieram novos filmes, de gêneros bem variados, passando por aventuras de capa e espada, dramas sensíveis e até mesmo uma estranha ficção onde interpretava um cowboy robô chamada "Westworld - Onde Ninguém Tem Alma". No total atuou em mais de 45 filmes ao longo da carreira.

Fumante inveterado acabou contraindo um agressivo câncer de pulmão. Para conscientizar a geração mais jovem resolveu gravar um depoimento nos últimos dias de vida em que declamava o seguinte texto: "Quando vocês estiverem assistindo a essa fita já terei partido desse mundo. Poderia ter vivido com saúde ainda por muito anos pela frente não fosse o maldito vício que tive ao longo da minha vida pelo fumo. O cigarro me trouxe um câncer do qual não conseguirei sobreviver. Por isso aconselho aos mais jovens que nunca fumem. Aos que fumam aconselho que parem imediatamente. Digo isso porque eu não desejaria ao meu pior inimigo as dores que estou sofrendo. Não quero que ninguém passe por aquilo que estou passando". Ele morreria dez dias depois de gravar esse depoimento, em outubro de 1985, aos 65 anos de idade.

Pablo Aluísio.

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