segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

The Doors - Morrison Hotel

Em 1970 Jim Morrison já tinha ultrapassado todos os limites. Ele já havia sido preso, processado e execrado pela mídia por causa de alguns concertos muito loucos que havia feito ao lado de sua banda. Não havia mais espaço para a inocência. Quando não estava sendo massacrado pela imprensa ou prestando depoimento em algum tribunal, Jim procurava relaxar. Seu lugar preferido para isso era o bar mais próximo. Quanto mais vagabundo fosse o boteco, melhor para Jim. Ele adorava passar horas e horas ouvindo blues, bebendo muito, nesse tipo de lugar. E foi em um desses bares que ele teve duas ideias que pareciam brilhantes: um disco mais visceral, cru, com muitos blues intitulado simplesmente "Morrison Hotel", justamente o mesmo nome de um dos botequins que Jim mais apreciava.

Os Doors estavam mesmo precisando cumprir seus contratos com a gravadora. Desde que Jim tinha se metido em apuros legais, ele não havia entrado mais em estúdio. A lata estava vazia! O problema para os produtores era conseguir levar Jim para trabalhar sem que ele estivesse completamente bêbado ou narcotizado. Como seu lema preferido dizia: "Os excessos levam aos palácios da sabedoria". Pelos excessos que tinha cometido certamente, naquela altura de sua vida, Jim já poderia se considerar um sábio! De uma forma ou outra Jim prometeu cumprir o contrato, procurando beber menos durante a semana de gravações do novo álbum (algo que cumpriu apenas em parte pois em algumas faixas o ouvinte podia notar claramente que Jim estava embriagado!). Assim uma semana antes de entrar em estúdio Jim e os Doors se encontraram para os primeiros ensaios. Morrison havia escrito algumas letras, adaptado até mesmo velhos poemas de sua autoria. Como sempre o material era de primeira. Meio ao acaso, administrando o caos, então os Doors começaram a dar os primeiros acordes. O novo disco estava prestes a ser produzido.
 
O álbum "Morrison Hotel" começa com aquele que considero o melhor blues dos Doors, "Roadhouse Blues"! Que grande gravação! Dentro dos estúdios, quando os Doors se entrosavam completamente, eles conseguiam o melhor em termos musicais. Essa faixa é certamente uma das melhores da discografia do grupo, porém uma ressalva é importante. Embora seja uma das melhores gravações dos Doors, a melhor versão de "Roadhouse Blues" não está nesse disco. Uma versão ao vivo, maravilhosa, foi descoberta anos depois. Quem adquiriu o CD com a trilha sonora do filme "The Doors" de Oliver Stone certamente saberá do que estou escrevendo. Essa "Live Version" é seguramente a melhor performance do grupo interpretando esse blues. Contando com o calor e reação do público presente no concerto, esse é seguramente o auge dos Doors em relação a essa música. A Warner Music (atual detentora dos direitos autorais dos Doors) bem poderia lançar uma versão Luxe de "Morrison Hotel" com essa faixa. Ficaria perfeito. "Land Ho!" foi uma parceria entre Jim Morrison e o guitarrista Robby Krieger. Dentro dos Doors eles tinham uma amizade especial. Krieger sempre foi um cara na dele, introspectivo, até mesmo tímido. Morrison gostava muito dele. Ao contrário de sua relação ruim com o baterista John Densmore, Jim apreciava a companhia e a presença de Krieger ao seu lado. Desses encontros, geralmente no apartamento de Morrison, surgiram composições como essa. "Land Ho!" é uma expressão que significa "Terra à Vista!", sempre dita por marinheiros quando encontravam terra firme. A letra é uma referência indireta ao próprio pai de Jim, que era da Marinha dos Estados Unidos. Claro que para disfarçar um pouco Jim diz na letra que seu avô era um baleeiro, em um universo de ficção, porém fica óbvio desde os primeiros versos a associação com o velho pai. Eles sempre tiveram uma relação muito complicada, a ponto de certa vez Jim mentir durante uma entrevista dizendo que ele estava morto!

"The Spy" por sua vez tem uma carga erótica muito grande, embora quase ninguém tenha percebido isso ao ouvir a canção pela primeira vez. Jim Morrison tinha grande habilidade nas letras, conseguindo transmitir mensagens em linguagem cifrada que poucos conseguiam compreender de imediato. Versos como "Eu sou um espião na casa do amor" não eram tão inocentes como inicialmente poderiam soar. Para pessoas próximas Jim explicou que a letra havia sido escrita após uma aventura sexual pelas noites de Los Angeles (provavelmente com uma prostituta). Para que Pamela, a garota de Jim, não pirasse, ele resolveu colocar tudo sob um véu de metáforas, algumas parecendo simples banalidades românticas. Ficou bonita, com melodia envolvente. A primeira vez que ouvi "You Make Me Real" eu pensei comigo mesmo que essa canção era alegre demais para ter saído da pena de Jim Morrison. Realmente, o verdadeiro autor desse momento pra cima era o guitarrista Robby Krieger. Ele a compôs após um encontro com uma garota que estava apaixonado há muitos anos. Por isso o tom para cima, contagiante, como se alguém realmente comemorasse aquela noite. Algum tempo depois Jim declarou: "Eu nunca escrevi nem uma linha para You Make Me Real. Acho que Robbie colocou meu nome na autoria da música por amizade ou misericórdia, ou ambos, quem sabe..."

O bom e velho Jim Morrison só retorna mesmo em "Ship of Fools", um blues acelerado que ele pensou enquanto estava em uma mesa de bar da periferia de Los Angeles. No meio dos seus delírios alcoólicos ele escreveu as primeiras linhas. Depois como era de hábito enviou o esboço com cheiro de vodka e maconha para o tecladista Ray Manzarek. Morrison, como todos os fãs sabem, era um grande letrista e poeta, porém não entendia nada de notas musicais ou harmonia. Seu método de trabalho era justamente esse, escrevendo a poesia da música para que depois Manzarek e os demais Doors se virassem para compor arranjos e melodia. O curioso é que como foi provado esse tipo de  parceria sempre funcionava bem."Queen of the Highway" é uma homenagem de Jim às mulheres que conhecia pelas noites de Los Angeles. Diretamente ele não assumia isso por causa de seu relacionamento com Pamela, mas todos sabiam que a rainha da Highway era um protótipo ou uma imagem das milhares de prostitutas que ficavam nas pistas de alta velocidade da cidade para arranjar seus clientes. Jim achava muito interessante o estilo e modo de vida daquelas moças. Durante uma conversa de bar ele chegou a dizer que havia feito a música em homenagem a todas essas mulheres que lutavam por sua sobrevivência nas noites da cidade. Jim as admirava e as respeitava, acima de tudo.

Outra canção que também falava sobre as ditas "garotas de vida fácil" era "Maggie M'Gill". Essa segunda música sobre prostitutas já era mais complicada de disfarçar pois Jim resolveu homenagear a Maggie, uma garota que fazia ponto perto do bar onde ele bebia todos os dias. A letra é direta. Maggie contou a Jim que era uma garota do interior que apanhava do pai alcoólatra. Assim resolveu deixar seu passado para trás e foi para as ruas de Los Angeles ganhar sua vida. Jim ouviu tudo atentamente e disse a Maggie: "Farei uma canção em sua homenagem no meu próximo disco!". Promessa que aliás cumpriu justamente aqui nesse álbum, "Morrison Hotel"."Indian Summer" não foi gravada nas mesmas sessões das outras canções desse álbum "Morrison Hotel". Na verdade essa era uma faixa que estava arquivada na Elektra Records desde o ano anterior. Deveria ter saído como single, mas ficou perdida, no limbo, sem espaço na discografia oficial da banda. Antes que surgisse na praça em algum disco pirata acabou sendo encaixada aqui no disco. Não é um blues como as demais canções. É uma bela balada escrita por Robby Krieger que mais uma vez foi generoso, colocando Jim como parceiro na composição.

Outra que também não fez parte das sessões originais do "Morrison Hotel" foi "Waiting for The Sun". Essa destoa muito das outras músicas desse álbum. Ela foi gravada originalmente em 1968 e sabe-se lá a razão ficou pegando poeira nos arquivos da gravadora em Nova Iorque por dois anos! É uma composição que foi creditada a todos os membros do grupo  (John Densmore, Robby Krieger, Ray Manzarek e Jim Morrison), embora saiba-se que os que mais contribuíram mesmo para sua elaboração tenham sido Manzarek, Krieger (nos arranjos) e Morrison (na letra e nos versos). Sinceramente falando não gosto muito dessa música porque ela quebra o ritmo de "Morrison Hotel", se mostrando bem fora de rota mesmo da linha dorsal melódica desse disco."Peace Frog" por outro lado traz uma das melhores melodias do disco. Puro swing. Essa é mais uma criação do guitarrista Robbie Krieger que a compôs com sua guitarra (nada de violão ou piano). Por isso se nota o intenso uso do instrumento durante toda a execução. Curiosamente a voz de Morrison foi gravada em dois canais diferentes, dando a impressão de que ele também realiza os vocais de apoio a ele mesmo! Há até espaço para Jim declamar um verso de um de seus poemas. Outro aspecto digno de nota é que a fita original de gravação apresentou um pequeno defeito, o que levou muitos a pensaram que a cópia de vinil que tinham comprado nas lojas estava com defeito de fabricação. Não era! Foi um problema do rolo de gravação dentro do estúdio mesmo. O grupo percebeu o problema técnico, mas o take havia ficado tão bom que foi lançado assim mesmo. A baladinha "Blue Sunday" não acrescenta muito. Jim, com a voz encharcada de álcool (e outras coisinhas mais) canta a canção com convicção, mas sem maior envolvimento. A letra é um tanto banal, o que nos leva a pensar que foi composta exclusivamente por Krieger, já que Jim não era adepto de letras pueris e banais em excesso. Ele sempre preferia o excesso, até mesmo o barroco em seus textos. Afinal era exatamente isso que o levava aos pilares da sabedoria!

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de dezembro de 2011

John Lennon, o Iconoclasta

Certa vez durante uma entrevista, em um raro momento de humildade (algo que convenhamos era raro em John) ele reconheceu que muitas vezes falava demais, além da conta. O entrevistador queria saber porque ele, John, sempre aparecia mais na imprensa do que seus colegas de banda. John explicou que ele falava demais e por isso havia a impressão de que ele era mais atuante que Paul, George e Ringo. Na verdade John não conseguia ver um microfone diante de si... em pouco tempo ele estava falando literalmente de tudo, do universo, das religiões e principalmente de política, algo que iria lhe trazer mais problemas do que soluções.

Certa vez vi uma entrevista de Paul McCartney dizendo que John muitas vezes se perdia e começava a falar bobagens em série. Era verdade. Sua frase "Os Beatles são mais populares do que Jesus Cristo" rendeu muitos problemas aos Beatles. Segundo explicou John depois que a confusão começou, ele apenas estava tentando explicar que para muitos jovens ingleses e americanos os Beatles tinha se tornado mais importantes em suas vidas do que as próprias religiões, o próprio cristianismo. Depois ele soltou a frase infeliz que iria surgir em manchetes pelo mundo afora. Muitos jovens, principalmente americanos batistas, promoveram grandes fogueiras para que outros jovens jogassem os discos dos Beatles nas chamas.

Inicialmente com pose de quem não estava nem aí para o que estava acontecendo, John teve que reconhecer que a coisa toda havia tomado proporções impensáveis. O novo single da banda não conseguia chegar mais ao primeiro lugar nos Estados Unidos e muitos analistas afirmaram que isso estava acontecendo simplesmente porque as rádios americanas estavam boicotando os Beatles. O empresário do grupo Brian Epstein então colocou John contra a parede - ele deveria ir a público explicar sua frase e principalmente se desculpar com os cristãos do mundo inteiro.

John assim o fez, mas as coisas nunca mais seriam como antes, essa é a verdade. Recuperar-se de algo assim não é uma coisa fácil de superar. Para piorar após a morte de Brian, John recomeçou as provocações contra o cristianismo. Na letra de "The Ballad of John And Yoko" ele usou um refrão claramente provocativo que dizia: "Do jeito que as coisas vão eles vão acabar me crucificando". E na carreira solo John se auto declarou ateu ao dizer numa de suas letras mais autorais de que não acreditava em Deus, nem em Elvis, nem nos Beatles, que ele só acreditaria mesmo nele mesmo e em Yoko. O curioso é que apesar do texto de sua própria letra John voltaria atrás de sua declaração ao dizer que "acreditava em uma força do universo" - uma forma dele reconhecer a existência de um criador. De uma maneira ou outra o Beatle jamais deixou de falar pelos cotovelos, mesmo a poucas semanas de sua morte. Além de falastrão John era também um iconoclasta, ou seja, tinha uma combinação explosiva dentro de si.

Pablo Aluísio.

Carrie Underwood - Blown Away

Pouca gente no Brasil conhece a cantora Carrie Underwood. Na verdade se trata de uma artista que, tirando os Estados Unidos, poucos países conhecem. Sim, ela é uma espécie de ídolo nacional dos WASPs. Também pudera, como vencedora do programa American Idol quem iria prestar atenção nela fora das fronteiras ianques? Pessoalmente já passei da época em minha vida de sair pesquisando sobre todo cantor ou cantora de que me chame a atenção. Em determinado ponto da sua vida haverá aqueles músicos que farão você gostar de uma ou outra música, ou até mesmo um CD inteiro, e isso definitivamente não significará que você sairá por aí atrás de maiores informações sobre sua vida e carreira. Como gosta de afirmar meu amigo Pablo Aluísio em determinado momento de nossas vidas chegamos na fase em que descobrimos que muito desse negócio de ser fã é coisa de adolescente e que a frase: "Chega de ídolos!" se torna um bom conselho, além de um chavão que deve ser seguido. Não somos mais garotos bobões! Já sou adulto mamãe!

Assim aqui vai algumas coisas que sei da Carrie: ela é loira bombshell, do tipo que os americanos adoram e tem uma boa voz que combina very bem com algumas canções que canta. Seu estilo está mais para pop-country, um sub-gênero que tem feito a cabeça da moçada jovem americana principalmente nos estados sulistas (entenda-se caipirada confederada). A grande maioria de suas músicas é assinada por ela mesma, mas isso significa pouca coisa pois todo mundo sabe que muitos desses artistas fabricados de hoje em dia compram composições de autores mortos de fome e as assinam como se fossem deles sem muita cerimônia. Money Talks! Tirando isso de lado gosto da loira, é aquele tipo de CD que eu toco no carro quando estou indo ao trabalho. Trânsito infernal já vou colocando a Carrie para cantar. É música de FM como diria os trintões da minha época. Hoje a moçada não sabe nem o que é rádio, imagine FM! Eu definitivamente também não vou me tornar em PHD em Carrie Underwood porque isso cansaria minha beleza nórdica. Assim quero apenas deixar a dica desse trabalho. Popzinho, inofensivo e bom de ouvir casualmente. Só não vá virar fã da moça, colocando posters dela pelo seu quarto porque isso seria definitivamente uma perda de tempo né garoto!

Pablo Aluísio.

sábado, 17 de dezembro de 2011

George Michael - Ladies & Gentlemen

Um CD duplo ideal para quem não tem paciência (ou simplesmente não quer) colecionar toda a discografia de George Michael. Esse é aquele tipo de artista que é muitas vezes prejudicado por aspectos de sua vida pessoal. Muitas pessoas infelizmente o deixaram de ouvir porque ele assumiu sua homossexualidade ou porque vira e mexe ele é explorado por jornais sensacionalistas ingleses que o retratam de forma muitas vezes pouco lisonjeira (para dizer o mínimo). Há tempos que deixei de idolatrar ídolos da música, afinal isso é coisa de adolescente, e por essa razão tenho me concentrado unicamente na música desses artistas.

Em relação a George Michael não importa se ele é gay, promíscuo e se envolve em situações constrangedoras a cada mês. O que vale mesmo a pena levar em conta é se ele produz música de qualidade e só! Até porque não estou atrás de ídolos, mas de boa música. Nesse ponto pode ficar tranquilo, pois como bem prova esse "Ladies & Gentlemen: The Best of George Michael" o astro não perdeu a mão em seu trabalho. George tem uma das melhores vozes do pop, tudo aliado a um refinado e bom gosto musical na seleção das canções que compõem esse trabalho. Em minha opinião George Michael deveria se concentrar cada vez mais em um repertório clássico, de grandes standards, pois ele tem o timbre ideal para isso. Sua vocalização é suave e ao mesmo tempo incrivelmente marcante, próprio para dar corpo a muitas dessas melodias do passado.

No total são 29 faixas, algumas pinceladas dos álbuns originais do cantor, outras remixadas ou remasterizadas para dar uma nova sonoridade e roupagem para as antigas gravações. Uma coisa que me chamou bastante a atenção foi que George Michael procurou não se concentrar apenas em seus grandes hits, mas sim em trazer para o ouvinte registros que ele considera realmente importantes em sua carreira. A seleção musical foi feita pelo próprio George Michael que desde o começo de sua carreira mantém controle quase absoluto sobre sua obra (mostrando que ele é bem esperto do ponto de vista corporativo). Assim ele mistura "Careless Whisper" e "Don't Let the Sun Go Down on Me", dois enormes sucessos radiofônicos, com momentos intimistas como "Desafinado" (sim, um dos maiores clássicos da bossa nova, composta por Antônio Carlos Jobim e seu parceiro Newton Mendonça). Essa gravação é surpreendente por vários motivos. Além de ser cantada em português, o cantor não escorrega no sotaque, apresentando um português (quase) perfeito. Credito isso aos longos períodos que passou no Brasil pois não é segredo para ninguém que um dos grandes amores de sua vida foi um namorado brasileiro que infelizmente morreu de AIDS. Enfim é isso, eis um bom presente de natal para pessoas queridas e próximas, afinal se elas forem pessoas de bom gosto musical certamente curtirão a lembrança.

Pablo Aluísio.

Bing Crosby - White Christmas

Época de natal! De repente você sente aquela vontade de ouvir músicas natalinas. Certo, muitas pessoas (com razão) não aguentam canções de natal por achar o material de maneira em geral muito brega e piegas. De certa forma praticamente noventa por cento é ruim de doer mesmo. Deixemos essa porcariada de lado. Vamos nos focar nos grandes clássicos de natal. Dentre eles talvez nenhuma música supere em importância e relevância a imortal "White Christmas". Essa canção é tão importante do ponto de vista cultural e comercial que é impossível não a ouvir sendo tocada em algum lugar durante esse período de festas. Do ponto de vista puramente musical ela tem um pedigree incrível pois foi escrita pelo genial Irving Berlin. Sua inspiração veio dos natais de sua infância, quando passou momentos inesquecíveis ao lado de seus pais. Aquele sentimento que provou quando era apenas um garoto jamais o abandonou. Curiosamente ele não tinha planos de compor a canção. Ele estava há dias compondo músicas para um editor de Nova Iorque quando parou para tomar um pouco de café. Entre um gole e outro, as notas foram surgindo em sua mente. Era época de natal então foi mesmo um encontro entre uma casualidade e uma época especial que acabou dando origem a uma obra prima.

A partitura acabou caindo nas mãos de Bing Crosby. Era 1942 e o mundo passava pelo trauma da II Guerra Mundial. Crosby queria gravar algo para os militares que estavam longe de casa, em trincheiras congeladas na Europa. Assim que ouviu "White Christmas" decidiu que aquela era a música que tanto procurava. No estúdio Crosby colocou o coração na ponta do microfone e criou um registro único e inesquecível. Ao seu lado músicos talentosos fizeram também sua parte. O acompanhamento vocal ficou com as delicadas garotas do Ken Darby Singers. E na parte instrumental brilhou o talento de todos os grandes músicos da John Scott Trotter and His Orchestra. Crosby acreditou que estava prestando uma singela homenagem aos soldados que estavam lutando na guerra e não tinha a menor ideia do que iria acontecer. O single com duas canções no lado B ("Let's Start the New Year Right" e "God Rest Ye Merry Gentlemen") pintou nas lojas americanas no natal do mesmo ano e foi um fenômeno de vendas. Pela primeira vez na história da indústria fonográfica dos Estados Unidos um disco conseguia vender mais de cinco milhões de cópias. Depois com as reedições a canção foi batendo recordes e mais recordes de vendagens, todos os anos, e hoje estima-se que no total "White Christmas" vendeu mais de cem milhões de cópias ao redor do mundo (sim, você não leu errado, cem milhões!!!). Uma linda música que merece servir de trilha sonora para a noite de natal de cada lar formado por pessoas de bom gosto musical.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

The Doors - As Portas da Percepção

O lendário líder do grupo The Doors sempre estará envolto em mistérios. O rock sempre teve, em minha opinião, um lado negro, um aspecto enigmático, que nos causa a sensação de que há algo muito maior do que nós imaginamos. Essa é a impressão que tenho sobre o grupo de rock The Doors. Eu nunca os assisti ao vivo. Meu contato com a banda sempre veio através de seus discos e filmes. Em relação às composições posso dizer que são realmente geniais, um verdadeiro monumento musical. Se Jim Morrison fosse um automóvel ele certamente seria um Lamborghini clássico, daqueles bem raros e caros. Jim tinha um jeito único de compor e se apresentar. Era algo interessante, seu charme era também perigoso, tal como uma serpente que você sabe ser bela, mas que também pode lhe matar.

O ícone líder dos Doors só entrou no Rock and Roll Hall of Fame em 1993, talvez por ser perigoso demais. Ele era aquele tipo de cantor carismático que ofuscava todos os demais membros do grupo, tal como se fosse um Elvis Presley ou um Mick Jagger do rock psicodélico em fins dos anos 1960. É o tipo de artista que não lhe deixa com vergonha de admitir que é um verdadeiro ícone do rock em toda a sua essência. O legado de Jim Morrison não se resume porém aos seus discos ou gravações. Sua influência no comportamento e no modo de agir dos roqueiros foi profundo e visceral. Seus shows eram, conforme ele gostava de dizer, uma festa de amigos, de preferência sem convite nenhum, onde os tipos mais indigestos se encontravam para testar os limites da liberdade hedonista de seu tempo. Dentro da simbologia de Morrison existia justamente essa mensagem: a de que o excesso levaria aos portões da sabedoria. E Jim, provou com sua vida que acreditava plenamente nisso. Ele cometeu todos os excessos que você possa imaginar. Ganhou sabedoria? Seus escritos provam que sim, porém ele ganhou também uma passagem para o outro lado, como gostava de dizer e sondar.

Uma das coisas mais significativas da obra dos Doors é que eles nunca subestimaram seu público. Os Doors sabiam que como banda de rock iriam ter muitos jovens em sua platéia, mas isso não os furtavam de rechear suas letras de filosofia e teologia. Como eram universitários eles tinham uma bagagem intelectual acima da média e resolveram jogar tudo em suas letras (que também podem ser lidas tal como se fossem poemas, já que Jim também se considerava um poeta). Por isso o som dos Doors jamais vai deixar de tocar, nem que as portas da percepção um dia venham a ser fechadas.

The Doors ‎- Live In Miami 1969 - Todos que conhecem a história dos Doors sabem que Jim Morrison literalmente surtou em Miami. Ele estava bêbado e drogado quando seu grupo começou o show na cidade. Depois de algumas músicas tocadas sem o cantor - que era "ressuscitado" pelos promotores do evento nos bastidores - Jim adentrou ao palco com um enorme chapéu de cowboy, uma garrafa de whisky na mão e uma cabra! Coisa mais bizarra não poderia haver em um concerto de rock! E se você pensou que as loucuras pararam por aí, bom, não pararam! Jim começou a insultar o público, depois ameaçou tirar as calças até o chefe de polícia de Miami decidir que tudo aquilo tinha ido longe demais. Os policiais subiram ao palco e Jim foi preso ali mesmo, na frente de todo mundo! Esse caos completo foi registrado por poucas câmeras Super 8 e alguns fãs que gravaram tudo em seus equipamentos antigos (não se esqueça que estamos falando de 1969). Os registros amadores de toda essa confusão podem ser ouvidos aqui nesse CD. Não pense que ouvirá algo bom do ponto de vista musical. Na verdade o CD traz mesmo é o caos daquele desastroso concerto dos Doors. As poucas músicas tocadas corretamente o foram pelos demais membros da banda pois a partir do momento que Jim subiu ao palco a coisa toda saiu do controle. Caos é uma palavra amena demais para definir o que realmente aconteceu naquela noite em Miami.

The Doors ‎- Live In Miami 1969 
1 Back Door Man    
2 Five To One    
3 Touch Me    
4 Love Me Two Times    
5 When The Music's Over    
6 Wake Up    
7 Light My Fire

The Doors - Live At The Isle Of Wight Festival 1970 - Para quem gosta dos Doors está chegando nas lojas um DVD bem interessante. Trata-se de " Live At The Isle Of Wight Festival 1970" trazendo o concerto que o grupo fez no festival da ilha de Wight. Eu particularmente nunca gostei muito desse show. Jim Morrison, cheio de problemas pessoais, não parecia muito animado no concerto. Pendurado no microfone, como se fosse uma muleta, ele parecia nitidamente apenas cumprir uma obrigação. Não havia a mesma fúria de antes, dos tempos áureos do grupo. Aqui Jim parece mais preocupado em não causar problemas do que qualquer outra coisa. Ele estava sendo processado por causa de uma apresentação explosiva na Flórida, onde havia sido acusado de baixar as calças, mostrando seu pênis. Na Ilha de Wight ele se comportou, talvez em excesso. A boa notícia é que acabou cantando bem. Por isso gosto de dizer que esse show é melhor sendo ouvido do que assistido. Como CD ele funciona muito bem. Para assistir cai na monotonia várias vezes. A iluminação do palco também não ajuda, Imitando luzes de cabarets parisienses, tudo parece escuro demais, complicado de ver. Na penumbra o antigo Rei Lagarto virou um mero animal de estimação com coleira e tudo. Quem diria...

The Doors - Live At The Isle Of Wight Festival 1970
1. Roadhouse Blues / 2. Introductions / 3. Back Door Man / 4. Break On Through (To The Other Side) / 5. When The Music's Over / 6. Ship Of Fools / 7. Light My Fire / 8. The End / Across The Sea / Away In India / Crossroad Blues / Wake Up / Extras: 'This Is The End' - 17 minutos de entrevistas realizadas pelo diretor original do filme, MurrayLerner, vencedor do Oscar, com Krieger, Densmore e gerente original da Doors Bill Siddons.

Pablo Aluísio.

John Lennon - Os primeiros discos dos Beatles

Esse primeiro álbum dos Beatles foi gravado em poucas horas. Na época a EMI deu uma chance ao grupo, mas esse teria que se virar rapidamente, em poucas horas de estúdio, para finalizar os trabalhos. Nesse aspecto os anos em que eles davam duro em Hamburgo, na Alemanha. Se apresentando todos os dias, em shows longos, eles criaram a prática necessária para tocar bem, em poucos takes.

O resultado ficou muito bom, diríamos até mesmo histórico. O próprio John Lennon, que sempre havia sido um crítico mordaz dos primeiros discos dos Beatles até mesmo fez um mea culpa nos anos 70, quando morava em Nova Iorque. Ele reconheceu que "Please, Please Me" era bom, embora poderia ser melhor em sua opinião, caso eles tivessem mais experiência.

Ouvindo o disco nos dias de hoje podemos perceber que a opinião de Lennon era até bem válida, por causa do avanço que os Beatles iriam desenvolver nos anos seguintes. Comparada com os discos da segunda fase do grupo, de fato "Please, Please Me" parecia bem simples, até primitivo. Afinal não se conseguiria gravar um álbum com mais consistência numa época em que eles eram apenas quatro jovens, ainda deslumbrados pela oportunidade que estavam tendo em gravar um disco de estúdio. Era algo que nem eles acreditavam que um dia iria acontecer.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

John Lennon - Imagine (1971)

John Lennon - Imagine
Algumas músicas definem toda a carreira de um artista. De certa forma é justamente isso que acontece com "Imagine", a música símbolo de John Lennon. De estrutura bem elaborada, a letra transmite com bastante êxito um resumo (diria até mesmo didático) do pensamento do ex beatle. Obviamente a mensagem do cantor e compositor pode soar simplista demais frente aos problemas da sociedade, porém temos que levar em conta que se trata da filosofia de um poeta, que não era (e para falar nem devia) tentar solucionar os conflitos da humanidade de forma analítica e pormenorizada. De forma sutil Lennon investe contra os Estados (e sua inerente necessidade de lutar pelas fronteiras nacionais), a religião (e seus eternos conflitos ideológicos e dogmáticos) e propõe uma espécie de sociedade livre de preconceitos e divisões. Escapismo poético vazio? Pode até ser, mas até que funciona bem, até mesmo nos dias atuais. Interessante notar que o arranjo funciona muito bem pois a canção foi gravada tal como composta (basicamente voz e piano - com o uso de bateria acrescida posteriormente, além de uma singela e discreta orquestração ao fundo que foi muito bem colocada não tirando a atenção do ouvinte da simplicidade da canção e arranjo). Sem dúvida um bom trabalho do produtor Phil Spector (curiosamente Yoko Ono também foi creditada como "produtora" do LP).

Embora "Imagine" tenha entrado para a cultura popular de forma definitiva o resto do disco não parece ter alcançado o mesmo alcance. "Imagine" é aquele tipo de álbum com uma faixa de trabalho extremamente superiora ao resto do conjunto. Um ícone pop seguido por coadjuvantes sem grande brilho próprio. Analisando friamente o resto do disco chegamos facilmente na conclusão que apenas "Jealous Guy" conseguiu se sobressair nas paradas e ser conhecida do grande público (embora hoje em bem menor escala). O resto das músicas não conseguiu abrir seu próprio espaço caindo em um (até injusto) esquecimento musical. O incrível é que o LP ficou muitos anos em catálogo (até mesmo no Brasil) mas isso definitivamente não ajudou na popularização das demais canções. Só a título de comparação podemos citar "Plastic Ono Band", um álbum bem menos popular, que conseguiu no mínimo destacar 3 faixas fortes (Mother, God e Working Class Hero) enquanto "Imagine", em seu conjunto, só conseguiu mesmo se sobressair em duas delas.

Dentre as faixas remanescentes podemos destacar algumas boas canções e outras nem tanto. Entre as ruins temos "I Don´t Wanna Be a Soldier" cuja letra tem sua importância mas que é infelizmente embalada por uma melodia enjoativa e derivativa que não leva à canção a lugar nenhum. Lennon aqui entra em um redemoinho melódico, se perdendo completamente dentro dele, não conseguindo sair mais. Por isso essa é certamente uma das músicas menos inspiradas do ex beatle em sua carreira solo. As baladas são bem melhores. "Oh My Love" é sinceramente bem conduzida e tem uma melodia linda, tudo resultando em um belo momento do disco. Um pouco menos relevante está "How?" que em certos momentos parece entrar numa encruzilhada melódica, embora felizmente tenha sido salva por causa de seu bom refrão. Yoko Ono também ganha sua música de homenagem, o countryzinho "Oh Yoko", simples mas agradável em sua pegada despretensiosa de contagiante felicidade. Nesse conjunto de coadjuvantes o grande erro de Lennon realmente é a faixa "How do You Sleep?", uma música feita exclusivamente para provocar e ofender seu ex colega de banda, Paul McCartney. Além de feia (e mal produzida) a música destoa completamente do tema proposto da faixa título, pois ao mesmo tempo em que prega a paz em "Imagine" Lennon solta farpas em relação ao ex parceiro nessa letra cheia de ressentimentos. Como conciliar tamanha contradição? Bom, entender isso é como tentar entender a personalidade de Lennon, algo nem sempre fácil de decifrar.

Imagine (John Lennon) - Certa vez Paul McCartney disse que John Lennon era um gênio, mas não um santo. Ele tinha toda a razão do mundo. John Lennon sabia como poucos escrever e compor grandes músicas, realmente maravilhosas, mas passava longe de ser uma alma pura, santificada. Em muitos momentos ele poderia soar completamente hipócrita. Veja o caso de "Imagine" considerada por muitos como a sua grande música na carreira após o fim dos Beatles. Em frases muito bem escritas John propõe um mundo sem fronteiras, sem propriedades e até mesmo sem religiões. Em determinado trecho John canta a frase "Imagine não existir posses, sem necessidade de ganância, Imagine todas as pessoas compartilhando...". Ok, nada de errado, tudo muito bonito a não ser pelo fato de que Lennon era proprietário de fazendas enormes nos Estados Unidos com centenas de milhares de cabeças de gado, onde o acesso de pessoas estranhas era completamente proibido. E o que dizer de seus vários apartamentos de luxo na parte mais cara de Nova Iorque? Não há nenhum sinal de que ele um dia os tenha compartilhado com ninguém, a não ser Yoko Ono e seu filho. "Imagine não existir nenhuma religião", afirma a letra em outro trecho. Ora, John foi fiel seguidor do Hinduísmo, depois se aproximou bastante do Budismo a ponto de se auto declarar Zen Budista em uma de suas últimas entrevistas. Suas frases contra o cristianismo também lhe trouxe muitos problemas, demonstrando que o próprio John Lennon tinha alguns problemas com as religiões dos outros. Assim soa mais do que uma hipocrisia em falar algo nesse sentido e ao mesmo tempo usar do sentimento religioso das demais pessoas para atacá-las de alguma maneira. Além de contraditório é certamente uma grande hipocrisia. Mesmo assim a canção "Imagine" ainda é um belo momento de sua carreira. Embora em muitos aspectos ele fosse realmente um grande hipócrita o fato é que John continuava muito talentoso para compor letras e melodias maravilhosas. Como disse Paul ele poderia não ser um santo (e não era mesmo), mas pelo menos continuava a ser um gênio musical.

Crippled Inside (John Lennon) - "Crippled Inside" (literalmente "Aleijado por Dentro") cria uma imagem sobre a auto percepção de se estar emocionalmente abalado, doente da alma. Claro que nos dias atuais o uso da palavra "Crippled" (aleijado) iria despertar muitos protestos, por causa do mundo politicamente correto em que vivemos. Porém na época em que a música chegou no mercado isso não foi colocado em debate. Eu gosto bastante desses versos. São simples, diretos, possuem uma mensagem fácil de captar, até mesmo por quem não tem uma visão muito abstrata da vida sentimental. Basicamente Lennon afirma que não importa as diversas máscaras exteriores que você tente usar para esconder o que está sentindo por dentro, pois elas nunca vão funcionar. Não adiantaria assim colocar sua melhor roupa, usar seus melhores sapatos, arrumar seu cabelo, estampar o mais falso sorriso, nada disso iria importar no final das contas. Nada iria esconder o fato de que você estaria aleijado por dentro, em seu interior. John costumava dizer que não era um poeta com formação intelectual, pois não tinha estudado para isso. No fundo ele era apenas um artista popular que expressava da melhor forma possível aquilo que pensava e sentia. Essa canção, com sua mensagem sendo bem direta, é um exemplo perfeito do que ele quis dizer. John tinha realmente razão sobre isso.

Jealous Guy (John Lennon) - "Jealous Guy" chegou a ser lançada em single e de certo modo conseguiu uma boa resposta por parte de público e crítica. É interessante notar que Lennon, nessa fase solo de sua carreira, começou a escrever obsessivamente sobre si mesmo, seu mundo e seus relacionamentos. Obviamente ele estava perdidamente apaixonado pela artista plástica Yoko Ono e de certa forma ela acabou se tornando o tema principal de praticamente todas as suas composições. Musicalmente, em termos de arranjo, as músicas de Lennon em sua carreira solo eram econômicas. Nada dos arranjos bem elaborados da época dos Beatles. Afinal nem George Martin e nem Paul McCartney estavam ao seu lado para enriquecer melodicamente as gravações. Era um som mais cru. Assim o interessante é mesmo prestar atenção nas letras, todas, como disse, autorais. "Jealous Guy" é um grande pedido de desculpas para Yoko. Eles tiveram uma briga, John foi acusado de ser um cara ciumento e assim ele, reconhecendo seu erro, escreveu essa letra. A mensagem é bem direta, sem rodeios

It's So Hard (John Lennon) - Por fim a última canção do álbum composta por John foi a confessional "It's So Hard". Essa música trazia outra declaração bem pessoal do cantor, mostrando suas dificuldades de seguir em frente. Na época John tinha muitos problemas, o governo americano queria deportá-lo, a imprensa o ridicularizava, ele tinha conflitos com Yoko Ono e a Apple, a empresa dos Beatles, que deveria ser um sopro de vitalidade no mundo empresarial, tinha se tornado uma fonte de dores de cabeça, com muitos processos na justiça, desvios de dinheiro, histórias mal contadas e brigas pelo controle acionário. Tudo acabou sendo resumido na primeira estrofe da letra quando John escreveu: "Você tem que viver. Você tem que amar. Você tem que ser alguém. Você tem que se superar. Mas é tão difícil, é realmente difícil. Às vezes eu sinto vontade de desistir."

Don't Wanna Be A Soldier Mama I Don't Wanna Die (John Lennon) - Para não ficar tão feio para John, mais à frente no álbum ele encaixou a canção " I Don't Wanna Be A Soldier Mama, I Don't Wanna Die" cuja letra era clara e direta, como convinha a John na época. A música intitulada "Eu não quero ser um soldado, mãe, eu não quero morrer" era obviamente uma mensagem contra a Guerra do Vietnã que na época estava no auge, com milhares de militares americanos sendo enviados para as florestas asiáticas para morrerem em uma guerra que nem eles mesmos entendiam direito. O curioso é que inicialmente bem recebida pela crítica americana logo começaram as represálias contra John. O governo de Richard Nixon considerou a música uma clara ofensa aos valores patrióticos da nação. John, por ser inglês e não ter ainda o green card (que lhe daria a nacionalidade norte-americana) logo virou alvo de um processo de deportação. Era considerado uma persona non grata pelo governo Nixon. Parte da imprensa americana também se virou contra ele, chegando ao ponto de eleger Lennon "O Palhaço do Ano". Como tinha o espírito de brigar por aquilo que acreditava logo Lennon comprou a briga, dando origem a uma luta que durou anos para ter o direito de viver e morar nos Estados Unidos.

Give me Some Truth (John Lennon) - Já em "Give me Some Truth" John pedia um pouco de verdade. Não era novidade para ninguém que John estava farto das mentiras dos políticos, da imprensa, dos ricos e poderosos. Assim ele compôs essa canção pedindo, na verdade clamando, por um pouco de verdade no mundo. O estilo era novamente bem direto, sem meias palavras. Chamando os políticos de suínos, Lennon destroçava o poder de manipulação da verdade dentro da sociedade. Essa é uma das letras mais polêmicas de John em "Imagine", Nos versos finais ele não apenas pede pela verdade, mas também por dinheiro para comprar drogas e uma corda! (uma óbvia referência ao suicídio). Não é a toa que Kurt Cobain do Nirvana considerava essa letra uma das melhores de Lennon em sua discografia solo. Essa porém não foi a opinião da crítica inglesa da época de lançamento do disco. Para muitos Lennon havia ido longe demais... Mal sabiam eles o que estaria por vir nos anos seguintes...

Oh My Love (John Lennon) - Como era de praxe também não faltou outra exaltação a Yoko Ono em "Oh My Love". É curioso que havia uma dualidade bem escondida ao público em relação ao relacionamento entre John e Yoko. Para o público, em canções como essa, John passava a imagem de estar vivendo o maior amor romântico do século. Não era verdade. O caso amoroso entre ele e Yoko tinha muitos problemas. Tantos que poucos meses depois da gravação de canções como essa, Yoko simplesmente deixou John. Foi dar um tempo. Não aguentava mais o estilo de vida dele, sua personalidade irascível e seus comportamentos doentios (como o abuso de drogas como a famigerada heroína).

How Do You Sleep? (John Lennon) - John Lennon era um sujeito bem contraditório. No mesmo álbum em que ele lançou o clássico da paz "Imagine" ele resolveu incluir uma canção que de pacífica não tinha nada. "How Do You Sleep?" havia sido composta para afrontar e agredir seu ex-companheiro dos Beatles, Paul McCartney. Ambos estavam se processando, o clima não era bom, John e Paul trocavam farpas pela imprensa e assim Lennon resolveu destroçar o antigo colega em uma canção que tinha apenas um objetivo: falar mal de Paul. "How Do You Sleep?" é apenas isso. Uma longa e agressiva indireta (ou melhor dizendo, direta mesmo) mensagem contra Paul McCartney. E o lado que John resolveu atacar foi o profissional. Entre outras coisas Lennon colocou em sua letra que a única coisa boa que Paul havia feito em sua carreira musical havia sido a canção "Yesterday". Obviamente um absurdo e uma mentira, mas John não quis saber, partiu para o ataque, deixando sua mensagem de "Imagine" no vácuo! Afinal como alguém poderia pregar tanto pacifismo em uma faixa para depois destruir seu próprio amigo e companheiro de banda? No mínimo uma contradição.

How? (John Lennon) - Finalizando a análise do álbum "Imagine" de John Lennon vamos tecer alguns comentários sobre as demais canções do disco. Como se sabe Lennon quis com esse lançamento voltar a ser um artista comercialmente bem sucedido. Seus primeiros LPs venderam mal e a crítica também não gostou muito. Assim John queria provar para a indústria fonográfica que ele ainda podia ser um artista de sucesso. Mesmo tentando voltar ao topo John também não abriu mão de continuar sendo bem autoral e sincero nas letras. Em "How?" ele aproveitou para desfilar uma série de questionamento existenciais que tinha em sua mente. A letra abre justamente com uma indagação sobre os próprios rumos de sua vida. De forma aberta John perguntava: "Como eu posso seguir em frente quando não sei que caminho escolher?"

Oh Yoko! (John Lennon) - O álbum "Imagine" segue em frente com a faixa "Oh Yoko!". Bom, desnecessário comentar muito. O título é auto explicativo. É mais uma música feita em homenagem à diva suprema de Lennon, Yoko Ono. Esse romance não foi dos mais tranquilos. A imprensa britânica não gostava de Yoko que para eles era apenas mais uma japonesa esquisita e bizarra. Lennon, que era bom de briga, também comprou um atrito com jornalistas ingleses, defendendo Yoko sempre que possível. E assim foi também em seus álbuns. Uma das críticas que jornais ingleses tinham feito em relação a John é que ele se mostrava muito submisso e dependente de Yoko após se apaixonar por ela. Assim John fez uma letra que era ao mesmo tempo uma afirmação sobre isso e uma auto paródia. Nela John surge sempre chamando Yoko, não importando o que estivesse fazendo: no banho, fazendo a barba, no meio de uma nuvem, ele sempre chamaria por Yoko! Pois é...

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

John Lennon e a Heroína

John Lennon e a Heroína - Um fato interessante revelado no livro "A Batalha pela Alma dos Beatles" do autor Peter Doggett, mostra ao leitor como John Lennon estava debilitado física e emocionalmente depois de anos de abuso da terrível droga chamada Heroína. Desde a fase final do grupo John já não conseguia mais compor ou cantar com a mesma qualidade, simplesmente porque passava por longos períodos de abuso de drogas.

É interessante que de todos os membros dos Beatles ele foi aquele que caiu mais fundo nas drogas. Seu estado era tão precário que em determinado momento sua esposa Yoko Ono resolveu fretar um avião para levá-lo até as ilhas Virgens onde John teria que passar por um tratamento de recuperação. O problema é que ele não queria largar as drogas e como todos sabemos uma rehab desse tipo só traz bons resultados quando se conta com a vontade de se libertar do próprio viciado.

John porém se sentia muito bem abusando de várias drogas ao mesmo tempo. Além da sempre presente heroína ele ainda usava maconha, cocaína e LSD em doses fartas. Era como se diz no meio um verdadeiro junkie! Sua dependência era tamanha que nem quando ia até a Apple - a empresa que controlava os negócios dos Beatles - ele conseguia ficar sem se drogar. Inevitavelmente John pedia por comprimidos contra dor de cabeça e laxantes, pois estava sempre passando mal, vomitando, por causa das drogas. Em certo momento durante uma reunião com homens de negócios ele declarou, sem vergonha alguma: "Esperem, preciso de cocaína para levar essa reunião em frente. Vou até o banheiro e já volto".

Essa pasmaceira artística se refletiu em sua carreira solo. Em termos absolutos, de vendas de discos, John foi o menos bem sucedido dos Beatles. Seus primeiros discos venderam mal, pois o público não aguentava muito a presença completamente opressora e invasiva de Yoko Ono nesses primeiros trabalhos. John em determinado momento decidiu que seria um artista de vanguarda, mas isso definitivamente não vendia bem. Quando George Harrison conseguiu transformar seu primeiro disco solo em um dos mais vendidos dos anos 70, John reagiu com fúria, dizendo que o ex-colega de banda não tinha nem dez por cento de seu talento. Pois é, além de abusar muito das drogas John não conseguia também controlar seu lado mais mesquinho.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Promised Land Outtakes

Elvis Presley - Promised Land Outtakes
O lançamento das sessões de gravação do álbum "Promised Land" trouxe curiosidades interessantes e divertidas para os fãs de Elvis. Algumas faixas como o ensaio de "Love Song Of The Year" mostram como Elvis estava se divertindo nos estúdios. Essa canção em particular tem uma das melodias mais melancólicas de toda a discografia do cantor, mas quem disse que ele em algum momento a leva à sério nesse registro? Elvis brinca o tempo todo, tirando onda com a letra, com seu grupo vocal de apoio, com a banda, com tudo. Esse foi um ensaio bem descompromissado, que Elvis aproveitou para brincar, rir e se divertir ao máximo.

O mesmo acontece com a faixa seguinte "Thinking About You" onde Elvis começa os vocais imitando a voz do coelho Pernalonga. Não demora muito e tudo desbanca para a pura zoeira, principalmente quando Elvis muda o estilo da música, virando um blues bem sem noção! Na verdade Elvis apenas passa a letra, e o grau de insanidade vai às alturas quando ele começa a cantar do nada um refrão de uma canção de natal! Estranho, mas divertido, no final das contas. Depois todos tentam entrar no espírito certo da música, tentando levar à sério dessa vez. Começa assim o take 3, praticamente perfeito. Essa versão inclusive tem uma suavidade e uma levada muito boa, poderia até vir a se tornar a versão oficial se Elvis não cometesse pequenos deslizes pelo meio do caminho.

Eu sempre gostei muito do country old school "Your Love's Been A Long Time Coming". Nesse CD temos a oportunidade de ouvir várias versões. Algumas começam muito bem, mas acabam dando errado por coisas que acontecem no estúdio. O take 2 começa de forma perfeita, mas alguém deixa cair algo bem no meio da gravação, fazendo com que Elvis interrompa sua interpretação! O take 3 é bem melhor. Nesse podemos ouvir como mais nitidez a segunda voz de apoio do vocalista de Elvis, algo que não acontece com a versão oficial do álbum original. Elvis estava pesadão na época, mas isso em nada atrapalhava sua performance que considero acima da média. Esse take só se estraga no finalzinho quando Elvis resolve brincar novamente, colocando tudo a perder!

O take 2 de "Promised Land" presente nesse CD é excelente, inclusive com uma ótima introdução de bateria que ficou fora da versão oficial. O pique é um pouco menos intenso em relação à master, Elvis parece ainda estar se familiarizando com a letra de Chuck Berry, algo normal de acontecer. Ele inclusive chega a se perder um pouco pelo meio do caminho, mas nada muito fora do normal. James Burton, como sempre arrasa nesse registro. Excelente guitarrista. "Mr Songman" é de uma beleza incrível. Alguém toca órgão no começo da gravação - Elvis fica em silêncio, só ouvindo. Depois pergunta de forma divertida "Ei cara, onde você está indo?". Depois troca algumas piadas com as vocalistas. Esse registro é ótimo porque mostra parte dos bastidores das sessões, com Elvis sempre muito bem humorado. A vocalização surge praticamente perfeita. Essa canção tem uma melodia maravilhosa. Pura beleza em forma de notas musicais.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O Estranho Casamento de John e Yoko

Recentemente tive acessos a alguns livros biográficos que revelam os detalhes do estranho casamento entre John e Yoko. Existia um casamento de fachada, para ser exibido ao público e outro bem estranho, privado, segundo esses autores. Tomando como depoimento os relatos de pessoas próximas ao casal como empregados, amigos e até mesmo a astróloga e numeróloga preferida de Yoko podemos tecer um retrato desse casamento fora do comum.

Havia um problema com drogas por parte de John Lennon. Ele havia se viciado em heroína, uma droga realmente devastadora. Seu abuso levou Lennon a um estado lastimável, onde ele não conseguia mais produzir, nem compor nada. A relação entre o casal era tensa dentro de sua esfera privada. Segundo Peter Doggett, autor do livro "A Batalha pela Alma dos Beatles", Yoko Ono não gostava de sexo, pois em sua visão feminista achava que essa era uma invasão ao seu corpo, uma atitude praticamente desrespeitosa. Isso levava John à loucura, procurando por prostitutas de luxo ou então tentando seduzir outras mulheres na presença de Yoko, para provocar ciúmes nela, para quem sabe assim conseguir levá-la para a cama. Quase nunca dava certo!

Outro fato perturbador é que Lennon tinha uma dependência absurda de Yoko. Dependência em nível psicológico até. Quando sua esposa assumia todo o controle o ex-Beatle ficava completamente isolado, sem ver ninguém de fora. Para Doggett isso era reflexo do fato de que Lennon sempre vivera com mulheres de personalidades fortes, como sua tia Mimi, assim ele se sentia melhor com uma mulher que o dominasse em todos os aspectos de sua vida. Era algo muito próximo a uma submissão total. Por essa razão também John passou anos sem ver seu filho Julian. Só o fez quando Yoko deu a devida autorização.

Não seria por outra explicação que quando se separou de Yoko Ono na primeira metade dos anos 70 (período que John se referia como "O fim de semana perdido") ele voltou a se relacionar novamente com os velhos amigos, se tornou sociável, chegou inclusive a cogitar seriamente uma volta com os demais parceiros, ressuscitando os Beatles. Porém quando Yoko o chamou de volta ele voltou a se desligar de tudo - não quis mais saber de discos, shows ou aproximações com seus ex companheiros de banda. A vida voltava para o isolamento completo, para a reclusão total, sob ordens estritas de Yoko Ono.

Pablo Aluísio.

Roxette e os anos 80

Recentemente tivemos a notícia da morte da cantora sueca Marie Fredriksson. Ela era um dos pilares do grupo pop Roxette. É curioso que o Roxette, que era sueco, tenha sido um dos grupos mais populares dos anos 80. Na década anterior outro grupo pop da mesma Suécia tinha se tornado extremamente popular no mundo todo, o Abba. Assim o Roxette de certa forma era o herdeiro legítimo desse posto dentro do cenário musical internacional.

E apesar de tudo, das críticas e dos jornalistas especializados em música que sempre torceram o nariz para esse tipo de som, o fato é que hoje em dia esse tipo de banda faz uma falta e tanto nas rádios e no cenário musical do mundo.

Isso porque o lixo que se lança hoje em dia fica muito abaixo da qualidade das canções desse tipo de grupo. No meio de vários álbuns lançados pelo Roxette você consegue pinçar verdadeiras jóias musicais. Eles eram muito bons nos temas mais românticos. E os arranjos também surpreendiam, sejamos sinceros. Após tantos anos a sonoridade ficou meio datada? Ficou, claro, mas ainda agrada bastante. Inegável isso.

Então você achava o Roxette ruim e o Abba pior ainda? Já parou para ouvir o que se toca nas rádios atualmente? É tudo muito ruim, mas ruim mesmo! A maioria das músicas nem mereciam esse título. Não há harmonia, não há melodia, letras então, nem se fala. Por isso fica a saudade do pop meloso e pegajoso do Roxette. As músicas eram cheias de clichê sim, porém em sua simplicidade conseguiram trazer uma trilha sonora para uma época que hoje em dia soa bem nostálgica. Por isso não subestime bandas como essa, que aliás passou muito longe do rótulo de "grupo de um sucesso só" que era muito utilizado em artistas dos anos 80. Isso porque o Roxette de fato colecionou inúmeros sucessos. E provavelmente você nem saiba que conhece tantas canções desses suecos que marcaram época no pop internacional.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

George Harrison: A Vida Depois dos Beatles

Após o fim dos Beatles o guitarrista George Harrison desenvolveu uma clara aversão ao tema relacionado ao seu antigo conjunto. Ele procurava evitar falar dos Beatles em entrevistas e pouco teve contato com os ex-companheiros de grupo. Assim que os Beatles se dissolveram Harrison gozou de uma excelente fase comercial em sua carreira solo. De fato nos primeiros anos da década de 1970 ele conseguiu, para surpresa de muitos, superar seus ex-parceiros John e Paul no quesito número de cópias vendidas no mercado.

Porém contrariando todas as expectativas sua carreira solo também teve pouco fôlego. Talvez por estar envolvido demais com os problemas legais da Apple ou por causa da linha religiosa hindu que havia decidido seguir, o fato é que os discos solos de George começaram a rarear no mercado, ele pouco compôs em relação aos outros ex-Beatles e não parecia mais ter tanto interesse no trabalho de fazer novos discos todos os anos.

Na verdade George aos poucos foi se tornando um recluso. Ele parou de fazer concertos ao vivo e de aparecer em público. Para muitos George foi ficando paranoico com sua segurança. A morte de John Lennon, covardemente assassinado na frente de seu prédio em Nova Iorque, piorou ainda mais a situação. George passou a ter pavor de encontrar fãs dos Beatles ao acaso, afinal poderia ser mais um lunático como aquele que assassinou Lennon. Tragicamente para ele isso não o deixou a salvo. Muitos anos depois um maluco conseguiu invadir sua mansão. George se viu face a face com um psicótico armado com uma faca. Segundo os laudos George levou várias facadas e sobreviveu milagrosamente. Sua esposa Olivia o salvou, jogando um abajur pesado na cabeça do agressor.

Em relação aos demais Beatles George praticamente não os viu mais. Ele passou a ter uma crescente ojeriza em relação a Paul e ficava incomodado até mesmo de estar na mesma sala do que ele. Para George seria um alívio nunca mais trabalhar ao lado de Paul, mas acabou tendo que engolir seu ponto de vista ao trabalhar ao lado dele no projeto Anthology. Foi um reencontro tenso, marcado por diferenças que jamais seriam superadas. George só voltou porque estava falido. Seu empresário anterior havia se apropriado de parte de sua fortuna e sua companhia cinematográfica estava destruída financeiramente após o lançamento de vários filmes que se tornaram fracassos de bilheteria. Precisando de dinheiro ele participou do Anthology, se comprometendo a participar de três novas faixas com os demais Beatles. Acabou só fazendo duas, por não aguentar mais ter que tocar ao lado de Paul em estúdio. Foi o último suspiro dos Beatles.

Pablo Aluísio.

Rolling Stones - Aftermath

Considerado o primeiro álbum dos Stones a realmente romper com a musicalidade dos primeiros discos do grupo, considerados ainda muito influenciados pelo estilo "Yeah, Yeah, Yeah" dos Beatles. Depois de tantas comparações como essa os Stones perderam a paciência e resolveram provar que não era apenas um conjunto genérico do quarteto de Liverpool. Assim Brian Jones resolveu enriquecer cada faixa do disco, acrescentando inúmeros instrumentos que não faziam parte do cotidiano de uma banda de rock da época. O grupo também decidiu dar um tempo nos covers do rock blues americano, optando por gravar um material 100% próprio com apenas canções compostas pela dupla Jagger / Richards. Nesse ponto queriam provar que poderiam ser tão criativos como a dupla Lennon e McCartney. Como se pode perceber os Beatles, por sua fama e sucesso, tinham se tornando uma sombra sempre presente. O grupo também passava por problemas internos. Brian Jones ainda se considerava o líder da banda, mas a cada dia ia ficando mais ofuscado pela parceria entre o vocalista Mick Jagger e o guitarrista Keith Richards. Foram eles inclusive que resolveram escalar o produtor Andrew Loog Oldham para trabalhar no álbum. Embora ainda fosse uma das mentes pensantes da banda, a verdade pura e simples era que Jones se afundava cada vez mais no abuso de drogas, algo que o levaria a uma morte precoce na piscina de sua casa alguns meses mais tarde.

"Aftermath" nasceu inicialmente como projeto para o cinema pois os Stones estavam interessados em compor trilhas sonoras para Hollywood mas conforme as semanas foram passando Mick Jagger mudou radicalmente de opinião e resolveu levar todo o grupo para os Estados Unidos com a intenção de gravar um álbum convencional. Os estúdios escolhidos pelos Stones foram os da RCA na costa oeste, onde havia a tecnologia necessária para dar a qualidade que eles desejavam para as canções - novamente absorvendo críticas de que seus três primeiros discos não tinham sido muito bem gravados. Além do núcleo central composto por Jagger, Richards e Jones, ainda tocaram com muito empenho no disco os músicos Charlie Watts e Bill Wyman (também eles próprios membros efetivos dos Stones), além dos convidados Jack Nitzsche e Ian Stewart (praticamente um gênio subestimado). O resultado desse esforço coletivo é muito bom pois "Aftermath" deixa bem claro a intenção dos Stones em melhorar seu som em todos os níveis, tanto do ponto de vista técnico como de poesia. Curiosamente a sonoridade providenciada por Brian Jones, que tanto elogios ganhou em seu lançamento, talvez seja o principal responsável pelo álbum ser considerado um pouco datado nos dias de hoje. Para muitos os experimentos de Jones deixaram o LP com baixo teor roqueiro, sendo por essa razão "Aftermath" uma mera relíquia curiosa dos anos 60 hoje em dia. Cabe a cada um tocar o disco para tirar suas próprias conclusões.

Rolling Stones - Aftermath (1966)
Mother's Little Helper
Stupid Girl
Lady Jane
Under My Thumb
Doncha Bother Me
Goin' Home
Flight 505
High and Dry
Out of Time
It's Not Easy
I Am Waiting
Take It or Leave It
Think / What to Do.

Pablo Aluísio.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Melissa Etheridge - This Is M.E.

De tempos em tempos é bom mudar um pouquinho, caso contrário o artista fica saturado e parado no mesmo lugar, ano após ano. Visando sair dessa armadilha (que já pegou muita gente boa no passado) a cantora Melissa Etheridge resolveu testar seus limites. Ela, é claro, pode arriscar sempre que desejar, uma vez que já tem uma base de fãs tão leais quanto fiéis. O interessante é que ao mesmo tempo em que busca coisas novas, Melissa consegue manter sua sonoridade mais tradicional, deixando os mais conservadores e quadrados mais calmos.Take it easy! Afinal de contas mudar é uma coisa, enfiar o pé na jaca é outra completamente diferente. Ela passou longe de errar em suas novas escolhas.

E o que afinal há de novo nesse CD? Etheridge está visivelmente interessada em buscar fundo nas suas raízes R&B. Para isso ela não se intimidou e convidou alguns medalhões para dar dicas e somar com seu talento no resultado final. O que temos depois disso é um som forte, robusto e muito mais rico em termos de arranjos do que em seus últimos trabalhos. Algumas das canções são apenas medianas como, por exemplo, "Stranger Road" ou até mesmo "A Little Bit Of Me" (a mais criticada em resenhas internacionais), mas tudo é compensado em momentos maravilhosos como "A Little Hard Hearted" ou "All The Way Home", saudosista e nostálgica nas dosagens certas. Melissa Etheridge mostra assim que mudar é bom, saudável, mas desde que seja em direção ao caminho certo. Apostar em um som mais rico, pautado em grandes standards do passado, logo se revela uma escolha feliz. Afinal de contas quem fica parado é poste, minha querida!

Melissa Etheridge - This Is M.E. (2015)
1. I Won't Be Alone Tonight
2. Take My Number
3. A Little Hard Hearted    
4. Do It Again
5. Monster
6. Ain't That Bad
7. All The Way Home
8. Like A Preacher
9. Stranger Road
10. A Little Bit Of Me
11. Who Are You Waiting For

Pablo Aluísio.

Adele - 25

Bom, não é novidade para ninguém que Adele dominou o cenário musical nesse fim de ano. Esse seu novo álbum "25" conseguiu vender apenas em sua primeira semana mais de 3 milhões e 300 mil cópias apenas dentro no mercado americano! Números dessa magnitude em um tempo em que a indústria fonográfica está praticamente falida são realmente de se surpreender. E a cantora anunciou na semana passada que vai começar uma grande turnê mundial, ou seja, muito provavelmente esse CD consiga atingir a marca dos dez milhões de cópias vendidas em pouco tempo, sem esquecer que o álbum já é o mais vendido do ano. São números impressionantes e o melhor de tudo é que eles refletem um bom trabalho, digno de todo esse êxito comercial. Vejo em Adele várias coisas positivas.

O mundo da música de uma maneira em geral vem sofrendo muito nos últimos anos com fórmulas que se repetem e se desgastam muito rapidamente. Depois que o Rock entrou em decadência - de maneira até justa, devemos confessar - a indústria correu atrás de outros gêneros musicais para sobreviver. Tivemos o advento do rap e do hip hop (com resultados sofríveis) e depois a massificação de artistas da linha pop adolescente, algo que se você tiver mais de 16 anos dificilmente irá se interessar. De uma hora para outra as pessoas com um gosto musical mais refinado ficaram praticamente sem ter o que ouvir. Apenas cantoras geniais como Norah Jones, com seu jazz sofisticado e rico, conseguiram romper essa barreira que havia se criado.

Adele também se encontra nesse pequeno grupo de artistas talentosos que conseguem fazer sucesso. A receita dela, como todos sabem, é investir de forma bem sincera em um romantismo latente, que procura criar um vínculo diretamente com o coração de seu público. Aliás credito o sucesso de Adele a essa necessidade das pessoas em terem algum artista que represente esse lado mais sentimental da vida de cada um de nós. Em um mundo onde o cinismo e o desamor parecem imperar de forma absoluta, a cantora Adele consegue com coragem romper esse escudo de insensibilidade que se criou no meio social. Ela canta sobre amor e sentimento e não parece ter a menor vergonha disso, o que acaba deixando até mesmo embaraçados os cínicos de plantão. Até porque esses que transformaram o amor em piada e escárnio já morreram internamente.

Adele supera todos eles com apenas algumas notas musicais. É uma ótima intérprete e compositora, sempre muito sincera em expressar aquilo que sente. Também indiretamente traz uma bela mensagem subliminar para suas admiradoras, mostrando que uma mulher pode ser bonita e desejada sendo apenas uma pessoa comum. Ela certamente não se enquadra dentro dos padrões rígidos que são impostos pelo mundo da moda e da beleza, do marketing agressivo. Ao invés disso tem uma imagem de uma mulher normal, sem loucuras de tentar ser o que não é. Sua imagem me passa uma sinceridade tocante. Afinal apenas pessoas vazias e destituídas de profundidade julgam alguém apenas pela aparência. Uma cantora cheia de atitude e sentimentos sinceros. Algo que faltava muito no combalido mundo musical dos dias atuais. Assim não deixe de ouvir "25". Vai ser uma ótima audição.

Adele - 25
1. Hello
2. Send My Love (To Your New Lover)
3. I Miss You
4. When We Were Young
5. Remedy
6. Water Under the Bridge
7. River Lea
8. Love in the Dark
9. Million Years Ago
10. All I Ask
11. Sweetest Devotion

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Ringo Starr

Há poucos dias Ringo Starr, o baterista dos Beatles, completou 76 anos de idade... quem diria! Ringo segue sendo um dos Beatles mais queridos pelos fãs, não apenas por causa de seu eterno complexo de vira-lata (ele sempre foi considerado um sortudo e o menos talentoso membro dos Beatles) como também por seu carisma. A imprensa internacional (em especial a inglesa) sempre dá destaque aos aniversários dos ex-beatles. Principalmente dos que ainda estão vivos. Ringo, apesar de ser um alcoólatra por anos e anos, conseguiu sobreviver e está aí para contar sua história. É um sobrevivente, vamos admitir

Entre as reportagens interessantes publicadas sobre Ringo Starr algumas me chamaram a atenção. Uma delas sobre uma nova biografia que está prestes a ser lançada na Inglaterra trazendo fatos inéditos de sua trajetória. A mais curiosa revela as razões do fim do primeiro casamento de Starr. Ele foi casado por dez anos com Maureen Cox. Juntos tiveram três filhos (Zek, Lee e Jason). Ela cuidava do cabelo de Ringo e o conhecia desde os tempos em que ele era baterista do grupo Rory Storm and the Hurricanes (o nome das bandas inglesas de Liverpool eram hilárias!).

Pois bem, certo dia a esposa de George Harrison pegou o marido Beatle na cama com Maureen, a esposa de Ringo! Sim, George traiu Ringo, dormindo com sua mulher! Imagine o escândalo! Nada nunca foi confirmado oficialmente, mas o fato é que Ringo a deixou logo após os boatos surgirem entre os amigos mais próximos do quarteto. Dizem que Brian Epstein, o empresário dos Beatles, abafou tudo para que a imprensa inglesa não explorasse as picantes histórias de alcova envolvendo os bastidores do grupo de Liverpool. Eu sabia que George havia sido traído pela esposa com Eric Clapton, mas não que ele havia traído o próprio colega de banda levando sua esposa para debaixo dos lençóis!

Outro fato divertido envolvendo o aniversário de Ringo veio de uma entrevista completamente nonsense que deu a uma publicação americana recentemente. Perguntado sobre o boato "Paul is Dead" (aquele mesmo que afirmava que Paul McCartney havia morrido em 1966, sendo substituído por um sósia chamado Billy Shears), Ringo confirmou tudo!!! Claro que foi um ato de puro besteirol, mas como os teóricos de conspiração adoram uma coisa desse tipo tudo acabou virando um tremendo carnaval, principalmente na internet. Pois é, mesmo perto dos 80 anos, Ringo ainda consegue inovar e mais do que tudo, divertir os fãs dos Beatles...

Pablo Aluísio. 

James Taylor - Before This World

Certa vez, conversando com um amigo sobre James Taylor, ele me perguntou se o cantor ainda estava vivo! Infelizmente Taylor passou por um ostracismo bem duradouro em sua carreira, fruto de anos de má administração de seu empresário e também pela gravação de discos que sinceramente falando não lhe ajudavam em nada a sair das sombras do esquecimento. Como desapareceu da grande mídia e sendo um artista veterano, muita gente pensou por ai que ele teria deixado essa para melhor, como aliás muitos outros de sua geração. Pois bem, agora temos esse novo álbum, "Before This World" que marca, após 13 longos anos de afastamento, sua volta aos estúdios para a gravação de faixas inéditas.

Para surpresa de muitos (e do próprio James Taylor) o disco emplacou nas paradas americanas chegando ao cobiçado primeiro lugar da Billboard após vender 96 mil cópias na semana de seu lançamento. Trocando em miúdos, sim, James Taylor ainda está vivo e faturando bem. Outro fato digno de nota sobre esse lançamento é que foi a primeira vez que ele chegou na posição 1, isso depois de 45 anos de carreira. Taylor nunca foi um popstar ou um astro de vendagens expressivas. Credito esse sucesso atual a um justo reconhecimento por parte do público em relação a ele, que sempre foi um batalhador e um guerreiro no mundo da música. Além do mais, em uma época tão ruim de belas baladas, nada mais justo do que o surgimento de um verdadeiro baladeiro romântico de mão cheia para trazer alguma harmonia e melodia nas rádios dos Estados Unidos e Europa.

Nove das dez canções foram escritas por ele mesmo. Uma prova de que embora estivesse longe dos estúdios por todos esses anos (seu último disco de inéditas havia sido "October Road" em 2002) ele seguia compondo e criando novas músicas. A única exceção vem com o duo "Before This World / Jolly Springtime" que foi escrita ao lado do amigo Sting. O conjunto da obra é muito bom de se ouvir. Predomina o estilo que todos conhecemos. Para quem não se recorda ou não sabe, James Taylor começou ao lado dos Beatles, lá nos distantes anos 1960. A gravadora do grupo inglês abriu as portas para que ele finalmente gravasse seu primeiro disco. Ele era talentoso, mas desconhecido até então. Com o sucesso Taylor resolveu deixar a Apple Records, o que lhe causou um pesado processo judicial, algo que anos depois Paul definiria como uma "vergonha". Afinal processar o colega de profissão não condizia muito com a imagem que os Beatles cultivavem na época. Os anos passaram e Taylor continuou seguindo em frente, nem sempre sendo honesto e fiel ao seu estilo. Agora ele tem finalmente a chance de se redimir. Não chegaria ao ponto de dizer que "Before This World" é uma obra prima, mas que é melhor do que 99% do que se ouve por aí atualmente isso certamente é.

James Taylor - Before This World (2015)
Today Today Today
You and I Again
Angels of Fenway
Stretch of The Highway
Montana
Watchin' Over Me
SnowTime
Before This World / Jolly Springtime
Far Afghanistan
Wild Mountain Thyme

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Paul McCartney - Silly Love Songs

Recentemente Paul disse em uma entrevista que o grupo Wings, que ele próprio formou após o fim dos Beatles, era "terrível". Sim, terrível no sentido de ser ruim. Já tinha imaginado Paul McCartney falando uma coisa dessas?! É de surpreender! O grupo teve vários grandes sucessos e emplacou discos de sucesso, alguns deles chegando ao ponto de liderar a parada americana. Mesmo assim Paul se justificou dizendo que Linda, sua esposa, por exemplo, nem sabia tocar para ficar em cima de um palco fingindo estar tocando teclados. Bom, cada um sabe de si. Em minha opinião duas coisas talvez expliquem a opinião devastadora de Paul sobre o Wings. A primeira foi uma série de críticas disparadas por John Lennon na década de 70. Parece que elas fincaram fundo na alma de Paul. A segunda vem do fato de que alguns álbuns do Wings eram realmente um pouco irregulares.

Veja o caso de "Wings at the Speed of Sound". Esse é aquele tipo de disco que fazia você se empolgar com uma canção maravilhosa (no caso "Silly Love Songs", um hit absoluto nas rádios da época). Assim você comprava o LP, mas ao chegar em casa descobria que havia mesmo apenas uma ou duas músicas realmente acima da média. Todo o restante era um pouco decepcionante. Em minha opinião esse disco se enquadra exatamente nisso. "Silly Love Songs" e "Let 'Em In" são obras primas no meio de várias canções bem descartáveis. A primeira inclusive foi composta em resposta a John Lennon que vinha destroçando os discos de Paul. Ele dizia que McCartney só sabia compor músicas melosas de amor. Então Paul respondeu na letra dessa faixa: O que há de errado nisso? E mandou ver em uma das mais belas e imortais músicas do Wings, esse grupo tão "terrível"!

Música: Silly Love Songs
Compositor: Paul McCartney
Álbum: Wings at the Speed of Sound
Data de Gravação: janeiro de 1976
Local de Gravação: Abbey Road Studios, Londres
Produtor: Paul McCartney
Músicos: Paul McCartney (vocais, guitarra, baixo), Linda McCartney (vocais, teclados), Denny Laine (vocais, violão, baixo, guitarra), Jimmy McCulloch (baixo), Joe English (bateria).

Pablo Aluísio.

Adele - Hello

Sendo o mais simplista dos homens eu poderia dizer que a Adele seria algo como a "Rainha dos Corações Partidos". Suas letras são bem emocionais e em geral falam sobre desilusão amorosa, sofrimento e dor de cotovelo. Não há nada de errado nisso, afinal quem nunca sofreu por amor? Cada um de nós, em algum momento de sua vida, já derramou lágrimas e mais lágrimas por causa de um grande amor que sentiu. Isso faz parte da natureza humana e nos define bem, o que somos, seres emocionais e sentimentais.

Afinal amar é viver. Apostando nisso a cantora tem conseguido números realmente impressionantes de vendas. Em uma época em que a música internacional anda tão vazia de sentimento e profundidade ela acabou acertando em cheio e no alvo. Esse single "Hello" foi um enorme sucesso de vendas. Em uma época em que a indústria fonográfica está praticamente falida, Adele conseguiu vender milhões de cópias de seu single ao redor do mundo. Não podemos deixar de parabenizá-la por esse feito e tanto. Afinal de contas ele chegou a números dignos de um Elvis Presley, Michael Jackson ou  Beatles. Pois é, a inglesinha Adele já é um nome poderoso a esse ponto no aspecto puramente comercial.

A letra da canção "Hello" é bem interessante. Basicamente é uma mulher reavaliando seu passado, relembrando um antigo amor que não consegue esquecer. Dizem que o tempo cura tudo, até mesmo um coração partido, porém em sua letra Adele confessa que nem sempre é isso o que acontece. Algumas paixões são tão marcantes, verdadeiras e devastadoras que se tornam simplesmente impossíveis de se esquecer, de deixar no passado. Um fato curioso é que segundo uma pesquisa realizada recentemente a canção acabou criando uma verdadeira "epidemia" entre as inglesas e americanas em busca de uma reaproximação com algum grande amor de seu passado! A letra, bem evocativa, vai justamente por esse caminho.

A letra fala de alguém tentando reatar laços com um amor sofrido que ela simplesmente não consegue superar. Entre arrependimentos e tristezas ela tenta superar tudo. Na letra há até mesmo aquela pergunta implícita que sempre fica dentro do coração de toda mulher que um dia esteve perdidamente apaixonada: o que realmente teria acontecido em sua vida se tivesse ficado com aquela pessoa de que tanto amava? Como seria sua vida hoje? Ouça Adele e tente responder essa pergunta que bate fundo em toda alma feminina apaixonada.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

John Lennon - Imagine

Certa vez Paul McCartney disse que John Lennon era um gênio, mas não um santo. Ele tinha toda a razão do mundo. John Lennon sabia como poucos escrever e compor grandes músicas, realmente maravilhosas, mas passava longe de ser uma alma pura, santificada. Em muitos momentos ele poderia soar completamente hipócrita. Veja o caso de "Imagine" considerada por muitos como a sua grande música na carreira após o fim dos Beatles. Em frases muito bem escritas John propõe um mundo sem fronteiras, sem propriedades e até mesmo sem religiões. Em determinado trecho John canta a frase "Imagine não existir posses, sem necessidade de ganância, Imagine todas as pessoas compartilhando...". Ok, nada de errado, tudo muito bonito a não ser pelo fato de que Lennon era proprietário de fazendas enormes nos Estados Unidos com centenas de milhares de cabeças de gado, onde o acesso de pessoas estranhas era completamente proibido. E o que dizer de seus vários apartamentos de luxo na parte mais cara de Nova Iorque? Não há nenhum sinal de que ele um dia os tenha compartilhado com ninguém, a não ser Yoko Ono e seu filho.

"Imagine não existir nenhuma religião", afirma a letra em outro trecho. Ora, John foi fiel seguidor do Hinduísmo, depois se aproximou bastante do Budismo a ponto de se auto declarar Zen Budista em uma de suas últimas entrevistas. Suas frases contra o cristianismo também lhe trouxe muitos problemas, demonstrando que o próprio John Lennon tinha alguns problemas com as religiões dos outros. Assim soa mais do que uma hipocrisia em falar algo nesse sentido e ao mesmo tempo usar do sentimento religioso das demais pessoas para atacá-las de alguma maneira. Além de contraditório é certamente uma grande hipocrisia. Mesmo assim a canção "Imagine" ainda é um belo momento de sua carreira. Embora em muitos aspectos ele fosse realmente um grande hipócrita o fato é que John continuava muito talentoso para compor letras e melodias maravilhosas. Como disse Paul ele poderia não ser um santo (e não era mesmo), mas pelo menos continuava a ser um gênio musical.

Imagine (John Lennon) Album: Imagine / Data de gravação: Fevereiro de 1971 / Local de gravação: Record Plant Studios, Nova Iorque / Produtores: John Lennon, Yoko Ono, Phil Spector / Músicos: John Lennon (vocal e piano), Phil Spector (Backing Vocals), Andy Davis (guitarra), Ted Turner (guitarra), Jim Keltner (bateria), George Harrison (guitarra), Klaus Voorman (baixo).

Pablo Aluísio.

Tony Sheridan - My Bonnie

Quando Tony Sheridan chamou os Beatles para tocarem na gravação de sua música "My Bonnie" ele não tinha a menor ideia do que o futuro reservaria para aqueles quatro jovens. Nessa época os Beatles não passavam de um grupinho de quase adolescentes que tocavam em inferninhos de Hamburgo. Eles corriam atrás do sonho de um dia, quem sabe, viver apenas de música e fazer algum sucesso. John Lennon achou o convite muito promissor. Eles iriam apenas tocar como grupo de fundo para Sheridan que mais parecia uma imitação barata de Elvis Presley. A grana não era significativa, porém só o simples fato de gravarem profissionalmente já era um avanço e tanto.

Ouvir "My Bonnie" hoje em dia é muito prazeroso. Os Beatles já soavam como os Beatles dos primeiros discos como "Please, Please Me" e "With The Beatles". Aquele ritmo e aquele som já era cem por cento Beatles que o mundo iria amar dentro de pouco tempo. Sheridan, como eu já frisei, procurava cantar como o maior ídolo do rock daquele tempo, o imortal Elvis Presley. O timbre, as notas vocais alcançadas e o jeito de interpretar não deixavam dúvidas sobre isso. Para os Beatles isso não era necessariamente um problema já que eles também eram fãs de Elvis. Claro que eles queriam seguir sua própria carreira, gravando e cantando suas composições próprias - que já eram muitas nesse período, todas já assinadas como sendo de autoria da dupla Lennon e McCartney. Aquilo porém era o que eles tinham à mão e tocaram muito bem, profissionalmente. Seria por causa dessa gravação que um bem sucedido empresário de Liverpool chamado Brian Epstein ouviria pela primeira vez o nome Beatles. Ele tinha uma loja de discos na cidade e se orgulhava de dizer que seu catálogo era o maior da Inglaterra. Não havia disco ou single que não fosse encontrada na loja de Brian. Isso foi verdade até um dia que um garoto chegou a ele e perguntou se ele tinha o disco dos Beatles! Brian ficou atônito! Quem eram os Beatles? O resto é história. Brian foi atrás do grupo para conhecer a banda e se apaixonou pelo seu som. Se aproximou dos rapazes e em pouco tempo assinou como seu empresário musical. E o mundo nunca mais seria o mesmo depois disso.

Pablo Aluísio.
 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Bill Haley and His Comets - Rock Around the Clock

Bill Haley é costumeiramente citado em enciclopédias e livros sobre história da música como o “pai do rock”, um músico que revolucionou o cenário cultural dos Estados Unidos ao emplacar o primeiro grande sucesso comercial do novo gênero que nascia, “Rock Around the Clock”, uma mistura de estilos que o radialista Alan Freed batizou de “Rock ´n´ Roll”. Bom, certamente Haley não foi o criador do rock, na realidade não existe “um pai do rock” propriamente dito pois essa nova música foi certamente uma inovação coletiva, difusa, mesclando novidades de vários artistas diferentes que se aproveitaram da nova sonoridade para cair nas graças do público consumidor. Bill surgiu no mundo country, ainda na década de 1940, pois era em essência um cantor de bailes – como aqueles que vemos em filmes nostálgicos que retratam os costumes daqueles “anos dourados”. Conforme o tempo foi passando ele descobriu que o R&B negro sempre tinha boa repercussão entre as plateias brancas. Como a primeira obrigação de Bill era entreter seu público acima de tudo, ele foi aos poucos incorporando o novo som em suas apresentações. Usando elementos do som negro ele acabou os fundindo com seu som mais country. Não é à toa que o rock sempre é identificado como a mistura de country, gospel e blues (ou mais especificadamente R&B).

Bill sabia disso e assim como muitos outros artistas de seu tempo ele se aproveitou dessa idéia em beneficio próprio. Em última instância ele apenas fez parte de uma tendência que vinha de todos os lados, seja de artistas negros ou brancos. O resultado dessa fusão de gêneros pode ser conferido muito bem nesse terceiro álbum da carreira do “Glenn Miller do Rock” (outro de seus títulos, uma clara referência ao seu passado de cantor de bailes e festas). Como era de se esperar Bill tem aqui reunidos alguns de seus maiores sucessos. O cantor passou quase toda a sua carreira na Decca Records, uma gravadora que se notabilizou por grandes erros cometidos em sua história (eles dispensaram, por exemplo, os Beatles em um teste afirmando que “bandas masculinas estavam com os dias contados!”). Mas voltemos ao Bill Haley. O repertório desse álbum capta aquele que seria o melhor momento de toda a carreira do cantor. Infelizmente sua verve mais criativa durou poucos anos – após seu sucesso inicial Halley pouco produziu de novidade preferindo viver de glórias passadas como um artista nitidamente revival, vintage. Não faz mal, aqueles poucos anos certamente valeram a eternidade para Bill Haley e seus Cometas!

Bill Haley and His Comets - Rock Around the Clock (1955)
Rock Around the Clock
Shake, Rattle and Roll
A.B.C. Boogie
Thirteen Women
Razzle-Dazzle
Two Hound Dogs
Dim, Dim the Lights
Happy Baby
Birth Of The Boogie
Mambo Rock
Burn That Candle
Rock-A-Beatin' Boogie.

Bill Haley and His Comets - Rock 'n' Roll Stage Show (1956)
Bill Haley começou sua carreira como artista tipicamente Country and Western, porém nos anos 1950 ele foi notando que o gosto dos jovens estava mudando. Havia um novo balanço, uma aceleração nas canções, tudo feito com o propósito de se soltar na pista de dança. Assim Haley incorporou essa nova sonoridade em seus discos. Um exemplo podemos ouvir aqui em "Rock 'n' Roll Stage Show", onde ele já adota abertamente a expressão da moda, "Rock 'n' Roll", para impulsionar a venda de seus álbuns. Lançado em agosto de 1956, um ano chave para a popularização do rock americano, o disco não abre mais margens à dúvida sobre que tipo de artista Bill Haley era naquele momento. É curioso porque por anos ele foi indicado como o "pai do rock", só que na verdade Haley apenas surfou na nova onda que vinha crescendo cada vez mais.

Como ele vivia da sua música ele tinha que seguir a corrente para sobreviver. Tanto isso é verdade que uma vez estabilizado na carreira, Haley voltou a gravar faixas country, do tipo que sempre fez parte de sua discografia antes do advento do rock. Esse disco aqui é considerado por alguns fãs de Haley como uma colcha de retalhos sem muita consistência. São apenas 4 faixas cantadas por ele, sendo as outras encaixadas quase como tapa-buracos. Há bastante música instrumental e ótimos arranjos, mas de Bill Haley mesmo, muito pouco. Mesmo assim vale por sua importância histórica para o surgimento do rock feito nos Estados Unidos naqueles tempos pioneiros.

Bill Haley and His Comets - Rock 'n' Roll Stage Show (1956)
1. Calling All Comets
2. Rockin' Thru the Rye
3. A Rockin' Little Tune
4. Hide and Seek
5. Hey Then, There Now
6. Goofin' Around
7. Hook, Line and Sinker
8. Rudy's Rock
9. Choo Choo Ch'Boogie
10. Blue Comet Blues
11. Hot Dog Buddy Buddy
12. Tonight's the Night

Pablo Aluísio.