segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Loucos e Perigosos

Talvez seja a hora de Bruce Willis se aposentar. Até porque se for para continuar trabalhando em filmes como esse, é melhor ir cuidar dos netinhos mesmo. O velho Bruce interpreta um detetive particular que trabalha em Venice Beach. Ele ganha a vida resolvendo pequenos casos, como traições, etc. Até que um traficante de drogas rouba seu cãozinho de estimação. A partir daí o veterano detetive fará de tudo para recuperar o animal. O roteiro não se leva à sério em nenhum momento. Tudo é feito como se fosse uma comédia leve, com algumas cenas de ação aqui e acolá. Nada muito bem feito ou inspirador. Na realidade o filme é tão descartável que não vale a pena nem conferir por curiosidade.

Há cenas claramente constrangedoras. Numa delas o detetive de Willis foge de um grupo barra pesada, tudo no script desse tipo de filme, algo bem clichê, isso se ele não fugisse em cima de um skate, completamente nu, pelas ruas de Venice Beach. Nada engraçado, bem na base da vergonha alheia. O roteiro obviamente tenta criar alguma identidade com o público mais jovem, por isso coloca o sexagenário Willis em situações, digamos, joviais, juvenis! Não funciona. Até mesmo o bom ator John Goodman está deslocado. Ele faz o papel de um pequeno comerciante de Venice que está se divorciando. A ex-mulher vai ficar com tudo, inclusive com sua pequenina loja de materiais esportivos. Agora ruim mesmo, de doer, é a presença do péssimo Jason Momoa como um traficante de drogas da região. Não consigo entender como um ator tão ruim consegue fazer tantos filmes em Hollywood. Depois de destruir Conan, ele deveria ter sumido do mapa. Porém ai está Momoa desfilando sua completa falta de talento. O filme que já não é grande coisa se torna ainda pior com sua presença.

Loucos e Perigosos (Once Upon a Time in Venice, Estados Unidos, 2017) Direção: Mark Cullen / Roteiro: Mark Cullen, Robb Cullen / Elenco: Bruce Willis, John Goodman, Jason Momoa / Sinopse: Velho detetive de Venice Beach fará de tudo para recuperar seu cachorrinho de estimação que vai parar nas mãos de uma gangue de traficantes de drogas da cidade. Ao mesmo tempo tenta dar uma força para seu amigo, que está se divorciando, passando por apuros financeiros.

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de novembro de 2019

O Predestinado

Título no Brasil: O Predestinado
Título Original: Predestination
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: Sony Pictures
Direção: Michael Spierig, Peter Spierig
Roteiro: Michael Spierig, Peter Spierig
Elenco: Ethan Hawke, Sarah Snook, Noah Taylor, Christopher Sommers, Kuni Hashimoto, Christopher Bunworth

Sinopse:
Em um futuro com alta tecnologia uma agência do governo envia agentes para o passado com o objetivo de evitar grandes atentados terroristas. Um deles porém acaba rompendo com as regras, mudando o passado, interferindo no presente e comprometendo todo o futuro.

Comentários:
Eu vou resumir esse filme de forma bem irônica. Imagine que os roteiristas da franquia "De Volta Para o Futuro" tomassem ácido e resolvessem escrever um novo roteiro. Provavelmente o resultado sairia parecido com esse filme. Certamente é um roteiro que vai surpreender muitas pessoas. A viagem no tempo já deu origem a diversas produções ao longo dos anos, porém devo dizer que poucas foram tão longe. Os personagens de passado, presente e futuro estão completamente interligados. O espectador vai pegar pistas ao longo de todo o filme e no final vai ficar impressionado por ter sido "enganado" pelos desdobramentos da trama. Não vou estragar surpresas e nem entregar o grande pulo do gato desse roteiro, mas devo deixar uma pista sutil sobre isso. Temos basicamente dois personagens principais. Eles conversam em um bar! Agora, quando assistir ao filme os veja com olhos de lince. Possa ser que não sejam dois ou três na verdade... talvez sejam quatro no final das contas... ou talvez seja apenas um! Achou confuso? Bom, quando assistir ao filme você certamente vai entender o que escrevi aqui. Enfim, um roteiro complexo, muito bem elaborado, que vai deixar muita gente de queixo caído. Parece simples o que se vê na tela, mas isso é apenas uma leve impressão, ou melhor dizendo, uma falsa impressão!

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de novembro de 2019

Vita & Virginia

Mais um filme que explora parte da vida da escritora Virginia Woolf. O melhor já feito sobre ela, em minha opinião, segue sendo "As Horas", onde Nicole Kidman a interpretava com talento e sensibilidade. Agora o roteiro mostra o relacionamento homossexual que ela teve com outra escritora, Vita Sackville-West. Elas se conheceram quase por acaso, embora Vita já tivesse esse desejo há anos. Havia uma espécie de competição entre elas no mundo da literatura. Enquanto Virginia Woolf escrevia livros mais intelectualizados, Vita apostava em romances populares. Claro que assim ela também se tornava muito mais bem sucedida (pelo menos do ponto de vista comercial) do que a colega de profissão.

Vita também já tinha um passado de escândalos por se envolver com mulheres, embora fosse casada com um diplomata inglês. Já Virginia tentava manter um casamento que para muitos era de fachada. O interessante é que apesar de ter óbvia atração por pessoas do mesmo sexo, Woolf não queria acabar com seu casamento. Ela via no marido um fator de equilíbrio em sua vida pessoal. Mesmo assim se atirou de corpo e alma em uma paixão enlouquecedora por Vita, a ponto inclusive de transformá-la em personagem de seus livros, algo que não passou despercebido pela sociedade conservadora da época, causando mais um grande escândalo. E para as demais pessoas o que mais chocava é que ambos os maridos pareciam saber muito bem que suas esposas se relacionavam em um namoro lésbico, mas nada faziam para acabar com isso.

O filme é bem produzido, mas o roteiro apresenta alguns problemas no meu ponto de vista. Os diálogos soam truncados e pouco naturais. Acontece que os roteiristas tiraram a maioria dos diálogos das escritoras de seus próprios livros. Não ficou natural. Uma coisa é a palavra escrita, bem lapidada, outra bem diferente é o falar do dia a dia. Certamente nem Vita e nem Virginia falavam daquele jeito. Ficou um pouco estranho, embora para os leitores da obras delas crie uma curiosidade a mais. Outro ponto que achei fora da curva foi a caracterização da atriz Elizabeth Debicki. Ela interpretou Virginia, só que seu biotipo nada tem a ver com a escritora. Enquanto Elizabeth é alta, loira, de olhos azuis, Virginia era bem mais baixinha, de cabelos pretos. O espectador assim vai ter que fazer um esforço a mais para acreditar que ela é Virginia Woolf. Algo que não é nada bom para um filme biográfico e de história como esse. A atriz é visivelmente talentosa, mas ficou mesmo um pouco fora de contexto por essa razão. Fora isso indico a produção para quem aprecia as biografadas.

Vita & Virginia (Inglaterra, Irlanda, 2018) Direção: Chanya Button / Roteiro: Eileen Atkins / Elenco: Gemma Arterton, Elizabeth Debicki, Isabella Rossellini / Sinopse: Roteiro baseado em fatos históricos reais. O filme resgata a paixão lésbica que surgiu entre duas escritoras famosas no começo do século XX, envolvendo Virginia Woolf e Vita Sackville-West. Filme indicado no British Independent Film Awards na categoria de Melhor Atriz (Elizabeth Debicki).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

A Vingança de Frank James

Esse filme foi uma espécie de sequência do clássico "Jesse James". Tudo se passa após a morte de Jesse James, ou seja, o enredo desse filme começa a partir do final do filme anterior. O elenco é excelente! A "Vingança de Frank James” traz vários atores do primeiro filme, embora também haja mudanças em relação ao elenco original. A ausência mais sentida é justamente a de Randolph Scott e Nancy Kelly pois seus personagens foram eliminados da trama dessa sequência. O ponto positivo fica com Henry Fonda que no papel de Frank James assume o filme como protagonista. Ele repete seu bom desempenho do filme anterior e segura muito bem as pontas. Um novo personagem é acrescentado na estória, Eleanor Stone, uma jovem jornalista que se interessa pela história dos irmãos James. Ela é interpretada pelo correta Gene Tierney. Outro destaque é a ótima interpretação de Henry Hull, o dono do jornal e advogado que vai ao tribunal defender Frank James.

O roteiro de “A Vingança de Frank James” toma várias liberdades com a história original. Embora Frank tenha sido realmente inocentado de todas as acusações (em dois e não em apenas um julgamento como se vê no filme) ele não teve qualquer ligação com a morte de Robert Ford, assassino de seu irmão Jesse James. No roteiro aqui Frank James sai no encalço de Robert Ford dentro de um estábulo. Na história real Ford foi morto em seu Saloon por um sujeito que queria ter a honra de matar o homem que matou Jesse James. Mesmo com a pouca fidelidade histórica o roteiro de “A Vingança de Frank James” é muito bem escrito, contando uma longa história sem se tornar cansativo e enfadonho. Além disso consegue se fechar muito bem em si mesmo. Tudo muito bem arranjado, mesmo que misture fatos reais com eventos meramente fictícios.

Houve uma mudança na direção. Saiu Henry King e entrou o genial Fritz Lang. Lang imprime um tom mais sério no filme mas ao mesmo tempo se mostra fiel à estrutura de dramaturgia do filme anterior. Os personagens de “Jesse James” que reaparecem aqui usam da mesma caracterização e tom, o que demonstra que Fritz Lang, apesar de ter sido um dos cineastas mais autorais da história do cinema mantém a espinha dorsal montada por Henry King em “Jesse James”. Fritz Lang foi escalado por Zanuck depois que esse teve alguns atritos com Henry King que não aceitava muito bem as inúmeras interferências do produtor em seu filme. O resultado final aqui como se nota é muito bom, mostrando que Fritz Lang também poderia ser um cineasta de estúdio, sem maiores vôos autorais como conhecemos de outros filmes seus.

Em termos de produção, nada a reclamar. Novamente se faz presente a mão forte de Darryl F. Zanuck como produtor. Embora não tenha sido creditado em “Jesse James” aqui ele fez questão de assinar o filme, fruto obviamente de seu grande sucesso. Ao lado de Fritz Lang construiu uma continuação de excelente nível. O produtor também interferiu bastante no roteiro e na escalação do elenco. Trocou alguns nomes e eliminou personagens. Foi dele inclusive a idéia de colocar cenas de “Jesse James” aqui no começo do filme (inclusive a cena da morte de Jesse, extraída da primeira produção com Tyrone Power sendo assassinado).

A Vingança de Frank James (The Return of Frank James, EUA, 1940) Direção: Friz Lang / Roteiro: Sam Hellman / Elenco: Henry Fonda, Gene Tierney, Jackie Cooper, Henry Hull, John Carradine / Sinopse: Após o assassinato de seu irmão Jesse James (Tyrone Power) o pistoleiro Frank James (Henry Fonda) decide ir atrás de seu assassino, Robert Ford (John Carradine).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Cinzas ao Vento

Anos após ser expulso de sua cidade natal, Brant Royle (Gary Cooper) retorna. O lugar agora está sob dominação do magnata do tabaco James Singleton (Donald Crisp), o mesmo homem que havia perseguido Brant e seu pai. O tempo passou, mas as velhas mágoas ainda existem. Ao conhecer um inventor de máquinas de fabricação de cigarros, Brant decide pegar algum dinheiro emprestado com seu antigo amor Sonia (Lauren Bacall) para abrir um novo negócio, justamente uma fábrica de cigarros pois ele vê uma oportunidade de ficar rico com a produção em série do produto. Com os anos Royle acaba se tornando ele próprio um magnata da indústria, embora pessoalmente não consiga superar seus velhos traumas do passado. 
 
Esse é mais um excelente drama dirigido pelo mestre Michael Curtiz. O roteiro explora a ascensão e queda de um homem que, saído da extrema pobreza, começa a subir os degraus do sucesso e da riqueza. O personagem interpretado por Cooper é um sujeito que deseja acima de tudo destruir a família Singleton, pois no passado eles destruíram seu pai, um honesto e pacato plantador de tabaco. O tempo passa e ele volta para sua vingança, mas acaba sendo traído também por seus sentimentos pois se apaixona justamente pela filha de seu pior inimigo, a bela e perigosa Margaret Jane Singleton (interpretada pela atriz Patricia Neal que tinha um affair com Cooper na época das filmagens). É a velha questão do chamado triângulo amoroso.

A prestativa e apaixonada Sonia (Bacall) ama e faz de tudo por Royle (Cooper), mas ele ama outra pessoa, a fútil e ardilosa Margareth (Neal) que no fim das contas só deseja destrui-lo. O roteiro foi escrito inspirado no romance de Foster Fitzsimmons. O livro, um autêntico drama romântico sulista, tem todos os elementos que não poderiam faltar nesse tipo de literatura. Há um protagonista que vira vítima de seu próprio sucesso, amores não correspondidos, traições e até um interessante  discurso sobre os poderosos monopólios que iam surgindo dentro da nascente economia industrial norte-americana na virada do século XIX. Essa transformação industrial do sul após a guerra civil aliás é um dos aspectos mais peculiares do filme.

O protagonista interpretado por Gary Cooper é um industrial que aos poucos vai perdendo sua humanidade, tudo corroído pela ganância e pela sede de poder e dominação. Além disso o fato de ser um homem que fica extremamente rico popularizando o cigarro (ao invés do charuto que era o mais popular até então) o torna ainda mais culpado por seus atos e decisões. E por uma dessas ironias do destino o próprio Gary Cooper morreria anos depois exatamente por sofrer de um câncer de pulmão incurável causado pelo fumo excessivo. Na época os danos à saúde causados pelo tabaco ainda eram desconhecidos pela ciência. Muitos, como Cooper, acabariam perdendo a vida exatamente por ignorarem o mal que estavam fazendo para o seu próprio organismo.

Cinzas ao Vento (Bright Leaf, Estados Unidos, 1950) / Estúdio: Warner Bros / Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Ranald MacDougall / Elenco: Gary Cooper, Lauren Bacall, Patricia Neal, Donald Crisp, Jeff Corey, Taylor Holmes / Sinopse: Esse clássico do cinema conta a história de Brant Royle (Gary Cooper). No passado ele havia sido expulso de sua terra natal, mas agora está de volta e começa a se tornar um prospero homem de negócios.

Pablo Aluísio. 

Matar ou Morrer

Will Kane (Gary Cooper) é um xerife de uma pequena cidade do oeste. Após ser informado que bandidos estão chegando no local ele tenta recrutar alguns cidadãos para lhe ajudar a enfrentar os facínoras, mas a ajuda é negada pelos moradores locais. Sozinho e abandonado à própria sorte, ele decide enfrentar o bando que está prestes a chegar na cidade apenas com sua bravura e dignidade de homem da lei. Esse foi o filme da vida do ator Gary Cooper e isso, meus amigos, não é pouca coisa já que Cooper foi um dos maiores nomes da história do cinema americano.

Grace Kelly, na flor da idade, esbanja beleza e charme. No elenco de apoio duas curiosidades para os cinéfilos: Lee Van Cleef, que se tornaria um dos "vilões" mais recorrentes em filmes de western nos anos seguintes e Lon Chaney Jr, isso mesmo, o Lobisomen em pessoa dos antigos filmes de terror. Ele aliás tem ótima cena ao lado de Cooper em que diz que "as pessoas não se importam realmente com honra e e justiça". A produção do filme é minimalista. O interessante é que tudo o que foi preciso para contar a estória do filme foi a cidade cenográfica (até bastante despojada) e a estação de trem. Nada mais. É o típico caso em que a produção se resguarda para não atrapalhar o clima psicológico em que vive o xerife naquele momento crucial que antecede a chegada dos pistoleiros na cidade.

O roteiro segue em tempo real (uma grande novidade na época). Embora o enredo em si pareça simples, na realidade não é. Seu subtexto traz diversas leituras, inclusive sobre a hipocrisia que reina em toda comunidade humana. Muito interessante, vale a pena procurar e descobrir as diversas entrelinhas que o argumento tenta passar aos espectadores. A direção do filme é simplesmente excelente, Fred Zinnemann realmente era craque, um cineasta de mão cheia. Existe uma determinada cena que ilustra bem como sua direção é inspirada. Enquanto o xerife caminha pela cidade vazia a câmera dá um travelling e sobe, mostrando toda a solidão e abandono do personagem naquele momento. "Matar ou Morrer" é seguramente um dos maiores clássicos do western americano. Um filme obrigatório.

Matar ou Morrer (High Noon, Estados Unidos, 1953) Direção: Fred Zinnemann / Roteiro: Carl Foreman inspirado na estória "The Tin Star" de John W. Cunningham / Elenco: Gary Cooper, Grace Kelly, Thomas Mitchell, Lee Van Cleef, Lon Chaney Jr / Sinopse: Will Kane (Gary Cooper) é um xerife de uma pequena cidade do oeste. Após ser informado que bandidos estão chegando no local ele tenta recrutar alguns cidadãos para lhe ajudar a enfrentar os facínoras mas a ajuda é negada pelos moradores locais. Sozinho e abandonado à própria sorte ele decide enfrentar o bando que está prestes a chegar na cidade apenas com sua bravura e dignidade de homem da lei. Filme premiado pelo Oscar nas categorias de Melhor Ator (Cooper), Melhor Edição, Melhor Música original (High Noon (Do Not Forsake Me, Oh My Darlin')  e Melhor Trilha Sonora Incidental (Dimitri Tiomkin). Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Lawrence da Arábia

Esse filme é a obra prima absoluta do diretor David Lean, um dos melhores cineastas da história do cinema. Também é o auge, o ponto máximo da carreira do ator Peter O'Toole, um pico que ele nunca mais alcançaria em sua vida. São vários os adjetivos usados para essa produção realmente memorável. Grandioso, épico, maravilhoso, o cinema em sua mais qualificada essência, etc. De fato é um filme impressionante, uma produção que custou milhões de dólares e foi extremamente complicada de concluir. Também é grande em duração, com quase 230 minutos de duração. O cinéfilo precisa praticamente se preparar para encarar um filme assim, tão longo e ao mesmo tempo tão espetacular.

O curioso é que tudo estava pronto para Marlon Brando estrelar o filme. O roteiro foi pensado nele e o ator já tinha até mesmo concordado em analisar o convite, só que na última hora ele desistiu. O motivo foi frívolo. Brando afirmou que David Lean levava tanto tempo para filmar que ele provavelmente iria morrer seco no meio do deserto. Foi uma pena, mas ao mesmo tempo uma jogada do destino, porque atualmente ninguém consegue imaginar o personagem histórico sendo interpretado por outro ator. Peter O'Toole fez um trabalho tão fantástico que ele ficou para sempre marcado como o Lawrence da Arábia. E ao seu lado, no elenco, não faltaram outros nomes geniais como Alec Guinness, Anthony Quinn e Omar Sharif . Ou em outros termos, o filme também trazia a nata dos grandes atores da época.

Hoje em dia a figura de T.E. Lawrence é mais controversa do que quando o filme foi lançado. Esse inglês foi de tudo um pouco, arqueólogo, militar, agente secreto, diplomata. Para a mentalidade atual revisionista ele seria apenas um personagem a mais no jogo de dominação colonial do império britânico no Oriente Médio. Essa visão progressista mais crítica porém não se sustenta muito em meu ponto de vista. Até porque ele também foi um excelente escritor. Basta ler poucas linhas de seu mais conhecido livro, "Os Sete Pilares da Sabedoria", para bem entender isso. Porém deixando de lado essa visão mais política, o fato inegável é que o filme "Lawrence of Arabia" é mesmo cinema em seu estado mais grandioso, em sua mais pura essência. Um dos maiores clássicos da história do cinema de todos os tempos. Maior até mesmo que seu próprio protagonista.

Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, Inglaterra, 1962) Direção: David Lean / Roteiro: Robert Bolt / Elenco: Peter O'Toole, Alec Guinness, Anthony Quinn, Omar Sharif, José Ferrer / Sinopse: O filme conta a história real do oficial britânico Thomas Edward Lawrence (1888 - 1945), um homem que teve grande importância no período colonial do império britânico no Oriente Médio. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção (David Lean), Melhor Trilha Sonora (Maurice Jarre), Melhor Edição (Anne V. Coates), Melhor Som (John Cox), Melhor Direção de Arte (John Box, John Stoll, Dario Simoni) e Melhor Fotografia (Freddie Young).

Pablo Aluísio. 


A Noite dos Generais

Em 1942, na cidade de Varsóvia, uma prostituta polaca é assassinada de forma sádica. O major Grau (Omar Sharif), um homem da inteligência alemã, que acredita na justiça, fica a cargo do caso. Uma testemunha viu um general alemão sair do prédio depois de um grito da vítima. Uma investigação mais aprofundada mostra que três generais não têm qualquer álibi para aquela noite: General Tanz (Peter O'Toole), o major-general Klus Kahlenberge (Donald Pleasance) e o General von Seidlitz-Gabler (Charles Gray). Eles três passam a evitar um contato direto com o Major Grau e se tornam potenciais suspeitos. Quando finalmente Grau se aproxima da verdade, ele é promovido e enviado para Paris. Mesmo com essa suspeita transferência ele não está disposto a abandonar sua busca pelo assassino.

Ótimo filme, com o Peter O'Toole dando show como um oficial nazista frio, calculista e maníaco. Outro destaque é a locação, filmado em Paris, com ótimas tomadas da cidade luz. O roteiro é um primor pois mistura alguns gêneros diversos em um só filme. Há uma trama de assassinato a ser desvendada (lembrando os mistérios de Agatha Christie), um serial killer à solta (filmes sobre psicopatas forma um subgênero à parte) e finalmente tudo se passando durante a segunda guerra mundial, numa Paris deslumbrante, mas ocupada pelas forças armadas nazistas.

O elenco reuniu novamente a dupla Peter O'Toole e Omar Sharif, que tinham brilhado no clássico "Lawrence da Arábia" de David Lean. Eles não contracenam muito, é verdade, mas formam a espinha dorsal da narrativa, uma vez que Sharif tenta de todas as formas descobrir a identidade do general assassino e o personagem de Peter O'Toole se torna logo um dos principais suspeitos. Não deixa de ser muito curiosa a estrutura desse enredo, pois em uma guerra em que morriam milhões ao redor do mundo, termos um personagem assim, obcecado em descobrir quem matou a prostituta polonesa. Claro, não deixa de ser uma grande ironia da trama original. Recomendo para quem gosta de filmes com mais de uma temática, pois aqui temos um filme de guerra com toques de filmes sobre serial killers. O resultado final dessa mistura ficou excelente.

A Noite dos Generais (The Night of the Generals, Estados Unidos, Inglaterra, França, 1967) Estúdio: Columbia Pictures, Horizon Pictures / Direção: Anatole Litvak / Roteiro: Joseph Kessel, Paul Dehn / Elenco: Peter O'Toole, Omar Sharif, Tom Courtenay, Donald Pleasance / Sinopse: Durante a II Guerra Mundial, em uma Europa ocupada pelas forças armadas do III Reich, um Oficial nazista começa a investigar uma série de mortes. Ao que tudo indica um general alemão estaria envolvido nos crimes.

Pablo Aluísio.