domingo, 7 de janeiro de 2018

Os Segredos da Bíblia

Título no Brasil: Os Segredos da Bíblia
Título Original: Bible's Buried Secrets
Ano de Produção: 2011
País: Inglaterra
Estúdio: BBC Studios
Direção: Rob Cowling, Emily Davis
Roteiro: Jean-Claude Bragard, Rob Cowling
Elenco:  Francesca Stavrakopoulou, Aren Meir, Israel Finkelstein, Yosef Garfinkel, Doron Spielman, Baruch Halpern

Sinopse:
Documentário contando com especialistas em arqueologia bíblica que tentam provar com relíquias e rastros deixados pelo passado, a veracidade ou não das histórias que são contadas no velho testamento.

Comentários:
Essa série de documentários na verdade contou com três episódios apenas: "Did King David's Empire Exist?" (O Império do Rei Davi existiu?), "Did God Have a Wife?" ("Deus teve uma esposa?") e finalmente "The Real Garden of Eden" ("O verdadeiro Jardim do Éden"). O interessante é que pouco se comprovou das histórias contadas no velho testamento. Isso é até relativamente fácil de explicar. Além do fator temporal (O Rei Davi, por exemplo, teria vivido mil anos antes de Cristo), o território de Israel foi palco de inúmeras invasões de povos inimigos ao longo de toda a sua história, destruindo sítios arqueológicos e monumentos que poderiam servir para a arqueologia atual como prova das antigas histórias. A série mostra, por exemplo, como é complicado nos dias de hoje provar a existência histórica de Moisés. Muitos historiadores da Israel atual supõem que o número de judeus que fugiram do Egito foi bem menor do que o relatado no livro do Exodus. Eles provavelmente também não ficaram por 40 anos andando nas areias escaldantes do deserto como algumas traduções das escrituras querem fazer crer. Assim fica a curiosidade de saber o que a arqueologia moderna tem a dizer sobre as origens do povo hebreu. Cheio de informações e teses propostas por esses estudiosos, os três episódios formam um mosaico bem curioso do mundo antigo, dos tempos de Salomão e Abraão.

Pablo Aluísio.

sábado, 6 de janeiro de 2018

Os Caçadores da Arca Perdida

Decidi rever "Os Caçadores da Arca Perdida". Esse foi um filme que assisti pela primeira vez em minha adolescência (talvez fim da infância, não me recordo bem), que fazia muitos anos que tinha visto pela última vez. É a tal coisa, em relação a determinados filmes criamos uma certa nostalgia emocional, muitas vezes por termos assistido em determinada época de nossas vidas. Agora revendo o filme já não me pareceu tão encantador e especial. Afinal já sou outra pessoa, vivendo outra fase da minha existência. Reflexões existenciais à parte, também devo dizer que o trabalho de Steven Spielberg e George Lucas continua intacto e não foi afetado pela passagem dos anos.

A intenção da dupla foi recriar o espírito dos antigos filmes de matinês dos anos 40 e 50. Acertaram em cheio. Indiana Jones em sua primeira aparição no cinema, não deixa a bola cair em nenhum momento. O enredo criado e escrito por George Lucas é pura aventura nostálgica. Jones (Ford) é um professor de arqueologia que está sempre pronto a ir atrás de grandes relíquias do passado. Após colocar as mãos em uma antiga divindade de ouro dos Maias e ser passado para trás pelos nazistas, ele volta para os Estados Unidos. Então é procurado para ir atrás daquela que talvez seja a maior relíquia arqueológica da história, a Arca da Aliança, a mesma onde Moisés depositou os dez mandamentos.

Acontece que os nazistas também estão tentando localizar o lendário objeto, já que Hitler e seus imediatos eram particularmente interessados em ocultismo. Acreditavam que a posse da Arca da Aliança lhes trariam a invencibilidade nos campos de batalha. Indiana Jones então parte para sua aventura, inicialmente indo até o Nepal onde encontra a filha de um velho arqueólogo que achou o cajado que iria determinar a localização exata da Arca no deserto do Egito (como ela foi parar lá? O roteiro explica, foi roubada por um Faraó que destruiu o Templo de Salomão).

A partir daí o filme não cessa um minuto. É uma cena de ação e aventura atrás da outra. Tem de tudo, cenas de perseguição, a luta de Indiana Jones e um brutamontes nazista na frente do avião (que você certamente vai lembrar por causa do sangue jorrando para todos os lados pela hélice do aparelho) e é claro a descida de Indiana Jones até o templo onde a Aliança foi guardada e escondida (que aliás é repleto de cobras, que Jones simplesmente tem pavor). No final Spielberg e Lucas decidiram (com acerto) ir para o lado sobrenatural da situação, mostrando a Arca da Aliança como realmente um objeto de grande poder. Assim que a Arca é aberta pelos nazistas forças poderosas e inexplicáveis consomem a todos ao redor. Uma cena memorável que inclusive não perdeu seu impacto em termos de efeitos especiais.

O saldo final foi muito positivo. Rever "Raiders of the Lost Ark" sempre será um prazer, pelo visto. Claro que o mesmo impacto que tive quando assisti pela primeira vez nunca mais se repetirá. Esse foi consumido pelas areias do tempo. Mesmo assim é impossível negar que o filme ainda continua muito divertido e sagaz.  Um símbolo da genialidade de Steven Spielberg, no auge de sua fase dourada e criativa, e George Lucas, que deixou o universo de "Star Wars" para criar outro universo igualmente saboroso e marcante na história do cinema.

Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark, Estados Unidos, 1981) Direção: Steven Spielberg / Roteiro: Lawrence Kasdan, George Lucas / Elenco: Harrison Ford, Karen Allen, Paul Freeman / Sinopse: Após ser passado para trás na busca de um artefato nas selvas da América Central, o arqueólogo Indiana Jones (Harrison Ford) é contactado pelo governo americano para localizar a Arca da Aliança, que está sendo cobiçada pelos nazistas. Cabe a Jones achá-la antes que caia nas mãos de Hitler.

Pablo Aluísio.

Apenas um Garoto em Nova York

O filme se passa no meio editorial de Nova Iorque, mas no fundo é focado na família do jovem Thomas Webb (Callum Turner). Ele está naquela idade em que ainda não decidiu o que fazer. Ele terminou o colegial e não foi para a faculdade. Por isso passa os dias andando com a namorada Mimi pelas ruas da cidade. Durante uma noite de curtição em um restaurante ele pega seu próprio pai, Ethan Webb (Pierce Brosnan), aos beijos com uma desconhecida. Uma situação constrangedora e complicada de resolver, afinal ele deveria dizer para sua mãe da traição dele? Ou deveria varrer tudo para debaixo do tapete, evitando assim que seus pais se divorciassem?

De uma forma ou outra, Ethan começa a seguir os passos da amante do pai, Johanna (Kate Beckinsale). Descobre que ela trabalha no mercado de livros e pior do que tudo, acaba se apaixonando também por ela! Por fim fechando o círculo confuso de relacionamentos de sua vida pessoal, Ethan acaba conhecendo um escritor decadente e bêbado que mora no seu prédio, o outsider W.F. Gerald (Jeff Bridges). Autor de sucesso no passado, ele vive uma crise de criatividade, sempre procurando inspiração para sua próxima obra. Acaba encontrando na vida de Ethan o que procurava e traz a história do jovem para as páginas daquele que será seu futuro livro.

Embora tenha nuances de drama, esse filme não vai muito por esse caminho. Mesmo as situações mais dramáticas (como se apaixonar pela amante do pai) vai tendo resoluções mais ou menos brandas. O roteiro também sutilmente propõe que a cidade de Nova Iorque perdeu sua identidade nos últimos anos, deixando de ser a cidade artisticamente inspiradora do passado para se tornar apenas uma grande cidade, amorfa e sem graça. O triângulo amoroso envolvendo amante, pai e filho, curiosamente nem é a principal surpresa da trama, pois o personagem de Jeff Bridges revela ter algo a mais com Ethan do que ele jamais poderia imaginar. Em suma, um bom filme, que tenta ser sofisticado, retratando os moradores de Nova Iorque como pessoas mais intelectualizadas, mesmo sem escapar das armadilhas do destino que vão acontecendo com o passar dos anos.

Apenas um Garoto em Nova York (The Only Living Boy in New York, Estados Unidos, 2017) Direção: Marc Webb / Roteiro: Allan Loeb / Elenco: Pierce Brosnan, Jeff Bridges, Kate Beckinsale, Callum Turner, Cynthia Nixon, Kiersey Clemons / Sinopse: O jovem Thomas Webb (Callum Turner) descobre que seu pai, Ethan Webb (Pierce Brosnan), está tendo um caso amoroso fora do casamento com a bela e sensual Johanna (Kate Beckinsale). Enquanto não decide o que fazer, acaba conhecendo seu vizinho, um escritor decadente chamado W.F. Gerald (Jeff Bridges) que prontamente se coloca à sua disposição para resolver todos esses problemas em sua vida pessoal.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Lady Bird

Esse filme acabou de ser premiado pelo Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Comédia ou Musical e Melhor Atriz (Saoirse Ronan). Ambas premiações mais do que justas. Aliás é bom salientar que Saoirse Ronan caminha a passos largos para se tornar a melhor atriz de sua geração. Ela começou muito jovem, ainda como a garotinha de olhos expressivos de "Desejo e Reparação" e depois de "Brooklyn" nada parece estar em seu caminho. Muito talentosa, ela aqui interpreta uma adolescente que insiste em ser chamada de "Lady Bird", embora seu nome real seja Christine.

Ela mora em uma pequena cidade da Califórnia chamada Sacramento. O lugar, em sua opinião, é muito sem graça. Por isso seu sonho e ir um dia embora para Nova Iorque. A família tem seus problemas. O pai está desempregado, o irmão mais velho, apesar de ser formado em uma ótima universidade, também não consegue um emprego, vivendo como caixa de supermercado. A mãe enfermeira segura a barra e faz de tudo para pagar uma boa escola católica para a filha, mas Lady Bird não parece muito interessada nos estudos. Ela está naquela fase da vida em que não sabe ainda o que quer, mas já sabe que uma das coisas que ela não deseja de jeito nenhum é ficar em Sacramento pelo resto de sua vida.

O nome "Lady Bird" aliás já diz muito. Ela quer ser livre, ir embora, como se fosse um passarinho. A oportunidade chega quando ela termina o High School. Sua chance de ir embora é ser aceita por alguma universidade, de preferência em Nova Iorque, a cidade de seus sonhos. O roteiro assim explora a vida dessa jovem comum, mostrando essa fase de transição em sua vida. Uma das melhores coisas dessa história é mostrar o dia a dia de uma estudante de escola católica. As amizades, verdadeiras e falsas, as primeiras decepções amorosas e a incerteza sobre o futuro. Tudo muito humano e bem conduzido. O filme é muito bacana por mostrar a vida de uma menina, quase mulher, que certamente vai causar identificação em muita gente. É um filme realmente muito bom, acima da média. Está mais do que recomendado para quem gosta de filmes que conseguem mostrar a beleza que existe na vida comum de cada um.

Lady Bird: É Hora de Voar (Lady Bird, Estados Unidos, 2017) Direção: Greta Gerwig / Roteiro:  Greta Gerwig / Elenco: Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts, Lucas Hedges / Sinopse: Christine 'Lady Bird' McPherson (Saoirse Ronan) é uma estudante de escola católica que está em seu último ano antes de ir para uma universidade. Uma época de muitas descobertas em sua vida, a primeira grande paixão, as amizades e a vida na pequena Sacramento. Seu sonho é um dia ir embora para Nova Iorque. Sua maior chance disso acontecer é ser aceita em uma das universidades da cidade.

Pablo Aluísio.

Billy Elliot

Esse filme foi baseado em fatos reais. É a singela história de um garoto cujo pai quer que ele se torne lutador de boxe. Por isso o matricula na academia do bairro. O menino é franzino, magro, não muito adequado para um esporte tão violento, que exige tanto do aspecto físico. Assim acaba acontecendo o óbvio: ele leva uma dúzia de surras no ringue. O pai, um mineiro, porém não quer saber, acha que ele vai ficar mais durão com esse tipo de lição. Só que o pior acontece (sob o ponto de vista do pai, claro) quando Billy começa a prestar atenção nas meninas que dançam ballet numa sala ao lado onde ele treina boxe. Ele fica encantando com a dança, com a beleza e a suavidade dos movimentos. Logo compra (escondido) um par de sapatilhas e começa a frequentar as aulas de ballet ao lado das meninas. Imagine quando o pai descobre toda a verdade...

O roteiro é bem humano e desnuda o preconceito, a visão estreita e a estupidez de certa pessoas (em especial do pai do garoto). O fato dele dançar ballet não o tornava obviamente um homossexual, longe disso. Porém como explicar isso a um turrão do interior? Pela bela mensagem que passa, focando na tolerância e no respeito pelas escolhas de cada pessoa, o filme acabou sendo indicado a três prêmios no Oscar, entre eles o de Melhor Roteiro, o que foi um grande feito para um filme como esse, de pequeno orçamento e produção modesta. Depois a história do Billy Elliot acabou sendo encenada de novo nos mais concorridos palcos de teatro de Nova Iorque e Londres, alcançado o mesmo (e merecido) sucesso.

Billy Elliot (Billy Elliot, Inglaterra, França, 2000) Direção: Stephen Daldry / Roteiro: Lee Hall / Elenco: Jamie Bell, Julie Walters, Jean Heywood / Sinopse: Um garoto sonha em aprender a dançar ballet, mas para isso vai ter que superar os preconceitos de seu pai, um mineiro das minas de carvão, que acha que isso é coisa de homossexual. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção (Stephen Daldry), Melhor Atriz Coadjuvante (Julie Walters) e Melhor Roteiro Original (Lee Hall). Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama e Melhor Atriz Coadjuvante (Julie Walters). Vencedor do BAFTA Awards nas categorias de Melhor Filme Britânico, Melhor Atriz Coadjuvante (Julie Walters) e Melhor Ator (Jamie Bell).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Ao Cair da Noite

Esse filme foi até muito bem recomendado por fãs de filmes de terror e suspense, por isso resolvi conferir. A história se passa em um mundo que foi devastado por uma estranha doença incurável. Aos primeiros sinais de sua presença não resta outra alternativa a não ser a morte. O filme começa justamente assim, com o neto matando e enterrando o próprio avô por esse estar infectado. Eles o levam para a floresta e lá incineram seu corpo. Tudo para evitar que o resto da família seja também contaminada. Passados alguns dias a casa onde vivem pai, esposa e filho, é invadida por um estranho. Ele consegue ser imobilizado e conta que estava em busca de água pois tem mulher e filho em um lugar próximo esperando  por ele.

No benefício da dúvida Paul (Joel Edgerton) resolve acreditar na história contada pelo estranho. Eles vão até a floresta e resgatam sua família, mas será que o novo hóspede estaria mesmo contando toda a verdade? Esse roteiro investe muito mais no suspense. Como todos vivem isolados, com medo da contaminação que praticamente exterminou a humanidade, há sempre um clima de medo, ansiedade e apreensão com o mundo lá fora. Não se trata de mais um filme sobre apocalipse zumbi como alguns disseram, nem de uma contaminação que transformou os seres humanos em vampiros, como afirmaram outros. O roteiro nunca esclarece tudo. O espectador apenas fica sabendo que há uma doença mortal, altamente contagiosa, fazendo com que a família fique isolada e reclusa numa velha casa no meio do bosque. No elenco o filme conta com a atriz Riley Keough, a neta de Elvis Presley, como a esposa do estranho. Ela tem duas ótimas cenas no filme, mostrando que é realmente uma boa atriz. Fora isso o que temos aqui é um bom suspense, que tem seus momentos, mas que também passa longe de ser a obra prima do terror que alguns andaram dizendo por aí.

Ao Cair da Noite (It Comes at Night, Estados Unidos, 2017) Direção: Edward Shults / Roteiro: Trey Edward Shults / Elenco: Joel Edgerton, Christopher Abbott, Riley Keough, Carmen Ejogo / Sinopse: Depois que um vírus mortal se espalha pelo mundo, uma família decide se isolar em uma casa no meio da floresta. Tudo muda quando um estranho chega por lá. Ele tenta invadir a casa e depois que é imobilizado diz que tem mulher e filho sem água no meio da floresta. A vinda dessa segunda família acaba mudando o destino de todos naquela casa isolada.

Pablo Aluísio.

Black Mirror

Série: Black Mirror
Episódio: 1.01 - The National Anthem
Ano de Produção: 2011
País: Inglaterra
Estúdio:  Zeppotron, Channel 4
Direção: Otto Bathurst
Roteiro: Charlie Brooker
Elenco: Rory Kinnear, Lindsay Duncan, Donald Sumpter, Tom Goodman-Hill, Anna Wilson-Jones, Patrick Kennedy
  
Sinopse e comentários:
Esse é o episódio piloto dessa série que anda bem comentada entre os jovens. Claro, o roteiro usa uma situação bizarra e no limite. Uma princesa da monarquia inglesa é sequestrada. Para poupar sua vida o primeiro ministro precisa se humilhar, aparecendo ao vivo na TV tendo relações sexuais com um porco! Sinceramente... achei muito grotesca a situação.

OK, "Black Mirror" aposta mesmo na fronteira entre a ficção mais radical e a falta completa de bom gosto. Quase atravessaram a linha. Particularmente não consegui ver nada de muito importante ou impactante. Na verdade assim que a situação foi colocada na tela fiquei com aquela sensação de que passaram um pouco dos limites! Afinal uma série convencional como essa tratando de zoofilia, mesmo que na base do argumento do enredo, me pareceu um pouco demais da conta. Não sei se vou continuar assistindo. Talvez verei mais um ou dois episódios. Se não me convencerem de que vale a pena deixarei para lá.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O Rei do Show

Eu não costumo ler muito sobre um filme antes de assisti-lo. Justamente para não perder o fator surpresa que penso ser uma das coisas mais interessantes em relação a ver um filme pela primeira vez. Por isso tive uma surpresa e tanto ao descobrir que esse "The Greatest Showman" é na verdade um musical! Isso mesmo, embora conte sua história até de maneira quase convencional, o roteiro encaixou vários números musicais onde os personagens de repente saem cantando e dançando, nas mais diferentes situações. Claro que não no estilo dos antigos musicais da MGM, mas sim na linha de produções mais recentes como "La La Land". Muita gente não gosta desse gênero, mas no meu caso não vejo problema nenhum, pelo contrário, até aprecio.

Muito bem, entre uma canção e outra, o enredo vai contando a história real do empresário circense P.T. Barnum, um nome muito popular no século XIX. Claro, o roteiro trata com simpatia seu protagonista, o mostrando como um bom homem, que pela necessidade de dar a melhor vida possível para sua família resolveu investir em um circo de aberrações para ganhar dinheiro. Assim ele vendia ingressos para que o público visse o menor homem do mundo, o homem mais alto do mundo, a mulher barbada, o oriental tatuado, o incrível homem de três pernas e por aí vai. Embora tenha boas intenções nesse aspecto a verdade nua e crua era que P.T. Barnum não era o sujeito bonzinho e boa praça representado no filme. Na verdade ele era um picareta que ganhava dinheiro com a deficiência e os problemas dos outros. Um verdadeiro canalha.

O filme porém passa longe de retratá-lo assim. Nem sua frase mais famosa que dizia que nascia um idiota a cada segundo, foi lembrada (ou melhor dizendo, estrategicamente varrida para debaixo do tapete). O que sobra diante disso é um filme bem simpático, nada condizente com os fatos históricos reais, mas que consegue ao menos entreter com competência o público. Um aspecto interessante é a presença da cantora Jenny Lind. Ela de fato existiu e dizia-se na época que tinha a voz mais linda do mundo. Infelizmente registros gravados de sua voz não sobreviveram ao tempo (a tecnologia de gravação era muito rudimentar na época). De qualquer maneira a simples lembrança dela já valeu a pena, embora o roteiro tropece mais uma vez ao mostrar um tipo de sentimento entre os dois. Isso jamais aconteceu já que na história real Lind acusou Barnum de tê-la roubado, ficando com a maior parte do dinheiro de sua turnê pelos Estados Unidos (que rendeu quase cem apresentações em um ano!).

O ator Hugh Jackman dança e canta no filme. Graças a uma edição muito bem feita ficamos com a impressão de que ele é um bom dançarino. Só que não se engane, é tudo mesmo fruto apenas da edição que corta a cena em tantas partes que você já não consegue acompanhar direito o que está acontecendo. As músicas da trilha sonora até são agradáveis, porém é aquele tipo de material que você já sabe que não vai longe. São canções bonitas e descartáveis. Nada memoráveis. Algumas fazem uma força incrível para se tornarem hits nas rádios. Tudo em vão. O filme tem ido bem de bilheteria e é um dos fortes candidatos aos prêmios de cinema que estão vindo por ai. Vamos ver se o favoritismo se confirma. Então é isso. "O Rei do Show" é um bom filme que por acaso é um também um musical, sem muita preocupação com o P.T. Barnum histórico. Por mais falhas que tenha, pelo menos diverte por uma hora e meia, sem fazer muito esforço.

O Rei do Show (The Greatest Showman, Estados Unidos, 2017) Direção: Michael Gracey / Roteiro: Jenny Bicks, Bill Condon / Elenco: Hugh Jackman, Michelle Williams, Zac Efron, Rebecca Ferguson / Sinopse: Em ritmo de musical o filme conta a história do empresário circense P.T. Barnum (Hugh Jackman). Após perder o emprego ele resolve comprar um museu falido em Nova Iorque. Em pouco tempo resolve transformar o lugar em um circo de aberrações, com pessoas bem diferentes. Acusado de explorar a desgraça alheia, Barnum se torna um homem rico, usando seu dinheiro para contratar a cantora Jenny Lind (Rebecca Ferguson) para uma série de concertos ao vivo por todo o país. Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Canção Original ("This is Me" de Benj Pasek e Justin Paul). Também indicado nas categorias de Melhor Filme - Comédia ou Musical e Melhor Ator - Comédia ou Musical (Hugh Jackman).

Pablo Aluísio.