quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O Rei do Show

Eu não costumo ler muito sobre um filme antes de assisti-lo. Justamente para não perder o fator surpresa que penso ser uma das coisas mais interessantes em relação a ver um filme pela primeira vez. Por isso tive uma surpresa e tanto ao descobrir que esse "The Greatest Showman" é na verdade um musical! Isso mesmo, embora conte sua história até de maneira quase convencional, o roteiro encaixou vários números musicais onde os personagens de repente saem cantando e dançando, nas mais diferentes situações. Claro que não no estilo dos antigos musicais da MGM, mas sim na linha de produções mais recentes como "La La Land". Muita gente não gosta desse gênero, mas no meu caso não vejo problema nenhum, pelo contrário, até aprecio.

Muito bem, entre uma canção e outra, o enredo vai contando a história real do empresário circense P.T. Barnum, um nome muito popular no século XIX. Claro, o roteiro trata com simpatia seu protagonista, o mostrando como um bom homem, que pela necessidade de dar a melhor vida possível para sua família resolveu investir em um circo de aberrações para ganhar dinheiro. Assim ele vendia ingressos para que o público visse o menor homem do mundo, o homem mais alto do mundo, a mulher barbada, o oriental tatuado, o incrível homem de três pernas e por aí vai. Embora tenha boas intenções nesse aspecto a verdade nua e crua era que P.T. Barnum não era o sujeito bonzinho e boa praça representado no filme. Na verdade ele era um picareta que ganhava dinheiro com a deficiência e os problemas dos outros. Um verdadeiro canalha.

O filme porém passa longe de retratá-lo assim. Nem sua frase mais famosa que dizia que nascia um idiota a cada segundo, foi lembrada (ou melhor dizendo, estrategicamente varrida para debaixo do tapete). O que sobra diante disso é um filme bem simpático, nada condizente com os fatos históricos reais, mas que consegue ao menos entreter com competência o público. Um aspecto interessante é a presença da cantora Jenny Lind. Ela de fato existiu e dizia-se na época que tinha a voz mais linda do mundo. Infelizmente registros gravados de sua voz não sobreviveram ao tempo (a tecnologia de gravação era muito rudimentar na época). De qualquer maneira a simples lembrança dela já valeu a pena, embora o roteiro tropece mais uma vez ao mostrar um tipo de sentimento entre os dois. Isso jamais aconteceu já que na história real Lind acusou Barnum de tê-la roubado, ficando com a maior parte do dinheiro de sua turnê pelos Estados Unidos (que rendeu quase cem apresentações em um ano!).

O ator Hugh Jackman dança e canta no filme. Graças a uma edição muito bem feita ficamos com a impressão de que ele é um bom dançarino. Só que não se engane, é tudo mesmo fruto apenas da edição que corta a cena em tantas partes que você já não consegue acompanhar direito o que está acontecendo. As músicas da trilha sonora até são agradáveis, porém é aquele tipo de material que você já sabe que não vai longe. São canções bonitas e descartáveis. Nada memoráveis. Algumas fazem uma força incrível para se tornarem hits nas rádios. Tudo em vão. O filme tem ido bem de bilheteria e é um dos fortes candidatos aos prêmios de cinema que estão vindo por ai. Vamos ver se o favoritismo se confirma. Então é isso. "O Rei do Show" é um bom filme que por acaso é um também um musical, sem muita preocupação com o P.T. Barnum histórico. Por mais falhas que tenha, pelo menos diverte por uma hora e meia, sem fazer muito esforço.

O Rei do Show (The Greatest Showman, Estados Unidos, 2017) Direção: Michael Gracey / Roteiro: Jenny Bicks, Bill Condon / Elenco: Hugh Jackman, Michelle Williams, Zac Efron, Rebecca Ferguson / Sinopse: Em ritmo de musical o filme conta a história do empresário circense P.T. Barnum (Hugh Jackman). Após perder o emprego ele resolve comprar um museu falido em Nova Iorque. Em pouco tempo resolve transformar o lugar em um circo de aberrações, com pessoas bem diferentes. Acusado de explorar a desgraça alheia, Barnum se torna um homem rico, usando seu dinheiro para contratar a cantora Jenny Lind (Rebecca Ferguson) para uma série de concertos ao vivo por todo o país. Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Canção Original ("This is Me" de Benj Pasek e Justin Paul). Também indicado nas categorias de Melhor Filme - Comédia ou Musical e Melhor Ator - Comédia ou Musical (Hugh Jackman).

Pablo Aluísio.

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