terça-feira, 9 de junho de 2015

Whiplash: Em Busca da Perfeição

Tudo o que o jovem Andrew (Miles Teller) sonhou na vida foi se tornar um grande baterista. Em busca desse objetivo ele acabou sendo admitido numa das mais prestigiadas escolas de música dos Estados Unidos. Lá acaba tendo que lidar com o professor Fletcher (J.K. Simmons), um mestre rígido, extremamente disciplinador e irascível. Tentando conciliar seus estudos musicais com uma vida privada quase inexistente, Andrew acaba se interessando por uma garota que trabalha no cinema onde costuma frequentar. Assim tentará vencer tanto no mundo da música como em seu complicado relacionamento com a nova namorada. "Whiplash" foi bastante elogiado pela crítica americana em seu lançamento, ao ponto inclusive de ter faturado uma improvável indicação ao Oscar de Melhor Filme desse ano. Sinceramente achei um pouco superestimado. 

Não há dúvida que é um bom filme, muito bem conduzido pelo (ainda inexperiente) diretor Damien Chazelle. O resultado agrada, mas não chegaria ao ponto de o qualificar como um dos dez melhores filmes do ano. Talvez um dos problemas seja a incômoda sensação de que o ainda praticamente novato cineasta não conseguiu resistir a certos clichês. A luta pelo protagonista em se tornar um grande músico, ao ponto de se mirar em seu ídolos do passado transformando tudo numa verdadeira obsessão, muitas vezes assume um tom exageradamente épico, principalmente quando ele surta em seu instrumento, tendo ataques, com as mãos ensanguentadas, finalizando tudo com socos e chutes em sua própria bateria! O que ele estaria pensando? Que seria um Rocky, um Lutador, das baquetas? Tudo aquilo tem apenas a finalidade de impressionar o espectador, ou em outras palavras, são cacoetes narrativos... clichês! Há uma cena que resume bem isso quando Andrew passa por uma verdadeira odisséia para chegar a tempo em uma apresentação. Além de seu ônibus furar o pneu e ele ter que alugar um carro, no caminho ainda sofre um sério acidente ao colidir com uma carreta! Cheio de sangue escorrendo pela face, bastante ferido, ele (pasmem!) acaba chegando a tempo para o concerto! Um pouco exagerado demais não é mesmo?

Bom, mesmo com tanto exagero narrativo duas coisas salvaram "Whiplash" do lugar comum. A primeira fica clara desde as cenas iniciais: a música! Não é nada mal ouvir um belo e sofisticado jazz tradicional desde os caracteres de abertura. O filme, como não poderia deixar de ser, tem uma trilha sonora sofisticada e de alto nível, diria até maravilhosa. Embora em parte a beleza sonora seja muitas vezes ofuscada pelo duelo de egos que se trava entre Andrew e seu mestre, a verdade é que ela acaba se sobressaindo, uma forma ou outra. O outro ponto forte vem da atuação brilhante do veterano J.K. Simmons. Relegado por anos a papéis secundários em filmes meramente medianos, ele aqui encontrou o personagem de sua vida. O professor e maestro que interpreta é um sujeito arrogante ao extremo, petulante, ofensivo e rude e o mais supreendente de tudo é que ao final do filme você acabará gostando dele, de suas ideias e de seu mau-caratismo! 

A cena final inclusive, quando Andrew sem saber acaba caindo em uma ardilosa armadilha para que seja destruído no meio musical, é extremamente bem bolada! Apesar das lágrimas de crocodilo derramadas em estúdio a verdadeira face de Fletcher se revela justamente ali! Isso foi particularmente interessante porque o roteiro não se rendeu a uma solução fácil, previsível, fugindo (finalmente) dos clichês que vinham pontuando o enredo. Nem é necessário dizer que mesmo em um papel meramente coadjuvante o ator J.K. Simmons domina o filme da primeira à última cena. Seu trabalho foi devidamente reconhecido e ele levou para casa todos os mais importantes prêmios do cinema na categoria. Tudo devidamente merecido é bom frisar. Assim, no saldo final, temos um belo filme, muito bom em seus resultados, com ótimas atuações, mas que tampouco pode ser considerada uma obra prima cinematográfica perfeita como alguns quiseram fazer crer. Por fim recomendo ativamente sua trilha sonora que aliás não sai do meu player já há um bom tempo. Assista o filme, mas não esqueça de também curtir a trilha, pois sem dúvida ela é um complemento essencial para compreender "Whiplash" inteiramente.

Whiplash: Em Busca da Perfeição (Whiplash, Estados Unidos, 2014) Direção: Damien Chazelle / Roteiro: Damien Chazelle / Elenco: Miles Teller, J.K. Simmons, Melissa Benoist. / Sinopse: Um professor absurdamente rígido de música encara o desafio de testar todos os limites psicológicos e musicais de um jovem aluno na prestigiada escola de música onde leciona. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (J.K. Simmons), Melhor Edição (Tom Cross) e Melhor Mixagem de Som. Também indicado nas categorias de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado (Damien Chazelle). Vencedor do Globo de Ouro, BAFTA Awards e Screen Actors Guild Awards na categoria de Melhor Melhor Ator Coadjuvante (J.K. Simmons).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros

Título no Brasil: Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros
Título Original: Jurassic World
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: Amblin Entertainment, Legendary Pictures
Direção: Colin Trevorrow
Roteiro: Rick Jaffa, Amanda Silver
Elenco: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Ty Simpkins
  
Sinopse:
Duas décadas depois dos trágicos acontecimentos vistos em "Jurassic Park" há um novo parque temático em funcionamento na Costa Rica, chamado Jurassic World. Sucesso de público, a empresa que administra o parque temático investe em novos dinossauros, não se contentando em apenas recriar espécies do passado, mas também criando novas criaturas em laboratório. Afinal de contas uma nova atração certamente traria mais lucros para a empresa. Fruto de engenharia genética, o Indominus rex é a grande aposta para atrair um novo público. Criado a partir de combinações de animais diferentes o novo dinossauro mostra ter uma inteligência acima da média, além de uma ferocidade jamais vista antes.

Comentários:
Quarto filme da franquia "Jurassic Park". Os roteiristas resolveram ignorar os acontecimentos das partes 2 e 3 e criaram um ponte direta com o primeiro filme. Embora Steven Spielberg não tenha dirigido "Jurassic World", preferindo só atuar como produtor executivo, o que temos aqui é uma obra com a marca registrada do cineasta. Talvez por isso também não seja um filme muito inovador, procurando mesmo repetir as velhas fórmulas do passado. Os personagens humanos, vamos colocar desse modo, não são muito interessantes. Há duas irmãs, sendo uma delas a executiva que cuida do parque. Ela tem que conviver por alguns dias com seus sobrinhos, mas não encontra muito tempo para isso. Na verdade nem está muito preocupada com esse tipo de coisa, pois é uma mulher moderna que não está definitivamente muito preocupada em ter filhos ou se casar, preferindo investir em sua carreira, ao contrário da irmã que virou uma dona de casa típica (e pra lá de chata). Os garotos são protagonistas típicos dos filmes de Spielberg, jovens de famílias suburbanas que estão enfrentando alguns problemas como o iminente divórcio do pais (velha obsessão de Steven, presente em praticamente todos os seus filmes com personagens jovens, talvez impulsionado pelo fato de que os próprios pais do diretor se divorciaram quando ele era garoto, criando um certo trauma em sua mente!).

Por fim há um ex-militar, Owen (Chris Pratt de "Guardiões da Galáxia"), que está promovendo um treinamento básico para velociraptors. Uma das boas cenas do filme surge justamente quando um funcionário do parque cai acidentalmente na jaula dos animais e Owen precisa colocar em prática suas técnicas de treinamento. Bom, a verdade porém é que ninguém vai ver algum filme de "Jurassic Park" em busca de personagens profundos ou psicologicamente interessantes, mas sim para ver os dinossauros. O primeiro a surgir em cena leva cerca de vinte minutos de filme para aparecer, o que deixará a garotada meio frustrada. Depois disso as grandes novidades são mesmo o novo dino geneticamente modificado Indominus rex e um grupo de velociraptors que parecem responder a um treinamento de adestramento (por mais absurdo que isso possa parecer!). Essa foi a forma encontrada pelos roteiristas para reaproveitar mais uma vez esses predadores pré-históricos que tanto sucesso fizeram nos filmes anteriores. Uma maneira de colocá-los ao lado dos mocinhos na história. Outros monstros jurássicos que se destacam são os pterodáctilos que promovem um verdadeiro massacre quando são libertados de seu aviário (esses dinossauros alados já tinham se destacado na parte 3 da franquia). Cheio de erros e equívocos científicos por todos os lados (não vá levar nada do que vê em cena muito à sério), "Jurassic World" se mostra acima de tudo como uma boa diversão, para assistir no cinema comendo pipoca sem stress. O resultado final é bom, mas nada excepcional. De todos os filmes da série "Jurassic Park" ele se apresenta superior apenas a "Jurassic Park 3", sendo superado por boa margem por todos os demais. O enredo simples ao extremo demonstra que os produtores não estavam em busca de nada marcante, mas apenas a produção de mais um blockbuster do circuito comercial, com tudo o que de ruim e quadrado que isso possa significar.

Pablo Aluísio.

Cavalos Selvagens

Título Original: Wild Horses
Título no Brasil: Cavalos Selvagens
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: Patriot Pictures
Direção: Robert Duvall
Roteiro: Robert Duvall, Michael Shell
Elenco: Robert Duvall, James Franco, Josh Hartnett
  
Sinopse:
Scott Briggs (Robert Duvall) é um velho rancheiro texano que se considera um bom homem, honesto, cristão e honrado. Um sujeito da velha escola com seus valores tradicionais e conservadores. Ele tem três filhos e sonha que sua extensa propriedade seja levado adiante por eles, como manda a tradição no Texas. Agora, no final de sua vida, precisa lidar com uma investigação policial de um caso de desaparecimento de um de seus ex-empregados. O jovem sumiu após Briggs descobrir que ele estava tendo um caso com seu próprio filho, Ben (James Franco), que sempre teve uma relação conturbada com seu pai pelo fato de ser homossexual. Teria o velho Briggs alguma ligação com o sumiço desse jovem no passado?

Comentários:
"Wild Horses" é um projeto bem pessoal do ator Robert Duvall. Ele dirigiu, produziu, atuou e escreveu o roteiro do filme. Para completar ainda escalou sua própria esposa, Luciana Pedraza (aqui surgindo nos créditos como Luciana Duvall), para interpretar a Texas Ranger que resolve reabrir um velho caso de desaparecimento envolvendo o ex-empregado de um rancheiro rico e próspero da região. Por falar nisso o personagem de Duvall é um presente e tanto para qualquer grande intérprete. O ator dá vida a um homem com valores firmes e sólidos, tipicamente texanos, que precisa lidar com um filho homossexual. Em um ambiente rural, conservador e rústico como aquele isso seria a última coisa que ele poderia esperar. O conflito se instala rapidamente e o choque de gerações e valores se torna cada vez mais forte. Em pouco tempo a situação vai ficando insuportável para ambas as partes e Ben Briggs (Franco) resolve ir embora. Anos depois retorna ao rancho pois seu velho pai deseja fazer algumas modificações em seu próprio testamento, o que faz ressurgir velhos fantasmas do passado. Para piorar ainda mais a tensa relação entre eles, Ben desconfia que seu pai teve algo a ver com o desaparecimento de Jimmy Davis, um antigo capataz da fazenda que teve um caso amoroso com ele no passado. 

Com uma nova policial na cidade, disposta a reabrir velhos casos arquivados, o cerco vai cada vez mais se fechando sobre o velho Briggs. Robert Duvall assim encarna esse veterano que precisa viver em um mundo que se parece cada vez menos com o que ele aprendeu a viver. Os valores se modificaram e de repente tudo o que ele acreditava ser o certo vai sendo colocado de lado. É um bom homem que pensa estar fazendo o certo, mas que se vê enganado por seus próprios instintos e atos impensados. O argumento obviamente procura explorar algo que é mais comum do que se pensa, as tensões familiares que surgem quando uma pessoa resolve se assumir gay. O melhor desse roteiro é que ele não levanta bandeiras e nem sai defendendo a causa gay de forma ostensiva e panfletária, o que tornaria tudo muito chato e maçante. Ao contrário disso se contenta em apenas explorar e mostrar uma situação de conflitos que surge dentro dessa família para tirar o melhor proveito disso. A mensagem assim fica nas entrelinhas, nunca ofendendo a inteligência do espectador. Será esse, em última análise, que irá entender e tirar suas próprias conclusões do que está assistindo. Assim o próprio público poderá criar uma certa identificação tanto com o personagem de Duvall, o velho rancheiro conservador, como com seu filho Ben, representando essa nova mentalidade de ser da sociedade. O resultado final é muito bom, um belo filme que toca em assuntos importantes. Assista e escolha seu lado.

Pablo Aluísio, 

domingo, 7 de junho de 2015

The Eichmann Show

Título Original: The Eichmann Show
Título no Brasil: Ainda Não Definido
Ano de Produção: 2015
País: Inglaterra
Estúdio: British Broadcasting Corporation (BBC)
Direção: Paul Andrew Williams
Roteiro: Simon Block
Elenco: Martin Freeman, Anthony LaPaglia, Rebecca Front
  
Sinopse:
O filme acompanha os preparativos e filmagens do julgamento do Coronel Nazista Adolf Eichmann em 1961, após ele ser capturado por agentes israelenses na Argentina, onde o criminoso de guerra se escondia há anos. Esse foi um dos primeiros julgamentos a serem transmitidos para todo o mundo pela televisão, causando comoção e indignação internacionais por causa das testemunhas do holocausto que contaram seus dramas e as atrocidades que sofreram em campos de concentração por toda a Europa. Também foi a primeira vez que a TV transmitiu as cenas captadas por tropas americanas em campos da morte como Auschwitz e Treblinka. Filme baseado em fatos reais.

Comentários:
Adolf Eichmann (1906 - 1962) foi um dos principais mentores da chamada "solução final para o problema judeu na Alemanha nazista". O nome pomposo camuflou um dos maiores crimes da história da humanidade, quando o regime nazista decidiu eliminar os judeus que lotavam seus campos de concentração. Para isso criou-se as câmaras de gás e toda uma estrutura direcionada para a destruição do povo judeu. Adolf Eichmann era um tenente-coronel da SS que se empenhou pessoalmente para que o holocausto nazista se tornasse operacional e eficiente. Durante a guerra ele e seus subordinados promoveram todos os tipos de crimes, levando à morte idosos, crianças e mulheres que eram deportados de toda a Europa para os campos de concentração nazistas. Quando a guerra chegou ao final ele conseguiu fugir como centenas de outros criminosos de guerra. No começo da década de 1960 os israelenses finalmente o acharam, vivendo escondido na América do Sul, na Argentina. Preso e enviado para israel ele foi levado a julgamento por crimes contra a humanidade. O roteiro de "The Eichmann Show" explora um aspecto diferente desse julgamento, a do trabalho desenvolvido pelo produtor Milton Fruchtman (Martin Freeman) e do diretor Leo Hurwitz (Anthony LaPaglia) em registrar todos os detalhes do julgamento, realizando aquele que foi considerado o primeiro documentário televisivo da história. E é justamente na oportunidade de se assistir a cenas reais captadas no julgamento de Eichmann que se encontra o grande atrativo para se conhecer essa produção. 

O diretor Hurwitz era um americano judeu que havia entrado na lista negra do Macartismo e por essa razão não conseguia mais encontrar trabalho nos Estados Unidos. Sem chance no mercado americano ele acabou indo para Israel para dirigir as filmagens desse evento histórico. O interessante é que Hurwitz tinha esperanças em captar para a posteridade algum sinal de humanidade no infame criminoso nazista. Por essa razão estava sempre muito preocupado em que seus cameramens sempre o focassem em close. Para sua decepção porém não conseguiu captar nada, nenhuma lágrima, nenhum sinal de remorso ou arrependimento, nem mesmo um sorriso irônico na face de Eichmann que confirmasse sua personalidade psicopata. Ao contrário disso só encontrou uma frieza impressionante no sujeito. Já para o produtor Fruchtman o mais importante era realizar um bom trabalho, mesmo sob condições adversas, incluindo aí ameaças de morte feitas contra ele e sua família. A produção desse filme é da BBC, então não é necessário se preocupar com qualidade técnica, pois essa é certamente garantida. No final de tudo a grande lição que fica é a de que os nazistas não estavam em busca de humanidade ou redenção, mas sim colocar em prática seus planos fanáticos, por mais absurdos e sanguinários que fossem. Alguns deles foram realmente nazistas até o fim, até o seu último suspiro na forca.

Pablo Aluísio.

A Incrível História de Adaline

Título no Brasil: A Incrível História de Adaline
Título Original: The Age of Adaline
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: Lakeshore Entertainment
Direção: Lee Toland Krieger
Roteiro: J. Mills Goodloe, Salvador Paskowitz
Elenco: Blake Lively, Michiel Huisman, Harrison Ford
  
Sinopse:
Adaline Bowman (Blake Lively) é uma jovem comum de sua época. Ela vive na década de 1930. Sua vida vai muito bem, pois finalmente encontrou o amor de sua vida, um jovem engenheiro que trabalha na construção da grande ponte elevada de San Francisco. Depois de alguns anos de relacionamento feliz e estável ela decide se casar com ele. Dessa união nasce uma linda filha. Sua existência de felicidade acaba mudando repentinamente quando Adaline sofre um terrível acidente de carro. Seu veículo cai em uma barreira, indo parar em um lago logo abaixo, onde Adaline é exposta a uma incrível soma de fatores atmosféricos e físicos que acaba mudando sua estrutura celular, fazendo com que a partir daquele momento seu processo natural de envelhecimento seja interrompido. Com a mudança Adaline começa a conservar sempre a mesma aparência, mesmo com o passar de décadas e décadas de vida. 

Comentários:
Um filme em tom de fábula que nos agradou bastante. Embora em determinados momentos o roteiro queira dar explicações pseudocientíficas em uma incômoda narração em off para o fato da protagonista nunca envelhecer, a verdade é que isso é o de menor importância. O que mais existe de importante nesse argumento é a mensagem de que o envelhecimento faz parte natural do ciclo da vida e que nem sempre esse processo deve ser visto como algo negativo ou algo a se combater. A personagem principal sofre justamente por não seguir o caminho natural de sua existência. Os anos passam e ela fica parada no tempo, com a mesma aparência, sem sinais de envelhecimento. Isso acaba destruindo seu meio social pois de tempos em tempos ele precisa deixar tudo para trás, seus amigos, seus amores e sua vida profissional. Mesmo sabendo que essa mensagem não será captada por todos, principalmente por aqueles mais fúteis que fazem da juventude eterna uma constante obsessão de vida, o que se sobressai de fato aqui é a delicadeza de sua proposta. Afinal de contas unir a beleza dos jovens com a sabedoria dos mais velhos seria mesmo algo muito invejável para o ser humano. Por falar nisso esse foi um dos aspectos que mais gostei do roteiro. Adaline Bowman (Blake Lively) mantém sua aparência jovem, mas ao mesmo tempo consegue convencer plenamente com pequenos gestos, pequenos detalhes de sua personalidade de que fato é uma pessoa bem mais velha e vivida. Seu figurino é sóbrio, conservador e seus modos estão de acordo com o padrão de comportamento da etiqueta de um passado há muito tempo esquecido.

Ela faz parte de uma era em que as mulheres eram verdadeiramente damas, educadas, de fino trato, elegantes no modo de ser e agir. Nada da vulgaridade que impera nos dias atuais. Blake Lively, que você provavelmente se lembre da série "Gossip Girl", se transforma, ao invés da jovem esfuziante daquele programa surge uma mulher elegante, de modos delicados, fala pausada e educada, além daquele olhar de sabedoria ao ter que lidar com pessoas mais jovens. Gostei bastante de seu trabalho de atuação. O roteiro, que repito é bem escrito e desenvolvido, realmente só derrapa um pouco quando ela supostamente se apaixona perdidamente por um rapaz, obviamente bem mais jovem do que ela (e quando digo mais jovem estou me referindo a décadas de diferença!). Em uma situação real será que haveria espaço para a paixão envolvendo duas pessoas em momentos tão diferentes da vida? Acredito que não! Nem sempre pessoas com uma grande diferença de idade entre si realmente conseguem se apaixonar verdadeiramente, isso porque no final a mentalidade e as experiências de vida acabam formando uma barreira quase invisível entre o casal. Uma pessoa mais velha pode até procurar por uma mais jovem, em busca dos encantos de sua beleza, porém jamais conseguirá se igualar a ela em termos de mentalidade, por isso a maioria desses relacionamentos acabam afundando com o passar dos anos. Assim se comportar como uma jovem adolescente, logo para Adaline, que tantas experiências teve ao longo de sua longa vida, soa banal e desnecessário, além de implausível. De qualquer maneira, mesmo com esse pequeno deslize de lógica, o filme ainda agrada bastante. Um bom romance, valorizado pelo seu enredo de realismo fantástico, que certamente vai agradar a muitos.

Pablo Aluísio.

sábado, 6 de junho de 2015

Infini

Título Original: Infini
Título no Brasil: Ainda Sem Título Definido
Ano de Produção: 2015
País: Austrália
Estúdio: Storm Vision Entertainment, Eclectik Vision
Direção: Shane Abbess
Roteiro: Shane Abbess
Elenco: Daniel MacPherson, Grace Huang, Luke Hemsworth
  
Sinopse:
Após toda uma tripulação sumir sem deixar vestigios, uma equipe de resgate e salvamento é enviada para uma estação espacial orbital mineradora localizada nos confins do universo. Uma vez lá descobrem um ambiente de destruição e morte, corpos congelados e mutilados, sem que se saiba exatamente a causa de todo aquele cenário desolador. Aos poucos os membros da equipe vão descobrindo que um organismo desconhecido da ciência humana pode estar por trás das mortes. Um tipo de fungo ou vírus indefinido que causa uma forte reação de ira e cólera em todos os contaminados por ele.

Comentários:
A sinopse obviamente fará com que o cinéfilo mais veterano encontre semelhanças demais com a franquia "Aliens". De fato existe mesmo um ponto de identidade com a famosa série de filmes estrelados pela atriz Sigourney Weaver. Afinal seres humanos sendo contaminados e atingidos por uma estranha forma de vida tem tudo a ver com as aventuras da tenente Ripley. O diferencial é que "Infini" procura deixar um pouco de lado a ação para investir na destruição psicológica gradual que se abate sobre todos os membros de uma expedição de resgate no espaço profundo. Por essa razão não temos aqui um roteiro muito fácil de digerir. Apostando mais no lado subjetivo dos personagens o texto pode vir a confundir muita gente, principalmente na conclusão da história, que falando sinceramente não me agradou muito. Na verdade o filme deveria ter acabado com mais ou menos 90 minutos de duração quando se chega a um momento crucial na trama. Se o roteirista e diretor Shane Abbess tivesse encerrado ali o filme poderíamos considerar essa uma pequenina obra prima da ficção. Infelizmente ele foi em frente e acabou com isso criando um final em aberto, dado a inúmeras interpretações (e não espere que o roteiro vá lhe explicar muita coisa!). A produção não é de primeira linha, afinal de contas se trata de um filme B. Isso porém não faz grande diferença já que o roteiro está mais preocupado em mostrar a insanidade que vai abatendo sobre cada membro do grupo de resgate. Visualmente "Infini" lembra algumas ficções dos anos 1990, o que não chega a ser uma desvantagem. No geral se trata de um filme interessante, nada memorável, mas que levanta algumas questões intrigantes que nos fazem pensar um pouco sobre ele após seu fim. Pelo bem, pelo mal, vale a pena ao menos conhecer para se tirar suas próprias conclusões.

Pablo Aluísio.

Blueberry - Desejo de Vingança

Título no Brasil: Blueberry - Desejo de Vingança
Título Original: Blueberry
Ano de Produção: 2004
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia TriStar Pictures
Direção: Jan Kounen
Roteiro: Matthieu Le Naour, Alexandre Coquelle
Elenco: Vincent Cassel, Michael Madsen, Juliette Lewis

Sinopse: 
Quando jovem, Mike Blueberry (Vincent Cassel) foi abandonado pela família, sendo entregue a um tio abusivo e brutal. Depois de uma briga ele é deixado para morrer no deserto mas acaba sendo salvo por nativos americanos. Isso cria um vínculo sentimental entre eles e os índios da região. Os anos passam e finalmente Blueberry se torna um agente federal. Sua tranquilidade como homem da lei é quebrada com a chegada de um perigoso assassino e pistoleiro. Esse está atrás de um tesouro enterrado numa mina de ouro abandonada em terras pertencentes a uma tribo local, algo que o xerife Blueberry não deixará acontecer pois as montanhas onde a mina é localizada são consideradas sagradas para os nativos que lá vivem.

Comentários:
Mais um western moderno que tenta revitalizar o gênero. O resultado é até interessante mas obviamente fica muito além dos antigos clássicos. Um dos pontos mais positivos é o elenco. Gosto de todo o trio de atores principais desse filme. Vincent Cassel, por exemplo, que interpreta Mike Blueberry, tem um tipo bem ideal para fazer personagens do velho oeste. Um sujeito marcado pela rudeza e dureza do western selvagem. Seu oponente não se sai pior. Michael Madsen ao longo da carreira se especializou em interpretar pequenos escroques das ruas de Nova Iorque, membros do chamado baixo clero da Máfia italiana em vários filmes mas aqui acaba se destacando como um pistoleiro rude e cruel. Quem diria. Já Juliette Lewis não me surpreendeu tanto assim. Ela criou uma persona nas telas que sempre chama atenção. Suas personagens femininas são garotas fronteiriças entre a sanidade e a insanidade. Sua intensidade e paixão quando faz esse tipo de papel acaba salvando ela em cena. "Blueberry - Desejo de Vingança" passou muito discretamente no Brasil e por anos foi reprisado no canal HBO. Não é um western indispensável que vá fazer falta em sua coleção mas vale a pena ser conhecido e assistido pelo menos uma vez na vida pois mostra que o faroeste sobrevive, mesmo que em produções menores como essa.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

McFarland dos EUA

Título no Brasil: McFarland dos EUA
Título Original: McFarland, USA
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: Walt Disney Pictures
Direção: Niki Caro
Roteiro: Christopher Cleveland
Elenco: Kevin Costner, Maria Bello, Ramiro Rodriguez
  
Sinopse:
Jim White (Kevin Costner) é um treinador de futebol americano que acaba sendo demitido de seu emprego após jogar um capacete em um aluno indisciplinado de seu time. Por acidente o equipamento acaba ferindo o rosto do rapaz e White acaba mesmo indo para o olho da rua. Sem opções de empregos melhores ele acaba aceitando um trabalho numa cidadezinha pobre da Califórnia chamada McFarland, um lugar com forte presença de imigrantes mexicanos na população. Lá começa a dar aulas de educação física e percebe que há muito potencial em determinados alunos que vão todos os dias para a escola correndo pelos campos da região. Em pouco tempo ele então resolve criar uma equipe de cross country com sete dos melhores corredores da escola. O que começa como um projeto sem grandes ambições toma um rumo inesperado quando a cidade inteira se mobiliza para apoiar e torcer por seus jovens atletas. Filme vencedor do prêmio da Heartland Film na categoria de Melhor Filme inspirado em uma história real.

Comentários:
Baseado em fatos reais não deixa de ser em nenhum momento um filme muito bem intencionado. Na verdade a história procura explorar um aspecto positivo na união envolvendo um treinador tipicamente americano com um grupo de alunos latinos, descendentes de famílias mexicanas pobres formadas por humildes trabalhadores rurais das plantações da Califórnia. Após uma aproximação um pouco ressabiada o treinador vai finalmente descobrindo que naquela cidade existem pessoas realmente maravilhosas e que a origem delas nada diz sobre seu caráter e bondade. Como se sabe existe uma certa tensão racial na América, causada principalmente por ondas e mais ondas de imigrantes ilegais que vão em busca de uma vida melhor nos estados americanos. Muitos deles vão trabalhar na lavoura ou em empregos mal remunerados. O racismo infelizmente está em todas as partes e é potencializado com esse movimento imigratório cada vez mais intenso, mas sabiamente o roteiro não procura bater muito nessa tecla, preferindo se concentrar no valor pessoal de cada um daqueles atletas. Um aspecto curioso é o choque cultural que a família do treinador White leva ao chegar pela primeira vez em McFarland. Supostamente deveria ser uma típica cidadezinha americana, mas eles acabam encontrando mesmo é uma forte presença da comunidade mexicana, criando inclusive uma situação inusitada, a de americanos ou gringos que acabam sendo considerados praticamente estrangeiros em seu próprio país!

Uma amostra do que vem acontecendo dentro das fronteiras dos Estados Unidos. Gradualmente a  cultura americana tradicional vai sendo substituída pela cultura proveniente da grande presença latina de imigrantes. De uma maneira ou outra o argumento acerta em promover a integração dessas duas culturas pelo bem de todos. Claro que em determinados momentos se cria um pequeno mal estar ao explorar a mentalidade do personagem de Kevin Costner que tem ideias equivocadas e até preconceituosas sobre aquelas pessoas, algumas delas inclusive nada lisonjeiras, como por exemplo, associar a criminalidade ao povo mexicano. Depois que o filme avança e a própria família do treinador (que achava aquele lugar um horror) começa a mudar de ideia finalmente temos o ponto ideal do que há de mais importante nesse enredo, a de buscar a integralização das etnias. De resto o roteiro não foge muito das fórmulas de filmes desse tipo, mostrando a superação da inúmeras dificuldades enfrentadas por aqueles atletas até finalmente sua consagração final! Particularmente gostei do resultado, das boas intenções e da história inspiradora. Poderia ser mais curto, com mais ou menos uma hora e meia de duração, mas do jeito que ficou não chega a irritar. Vale a pena conferir e se inspirar na moral da história. Afinal de contas estamos precisando mesmo de mais finais felizes.

Pablo Aluísio.