sábado, 26 de maio de 2007

Elizabeth Taylor


Cleópatra
Elizabeth Taylor em toda a sua glória no papel de Cleopatra, a Rainha do Egito. O filme foi considerado um dos mais caros da história de Hollywood. Uma tentativa ousada da Fox em realizar uma produção tão exuberante que fosse um enorme sucesso de bilheteria. Liz sabendo da grandiosidade envolvida na realização do filme pediu um cachê digno de uma rainha, um milhão de dólares! Depois de muitas negociações a Fox concordou em pagar pela primeira vez na história um valor tão alto a uma atriz em Hollywood. Anos depois Elizabeth diria uma frase irônica sobre seu salário monstruoso: "Se eles foram idiotas o suficiente para pagar, eu não seria certamente idiota em recusar esse dinheiro todo".


Um Lugar ao Sol
Elizabeth Taylor e Montgomery Clift relaxam durante uma pausa das filmagens de "Um Lugar ao Sol". Ambos se tornaram muito próximos, amigos realmente, o que levou a imprensa a especular que estivessem tendo um caso amoroso. Conforme lembrou anos depois Liz realmente teve uma paixão por Clift, mas esse não concretizou a aproximação, provavelmente por ter uma paixão platônica pela atriz e colega. Um caso complicado de paixão não realizada entre os dois que durou anos e anos.


Elizabeth Taylor - Disque Butterfield 8
Elizabeth Taylor em cena clássica do filme Disque Butterfield 8 (Butterfield 8, EUA, 1960). No filme ela interpreta uma prostituta de luxo chamada Gloria Wandrous. O personagem foi considerado extremamente escandaloso na época, por causa do moralismo e puritanismo reinante na sociedade americana. Liz porém não deu ouvidos às críticas e abraçou a oportunidade de interpretar um roteiro assim tão controverso. Ela escalou seu affair do momento, o cantor Eddie Fisher, para o elenco, o que causou ainda mais escândalo pois Fisher era marido de Debbie Reynolds, amiga pessoal de Elizabeth. Isso porém não importou pois ela logo começou um ardente romance com ele. Para complicar ainda mais Liz teve um sério problema de saúde após o fim das filmagens ao qual muitos apostavam que ela não sobreviveria. Talvez por isso ela tenha sido premiada com o Oscar de Melhor Atriz! Um feito e tanto para uma interpretação e um filme tão polêmico como esse.



Elizabeth Taylor e Richard Burton
Nenhum casal causou maior frisson na imprensa do que Elizabeth Taylor e Richard Burton. Eles se conheceram no set de filmagens do épico Cleópatra e nunca mais conseguiram ficar longe um do outro. O detalhe era que quando começaram a namorar ambos eram casados. A atração porém falou mais forte. O caso amoroso, escandaloso desde o começo, ocupou por anos as capas de revistas. Também pudera, foi um amor intenso, mercurial. Não raro suas homéricas brigas e reconciliações iam parar nos jornais de todo o país. Casaram, se divorciaram e voltaram a se casar. Apesar do relacionamento tumultuado uma coisa parece certa: Eles se amavam muito, como bem ficou provado em suas vidas. Um casal para não esquecer jamais. 

Pablo Aluísio. 

Marlon Brando


O Selvagem
Na foto Marlon Brando surge em cena como Johnny, o motoqueiro rebelde do clássico "O Selvagem". O filme se tornou um ícone da cultura pop e Brando virou ídolo da juventude transviada dos anos 50. A despeito disso o próprio ator não gostou muito do resultado final, afirmando anos depois em sua autobiografia que havia achado o filme "muito curto e violento". Sua imagem porém ultrapassou rapidamente a barreira do tempo, se tornando um verdadeiro símbolo daqueles anos.


Brando e o Oscar
Na foto Marlon Brando posa ao lado do Oscar ganho por sua atuação no filme "Sindicato de Ladrões" de 1954. Na película o ator interpretava Terry Malloy, um boxeador fracassado que entrava numa rede criminosa envolvendo um poderoso e corrupto sindicato de Nova Iorque. Na ocasião Brando compareceu à cerimônia na Academia e polidamente recebeu o prêmio. Algo bem diferente iria acontecer décadas depois quando voltou a vencer o Oscar por sua atuação em "O Poderoso Chefão". Nessa segunda premiação Brando recusou o prêmio alegando protestar contra a forma que o cinema americano retratava o povo nativo da América nas telas.
 

Brando e os Panteras Negras
Ao longo de sua vida o ator Marlon Brando defendeu várias causas, entre elas a dos nativos e negros americanos. Na foto acima Brando posa ao lado de um grupo de jovens do grupo radical Panteras Negras. Seu apoio valeu todo tipo de oposição por parte de grupos de supremacia branca. Ao sair nas ruas Brando teve que lidar com o preconceito por causa de suas posições políticas. Em determinado momento precisou de ajuda para sair ileso do cerco de um grupo de membros da KKK que o acusava de ser "um safado que adora negros".


Eles e Elas
Foto promocional do filme "Eles e Elas" (Guys and Dolls, EUA, 1955), o primeiro e único musical da carreira de Marlon Brando. Dirigido por Joseph L. Mankiewicz o roteiro do filme era baseado numa peça da Broadway. Brando quase não aceitou o convite para trabalhar na produção por dois motivos básicos: o primeiro era que ele não sabia cantar e o segundo era que teria que contracenar com um dos maiores cantores de todos os tempos, Frank Sinatra. Mesmo a contragosto acabou aceitando o desafio. Suas músicas foram montadas no estúdio, onde os engenheiros de som compilaram centenas e centenas de gravações de Brando tentando fazer bonito na trilha sonora. Já no set a convivência não foi muito boa entre ele e Sinatra. O cantor se irritava com a mania de Brando em ter que discutir todas as cenas, cada diálogo com o diretor. Para Sinatra tudo isso era "uma besteira típica dos atores de Nova Iorque".


Marlon Brando - Julius Caesar
O ator Marlon Brando posa para foto promocional do filme Julius Caesar (Júlio César, no Brasil), dirigido por Joseph L. Mankiewicz com roteiro baseado na famosa peça escrita por William Shakespeare. A clássica história de poder e traição contou com Brando interpretando o general Marco Antônio, braço direito de César e um dos homens que tentaram vingar sua morte no senado romano nos idos de março. Em cena Brando teve uma grande oportunidade na famosa cena em que o militar discursa após a morte de seu amigo e mentor. Anos depois o ator lamentaria a falta de uma maior experiência na profissão. Para Brando o texto de Shakespeare era demasiadamente complexo e profundo para alguém tão jovem como ele na época.


Marlon Brando - Viva Zapata!
No filme "Viva Zapata!" o ator Marlon Brando interpretou o revolucionário Emiliano Zapata. Desde o começo das filmagens Brando achava que não era o ator ideal para interpretar o mexicano. Consciente, Brando acreditava que apenas alguém do México poderia interpretar de forma convincente o personagem. Mesmo assim acabou sendo convencido pelo diretor Elia Kazan a aceitar o convite. Com roteiro escrito pelo conceituado John Steinbeck o filme prometia bastante a tal ponto que Brando engoliu várias convicções pessoais para trabalhar melhor. Para sua caracterização o ator resolveu adotar um enorme bigode, tal como Zapata na vida real. Assim que viu seu visual o produtor Darryl F. Zanuck mandou Brando aparar o bizarro bigodão, algo que Brando fez, mas não sem antes reclamar bastante disso.
 


Marlon Brando e Jean Peters
Na foto Marlon Brando contracena com a bela Jean Peters no filme "Viva Zapata" de 1952. Jean interpretava Josefa Zapata, sua esposa e companheira fiel. Durante os preparativos para a cena Brando ficou chocado com a atitude do produtor Darryl F. Zanuck, o todo poderoso da Fox na época. Como recorda em sua autobiografia, Zanuck ficou irado com a maquiagem que estava sendo utilizada em Jean. Em sua preconceituosa visão ela estava "ficando preta demais" para seu gosto. Zanuck acreditava que ninguém pagaria para ver um filme com uma mulher de cor como uma das protagonistas. Assim ele mandou refazer todo o trabalho, inclusive com a gravação de novas tomadas, com Jean já com o tom de pele que ele considerava a certa. Para Zanuck pouco importava que ela interpretasse uma mexicana morena queimada pelo sol do campo. Para Zanuck isso era de menor importância. Veracidade histórica não estava em jogo, mas sim a beleza de Jean Peters frente às câmeras. 

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 25 de maio de 2007

O Homem do Terno Cinzento

O filme é extremamente bem feito e roteirizado. Basicamente é um retrato de um homem comum que volta da II Guerra Mundial e tenta criar sua família da melhor forma possível nos anos 1950. Ex-capitão do exército americano, Tom Rath (Gregory Peck), sente na pele os problemas após seu retorno aos Estados Unidos. Passando por dificuldades financeiras, com três filhos e uma esposa insatisfeita e infeliz (interpretada pela atriz Jennifer Jones) ele tenta administrar os problemas familiares e profissionais em meio a uma crise de identidade. O contexto histórico do filme é interessante porque enfoca o pós-guerra, quando milhares de americanos precisou se adaptar aos novos tempos.

Gostei bastante do tom da produção, pois é um filme extremamente sério e realista e não joga panos quentes na situação, principalmente quando se descobre anos depois que o capitão teria tido um filho com uma mulher italiana, na Europa, onde servia o exército. Outro aspecto curioso é a forma como é mostrada uma agência de publicidade naquela época - coisa que acabou sendo justamente o foco do seriado de grande sucesso da AMC, Mad Men. Curiosamente o filme se torna bem atual pois muitos ex-militares americanos ainda encontram dificuldades de se inserirem na vida civil após servirem anos nas forças armadas. Falta de qualificação profissional, desemprego ou subempregos ainda são bastante comum na vida dessas pessoas. Pelo visto mesmo após muitos anos a situação ainda permanece a mesma.

Outro ponto positivo de "O Homem do Terno Cinzento" é seu elenco. Gregory Peck novamente repete seu papel de homem íntegro, embora aqui haja fendas no caráter de seu personagem. Seu estilo de interpretação minimalista até hoje causa impacto. Peck era sutil e conseguia transmitir muito bem as emoções de seus personagens sem recorrer a exageros dramáticos. Já Jennifer Jones derrapa um pouco nas caras e bocas, se tornando um pouco exagerada, mas nada que comprometa o filme como um todo. Eu gosto dessa atriz, recentemente a vi em "A Canção de Bernadette" e ela sempre conseguia mostrar um bom trabalho. Aqui seu trabalho ficou um pouco comprometido. O diretor Nunnally Jonhson era na realidade um roteirista conceituado em Hollywood que ganhou a chance de dirigir alguns filmes (nenhum extremamente marcante). Isso talvez explique o alto nível do roteiro de "O Homem do Terno Cinzento" que procura sempre desenvolver todos os personagens em cena, mostrando seus dramas familiares e pessoais. Enfim, aqui temos um excelente drama dos anos 50. Um ótimo exemplo para se conhecer o que era realizado no gênero pelo cinema americano na época

O Homem do Terno Cinzento (The Man in the Gray Flannel Suit, Estados Unidos, 1956) Direção: Nunnally Johnson / Roteiro: Nunnally Johnson baseado no livro de Sloan Wilson / Elenco: Gregory Peck, Jennifer Jones e Fredric March / Sinopse: Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Tom Rath (Gregory Peck) tenta retomar a vida normal nos Estados Unidos, mas encontra dificuldades, tanto no aspecto profissional, como também na vida familiar pois sua esposa, Betsy Rath (Jennifer Jones) apresenta problemas emocionais. Filme premiado no Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio. 

A Canção de Bernadette

Independente do fato de se acreditar ou não na aparição da virgem Maria na pequena cidade de Lourdes na França o fato é que esse é um grande filme. O mais interessante no inteligente roteiro é que o filme dá voz não apenas aos que acreditaram no fato mas também aos céticos. Toda a situação que ocorreu na cidade após as supostas aparições é mostrada, a reação das autoridades, do clero local e os efeitos que iriam acontecer na cidade com o fluxo enorme de peregrinos em busca de curas milagrosas. Eu particularmente achei totalmente justificado a enxurrada de indicações ao Oscar pois desde a reconstituição do local até os mínimos detalhes tudo foi realizado com grande primor técnico. Destaque também para as locações, figurinos e trilha sonora, essa maravilhosa.

O elenco é todo bom. Do lado dos céticos se destaca o personagem do promotor imperial de Lourdes, interpretado brilhantemente por Vincent Price. Sua cena final, quando se dirige ao local das aparições é certamente um dos melhores momentos do ator no cinema. Já Jennifer Jones no papel de Bernadette enche os olhos. A Atriz foi premiada com o Oscar por sua interpretação e foi mais do que merecida. Ela transparece inocência, pureza e jovialidade num papel complicado, que poderia facilmente cair na caricatura. O diretor Henry King tem uma lista enorme de grandes clássicos em sua filmografia então não foi surpresa nenhuma ao me deparar com a grande qualidade desse "A Canção de Bernadette". Cineasta de mão cheia ele torna o filme obrigatório para todo cinéfilo que se preze. Em resumo temos aqui uma excelente obra prima da década de 40, uma obra que não cai na carolice como era de esperar e que debate fé, fanatismo religioso e crença popular com raro brilhantismo. Excelente clássico que merece ser descoberto (e redescoberto) sempre que possível. Altamente recomendado.

A Canção de Bernadette (The Song of Bernadette, Estados Unidos, 1943) Direção: Henry King / Roteiro: George Seaton (a pertir do romance de Franz Werfel) / Elenco: Jennifer Jones, Charles Bickford, Gladys Cooper, Vincent Price, Lee J. Cobb, Anne Revere./ Sinopse: O filme mostra as supostas aparições da Virgem Maria em Lourdes. Na ocasião uma jovem camponesa chamada Bernadette (Jennifer Jones) afirmou ter visto e falado com a mãe de Jesus Cristo numa gruta próxima onde costumava apanhar lenha com suas irmãs.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Almas Desesperadas

Esse foi um filme feito pela atriz Marilyn Monroe antes dela se tornar uma das maiores estrelas da história de Hollywood. Na época Marilyn era apenas uma garota bonita com um certo potencial. Uma starlet. E o mais interessante de tudo é que ela se saiu muito bem como atriz, sem apelar tanto para seu Sex Appeal. Claro, sua beleza e sensualidade natural sempre iriam chamar a atenção, mas esse não foi o foco do filme em si. A trama é engenhosa. Um casal deixa sua pequena filha aos cuidados da sobrinha do ascensorista do hotel onde estão hospedados. O problema é que a nova babá, chamada Nell Forbes (Marilyn Monroe), sofre de graves problemas psicológicos e mentais. A aproximação de um outro hóspede, Jed Towers (Richard Widmark), na vida de Nell só piora ainda mais a situação. Com isso a situação que já era delicada, se torna explosiva e altamente perigosa.

"Almas Desesperadas" foi o primeiro filme em que Marilyn Monroe realmente se destacou, surgindo com um papel importante. Até aquele momento ela se resumia a fazer papéis pequenos, sem grande importância. A maioria deles apenas aproveitando de sua beleza. Tudo muda aqui. Marilyn Monroe está em praticamente todas as cenas de um roteiro que se passa quase em tempo real, todo em uma só noite, dentro de um quarto de hotel. Muitos biógrafos e críticos afirmam que o papel da babysitter mentalmente perturbada era muito forte para uma Marilyn Monroe ainda tão jovem e inexperiente. De fato, não deve ter sido nada fácil interpretar um personagem assim com apenas 26 anos de idade, mas sinceramente discordo dos que criticam a atuação da atriz nesse filme. Achei sua atuação muito digna e correta. Marilyn, em nenhum momento, cai no exagero ou na caricatura. Para uma jovem estrela, sem muita experiência dramática, devo dizer que ela se saiu extremamente bem. O filme só funcionaria se Marilyn atuasse de forma satisfatória - e ela fez isso, com muita garra e sensibilidade, tenham certeza.

E como poderíamos definir esse filme? "Almas Desesperadas" é, em essência, um drama com toques de suspense e tensão. Quase cinema noir. A estrutura narrativa inclusive lembra uma peça de teatro. Os personagens estão concentrados em um ambiente fechado, dentro de uma situação limite. Poderia ter ficado pesado e chato, mas não, o filme se desenvolve muito bem em seus curtos 76 minutos. Richard Widmark segue a trilha da boa atuação de Marilyn Monroe e desfila elegância e charme durante as cenas. Aliás seu figurino chama bem a atenção pois revela a moda masculina na primeira metade dos anos 1950 com ternos enormes, folgadões, que alguns anos depois viriam a virar moda novamente. E ele era certamente o ator ideal para atuar nesse tipo de papel. Geralmente interpretava personagens que eram anti-heróis ou vilões assumidos. Nunca foi um ator de papéis de sujeitos bonzinhos ao longo de toda a sua carreira.

Para uma produção B da Fox, achei tudo de bom gosto. O hotel onde se passa a estória foi bem recriado e os demais figurinos são bonitos. E por falar em beleza, Marilyn estava linda, maravilhosa na época. Ainda com o frescor da juventude ela fotografou muito bem nas cenas. Com cabelos mais escuros que o normal, os fãs da atriz foram presenteados com vários closes de seu rosto inesquecível. Mesmo fazendo papel de maluquinha sua sensualidade acabou explodindo em cada tomada. Não foi à toa que ela se tornou um dos grandes símbolos sexuais do século XX. Embora seu papel não fosse essencialmente sensual, ela o tornava assim naturalmente. A Fox inclusive investiu bem nisso, a começar pelo poster do filme explorando a sensualidade de Marilyn de forma bem ostensiva e descarada. Em conclusão podemos afirmar que "Almas Desesperadas" não decepciona. É um registro histórico da ascensão de um dos maiores mitos da história do cinema! Só isso já o torna obrigatório.

Almas Desesperadas (Don't Bother to Knock, Estados Unidos, 1953) Direção: Roy Ward Baker / Roteiro: Daniel Taradash baseado na novela de Charlotte Armstrong / Elenco: Richard Widmark, Marilyn Monroe, Anne Bancroft, Donna Corcoran, Jeanne Cagney / Sinopse: Casal que vai a um jantar de gala contrata jovem babá chamada Nell Forbes (Marilyn Monroe) para cuidar de sua filhinha. A babá é sobrinha do ascensorista do hotel e desde que seu namorado morreu na guerra sofre de crises mentais. E esse se torna o grande problema daquela noite.

Pablo Aluísio.

A Embriaguez do Sucesso

É incrível descobrir que um filme como esse foi feito em 1957. Isso porque não era tão comum ver um roteiro assim, tão ácido e mórbido naquela época. Os dois atores principais em cena, Tony Curtis e Burt Lancaster, dão show de interpretação. Curtis, visto apenas como um galã da Universal pelos críticos, aqui apresenta um de seus melhores trabalhos. Está literalmente fantástico como o crápula, mentiroso, cafetão, escroque e 171 Sidney Falco. Confesso que nunca vi uma atuação dele tão boa como essa. É uma pena que Curtis não tenha se desenvolvido mais como ator dramático. Ele de certa forma se acomodou em sua imagem de galã de comédias românticas, principalmente a partir do começo da década de 60 e com vários problemas que foram surgindo ao longo dos anos (como vício em drogas) simplesmente deixou a carreira em segundo plano. Se tivesse procurado se desenvolver melhor na arte da atuação teria sido um grande nome na história de Hollywood. Já Lancaster também está excelente fazendo um verdadeiro psicopata frio, cheio de si e com uma indisfarçável paixão incestuosa por sua irmã (na pela de uma atriz fraquinha mas bonita, Susan Harrison). Muitos criticam Lancaster afirmando que ele era um ator de uma nota só (sempre atlético e com um sorriso montado no rosto). Eu não concordo inteiramente com essa opinião. Realmente em algumas produções Lancaster se apoiou em sua imagem como muleta mas nem sempre isso aconteceu. Basta lembrar do famoso (e ótimo) "O Homem de Alcatraz". Nesse "A Embriaguez do Sucesso" o ator tem uma de suas melhores interpretações. A persona que tanto utilizou em outros filmes aqui está ausente, felizmente.

Outro destaque de "Sweet Smell Of Sucess" é a forma que o diretor encontrou para contar sua estória. São ótimas tomadas de cena feitas em locação na cidade de Nova Iorque. Nos anos 50 era comum que os filmes fossem feitos em Hollywood dentro dos estúdios, geralmente com o uso de back projection (os atores atuavam na frente de uma grande tela onde o cenário da locação da cena previamente filmado era exibido). Aqui não, é fácil ver que tudo foi realmente filmado nas ruas da cidade, sem uso e artifícios como esse. Tudo combina, a sordidez da trama, a direção segura, a ótima fotografia em preto e branco e os diálogos (alguns dos melhores que já vi). Para quem gosta de filmes clássicos, com tramas envolventes e clima noir, "Embriaguez do Sucesso" é uma ótima opção.

O Embriaguez do Sucesso (Sweet Smell of Success, Estados Unidos, 1957) / Direção: Alexander Mackendrick / Roteiro: Clifford Odets (roteiro), Ernest Lehman (roteiro, romance), Alexander Mackendrick / Sinopse: Tony Curtis, Burt Lancaster, Susan Harrison, Martin Milner / Sinopse: O maior colunista jornalístico de Nova York, J.J. Hunsecker, quer a todo custo evitar que sua irmã case-se com Steve Dallas, um músico de jazz. Assim, ele contrata Sidney Falco, um agente inescrupuloso, para atrapalhar o caso dos dois.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Infâmia

Karen Wright (Audrey Hepburn) e Martha Dobie (Shirley MacLaine) são duas amigas de universidade que decidem abrir uma escola exclusiva para moças da sociedade. Karen inclusive já tem planos de se casar com seu namorado, um jovem médico promissor. o Dr. Joe Cardin (James Garner). A vida delas parece seguir muito bem, com todos os seus planos sendo realizados. Porém tudo muda da noite para o dia. Suas vidas, que iam tão bem, são afetadas tragicamente por uma mentira contada por uma de suas alunas. Isso abala completamente o destino delas. Pior do que isso, muitas pessoas da sociedade em que vivem acreditam mesmo nas mentiras inventadas pela jovem aluna.

Seguramente um dos roteiros mais instigantes e corajosos que já vi em um filme produzido na década de 1960. O filme não tem medo de tocar em assuntos que até hoje são tabus e que no passado eram ainda mais fortes. Também é curioso como o argumento do filme é dúbio. Em certo sentido ele realmente deixa completamente desnorteado o espectador, pois ao mesmo tempo que ficamos indignados com o acontecimento que atingem a vida das protagonistas, sabemos de antemão que as acusações possuem um fundo de verdade, mesmo que de forma unilateral por parte de uma delas. Além disso o tema levanta o debate sobre a hipocrisia moral reinante na sociedade.

O elenco está ótimo. Shirley MacLaine, ainda jovem, está linda. Muito charmosa, demonstra que já era uma excelente atriz naquela época. O interessante é que ela era considerada apenas uma estrela de filmes mais comerciais Já Audrey Hepburn desfila toda sua classe habitual em cena. Incrível como mesmo nas maiores adversidades ela jamais perdia a elegância, nem na trágica cena final. Aliás sua caminhada para fora do cemitério, de cabeça erguida, mostrando toda a sua dignidade diante de tudo o que lhe aconteceu, é seguramente uma das maiores cenas de sua carreira. Por fim fica aqui os elogios ao grande cineasta William Wyler. Que ele foi diretor de grandes clássicos da história do cinema, todo mundo já sabe, mas muitos irão se surpreender em ver como ele lidou com o delicado tema desse filme. Genial o seu trabalho. "Infâmia", em suma, é uma obra prima que merece ser descoberta por quem ainda não assistiu. Nota dez.

Infâmia (The Children's Hour, Estados Unidos, 1961) Direção: William Wyler / Roteiro: Lillian Hellman, John Michael Hayes / Elenco: Audrey Hepburn, Shirley MacLaine, James Garner, Fay Bainter, Miriam Hopkins / Sinopse: Amigas desde os tempos da universidade, Karen Wright (Audrey Hepburn) e Martha Dobie (Shirley MacLaine), decidem abrir uma escola para moças. Tudo começa muito bem, até o dia em que elas viram alvos de mentiras perigosas. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante (Fay Bainter), Melhor Fotografia (Franz Planer), Melhor Direção de Arte (Fernando Carrere, Edward G. Boyle), Melhor Figurino (Dorothy Jeakins) e Melhor Som (Gordon Sawyer). Filme indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Direção (William Wyler), Melhor Atriz (Shirley MacLaine) e Melhor Atriz Coadjuvante (Fay Bainter).

Pablo Aluísio.

A História do FBI

O roteiro de "The FBI Story" não conta apenas uma história mas várias. Além disso mistura fatos reais com mera ficção. Ao longo de sua extensa duração (duas horas e meia) vamos acompanhando a vida pessoal e profissional do agente 'Chip' Hardesty (James Stewart). Esse personagem é fictício mas os casos que ele desvenda no filme não! Isso é interessante porque os roteiristas foram pragmáticos. Ao invés de focalizarem inúmeros agentes que resolveram todos esses famosos casos criminais eles resolveram juntar tudo em apenas um só personagem. Assim vamos acompanhando Chip resolvendo crimes que envolvem a KKK no sul racista, a morte de Dillinger, de Ma Barker, de agentes nazistas, de comunistas infiltrados em Nova Iorque etc. Como se trata de James Stewart obviamente Chip é um homem honesto, virtuoso, bom pai de família e cidadão exemplar.

Já que estamos prestes a assistir a J. Edgar com Leonardo Di Caprio nada mais interessante do que ver antes esse "The FBI Story", isso porque o próprio J. Edgar Hoover está no filme, de carne e osso, em participação especial. Aliás o tom ufanista do filme o coloca numa posição de herói americano. Hoover é citado inúmeras vezes e o roteiro faz questão de mostrar o FBI antes de Hoover (uma bagunça) e depois de Hoover (uma super agência de investigação). Como era de se esperar o Bureau ajudou intensamente os produtores, abrindo seus centros de treinamento, mostrando agentes reais em cena e tudo o mais que seria possível. Com tanta ajuda oficial não é de se admirar que o resultado final seja bem chapa branca. Embora pareça mais uma propaganda de J Edgar Hoover (muito poderoso e influente na época em que o filme foi realizado), "The FBI Story" tem seus méritos próprios, pois consegue divertir no final das contas sendo bom entretenimento. Vale a pena assistir.

A História do FBI (The FBI Story, Estados Unidos, 1959) Direção de Mervyn LeRoy / Roteiro de Richard L. Breen e John Twist / Com James Stewart, Vera Miles e Murray Hamilton / Sinopse: O filme mostra através do relato do agente John Michael ('Chip') Hardesty (James Stewart) a verdadeira história do FBI, desde quando a agência funcionava em uma pequena sala até o momento em que se tornou o principal órgão do governo americano no combate ao crime organizado.

Pablo Aluísio.