domingo, 31 de agosto de 2025

Samaritano

Samaritano
Esse novo filme de Sylvester Stallone percorreu um caminho interessante. Ele foi inicialmente produzido para ser lançado no cinema. Só que a MGM foi comprada por uma plataforma de streaming. E assim os novos produtores decidiram que o filme não seria lançado mais em circuito comercial nos cinemas, e sim na própria plataforma de filmes da empresa. Dessa maneira, o filme chega para os fãs de Stallone, que ainda se mantém em forma. O filme foi criticado por certos setores da imprensa especializada, mas eu acredito que são críticas injustas. Dentro de sua modestas pretensões, o filme funciona até que muito bem. Além disso, é bom que Stallone esteja no seu tipo habitual, o tipo de personagem em que ele se sai melhor. 

Ele interpreta um sujeito comum, que vai levando uma vida simples. Trabalha como lixeiro na suja cidade onde vive. Um lugar degradado pelo caos urbano. Até que um garoto que é louco por super heróis o descobre. O menino acredita que ele é um herói chamado Samaritano que há muitos anos está desaparecido. Supõe-se que ele morreu numa feroz luta contra seu inimigo. Mas será mesmo que isso teria algum fundo de verdade? Esse aqui é um filme que eu diria é que é sobretudo eficiente. Não é uma produção de encher os olhos, isso é certo. Entretanto, conta muito bem sua história. Samaritano é um filme que, mesmo com produção modesta, se revela muito mais interessante do que muita porcaria por aí que está sendo lançado atualmente pela Marvel. Também notei que há uma certa dose de nostalgia neste roteiro, lembrando até mesmo os filmes de Stallone de antigamente. Assim eu digo que é um filme que vai agradar aos velhos fãs do ator. Por meios tortuosos, ele acabou acertando mais uma vez.

Samaritano (Samaritan, Estados Unidos, 2022) Direção: Julius Avery / Roteiro: Bragi F. Schut / Elenco: Sylvester Stallone, Javon 'Wanna' Walton, Pilou Asbæk / Sinopse: Garoto de uma região periférica e pobre de uma grande cidade, passa a acreditar que seu vizinho, que trabalha como lixeiro, na verdade é um super-herói há muito tempo desaparecido. 

Pablo Aluísio.

sábado, 30 de agosto de 2025

Mad Max - Estrada da Fúria

Título no Brasil: Mad Max - Estrada da Fúria
Título Original: Mad Max - Fury Road
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos, Austrália
Estúdio: Village Roadshow Pictures
Direção: George Miller
Roteiro: George Miller, Brendan McCarthy
Elenco: Tom Hardy, Charlize Theron, Nicholas Hoult, Hugh Keays-Byrne, Riley Keough
  
Sinopse:
Max Rockatansky (Tom Hardy) vaga por um mundo destruído e sem esperanças. Os bens mais valiosos do que restou da humanidade e da civilização são a gasolina para os motores e a água para a sobrevivência em um mundo deserto e hostil. Durante sua jornada ele acaba sendo feito prisioneiro por uma comunidade liderada por Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), um homem conhecido por sua violência e pulso de ferro para com os seus prisioneiros de guerra, que usa como meras bolsas de sangue para seus guerreiros feridos. Tentando escapar de suas garras a jovem combatente Furiosa (Charlize Theron) resolve fugir para o deserto usando uma de suas máquinas de guerra. Com ela segue um grupo de jovens que se transformaram com os anos em verdadeiras escravas sexuais de Joe. Para Max essa pode ser a chance de finalmente recuperar sua liberdade perdida, mesmo que antes disso ele precise sobreviver a uma caçada mortal pelas areias do deserto.

Comentários:
É incrível que mesmo após tantos anos o diretor George Miller tenha sido tão inovador em uma franquia que ele mesmo criou, lá nos distantes anos 1970. Miller poderia ter optado por realizar um reboot preguiçoso, sem maiores inovações, até mesmo porque ele com a trilogia "Mad Max" original já entrou definitivamente na história do cinema. Seu grande mérito foi não ter se acomodado nas glórias passadas, procurando reinventar a todo momento sua maior criação. Esse novo filme é um primor de inovação. O diretor optou por uma linguagem bem mais moderna, histérica, insana e sem controle. Não há momentos para pausas ou descansos na mente do espectador. "Mad Max - Fury Road" é pura pauleira, da primeira à última cena. É literalmente um veículo sem freios cruzando o deserto sem fim. O enredo é simples, como convém a esse tipo de filme de ação, mas isso em nenhum momento surge como um defeito, pelo contrário, em torno de sua história nitidamente simplória Miller acelera e explode a tela com sensacionais cenas de puro impacto narrativo. Optando por um fotografia saturada e excessiva, o diretor acabou criando um mundo pós-apocalíptico como poucas vezes se viu. A questão é que esse tipo de estilo cinematográfico foi praticamente todo criado por Mad Max e após tantos anos de imitações baratas o produto que deu origem a tudo poderia soar banal e repetitivo. Para evitar esse tipo de armadilha Miller procurou inovar e nesse processo acabou sendo realmente brilhante.

Ouso até escrever que esse filme só não é superado pelo original de 1978 e isso por causa de sua importância histórica. Em termos de fluidez e ritmo nenhum outro filme da série se assemelha a nada do que se vê por aqui. Miller transformou acidentes espetaculares em pura obra de arte visual, totalmente alucinada, mas mesmo assim de uma beleza incrível! O elenco também se destaca, a começar por Charlize Theron. Para interpretar a guerreira Furiosa ela teve que ter parte de seu braço apagado digitalmente. Um trabalho visual simplesmente perfeito. Tom Hardy como o novo Max tampouco decepciona. Suas cenas iniciais mostram bem a luta pela sobrevivência nesse mundo em ruínas. O ator, que teve inúmeros problemas relacionados a abuso de drogas no passado, confessou depois em entrevistas que acabou se identificando com o estilo alucinante do filme. É bem por aí mesmo, o novo "Mad Max" chega a ser lisérgico! Caótico é pouco para definir. O resultado de tantas peças chaves bem colocadas no tabuleiro da produção se traduziu em um belo sucesso de público e crítica, a tal ponto que o estúdio já anunciou sua continuação, "Mad Max - The Wasteland" com a mesma equipe técnica e elenco. Se Mad Max continuar tão bom como nesse "Fury Road" novas sequências serão mais do que bem-vindas.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Nonnas

Nonnas 
Filme muito simpático e amoroso. A história começa lá atrás, nos anos 60. Há esse garotinho que ficava encantado vendo sua mãe italiana fazendo os mais saborosos pratos para a família. O tempo passa, ela falece e ele, agora homem adulto e formado, decide abrir um restaurante de comida italiana. Só que isso seria até mesmo banal. Ele quer algo diferente, onde todas as cozinheiras seriam Nonnas, as queridas avós da comunidade. No começo ele fica empolgado e acaba gastando mais do que podia, uma vez que nunca havia sido um homem rico, trabalhando como operário numa pequena fábrica. Só que a realidade logo bate à porta quando o restaurante começa a ficar às moscas. Ninguém vai até lá, ninguém quer comer em seu estabelecimento. Uma tristeza só. Apenas com muita persistência ele finalmente consegue que um crítico de culinária acabe experimentado seus pratos, dando sua aprovação final, o que muda completamente a sorte de seu pequeno empreendimento. 

Um filme com roteiro bem construído e como eu disse, com uma história cheia de nostalgia de um passado que se foi, que no caso do protagonista, se traduz nele tentando voltar aos tempos de criança, mas ao mesmo tempo tendo que lidar com o fracasso de um negócio que acaba não dando muito certo, pelo menos no começo. De qualquer forma eis aqui uma bela dica para quem fica na Netflix em busca de algo para assistir. Pode selecionar e ver, sem problemas. E se você gosta de histórias com muito sabor e coração, então não deixe mesmo de assistir. Você não vai se arrepender. 

Nonnas (Nonnas, Estados Unidos, 2025) Direção: Stephen Chbosky / Roteiro: Liz Maccie, Jody Scaravella / Elenco: Vince Vaughn, Lorraine Bracco, Talia Shire / Sinopse: A história de um trabalhador comum que movido pela nostalgia de sua infância decide abrir um restaurante com as comidas que sua avó fazia e com um diferencial e tanto: as cozinheiras seriam todas Nonnas, senhoras italianas de idade, tal como sua vó no passado. Baseado em um história real. 

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

F1: O Filme

F1: O Filme
A Fórmula 1 está aí há muitas décadas. É a categoria mais prestigiada do automobilismo mundial. Só que apesar de tudo isso ainda não fizeram um excelente filme sobre esse esporte. Esse novo "F1: O Filme" ainda não é o filme definitivo sobre Fórmula 1, mas devo dizer que fizeram um bom trabalho. É um bom filme. O roteiro não tem lá muita originalidade, temos que admitir, mas ainda assim é um daqueles filmes que prendem nossa atenção. Aliás filmes sobre corridas em geral formam um dos nichos cinematográficos mais antigos que existem. Até o Charles Chaplin fez o seu filme de corridas, então novidade nenhuma. Ainda assim conseguiram fazer um filme legal de um tema que já foi feito e refeito pelo cinema ao longo de todos esses anos. 

O personagem de Brat Pitt nesse filme reúne em torno de si alguns velhos clichês. É o piloto veterano que no passado foi considerado uma grande promessa, com grande potencial para ser o novo campeão. Só que o destino tem seus caprichos e ele acabou saindo da pista (literalmente falando!). Então os anos se passaram, muita coisa aconteceu e eis que ele ganha uma segunda chance de pilotar um carro de fórmula 1. Equipe pequena, um tanto desorganizada, quase fechando as portas, mas nesse tipo de filme sabemos bem o que isso vai significar no final. As cenas de corridas, como era de esperar, são muito bem realizadas. Edição nota 10. Algumas coisas no enredo não serão engolidas facilmente por quem gosta de F1, como por exemplo, largar em última posição e chegar em primeiro no final. Só que esse tipo de coisa eu desconsidero. Não vejo como defeito. Afinal estamos falando de cinema e a fantasia faz parte da sétima arte desde sempre, desde sua criação. De uma maneira ou outra, assista ao filme. Como pura diversão esse F1 vale bastante a pena. 

F1: O Filme (F1, Estados Unidos, 2025) Direção: Joseph Kosinski / Roteiro: Joseph Kosinski, Ehren Kruger / Elenco: Brad Pitt, Javier Bardem, Damson Idris, Kerry Condon / Sinopse: Nesse filme o ator Brat Pitt interpreta um piloto veterano. No passado, nos anos 90, ele quase morreu em grave acidente na Fórmula 1. O tempo passou e agora, já bastante veterano, ganha uma nova chance para mostrar seu valor nas pistas da principal categoria do automobilismo ao redor do mundo. 

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Extermínio 2

Extermínio 2 
Como eu gostei do primeiro filme, resolvi conferir essa continuação. De fato, temos aqui uma boa franquia de terror. Eu sei, eu sei, muita gente vai torcer o nariz porque não aguentam mais essa coisa de Apocalypse Zumbi. Calma, eu também estou farto, mas esses filmes ainda conseguem se salvar do necrotério de filmes ruins para onde todas aquelas produções B (e Z) vão parar! Um fato interessante é que esse segundo filme aproveita a mesma situação, mas mostrando outros personagens. A única coisa que os ligam ao primeiro filme é justamente o fato de que a Inglaterra (provavelmente o mundo) está de joelhos para uma pandemia terrível. 

A história aqui já se passa numa certa calmaria (claro, em seu começo). Parece que os infectados todos morreram de fome depois da alta dose de contaminação. Então as forças armadas vão tentando reunir todos os sobreviventes sadios em uma espécie de campo (que calma, não é de concentração!). Então temos esse pequeno grupo de seres humanos que ainda tentam sobreviver, em especial uma família, cuja mãe é resgatada. Ele foi contaminada, mas não apresenta os sinais da doença. Precisa ser estudada. Só que, como sempre acontece nesse tipo de filme, tudo dá errado e uma nova onda de contaminações se espalha. Eu gostei do filme, principalmente da cena em que a multidão, contaminada e enlouquecida, feito estouro de boiada, parte para cima dos soldados! Como os militares mesmo costumam dizer em campanhas militares... "Não há dia fácil". Pois é, essa frase é a mais pura verdade nesse segundo filme!

Extermínio 2 (28 Weeks Later, Reino Unido, Espanha, 2007) Direção: Juan Carlos Fresnadillo / Roteiro: Rowan Joffe, Juan Carlos Fresnadillo, Enrique López Lavigne / Elenco: Jeremy Renner, Rose Byrne, Robert Carlyle / Sinopse: Em um mundo devastado por um vírus mortal e uma pandemia sem controle, um pequeno grupo de seres humanos precisa lutar por sua sobrevivência, até que tudo venha a desabar novamente em um novo surto de contaminação global. 

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Legião Invencível

"Legião Invencível" é o segundo filme da trilogia dirigida por John Ford retratando a cavalaria americana. O primeiro, "Sangue de Heróis", era uma alegoria dos acontecimentos que levaram a sétima cavalaria do exército americano a ser dizimada por tribos hostis. Era de certa maneira uma crítica mordaz de Ford para com o fato do General Custer ser idolatrado pelo exército como um herói. Aqui o tema continua. Não é necessariamente uma sequência do filme anterior, personagens são diferentes e finalmente o nome Custer surge em cena (no anterior o papel que seria de Custer foi transferido para a de um Coronel puramente ficcional, embora sua estória seja obviamente a do famoso General). Aqui o enredo começa após o massacre de Custer e sua sétima cavalaria. Prestes a se aposentar o Capitão Nathan Brittles (John Wayne) tem que lidar com os efeitos terríveis de Little Big Horn. A moral das tropas sobreviventes, o risco eminente de um novo ataque e os novos problemas decorrentes da mudança de liderança em um forte avançado são algumas das situações que ele deve contornar.

O elenco novamente conta com o ator preferido de John Ford, o eterno cowboy John Wayne. Fazendo o papel de um personagem muito mais velho do que ele na época, Wayne foi fortemente maquiado para parecer um veterano Capitão perto da aposentadoria. Conciliador tenta abrir uma linha de diálogo com os líderes nativos, mesmo com resultados adversos. John Ford novamente foi a Monument Valley para rodar todas aquelas cenas clássicas que tanto conhecemos - com os montes ao fundo em pleno crepúsculo (uma das marcas registradas da carreira do cineasta). O filme é muito bem fotografado e de forma em geral muito mais leve do que "Sangue de Heróis". Não há muitas cenas de ação (afinal a grande batalha sangrenta havia acontecido no filme anterior) sendo que o filme se apoia muito mais no cotidiano da vida dos soldados no posto avançado. O humor também se faz presente, como quase sempre acontecia nos filmes de Ford. Em conclusão podemos considerar "Legião Invencível" um belo filme que traz uma interessante mensagem em seu roteiro, a de que a paz só será alcançada mesmo com atos de diplomacia e tolerância religiosa e cultural. A guerra, como sempre, nunca será a solução para nenhum problema envolvendo choque de civilizações e culturas.

Legião Invencível (She Wore a Yellow Ribbon, EUA, 1949) Direção: John Ford / Roteiro: James Warner Bellah, Frank S. Nugent / Elenco: John Wayne, Joanne Dru, John Agar, Ben Johnson, Harry Carey Jr / Sinopse: Após a morte do General Custer e toda a sétima cavalaria o Capitão Nathan Brittles (John Wayne) tem que lidar com os efeitos terríveis de Little Big Horn. A moral das tropas sobreviventes, o risco eminente de um novo ataque e os novos problemas decorrentes da mudança de liderança em um forte avançado são algumas das situações que ele deve contornar.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

A Marca de um Erro

A Marca de um Erro
Tendo como garantia um excelente roteiro assinado por Zequial Marko, a música de Lalo Schifrin (Operação Dragão), e um time de atores de respeito como: Alain Delon, Ann-Margret, Van Heflin e Jack Palance - o diretor Ralph Nelson (Réquiem Para um Lutador) construiu um belo filme no estilo do inconfundível policial-noir e com forte influência de clássicos do gênero, como os premiados, Rififi - Os Segredos das Jóias e O Grande Golpe. O longa, A Marca de Um Erro (Once a Thief - 1965) conta a história de Eddie Pedak (Alain Delon) um imigrante italiano de Trieste e ex-presidiário que, vivendo na cidade de São Francisco tenta seguir o caminho da regeneração. Porém, o sonho de viver em paz junto com sua linda mulher, Kristine Pedak (Ann-Margret) e sua filhinha, parece impossível.

Tudo porque em seus calcanhares estão o Inspetor Mike Vido (Van Heflin), que jura que Eddie é o responsável pelo recente assalto a uma loja de conveniência que culminou com a morte da proprietária - além da presença sinistra do bandidão Walter Pedak (Jack Palance) irmão de Eddie e que deseja a todo custo o retorno de seu irmão ao mundo do crime para um último e lucrativo assalto. Porém, no caminho do sucesso deste último assalto, está o bandidão James Arthur Sargatanas (John Davis Chandler) braço direito de Walter e inimigo mortal de Eddie Pedak. Um bom filme, com um ótimo e surpreendente final. A bela dupla Delon-Margret, com diálogos precisos e com uma ótima química, consegue manter, suspenso no ar, elementos incendiários como mentira, ciúme e infidelidade, que, jogados num caldeirão em ebulição, pode deixar a história ainda mais instigante e explosiva. Nota 7

A Marca de um Erro (Once a Thief, França, Estados Unidos,1965) Direção: Ralph Nelson / Roteiro: Zekial Marko / Elenco: Alain Delon, Ann Margret e Jack Palance / Sinopse: Em São Francisco (EUA), o jovem imigrante ex-presidiário Eddie tenta mudar de vida e trabalhar para sustentar a esposa e filha pequena. Mas um policial e também seu irmão bandido não o deixam em paz, e acabam por forçá-lo a voltar ao crime. Mas, ao contrário dos outros, Eddie sabe quem são seus verdadeiros inimigos. Filme premiado no San Sebastián International Film Festival.

Telmo Vilela Jr. 

domingo, 24 de agosto de 2025

Imperador Romano Teodósio

Imperador Romano Teodósio
A vida pública de Teodósio começou com um grande fracasso militar. Ao lado do pai, participou de uma violenta campanha militar na Britânia (atual Reino Unido). As legiões romanas há tempos vinham enfrentando forte resistência dos povos nativos. Após uma batalha particularmente sangrenta, seu pai foi morto. Teodósio só sobreviveu por um lance de sorte. Foi alvejado por uma flecha envenenada que entrou em suas costas. Por pouco não morreu. Ferido, foi enviado de volta ao império. Passou meses se recuperando na propriedade de seu pai na Hispânia (atual Espanha). 

Nesse ponto de sua vida, ele não tinha mais ambições políticas. Converteu-se ao Cristianismo e agradeceu por ainda estar vivo! Queria passar o resto de sua vida como dono da fazenda de seu pai, levando uma vida simples, mas seus planos foram deixados de lado quando foi convocado pelo Imperador Graciano para ocupar um alto cargo no Império Romano do Oriente. Nesse período histórico o Império Romano havia sido dividido em dois, pois havia se tornado tão extenso que era impossível governar com um único centro de poder. Havia dois Impérios Romanos e dois Imperadores! No ano de 378 o Imperador Valente foi morto no campo de batalha em uma luta feroz contra os bárbaros Godos. Isso abriu caminho para que Teodósio se tornasse o novo Imperador Romano do Oriente. 

Enquanto se tornava Imperador do Império Romano do Oriente, Roma era saqueada por diversos povos bárbaros, colocando em queda o Império Romano do Ocidente. Sem outras alternativas, Teodósio reuniu todas as legiões romanas orientais e partiu para uma guerra de vida ou morte em Roma. Foi uma guerra extensa e extremamente sangrenta, mas Teodósio conseguiu expulsar os bárbaros de Roma. A cidade, em ruínas, louvava o seu novo Imperador. Teodósio desfilou com suas legiões diante do fórum romano. O caos havia chegado ao fim. Ele prometia ordem e segurança ao povo romano a partir daquele dia. 

Coube a Teodósio então reunificar o Império Romano. Deixou de existir a divisão entre Império Romano do Ocidente e do Oriente. Ele se tornava o único imperador, de todas as províncias, de todas as legiões, até as fronteiras mais distantes do Império. Com a saúde bastante abalada após tantas guerras, o Imperador decidiu também transformar o Cristianismo em religião oficial do Império Romano. Não queria mais que tempo fosse perdido em perseguições contra os cristãos. Ele colocava fim assim a uma crise que vinha de séculos e que nem o grande Constantino havia conseguido encerrar. A partir daquele decreto imperial o Império Romano se tornava oficialmente um Império Cristão!

No ano de 395, enquanto estava chegando em Milão, ao lado de suas legiões, o Imperador Teodósio sentiu-se muito mal. Ele nunca havia se recuperado de forma definitiva dos ferimentos que colecionou ao longo de tantas décadas em frentes de batalha por todo o Império. Além de sofrer aquela flechada quase mortal na Britânia anos antes, ele ainda havia sofrido pancadas, quedas e até mesmo um ferimento de espada que quase lhe matou quando entrou em Roma para a guerra definitiva contra os Godos. Depois disso passou a ter dificuldades até mesmo para respirar com regularidade. 

Ao passar pelos portões da cidade de Milão, ele caiu sozinho de seu cavalo. Estava à frente de uma grande Legião Romana que havia expulsado os bárbaros de Roma. Enviado para um acampamento militar próximo, lutou pela vida por alguns dias, mas finalmente faleceu em 17 de janeiro daquele mesmo ano. Historiadores acreditam que ele morreu vítima de um edema vascular. Outra teoria afirma que a espada bárbara havia perfurado um de seus pulmões, causando sua morte dias depois. Tinha apenas 49 anos de idade quando morreu. A partir desse momento passou a ser conhecido como Teodósio, o Grande, recebendo também o título de Augusto (Divino) pelo Senado Romano. Depois de sua morte o Império foi novamente dividido em duas grandes porções, oriental e ocidental. E nunca mais se reunificou. Assim Teodósio foi o último Imperador Romano de um Império único, unificado, o maior que o mundo havia conhecido desde então. 

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de agosto de 2025

A Onda

A Onda 
"A Onda" é um filme mais do que relevante nos tempos atuais. Essa produção do cinema alemão levanta várias questões de relevância social e política sobre a natureza do ser humano. O roteiro parte de uma premissa interessante: tentando atrair a atenção de seus alunos um professor resolve colocar em prática as aulas sobre "autocracia" que está lecionando. Para isso impõe para a sua classe todos os princípios e diretrizes que formam esse tipo de sistema ditatorial de Estado. Conceitos como disciplina, nacionalismo extremo, militarismo fanático e ordem baseada na violência de Estado saem das páginas dos livros para se tornar parte do cotidiano de cada um dos alunos. O problema é que embora utilizasse as bases da autocracia para que todos desenvolvessem um espírito crítico sobre o tema, o tiro acaba saindo pela culatra e os jovens que formam sua classe acabam tomando gosto pela coisa toda e invertem completamente seus valores, abraçando as ideias que deveriam criticar durante o curso que frequentam. 

"A Onda" é interessante pois demonstra que apesar de todas as lutas e todas as batalhas travadas contra regimes ditatoriais e fascistas ainda resiste no espírito humano as sementes que fizeram germinar ideologias perigosas e genocidas como o Nacional Socialismo (Nazismo) e o próprio Fascismo italiano. Como é brilhantemente exposto pelo professor, tudo o que se precisa para que regimes autoritários voltem à ordem do dia é uma crise, um líder carismático, palavras de ordem, símbolos e uma ideologia de intolerância para que tudo volte a tomar forma.

"A Onda" demonstra como é fácil moldar e formar a mentalidade das pessoas mais jovens, bastando para isso reforçar a identidade do grupo e o espírito de união, mesmo que fundados em valores totalmente distorcidos. Como o final trágico demonstra, em pouco tempo a personalidade pessoal e individual é anulada em favor do grupo, do pensamento coletivo, por mais absurdas e obtusas que sejam as ideias que dão base a todo tipo de ideologia de força. Um filme que nos faz pensar sobre a atual conjuntura mundial, pois estamos vivendo atualmente um momento de crise econômica mundial, muito próxima do contexto histórico que fez com que homens como Adolf Hitler subissem ao poder supremo em seus respectivos países.

E por falar em ditaduras históricas: um dos fatos mais relevantes desse filme em particular é que ele foi inteiramente rodado na Alemanha atual. Maior simbolismo do que esse não há. O país que levou o mundo à II Grande Guerra enfrenta seu passado de peito aberto e com extrema sinceridade em um tema extremamente melindroso e perigoso. A grande lição que temos sobre o filme a "A Onda" é justamente esse. Se para muitos os fantasmas do nazismo e do fascismo estão inteiramente soterrados em suas ruínas, para outros nunca se deve baixar a guarda, pois a qualquer momento esse tipo de ideologia pode despertar e ganhar terreno rapidamente, principalmente entre os jovens (e no caso do Brasil, curiosamente, entre os mais velhos também!). A natureza do ser humano jamais pode ser subestimada, tanto para o lado do bem como para o lado do mal absoluto. Assista "A Onda" e tire suas próprias conclusões.

A Onda (Die Welle, Alemanha, 2008) Direção: Dennis Gansel / Roteiro: Ron Jones, Johnny Dawkins, Ron Birnbach / Elenco: Jürgen Vogel, Frederick Lau, Max Riemelt / Sinopse: Professor decide fazer um verdadeiro experimento social com seus alunos, aplicando a metodologia do fascismo e do nazismo em sala de aula, o que acaba criando uma situação que logo foge completamente do controle. Filme com história baseada em fatos reais. 

Pablo Aluísio. 

Conspiração Americana

Conspiração Americana
Muito bom esse drama de tribunal baseado em fatos históricos. O curioso é que o roteiro foca em cima de uma pessoa secundária nos acontecimentos que desembocaram na morte do presidente Abraham Lincoln. O foco é em cima do julgamento de Mary Surratt (Robin Wright), mãe de um dos acusados da conspiração que levou Lincoln à morte. O filme vai ser muito mais bem apreciado por quem é da área jurídica pois vários princípios que estudamos nas faculdades de direito são colocados em berlinda aqui: O devido processo legal, O direito à defesa e ao contraditório, a não extensão da pena a familiares dos acusados, a fragilidade da prova testemunhal (a prostituta das provas) e muito mais.

Eu pessoalmente gostei muito do tom imposto ao filme pelo diretor Robert Redford. Tudo é tratado com seriedade e objetividade, sem direito a novelizações em excesso. O final é brutal e mostra bem como pode ser penoso a um profissional de direito tentar realizar justiça em um sistema corrompido pela guerra e pelo clamor popular (que quase sempre confunde vingança com justiça - dois conceitos diferentes). O elenco está todo muito bem com destaque para o jovem advogado idealista Frederick Aiken (James McAvoy). Enfim, em tempos como o que vivemos agora esse é um bom filme para se refletir bem sobre o que ocorre dentro do poder judiciário. Excelente lição de história e direito. Recomendo.

Conspiração Americana (The Conspirator, Estados Unidos, 2010) Diretor: Robert Redford / Roteiro: James D. Solomon / Elenco: Robin Wright, James McAvoy, Justin Long, Evan Rachel Wood, Johnny Simmons, Toby Kebbell, Tom Wilkinson / Sinopse: Após os acontecimentos que levaram ao assassinato do Presidente Abraham Lincoln vários conspiradores são presos, entre eles uma mulher chamada Mary Surratt (Robin Wright), dona da pensão onde os conspiradores se reuniram para planejar a morte do líder americano. Acusada, mesmo sem provas sólidas, ela é defendida no tribunal por um jovem advogado Frederick Aiken (James McAvoy) que tentará de tudo para livrá-la da pena de morte.

Pablo Aluísio.