sexta-feira, 26 de novembro de 2021

O Primeiro Casamento de Marilyn Monroe

Marilyn tinha apenas 16 anos quando sua mãe adotiva resolveu que era hora de se livrar dela. A questão é que tinha se apaixonado por um novo homem e queria se mudar, ir viver em outra cidade. Não havia assim mais espaço para a jovem Norma Jean em seu novo lar. Sem consultar Marilyn ela entrou em acordo com a vizinha amiga que tinha um filho que já estava com 21 anos e até aquele momento não mostrava interesse em se casar. Seu nome era James Dougherty. As duas mães então chegaram na conclusão que um casamento arranjado entre os seus jovens iria resolver os problemas das duas. Marilyn era muito jovem, uma adolescente ainda, e não tinha a menor ideia do que aquilo significava. Ela conheceu Jim em um fim de semana e o casamento foi marcado, meio que às pressas mesmo. Não havia tempo para romance e nem bobagens desse tipo.

Assim numa tarde de sábado de um dia quente de 1942 Norma Jean se casou com Jim Dougherty. Com o casamento Marilyn se tornava emancipada e não haveria mais necessidade de ficar indo de lar adotivo em lar adotivo, morando com pessoas desconhecidas em lugares que ela nem sabia que existia. Como tinha apenas 16 anos ela não tinha consciência do que era ser casada e nem das obrigações que isso implicava. Em relação a ter uma vida sexual com o marido as coisas eram ainda mais complicadas pois Marilyn, por ser uma adolescente dos anos 1940, nunca havia falado sobre sexo antes com quem quer que seja. Anos depois lembrando de seu primeiro casamento ela dizia ironicamente que era "como viver em um zoológico".

Sua sorte foi que seu marido Jim logo se alistou na marinha mercante e começou a fazer longas viagens. Na pior das hipóteses Norma ficava livre da obrigação de conviver diariamente com um quase estranho que agora tinha que chamar de marido. Para matar o tédio de uma vida sem objetivos (ela também tinha largado a escola após se casar), começou a ir ao cinema todos os dias. Os filmes eram naquela época a escolha natural de diversão para os mais pobres pois os ingressos custavam barato, principalmente nas matinês, uma quantia realmente irrisória que nem chegava a 1 dólar.

Marilyn ficou deslumbrada com todas aquelas atrizes bonitas, vivendo vidas nas telas que para ela mais pareciam um sonho distante. Como era jovem e inocente ainda, Norma foi aos poucos alimentando o sonho de ir para Hollywood para ser atriz. Quando contou para uma amiga que queria virar atriz de cinema ela riu e disse que isso era algo impossível de se conseguir. Norma porém não aceitou essa realidade. Assim quando seu jovem marido voltou de viagem tudo o que encontrou foi sua casa vazia e um bilhete de Marilyn dizendo que ela tinha indo embora para sempre e que mandaria os papéis de divórcio pelo correio. Emancipada, livre e dona do próprio destino, Norma nem pensou duas vezes e foi embora atrás de seus sonhos. No total o casamento sequer durou dois anos. O marido ficou para trás, literalmente a ver navios.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Elizabeth Taylor e Montgomery Clift

É interessante notar que Liz Taylor foi amiga de praticamente todos os grandes ídolos do cinema de sua época. Nutria sincera amizade com James Dean, Marlon Brando e Rock Hudson. Era de fato uma pessoa mestre em transformar colegas de trabalho em amigos próximos de longa data. Com Montgomery Clift não foi diferente. Clift foi um dos vértices da trindade sagrada de atores dos anos 1950, formada ainda por Brando e Dean. Se diferenciava deles por ter uma personalidade muito mais reservada, torturada e gentil. Enquanto Dean era associado com delinquentes juvenis e Brando encarnava toda a rebeldia rude de seu tempo, Clift era discreto, tímido e muito na dele. O que ligava os três atores era o fato de serem considerados os mais promissores atores jovens de sua geração, além de possuírem um talento nato lapidado no Actors Studio de Nova Iorque.

A amizade de Montgomery Clift com Elizabeth Taylor foi longa e muito verdadeira. Isso porque não demorou muito para Liz se colocar na posição de conselheira pessoal e íntima de Clift, algo que os anos provariam não seria nada fácil. Monty tinha muitos problemas emocionais em sua vida privada. Não conseguia se acertar com nenhuma garota por longo tempo (o que daria origem a infundadas fofocas de que era gay) e tampouco conseguia superar seus problemas de alcoolismo e depressão. O relacionamento com o pai também era fonte de vários problemas. O estilo refinado e educado do ator também lhe trazia algumas dificuldades de relacionamento na terra do exibicionismo barato que era Hollywood.

Segundo várias biografias no começo de tudo Montgomery Clift realmente deu vazão a uma paixão platônica em relação a Elizabeth Taylor. Isso ficou bem evidente no set de filmagens de "Um Lugar ao Sol". Não é de se admirar pois Liz e Clift era jovens radiantes, estavam subindo os degraus do Olimpo em Hollywood e viviam negando para a imprensa que havia um romance entre eles. De fato não havia, muito por causa da falta de coragem por parte de Clift em avançar o sinal e tentar algo com sua parceira de cena. Liz poderia ceder, mas ela tinha uma personalidade tão ofuscante que Clift se viu na sombra dela rapidamente. Para não perder sua amizade resolveu não arriscar. Afinal de contas se tentasse consumar um romance com ela e não desse certo, certamente perderia sua amizade.

Com o passar dos anos Montgomery Clift foi ficando cada vez mais absorvido em si mesmo, em seus problemas. Liz foi testemunhando sua queda lentamente. Mesmo assim resolveu ficar o mais perto possível do ator, tentando colocar ele de volta ao bom caminho. E foi justamente após uma festa em sua casa que Clift sofreu um terrível acidente de carro, por estar dirigindo completamente embriagado. O acidente deformou parte de seu rosto e praticamente destruiu sua carreira em Hollywood. Foi justamente Liz que tentou escalar Clift em vários filmes seus após esse acidente, justamente para que ele não ficasse desempregado e nem deprimido em sua casa.

Esse ato fez com que Montgomery Clift ficasse tão próximo a ela que mais parecia um irmão mais jovem da atriz. Infelizmente nada disso evitou a morte precoce de Montgomery Clift em julho de 1966 em Nova Iorque. Ele tinha apenas 45 anos mas uma vida de excessos havia cobrado seu preço e Monty mais parecia um velho ao morrer. Tinha fortes dores de cabeça em decorrência da batida de seu carro e tentava controlar tudo com forte medicação e muita bebida. Essa mistura explosiva acabou com o restante de sua saúde. Para Clift a morte acabou sendo um alívio de seus demônios pessoais. A tragédia deixou a atriz abalada e ela procurou resumir o amigo de uma forma bem carinhosa ao se referir a ele como "uma alma bondosa e terna".

Pablo Aluísio.

Ilusão Perdida

Título no Brasil: Ilusão Perdida
Título Original: The Big Lift
Ano de Produção: 1950
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: George Seaton
Roteiro: George Seaton
Elenco: Montgomery Clift, Paul Douglas, Cornell Borchers
  
Sinopse:
Danny MacCullough (Montgomery Clift) é uma sargento da força aérea dos Estados Unidos que é enviado para Berlim, cinco anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Lá ele passa a fazer parte da tripulação de uma das centenas de aeronaves americanas cuja principal missão é enviar alimentos e provisões para o povo alemão, naquele momento histórico passando grandes dificuldades após seu país ter sido destruído pelo conflito. Em Berlim Danny acaba conhecendo a bela jovem e viúva alemã Frederica Burkhardt (Cornell Borchers) por quem se interessa. O problema é que o passado dela esconde segredos inconfessáveis. Filme indicado ao Globo de Ouro.

Comentários:
Para fãs de Montgomery Clift sem dúvida é um filme extremamente interessante. Aqui temos um jovem Monty, antes de virar um astro em "Um Lugar ao Sol" ao lado de Elizabeth Taylor, estrelando um filme que fica no meio termo entre o puro romance nostálgico e a pura propaganda patriota americana. Explico. O cenário é a Alemanha do pós-guerra. As cidades do país estão destruídas, pouca coisa ainda resta de pé. O antes todo orgulhoso povo alemão vive literalmente de sobras, vindas principalmente de programas humanitários das forças armadas americanas que distribuem gratuitamente comida para aquela nação ferida pela derrota no maior conflito armado da história. Hitler está morto e o nazismo sepultado, mas as feridas ainda parecem demorar a cicatrizar. Clift interpreta esse militar americano, um tipo até ingênuo, que acaba se interessando por uma jovem viúva da guerra. Apesar dos conselhos para ir com calma ele acaba entrando de cabeça em sua nova e avassaladora paixão. Para ele aquela garota representa todo o sofrimento daquele povo. Para não morrer de fome, por exemplo, Frederica (Borchers) precisa aceitar trabalhos pesados, na reconstrução da nação, como levantar pedras de prédios destruídos. 

Isso acaba sensibilizando o personagem de Montgomery Clift. O problema é que o passado é um farto pesado demais. principalmente em relação à essa sua paixão alemã. A garota vista sob esse ponto de vista não parece tão encantadora, ainda mais ao se descobrir que ela teria sido esposa de um fanático oficial da SS. O roteiro desse filme se revela nos minutos finais surpreendentemente realista. O desfecho que todos acabam esperando não vem. Ao invés disso surge um leve gostinho de ressentimento, mesclado com amargura. A impressão que tive foi que os americanos queriam ajudar os alemães, o problema é que a guerra havia sido amarga demais. Não havia como enxergar aquelas pessoas apenas como vítimas, mas também como cúmplices. A fotografia é desoladora, filmado apenas cinco anos depois do fim da guerra a produção acabou imortalizando aquele triste retrato de um povo em ruínas. As cidades destruídas e as pessoas vagando em busca de alguma comida. Um fim trágico para todo uma nação que resolveu seguir os sonhos insanos de um louco. Assim "Ilusão Perdida" pode até ser considerado sem grandes novidades para alguns, já para outros, mais atentos, é um bela lição de história, tão real na tela como se todos estivéssemos lá.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Inimigo Público

Título no Brasil: Inimigo Público
Título Original: The Public Enemy
Ano de Produção: 1931
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: William A. Wellman
Roteiro: Kubec Glasmon, John Bright
Elenco: James Cagney, Jean Harlow, Edward Woods
  
Sinopse:
Tom Powers (James Cagney) quer vencer na vida e não importa como. Desde a infância ele começa a realizar pequenos furtos e crimes até que se torna um dos gangsters mais violentos e brutais de sua cidade. Com a proibição da venda de álcool em bares pelo país ele começa a transportar a bebida de forma clandestina, como contrabando, o que o torna um homem rico e poderoso dentro do mundo do crime, mas será mesmo que essa tentativa de subir na vida a todo custo dará realmente certo? Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original (John Bright e Kubec Glasmon).

Comentários:
Se não for o mais clássico de todos os filmes de gangsters da história do cinema americano, certamente é um dos cinco mais importantes. Não precisa ir muito longe para entender que se trata de uma versão romanceada do grande gangster da época, Al Capone. Dizem inclusive que ele assistiu ao filme ao lado de seus capangas em Chicago e gostou bastante do resultado. Semelhanças biográficas não faltam. Assim como Capone o personagem Tom Powers interpretado por James Cagney, é um bandidinho que começa por baixo, roubando relógios baratos pelas ruas. Depois conforme o tempo vai passando ele vai subindo dentro da hierarquia do mundo do crime até que a sorte grande lhe bate finalmente a porta. A Lei Seca entra em vigor, proibindo a comercialização de bebidas alcoólicas e isso abre um mercado lucrativo para todos os bandidos da cidade que começam a ganhar muito dinheiro com o contrabando de bebidas. Powers e seu fiel e amigo comparsa Matt Doyle (Edward Woods) ganham assim muito dinheiro, a ponto de desfilarem com carrões pela cidade com loiras exuberantes a tiracolo. A namorada de Tom Powers, Gwen Allen, é interpretada pelo mito Jean Harlow, uma atriz que iria influenciar decisivamente na carreira de Marilyn Monroe algumas décadas depois. Ambas eram loiras platinadas, sensuais e que se envolviam com os homens errados. Também morreram jovens, no auge do sucesso. 

Outro ponto forte do filme vem de seu roteiro que explora muito bem a rivalidade que nasce entre Powers e seu irmão Mike (Donald Cook). Esse quer vencer na vida de forma honesta, estudando de noite e trabalhando de dia. Na visão de Tom porém ele não passa de um "otário" (como convém aos espertalhões em geral). Só que Tom não contava que iria acabar pagando muito caro por tentar subir na vida de todas as maneiras possíveis. Por fim, e não menos importante, devemos chamar atenção para uma cena especial quando James Cagney esfrega uma laranja na cara de sua amante durante um café da manhã luxuoso no hotel mais caro da cidade. Essa cena foi considerada extremamente perturbadora na década de 1930 e por causa da reação negativa em sessões testes a Warner decidiu colocar um prólogo moralista afirmando que o filme não tinha a proposta de glamorizar a vida dos criminosos, mas sim servir como um alerta, um aviso, com o que havia de errado na sociedade. Por essa razão temos um final tão significativo nesse aspecto, algo do tipo "Não tente seguir os passos do criminoso retratado nesse filme pois definitivamente o crime não compensa". Bom, pelo menos para James Cagney o crime compensou e muito, pelo menos nas telas de cinema, pois depois desse filme ele virou um mito na era de ouro de Hollywood. 

Pablo Aluísio.

A Defesa do Castelo

Título no Brasil: A Defesa do Castelo
Título Original: Castle Keep
Ano de Produção: 1969
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Sydney Pollack
Roteiro: Daniel Taradash
Elenco: Burt Lancaster, Patrick O'Neal, Jean-Pierre Aumont, Peter Falk, Bruce Dern

Sinopse:
Durante a II Guerra Mundial um pequeno pelotão de soldados americanos liderados pelo Major Abraham Falconer (Burt Lancaster) é enviado para defender um castelo na Bélgica, uma propriedade rica e luxuosa pertencente ao Duque de Maldorais (Jean-Pierre Aumont). O lugar é de vital importância estratégica pois fica no caminho usado pelos alemães para chegar em Ardenas, onde se travaria a última das grandes batalhas do histórico conflito. Roteiro baseado na novela escrita por William Eastlake. 

Comentários:
Esse é um caso interessante. Apesar de ser um filme americano, dirigido por um cineasta também norte-americano, temos um resultado que mais se assemelha a um filme europeu da época. Pollack nitidamente segue os passos dos grandes diretores europeus, procurando seguir as mesmas técnicas narrativas e os mesmos enfoques cinematográficos que prevaleceram no velho continente. A própria forma de narrar a história reflete isso. Os cortes são muitas vezes inesperados e ao contrário do que sempre aconteceu nas grandes produções americanas de guerra não há interesse em mostrar tudo em detalhes, mas sim de forma indireta, de acordo com a percepção de cada soldado daquele pelotão do exército americano. Com isso a fidelidade história é deixada um pouco de lado, dando prioridade no desenvolvimento de cada personagem. O Major Falconer (Burt Lancaster) é um militar linha dura que pretende seguir o regulamento à risca, embora deslize de vez em quando (principalmente ao se envolver romanticamente com a própria esposa do duque dono do castelo). O Sargento Rossi (Peter Falk) está cansado da guerra e sonha em ser um padeiro na Europa, para viver uma vida simples, mas feliz. Já o soldado raso Piersall Benjamin (Al Freeman Jr.) sonha em ser escritor após a guerra, para narrar suas experiências vividas (na verdade esse personagem é o próprio autor do livro que deu origem ao filme, William Eastlake). Com belas locações e uma linha narrativa fragmentada, "Castle Keep" passa longe de ser um filme de guerra convencional, porém vale bastante a pena pelas ousadias que ousa cometer. Uma pequena obra-prima que merece ser redescoberta pelos cinéfilos apreciadores de filmes clássicos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Sem Tempo Para Morrer

Esse é o James Bond mais progressista que você vai assistir em sua vida. Sai de cena o mulherengo conquistador e entra o homem apaixonado. O James Bond desse filme chora ao olhar o horizonte, ao lembrar da mulher que ama. Um sinal dos novos tempos e algo natural sabendo-se que o diretor Cary Joji Fukunaga afirmou em entrevistas que "O James Bond de Sean Connery era praticamente um estuprador". Assim nada de tentar conquistar outras mulheres. O interessante é que houve muitos boatos dizendo que uma mulher negra seria a nova agente 007. Boatos verdadeiros. Bond nesse filme não é mais 007. Seu famoso codinome no serviço secreto foi passado para uma nova agente, confirmando tudo o que se disse antes do filme ser lançado. O roteiro também explora sutilmente a questão da pandemia, ao colocar uma arma biológica no centro da trama. São detalhes para deixar o personagem mais atual. Embora com esse novo espelho progressista em cena, os produtores mantiveram também certos aspectos tradicionais do personagem, como as boas cenas de ação, seu famoso carro e todos aqueles aparelhos tecnológicos que são a marca registrada de Bond desde o primeiro filme. Também há bons vilões na história. Isso faz com que o espectador mais antigo de Bond se identifique pelo menos em parte com essa nova produção.  

Há mais novidades no filme. A partir desse ponto irei falar um spoiler central da história, por isso se ainda não viu o novo Bond sugiro que não continue a leitura. Muito bem, o roteiro progressista do filme não foi o que mais me impressionou. Isso era até mesmo esperado. O que me chocou mesmo foi a morte de James Bond. Ele morreu mesmo? James Bond está morto? Olha, não vejo de outra forma. Afinal que ser humano iria sobreviver a um ataque de mísseis como aquele? Se está morto o personagem ficam algumas perguntas no ar... como por exemplo, qual será o futuro da franquia? Como seguir em frente a partir de agora? A morte de Bond foi algo sugerido pelo próprio ator Daniel Craig. Esse é seu provavelmente último filme como Bond. Nada mais adequado para uma grande despedida do que a morte de seu personagem. Os produtores talvez estejam prontos para deixar James Bond de lado, investindo agora na nova agente 007, Nomi... Será que um filme estrelado apenas por ela seria sucesso de bilheteria? Como seria recebido? Só o tempo dirá mesmo! De qualquer maneira esse filme muito provavelmente será lembrado daqui alguns anos, simplesmente pelo fato de trazer tantos elementos ousados em seu roteiro. Definitivamente não é um Bond banal.

Sem Tempo Para Morrer (No Time to Die, Estados Unidos, 2021) Direção: Cary Joji Fukunaga / Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade / Elenco: Daniel Craig, Léa Seydoux, Rami Malek, Lashana Lynch, Ralph Fiennes, Christoph Waltz / Sinopse: James Bond está aposentado. Só que ele vai precisar voltar à ativa para impedir que criminosos internacionais liberem uma perigosa arma biológica na sociedade, o que poderia ocasionar a morte de milhões de pessoas ao redor do planeta.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

O Diário de Anne Frank

Baseado no livro escrito pela adolescente Anne Frank, o filme narra os dois anos em que ela e sua família viveram confinados em um anexo secreto de um prédio em uma Amsterdam ocupada por tropas nazistas. Como eram judeus, ela e seus familiares tentaram de todas as maneiras escapar do cerco de ódio racial que imperava naquele momento. Enquanto estava vivendo essa terrível situação Anne resolveu escrever um diário com seus pensamentos e desejos. O diário seria publicado após a guerra e se tornaria um dos livros mais importantes do século XX, dando voz a uma vítima do holocausto do nazismo. A história de Anne Frank já emocionou e cativou milhões de pessoas desde que seu singelo diário foi publicado por seu pai após o fim da Segunda Guerra Mundial. Ele foi o único sobrevivente de sua família do holocausto promovido pelo nazismo alemão. É certamente uma das obras mais importantes já escritas porque humaniza e dá voz e face aos números frios da morte de milhões de judeus em campos de concentração nos países ocupados pelos alemães. Ao invés de meras estatísticas o que temos aqui é uma pessoa real, uma jovem que tinha sonhos e ambições e que acabou se tornando uma das mais famosas vítimas do holocausto justamente por ter deixado um diário jogado no chão, após o local onde vivia escondida ser descoberto por soldados de Hitler.

Além da importância histórica o filme também serve para mostrar a genialidade do cineasta George Stevens. Grande diretor, ele convenceu a Twentieth Century Fox a construir um enorme cenário dentro do estúdio que recriava o prédio onde Anne viveu seus últimos anos de vida. A construção era realmente um primor, com três andares e tudo o que havia no lugar original onde Anne escreveu seu famoso diário. Para gravar nos andares mais altos Stevens usava enormes gruas de filmagens que deram um toque muito realista a cada momento. O resultado de tanto empenho é uma obra-prima da sétima arte, onde em duas horas e cinquenta minutos de duração, Stevens conta todos os momentos mais importantes narrados por Anne Frank em seus escritos. Estão lá suas impressões sobre os demais moradores do anexo secreto, seus sentimentos, suas paixões e sua esperança de um dia ver a paz reinar novamente naquela região devastada pela guerra. Como todos sabemos essa não é uma história com final feliz, com desfecho ttágico no campo de concentração de Bergen-Belsen. Anne Frank foi apenas uma entre mais de 1 milhão de crianças e adolescentes mortas pela doutrina nazista durante aquele período terrível da história. Sua obra porém será para sempre imortal.

O Diário de Anne Frank (The Diary of Anne Frank, Estados Unidos, 1959) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: George Stevens / Roteiro: Frances Goodrich, Albert Hackett / Elenco: Millie Perkins, Shelley Winters, Joseph Schildkraut, Richard Beymer, Gusti Huber, Lou Jacobi, Diane Baker, Douglas Spencer, Ed Wynn / Sinopse: O filme conta a história real da jovem Anne Frank, que se escondeu ao lado de seus familiares em um pequeno anexo durante a barbárie a perseguição nazista aos judeus na Europa, durante a II Guerra Mundial. Filme indicado a oito Oscars, sendo vencedor nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante (Shelley Winters), Melhor Fotografia (William C. Mellor) e Melhor Direção de Arte. Filme também indicado ao Globo de Ouro em cinco categorias e à Palma de Ouro no Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio.

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 16

Na foto dois ícones do cinema dos anos 50 se encontram casualmente: James Dean e Marlon Brando. Em seu livro de memórias Brando resolveu dedicar algumas palavras ao ator. Para Brando, Dean não lhe causava grande impressão. Ele já tinha ouvida falar em Dean, mas não procurou conhecer pessoalmente o famoso rebelde das telas. Já James Dean procurava se encontrar com Brando há tempos pois o tinha como ídolo. Ele enviou alguns convites por amigos mútuos, mas Brando não demonstrou maior interesse em lhe conhecer. Tudo parecia na mesma até que por mero acaso Brando e Dean se viram face a face numa festa nas colinas de Hollywood. Dean estava visivelmente emocionado em encontrar aquele que considerava o melhor ator do cinema americano.

Já Brando percebeu algumas coisas em Dean desde a primeira vez que o viu. Achou que Dean ainda mantinha a velha forma de agir dos americanos do meio oeste, um misto de medo e encantamento com a cidade grande. Como Brando também vinha de um estado rural do meio oeste, entendeu que isso gerou uma familiaridade até nostálgica entre ambos. Simpático em um primeiro momento com Dean, abriu uma conversa amigável com o colega de profissão. James Dean não deixou passar em branco e disse a Brando que o admirava muito e que em sua vida pessoal procurava seguir os passos do grande ator.

Brando por outro lado resolveu lhe dar alguns conselhos. Disse a Dean que ele não deveria seguir por esse caminho, procurando ser igual ao seu ídolo, pois todos deviam trilhar sua própria carreira e trazer aspectos de suas personalidades para obter êxito em Hollywood. Em palavras educadas Marlon Brando estava aconselhando James Dean a não ser uma mera imitação dele mesmo. Dean havia dito que admirava Brando por ele ser um tipo fora dos padrões, rebelde, que saia de moto pelas madrugadas. Aquilo deixou Brando surpreso. Em sua opinião Dean procurava por um tipo de aprovação - como se estivesse pedindo sua bênção por seu comportamento.

Depois desse encontro e dessa conversa mais do que interessante eles poucos se encontraram novamente. Para Brando foi uma gratificação saber que James Dean havia ouvido seus conselhos e os estava seguindo. Segundo Brando seu colega ainda não tinha personalidade própria até o advento do filme "Assim Caminha a Humanidade" quando, na visão de Brando, James Dean havia finalmente encontrado seu próprio caminho. Infelizmente assim que chegou em seu objetivo na profissão, Dean encontrou também a morte de forma prematura em um acidente de carro. Para Brando o jovem James Dean acabou sendo enterrado em seu próprio mito. Uma infelicidade trágica do destino.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de novembro de 2021

O Rei Leão

A Disney renasceu em suas animações para o cinema com o lançamento de "A Pequena Sereia" em 1989, mas o auge dessa fase de renascimento foi certamente a chegada de "O Rei Leão" nos cinemas em 1994. Só para se ter uma pequena ideia do capricho que essa animação teve, basta dizer que a Disney contratou 29 roteiristas (isso mesmo que você leu!) para criar o que os produtores chamavam de "A obra-prima da década no mundo da animação". Não há dúvidas que tanto esforço resultou em um filme realmente acima da média, já considerado um clássico nos dias de hoje. Há um toque de Rei Lear e até mesmo Hamlet na estória de um clã de leões africanos. Estão lá todos os personagens centrais que fizeram da obra de Shakespeare imortal. Há o pai valoroso e íntegro, o filho que deseja seguir seus passos e o invejoso membro da família real que só quer tomar a coroa para si mesmo. O elenco que fez as vozes do personagem também se destaca, em especial Jeremy Irons que faz a voz do vilão Scar.

É curioso porque os animadores resolveram mudar o método de trabalho, preferindo filmar antes os atores em estúdio declamando suas falas para só a partir daí criarem os desenhos que seriam usados no filme. De certa maneira "O Rei Leão" é a última grande animação ao estilo tradicional dos estúdios Disney. Marcou merecidamente toda uma geração de crianças (e até mesmo adultos). Na minha opinião é realmente o grande filme da Disney em sua retomada rumo ao sucesso absoluto de crítica e público.

O Rei Leão (The Lion King, Estados Unidos, 1994) Direção: Roger Allers, Rob Minkoff / Roteiro: Irene Mecchi, Jonathan Roberts, entre outros / Elenco: Matthew Broderick, James Earl Jones, Jeremy Irons, Nathan Lane, Whoopi Goldberg, Rowan Atkinson, Jonathan Taylor Thomas / Sinopse: A história de um leão e seu filho que no futuro deverá honrar sua família. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Música Original ("Can You Feel the Love Tonight" de Elton John) e Melhor Trilha Sonora. Também vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme - Comédia ou Musical.

Pablo Aluísio.

Pocahontas

Depois do enorme sucesso de "O Rei Leão" todos ficaram na expectativa do que viria da Disney dali em diante. Afinal de contas aquele filme tinha sido certamente uma obra-prima dos animadores do estúdio. Por isso houve uma certa surpresa quando foi anunciado que a próxima animação a chegar nos cinemas seria "Pocahontas". Essa história (verídica) fez parte do período de colonização dos Estados Unidos e simbolizava a união entre os colonizadores europeus (encarnados na figura de John Smith, aqui dublado pelo astro Mel Gibson) e os povos nativos (personificados na jovem garota Pocahontas). Obviamente que tudo é muito fantasiado no longa já que na verdade histórica as coisas jamais se passaram da mesma forma. Os diretores Mike Gabriel e Eric Goldberg resolveram valorizar a beleza da natureza nessa animação, deixando um pouco de lado a força de história (algo que havia sido o grande trunfo de "O Rei Leão").

O resultado, apesar de ser tecnicamente perfeito, deixou um pouco a desejar. Provavelmente a grande expectativa criada em torno do filme que sucederia "O Rei Leão" nos cinemas tenha sido responsável por grande parte disso. A animação nunca chega a ser marcante e foi de certa forma destruída pela crítica que não deixou barato, sempre procurando comparar o filme com a verdade histórica, o que sempre achei um exagero. "Pocahontas" nunca se propôs a ser um tratado de história da colonização americana, mas apenas uma animação divertida e romântica. Nesse caso quem errou feio foram os críticos, sempre tão pedantes e arrogantes. Não captaram a essência do filme e nem suas reais intenções.

Pocahontas (Pocahontas, Estadps Unidos, 1995) Direção: Mike Gabriel, Eric Goldberg / Roteiro: Carl Binder, Susannah Grant e Philip LaZebnik / Elenco: Mel Gibson, Christian Bale, Linda Hunt / Sinopse: A história de amor de um colonzador e uma nativa chamada Pocahontas, nos primórdios da América. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Música Original ("Colors of the Wind" de Alan Menken e Stephen Schwartz). Também vencedor do Oscar na categoria de Melhor Trilha Sonora.  

Pablo Aluísio.