Esse é o James Bond mais progressista que você vai assistir em sua vida. Sai de cena o mulherengo conquistador e entra o homem apaixonado. O James Bond desse filme chora ao olhar o horizonte, ao lembrar da mulher que ama. Um sinal dos novos tempos e algo natural sabendo-se que o diretor Cary Joji Fukunaga afirmou em entrevistas que "O James Bond de Sean Connery era praticamente um estuprador". Assim nada de tentar conquistar outras mulheres. O interessante é que houve muitos boatos dizendo que uma mulher negra seria a nova agente 007. Boatos verdadeiros. Bond nesse filme não é mais 007. Seu famoso codinome no serviço secreto foi passado para uma nova agente, confirmando tudo o que se disse antes do filme ser lançado. O roteiro também explora sutilmente a questão da pandemia, ao colocar uma arma biológica no centro da trama. São detalhes para deixar o personagem mais atual. Embora com esse novo espelho progressista em cena, os produtores mantiveram também certos aspectos tradicionais do personagem, como as boas cenas de ação, seu famoso carro e todos aqueles aparelhos tecnológicos que são a marca registrada de Bond desde o primeiro filme. Também há bons vilões na história. Isso faz com que o espectador mais antigo de Bond se identifique pelo menos em parte com essa nova produção.
Há mais novidades no filme. A partir desse ponto irei falar um spoiler central da história, por isso se ainda não viu o novo Bond sugiro que não continue a leitura. Muito bem, o roteiro progressista do filme não foi o que mais me impressionou. Isso era até mesmo esperado. O que me chocou mesmo foi a morte de James Bond. Ele morreu mesmo? James Bond está morto? Olha, não vejo de outra forma. Afinal que ser humano iria sobreviver a um ataque de mísseis como aquele? Se está morto o personagem ficam algumas perguntas no ar... como por exemplo, qual será o futuro da franquia? Como seguir em frente a partir de agora? A morte de Bond foi algo sugerido pelo próprio ator Daniel Craig. Esse é seu provavelmente último filme como Bond. Nada mais adequado para uma grande despedida do que a morte de seu personagem. Os produtores talvez estejam prontos para deixar James Bond de lado, investindo agora na nova agente 007, Nomi... Será que um filme estrelado apenas por ela seria sucesso de bilheteria? Como seria recebido? Só o tempo dirá mesmo! De qualquer maneira esse filme muito provavelmente será lembrado daqui alguns anos, simplesmente pelo fato de trazer tantos elementos ousados em seu roteiro. Definitivamente não é um Bond banal.
Sem Tempo Para Morrer (No Time to Die, Estados Unidos, 2021) Direção: Cary Joji Fukunaga / Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade / Elenco: Daniel Craig, Léa Seydoux, Rami Malek, Lashana Lynch, Ralph Fiennes, Christoph Waltz / Sinopse: James Bond está aposentado. Só que ele vai precisar voltar à ativa para impedir que criminosos internacionais liberem uma perigosa arma biológica na sociedade, o que poderia ocasionar a morte de milhões de pessoas ao redor do planeta.
Pablo Aluísio.