sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Halloween Kills

Halloween é a franquia de filmes de terror que se recusa a morrer. E nessa retomada da abertura dos cinemas pelo mundo esse novo filme dessa velha linha de terror acabou se tornando mais um inesperado sucesso, frequentando a lista dos filmes mais vistos nessas últimas semanas. O filme até que começa bem. O roteiro cria uma ponte de ligação com o primeiro filme que foi lançado lá no distante ano de 1978. Acontece que o assassino Michael Myers está retornando para sua velha casa, onde matou sua irmã. E no caminho de volta acaba reencontrando vítimas que sobreviveram aos seus ataques no passado. E assim ele vai enfrentar todos aqueles que não conseguiu matar, em especial a personagem de Jamie Lee Curtis. Ela agora é uma avó, com problemas de saúde, mas ainda disposta a enfrentar seu antigo inimigo.

A produção tentou contratar o máximo de atores que atuaram no primeiro filme. Faz tanto tempo que os que eram garotinhos no filme original hoje já são quase idosos. Jamie Lee Curtis já está idosa, com longos cabelos brancos. O roteiro derrapa ao tentar seguir esse tipo de cronologia fiel. Isso porque não tem lógica. Se as vítimas do primeiro filme já são idosos hoje em dia o que se dirá do próprio Mike Myers? Ele já estaria com 70 ou 80 anos de idade. Mas isso é ignorado pois ele surge no filme com pleno vigor físico saindo no braço com jovens e tudo mais. Lógica zero. O pior acontece no final do filme. O roteiro tenta colocar Myers como uma espécie de criatura que encarna todo o mal e que por isso seria praticamente imortal. Com um final inconclusivo e absurdo, tudo o que foi mostrado antes no filme perde valor. Só sobra a ganância por mais continuações que estarão por vir.

Halloween Kills: O Terror Continua (Halloween Kills, Estados Unidos, 2021) Direção: David Gordon Green / Roteiro: Scott Teems / Elenco: Jamie Lee Curtis, Anthony Michael Hall, Judy Greer, Andi Matichak / Sinopse: O assassino Mike Myers está de volta para sua velha casa na noite de Halloween. E ele continua a matar todos os que cruzam seu caminho.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Os Últimos Passos de um Homem

O título em inglês, "Dead Man Walking" (literalmente "Homem Morto Caminhando"), é uma expressão usada para os prisioneiros que estão no corredor da morte nos Estados Unidos. Homens que já não possuem mais nenhuma esperança de salvação, quando todos os seus recursos já foram julgados e indeferidos, cuja execução se torna apenas uma questão de tempo. Nesse filme que possui um nítido caráter ativista contra a pena de morte encontramos dois personagens centrais, Matthew Poncelet (Sean Penn), o sujeito que está condenado e Helen Prejean (Susan Sarandon), uma mulher corajosa que luta com todas as suas forças para que ele não seja levado para a câmara onde lhe será aplicada a injeção letal. O roteiro trabalha muito bem com o tema, procurando colocar um certo humanismo em destaque. Embora muito bem escrito temos que admitir também que o roteiro derrapa em certos momentos em uma atitude por demais maniqueísta, tentando trazer alguns aspectos humanos inexistentes para certos criminosos, que em última análise, foram condenados justamente por sua violência e brutalidade.

As vítimas também são colocadas em um segundo plano que incomoda. De repente o criminoso passa a ser visto como alguém puro e bom que está sendo enviado para a morte sem qualquer razão plausível. Sabemos que isso no mundo real não passa de uma grande bobagem. De qualquer maneira, deixando isso de lado, a excessiva manipulação do roteiro, o que temos é outro filme de excelentes atuações, acima de tudo. É fato notório que tanto Sean Penn como Susan Sarandon são atores politicamente muito engajados com programas liberais. Não é surpresa nenhuma que tenham levantado essa bandeira com esse filme. Certos ou errados nas suas convicções políticas o fato é que suas atuações foram reconhecidas pelos membros da Academia. No Oscar ele foi indicado ao prêmio de Melhor Ator e ela venceu como Melhor Atriz, levantando a cobiçada estatueta pela primeira e única vez em sua carreira. Tim Robbins, o marido de Sarandon, outro liberal de carteirinha, também foi indicado ao prêmio de Melhor Direção. Então no saldo geral tudo foi muito positivo para eles. Certamente houve muita celebração também dentro dos diretórios do Partido Democrata, onde ambos são bem atuantes. Assim fica a recomendação do filme. Assista, mas sem deixar de lado a propaganda, muitas vezes excessiva, que o roteiro faz contra a pena de morte.

Os Últimos Passos de um Homem (Dead Man Walking, Estados Unidos, 1995) Direção: Tim Robbins / Roteiro: Tim Robbins, baseado no livro escrito por Helen Prejean / Elenco: Susan Sarandon, Sean Penn, Robert Prosky, R. Lee Ermey / Sinopse: O filme conta a história real de um homem que foi condenado à morte nos Estados Unidos. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor atriz (Susan Sarandon). Também indicado nas categorias de melhor ator (Sean Penn), melhor direção (Tim Robbins) e melhor música original ("Dead Man Walking" de Bruce Springsteen).

Pablo Aluísio.

A Vida de Brian

Um homem comum, vivendo no século I, em Jerusalém, passa pelas mesmas dificuldades e desgraças que o próprio Jesus Cristo, que caminhava praticamente nos seus mesmos passos. "A Vida de Brian" é considerado por muitos o melhor filme do grupo de comediantes ingleses conhecidos como Monty Python. Nesse aspecto não discordo. Partindo de um roteiro simples, mostrando a vida de um tal de "Brian de Nazaré" (os absurdos já começam daí), o grupo desfila sua infinita série de piadas e sátiras em relação ao próprio cristianismo. Claro que na época o filme foi bastante criticado por isso, mas o efeito se tornou o inverso, pois o filme acabou chamando mais atenção ainda. Certos grupos reclamaram muito, principalmente pelo fato do Brian, assim como Jesus, terminar sua história de vida em uma cruz romana.

O interessante é que o produtor foi o ex-Beatle George Harrison. Ele tinha uma companhia cinematográfica que havia sido criada justamente para financiar filmes como esse, que nenhum outro estúdio da Inglaterra queria produzir. O tema era considerado polêmico e até mesmo explosivo demais. Partindo de uma visão mais conservadora até que poderia ser mesmo, entretanto o filme não deve ser visto com esse viés ideológico. É apenas, no fundo, uma coleção de momentos bem divertidos (e inteligentes). Aliás um aspecto que sempre temos que considerar é que o humor tipicamente britânico do grupo Monty Python nunca foi para todo tipo de público. Para entender bem as piadas sempre foi necessário ter um certo background cultural. Se é o seu caso e se você não tem qualquer receio de rir de um humor ácido em relação ao cristianismo, veja essa pequena obra-prima da comédia.

A Vida de Brian (Life of Brian, Inglaterra, 1979) Direção: Terry Jones / Roteiro: Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam / Elenco: Graham Chapman, John Cleese, Michael Palin/ Sinopse: Brian nasce em Nazaré, na mesma época que nasce Jesus. E durante toda a sua vida ele vai cruzar caminhos com o aclamado Messias.  

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

007 - Um Novo Dia Para Morrer

Esse foi o último filme de Pierce Brosnan no papel de James Bond. Depois da era Roger Moore, Brosnan foi o mais bem sucedido ator a interpretar o famoso agente inglês, a tal ponto que a MGM não queria descartá-lo da franquia, havendo ainda a possibilidade dele realizar mais dois ou até mesmo três filmes com o personagem! Infelizmente as negociações não foram em frente e o ator deu adeus a Bond pelo menos no cinema (no mundo dos games ele ainda iria emprestar sua voz uma última vez no jogo "James Bond 007: Everything or Nothing", um ano depois). Pois bem, esse "Die Another Day" é um dos que mais se aproximam do velho espírito dos primeiros filmes com Bond, com direito até mesmo a uma fortaleza na neve que poderia ter saído diretamente de produções como "O Satânico Dr. No". Os vilões são os norte-coreanos (o que não ficou datado, haja visto as insanidades do ditador Kim Jong-Un quando o filme foi lançado).

Há uma ótima Bond Girl no filme. Ao lado de James Bond surge uma agente americana chamada Jinx Johnson interpretada pela atriz Halle Berry (na época em grande fase na carreira). Como convém em todo filme com 007 há muita ação, perseguições mirabolantes, pirotecnia e invenções tecnológicas de última geração, com direito até mesmo a um Aston Martin com uma camuflagem inovadora que o deixava completamente invísivel! Numa das cenas mais bem elaboradas o agente inglês usa justamente esse veículo especial para liquidar um assassino norte-coreano em uma fortaleza de gelo no hemisfério norte - vamos convir que nada poderia ser mais James Bond do que isso, não é mesmo?

007 - Um Novo Dia Para Morrer (Die Another Day, Inglaterra, Estados Unidos, 2002) Direção: Lee Tamahori / Roteiro: Neal Purvis, baseado nos personagens criados por Ian Fleming / Elenco: Pierce Brosnan, Halle Berry, Judi Dench, John Cleese, Michael Madsen / Sinopse: O agente britânico James Bond (Pierce Brosnan) precisa deter um general da Coreia do Norte que deseja colocar as mãos em uma arma nuclear que pode destruir o mundo. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Música Original ("Die Another Day" de Madonna).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Donnie Darko

É um caso de filme do tipo "ame ou odeie". Não há como negar: "Donnie Darko" é muito louco e talvez justamente por essa razão tenha virado um cult movie absoluto nos últimos anos. O cinema americano sempre abraçou temas estranhos e bizarros em seu circuito mais independente e esse tipo de roteiro só tem aumentado o número de fãs, principalmente porque o espectador mais jovem está sempre em busca de algo diferente, que não seja tão lugar comum como os filmes comerciais que saem em ritmo industrial de Hollywood todos os anos. Na busca por algo novo, que traga algum aspecto mais substancial, é que se encontra pequenas obras primas como essa. Dessa maneira não espere por clichês bobinhos e nem uma trama de fácil digestão - aliás não espere por nada muito normal ou previsível. Nada é convencional em "Donnie Darko". Tudo é bem fora do comum. Esse inclusive é o maior mérito dessa produção.

O enredo, em linhas gerais, conta a história do adolescente Donnie Darko (Jake Gyllenhaal), um sujeito mais esquisito do que os demais jovens de sua idade, que nessa fase da vida, como bem sabemos, já costumam ser estranhos naturalmente. Pois bem, além de ter pensamentos insanos e psicóticos, Donnie ainda é acompanhado por onde vai por uma alucinação bem freak, um coelho gigante monstruoso que lhe dá dicas e inspirações nada fofinhas. Esse filme, como não poderia deixar de ser, passou longe de ser um sucesso de bilheteria, porém por outro lado abriu as portas para um ainda desconhecido Jake Gyllenhaal que depois de interpretar Darko viu sua carreira deslanchar nos anos seguintes. Ele virou o protótipo do ator descolado e cool, ideal para projetos mais ousados. Pelo visto o papel que desempenhou, apesar de ser bem fora do comum, só lhe fez muito bem em sua trajetória artística. E aí já encarou esse filme? Se não, deixo a dica para uma sessão estranha, bem estranha...
 
Donnie Darko (Donnie Darko, Estados Unidos, 2001) Direção: Richard Kelly / Roteiro: Richard Kelly / Elenco: Jake Gyllenhaal, Jena Malone, Mary McDonnell / Sinopse: O mundo é um lugar esquisito, mas não tão esquisito como a mente do jovem Donnie Darko (Jake Gyllenhaal). Filme indicado ao prêmio Independent Spirit Awards e ao Sundance Film Festival.

Pablo Aluísio.

O Pagamento Final

Provavelmente tenha sido o último grande filme da carreira de Brian De Palma. Contando com um excelente roteiro e um elenco em estado de graça, ele acabou realizando um dos melhores filmes de gangsters do cinema americano. A trama mostra um velho criminoso que, de volta às ruas após cumprir uma pesada pena, procura por um recomeço em sua vida. Obviamente que em termos de interpretação todas as atenções se fixam no grande trabalho de atuação de Al Pacino. Carlito, seu personagem, é uma espécie de anti-herói trágico que acabou sendo tragado pelas armadilhas do destino. Não deixa de ser um patife, mas com nuances até mesmo mais românticas. Embora Pacino esteja excepcionalmente bem temos que reconhecer que o grande destaque mesmo do elenco é o ator Sean Penn. Quase irreconhecível, com forte maquiagem, careca e usando figurino dos anos 70, ele praticamente desaparece dentro de seu personagem, um advogado corrupto com problemas de dependência química.

O personagem de Penn também é um viciado em drogas sem controle, cheirando uma carreira de cocaína atrás da outra, completamente alucinado. Pode-se dizer que ele é o responsável por alguns dos melhores momentos de todo o filme. De Palma desfila elegância e bom gosto em cada tomada, o que me fez lembrar do grande diretor que ele foi no começo de sua carreira. Pena que ao lado do enorme talento também haja uma irregularidade absurda em sua obra, pois De Palma conseguia ir do genial ao medíocre com grande facilidade, numa verdadeira montanha russa artística. Em relação a esse filme porém não há o que se preocupar, pois certamente é uma de suas melhores obras primas. Um excelente filme que tive o privilégio de assistir no cinema, em seu lançamento original.

O Pagamento Final (Carlito's Way, Estados Unidos, 1993) Direção: Brian De Palma / Roteiro: David Koepp, baseado na novela escrita por Edwin Torres / Elenco: Al Pacino, Sean Penn, Penelope Ann Miller, John Leguizamo, Viggo Mortensen / Sinopse: O filme conta a história de um mafioso que após cumprir pena por longos anos tenta um recomeço em sua vida. Filme indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante - Drama (Sean Penn) e Melhor Atriz Coadjuvante - Drama (Penelope Ann Miller).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

O Alfaiate do Panamá

O problema de interpretar um personagem tão famoso como James Bond é que você acaba ficando prisioneiro dele. É o que aconteceu com Roger Moore e de certa maneira com Pierce Brosnan também. O roteiro desse filme não tem nada a ver com Bond, na verdade foi inspirado em um best-seller escrito por John le Carré, mas mesmo assim todos fizeram a associação com o famoso agente secreto justamente por causa da presença do ator no elenco. Uma pena já que o filme tem identidade própria e pode ser considerado um bom suspense de espionagem. Além disso foi dirigido por John Boorman, cineasta de obras requintadas e sofisticadas como "Esperança e Glória", "Muito Além de Rangum" e "Amargo Pesadelo".

O enredo, como convém a toda história criada por John le Carré, se passa no mundo da espionagem e das conspirações internacionais. Andrew 'Andy' Osnard (Pierce Brosnan) é um agente inglês que é enviado ao Panamá para descobrir a extensa e complexa rede de corrupção que se forma após o famoso canal ser devolvido ao país da América Central. Nesse processo ele acaba também revelando algo maior, envolvendo figurões do governo e de organismos internacionais. Considero, como já escrevi, um bom filme, muito embora os fãs do livro tenham reclamado e muito da adaptação. Subtramas foram omitidas e sequências inteiras desapareceram, algo que temos que convir é até normal de acontecer já que cinema e literatura definitivamente são expressões culturais bem diferentes. Mesmo assim é um bom programa para o fim de noite.

O Alfaiate do Panamá (The Tailor of Panama, Estados Unidos, 2001) Direção: John Boorman / Roteiro: Andrew Davies, baseado no livro escrito por John le Carré / Elenco: Pierce Brosnan, Geoffrey Rush, Jamie Lee Curtis, Daniel Radcliffe / Sinopse: Um alfaiate trabalhando no Panamá acaba se tornando um agente, um espião para a Inglaterra na região. Filme indicado ao Berlin International Film Festival.

Pablo Aluísio.

Com 007 Viva e Deixe Morrer

Depois que Sean Connery resolveu abandonar de uma vez por todas o personagem do agente secreto James Bond a pergunta mais frequente passou a ser se outro ator conseguiria levar adiante a franquia. Após a saída de Connery houve uma tentativa com o modelo George Lazenby, mas definitivamente o público não gostou (embora o filme estrelado por ele fosse, em si, muito bom). Então eis que em 1973 a MGM apresentou finalmente o nome do novo James Bond, Roger Moore! Para quem conhecia os bastidores da série seu nome não foi exatamente uma novidade. A verdade é que Moore quase foi escolhido no lugar de Sean Connery no passado, mas o carisma do ator escocês falou mais alto. Agora com Connery fora do caminho começaria uma nova era nas aventuras do agente secreto mais famoso da história do cinema. Esse "Live and Let Die" porém não ficou conhecido apenas por ter sido a estreia de Roger Moore.

Dois outros fatos contaram positivamente em seu favor. O primeiro foi a trilha sonora escrita e composta por Paul McCartney. Verdade seja dita, a canção tema é uma das melhores (isso se não for a melhor) de toda a filmografia Bond. Paul conseguiu como poucos capturar a essência do personagem, transformando sua canção em um hit e em um sucesso também de crítica (a ponto de ter sido indicada ao Oscar e ao Grammy). Inclusive até hoje Paul a usa em seu repertório fixo, se tornando um dos pontos altos de seus concertos mundo afora. Outro ponto que chama bastante a atenção do espectador é que nesse filme já surge o humor acentuado em primeiro plano, algo que seria a marca registrada dos filmes com Roger Moore. Claro que por ser uma estréia as coisas ainda andaram um pouco dentro da normalidade, algo que nos filmes seguintes se tornaria um pouco mais exagerado. De qualquer maneira gosto bastante desse filme e acredito que foi um dos mais felizes e bem sucedidos de todos os filmes da série. Com Roger Moore os filmes ganhariam uma nova etapa, retornando o personagem ao topo das bilheterias, para alegria dos fãs de James Bond em todo o mundo.

Com 007 Viva e Deixe Morrer (Live and Let Die, Inglaterra, 1973) Direção: Guy Hamilton / Roteiro: Tom Mankiewicz / Elenco: Roger Moore, Yaphet Kotto, Jane Seymour / Sinopse: O agente secreto James Bond, codinome 007, precisa enfrentar um violento e infame barão internacional das drogas. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor música original ("Live and Let Die" de Paul McCartney e Linda McCartney).

Pablo Aluísio.

Autor em Família

Al Pacino já estava consagrado em razão das obras primas que havia estrelado na década de 1970 quando resolveu embarcar nesse pequeno projeto. O renomado cineasta Arthur Hiller convidou Pacino para participar dessa adaptação de uma peça teatral para o cinema. Praticamente uma narrativa autobiográfica escrita pelo autor Israel Horovitz, o roteiro explorava os anseios, as lutas e angústias de um escritor de peças de teatro que precisa conciliar uma vida familiar praticamente caótica com o seu trabalho. Um dos aspectos mais interessantes é que o filme desenvolvia muito bem a questão da nova estrutura familiar que estava surgindo no começo da década de 1980. Com o aumento de divórcios surgiam famílias mescladas, com filhos de casamentos anteriores, todos convivendo juntos em uma mesma estrutura familiar.

Assim aquele que tentava uma nova vida tinha que aprender também a conviver com os filhos da nova esposa, que geralmente vinha de outro casamento acabado. Uma infinidade de padrastos e madrastas em uma realidade nova dentro da sociedade pois até pouco tempo atrás as pessoas não se divorciavam, preferindo viver em casamento infelizes e destruídos até o fim de suas vidas. Com a aprovação de leis de divórcio em várias partes do mundo (inclusive no Brasil) as pessoas foram atrás de uma nova vida, reconstruindo aquilo que não havia dado certo com outros cônjuges. A proposta seria de realizar um drama com pitadas de humor, no que acertaram em cheio pois o filme até hoje surpreende pelo bom argumento e claro por apresentar mais uma atuação inspirada do mestre Al Pacino, sempre surpreendente.

Autor em Família (Author! Author!, Estados Unidos, 1982) Direção: Arthur Hiller / Roteiro: Israel Horovitz / Elenco: Al Pacino, Dyan Cannon, Tuesday Weld, Bob Dishy, Bob Elliott / Sinopse: As dificuldades de um escritor que também precisa lidar com problemas familiares dos mais diversos. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator (Al Pacino).

Pablo Aluísio.

domingo, 24 de outubro de 2021

O Inglês que Subiu a Colina e Desceu a Montanha

Pouca gente se lembra desse filme. Embora faça muito tempo que o assisti, a boa lembrança segue presente. É um daqueles pequenos filmes despretensiosos que ganham muito justamente por causa da leveza de seu argumento, da boas intenções e da exploração do lugar comum, da banalidade do dia a dia de pessoas simples, ordinárias, que vivem no interior, longe dos grandes centros urbanos. O enredo mostra o cartógrafo Reginald Anson (Grant) indo até uma pequenina cidade no interior da Inglaterra. Ele é enviado ao lugar pelo instituto real de geografia para decidir se uma pequena elevação perto da cidadela é na verdade uma colina ou uma montanha. A decisão, que poderia parecer irrelevante para muitos, toma a cidade de assalto, já que o relevo da região é motivo de grande orgulho de todos os seus moradores.

Como se pode perceber é um argumento muito sutil, diria até mesmo excessivamente britânico, que fará pouco sentido para o público em geral, principalmente para o brasileiro que pouco estaria ligando se um morro fosse classificado de colina ou montanha. Mesmo assim o roteiro diverte bastante justamente por causa dessa singularidade narrativa. Anson começa a ser ora paparicado pelos moradores, ora hostilizado, dependendo do que ele vai decidindo de suas observações cartográficas. Com bonita direção de arte e reconstituição histórica de muito bom gosto visual, esse é um daqueles casos de filme que muitos esqueceram, menos aqueles que viram na época e gostaram da proposta diferente de seu roteiro. Além disso para os fãs do ator Hugh Grant não deixa de ser uma ótima oportunidade de conferir um de seus trabalhos mais subestimados.

O Inglês que Subiu a Colina e Desceu a Montanha (The Englishman Who Went Up a Hill But Came Down a Mountain, Inglaterra, 1995) Direção: Christopher Monger / Roteiro: Ifor David Monger, Christopher Monger / Elenco: Hugh Grant, Tara Fitzgerald, Colm Meaney / Sinopse: Um especialista em tomografia chega em uma pequena cidade do interior da Inglaterra para decifrar uma velha dúvida dos moradores. Filme vencedor do Moscow International Film Festival na categoria de Melhor Direção.

Pablo Aluísio