Será possível reproduzir o charme e a elegância dos clássicos do passado? É justamente tentando responder a essa pergunta que os produtores de "O Segredo de Berlim" resolveram bancar essa produção atual que tenta captar o clima dos antigos filmes noir da década de 1940. Tudo soa como uma
grande homenagem aos filmes de guerra e espionagem do passado. Há um bom uso de imagens reais mescladas com filmagens modernas mas
envelhecidas propositalmente. O roteiro tenta seguir também o que era
bem comum nos filmes daquela época: onde o argumento geralmente trazia muitas reviravoltas,
com pistas falsas e contrapistas, mortes misteriosas, aparição de pessoas que
se julgavam mortas e assim por diante Eram roteiros tão bem trabalhados que deixavam o espectador literalmente atordoado e isso fazia parte da diversão. Para deixar ainda mais claro as suas
intenções o diretor Steven Soderberg resolveu colocar um final ao estilo Casablanca com
tudo a que tem direito o espectador mais saudosista, com muita neblina, chuva e a despedida do casal ao lado
de um antigo avião! Só faltou mesmo a imortal música "As Time Goes By".
O problema é que apesar das boas intenções "O Segredo de Berlim" falha em seus objetivos. O filme tem sérios problemas de ritmo. Se a
pessoa não estiver com muita disposição de assistir ao filme corre o
risco de perder o fio da meada e achar tudo muito chato e cansativo. Outro problema é a postura dos atores em cena. Eles parecem querer interpretar tudo de forma muito estilizada, tentando imitar os trejeitos dos atores do passado. A questão é que existe o estilo que era usado na época e a caricatura que se fez depois para satirizar aquela forma de atuação. O elenco de "O Segredo de Berlim" erra muito ao abraçar a pura caricatura, colocando tudo a perder. George Clooney, por exemplo, jamais terá o estilo cool de um Humphrey Bogart ou um semblante de austeridade e dignidade moral de Gaty Cooper. Bogart, por exemplo, era cinicamente charmoso até quando acendia um cigarro. Clooney não tem esse tipo de sofisticação. Assim o que falta a "O Segredo de Berlim" não são as técnicas antigas, as fórmulas que eram usadas nos roteiros daquele tempo mas sim o material humano, os talentos que fizeram daquelas obras antigas filmes tão especiais e preciosos. Falta Cooper, Bogart, Muni, Lancaster, etc. Esses são realmente insubstituíveis para sempre. Por essa razão definitivamente não há mais como recriar aqueles maravilhosos filmes. Eis assim a resposta que os realizadores de "O Segredo de Berlim" tanto procuravam.
O Segredo de Berlim (The Good German, Estados Unidos, 2006) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Paul Attanasio / Elenco: Cate Blanchett, Beau Bridges, George Clooney, Dominic Comperatore, Tony Curran, Brandon Keener, Tobey Maguire, Christian Oliver./ Sinopse: Nos meses que sucederam o film da Segunda Guerra Mundial, um jornalista americano trabalhando como correspondente de guerra tenta reencontrar sua ex-amante Lena Brandt (Cate Blanchett), uma mulher que tenta reconstruir sua vida após o devastador conflito mundial.