sexta-feira, 25 de maio de 2012

Justiça Vermelha

Richard Gere é adepto do budismo. Seguidor da milenar filosofia é também um defensor dos direitos do Dalai Lama e de seu país, o Tibet. Como se sabe essa pequena, pacífica e espiritual nação foi invadida pela China que depôs o líder daquele povo, colocando em seu lugar um governo local submisso ao forte governo central chinês. Por essa razão não é de se admirar que o ator tenha entrado em um projeto como esse que em última instância é um manifesto de denúncia contra a ditadura comunista de Pequim. No filme Richard Gere interpreta o advogado americano Jack Moore que está na China negociando a venda de um sofisticado programa de última geração para satélites, uma tecnologia de ponta que interessa ao Estado daquele país. Após um dia exaustivo de negociações ele resolve passar a noite com uma bela modelo chinesa, Hong Ling (Jessey Meng). Seus problemas começam no dia seguinte quando percebe que a mulher está morta. Acusado de assassinato sua vida se torna literalmente um inferno. O sistema judicial chinês se revela completamente parcial em relação a estrangeiros, com procedimentos processuais obscuros e complicados, além de um sistema de punição que viola todos as cartas de direitos humanos do mundo civilizado. 

Com esse filme Richard Gere e o diretor Jon Avnet conseguiram levar para o centro dos debates a suposta terrível ditadura daquele país. Foi uma forma indireta de atingir Pequim pelo que fez ao povo do Tibet. Gere se submeteu a uma grande turnê de divulgação de seu novo filme, ao mesmo tempo em que aproveitava a oportunidade para denunciar os problemas políticos chineses. O problema é que o público americano não se mostrou muito interessado no tema e com isso a bilheteria foi considerada apenas discreta. O filme não chegou a dar prejuízo mas também não se tornou um sucesso absoluto de público. Para Gere isso foi bem secundário pois o que ele queria conseguiu pois a imprensa levantou o tema do Tibet causando desconforto com o governo chinês. Com isso Gere foi considerado persona non grata naquele país.. Como filme em si, deixando todos esses aspectos de bastidores de lado, o filme é realmente muito interessante mas vai chamar mais a atenção para estudantes e operadores de direito, uma vez que vários temas jurídicos ganham relevo em seu texto. De qualquer modo vale certamente a indicação.

Justiça Vermelha (Red Corner, Estados Unidos, 1997) Direção: Jon Avnet / Roteiro: Robert King / Elenco: Richard Gere, Bai Ling, Bradley Whitford, Byron Mann, Peter Donat / Sinopse: Advogado americano é acusado injustamente de assassinato de uma mulher chinesa. Sem direito a uma defesa adequada ele tem que lidar com o obtuso e absurdo sistema judicial chinês.

Pablo Aluísio.

Sombras da Noite

Tim Burton é um cineasta de extremos. Alguns o veneram, outros o odeiam, parece até mesmo não haver meio termo quando se trata de seus filmes. Pessoalmente jamais pensei assim. Sempre vi Tim Burton como um diretor de altos e baixos. Ele já dirigiu pequenas obras primas como "Ed Wood" e "Edward Mãos de Tesoura" mas também tem sua cota de desastres e filmes medíocres como "Alice", por exemplo. Esse "Sombras da Noite" fica no meio termo. Não é uma obra prima e nem um abacaxi. Na realidade é um bom filme, um Tim Burton dos bons. A produção tem todo um charme, um clima gótico que gostei bastante. O roteiro é baseado numa antiga estória que já tinha sido apresentada na TV em forma de seriado na década de 70 (o filme mantém a ambientação pois tudo acontece no ano de 1972). A trama é bem fantasiosa mas relativamente simples: Barnabas Collins (Johnny Depp) é filho de uma rica família inglesa que é amaldiçoado por uma bruxa. Encarcerado por dois séculos dentro de um caixão consegue escapar retornando para sua antiga mansão, agora habitada por parentes distantes de sua linhagem familiar. Ele é um vampiro vitoriano que tenta entender as mudanças da sociedade - carros, televisões, aparelhos eletrônicos!. Em busca de seu antigo amor, Josette (Bella Heathcote), que foi morta pela mesma bruxa que o aprisionou, Barnabes agora parte para sua vingança pessoal. 

É curioso não ser um produto original escrito por Tim Burton pois a estória se encaixa perfeitamente na linha de seu trabalho. O gótico aqui convive com o cotidiano mais banal dos habitantes da cidadezinha - tal como acontecia em "Edward Mãos de Tesoura". O vampiro Barnabes é uma figura trágica e cômica ao mesmo tempo. O clima reinante é de absurdo fantasioso, um ambiente que os fãs de Tim Burton conhecem muito bem. O elenco de apoio é formado por bons atores como Michelle Pfeifer (ainda bonita apesar da idade), Helena Bonham Carter (que parece ter tirado seu figurino e cabelos de "Marte Ataca") e Chloë Grace Moretz (a vampirinha de "Deixe-me Entrar" e "Kick Ass", aqui interpretando uma adolescente irritante). Como se não bastasse ainda há divertidas participações especiais de Christopher Lee e Alice Cooper. O saldo final é divertido e vai agradar a quem deseja assistir um bom filme dark cômico sem maiores pretensões.  

Sombras da Noite (Drak Shadows, Estados Unidos, 2012) Direção: Tim Burton / Roteiro: Seth Grahame-Smith, John August / Elenco: Johnny Depp, Michele Pfeifer, Helena Bonham Carter, Eva Green, Chloë Grace Moretz, Christopher Lee, Alice Cooper / Sinopse: Barnabas Collins (Johnny Depp) é filho de uma rica família inglesa que é amaldiçoado por uma bruxa. Encarcerado por dois séculos dentro de um caixão consegue escapar retornando para sua antiga mansão, agora habitada pos parentes distantes de sua linhagem familiar. Ele é um vampiro vitoriano que tenta entender as mudanças da sociedade - carros, televisões, aparelhos eletrônicos!. Em busca de seu antigo amor, Josette (Bella Heathcote), que foi morta pela mesma bruxa que o aprisionou, Barnabes agora parte para sua vingança pessoal. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Capote

"Capote" traz a melhor atuação do talentoso Philip Seymour Hoffman no cinema. Levando-se em conta que o ator fez excelentes trabalhos ao longo de toda sua carreira, isso definitivamente não é pouca coisa. O personagem enfocado é dos mais controvertidos. Durante décadas Truman Capote (1924 - 1984) foi um dos mais influentes jornalistas e escritores americanos. Dono de um estilo único e visceral, Capote foi um dos melhores cronistas de seu país. Sob uma vertente nua e crua ele expôs como poucos as vísceras de uma América que passava muito longe daquela idealizada pelos pais da nação. Na escrita de Capote veio à tona o país das mazelas, das discriminações, da marginalidade e da futilidade também. Tudo em doses excessivas, sem meio termo. Sua obra prima, "A Sangue Frio" é um daqueles livros simplesmente obrigatórios para todos que prezam uma boa e inteligente leitura. O autor se destacou por fazer um jornalismo diferente, que tangenciava não apenas o aspecto informativo mas também literário. Foi assim um dos verdadeiros pioneiros do que ficaria conhecido anos depois como jornalismo literário.

Trazer à tona em uma única cinebiografia uma pessoa com obra tão importante como essa não seria fácil. Capote tinha uma personalidade muito diferenciada, única e transpor aquele jeito de ser poderia desbancar facilmente para a mera caricatura. Felizmente para o espectador temos aqui em cena um dos melhores atores da nova geração. Philip Seymour Hoffman incorpora Capote com sutileza e bom gosto. Nunca cai no grotesco e nem faz qualquer tipo de concessão. De fato sua atuação é seguramente uma das mais brilhantes dos últimos dez anos dentro da indústria do cinema americano. Assim quando seu nome foi anunciado na noite do Oscar ninguém realmente se surpreendeu. Nenhum concorrente conseguia chegar à altura de sua atuação - o prêmio foi considerado uma barbada e mais do que merecido. Outra decisão acertada foi focar a trama do filme em um evento específico da vida de Capote. Assim evitou-se aquele tipo de trama sem foco, disperso como aconteceu recentemente em "A Dama de Ferro". O resultado final é brilhante em um filme que funciona em todos os aspectos. "Capote" é uma obra cinematográfica extremamente digna e à altura do grande talento de Truman Capote. Imperdível.

Capote (Capote, Estados Unidos, 2005) Direção: Bennett Miller / Roteiro: Dan Futterman / Elenco: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Clifton Collins Jr., Chris Cooper, Bruce Greenwood / Sinopse: Cinebiografia do escritor e jornalista americano Truman Capote. Autor de obras primas como "A Sangue Frio" seu estilo visceral marcou o jornalismo e a literatura americana do século XX.

Pablo Aluísio.

Ray

Ray Charles (1930  - 2004) foi uma grande figura humana. Nasceu em um dos Estados americanos mais racistas daquele país, era pobre e negro e como se isso não bastasse logo na infância perdeu sua visão. Sem alternativas cedo caiu na estrada para sobreviver e em sua longa luta de vida acabou se tornando um dos grandes ícones da música americana. Sua biografia é extremamente rica em situações e momentos importantes e transpor tudo para apenas um filme seria praticamente impossível. "Ray" porém não decepciona em nenhum momento. Interpretado de forma inspirada por Jamie Foxx, o grande cantor e compositor parece voltar á vida para nos presentear com mais um belo momento de sua carreira. O roteiro tenta de forma mais inteligente possível pincelar aqueles que são considerados os momentos chaves na vida de Ray Charles. Assim acompanhamos a assinatura de seu primeiro contrato com uma grande gravadora, seu conturbado casamento, o problema que enfrentou ao se viciar em drogas e finalmente a sua consagração como grande músico que era.

Além da trilha sonora excepcional de "Ray" (não poderia ser diferente), o filme ainda tem como grande atrativo a atuação magistral de Jamie Foxx. O curioso é que ele nunca foi um grande ator dramático, começando sua carreira em comédias sem maior importância. O estúdio inclusive não acreditava muito nele para viver Ray Charles. Só após um excepcional teste com o diretor Taylor Hackford é que ele finalmente conseguiu ganhar o papel. O grande mérito de Jamie é se afastar da caricatura que além de desrespeitosa é inadequada. Mesmo repetindo os trejeitos mais característicos do artista ele conseguiu um resultado que acima de tudo respeita o modo de ser do cantor. Taylor Hackford, o cineasta, também conseguiu evitar o dramalhão, fazendo um filme bom de assistir que em momento algum carrega nas tintas. Ele já tinha experiência com outro grande nome da música negra americana ao dirigir o ótimo "Chuck Berry - O Mito do Rock" e essa experiência lhe ajudou a fazer um filme com ótimo timing e desenvolvimento. Como resultado de tanto capricho o filme foi premiado com o Oscar de Melhor ator para Jamie Foxx em 2005, um prêmio que ninguém ousou contestar. Um ótimo desfecho para um filme que é acima de tudo uma homenagem a esse grande nome da música de nosso tempo.

Ray (Ray, Estados Unidos, 2004) Direção: Taylor Hackford / Roteiro: Taylor Hackford, James L. White / Elenco: Jamie Foxx, Regina King, Kerry Washington, Michael Arata, Curtis Armstrong, Patrick Bauchau, Jude Cambise. / Sinopse: Cinebiografia do cantor e compositor Ray Charles. Sua infância, sua batalha para vencer na vida, seus problemas de saúde, seus amores e seus problemas com drogas - tudo é mostrado em um retrato muito honesto de um dos grandes nomes da história da música americana.

Pablo Aluísio .

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Sexto Sentido

É realmente uma pena que um cineasta tão promissor como M. Night Shyamalan esteja em uma situação tão ruim na carreira como agora. Após alguns fracassos de público e crítica sua filmografia encontra-se em um beco sem saída. Isso me fez recordar desse "O Sexto Sentido", considerado por muitos a obra prima do diretor. Não é para menos, com um roteiro realmente surpreendente (que quanto menos se revelar, melhor), o texto brinca o tempo todo com o espectador que acaba levando um verdadeiro choque na cena final do filme. Depois do sucesso o argumento foi imitado à exaustão por um sem número de filmes de terror que tentavam aproveitar a onda do sucesso de "O Sexto Sentido". De repente todo filme trazia uma reviravolta mirabolante para causar aquela surpresa no público. Como sempre acontece no mundo das artes, o fato de ter sido tão imitado e copiado acabou desvalorizando a obra original. Hoje revisto o filme já não causa muito impacto, até porque é em essência aquele tipo de produção que uma vez revelada sua surpresa perde praticamente todo o impacto.

O sucesso foi espetacular. Para um filme de orçamento modesto e pretensões idem, "O Sexto Sentido" conseguiu a proeza de fatura mais de 700 milhões de dólares em bilheteria, um número realmente assombroso. O êxito comercial obviamente teve seu lado bom e ruim. O aspecto positivo foi que o gênero terror voltou ao topo em Hollywood por algum tempo. De uma hora para outra os estúdios acordaram para o fato de que o público ainda poderia comparecer em massa para ver filmes assim. O lado negativo foi que o sucesso trouxe uma liberdade a M. Night Shyamalan que ao longo do tempo lhe faria muito mal. Livre das amarras dos grandes estúdios ele começou a dar vazão a uma série de idéias que nem sempre funcionavam nas telas. Sem freios criaria argumentos sem pé nem cabeça para seus futuros filmes o que mais cedo ou mais tarde o acabaram levando para o buraco. Isso porém é tema para analisarmos quando formos falar de seus outros filmes. Por enquanto vale a pena deixar a indicação para essa pequena obra prima que causou muito impacto em seu lançamento. Nunca um filme sobre um garotinho que via gente morta despertou tanto interesse antes na história do cinema americano.

O Sexto Sentido (The Sixth Sense, Estados Unidos, 1999) Direção: M. Night Shyamalan / Roteiro: M. Night Shyamalan / Elenco: Bruce Willis, Haley Joel Osment, Toni Collette,  Olivia Williams, Donnie Wahlberg / Sinopse: Cole Sear (Haley Joel Osment) é um garotinho que nasceu com o poder de ver, falar e interagir com pessoas mortas. Para tentar estudar e solucionar seu problema ele começa a desenvolver uma sólida amizade com o Dr. Malcolm Crowe (Bruce Willis) que parece particularmente intrigado com esse precioso dom do garoto.

Pablo Aluísio.

Kalifornia

Poucos ainda se recordam hoje em dia desse que foi um dos primeiros filmes de Brad Pitt a ganhar maior repercussão. De fato até aquele momento o ator só tinha se destacado mesmo com sua pontinha em "Thelma e Louise" e depois no drama nostálgico "Nada é Para Sempre", uma emocional volta ao passado dirigido pelo sempre correto Robert Redford na direção. "Kalifornia" destoa de todos os seus trabalhos anteriores. O filme é de complicada classificação pois passeia com êxito por diferentes gêneros cinematográficos. É extremamente violento e impactante mas isso não lhe tira o foco do aspecto mais humanos dos personagens insanos. A trama investe num tipo que tem se tornado comum nos últimos anos - a dos fãs de Serial Killers. Existe todo um nicho específico para os que gostam de conhecer as histórias desses assassinos em série. Há vasta literatura sobre o assunto e milhares de sites que possuem como temática a vida desses psicopatas. O tema, apesar de assustador e terrível, já entrou definitivamente dentro da cultura pop.

Pois bem, no filme acompanhamos um casal de jornalistas que resolvem visitar os locais históricos por onde passaram os mais famosos assassinos da história dos EUA; Brian Kessler (David Duchovny) e Carrie Laughlin (Michelle Forbes) formam o casal que decide embarcar nessa estranha viagem. Para dividir os custos da viagem resolvem colocar um anúncio nos jornais convidando pessoas que se interessem pelo assunto e que queiram fazer a mesma excursão. Quem responde aos anúncios é o casal formado por Adele Corners (Juliette Lewis) e Early Grayce (Brad Pitt). Ela é uma mulher submissa ao irascível marido, Early que não parece ter o juízo no lugar. O que não sabem é que ele próprio é um psicopata violento, com acessos de fúria e violência. A viagem que parecia ser um tanto inusitada acaba virando um terror completo para todos os envolvidos. Kalifornia causou certa polêmica em seu lançamento justamente porque há um viés de apologia à vida desses assassinos. Não penso que seja o caso, na realidade se trata de um bem orquestrado road movie com muitas cenas de suspense e tensão. Uma boa amostra do cinema mais ousado da década de 90. Procure conhecer, vai valer a pena.

Kalifornia - Uma Viagem ao Inferno (Kalifornia, Estados Unidos, 1993) Direção: Dominic Sena / Roteiro: Stephen Levy, Tim Metcalfe / Elenco: Brad Pitt, Juliette Lewis, Kathy Larson,  David Duchovny / Sinopse: Casal resolve conhecer os lugares históricos onde viveram os principais psicopatas dos Estados Unidos. Para dividir as despesas resolve viajar com um outro casal. O problema é que eles não serão bons companheiros de viagem.

Pablo Aluísio.

Terror na Água

Se existe uma palavra para definir Shark Night essa palavra é: desnecessário. O pobre Tubarão só teve boa representatividade no cinema no primeiro filme de Spielberg. O tema soava original, tinha boa trilha sonora (todo mundo até hoje lembra da musiquinha que tocava quando o Tubarão atacava) e o filme virou um marco, considerado por muitos o precursor do que hoje se chama Blockbuster. Pois bem, o tempo passou, Tubarão ganhou várias continuações (todas péssimas) e de vez em quando alguém tenta ressuscitar filmes de pessoas sendo mortas por esse peixe. Esse Shark Night então tenta requentar um velho prato, um cozido que já deu o que tinha que dar. Na trama somos apresentados a um grupo de jovens que vão passar férias numa bonita casa isolada e cercada por um belo lago salgado. 

Bom, pela premissa já deu para ver que: a) os jovens só estão lá para servirem de carne fresca para as mortes e b) todo mundo já sabe que será o tubarão que vai jantar todos eles. Os atores jovens são todos displicentes e obtusos. Todos são clichês ambulantes. Tem a loirinha gostosa (que não aparece nua, um absurdo em filmes desse tipo), tem o jogador de futebol americano bonitão (que vai dar uma de herói mais tarde), tem os nerds (filme com jovens americanos sem nerds é impossível) e por fim tem o negro da turma (que obviamente será o primeiro a ser devorado pelo tubarão, claro!). Fora isso realmente nada de novo. Os efeitos não são bons, nada de muito espetacular acontece e tudo se resume a acompanharmos um por um dessa galera sendo devorados. Uma tremenda bobagem no final das contas. Melhor rever o original de Spielberg - é mais interessante. 

Terror na Água (Shark Night, Estados Unidos, 2011) Direção: David R. Ellis / Roteiro: Will Hayes, Jesse Studenberg / Elenco: Sara Paxton, Dustin Milligan, Chris Carmack / Sinopse: Um grupo de jovens vão passar férias numa bonita casa isolada, cercada por um belo lago salgado. O que não sabem é que o local é habitado por terríveis tubarões assassinos.  

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Questão de Honra

A disciplina militar tem sua própria lógica que muitas vezes não faz o menor sentido fora do ambiente de caserna. Esse é o pano de fundo de "Questão de Honra", uma grande produção da década de 90 que conseguiu reunir três astros em ascensão na época, Jack Nicholson, Tom Cruise e Demi Moore. Depois do relativo fracasso de "Um Sonho Distante" Tom Cruise resolveu apostar em um projeto de sucesso garantido. Aqui ele interpreta um jovem advogado das forças armadas americanas que tenta provar um crime militar ocorrido dentro de uma base aonde um jovem soldado supostamente teria sido morto por seus colegas de farda. Para tanto ousa convocar para depor um coronel casca grossa (brilhantemente interpretado por Nicholson). Sua frase durante o depoimento: "You can't handle the truth!" ("Você não suportaria a verdade!") foi considerada uma das mais marcantes da história recente do cinema americano. Nicholson tinha acabado de ganhar uma verdadeira fortuna com o sucesso do primeiro filme de Batman e estava ali para novamente causar sensação. É curioso ver um ator desse quilate dando um verdadeiro baile em Tom Cruise. Verdade seja dita: Cruise não é páreo para Nicholson em cena. Isso fica bem claro na cena final do depoimento do personagem de Jack. Ele simplesmente destrói Cruise e o cospe fora. Simples assim. .

A única peça no elenco que não parece se encaixar é Demi Moore. Complicado acreditar que ela seja digna de alguma patente militar. Vacilante, sem achar o tom certo de seu papel, ele se refugia apenas em sua beleza e tenta não passar vergonha ao lado do elenco brilhante. É certo que o filme poderia ser menos burocrático e ter um corte menos pesado. O diretor Rob Reiner porém costuma ter mão pesada, confundindo longa duração com qualidade. Isso já havia acontecido com "Conta Comigo". A produção aqui sofre dessa mesma falta de ritmo mas a presença de Nicholson consegue superar o mal estar. O saldo final é positivo, apesar de pontuais problemas. "Questão de Honra" fez sucesso e recebeu várias indicações para as principais premiações, inclusive Oscar e Globo de Ouro. Infelizmente não conseguiu ganhar nada de muito significativo mas pelo menos marcou presença nessas competições. Afinal o que vale é competir.

Questão de Honra (A Few Good Men, Estados Unidos, 1992) Direção: Rob Reiner / Roteiro: Aaron Sorkin / Elenco: Tom Cruise, Jack Nicholson, Demi Moore, Kevin Bacon, Kiefer Sutherland / Sinopse: Durante um julgamento militar, defesa e acusação tentam esclarecer fatos ocorridos dentro de uma base militar que ocasionaram a morte de um soldado.

Pablo Aluísio.

O Castelo Assombrado

Vincent Price era um homem muito culto, colecionador de artes, bon vivant, que ganhava a vida interpretando alguns dos personagens mais imaginativos da história do cinema, principalmente no gênero que o consagrou, o terror. Já Roger Corman era uma figuraça, diretor com muita imaginação para driblar a falta de orçamento de muitos de seus filmes. Sua sobrevivência em Hollywood lhe deu inspiração para escrever uma biografia muito bem humorada intitulada "Como eu fiz uma centena de filmes em Hollywood e nunca perdi um tostão!". Certo estava ele. Nesse "O Castelo Assombrado" encontramos todas as características que fizeram tanto a fama de Price como a de Corman.

O ator mais uma vez se utiliza de sua persona "nobre mas sinistro" que utilizou em um sem número de produções. Dentro de um cenário surpreendentemente bem feito, Price usa e abusa de seus famosos "olhares lânguidos", seja no papel de Ward seja no do Warlock ancestral Joseph. Para mudar de personalidade ele apenas precisa levantar as sobrancelhas e fitar o horizonte. Impagável. Outro destaque do filme é a trilha sonora (muito evocativa e bem colocada nas cenas de maior suspense). Por fim tem a beldade Debra Paget (que foi a namoradinha de Elvis Presley em Love Me Tender). Atriz de rara beleza ela aqui defende bem seu cachê embora não saia do convencional, em um papel tipicamente de "mocinha em perigo". Esse tipo de produção vai soar datada para muitos hoje em dia mas isso faz parte de seu charme. Aliás a nostalgia e o saudosismo envolvidos tornam "O Castelo Assombrado” ainda mais saboroso nos dias de hoje.

O Castelo Assombrado (The Haunted Palace, Estados Unidos, 1963) Direção: Roger Corman / Roteiro: Charles Beaumont baseado nas obras de Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft  / Elenco: Vincent Price, Debra Paget, Lon Chaney Jr,  Frank Maxwell,  Leo Gordon / Sinopse: Inspirado em Edgar Allan Poe e na obra “O Caso de Charles Dexter Ward” de H. P. Lovecraft o filme "O Castelo Assombrado" narra a estória de Joseph Curwen, um mestre em magias ocultas que acaba sendo queimado como bruxo no pequeno vilarejo onde mora. Um século depois um jovem casal decide visitar o castelo original de Joseph, que agora parece estar infestado por espíritos malignos do passado.

Pablo Aluísio. 

O Palhaço

"O Palhaço" é um filme para ser pequenino, simples, quase como uma fábula. A estorinha contada parece aqueles pequenos contos passados de pai para filho que sempre tem uma lição sobre a vida no final. Aqui acompanhamos a singela estória de um filho de dono de pequeno circo (desses que vagam pelos interiores do Brasil) que em certo momento da vida se questiona se aquilo realmente seria o que ele desejaria para sua vida. Em crise existencial procura uma saída para a vida circense na qual nasceu e sempre viveu. Como eu disse não cabem maiores reflexões metafísicas ou profundas nesse tipo de filme, ele foi concebido assim mesmo, para ser o mais singelo possível. Se fosse literatura "O Palhaço" não seria um romance de muitas páginas, seria um pequeno conto, bem escrito, com tudo encaixadinho, quase um conto de fadas. 

Por isso após assistir fiquei realmente impressionado com o status de obra prima que alguns críticos colocaram no filme. Acho que nem essa foi a intenção dos realizadores de "O Palhaço". Selton Mello, que dirigiu, roteirizou e até editou a película provavelmente não tinha essa intenção, o filme é realmente despretensioso, ainda bem diga-se de passagem. O elenco é todo muito bom, com participações bem divertidas de vários atores que há muito tempo não via como o famoso "Ferrugem" que fez muito sucesso na TV. Outros nomes do humorismo televisivo também se fazem presentes como Jorge Louredo (o famoso Zé Bonitinho de "A Praça é Nossa"). Em suma, o filme deve ser encarado assim, de forma simplória, o que não depõe contra seu resultado, pelo contrário, é sempre muito bem-vindo ver filmes nacionais tão líricos (e honestos) como esse. Um pequeno retrato do Brasil do interior com seus personagens singulares, tudo embalado a muito bolerão (com direito até a Altemar Dutra) e música brega. Vale a pena conferir. 

 O Palhaço (Idem, Brasil, 2011) Direção: Selton Mello / Roteiro: Selton Mello, Marcelo Vindicato / Elenco: Seltin Mello, Paulo José, Larissa Manoela / Sinopse: Pai e filho trabalham juntos em um pequeno circo do interior brasileiro. Refletindo sobre sua vida pessoal, Benjamim (Selton Mello) que interpreta o palhaço Pangaré decide dar um novo rumo à sua vida, procurando por um emprego fixo em uma cidade, deixando a vida circense para trás. 

Pablo Aluísio.