segunda-feira, 23 de outubro de 2006

John Wayne e John Ford

Sem dúvida dentro da mitologia do western americano não podemos deixar de lado uma das duplas mais significativas da história do cinema americano: John Wayne e John Ford. Quando Ford começou a trabalhar com Wayne esse já era de certa maneira um ator popular e conhecido do público das grandes matinês. John Wayne tinha estrelado inúmeros filmes de bang bang antes de encontrar John Ford. Essas produções eram populares, tinham ótimas bilheterias, porém não contavam com o respaldo da crítica que as consideravam apenas entretenimento comum, sem qualquer tipo de status de grande arte. Apenas ao lado de John Ford o mito John Wayne seria alçado rumo ao panteão dos grandes ídolos do cinema americano. O curioso é que Ford tinha uma relação de amor e ódio com o ator. Quase sempre demonstrava ter pouca paciência com Wayne, principalmente por ele não ser considerado naquela altura de sua vida um grande ator.

"Quantas expressões faciais você tem seu hipopótamo?" - Desafiava John Ford durante as filmagens. Wayne não deixava barato e respondia: "Mais do que você pensa seu caolho desgraçado!". Isso pode soar rude e grosseiro para muitas pessoas, porém quem já teve uma amizade masculina sincera fundada em pequenas rusgas como essas saberá e entenderá que tudo não passava de uma nada delicada brincadeira entre os dois. É natural entre homens esse tipo de tratamento que nunca pode ser encarado como uma ofensa legítima, mas sim como uma forma íntima de tratar alguém que você tem intimidade suficiente para provocar e instigar. Nos filmes John Ford e John Wayne funcionavam em perfeita harmonia.

Ford procurava pelo resgate do homem íntegro e honesto que desbravou o velho oeste não apenas no aspecto puramente territorial, mas também psicológico. O americano que ia rumo ao oeste o fazia com o espírito de lá fundar suas raízes, criar sua família, viver muitas vezes da terra. Para Ford esse era o verdadeiro herói nacional. Um homem duro como rocha que encarava todos os desafios, como a aridez da região, o ataque de selvagens e a hostilidade da natureza para se firmar ali e criar uma civilização, baseada principalmente em seus valores de trabalho, ética e honestidade.

Em John Wayne o diretor enxergava o tipo ideal para personificar esse pioneiro. John Wayne era muito querido dentro da indústria, principalmente por ser considerado um profissional correto e digno de confiança. Além disso tinha uma reputação impecável, como homem honesto e cumpridor de suas obrigações. Em tantos anos de carreira jamais havia se envolvido em qualquer escândalo seja de que natureza fosse. Ao contrário de outros ídolos seu nome era respeitado dentro da comunidade cinematográfica. Além disso seu visual, mais velho, com sobrepeso, mas expressão firme e decidida, caía como uma luva nos personagens dos filmes de Ford. Os pioneiros dos século XVIII e XIX eram mesmo a cara de John Wayne. Dessa feliz fusão de ator e diretor nasceram alguns dos maiores clássicos do faroeste norte-americano que iremos tratar em uma série de textos nas próximas semanas. Até lá...

Pablo Aluísio.

Embrutecido Pela Violência

Ontem assisti a mais um clássico western americano. Esse ainda era inédito para mim. É uma produção de 1951 estrelada por Kirk Douglas e dirigida pelo mestre Raoul Walsh chamada "Embrutecido Pela Violência". Acabei inclusive de publicar uma resenha no blog Cine Western que pode ser facilmente acessada clicando aqui. Além do já tradicional roteiro, típico de faroestes da época, esse filme me intrigou porque tocou em um ponto que acho crucial: as falhas do sistema judiciário (seja ele de que país for). Douglas interpreta um agente federal obcecado em seguir a lei ao pé da letra, em seus menores detalhes. Nada de pensar em fazer justiça pelas próprias mãos. Assim quando encontra um grupo de homens prontos para pendurarem numa árvore um velho acusado de ter roubado gado e matado o querido filho de um rancheiro da região, ele nem pensa duas vezes e saca suas armas para deter o ato de pura vingança (e não justiça, em sua particular forma de entender a situação). Ele consegue salvar a vida do sujeito, mas ao mesmo tempo se coloca em perigo já que o grupo não se contenta com o que aconteceu e passa a caçá-lo pelo deserto californiano. Acontece que o seu prisioneiro também tem uma filha, interpretada pela beldade Virginia Mayo, que também está disposta a fazer de tudo para que seu pai não seja condenado. Na jornada pelo deserto o Marshal conta apenas com a ajuda de dois assistentes; Já do outro lado e em seu encalço vai um verdadeiro bando de foras-da-lei, prontos para acabarem com sua vida e a de seu prisioneiro.

O veterano Kirk Douglas ainda vive e é um verdadeiro sobrevivente. Provavelmente seja o último grande astro da era de ouro do cinema americano ainda vivo. Aos 99 anos de idade, Kirk é mais durão do que todos os cowboys juntos que interpretou ao longo de sua vida. Com 92 filmes no currículo, em mais de 60 anos de carreira, ele foi um verdadeiro workaholic em seus tempos de glória. O curioso na carreira dele é que jamais se limitou a apenas um gênero cinematográfico, abraçando todo tipo de projeto que lhe parecesse interessante. Também foi um artista corajoso e independente que enfrentou de frente grupos poderosos da época. Em plena era das caças às bruxas da paranóia anticomunista ele foi o único em Hollywood que teve coragem de empregar profissionais que estavam na lista negra do Macartismo, entre eles o genial roteirista Dalton Trumbo que havia sido impedido de trabalhar nos grandes estúdios por ter sido acusado de ser membro do partido comunista. Douglas topou a briga e o contratou mesmo sob diversas ameaças de boicote. No final o filme se tornou um grande clássico e Kirk Douglas se tornou um dos responsáveis pelo fim daquela loucura que se espalhava na indústria cultural americana.

Já a atriz Virginia Mayo era outra profissional de muita garra na luta por sua carreira. Ela nasceu em St. Louis, Missouri, no ano de 1920. Desde cedo quis ser atriz de cinema, mas isso exigia um esforço e tanto para conseguir. Considerada uma rainha da beleza ela começou sua vida profissional atuando como modelo (linda como era, não houve maiores problemas sobre isso). Como também era dançarina teve sua primeira oportunidade de aparecer no musical "Follies Girl" de 1939. Aos pouquinhos foi subindo os degraus da fama. Quando atuou ao lado de Kirk Douglas em "Embrutecido Pela Violência" já era uma estrela de renome, capa de revistas e badalada dentro da indústria cinematográfica. Quando o filme foi lançado boatos de que estaria namorando Kirk surgiram na imprensa. No filme inclusive podemos notar seus esforços em se destacar apenas pelo talento dramático e não apenas pelo seu bonito rosto. Ela está com cabelos curtinhos, estilo Joãozinho, em roupas simples, rurais, e modos rudes e rústicos. Isso em nada tirou seu brilho pessoal, pelo contrário, só a deixou mais charmosa - mesmo que estivesse com um rifle nas mãos! Ela tinha um olhar muito expressivo que foi perfeitamente captado pelas lentes do cineasta Raoul Walsh. No roteiro do filme ela quer de todo custo salvar seu pai que caminha rapidamente para a morte (seja pelas mãos da justiça, seja pelos rancheiros que o acusam de vários crimes). Para isso vale tudo, até mesmo se enamorar pelo xerife durão Douglas - o que convenhamos não era nada fácil. Enfim, coisas de Hollywood...

Pablo Aluísio.

domingo, 22 de outubro de 2006

John Wayne - Rio Lobo

"Rio Lobo" foi rodado em 1970. Por essa época John Wayne entrava na sua sexta década de carreira! Sessenta anos dedicado ao cinema! Muitos ainda se espantavam pelo fato dele ainda ter apelo de público, mas isso só comprovava que John Wayne era um sobrevivente e um mito. A maioria dos atores de sua geração já tinham morrido ou então estavam esquecidos, mas Wayne mantinha uma regularidade incrível, realizando de dois a três filmes ao ano. E o mais surpreendente era que essas produções eram muito bem sucedidas nas bilheterias, sempre lucrativas. Seu nome não tinha perdido o brilho.

Quando perguntado em que momento iria se aposentar, Wayne respondia: "Enquanto houver trabalho para esse velho pangaré, estarei trabalhando. Quem sabe algum dia ninguém mais queira me ver pela frente e me joguem no pasto, mas até esse dia acontecer irei fazer filmes". Ele cumpriu sua promessa pois trabalhou até o fim da vida. O termo aposentadoria não se aplicava no que dizia respeito a John Wayne. Assim mesmo em uma nova década lá estava o velho cowboy de volta ao mundo do faroeste para divertir e entreter seu leal público.

O primeiro grande diferencial de "Rio Lobo" vem do fato dele ter sido dirigido por Howard Hawks. Nem cabe aqui o estafante trabalho de citar suas obras primas na história do cinema pois elas são muitas. Hawks foi um verdadeiro gênio da sétima arte. Tal como Wayne ele também era um sobrevivente e um veterano quando esse filme foi rodado. Eles queriam provar que ainda havia espaço para esses dois antigos ídolos do cinema americano. O resultado acabou comprovando que nem o tempo lhes tirou a majestade. Em um tempo em que já havia outra mentalidade entre a população, os dois conseguiram fazer sucesso revitalizando os mesmos valores morais e éticos de quando eram jovens. O conservadorismo de suas obras acabavam sendo o seu maior charme.

O contexto histórico onde se passa a história de "Rio Lobo" é o período que se desenvolveu logo após o fim da Guerra Civil americana. Ianques e confederados ainda acertavam as mágoas de um conflito sangrento quando o Coronel McNally (John Wayne) parte no encalço de veteranos sulistas que teriam roubado um carregamento de ouro da União. A missão de encontrar os criminosos tem para o velho militar um aspecto também bem pessoal. Essa mesma quadrilha passou informações vitais para o inimigo que resultaram na morte de um jovem oficial da União que era considerado um verdadeiro filho por McNally. Assim o dever de achá-los se mesclou com o desejo de vingança do Coronel. Como bem John Wayne sabia esse sempre tinha sido um tema recorrente em filmes de western, o que em "Rio Lobo" não era também exceção.

Pablo Aluísio.

O Passado Não Perdoa

Esse fim de semana aproveitei o tempo livre para assistir a dois clássicos que seguiam inéditos até o momento. Dois excelentes filmes, é bom frisar. O primeiro foi "A Tortura do Silêncio". É um thriller de suspense com um enredo que me lembrou muito os filmes de Alfred Hitchcock. O mitológico Gary Cooper interpreta um empregado de uma empresa em Londres que acaba supostamente testemunhando um assassinato. Seu próprio patrão é esfaqueado e 60 mil libras são roubadas. Mesmo na escuridão o personagem de Cooper acusa um outro funcionário do crime. O sujeito é preso e condenado à prisão perpétua.

Pouco tempo depois o próprio George (Cooper) surge com dinheiro suficiente para abrir sua própria empresa de navegação. O negócio prospera e ele fica rico. Sua esposa Martha (interpretada pela ótima Debora Kerr) começa a ficar desconfiada de tudo. Afinal o dinheiro roubado na empresa jamais fora encontrado. Teria sido ele o real assassino? O roteiro assim aproveita essa situação limite para desenvolver toda a sua trama. Um aspecto interessante é que até a cena final o espectador fica na dúvida sobre ser o personagem de Cooper inocente ou culpado. Extremamente bem escrito, é um ótimo momento da filmografia do ator. Infelizmente Cooper morreria naquele mesmo ano, sendo esse seu último filme.

O outro belo clássico que assisti foi "O Passado Não Perdoa". Esse é um faroeste dirigido por John Huston. Todo cinéfilo sabe que Huston foi um mestre da sétima arte. Ele nunca realizava filmes banais ou que caíssem no lugar comum. Era um cineasta dos mais constantes na realização de obras primas. Esse filme é uma delas. O roteiro começa mostrando o dia a dia de um clã familiar no velho oeste. Eles vivem em um rancho situado no deserto, em pleno território Kiowa. De tempos em temos os nativos guerreiros promovem massacres de colonos brancos na região. O patriarca da família Zachary foi morto em um desses ataques. Agora quem lidera o clã é Ben Zachary (Burt Lancaster), o irmão mais velho. Ele vive de transportar e vender gado pela região. A rotina familiar segue tranquila e feliz até que os Kiowas retornam.

Eles querem que Ben lhes dê a sua própria irmã, a jovem Rachel (interpretada por Audrey Hepburn, maravilhosa como sempre), para que ela seja levada para as montanhas onde vive a tribo. Para os Kiowas ela teria sido raptada de sua aldeia no passado. Um ataque feito pelo próprio patriarca Zachary. Claro que Ben (Lancaster) recusa de forma veemente a possibilidade de Rachel ser entregue de volta aos índios, o que acaba dando origem a uma verdadeira guerra entre brancos e indígenas. Huston mostra maestria na condução do filme. Ele não tem pressa, desenvolvendo cada personagem de forma bem caprichada. O elenco conta ainda com dois outros coadjuvantes bem interessantes para os cinéfilos: a presença da diva do cinema mudo Lilian Gish, como a velha matriarca e Audie Murphy, como o irmão do meio da família Zachary, uma pessoa que ainda não conseguiu superar seus preconceitos de natureza racial. Em suma, um belíssimo trabalho do mestre John Huston, um diretor que jamais me decepcionou.

Pablo Aluísio.

sábado, 21 de outubro de 2006

Natalie Portman - Jane Got a Gun

Natalie Portman havia dado um tempo na carreira pois ela teve um filho, estava se organizando em sua vida pessoal e por essa razão deixou um pouco o cinema de lado. Também convenhamos depois da chuva de prêmios do consagrado "Cisne Negro" era mesmo de se esperar que algo assim viesse a acontecer. Tirando algumas participações (quase) especiais em filmes e até videoclips (ela está em "My Valentine", clip de Paul McCartney, por exemplo) a atriz não fez nada de muito relevante. Parecia estar numa boa, curtindo merecidas férias, aproveitando todo o dinheiro e prestigio de uma carreira bem sucedida.

Agora em 2016 ela ressurge nesse faroeste! Quando estava assistindo a esse filme chamado "Jane Got a Gun" fiquei pensando que ela nunca havia feito nada parecido na carreira. Havia me esquecido que Natalie participou de outro western, em 2003, chamado "Cold Mountain". O esquecimento foi justificado pois ela ainda era bem jovem e seu papel não era de destaque - na verdade duas outras atrizes estrelaram aquele filme, Nicole Kidman e Renée Zellweger. Pois é, o tempo passou, ela ficou muito marcada como a princesa Padmé da segunda trilogia de "Star Wars" (filmes de que sinceramente nunca gostei muito) e depois de 13 anos voltou ao velho oeste.

Mais do que atuar Portman também produziu esse novo filme ao lado dos irmãos Weinstein, antigos fundadores e donos do estúdio Miramax. O resultado é muito bom. É curioso porque assim que vi Portman no elenco logo pensei que viria algo diferente, um faroeste com toques mais inovadores, indo para o lado do cinema de arte, cult. Estava enganado. Esse roteiro é bem tradicional, na verdade poderia até mesmo ser estrelado por John Wayne em seus bons anos. O tema da vingança é um dos mais caros e usados em faroestes dos anos 50 e 60. A única novidade que realmente vale citar é o fato de que o roteiro não traz a estória mastigada para o espectador. A narrativa foge um pouquinho do estilo mais linear, usando como ferramenta de narração o velho e bom flashback (uso de cenas do passado dos personagens).

Outro aspecto que me chamou a atenção é que a personagem de Portman, chamada Jane, não é uma mocinha tradicional de filmes desse tipo. Ela não é uma garota amedrontada, que não consegue se defender. Pelo contrário. Numa das melhores cenas do filme ela é encurralada em um beco por um pistoleiro, antigo desafeto, que não apenas a ameaça como pensa em estuprá-la. Ao invés de gritar ou ficar em desespero Jane saga seu colt e manda o criminoso para o inferno. Aliás a Jane do filme precisa mesmo ser muito forte e decidida. Com o marido baleado, agonizante em seu rancho, e um grupo de bandoleiros indo até lá para matar os dois ela precisa ser uma mulher mais do que forte. É necessário mostrar confiança e personalidade. Assim deixo a dica desse novo faroeste. Tanto os fãs mais tradicionais do gênero como os admiradores de Portman certamente vão gostar do resultado.

Pablo Aluísio.

Clnt Eastwood - O Estranho Sem Nome

Poster promocional do filme "O Estranho Sem Nome" (High Plains Drifter, EUA, 1973). Um aspecto bem curioso sobre esse western é que Clint tinha intenção de chamar o veterano John Wayne para atuar ao seu lado. Para isso Eastwood resolveu escrever uma carta de próprio punho a Wayne o convidando para trabalhar com ele na produção. Era um velho sonho que Clint tinha e ele achava que agora chegara o momento de realiza-lo. Em anexo enviou o roteiro que já estava pronto. Uma semana depois John Wayne respondeu. Agradeceu a gentileza do convite e se desculpou dizendo que não poderia fazer o filme pois sua agenda não o permitiria. Mesmo veterano John Wayne já havia se comprometido com três novos filmes na Paramount e não haveria como rodar um quarto! 

Depois teceu algumas críticas ao roteiro dizendo que ele de certa forma desvirtuava o faroeste tradicional a qual estava acostumado a trabalhar. Para Wayne os filmes de western deveriam seguir uma certa linha, uma certa tradição, ao estilo John Ford e não precisavam se desvirtuar desse caminho, se mesclando outros gêneros cinematográficos, como havia lido no roteiro do filme. Clint obviamente ficou decepcionado com a carta e a forma de pensar de seu ídolo, mas respeitou sua decisão. Promessas mútuas de que um dia iriam trabalhar juntos no futuro ficou no ar, mas nunca se concretizaram. Assim, infelizmente, dois dos maiores ícones do faroeste americano jamais trabalharam juntos em suas carreiras, algo a se lamentar até hoje.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Cine Western


 

O conservador John Wayne

Durante toda a vida o ator John Wayne foi um conservador de direita na política. Ele votou em todos os candidatos republicanos de sua época e fez até campanha por grande parte deles. A agenda política de John Wayne tinha muito a ver com seus personagens nas telas de cinema. Ele valorizava os valores patrióticos e morais de seu passado. Isso significava torcer o nariz para o feminismo, para o controle de armas de fogo e para os ideias liberais. Nem vou citar o pensamento da esquerda socialista pois esse tipo de ideologia para John Wayne significava simplesmente uma traição à pátria. Na época um slogan popular entre os conservadores americanos pregava: "Comunista bom é comunista morto!". Certamente o republicano Wayne assinaria embaixo dessa frase.

Um fato aliás marcou profundamente o ator durante a década de 1960. Quando os Estados Unidos começaram a afundar pra valer na Guerra do Vietnã, com milhares de jovens americanos sendo mortos nas florestas daquele país, Wayne nadou corajosamente contra a corrente da opinião popular. Protestos contra a guerra começaram a eclodir por toda a América, mas Wayne novamente fincou posição e se declarou a favor da guerra. Para John Wayne aquela era uma guerra contra o avanço do comunismo na Ásia e por isso seria uma guerra justa, que deveria ser vencida a todo custo pelas forças armadas de seu país. Duramente criticado pela imprensa Wayne não se intimidou. Fez propaganda para a compra de bônus de guerra e até produziu do próprio bolso um filme ideologicamente alinhado com seu pensamento chamado "Os Boinas Verdes". Era uma propaganda nada sutil de apoio à guerra.

Bem no meio da polêmica estudantes da Universidade de Harvard (um dos centros liberais nos Estados Unidos) resolveram enfrentar o ator em um debate público. Eles o convidaram pensando que Wayne não iria jamais. Ledo engano. O ator não apenas compareceu para enfrentar face a face todos os críticos da academia como fez mais: indo ao encontro dentro de um tanque de guerra! Claro que isso tudo despertou uma grande repercussão na imprensa da época. No final sua presença carismática encantou os estudantes presentes no debate, muito embora eles, como era de se esperar, não mudassem de lado. Aliás John Wayne também não recuou também nem um centímetro de suas convicções políticas.

Essa sua forma de pensar o levou também a ter sérios atritos em Hollywood com um liberal de carteirinha: Marlon Brando. Esse era o extremo oposto de Wayne. Defendia o direito dos índios, dos homossexuais, dos negros e de todos aqueles que fizessem parte de algum tipo de minoria oprimida. Não que John Wayne fosse racista (seus casamentos com mulheres latinas provava isso), mas os posicionamentos de Brando, sempre causando polêmica na imprensa, o irritava profundamente. A suprema ofensa de Brando para Wayne foi a recusa em receber o seu Oscar de melhor ator por "O Poderoso Chefão". Quem Marlon Brando pensava ser, desrespeitando a Academia de cinema? Tal foi sua irritação que chegou a dizer publicamente que daria um soco na cara de Brando caso o visse pela frente. Eram como água e vinho. Jamais poderiam se misturar.

Pablo Aluísio.  

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Rio Vermelho (1948)

1. Red River (no Brasil, "Rio Vermelho") é considerado um dos grandes clássicos do western americano. Dirigido pelo mestre Howard Hawks e estrelado pelos mitos  John Wayne e Montgomery Clift, , o filme é considerado o épico definitivo sobre a figura do cowboy dos Estados Unidos, no auge de sua atividade no século XIX.

2. A interpretação de Montgomery Clift no filme surpreendeu John Wayne que chegou a confessar numa entrevista que jamais poderia supor que ele fosse tão bom atuando. Na verdade Wayne não conhecia muito Clift e sua capacidade dramática. Pensando que se tratava de mais um ator de Nova Iorque ele ficou realmente surpreso com as qualidades do jovem Clift, a tal ponto que chegou a dizer que precisava melhorar mais por causa da "nova concorrência" que surgia no mercado.

3. O filme foi realizado em 1946, mas só chegou nas telas em 1948. A demora se deu por dois motivos básicos. Primeiro o diretor Howard Hawks foi extremamente criterioso na edição da versão final. Ele não queria um filme longo e também não desejava que faltasse algo importante na estória. Por essa razão teve que se empenhar em chegar em um ponto meio termo. O outro problema foi legal. O milionário excêntrico Howard Hughes entendeu que havia semelhanças demais com outro clássico "O Proscrito", o que fez atrasar ainda mais seu lançamento nos cinemas.

4. Pode-se dizer que John Wayne ficou um pouco intimidado pela presença de Clift. Ele tinha receios, segundo o roteirista Borden Chase, de que o filme lhe fosse roubado por Monty. Por essa razão Wayne tentou interferir na edição final da fita, algo que foi impedido por Hawks, o que acabou criando um mal estar entre ambos.

5. Houve um certo receio do estúdio de que John Wayne e Montgomery Clift não se dessem bem trabalhando juntos. Eles tinham posições políticas bem diferentes, com Wayne sendo um conservador e Clift um liberal, e não tinham medo de expor suas ideias para a imprensa. Isso fez com que o diretor Howard Hawks proibisse discussões sobre esses temas no set de filmagens. De uma forma ou outra essa censura e a tensão causada por ela fez com que Clift se recusasse a trabalhar novamente com Wayne quando foi convidado a atuar em "Onde Começa o Inferno".

6. Para parecer mais convincente na tela o ator Montgomery Clift resolveu se empenhar em um curso intensivo de equitação antes das filmagens começarem. Ele já havia montado antes, mas morando em Nova Iorque, ficou sem a experiência necessária. Durante três meses ele praticou equitação em um rancho perto de Los Angeles, sob supervisão do professor Noah Beery Jr. Quando começaram as filmagens Monty demonstrou ter intimidade com montarias, o que fez com que arrancasse um elogio de John Wayne ao dizer: "Você monta muito bem rapaz!".

Pablo Aluísio.

Pistoleiros do Entardecer (1962)

1. Esse foi o filme final da carreira de Randolph Scott. Ele se aposentou afirmando que esse era o filme ideal para marcar sua despedida. Gostou tanto do resultado que acreditava que não faria algo melhor para se despedir das telas. Ele tinha razão, o filme ainda hoje é considerado um dos melhores faroestes dos anos 60.

2. Inicialmente Randolph Scott foi contratado para atuar como Judd e Joel McCrea como Westrum, mas assim que as filmagens começaram eles perceberam que estavam nos personagens errados. Depois de debaterem o assunto com o diretor os papéis foram finalmente trocados.

3. Os planos iniciais do estúdio contavam com John Wayne e Gary Cooper como os astros do filme, mas antes das filmagens começarem o astro Cooper foi internado com sérios problemas de saúde (ele tinha câncer). Depois de meses de adiamento finalmente veio a terrível notícia: o ator havia falecido. Com isso Wayne pediu para sair do projeto e a MGM precisou escalar dois outros atores para o filme. Randolph Scott e Joel McCrea então foram finalmente contratados.

4. Esse roteiro era tão bom que em meados dos anos 80 o ator Charlton Heston comprou os direitos autorais para realizar um remake. Ele queria Clint Eastwood como seu parceiro em cena, mas infelizmente o projeto não foi adiante. Não por causa de Eastwood, que até considerou o convite muito bom, mas sim por Heston que enfrentava problemas de saúde.

5. A intenção de Joel McCrea também era a de se aposentar após esse filme, mas ao contrário de Randolph Scott, que realmente nunca mais atuou, ele resolveu voltar em 1976 para uma despedida definitiva no bom filme "Mustang Selvagem". Para muitos McCrea teve que deixar a aposentadoria de lado por problemas financeiros. 

6. Randolph Scott queria Budd Boetticher, seu velho amigo, como diretor do filme. Esse porém não poderia aceitar por já estar comprometido com outro filme, rodado no México. Assim o estúdio se voltou para Sam Peckinpah que prontamente aceitou o convite. Seu trabalho foi considerado essencial para que o filme se tornasse um dos grandes clássicos da história do western americano.

Pablo Aluísio.