Sem dúvida dentro da mitologia do western americano não podemos deixar de lado uma das duplas mais significativas da história do cinema americano: John Wayne e John Ford. Quando Ford começou a trabalhar com Wayne esse já era de certa maneira um ator popular e conhecido do público das grandes matinês. John Wayne tinha estrelado inúmeros filmes de bang bang antes de encontrar John Ford. Essas produções eram populares, tinham ótimas bilheterias, porém não contavam com o respaldo da crítica que as consideravam apenas entretenimento comum, sem qualquer tipo de status de grande arte. Apenas ao lado de John Ford o mito John Wayne seria alçado rumo ao panteão dos grandes ídolos do cinema americano. O curioso é que Ford tinha uma relação de amor e ódio com o ator. Quase sempre demonstrava ter pouca paciência com Wayne, principalmente por ele não ser considerado naquela altura de sua vida um grande ator.
"Quantas expressões faciais você tem seu hipopótamo?" - Desafiava John Ford durante as filmagens. Wayne não deixava barato e respondia: "Mais do que você pensa seu caolho desgraçado!". Isso pode soar rude e grosseiro para muitas pessoas, porém quem já teve uma amizade masculina sincera fundada em pequenas rusgas como essas saberá e entenderá que tudo não passava de uma nada delicada brincadeira entre os dois. É natural entre homens esse tipo de tratamento que nunca pode ser encarado como uma ofensa legítima, mas sim como uma forma íntima de tratar alguém que você tem intimidade suficiente para provocar e instigar. Nos filmes John Ford e John Wayne funcionavam em perfeita harmonia.
Ford procurava pelo resgate do homem íntegro e honesto que desbravou o velho oeste não apenas no aspecto puramente territorial, mas também psicológico. O americano que ia rumo ao oeste o fazia com o espírito de lá fundar suas raízes, criar sua família, viver muitas vezes da terra. Para Ford esse era o verdadeiro herói nacional. Um homem duro como rocha que encarava todos os desafios, como a aridez da região, o ataque de selvagens e a hostilidade da natureza para se firmar ali e criar uma civilização, baseada principalmente em seus valores de trabalho, ética e honestidade.
Em John Wayne o diretor enxergava o tipo ideal para personificar esse pioneiro. John Wayne era muito querido dentro da indústria, principalmente por ser considerado um profissional correto e digno de confiança. Além disso tinha uma reputação impecável, como homem honesto e cumpridor de suas obrigações. Em tantos anos de carreira jamais havia se envolvido em qualquer escândalo seja de que natureza fosse. Ao contrário de outros ídolos seu nome era respeitado dentro da comunidade cinematográfica. Além disso seu visual, mais velho, com sobrepeso, mas expressão firme e decidida, caía como uma luva nos personagens dos filmes de Ford. Os pioneiros dos século XVIII e XIX eram mesmo a cara de John Wayne. Dessa feliz fusão de ator e diretor nasceram alguns dos maiores clássicos do faroeste norte-americano que iremos tratar em uma série de textos nas próximas semanas. Até lá...
Pablo Aluísio.
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