quarta-feira, 3 de maio de 2006

Blefando a Morte

Clássico do faroeste estrelado por Anthony Quinn, um ator que sempre foi muito querido pelo público brasileiro. Do que trata a história? Dave Robles (Anthony Quinn) chega numa cidadezinha do velho oeste para ter um acerto de contas final com um famoso pistoleiro. Ao encontrá-lo na porta de um Saloon nem pensa duas vezes e passa fogo no famoso bandoleiro. O assassinato acaba lhe trazendo bastante fama no pequeno povoado que sempre sofreu nas mãos do impiedoso bandido. Depois de uma reunião da assembleia de moradores eles decidem em conjunto oferecer o posto de xerife para Robles. De pistoleiro ele passaria a ser o homem da lei do lugar. Após pensar por alguns momentos ele finalmente decide aceitar o cargo, mesmo sabendo das dificuldades que terá ao tentar impor lei e ordem no local. Na verdade Robles não leva muito jeito para a função, uma vez que é um sujeito bastante rústico, sem estudo algum (nem sabe ler) e pouco atento aos costumes sociais do local. No fundo só aceitou a estrela de bronze para tentar conquistar o coração de Estella (Katy Jurado), a bonita assistente do médico local. Ele a conheceu quando foi se tratar dos ferimentos de seu confronto a bala com o famigerado pistoleiro e assim que a viu pela primeira vez se apaixonou perdidamente por ela.

"Blefando a Morte" tem uma das melhores interpretações da carreira de Anthony Quinn. O ator se sai maravilhosamente bem ao dar vida a um sujeito sem qualquer sofisticação que vira xerife meio que por acaso num lugar esquecido por Deus. O curioso aqui vem da complicada relação do novo xerife com a população local. As pessoas da cidade sabem que precisam dele por causa de sua habilidade com armas, mas ao mesmo tempo não o aceitam completamente por causa de sua rudeza.

Isso fica bem claro quando os moradores resolvem fazer um grande baile. Obviamente para ocasião tão festiva precisam convidar o xerife para participar, mas sua presença ali no meio da elite da comunidade acaba causando um grande mal-estar mostrando claramente que ele de fato não é aceito socialmente na cidade que jurou proteger. A cena final, com um duelo no meio da rua principal, vai mostrar para todos o verdadeiro valor do novo xerife. "Blefando a Morte" se torna assim mais um bom western dos anos 1950 que merece agora ser redescoberto. Roteiro com raro aprofundamento dos personagens para aquela época. Vale a recomendação.

Blefando a Morte (Man from Del Rio, Estados Unidos, 1956) Direção: Harry Horner / Roteiro: Richard Carr / Elenco: Anthony Quinn, Katy Jurado, Peter Whitney / Sinopse: Após matar um famoso criminoso, um simples cowboy (Quinn) acaba sendo escolhido como o novo xerife da cidade. Agora ele terá que provar seu valor para os moradores que ainda não o aceitam socialmente por causa de seus modos rudes e falta de educação adequada.

Pablo Aluísio.

Johnny Guitar

François Truffaut definiu "Johnny Guitar" como "um filme onde os cowboys desmaiam e morrem como uma bailarina". Recebido friamente em seu lançamento o filme foi ao longo das décadas ganhando cada vez mais status, principalmente pela visão revisionista de críticos e grande teóricos da sétima arte como Truffaut. O enredo é de certa forma banal, mostrando a luta de duas mulheres pelo mesmo homem, ao mesmo tempo em que chega na cidadezinha um forasteiro, conhecido apenas como Johnny Guitar (Sterling Hayden). Mas o que transformou Johnny Guitar em um cult movie? Para muitos seria a presença de um elenco maravilhoso, a começar pela diva e estrela Joan Crawford. Atriz de presença forte e marcante, ela certamente roubou muito da atenção do filme para si, mostrando porque se tornou uma das grandes stars da era de ouro em Hollywood.

Para outros "Johnny Guitar" se tornou marcante por causa da direção brilhante e diferenciada do "maestro da sétima arte" Nicholas Ray. Nesse sentido ele imprime uma situação curiosa no filme, pois abraça certamente todos os clichês do gênero ao mesmo tempo os eleva a um patamar de pura arte, como bem definiu  François Truffaut, mostrando que de uma forma ou outra, o filme é na verdade um louvor ao western como linguagem cinematográfica. De fato o filme apresenta vários inovações tecnológicas, entre elas o uso do chamado Trucolor, um sistema de cores do estúdio Republic, que hoje em dia já não existe mais. Assim se você estiver em busca de um western realmente histórico, cultuado por críticos de sua época, fica a dica de "Johnny Guitar", uma produção que se propõe a ser diferente, embora no fundo consagre todos os grandes dogmas do estilo western.

Johnny Guitar (Johnny Guitar, Estados Unidos,1954) Direção: Nicholas Ray / Roteiro: Philip Yordan, Roy Chanslor / Elenco: Joan Crawford, Sterling Hayden, Mercedes McCambridge / Sinopse: Uma dona de saloon no velho oeste é acusada injustamente de roubo e assassinato ao mesmo tempo em que tenta lidar com seus sentimentos e vida amorosa. Filme indicado pelo Cahiers du Cinéma na categoria de melhor filme do ano de 1954.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de maio de 2006

Sela de Prata

Ainda garoto, Roy Blood (Giuliano Gemma) presenciou a morte de seu pai de forma covarde por um pistoleiro. Embora fosse ainda um menino não deixou barato e abriu fogo contra o assassino, tomando posse de seu cavalo e de sua sela especial, toda feita de prata. A partir desse ponto em sua vida seu destino ficou traçado. Assim ele mesmo passaria a assumir a posição do algoz de seu pai, se tornando o famoso "Sela de Prata" como passou a ser conhecido. Os anos passam e Roy acaba retornando para a pequena cidadezinha de sua infância.

As coisas pouco mudaram e o local ainda é dominado pelo clã dos Barrett que não hesitam em chantagear e ameaçar os comerciantes locais. Como seu braço armado a família conta com o famigerado facínora Garrincha (Aldo Sambrell) que através de crimes diversos como roubos e sequestros mantém a ferro e fogo sua presença na região. E por uma dessas ironias do destino o próprio "Sela de Prata" se vê de repente como guardião e protetor do pequeno Thomas Barrett, Jr (Sven Valsecchi). Logo ele que odeia a família Barrett... para complicar ainda mais as coisas bem no meio dos tiros e perseguições acaba se afeiçoando ao garotinho.

O filme "Sela de Prata" foi um dos maiores sucessos da carreira de Giuliano Gemma. No Brasil o filme foi um campeão de bilheteria mostrando toda a popularidade do ator nos anos 70 em nosso país. O Spaghetti Western já mostrava sinais de desgaste, os anos 80 estavam chegando e o gênero já não tinha mais o mesmo sabor de novidade e originalidade. Mesmo assim não há como negar que "Sela de Prata" mostra porque o estilo foi tão popular aqui e em outros países.

O roteiro é simples, de fácil entendimento, e a ação não tarda a acontecer - tiros, perseguições e violência são sempre constantes na fita. Para se ter uma ideia há também um capricho melhor na caracterização dos personagens além de certos aspectos técnicos que acabam chamando a atenção. Um deles é a trilha sonora, muito presente em todos os momentos, em todas as cenas. A música título do filme inclusive lembra uma sonoridade que fez muito sucesso nos anos 70, a do country romântico. De uma forma ou outra é impossível negar que a imagem de Giuliano Gemma levando sua sala de prata nas costas virou de fato um símbolo, um ícone de toda uma era... a era do Western Spaghetti. Quem assistiu no cinema na época certamente não esqueceu.

Sela de Prata (Sella d'argento, Itália, 1978) Direção: Lucio Fulci / Roteiro: Adriano Bolzoni / Elenco: Giuliano Gemma, Sven Valsecchi, Ettore Manni / Sinopse: Roy Blood (Giuliano Gemma), o conhecido pistoleiro "Sela de Prata", precisa se manter vivo em uma cidadezinha hostil e infestada de bandidos e facínoras no velho oeste ao mesmo tempo em que protege um garotinho daqueles que desejam matá-lo.

Pablo Aluísio.  

A Trilha da Amargura

Durante as chamadas guerras indígenas um obstinado tenente da cavalaria americana, Billings (Robert Stack), recebe uma importante missão: levar um tratado de paz até uma nação nativa distante e isolada no meio do deserto do oeste americano. Para tanto ele reúne seus homens (um pelotão do exército americano) e parte em direção a uma região hostil e praticamente desconhecida do homem branco. No meio do caminho encontram o filho do chefe Nuvem Cinzenta que lhes promete levar até seu pai. O problema é que o jovem guerreiro na verdade esconde suas reais intenções pois odeia o homem branco e sua sede de dominação. Assim leva o pelotão a uma viagem sem fim, sem rumo certo, andando em círculos, com a única finalidade de levar todos a morrerem no meio do deserto por sede e fome. Confiando demais no jovem guerreiro o tenente finalmente entende que está trilhando um caminho sem volta, que poderá levar todos os seus homens à morte certa.

"A Trilha da Amargura" é um faroeste com toques de aventura. O deserto, seco e completamente inóspito, acaba virando um dos principais personagens da trama. Os homens sedentos, desesperados e à mercê da natureza implacável precisam se virar como podem para sobreviver. Com locações no famoso Vale da Morte na Califórnia, a produção se destaca por sua escolha por um tom mais realista das vastas planícies desoladas do velho oeste americano. A própria farda azul dos soldados acaba ganhando um tom de cinza de tanta poeira e desolação.

Quando conseguem encontrar algum manancial no meio do nada logo percebem que a água não é potável. Some-se a isso a presença de serpentes venenosas e a própria exaustão da peregrinação rumo a um destino que parece nada agradável. O elenco do filme é liderado por Robert Stack, ator que hoje em dia já não é muito conhecido mas que nas décadas de 50 e 60 marcou época principalmente por interpretar o policial Eliot Ness no famoso seriado de TV "Os Intocáveis". Ficou tão marcado por esse papel que depois sentiu dificuldade em estrelar outros filmes. Felizmente conseguiu realizar produções interessantes como bem prova esse bom western "A Trilha da Amargura".

A Trilha da Amargura (War Paint, Estados Unidos,1953) Direção: Lesley Selander / Roteiro: Fred Freiberger, William Tunberg / Elenco: Robert Stack, Joan Taylor, Charles McGraw / Sinopse: Pelotão da cavalaria americana acaba sendo enganado pelo filho do chefe tribal ao qual o grupo procura para entregar um tratado de paz entre brancos e índios.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 1 de maio de 2006

Mato em Nome da Lei

Neste excelente faroeste, com um elenco de primeira grandeza, que conta com nomes como: Robert Ryan e também com um (quase) desconhecido Robert Duvall - Burton Stephen Lancaster, ou simplesmente, Burt Lancaster, vive na pele de Jered Maddox, um agente da lei na pequena cidade de Bannock. Certa noite, com Maddox ausente, um bando de arruaceiros e assassinos entram na pequena Bannock e promovem um tremendo quebra-quebra, culminando com a morte de um senhor inocente. Passado alguns mêses, Maddox chega à pequena cidade de Sabbath e imediatamente vai ao encontro do xerife Cotton Ryan (Robert Ryan). Maddox mostra uma lista de nomes a Cotton onde estão relacionados todos os baderneiros que estiveram em Bannock, e diz que ele tem até o meio-dia do dia seguinte para prender os vaqueiros e entregá-los a ele (Maddox) para que sejam julgados pelo assassinato em Bannock.

Cotton abre o jogo com Maddox e diz a ele que os vaqueiros da lista, trabalham para o rico fazendeiro Vincente Bronson (Lee J. Cobb). Cotton explica que foi Bronson quem o nomeou xerife, e além disso grande parte das pessoas que vivem ali, também trabalham para o fazendeiro, mesmo que indiretamente. Ou seja: os habitantes daquele povoado, ou gostam realmente de Bronson, ou têm medo dele. Uma coisa é certa: ele é o dono da cidade. Sendo assim Ryan deixa claro à Maddox que não vai ajudá-lo em nada. Furioso, Maddox diz à Ryan que todos os vaqueiros serão presos. Por bem ou por mal. No dia seguinte, Ryan parte em direção à fazenda de Bronson para dar-lhe o recado de Maddox. Para surpresa, Bronson não age como um cafajeste desumano; pelo contrário: o fazendeiro mostra-se um homem equilibrado e arrependido pelo que seus homens fizeram na pequena cidade. Na verdade, Bronson não quer entregar seus homens e nem a si mesmo a Maddox, e faz uma proposta: indenizar à família do senhor que morreu na baderna, além de indenizar também o xerife Maddox para que ele esqueça as ordens de prisão. Mas Ryan adverte que Maddox não aceitará a proposta.

À noite, descansando no hotel, Maddox recebe a visita da bela Laura Shelby (Sheree North) uma linda mulher que no passado foi sua amante. Ela pede ao implacável agente que poupe a vida de seu atual marido que também está na lista: Hurd Price (J.D. Cannon). Maddox não dá ouvidos à ex-amante e diz que vai prender seu marido também. Na fazenda, Vincent Bronson reúne seus vaqueiros e diz o que está acontecendo. Os homens se revoltam e pensam num meio de contornar o problema e tirar Maddox da jogada. A reunião esquenta e o braço direito e capataz de Bronson, Harvey Stenbaugh (Albert Salmi), revolta-se com a situação, diz que não vai negociar, e vai até a cidade para matar Maddox. Os dois vão para a rua e ficam frente a frente. Maddox, numa frieza impressionante, saca sua arma e, rápido como um raio, mata Stenbaugh.

Depois de saber da morte de seu amigo e braço direito, Bronson se desespera, reúne seus homens e juntos seguem para a pequena Sabbath para o enfrentamento final contra o implacável agente da lei. Apesar do título infeliz recebido no Brasil, "Mato em Nome da Lei" (Lawman - 1971) é um excelente faroeste, dirigido pelo inglês Michael Winner, que três anos depois dirigiria o explosivo "Desejo de Matar" com Charles Bronson. "Mato em Nome da Lei", destaca-se não só pelo excelente roteiro mas também pela excelente jogada de utilizar elementos de outros clássicos do western como "Matar ou Morrer". Outra qualidade do filme é a construção da história em torno da enorme categoria e carisma do grande Burt Lancaster, encarnado no papel de um impagável, obsessivo e incorruptível xerife Maddox.

Mato em Nome da Lei (Lawman, Estados Unidos,1971) Direção: Michael Winner / Roteiro: Gerald Wilson / Elenco: Burt Lancaster, Robert Ryan, Lee J. Cobb, Robert Duvall / Sinopse: Jered Maddox (Burt Lancaster) é um xerife que vai até outra cidade para prender um grupo de criminosos, algo que não será nada fácil para ele.

Telmo Vilela Jr.


Com Sartana Cada Bala é Uma Cruz

Sartana foi um dos personagens mais populares do chamado western spaghetti. Só para se ter uma ideia, foram realizados mais de vinte filmes com esse pistoleiro. O curioso é que como era comum no cinema italiano nem sempre Sartana aparecia em cena com as mesmas características pessoais ou de personalidade. Na verdade era mais um nome comercial do que qualquer outra coisa. A mesma coisa acontecia com Django e depois com Ringo. Não se tratava necessariamente do mesmo pistoleiro, mas sim de uma marca comercial para atrair bilheteria. Nesse faroeste "Com Sartana Cada Bala é Uma Cruz" ele é um caçador de recompensas que vaga pelo deserto em busca de procurados pela lei. Num gesto de pura sorte acaba encontrando todo um grupo de homens procurados trabalhando como escolta de uma carruagem carregada de ouro das minas da região. Antes que consiga colocar as mãos nos bandidos, todos eles são sumariamente mortos após um ataque. 

Para não perder a viagem e o trabalho de caçador de recompensas, Sartana então decide ir em busca do carregamento, para se vingar dos que mataram os homens que procurava e também para colocar as mãos na fortuna do rico metal. Afinal de contas ele não poderia sair no prejuízo. No seu caminho acaba surgindo outro pistoleiro lendário, Sabbath (Charles Southwood), um sujeito bem afetado. Andando todo de roupa branca, de forma elegante, com sombrinha feminina e lendo poemas ele mais parece um enrustido no meio de um oeste brutal e cheio de homens rudes. Mas por baixo de toda a delicadeza se esconde um ás do gatilho.

Quem interpretou Sartana nessa produção foi o ator George Hilton, nome americanizado de um ator, ora vejam só, nascido no Uruguai. Seu nome real era Jorge Hill Acosta y Lara. O divertido em Jorge é que ele deixa transparecer durante todo o filme um jeito irônico, como se estivesse prestes a cair na risada, pois como todos sabemos dentro do faroeste Spaghetti o exagero estava sempre presente nos tiroteios, nas lutas e nos excessivos closes dos olhos dos atores. Infelizmente para quem gostou de ver o ator na pele de Sartana esse foi seu único filme em que interpretou o famoso pistoleiro. O roteiro não é grande coisa, diria até bastante derivativo de outras fitas semelhantes, mas não vejo isso como um defeito. Os filmes desse estilo seguiam padrões que eram esperados pelo público. Era uma fórmula certeira que sempre agradava. Sartana assim cumpre todos os requisitos, sem falhas. No geral é realmente um bom Spaghetti, divertido, exagerado, com muitos tiros e balas voando para todos os lados, o que acaba confirmando exatamente aquilo que o título nacional promete, uma vez que Sartana realmente não desperdiçava munições. Quando ele atirava era realmente morte certa!

Com Sartana Cada Bala é Uma Cruz (C'è Sartana... vendi la pistola e comprati la bara, Itália, 1970) Direção: Giuliano Carnimeo / Roteiro: Tito Carpi / Elenco: George Hilton, Charles Southwood, Erika Blanc / Sinopse: Sartana (George Hilton) é um caçador de recompensas do velho oeste que planeja tomar posse de uma fortuna em ouro pertencente a um rico mas corrupto comerciante. Antes disso porém terá que enfrentar outro pistoleiro famoso, o estranho Sabbath (Charles Southwood).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 25 de abril de 2006

O Xerife do Oeste

"O Xerife do Oeste" faz parte da última fase da carreira do ator John Wayne. É um dos últimos trabalhos do Duke. O fato é que Wayne se recusava a se aposentar pois acreditava que a aposentadoria acabaria com ele. Além disso sempre afirmava que iria trabalhar até o final de seus dias pois era a única coisa que sabia fazer na vida. Ostracismo, nem pensar. Curiosamente mesmo já envelhecido, beirando os 70 anos, o ator ainda conseguia passar carisma e prender a atenção do espectador, arrecadando boas bilheterias, isso em uma época em que o western já mostrava claros sinais de esgotamento. "O Xerife do Oeste", também conhecido como "Cahill" repete de certa forma os velhos clichês do gênero. John Wayne sabia o que o público queria dele e procurava não inventar muito. Assim ele fez questão de realizar mais um faroeste ao velho estilo, com o roteiro que poderia muito bem ter sido escrito nos anos 50. E quando digo "realizar" não é força de expressão, o filme é dele, foi produzido por seu filho, Michael Wayne, e a produção contou com dinheiro saído do próprio bolso do ator. Alguns estudiosos da carreira de John Wayne inclusive vão mais longe e afirmam que diretor apenas assinou pois foi Wayne quem realmente dirigiu as cenas.

Tanto empenho pessoal valeu a pena. "Cahill" é o que eu chamo de um produto honesto. Os fãs de John Wayne receberam justamente aquilo que esperavam, ou seja, o velho cowboy ainda liquidando seus inimigos sem fazer muita força (e sem despentear a peruca impecável), um vilão asqueroso (o ótimo George Kennedy, velho companheiro de Wayne dos filmes antigos) e um pouco de humor em pequenas pitadas aqui e ali. Só não gostei muito do final, que tem um moralismo um tanto quanto questionável. Mas isso é o de menos, "O Xerife do Oeste" vale a pena, principalmente para quem quer matar saudades do antigo astro de Hollywood. A lenda do velho oeste vive!

O Xerife do Oeste (Cahill U.S. Marshal, Estados Unidos, 1973) / Direção: Andrew V. McLaglen / Com John Wayne, George Kennedy e Gary Grimes / Sinopse: De volta a sua cidade, o xerife (John Wayne) encontra dois de seus assistentes mortos num assalto e na cadeia quatro presos, entre eles seu filho, acusados de ter participado da chacina. O obstinado agente da justiça passa a perseguir um grupo de bandidos.

Pablo Aluísio.

Hondo: Caminhos Ásperos

Hondo Lane (John Wayne) é um pistoleiro que atravessa o deserto sozinho ao lado de seu cão Sam durante as chamadas guerras Apaches. No caminho acaba encontrando um pequeno rancho onde vivem Angie (Geraldine Page) e seu pequeno filho. Estão sozinhos pois seu marido saiu atrás de parte de seu rebanho mas jamais retornou. O problema é que em breve os Apaches chegarão no local e Hondo não consegue convencer a jovem senhora a abandonar o local onde vive. Esse "Hondo - Caminhos Ásperos" me surpreendeu por alguns motivos. O primeiro é o próprio personagem interpretado por John Wayne. Um pistoleiro de passado nebuloso. Sua caracterização de viajante no meio do nada ao lado de seu cachorro seria imitada anos depois em "Mad Max" e até por Clint Eastwood em "O Estranho Sem Nome". Afinal quem realmente é Hondo? Outro aspecto curioso na produção é a forma como Wayne lida com um papel mestiço. Ele também é metade Apache e se vê envolvido em um conflito que mal consegue entender. No final do filme ao saber que provavelmente os Apaches serão todos liquidados pela cavalaria americana ele diz uma bela frase: "Isso não será apenas o fim dos Apaches mas sim o fim de um modo de viver.... e um bom modo de se viver é bom salientar".

O elenco de Hondo é muito bom. Além de Wayne - em papel marcante - ainda temos a grande Geraldine Page dividindo a tela com ele. Considerada uma das grandes atrizes do cinema americano aqui ela interpreta uma jovem rancheira que se recusa a abandonar seu lar frente à ameaça Apache. Suas cenas com o Duke são muito boas o que garante a qualidade do filme. Wayne e Page ficam praticamente sozinhos no rancho no terço inicial de "Hondo" e se não se entrosassem bem em cena certamente o roteiro perderia parte importante de seu impacto. Felizmente isso não ocorre. Ambos estão perfeitos em seus respectivos personagens. Em suma "Hondo" é um western de primeira, com belas atuações e cenários naturais grandiosos. Vale a pena assistir.

Hondo - Caminhos Ásperos (Hondo, EUA, 1953) / Direção de John Farrow / Roteiro de James Edward Grant e Louis L'Amour / Com John Wayne, Geraldine Page e Ward Bond / Sinopse: Em plena era das guerras apaches pistoleiro errante (John Wayne) tenta convencer jovem rancheira (Geraldine Chaplin) a abandonar o lugar em que vive por sua própria segurança.

Pablo Aluísio.

Pistoleiros do Entardecer

Grande filme. Esse western mostra muito bem a diferença que faz um grande diretor. Veja, tinha tudo para ser mais um faroeste de rotina da carreira de Randolph Scott mas isso seria óbvio demais. Sam Peckinpah consegue reverter certas máximas do gênero ao mesmo tempo em que é respeitoso à mitologia do velho oeste. Ao contrário de usar personagens que são indiscutivelmente mocinhos ou bandidos, o diretor coloca em cena sujeitos dúbios, que transitam entre cometer crimes ou protagonizar momentos de grande honra pessoal. É o caso de Gil Westrum (o último personagem da carreira de Randolph Scott que abandonaria o cinema logo após). Gil tem como objetivo roubar o ouro que foi contratado a transportar mas como acompanhamos no desenrolar do filme esse é apenas o ponto de partida de tudo o que acontecerá nas montanhas.

É bom frisar porém que a estética da violência que seria marca registrada do diretor ainda não está presente nesse filme, o que era de se esperar. Filmado na primeira metade dos anos 60 o cineasta ainda não havia levado às últimas consequências suas escolhas estéticas e cinematográficas. Mesmo assim o filme é surpreendentemente bem roteirizado, com um clímax excelente, de tirar o chapéu. No final quem melhor define a essência do filme é a personagem Elsa (interpretada pela atriz Meriette Hartley). Ela explica que sempre foi levada a crer que havia o bem e o mal absolutos na vida, mas que depois de tudo o que passou compreendeu que na vida há pessoas que transitam de um lado ao outro, em uma zona cinzenta, tal como os personagens desse western. Uma conclusão simplesmente perfeita.

Pistoleiros do Entardecer (Ride the High Country, Estados Unidos, 1962) / Direção: Sam Peckinpah / Roteiro:N.B. Stone Jr./ Com Randolph Scott, Joel McCrea, Mariette Hartley, Ron Starr e Edgar Buchanan / Sinopse: Um envelhecido ex-xerife, Steve Judd (Joel McCrea), é contratado para transportar uma remessa de ouro através de um território perigoso. Ele contrata um velho parceiro, Gil Westrum (Randolph Scott), e seu protegido, o jovem Heck Longtre (Ron Starr), para ajudá-lo. Porém Steve não imagina que Gil e Heck planejam roubar o ouro, com ou sem a ajuda dele.

Pablo Aluísio.

A Volta do Pistoleiro

Pistoleiro (Robert Taylor) sai da prisão de Yuma e recebe carta de um amigo que precisa de sua ajuda pois está sendo ameaçado por bandidos locais que querem expulsá-lo de seu rancho na fronteira com o México. Robert Taylor foi um dos galãs mais populares de Hollywood nas décadas de 40 e 50, estrelando várias produções de luxo dos principais estúdios. Passeou em vários gêneros desde filmes épicos (Quo Vadis), de capa e espada (Os Cavaleiros da Tavola Redonda, Ivanhoé) até produções de guerra (O Dia D). O problema é que Taylor era aquele tipo de ator que se baseava apenas em sua aparência física, algo que é inerente a todos os galãs aliás. Quando a idade chega eles obviamente são trocados por atores mais jovens e caem no ostracismo. Acontece com todos e aconteceu com Robert Taylor também. No final dos anos 50 ele já demonstrava sinais de declínio na carreira. Tentou sobreviver indo para a TV e até conseguiu uma sobrevida com séries como The Detectives mas a partir de 1962 os trabalhos foram ficando cada vez mais escassos.

Quando realizou "A Volta do Pistoleiro" Robert Taylor já estava praticando aposentado das telas. Para falar a verdade esse foi seu último filme americano nos cinemas (decadente chegou a filmar na Itália e após um breve retorno à TV morreria dois anos depois em 1969). Aqui temos uma produção B da MGM. Não é um grande western, não tem uma grande produção e o roteiro para falar a verdade é mais do mesmo (a velha estória do pistoleiro rápido do gatilho que parte em busca de vingança). Taylor está visivelmente envelhecido e sem pique, aparentando inclusive problemas de obesidade (sua barriga saliente é constrangedora). De qualquer forma tenta trazer alguma dignidade ao papel usando de seus velhos maneirismos (como o levantar das sobrancelhas e o cerramento dos olhos nos momentos de tensão). No saldo final "Return of the Gunfighter" serve apenas como uma despedida desse galã hollywoodiano dos velhos tempos. Claro que ainda é melhor vê-lo no auge, como em "Quo Vadis" mas essa produção não deixa de ser curiosa também para conferir um dos últimos trabalhos dele nas telas.

A Volta do Pistoleiro (Return of the Gunfighterm Estados Unidos, 1967) / Direção de James Neilson / Roteiro de Robert Buckner e Burt Kennedy / Com Robert Taylor, Ana Martin e Chad Everett / Sinopse: Pistoleiro (Robert Taylor) sai da prisão de Yuma e recebe carta de um amigo que precisa de sua ajuda pois está sendo ameaçado por bandidos locais que querem expulsá-lo de seu rancho na fronteira com o México.

Pablo Aluísio.