John Wayne foi certamente o maior mito do western americano. Campeão absoluto de popularidade o ator fez mais de cem filmes ao longo da carreira, sendo muitos deles clássicos absolutos da história do cinema americano. Ao lado de seu diretor favorito, John Ford, Wayne lançou as bases definitivas do mito do oeste selvagem. Republicano, turrão, conservador, o ator até hoje é um símbolo dos EUA. Segue abaixo comentários sobre alguns de seus grandes clássicos.
Bravura indômita
Sempre é um prazer rever um faroeste como esse, com tudo o que os fãs do gênero tem direito. Sinceramente revendo o filme achei uma injustiça com Wayne falar que ele só teria sido premiado com o Oscar por sua carreira, pelo conjunto da obra e não pela interpretação em si que mostra no filme. De certa forma essa é uma meia verdade pois ele está muito bem no papel de um agente federal beberrão, resmungão, gordo e velho mas rápido no gatilho (como tinha que ser é claro!). A interpretação do ator é tão boa que esconde até mesmo a fraca atuação do ator Glen Campbell no papel do Texas Ranger que o acompanha na caçada ao assassino do pai da garotinha do filme (interpretada muito bem pela adolescente Kim Darby). Além de um roteiro acima da média, com ótimas tomadas externas e conflitos armados, Bravura Indômita ainda traz um elenco de apoio de respeito. Nada mais nada menos do que Dennis Hopper e Robert Duvall (que vejam só já estava ficando careca naquela época!). Duvall está particularmente muito bem no papel de um dos procurados por Wayne. Ele não tem muita chance de atuar mas quando possível mostra domínio do que faz. O diretor Henry Hathaway não esqueceu também de investir em divertidos momentos de descontração e humor (que dizem está ausente do remake), principalmente nas cenas entre Wayne e Darby (que se dão muito bem em cena, sendo naturalmente divertido o contraste entre a garota e o marshal mal humorado e bebum). Enfim, ainda não vi o remake dos Coen mas digo de antemão que superar esse original não será nada fácil. Bravura Indômita é um filmaço!
El Dorado
Um grande clássico do western. Há uma informação muito difundida afirmando que na realidade "El Dorado" seria apenas o remake de "Onde Começa o Inferno". Realmente ambos os filmes são muito parecidos, com premissas praticamente iguais mas chamar um de simples refilmagem do outro é um erro. O diretor é o mesmo, o grande Howard Hawks, mas há mudanças nele - também não tantas a ponto de torná-los totalmente diversos. De certa forma "El Dorado" é uma releitura do filme anterior. O cineasta Howard Hawks tinha uma verdadeira fascinação pelo enredo e por isso estava sempre em busca de uma forma melhor de contar a mesma estória. Assim sete anos depois do filme original lá estava ele de novo ao set de filmagens, porem não para realizar uma mera refilmagem mas sim para produzir uma nova versão, com mudanças pontuais. Talvez por ter sido um "prato requentado" muitos puristas tenham torcido o nariz para "El Dorado". Eu discordo e considero o filme muito bom, acima da média do gênero western. Além disso como ignorar o fato de que somos presenteados com dois excelentes mitos do faroeste em cena, John Wayne e Robert Mitchum? Devo inclusive dizer que pessoalmente prefiro o elenco de "El Dorado" ao de "Onde Começa o Inferno". Se lá tínhamos o trio John Wayne, Dean Martin e Ricky Nelson, aqui temos um elenco muito mais eficiente formado por Wayne, Robert Mitchum (sempre ótimo, principalmente interpretando anti-heróis no limite) e James Caan (bem jovem prestes a despontar como grande ator). Todos estão entrosados e bem à vontade em seus papéis. John Wayne, já sessentão, começa a incorporar o papel que iria repetir nos anos que viriam: a do velho pistoleiro, já com idade avançada, meio cansado de tudo e todos tendo que lidar na velhice com sua fama de rápido no gatilho (o que invariavelmente lhe trazia vários transtornos com aspirantes à fama que ousassem lhe desafiar). Wayne inclusive não perde a chance de até mesmo zombar de sua idade, andando de muletas, cansado e disposto a levar à frente seu código de ética do velho oeste. Mitchum por sua vez não precisava de muita coisa para interpretar um velho xerife bêbado, pois em sua carreira fez muitos personagens semelhantes a esse. Era um mestre nesse tipo de papel. "El Dorado" merece seu lugar no panteão dos grandes filmes de faroeste pois desde a direção, interpretações, até o roteiro muito bem escrito, a produção é certamente um excelente representante do gênero em sua época de ouro. Talvez por ser tão bom sempre é lembrado em listas dos melhores faroestes, posição aliás que sempre é mais do que merecida.
Chisum - O Senhor do Oeste
Pelo que eu me lembre esse foi o único filme da carreira de John Wayne que retratou a famosa guerra do condado de Lincoln, o que não deixa de ser curioso porque Wayne foi um dos maiores mitos dos filmes de western e nunca antes havia interpretado nenhum personagem desse famoso evento da mitologia do oeste americano. O projeto foi de certa forma uma escolha pessoal de Wayne justamente para sanar essa lacuna em sua extensa filmografia. Obviamente que John Wayne naquela altura de sua vida não iria mais interpretar Billy The Kid ou Pat Garrett, então a solução foi colocar o velho cowboy para fazer John Simpson Chisum. Esse era um grande latifundiário da região que no meio do caos do conflito em Lincoln se posicionou ao lado do bando de Kid, o apoiando em vários momentos. Foi justamente nas vastas terras de Chisum que Billy The Kid e seu bando se esconderam quando a coisa ficou feia para o lado dele. Claro que o personagem real Chisum não era o pistoleiro intrépido mostrado no filme. Ele, por exemplo, nunca se envolveu naqueles tiroteios todos que vimos na fita mas de qualquer maneira não deixa de ser uma escolha inteligente para inserir o duke no meio da história de Kid. Nesse aspecto tenho que confessar que o filme fica um pouco truncado. Como realizar um filme sobre a guerra do condado de Lincoln colocando Billy The Kid e Pat Garrett como coadjuvantes? E como inserir Chisum, uma peça secundária naquele conflito como o personagem principal? Basicamente é isso o que descobrimos ao assistir "O Senhor do Oeste". De qualquer forma, apesar disso, recomendo bastante esse "Chisum", que conseguiu finalmente reunir Billy The Kid e John Wayne num mesmo filme. Só isso já basta para demonstrar a importância dessa produção.
O Aventureiro do Pacífico
Em 1961 Elvis Presley estourou nas bilheterias americanas com "Feitiço Havaiano". A fita seria a primeira do cantor realizada nas ilhas havaianas. Diante do sucesso o mesmo estúdio do filme de Elvis resolveu reunir praticamente a mesma equipe e o mesmo produtor, Hall Wallis, para repetir o sucesso usando da mesma fórmula: muitas paisagens bonitas, roteiro leve e divertido e música local. O curioso nesse projeto foi o fato da Paramount ter escalado a dupla John Wayne / John Ford para a empreitada. Conhecidos pelos grandes westerns, verdadeiros clássicos do cinema, foram ao Havaí para filmar "O Aventureiro do Pacífico" que em Portugal recebeu o curioso título de "A Taberna do Irlandês" (nome que também ficou conhecido no Brasil pois foi exibido na tv algumas vezes com esse mesmo título). A fita destoa de tudo o que um dia já realizaram. Era despretensiosa, tipicamente um filme de verão para ser consumido nas matinês da garotada em férias escolares. Pode-se afirmar inclusive sem medo de errar que "O Aventureiro do Pacífico" é o filme mais leve e sem pretensão de toda a carreira de John Ford. Assim como "Feitiço Havaiano", "O Aventureiro do Pacífico" é basicamente isso mesmo, um filme de verão, muito leve, divertido, o que se pode chamar de uma aventura para toda a família. John Wayne continuava com seu carisma intacto, fazendo o dono de uma taberna para marinheiros. Já Lee Marvin faz um dos poucos personagens cômicos de sua carreira. O roteiro ainda toca timidamente na questão racial envolvendo nativos e americanos mas tudo numa sutileza planejadamente inofensiva, para não chocar ninguém. No final das contas a produção vale por sua fotografia (não poderia ser diferente uma vez que o Havaí é maravilhoso) e pelas cenas divertidas e descompromissadas. Da carreira do John Ford esse é seguramente seu filme mais inofensivo em todos os aspectos.
Justiceiro Implacável
"Justiceiro Implacável" é uma espécie de continuação de "Bravura Indômita" com John Wayne retornando ao papel que lhe deu o Oscar. O interessante é que o roteiro é praticamente o mesmo do primeiro filme, senão vejamos: Rooster Cogburn (John Wayne) é um Marshal beberrão e rabugento que vai em caça a um grupo de criminosos e a contragosto tem levar junto uma companheira cujo o pai foi morto por esses bandidos. O papel da vítima, que antes era da garotinha em "Bravura Indômita" agora é personificada pela grande Katherine Hepburn em uma caracterização simpática e divertida. São personagens diferentes mas que cumprem a mesma função nas duas produções. O único diferencial é que o humor está muito mais presente no roteiro desse filme. Se o anterior também tinha doses pontuais de humor mas ao mesmo tempo mantinha uma postura mais séria e dramática, aqui o tom leve é muito mais acentuado. Katherine Hepburn e John Wayne parecem se divertir como nunca - levando pouca coisa è sério. Sua animação e clima ameno despontam em cada cena, em cada tomada. É um western muito soft, sem qualquer carga dramática mais forte. A rabugice do personagem Rooster Cogburn, por exemplo, assume um tom frontalmente humorístico e cômico. Completando o clima bucólico a produção ainda traz uma bela fotografia natural. O filme foi rodado numa reserva de preservação ambiental do Estado americano do Oregon e por isso há um farto aproveitamento das paisagens naturais do local, locações que realmente são de encher os olhos. Destaque para as cenas filmadas em uma correnteza de um belo rio da região. Com tantos elementos suaves em cena a direção toma uma posição muito discreta. Confesso que obviamente minha preferência seria por Henry Hathaway, o diretor do primeiro filme. Em "Justiceiro Implacável" a direção ficou a cargo de Stuart Millar, um cineasta com pouca experiência para dirigir atores tão consagrados. Em conclusão podemos dizer que "Rooster Cogburn" é bem inferior ao filme original mas nem por isso é destituído de qualidades. No apagar das luzes só o fato de ver John Wayne contracenando ao lado de Katherine Hepburn, dois grandes mitos da história do cinema, já vale muito a pena para qualquer cinéfilo.
O Xerife do Oeste
"O Xerife do Oeste" faz parte da última fase da carreira do ator John Wayne. É um dos últimos trabalhos do Duke. O fato é que Wayne se recusava a se aposentar pois acreditava que a aposentadoria acabaria com ele. Além disso sempre afirmava que iria trabalhar até o final de seus dias pois era a única coisa que sabia fazer na vida. Ostracismo, nem pensar. Curiosamente mesmo já envelhecido, beirando os 70 anos, o ator ainda conseguia passar carisma e prender a atenção do espectador, arrecadando boas bilheterias, isso em uma época em que o western já mostrava claros sinais de esgotamento. "O Xerife do Oeste", também conhecido como "Cahill" repete de certa forma os velhos clichês do gênero. John Wayne sabia o que o público queria dele e procurava não inventar muito. Assim ele fez questão de realizar mais um faroeste ao velho estilo, com o roteiro que poderia muito bem ter sido escrito nos anos 50. E quando digo "realizar" não é força de expressão, o filme é dele, foi produzido por seu filho, Michael Wayne, e a produção contou com dinheiro saído do próprio bolso do ator. Alguns estudiosos da carreira de John Wayne inclusive vão mais longe e afirmam que diretor apenas assinou pois foi Wayne quem realmente dirigiu as cenas. Tanto empenho pessoal valeu a pena. "Cahill" é o que eu chamo de um produto honesto. Os fãs de John Wayne receberam justamente aquilo que esperavam, ou seja, o velho cowboy ainda liquidando seus inimigos sem fazer muita força (e sem despentear a peruca impecável), um vilão asqueroso (o ótimo George Kennedy, velho companheiro de Wayne dos filmes antigos) e um pouco de humor em pequenas pitadas aqui e ali. Só não gostei muito do final, que tem um moralismo um tanto quanto questionável. Mas isso é o de menos, "O Xerife do Oeste" vale a pena, principalmente para quem quer matar saudades do antigo astro de Hollywood. A lenda do velho oeste vive!
Legião Invencível
"Legião Invencível" é o segundo filme da trilogia dirigida por John Ford retratando a cavalaria americana. O primeiro, "Sangue de Heróis", era uma alegoria dos acontecimentos que levaram a sétima cavalaria do exército americano a ser dizimada por tribos hostis. Era de certa maneira uma crítica mordaz de Ford para com o fato do General Custer ser idolatrado pelo exército como um herói. Aqui o tema continua. Não é necessariamente uma sequência do filme anterior, personagens são diferentes e finalmente o nome Custer surge em cena (no anterior o papel que seria de Custer foi transferido para a de um Coronel puramente ficcional, embora sua estória seja obviamente a do famoso General). Aqui a estória começa após o massacre de Custer e sua sétima cavalaria. Prestes a se aposentar o Capitão Nathan Brittles (John Wayne) tem que lidar com os efeitos terríveis de Little Big Horn. A moral das tropas sobreviventes, o risco eminente de um novo ataque e os novos problemas decorrentes da mudança de liderança em um forte avançado são algumas das situações que ele deve contornar. O elenco novamente conta com o ator preferido de John Ford, o eterno cowboy John Wayne. Fazendo o papel de um personagem muito mais velho do que ele na época, Wayne foi fortemente maquiado para parecer um veterano Capitão perto da aposentadoria. Conciliador tenta abrir uma linha de diálogo com os líderes nativos, mesmo com resultados adversos. John Ford novamente foi a Monument Valley para rodar todas aquelas cenas clássicas que tanto conhecemos - com os montes ao fundo em pleno crepúsculo (uma das marcas registradas da carreira do cineasta). O filme é muito bem fotografado e de forma em geral muito mais leve do que "Sangue de Heróis". Não há muitas cenas de ação (afinal a grande batalha sangrenta havia acontecido no filme anterior) sendo que o filme se apóia muito mais no cotidiano da vida dos soldados no posto avançado. O humor também se faz presente, como quase sempre acontecia nos filmes de Ford. Em conclusão podemos considerar "Legião Invencível" um belo filme que traz uma interessante mensagem em seu roteiro, a de que a paz só será alcançada mesmo com atos de diplomacia e tolerância religiosa e cultural. A guerra, como sempre, nunca será a solução para nenhum problema envolvendo choque de civilizações e culturas.
Jake Grandão
Jake McCandles (John Wayne) é um xerife da velha guerda que após vários anos reencontra sua esposa (Maureen O'Hara). Ao mesmo tempo em que tenta uma reconciliação tem que enfrentar o terrível sequestro de seu neto por um sórdido bando de facínoras foras-da-lei. Devo confessar que quando li sobre o filme pela primeira vez pensei que seria bem fraco. Isso porque "Jake Grandão" é um projeto muito familiar por parte de John Wayne. Dois filhos estão em cena, o próprio Wayne dirigiu parte do filme e para terminar encaixou o filho de seu amigo, Robert Mitchum, no elenco. Assim pensei que seria um western feito a toque de caixa, sem grandes pretensões ou qualidade, feito única e exclusivamente para a filharada ganhar uma grana extra. Realmente me enganei. Claro que por essa época Wayne não fazia mais grandes clássicos da história do cinema. As produções eram bem mais modestas e os roteiros eram simples e derivativos de seus antigos filmes mas mesmo assim ele conseguia manter um padrão de qualidade, coisa que se repete aqui. "Jake Grandão" nem de longe pode ser comparado com filmes como "Rastros de Ódio". É uma fita simples, de rotina, tipicamente um trabalho na média do que ele produziu nos anos 70. Embora não seja um grande filme é sem dúvidas bem digno. Tem boas sequências de bang bang, um suspense muito bem feito na cena final, uma boa fotografia, com belas paisagens do oeste e para finalizar aquele pequeno toque de humor que Wayne costumava colocar em seus filmes. Assim "Jake Grandão" traz o pacote inteiro do que se espera de um filme do ator. Diverte e entretém e por isso recomendo aos fãs do estilo.
Sangue de Heróis
Baseado no livro de James Warner Bellah, "Fort Apache - Sangue de Heróis" é um ótimo faroeste. Produzido e dirigido por John Ford, ele é o primeiro de uma trilogia realizada pelo cineasta sobre a cavalaria do exército americano, pós-guerra civil. Os dois outros, igualmente ótimos, são "Legião Invencível", de 1949, e "Rio Grande", de 1950. O filme gira em torno de um arrogante coronel da cavalaria americana, disposto a tudo para ter o reconhecimento do governo dos EUA por seus relevantes serviços prestados à nação. Para tanto, despreza os conselhos de seus auxiliares mais próximos, conhecedores dos problemas vividos pelos apaches, no longínquo território do Arizona e se envolve numa guerra desnecessária e suicida contra os indígenas, que só queriam ser tratados com um pouco de respeito e justiça. E o que chama a atenção é que, após sua morte, ele consegue ser oficialmente reconhecido como herói, muito embora tenha injustificadamente sacrificado a vida de centenas de homens sob seu comando. Além do belo trabalho realizado por Ford, o filme conta com um roteiro muito bem estruturado e com a magnífica fotografia de Archie Stout. Henry Fonda está soberbo no papel do coronel Thursday, seguido de John Wayne, como o oficial que se rebela contra suas ordens. Adicionalmente "Fort Apache - Sangue de Heróis" conta ainda com um elenco coadjuvante de primeira linha, com nomes como Ward Bond, Victor McLaglen, George O'Brien e Pedro Armendáriz, entre outros. Shirley Temple, a garota prodígio da década de 30, faz um bom trabalho como adulta, na época com 20 anos de idade. O roteiro (e obviamente o livro que lhe deu origem) são em essência uma romantização em cima da história real do General Custer. Após ser morto pelas tribos comandadas por Cavalo Louco e Touro Sentado, Custer virou um herói nacional nos EUA. Na realidade ele era um carreirista que não media esforços para subir na carreira, não importando as consequências de seus atos. O Coronel Thursday do filme nada mais é do que uma alegoria da personalidade verdadeira do Custer histórico. Por tudo isso e muito mais o filme hoje é simplesmente essencial para os fãs do grande cinema da era de ouro de Hollywood. Sem dúvida uma obra magnífica.
Os Filhos de Katie Elder
Eu me recordava de ter assistido "Os Filhos de Katie Elder" na minha infância. Ainda me lembrava de algumas pequenas coisas do enredo, como o próprio fato da reunião dos irmãos para descobrir o que tinha acontecido nas mortes de seu pai e sua mãe. E era só isso mesmo de que tinha lembrança. Hoje resolvi rever o filme (na verdade praticamente assistir algo inédito já que não me recordava de muita coisa). Obviamente o clima de nostalgia bateu forte pois esse filme me lembrou dos grandes filmes que passavam na antiga Sessão da Tarde. Infelizmente nos dias de hoje só filmes fracos são exibidos mas nas décadas de 70 e 80 era bem diferente. Devo dizer que esse é um bom western dos anos 60. Não é uma obra prima como "Bravura Indômita", por exemplo, (embora seja o mesmo diretor) mas mantém o interesse e é muito bem roteirizado (curiosamente o roteirista do filme, Allan Weiss, escreveu muitos roteiros de filmes para Elvis Presley na Paramount). O grande destaque fica no relacionamento dos irmãos. Os filmes de Wayne tinham muito isso, não eram apenas westerns com puro bang bang, pelo contrário, havia uma preocupação em criar um conteúdo para os personagens. Isso também acontece nesse filme. Embora Katie Elder esteja morta vamos descobrindo por depoimento dos demais personagens do filme todas as nuances de sua vida, como ela era, do que gostava, o que desejava para os filhos. Não é todo faroeste que tem esse tipo de cuidado em seu roteiro. Como não poderia deixar de ser a dupla central dos atores domina o filme. John Wayne aqui em um papel mais interessante, pois é um pistoleiro fora da lei. Dean Martin também está muito bem em seu personagem, pena que dessa vez não cantou nenhuma música, talvez pelo tom mais sério do filme. Enfim, longe de ser apenas um western de rotina, "Os Filhos de Katie Elder" é um bom programa para quem quer relembrar dos bons faroestes do passado. Ah que saudade desses tempos que não voltam mais!
Hatari
Um grupo de aventureiros caçam animais selvagens na África para eles serem vendidos a Zoológicos ao redor do mundo. Sua rotina de trabalho finalmente muda com a chegada de uma bonita fotógrafa especializada em retratar o reino animal. Hatari é uma aventura muito interessante, com cenas de capturas de animais que prendem a atenção pois são bem reais (bem ao contrário do que se fossem feitas hoje em dia pois teríamos várias tomadas com animais digitais). John Wayne sai um pouco de seus filmes habituais de western para encarnar um personagem diferenciado, mais leve, lidando com várias situações de humor e diversão (algo que ele repetiria também em filmes como por exemplo "O Aventureiro do Pacífico). A atriz que faz seu interesse romântico, a italiana Elsa Martinelli, não me convenceu muito. Com forte sotaque, ela só serve mesmo como babá dos três elefantinhos do filme (sempre lembrados em suas cenas ao som da ótima trilha sonora de Henry Mancini). O roteiro foi baseado no livro de Harry Kurnitz um famoso jornalista da década de 30 que adorava participar de aventuras exóticas em lugares distantes. Seus textos acabariam sendo adotados pelo cinema, inclusive vários deles inspiraram filmes com Errol Flynn durante as décadas de 30 e 40. A tônica do filme é de humor leve, soft. Bem ao estilo do cineasta que o realizou. O diretor Howard Hawks tinha um grande prestigio em Hollywood e ao longo de sua carreira realizou quase 50 filmes, com grande versatilidade, indo das comédias musicais aos filmes de aventura. Esse Hatari inclusive nem foi seu primeiro trabalho na África pois durante a época dourada do cinema americano ele já havia estado lá filmando o clássico "Uma Aventura na Martinica" com Humphrey Bogart e esposa, Lauren Bacall. Quando ele se deparou com o livro de Kurnitz ficou com a idéia fixa por anos de transpor aquela estória para as telas. Após ter o roteiro de Leigh Brackett em mãos o enviou a John Wayne para saber se ele tinha interesse no filme. Com o sinal positivo do ator finalmente conseguiu que o projeto fosse aceito. Era uma produção cara, filmada em locações africanas e apenas a participação de um grande nome como John Wayne viabilizaria a realização da produção. Aqui em Hatari encontramos todos os elementos que fizeram a fama de Hawks: Belas tomadas abertas, fotografia caprichada e cenas de aventura ao velho estilo. Quem precisa mais? Não deixe de conferir.
Rio Grande
O tenente coronel Kirby Yorke (John Wayne) é o comandante de um forte localizado na fronteira do Texas com o México. A região é abalada pela união de várias tribos indígenas que resolvem unir forças contra os brancos. O problema é que sempre que a cavalaria liderada por Kirby consegue localizar os índios selvagens, esses fogem para o outro lado da fronteira, atravessando o grande rio que separa os dois países. Além dos problemas envolvendo conflitos com os nativos, Kirby ainda tem que lidar com a transferência de seu filho, recentemente expulso de West Point, para sua guarnição. Ele não vê o jovem há 15 anos e tem que criar algum relacionamento com ele, mesmo mal o conhecendo de fato. “Rio Grande” é o último filme da trilogia da cavalaria de John Ford. Aqui o lendário diretor utilizou-se de todos os elementos que fizeram seus grandes clássicos: cenas de batalhas bem executadas, música evocativa, lindos cenários naturais (o filme foi todo filmado aos pés do Monument Valley) além é claro da presença do mito John Wayne. O roteiro foi baseado em uma estória publicada no jornal Saturday Evening Post de autoria de James Warner Bellah. Era comum a publicação de longas estórias de western nos grandes jornais norte-americanos. Alguns desses textos eram tão bons que acabavam indo parar nos cinemas. Esse de Bellah foi um grande sucesso, chegando ao ponto de aumentar as vendas do jornal. John Ford, sempre procurando por bom material, não tardou a comprar os direitos da estória. Sua adaptação é excelente como podemos conferir ao assistirmos essa inspirada saga sobre a cavalaria americana. O filme foi produzido pelo estúdio Republic, que já não existe mais. Dois grandes cenários foram construídos no pé do Monument Valley – o próprio forte do exército e uma pequena vila com uma igreja abandonada onde ocorrem os eventos finais do filme. As construções feitas pela equipe de John Ford ainda existem e viraram ponto de turismo na região! Outro atrativo em “Rio Grande” é a bela participação do grupo musical vocal “The Sons of Pioneers” que chegou a ter suas músicas lançadas na trilha sonora do filme, se tornando um grande sucesso de vendas. O tema principal do filme é a belíssima "I'll Take You Home Again, Kathleen" que ganhou inclusive versão na voz de Elvis Presley na década de 70. No final das contas quem melhor resumiu a produção foi o Los Angeles Times que qualificou “Rio Grande” como “um legítimo épico da mitologia americana”. Ninguém poderia definir melhor.
Hondo - Caminhos Ásperos
Hondo Lane (John Wayne) é um pistoleiro que atravessa o deserto sozinho ao lado de seu cão Sam durante as chamadas guerras Apaches. No caminho acaba encontrando um pequeno rancho onde vivem Angie (Geraldine Page) e seu pequeno filho. Estão sozinhos pois seu marido saiu atrás de parte de seu rebanho mas jamais retornou. O problema é que em breve os Apaches chegarão no local e Hondo não consegue convencer a jovem senhora a abandonar o local onde vive. Esse "Hondo - Caminhos Ásperos" me surpreendeu por alguns motivos. O primeiro é o próprio personagem interpretado por John Wayne. Um pistoleiro de passado nebuloso. Sua caracterização de viajante no meio do nada ao lado de seu cachorro seria imitada anos depois em "Mad Max" e até por Clint Eastwood em "O Estranho Sem Nome". Afinal quem realmente é Hondo? Outro aspecto curioso na produção é a forma como Wayne lida com um papel mestiço. Ele também é metade Apache e se vê envolvido em um conflito que mal consegue entender. No final do filme ao saber que provavelmente os Apaches serão todos liquidados pela cavalaria americana ele diz uma bela frase: "Isso não será apenas o fim dos Apaches mas sim o fim de um modo de viver.... e um bom modo de se viver é bom salientar". O elenco de Hondo é muito bom. Além de Wayne - em papel marcante - ainda temos a grande Geraldine Page dividindo a tela com ele. Considerada uma das grandes atrizes do cinema americano aqui ela interpreta uma jovem rancheira que se recusa a abandonar seu lar frente à ameaça Apache. Suas cenas com o Duke são muito boas o que garante a qualidade do filme. Wayne e Page ficam praticamente sozinhos no rancho no terço inicial de "Hondo" e se não se entrosassem bem em cena certamente o roteiro perderia parte importante de seu impacto. Felizmente isso não ocorre. Ambos estão perfeitos em seus respectivos personagens. Em suma "Hondo" é um western de primeira, com belas atuações e cenários naturais grandiosos. Vale a pena assistir.
Os Comancheros
Paul Regret ( Stuart Whitman) é um jogador de cartas no velho oeste que acaba matando em duelo o filho do juiz de New Orleans. Sem alternativas resolve fugir da Louisiana em direção ao oeste onde começa a ser caçado pelo Texas Ranger Jake Cutter (John Wayne). Cutter está no meio de uma missão aonde tem que se infiltrar no grupo dos chamados “Comancheros”, homens brancos que traficavam armas para as tribos de Comanches rebeldes. Para ser aceito como um traficante de armas ele se faz passar por criminoso com a ajuda de Jack Crow (Lee Marvin). “Os Comancheros” é mais um excelente western na extensa filmografia de John Wayne. Rodado quase que totalmente nos desertos de Utah (aqui fazendo papel de Texas) o filme foi dirigido pelo veterano cineasta Michael Curtiz, o consagrado diretor de “Casablanca”. As filmagens no deserto porém foram bem complicadas. Curtiz, de idade um tanto quanto avançada e com problemas de saúde não conseguiu lidar com o tamanho da produção sozinho. Assim a Fox determinou ao próprio John Wayne que assumisse a direção várias vezes em um trabalho que acabou não sendo creditado a ele. Wayne que tinha acabado de dirigir “O Álamo” aceitou o desafio de bom grado. Ele tinha especial respeito por Curtiz e sentiu orgulho em dirigir ao lado do famoso diretor. O resultado é que sob seu comando o filme focou bem mais nas cenas de lutas e ação no meio do deserto árido. Wayne gostava de cenas grandiosas, de impacto, como bem demonstrou em “O Álamo” e as repetiu aqui com grande êxito. Duas sequências inclusive se sobressaem. A luta entre comancheros, índios e Texas Rangers em um rancho e a longa cena final onde os mesmos grupos novamente se enfrentam em boas e bem coreografadas batalhas campais. Essas duas sequências foram inteiramente dirigidas por John Wayne mostrando seu talento como bom cineasta. Já as cenas mais dramáticas, de atuação, ficaram sob o comando de Michael Curtiz. Infelizmente esse foi o último filme do consagrado diretor que viria a morrer poucos meses após o filme ser finalmente concluído. Aos 72 anos e com 173 filmes no currículo Curtiz já havia dado seu recado. Seu último trabalho revela um produto de extrema qualidade, muito bem roteirizado e com inspiradas atuações de todo o elenco. Um canto de cisne à altura desse genial artista que se despediu do cinema em um dos gêneros mais populares e iconográficos da história da sétima arte. Por isso “Os Comancheros” é simplesmente obrigatório para qualquer cinéfilo que se preze.
Jamais Foram Vencidos
Que tal reunir em um mesmo filme John Wayne e Rock Hudson? Os dois tinham sido os maiores recordistas de bilheteria durante os anos 50 e 60 e agora reuniam forças no western "Jamais Foram Vencidos". O filme pode ser considerado um faroeste temporão, já que foi realizado no final dos anos 60, quando a juventude não mais se importava muito com esse gênero cinematográfico. Embora Wayne ainda mantivesse seu prestígio inabalado, Hudson vinha passando por dificuldades na carreira. Como era um galã acima de tudo, os papéis iam cada vez mais rareando com a chegada da idade e ele próprio representava naquela altura um tipo de ator que definitivamente estava saindo de moda. Ao invés do galã de visual impecável, o cinema americano agora adotava atores com grande talento mas com aparência de homens comuns, como Al Pacino, Dustin Hoffman e Robert De Niro. Atores que não tinham a estampa dos velhos ídolos como Rock Hudson. Em sua autobiografia o próprio Hudson comenta a chegada dessa nova geração de "monstrinhos" como ele apelidou os novos atores em ascensão. Realmente era bem complicado unir duas gerações tão diferentes em um mesmo filme. Por isso o convite de estrelar um western ao lado do mito John Wayne veio bem a calhar naquele momento de sua vida. O filme em si era interessante e mostrava um oficial confederado (Hudson) que não aceitava a derrota de seu amado sul durante a guerra civil americana. Tão transtornado ficara com a perda da guerra que em um ato de profunda indignação resolve queimar sua propriedade, juntar tudo o que tinha e rumar para o México com a esperança de começar uma nova vida. Impossível não fazer uma analogia sutil com a própria carreira de Rock Hudson. Tal como o personagem de seu filme ele naquele momento era coisa do passado e deveria rumar para um novo destino. E tal como o sulista ferido ele realmente em pouco tempo deixaria o seu passado para trás (o cinema) e trilharia um novo caminho na carreira ao estrelar uma série de TV, em busca de um novo recomeço. Nunca o ditado "A Vida Imita a Arte" foi tão bem aplicado como nesse caso.
Rio Lobo
Hoje assisti o filme Rio Lobo, com o grande mito do Western John Wayne. Curiosamente não me lembrava se já o tinha assistido antes ou não. John Wayne fez tantos filmes e tive o privilégio de acompanhar tantos momentos brilhantes desse ator, seja pela TV ou pelo extinto vídeo cassete, que sinceramente bateu uma dúvida se já o tinha assistido ou não. De qualquer forma foi um grande prazer reencontrar o velho Duke novamente. Sou fã de carteirinha de longa data do eterno cowboy, tanto que cheguei a manter um site dedicado apenas ao ator por anos. Algumas cenas me soaram familiares como a parte inicial do filme, onde um grupo de soldados do exército confederado rouba um trem de carregamento de ouro dos ianques. Porém para minha surpresa esse é apenas o primeiro ato da película, que se desenvolve excepcionalmente bem nos dois outros atos da trama. Nem vou me alongar em explicar a sinopse pois esse tipo de coisa é facilmente encontrado na net, apenas vou descer alguns comentários pertinentes sobre o filme. John Wayne está perfeito em sua caracterização de eterno justiceiro do velho oeste. O elenco de apoio também é muito bom, com destaque para o Tarzan Mike Henry, que havia largado o papel do Rei das Selvas após sofrer um ataque de um macaco em fúria nos sets de filmagem. Curioso notar que o filme é da fase final da carreira do astro, já entrando na década de 70 e os velhos filmes de cowboy já eram considerados fora de moda por essa época. Mero detalhe. Em nenhum momento sentimos que o filme esteja datado ou ultrapassado, nada disso, ele é brilhantemente fotografado, com ótimas tomadas externas. Não poderia ser diferente, Rio Lobo foi dirigido pelo ótimo e lendário diretor Howard Hawks, o mesmo que colecionou tantos momentos inspirados ao lado de Wayne em sua carreira, como por exemplo, os eternos clássicos Rio Bravo, El Dorado e até o simpático Hatari!. Howard inclusive costumava transitar bem em todos os gêneros, dos épicos às comédias de costumes como bem podemos conferir no delicioso filme estrelado pela eterna Marilyn Monroe, "Os Homens Preferem as Loiras". Rio Lobo foi a última parceria entre John Wayne e Howard Hawks e posso dizer que a despedida foi à altura do talento dos dois. Ambos morreriam na segunda metade dos anos 70 (Hawks em 1977 e Wayne em 1979) e deixariam muitas saudades nos amantes dos velhos westerns. Definitivamente a velha escola do gênero não sobreviveria a essa década, pois nos anos 80 os filmes de faroeste iriam cair em um injusto ostracismo, com meros lampejos de sobrevida em filmes como Silverado e similares. Recentemente assisti novamente ao último filme de John Wayne, chamado providencialmente de "O ùltimo pistoleiro" e fiquei realmente triste. Os heróis ao estilo de Wayne, durões, certos em suas opiniões, inabaláveis em suas convicções, com extrema força moral, deixaram definitivamente de existir. Em seu lugar surgiram atores que representavam vulnerabilidade, dúvida, incerteza moral. John Wayne, o símbolo máximo do velho oeste deixou saudades. Ainda bem que sempre poderemos relembrar essa grande fase dourada de Hollywood pela extensa filmografia que ele nos legou.
O Último Pistoleiro
Nos anos 70, John Wayne tentou se adaptar aos novos tempos, tentando novos gêneros como seu personagem em "McQ, um detetive fora da lei ", aqui Wayne faz o papel de um policial que após a morte de um companheiro, investiga um caso de tráfico de drogas cujas pistas acabam indicando uma conexão com a própria polícia. O diretor Struges deixa aqui os espaços amplos do faroeste - estilo que o consagrou. Transpõe para o ambiente urbano o herói ético, durão e honesto criado por John Wayne em inúmeros outros filmes, sem perder a noção de ritmo e ação, que esbanjou em seus melhores westerns. Apesar da tentativa de mudança, seu lar era mesmo o western e o ator acabou retornando ao personagem que o fez ganhar o Oscar, assim Wayne estrelou "Justiceiro Implacável" onde a filha de um pastor conta com a ajuda de um pistoleiro para tentar encontrar os homens que mataram seu pai. Continuação de Bravura Indômita, com roteiro que lembra o famoso "Uma Aventura na África". Produção que foi valorizada pela presença de John Wayne e Katherine Hepburn. Este foi o penúltimo filme do Duke. Mesmo doente nunca pensou em se aposentar: "A única que sei fazer é trabalhar. A aposentadoria vai me matar", lutou bravamente contra o câncer que se abateu sobre ele e sempre afirmava quando perguntado sobre seu estado de saúde: "Liquidei-o. Comigo não há câncer que aguente. Para o inferno com o Big C!". No final de sua carreira, já velho e cansado, Wayne deu uma entrevista para a revista de cinema Variety e afirmou: "É possível que não se interessem mais pelos serviços deste cavalo velho e o larguem no pasto, mas trabalharei até isso acontecer" Também brincou com o fato de algumas revistas afirmarem que estava ficando sem cabelos: "Não tenho vergonha da minha careca, mas não vejo por que obrigar as pessoas a vê-la". Em 1976, Wayne se despediu das telas e fez seu derradeiro filme, "O Último Pistoleiro", com Lauren Bacall, no papel de um velho caubói morrendo de câncer mas ainda lutando. O roteiro, que tinha muito a ver com a própria vida do ator trazia a estória de um velho e lendário pistoleiro que sofria de câncer e procurava um local onde pudesse morrer em paz. Mas não conseguia escapar de sua reputação. Era baseado em um romance de Glendon Swarthout. John Wayne, perfeito em seu último papel, também já sofria da mesma doença, que o matou em 1979. Este foi o último filme da carreira de John Wayne. Em 11 de junho de 1979, o homem que melhor se identificou com os heróis da colonização americana morreu vítima de câncer nos pulmões, mas entrou para sempre no Olimpo dos deuses da sétima arte.
Onde Começa o Inferno
John T. Chance (John Wayne) é um xerife de uma pequena cidade do velho oeste. Ele tem como auxiliares Dude (Dean Martin), um sujeito com sérios problemas de alcoolismo e Stumpy (Walter Brennan) um velho manco que já não mete medo em ninguém. Juntos passarão por um teste de fogo ao prenderem Joe Burdette (Claude Akins), irmão de um perigoso fora da lei da região. Sitiados em sua própria delegacia eles tentam manter o bandido preso até a chegada do delegado federal que irá levar o facínora à julgamento por assassinato. "Riio Bravo" foi um dos maiores westerns da carreira de John Wayne e isso definitivamente não é pouca coisa. O filme tem um roteiro excelente que desenvolve de forma excepcional a crescente ansiedade dos três homens da lei que tentam manter atrás das grades um perigoso assassino que conta com a ajuda de uma grande quadrilha para tirá-lo de lá. A estória fascinou tanto o diretor Howard Hawks que ele voltaria a realizar outro western famoso, "El Dorado", com praticamente o mesmo argumento, embora sejam filmes diferentes. Hawks realmente tinha especial paixão pelo conto que deu origem ao filme (escrito por BH McCampbel) por trazer vários temas caros à mitologia do faroeste como por exemplo a redenção, a dignidade dos homens da lei e a crescente tensão psicológica que antecede o confronto final. O filme já começa inovando com uma longa sequência de mais de 4 minutos sem qualquer diálogo (algo que anos depois seria copiado por Sergio Leone em "Era Uma Vez no Oeste"). Quando Dude (Dean Martin) finalmente surge em cena logo ficamos chocados com sua aparência de alcoólatra, sujo, esfarrapado, lutando para manter o pouco de dignidade que ainda lhe resta. Aliás é bom frisar que a interpretação de Dean Martin para seu personagem é muito digna, passando mesmo uma sensação de dependência completa da bebida. Há inclusive uma ótima cena em que ele tenta sem sucesso enrolar um cigarro de fumo e não consegue por causa dos tremores em sua mão (curiosamente o único close de todo o filme). John Wayne mantém sua postura irretocável em um personagem tópico de seus westerns. Já o velhinho Stumpy (Walter Brennan) é um grande destaque. Servindo como alívio cômico ele acaba roubando várias cenas com sua simpatia e bom humor. Em suma, "Rio Bravo" merece todo o status que possui. É envolvente, tenso, bem escrito, com excelente desenvolvimento psicológico de seus personagens e acima de tudo diverte com inteligência. Um programa obrigatório para cinéfilos.
Rio Vermelho
Assistir a esse filme foi um enorme prazer para mim. Primeiro porque eu sou um fã incondicional do ator Montgomery Clift. Segundo porque eu acho este um dos mais belos westerns de todos os tempos e terceiro porque John Wayne e Howard Hawks estão no auge de suas carreiras. Esta é uma película realmente nota dez, em todos os aspectos e por isso se tornou um filme atemporal, inesquecível e clássico. Montgomery Clift era um caso à parte. Considerado um dos maiores atores jovens de seu tempo, ao lado de Marlon Brando e James Dean, Clift era um profissional à frente de sua época. Cria do teatro americano, local onde ele sentia-se realmente à vontade, ele relutou muito antes de ingressar no cinema. Temia perder sua identidade e ser engolido pelo Star System. Sempre foi um ator independente e conseguiu se impor à indústria, fez poucos filmes, mas todos escolhidos a dedo, e muitos destes títulos se tornaram clássicos absolutos da história. do cinema americano. Basta lembrar de "Um lugar ao sol" e "A um passo da Eternidade", por exemplo. Complexo e torturado por demônios internos, Clift acabou por tabela imprimindo uma densidade ímpar em suas atuações. O conflito interno do ator era automaticamente passado para seus papéis. Aqui ele se sobressai mesmo interpretando um personagem sem grande profundidade, em sua estréia nas telas, curiosamente em um western estrelado pelo maior nome do gênero, John Wayne. O contraste entre a determinação e rudeza de Wayne com a sensibilidade de Clift se torna um dos grandes trunfos do filme. E o Duke? Bem, ele está novamente ótimo no papel de um velho rancheiro dono de milhares de cabeças de gado, que tem como único objetivo levá-las, em uma grande caravana, para o Estado do Missouri. Conforme o tempo passa e as dificuldades se tornam maiores o personagem de Wayne vai ficando cada vez mais obcecado, tornando insuportável a vida de seus homens. O clímax ocorre em uma feroz luta entre Wayne e Clift. Um duelo entre os velhos e os novos paradigmas do velho oeste. A cena entrou para a história do cinema americano. Em relação à inspirada direção um famoso crítico americano resumiu a opinião da época: "Tendo como pano de fundo as belas paisagens do meio oeste americano, o mestre Howard Hawks faz um dos melhores faroestes dos últimos tempos, não se limitando, no entanto, a falar apenas do expansionismo capitalista americano, povoando terras desertas em meados do século 19. Vai além: realizando um belo painel sobre as relações humanas, através dp choque de personalidades de Dunson (Wayne) e Garth (Montgomery Clifi). Criados como pai e filho, protagonizam uma estória de amor e ódio absolutamente emocionante". O filme concorreu aos Oscar de melhor roteiro e Montagem. Uma injustiça não ter ganho nenhum, mas se a Academia não o premiou ele acabou recebendo outro tipo de reconhecimento, e este bem mais importante, o reconhecimento popular daqueles que o assistiram e jamais esqueceram ao longo de todos esses anos.
O Homem Que Matou o Facínora
“Quando a lenda se torna mais interessante do que o fato que se publique a lenda”. Essa frase colocada na boca de um dos personagens de “O Homem que Matou o Facínora” resume muito bem esse maravilhoso western, um dos grandes clássicos da história do cinema americano. John Ford, um mestre em extrair grandes lições de estórias aparentemente simples, aqui tem um dos momentos mais inspirados de toda a sua carreira. Na tela acompanhamos a chegada do senador Ransom Stoddard (James Stewart) na pequenina cidade onde começou sua carreira política muitos anos antes. Ele vem para o enterro de um velho conhecido, Tom Doniphon (John Wayne). Mas quem seria Tom Doniphon na realidade? Através de flashback somos apresentados aos acontecimentos do passado onde Tom e Ranson tomaram parte em eventos que ficariam na história da região – e que em conseqüência levaria Ranson a ter uma extremamente bem sucedida carreira política nos anos que viriam. John Ford trabalha maravilhosamente bem o roteiro, com vários leituras sublimares que apenas um texto seria insuficiente para demonstrar. Um dessas mensagens nas entrelinhas é o papel desempenhado pelo próprio personagem de John Wayne. Embora tenha sido creditado como o ator principal do filme (fruto de seu status de grande astro na época) o fato é que seu personagem é coadjuvante na trama, mesmo que não seja um papel secundário qualquer. Na realidade esse filme é uma parábola da capacidade de se doar pela felicidade de quem se ama. Tom é um rústico cowboy do interior mas sua paixão pela jovem Hallie (Vera Miles) é tão profunda e sincera que ele deixa de lado até mesmo seus interesses pessoais para proteger Ranson (Stewart) pois é óbvio que Hallie o tem em grande consideração. Embora durão no exterior, Tom (Wayne) é na verdade uma pessoa extremamente altruísta, solidária e leal a ponto de ficar em segundo plano, abrindo mão de seus próprios sonhos pela felicidade da mulher que ama. Falar mais sobre a trama seria tirar parte de seu impacto. Outro ponto excelente da produção é seu elenco excepcional. Como se não bastasse termos dois mitos em cena (James Stewart e John Wayne) o filme tem um elenco de apoio de respeito a começar pelos bandidos do filme. Liberty Valance (o facínora do título nacional) é interpretado com brilhantismo por Lee Marvin, um ícone dos filmes de western. Ao seu lado formando o bando de criminosos está o famoso Lee Van Cleef que estrelaria uma longa série de faroestes nos anos seguintes. Em suma, "O Homem Que Matou o Facínora" é um desses faroestes que podemos qualificar sem medo de exageros como "monumental". Um grande momento nas carreiras de Wayne, Stewart e Ford. Impecável em todos os sentidos.
A Conquista do Oeste
Quando a Metro anunciou "A Conquista do Oeste" o estúdio deixou claro suas intenções: realizar o filme definitivo sobre a expansão da civilização norte-americana em direção ao oeste selvagem. Para isso não mediu esforços colocando à disposição do filme tudo o que estúdio tinha de mais importante na época. Atores, diretores, roteiristas, tudo do bom e do melhor foi direcionado para esse projeto. Além do capital humano a Metro resolveu investir em um novo formato de exibição onde três telas enormes projetavam cenas do filme. A técnica conhecida como Cinerama visava proporcionar ao espectador uma sensação única de imersão dentro do filme. Para isso há uso de longas tomadas abertas, tudo para dar a sensação ao público de que realmente está lá, no velho oeste. Era claramente uma tentativa da Metro em barrar o avanço da televisão que naquele ano havia tirado uma grande parte da bilheteria dos filmes. Assim "A Conquista do Oeste" chegava para marcar a história do cinema, pelo menos essa era a intenção. Realmente é uma produção de encher os olhos, com três diretores e um elenco fenomenal. O resultado de tanto pretensão porém ficou pelo meio do caminho. "A Conquista do Oeste" passa longe de ser o filme definitivo do western americano. Na realidade é uma produção muito megalomaníaca que a despeito dos grandes nomes envolvidos não passa de uma fita convencional, pouco memorável. O problema é definitivamente de seu roteiro. São várias estórias com linhas narrativas que as ligam numa unidade mas nenhuma delas é bem desenvolvida. Tudo soa bem superficial. O grande elenco também é outro problema. Apesar dos mitos envolvidos nenhum deles tem oportunidade de disponibilizar um bom trabalho, realmente marcante. John Wayne, por exemplo, só tem praticamente duas cenas sem maior importância. Ele interpreta o famoso general Sherman mas isso faz pouca diferença pois tão rápido como aparece, desaparece do filme, deixando desolados seus fãs que esperavam por algo mais substancioso. James Stewart tem um papel um pouquinho melhor, de um pioneiro que vive nas montanhas mas é outro grande nome que também é desperdiçado. A única que faz parte de todos os segmentos é a personagem de Debbie Reynolds mas ela não é uma figura de ponta no mundo do faroeste. Quem não gosta dela certamente torcerá o nariz. Assim em conclusão podemos definir "A Conquista do Oeste" como um filme grande mas não um grande filme. Faltou um texto melhor escrito, certamente.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 21 de abril de 2006
Filmografia Comentada: Clint Eastwood
Clint Eastwood já escreveu seu nome na história do cinema mundial. Ator, roteirista e aclamado diretor ele que começou sua carreira na TV já ultrapassou a categoria de lenda viva. Ao longo de uma vasta filmografia conseguiu caminhar com igual sucesso em diversos gêneros: westerns, policiais, suspenses e dramas. Segue abaixo comentários sobre filmes do ator e diretor.
Meu Nome é Coogan
"Meu Nome é Coogan" é um dos filmes mais curiosos da filmografia de Clint Eastwood. Aqui ele interpreta um assistente de Xerife do Arizona que vai até Nova Iorque trazer um prisioneiro sob custódia. O roteiro se baseia justamente no choque cultural entre o sujeito durão, red neck do interior, e a grande cidade e seus costumes modernos, com resquícios ainda da geração Hippie (entenda-se muita amor livre, drogas e promiscuidade, como convém ao clima ideológico reinante dentro dos jovens rebeldes da década de 1960). O roteiro obviamente brinca com a imagem de Eastwood de seus famosos faroestes e tenta tirar humor em cima da diferença de personalidade entre o sujeito austero e conservador com o ambiente liberal da cidade grande. O enredo poderia render muito mais na minha opinião mas em seus 90 minutos vamos acompanhando muita perda de potencial do filme, justamente porque os roteiristas insistiram em criar um romance pouco convincente entre Clint e uma psicóloga (interpretada pela atriz Susan Clark). Isso quebrou a coluna dorsal do filme pois o aspecto policial foi bastante prejudicado pelo quebra de ritmo do romance bem no meio da trama. Embora não seja um western Clint Eastwood repete seus personagens dos filmes de faroeste, só que aqui a ação obviamente se desloca para uma Nova Iorque sufocante, dos tempos atuais. A direção de Don Siegel se perde um pouco por causa dessa indecisão do roteiro pois o filme não se decide em ser um filme de ação ou um romance mostrando a diferença de costumes do casal. Uma hora o filme se torna ágil e rápido para depois cair em cenas absurdamente chatas e arrastadas. Enfim, "Meu Nome é Coogan" é um bom policial com jeitão de western mas seguramente poderia ser bem melhor se não tivessem apelado tanto para o namorico de fotonovela do personagem principal.
Punhos de Aço - Um Lutador de Rua
Depois de interpretar pistoleiros mal encarados em desertos inóspitos e de viver Dirty, o sujo, em vários filmes de sucesso comercial, Clint Eastwood resolveu dar uma suavizada na sua imagem. Ainda seria durão em filmes como esse mas agora tudo seria temperado com boas doses de humor e diversão. Esse "Punhos de Aço" segue bem a linha de seu predecessor, "Doido Para Brigar, Louco Para Amar". Aqui Clint repete o papel do caminhoneiro Philo, um cara durão que ganha a vida lutando em brigas de rua onde todos apostam, desde policiais a milionários e donas de casa. O diferencial é que Philo ainda mora com a mãe, tem um macaco de estimação, Clyde (responsável por vários momentos de humor durante o filme) e uma namorada cujo relacionamento nunca sai do "chove mas não molha". O tom do roteiro é de chanchada mesmo, onde todos são propositalmente caricaturais, inclusive os vilões. Com trilha musical country esse filme tem um atrativo para quem gosta da história do rock: a presença muito especial de Fats Domino, que canta em um bar de beira de estrada. Enfim, Punhos de Aço é diversão descompromissada para assistir sem levar nada à sério. Vale pela curiosidade de ver Clint Eastwood em um papel totalmente soft e familiar.
Bronco Billy
Bronco Billy é basicamente uma homenagem a três coisas. Primeiro é uma homenagem ao mundo do circo, à vida daqueles que ganham seu sustento trabalhando cidade após cidade, levando esse secular entretenimento aos lugares mais remotos. Clint Eastwood não esconde que de certa forma homenageia aqui o famoso Buffalo Bill que fez fama e fortuna com seu show itinerante do velho oeste no começo do século passado (Buffalo Bill tem inclusive um ótimo filme enfocando sua vida, estrelado por Paul Newman). Outra homenagem que Clint faz com seu filme é em relação à mitologia do western. Ele brinca com sua própria imagem de cowboy no cinema. Achei excelente esse bom humor por parte dele em se auto parodiar. Por fim, e o mais importante, Clint homenageia o direito de cada um realizar seus sonhos. A cena que define Bronco Billy é aquela em que o personagem de Clint explica para sua companheira que ele tinha sido a vida inteira um mero vendedor de sapatos da cidade grande até que um dia resolveu largar tudo para correr atrás de seus sonhos. No caso o sonho que ele almejava desde a infância era a de ser um cowboy de verdade (igual aos que via no cinema quando criança). Eu achei tão lírica essa situação que valeu pelo filme inteiro. Enfim, ótima diversão para todas as idades e que mostra bem que o talento de Clint Eastwood como cineasta vem de longe!
Magnum 44
Estou fazendo uma retrospectiva dos filmes de Clint Eastwood. Nesse fim de semana revi Magnum 44, segundo filme da série com o personagem Dirty Harry, o policial durão que não leva desaforos para casa A trama do filme é até simples: um grupo de policiais novatos na força se une para limpar as ruas de San Francisco com suas próprias mãos. Dirty Harry então tenta combater a corrupção policial. Algumas coisas me chamaram a atenção. Se no primeiro filme Harry, o Sujo, era o justiceiro, aqui na sequência ele luta contra o esquadrão da morte formado dentro de sua corporação. Não deixa de ser muito irônica a premissa do roteiro que coloca Harry combatendo colegas de farda que no fundo estão agindo de acordo com o seu próprio modo de pensar. Talvez os produtores tenham sentido as críticas contra o primeiro filme e colocaram o personagem de Clint Eastwood no outro lado da balança nessa continuação. Aqui ele combate justamente o que ele próprio defendia indiretamente em "Perseguidor Implacável". Outro fato curioso: os vilões do filme são patrulheiros, usam capacete e roupas praticamente idênticas às usadas pelo vilão ciborgue de "Exterminador do Futuro 2", inclusive várias cenas de perseguição nas ruas de San Francisco me lembraram imediatamente do filme de James Cameron. Teria sido Plágio? Pode ser, mais um na longa lista de plágios de Cameron, que já havia sido acusado de se apropriar de ideias alheias em seu filme de maior sucesso, "Avatar". Mas não é só ele que andou roubando argumentos desse filme. Uma cena, de Dirty Harry em um pequeno mercadinho, me lembrou também muito de uma das sequências mais famosas de "Stallone Cobra". Pois é, no mundo do cinema parece que nada se cria, tudo se recicla. Todos esses exemplos mostram como Dirty Harry virou paradigma dos filmes policiais até os dias atuais. Eu atribuo isso ao fato do personagem ser na realidade um justiceiro, como àqueles que vemos nos filmes de western, o que acaba saciando, mesmo que no mundo da ficção, a sede de justiça da sociedade moderna.
A Marca da Forca
Jed Cooper (Cint Eastwood) é confundido com um criminoso sendo espancado e linchado por um xerife corrupto e seu bando. Tempos depois retorna ao mesmo local para acertar as devidas contas entre eles. Eu costumo dizer que só dois atores garantem qualidade em seus filmes de western. Um é John Wayne. O outro é Clint Eastwood. Simplesmente não existem filmes com eles do gênero faroeste que sejam ruins. Todos são no mínimo bons, quando não são excepcionais. Esse "A Marca da Forca" é um exemplo claro dessa afirmação. Gosto muito dos antigos westerns da carreira do Clint. Nos anos 60 e 70 Clint estrelou uma série de ótimos filmes, quase sempre fazendo o mesmo papel, o do pistoleiro misterioso e de poucas palavras, que surge do nada e da mesma forma some ao final do filme. Esses personagens enigmáticos porém sempre tinham um passado por trás e nunca iam a essas cidades perdidas do velho oeste sem um objetivo em mente. Geralmente no decorrer do filme o espectador ia aos poucos entendendo o que ele fazia ali e quais eram seus propósitos. Clint Eastwood, com olhar de pedra encontrou seu veículo ideal nesse tipo de produção. A fórmula era certa e Clint colecionou uma série de sucessos de bilheteria assim. Esse aqui segue basicamente essa linha embora tenha diferenças. Clint ainda continua durão mas o roteiro abre algumas concessões. Ao ler a sinopse a pessoa pode ser levada ao erro de pensar que tudo não passa de um acerto de contas entre ele e os vilões que tentaram lhe enforcar no começo do filme. Pois acredite, o filme tem um bom subtexto sobre a questão de se fazer justiça com as próprias mãos e até abre espaço para algumas cenas de romance com o personagem de Eastwood! Tudo isso porém não alivia e nem tira o filme de seu foco principal, o de ser um bang bang à moda antiga, com muitos tiroteios, enforcamentos e socos! Em essência é um legítimo western da primeira fase da carreira de Clint. Se você gosta não vai se arrepender.
Perseguidor Implacável
Um dia antes do assassinato do cartunista Glauco eu assisti o primeiro filme da série Dirty Harry, que no Brasil se chamou Perseguidor Implacável. O filme, um policial eficiente, sempre foi polêmico por causa de seu subtexto. Basicamente ele prega a ineficiência do sistema jurídico e a vingança olho por olho, dente por dente, como uma forma de saciar a sede de justiça da sociedade. A morte de Glauco pelas mãos de um jovem de classe média alta de São Paulo, que está foragido e que muito provavelmente terá uma defesa de primeira linha, com ótimos advogados, vai levantar novamente esse tema para o dia a dia das pessoas. Afinal, a chamada Justiça realmente promove justiça e pune os crimes de forma adequada ou teremos que voltar ao velho esquema da justiça privada, feita pelas próprias mãos? Para Dirty Harry tudo é muito simples, basta empunhar sua Magnum 44 e mandar fogo em cima dos meliantes. Fácil, rápido e eficaz; Em determinada cena do filme Harry se irrita quando o comissário de polícia lhe avisa que a prisão que ele fez era completamente ilícita e que não teria valor jurídico, o que iria ocasionar a soltura do criminoso, que assim estaria de volta às ruas. O problema nasceu porque o detetive interpretado por Clint Eastwood havia invadido um local sem mandado judicial, ele simplesmente arrebentou as portas e foi lá pegar o bandido. Como prega o direito dos países ocidentais não se pode invadir um local sem autorização judicial. Para o cidadão comum isso não passa de uma firula jurídica, até porque no final tudo não deu certo? Harry não prendeu o Serial Killer? Bom, essa visão simplista não iria valer se o local invadido fosse sua própria casa, não é mesmo? É isso, as pessoas de uma forma em geral não conseguem entender que todos esses direitos e garantias individuais servem para proteger o cidadão do próprio Estado, que sem nenhum tipo de norma que regulasse o seu poder iria obviamente abusar do mesmo. Assim nos próximos meses prevejo o tema novamente na boca do povo, com todos indignados pelos direitos que serão aplicados em relação ao assassino de Glauco. Para muitos seria muito melhor que ele fosse vingado, linchado em praça público, ou então que algum justiceiro como Dirty Harry desse cabo dele de uma vez por todas. Na mente de muitos basta uma bala para resolver tudo. As pessoas geralmente confundem vingança com justiça. Isso pode até mesmo dar certo em um filme policial mas na vida real tenho certeza que ninguém gostaria de ter sua vida nas mãos de um Dirty Harry da Polícia brasileira.
O Desafio das Águias
General americano é feito prisioneiro por tropas alemãs. O alto oficial tem conhecimento dos planos aliados para o desembarque do dia D. Temendo que sob tortura ele revele esses planos uma equipe de elite do exército inglês é enviado com a missão de resgatá-lo de uma fortaleza quase inexpugnável onde ele é feito prisioneiro. Juntar o veterano Richard Burton ao jovem Clint Eastwood em um filme que une II Guerra Mundial e contra espionagem parece, a priori, uma ótima ideia. Foi justamente isso que o diretor Brian G. Hutton fez no finalzinho dos anos 60 com esse "O Desafio das Águias". O filme é ágil (apesar da duração) e mantém um bom nível nas diversas cenas de ação. Embora haja uma interessante subtrama de espionagem envolvida no roteiro o que dá o tom aqui realmente são as cenas de batalha, sabotagem e alpinismo. O filme em nenhum momento nega seu objetivo de ser um entretenimento de bom nível apenas. Em uma época em que os efeitos visuais eram primitivos, as cenas no teleférico da base alemã nos alpes impressiona. Embora o uso de back projection seja claro se percebe também que os dublês realmente ficaram pendurados por lá em diversos momentos, o que demonstra como eram bons em suas funções. Curioso entender que "O Desafio das Águias" faz parte da última geração de filmes de guerra aonde não se discutia ou se colocava em debate os problemas que conflitos como esse causavam. De certa forma os filmes de guerra mudariam radicalmente com o lançamento de "Apocalypse Now" alguns anos depois. Ao invés de simples filmes de ação as produções desse gênero iriam ser bem mais psicológicas, nada ufanistas ou patrióticas. Tudo iria desandar no chamado círculo do Vietnã com filmes que iriam invadir as telas na década de 80. Nesse aspecto não procurem nada parecido aqui em " Where Eagles Dare" pois o filme é pura diversão escapista apenas. Se o roteiro não inova o elenco pelo menos é de primeira linha. Richard Burton, já envelhecido e com olhos de ressaca (seu alcoolismo só aumentou ao longo dos anos) consegue dar conta do recado, apesar de estar visivelmente fora de forma. Já Clint Eastwood mostra porque iria se tornar um dos grandes astros de Hollywood. Jovial, com vasta cabeleira e pinta de durão o futuro Dirty Harry não economiza nas balas e nas porradas, ambas distribuídas fartamente ao longo do filme. Enfim, "Desafio das Águias" é indicado para apreciadores de filmes de guerra bem movimentados, com fartas doses de ação e que não se importem com um ou outro furo do roteiro. Faz parte de uma linda de produção que estava chegando ao fim. Filmes de guerra com muita ação e só. Se isso faz seu gosto pessoal procure assistir, não vai se arrepender.
Coração de Caçador
Um diretor excêntrico leva toda uma equipe de cinema de Hollywood para a África onde pretende rodar um filme de sucesso para pagar seus inúmeros credores. Chegando no continente selvagem ele se torna obcecado em caçar um elefante africano nas extensas savanas da região. O filme foi baseado numa história real. O diretor de cinema que Clint Eastwood interpreta é na realidade o famoso John Huston e o filme que eles tentam concluir é na verdade o clássico "Uma Aventura na África" com Katherine Hepburn e Humphrey Bogart. De tão conturbadas essas filmagens na África selvagem entraram para a mitologia de Hollywood. O roteirista do filme escreveu seu próprio diário das filmagens que acabaria dando origem a um popular romance (do qual esse filme é baseado). Até mesmo Katherine Hepburn resolveu colocar no papel todas as aventuras que passou ao lado de Huston. Material do que se passou realmente não falta. Para quem não sabe John Huston foi um dos maiores diretores da era de ouro do cinema americano. Gênio na direção era também um cineasta complicado de se lidar. Geralmente comprava brigas com produtores e estúdios e colocava seu elenco em situações de saia justa durante as filmagens. Huston colecionou tantos sucessos como inimizades no meio e por isso era uma personalidade controvertida. Mais de uma vez largou um filme pela metade e abandonou tudo sem maiores explicações. Seus projetos inacabados são geralmente citados em várias passagens da história de Hollywood. "Adeus às Armas" é um exemplo disso. Um belo dia se encheu das exigências do estúdio, pegou seu chapéu e simplesmente foi embora sem dar satisfação. Geralmente era processado depois, perdia fortunas em indenizações mas não mudava seu jeito de ser. Se auto denominava um autêntico artista e odiava os aspectos comercias de seus filmes. Coração de Caçador é seguramente um dos filmes mais inspirados do cineasta Clint Eastwood, um inteligente exercício de metalinguagem que passeia pela história do cinema americano. Também é sua homenagem muito particular a John Huston, diretor que ele sempre admirou e procurou seguir seus passos. Clint certamente aprendeu muito com o mestre. Sua direção aqui é um exemplo, firme, segura e muito correta mas não é só. Quem acha que Eastwood é um ator limitado, de poucas caracterizações, precisa ver o filme para assistir uma de suas melhores interpretações. Compondo um tipo bem diferente do habitual Clint traz de volta à tona todas as nuances de John Huston: suas excentricidades, seu jeito despojado de ser e sua incrível sede de viver intensamente. Recentemente vi cenas de Huston captadas por membros de sua equipe dentro dos sets de filmagens. Basta assistir a essas imagens para entender como Clint foi feliz em sua caracterização. Até nos pequenos gestos, no cigarro eternamente acesso no canto da boca, no olhar fixo e penetrante, Clint recriou a personalidade de John Huston com extrema fidelidade. Enfim, "White Hunter, Black Heart" (Caçador Branco, Coração Negro) é seguramente uma das melhores obras da filmografia de Clint Eastwood. Uma homenagem mais do que sincera de um cineasta para outro. Simplesmente imperdível.
Cartas de Iwo Jima
Clint Eastwood foi extremamente ousado ao iniciar um projeto que daria origem a dois filmes sobre a II Guerra Mundial em 2005. O primeiro filme se chamaria "A Conquista da Honra" e se focava bastante no lado americano do conflito. A segunda produção seria essa, "Cartas de Iwo Jima", mostrando o lado japonês de uma das batalhas mais sangrentas da guerra. Iwo Jima era uma pequena ilha vulcânica no meio do Pacífico considerada naquele momento histórico como a "porta de entrada" para a invasão americana ao Japão. Era a ante sala de uma enorme invasão das tropas aliadas nas duas ilhas principais do império japonês, por essa razão a batalha foi das mais aguerridas e sangrentas de todo o conflito. Não havia a possibilidade do exército do imperador abrir mão de um território tão vital como aquele. O roteiro foi baseado em uma publicação que compilava cartas do general Tadamichi Kuribayashi. O curioso desses relatos que sobreviveram ao conflito é que mostram um militar de alta linhagem que a despeito de toda a hierarquia e rigidez de sua patente não conseguiu esconder o lado humano daquela tragédia que iria se abater sobre suas tropas. Seu relato é de ansiedade mas também de realismo pois sabia que seria quase impossível deter a invasão e a conquista do local. Como sabemos dentro daquele contexto a derrota militar era vista com uma carga de desonra pessoal tão profunda que muitos preferiam se matar do que voltarem derrotados para o Japão. O general sabia que se falhasse não iria sobreviver à luta. "Cartas de Iwo Jima" foi recebido com certa má vontade por alguns veteranos americanos. Não era para menos. Eles se ressentiram pelo fato de um filme americano, dirigido por um americano ter que retratar justamente as tropas inimigas, sob seu ponto de vista. Esqueceram que esse foi um dos aspectos que Clint Eastwood mais prezou em seu projeto que era justamente mostrar os dois lados do mesmo conflito. O resultado provou-se melhor do que em "A Conquista da Honra". O material era melhor e o filme conta com um excelente elenco. Além disso aqui Clint não precisou se preocupar com o lado da patriotada americana que sempre está presente nesse tipo de filme. Mais solto o cineasta conseguiu um lado mais humano bem mais presente do que em seu outro filme. Todos os personagens são muito humanos, sem a necessidade de posarem de heróis ou símbolos da pátria. No saldo final temos um dos melhores trabalhos já realizados mostrando o dia a dia, o cotidiano e as angústias das tropas japonesas naquela pequena ilha perdida que quase ninguém realmente queria mas que não poderiam se dar ao luxo de perdê-la. Aula de história e humanismo que não se aprende na escola.
O Estranho Sem Nome
Um cavaleiro errante (Clint Eastwood) chega na pequenina cidade de Lago. Hostilizado por alguns moradores locais acaba tendo que usar de sua habilidade no gatilho. Após matar 3 deles é convidado para defender a cidade de um grupo de malfeitores que ao saírem da prisão tinham jurado vingança contra àqueles que os mandaram para atrás das grades. O estranho aceita defender Lago desses bandidos mas começa a abusar de sua nova posição, enfrentando as autoridades locais e exigindo que se cumpra suas ordens, algumas bem estranhas, como pintar toda a cidade de vermelho, por exemplo. “O Estranho Sem Nome” é um belo registro do talento de Eastwood como cineasta. Assumindo a direção pela terceira vez em sua carreira ele mostra muita firmeza no desenrolar da estória, criando inclusive todo um clima misterioso e enigmático sobre a verdadeira identidade de seu personagem. Clint Eastwood se mostra muito habilidoso ao manipular e tirar o melhor proveito de alguns dos símbolos mais caros à mitologia do western. Por exemplo a figura do cavaleiro errante, solitário, que chega num pequeno local para impor justiça ou então promover sua vingança pessoal. O pistoleiro rápido e invencível no gatilho também está presente, além do suspense e tensão que rondam a chegada de um bando de facínoras na cidadela. Clint usa de todos esses elementos com elegância e nunca perde a mão no filme. Alguns poderiam até dizer que são meros clichês mas o fato é que sob o comando de Eastwood tudo soa como novo e impactante. Tem que realmente ser muito inventivo para conseguir algo assim – e Clint certamente conseguiu. “O Estranho Sem Nome”, um faroeste de primeira linha, merece ser revisto sempre que possível e mais ainda pelos fãs de Eastwood, aqui em plena forma.
Por Um Punhado de Dólares
Esse é um dos grandes clássicos do chamado western spaghetti. O termo que pode até soar engraçado hoje em dia se refere aos faroestes produzidos e rodados na Itália com atores e equipe técnica daquele país, muitas vezes usando pseudônimos americanizados. Como se sabe o Western é um gênero tipicamente norte-americano pois o tema central é justamente a conquista do oeste daquela nação. Os italianos porém não se importaram muito com esse detalhe e a partir da década de 60 intensificaram a produção desse tipo de filme. Além da nacionalidade outras características distinguem bem os filmes italianos dos americanos. A ação é bem mais incessante, não há muita preocupação com roteiros bem elaborados e as interpretações tendem ao exagero, com vilões cartunescos e muita violência. Esse "Por Um Punhado de Dólares" tem tudo isso mas também é uma fita diferenciada. Essa singularidade tem nome: Sergio Leone. Cineasta talentoso, hábil, ele mostra nesse filme porque ainda hoje é um considerado um dos grandes mestres do cinema. O uso de tomadas ousadas, cenas com muito clima e detalhes, além da combinação muito bem realizada entre trilha sonora e ação fizeram toda a diferença do mundo. As cenas de violência não são ainda tão bem elaboradas como às que veríamos em futuros trabalhos assinados pelo diretor mas aqui já há nitidamente um esboço de seu estilo e forma de trabalhar. O roteiro simplório não impede que Leone consiga mostrar grandes feitos em sua direção. O próprio duelo final é um exemplo, com ótima edição e enquadramento. Para coroar ainda mais esse faroeste temos a presença de um dos grandes atores desse gênero: Clint Eastwood. Aqui ele interpreta o pistoleiro sem nome que chega numa cidadezinha empoeirada no meio do deserto. O local é disputado por dois grupos rivais, ambos violentos e extremamente armados. O personagem de Eastwood então resolve tirar proveito dessa rivalidade. O que se sucede são muitos tiroteios, duelos e cenas de ação bem ao estilo do western spaghetti. A trilha sonora de Ennio Morricone pontua cada cena, cada tensão, cada troca de tiros. Parece ser onipresente. A conclusão que se chega ao final de sua exibição é que embora muitos aspectos do filme estejam datados e ultrapassados ele ainda resiste como um excelente exemplo do tipo de cinema que se realizava na Itália durante a década de 60. Além disso é um ótimo testemunho do talento de Sergio Leone, um diretor de muito tato e inspiração.
Pablo Aluísio.
Meu Nome é Coogan
"Meu Nome é Coogan" é um dos filmes mais curiosos da filmografia de Clint Eastwood. Aqui ele interpreta um assistente de Xerife do Arizona que vai até Nova Iorque trazer um prisioneiro sob custódia. O roteiro se baseia justamente no choque cultural entre o sujeito durão, red neck do interior, e a grande cidade e seus costumes modernos, com resquícios ainda da geração Hippie (entenda-se muita amor livre, drogas e promiscuidade, como convém ao clima ideológico reinante dentro dos jovens rebeldes da década de 1960). O roteiro obviamente brinca com a imagem de Eastwood de seus famosos faroestes e tenta tirar humor em cima da diferença de personalidade entre o sujeito austero e conservador com o ambiente liberal da cidade grande. O enredo poderia render muito mais na minha opinião mas em seus 90 minutos vamos acompanhando muita perda de potencial do filme, justamente porque os roteiristas insistiram em criar um romance pouco convincente entre Clint e uma psicóloga (interpretada pela atriz Susan Clark). Isso quebrou a coluna dorsal do filme pois o aspecto policial foi bastante prejudicado pelo quebra de ritmo do romance bem no meio da trama. Embora não seja um western Clint Eastwood repete seus personagens dos filmes de faroeste, só que aqui a ação obviamente se desloca para uma Nova Iorque sufocante, dos tempos atuais. A direção de Don Siegel se perde um pouco por causa dessa indecisão do roteiro pois o filme não se decide em ser um filme de ação ou um romance mostrando a diferença de costumes do casal. Uma hora o filme se torna ágil e rápido para depois cair em cenas absurdamente chatas e arrastadas. Enfim, "Meu Nome é Coogan" é um bom policial com jeitão de western mas seguramente poderia ser bem melhor se não tivessem apelado tanto para o namorico de fotonovela do personagem principal.
Punhos de Aço - Um Lutador de Rua
Depois de interpretar pistoleiros mal encarados em desertos inóspitos e de viver Dirty, o sujo, em vários filmes de sucesso comercial, Clint Eastwood resolveu dar uma suavizada na sua imagem. Ainda seria durão em filmes como esse mas agora tudo seria temperado com boas doses de humor e diversão. Esse "Punhos de Aço" segue bem a linha de seu predecessor, "Doido Para Brigar, Louco Para Amar". Aqui Clint repete o papel do caminhoneiro Philo, um cara durão que ganha a vida lutando em brigas de rua onde todos apostam, desde policiais a milionários e donas de casa. O diferencial é que Philo ainda mora com a mãe, tem um macaco de estimação, Clyde (responsável por vários momentos de humor durante o filme) e uma namorada cujo relacionamento nunca sai do "chove mas não molha". O tom do roteiro é de chanchada mesmo, onde todos são propositalmente caricaturais, inclusive os vilões. Com trilha musical country esse filme tem um atrativo para quem gosta da história do rock: a presença muito especial de Fats Domino, que canta em um bar de beira de estrada. Enfim, Punhos de Aço é diversão descompromissada para assistir sem levar nada à sério. Vale pela curiosidade de ver Clint Eastwood em um papel totalmente soft e familiar.
Bronco Billy
Bronco Billy é basicamente uma homenagem a três coisas. Primeiro é uma homenagem ao mundo do circo, à vida daqueles que ganham seu sustento trabalhando cidade após cidade, levando esse secular entretenimento aos lugares mais remotos. Clint Eastwood não esconde que de certa forma homenageia aqui o famoso Buffalo Bill que fez fama e fortuna com seu show itinerante do velho oeste no começo do século passado (Buffalo Bill tem inclusive um ótimo filme enfocando sua vida, estrelado por Paul Newman). Outra homenagem que Clint faz com seu filme é em relação à mitologia do western. Ele brinca com sua própria imagem de cowboy no cinema. Achei excelente esse bom humor por parte dele em se auto parodiar. Por fim, e o mais importante, Clint homenageia o direito de cada um realizar seus sonhos. A cena que define Bronco Billy é aquela em que o personagem de Clint explica para sua companheira que ele tinha sido a vida inteira um mero vendedor de sapatos da cidade grande até que um dia resolveu largar tudo para correr atrás de seus sonhos. No caso o sonho que ele almejava desde a infância era a de ser um cowboy de verdade (igual aos que via no cinema quando criança). Eu achei tão lírica essa situação que valeu pelo filme inteiro. Enfim, ótima diversão para todas as idades e que mostra bem que o talento de Clint Eastwood como cineasta vem de longe!
Magnum 44
Estou fazendo uma retrospectiva dos filmes de Clint Eastwood. Nesse fim de semana revi Magnum 44, segundo filme da série com o personagem Dirty Harry, o policial durão que não leva desaforos para casa A trama do filme é até simples: um grupo de policiais novatos na força se une para limpar as ruas de San Francisco com suas próprias mãos. Dirty Harry então tenta combater a corrupção policial. Algumas coisas me chamaram a atenção. Se no primeiro filme Harry, o Sujo, era o justiceiro, aqui na sequência ele luta contra o esquadrão da morte formado dentro de sua corporação. Não deixa de ser muito irônica a premissa do roteiro que coloca Harry combatendo colegas de farda que no fundo estão agindo de acordo com o seu próprio modo de pensar. Talvez os produtores tenham sentido as críticas contra o primeiro filme e colocaram o personagem de Clint Eastwood no outro lado da balança nessa continuação. Aqui ele combate justamente o que ele próprio defendia indiretamente em "Perseguidor Implacável". Outro fato curioso: os vilões do filme são patrulheiros, usam capacete e roupas praticamente idênticas às usadas pelo vilão ciborgue de "Exterminador do Futuro 2", inclusive várias cenas de perseguição nas ruas de San Francisco me lembraram imediatamente do filme de James Cameron. Teria sido Plágio? Pode ser, mais um na longa lista de plágios de Cameron, que já havia sido acusado de se apropriar de ideias alheias em seu filme de maior sucesso, "Avatar". Mas não é só ele que andou roubando argumentos desse filme. Uma cena, de Dirty Harry em um pequeno mercadinho, me lembrou também muito de uma das sequências mais famosas de "Stallone Cobra". Pois é, no mundo do cinema parece que nada se cria, tudo se recicla. Todos esses exemplos mostram como Dirty Harry virou paradigma dos filmes policiais até os dias atuais. Eu atribuo isso ao fato do personagem ser na realidade um justiceiro, como àqueles que vemos nos filmes de western, o que acaba saciando, mesmo que no mundo da ficção, a sede de justiça da sociedade moderna.
A Marca da Forca
Jed Cooper (Cint Eastwood) é confundido com um criminoso sendo espancado e linchado por um xerife corrupto e seu bando. Tempos depois retorna ao mesmo local para acertar as devidas contas entre eles. Eu costumo dizer que só dois atores garantem qualidade em seus filmes de western. Um é John Wayne. O outro é Clint Eastwood. Simplesmente não existem filmes com eles do gênero faroeste que sejam ruins. Todos são no mínimo bons, quando não são excepcionais. Esse "A Marca da Forca" é um exemplo claro dessa afirmação. Gosto muito dos antigos westerns da carreira do Clint. Nos anos 60 e 70 Clint estrelou uma série de ótimos filmes, quase sempre fazendo o mesmo papel, o do pistoleiro misterioso e de poucas palavras, que surge do nada e da mesma forma some ao final do filme. Esses personagens enigmáticos porém sempre tinham um passado por trás e nunca iam a essas cidades perdidas do velho oeste sem um objetivo em mente. Geralmente no decorrer do filme o espectador ia aos poucos entendendo o que ele fazia ali e quais eram seus propósitos. Clint Eastwood, com olhar de pedra encontrou seu veículo ideal nesse tipo de produção. A fórmula era certa e Clint colecionou uma série de sucessos de bilheteria assim. Esse aqui segue basicamente essa linha embora tenha diferenças. Clint ainda continua durão mas o roteiro abre algumas concessões. Ao ler a sinopse a pessoa pode ser levada ao erro de pensar que tudo não passa de um acerto de contas entre ele e os vilões que tentaram lhe enforcar no começo do filme. Pois acredite, o filme tem um bom subtexto sobre a questão de se fazer justiça com as próprias mãos e até abre espaço para algumas cenas de romance com o personagem de Eastwood! Tudo isso porém não alivia e nem tira o filme de seu foco principal, o de ser um bang bang à moda antiga, com muitos tiroteios, enforcamentos e socos! Em essência é um legítimo western da primeira fase da carreira de Clint. Se você gosta não vai se arrepender.
Perseguidor Implacável
Um dia antes do assassinato do cartunista Glauco eu assisti o primeiro filme da série Dirty Harry, que no Brasil se chamou Perseguidor Implacável. O filme, um policial eficiente, sempre foi polêmico por causa de seu subtexto. Basicamente ele prega a ineficiência do sistema jurídico e a vingança olho por olho, dente por dente, como uma forma de saciar a sede de justiça da sociedade. A morte de Glauco pelas mãos de um jovem de classe média alta de São Paulo, que está foragido e que muito provavelmente terá uma defesa de primeira linha, com ótimos advogados, vai levantar novamente esse tema para o dia a dia das pessoas. Afinal, a chamada Justiça realmente promove justiça e pune os crimes de forma adequada ou teremos que voltar ao velho esquema da justiça privada, feita pelas próprias mãos? Para Dirty Harry tudo é muito simples, basta empunhar sua Magnum 44 e mandar fogo em cima dos meliantes. Fácil, rápido e eficaz; Em determinada cena do filme Harry se irrita quando o comissário de polícia lhe avisa que a prisão que ele fez era completamente ilícita e que não teria valor jurídico, o que iria ocasionar a soltura do criminoso, que assim estaria de volta às ruas. O problema nasceu porque o detetive interpretado por Clint Eastwood havia invadido um local sem mandado judicial, ele simplesmente arrebentou as portas e foi lá pegar o bandido. Como prega o direito dos países ocidentais não se pode invadir um local sem autorização judicial. Para o cidadão comum isso não passa de uma firula jurídica, até porque no final tudo não deu certo? Harry não prendeu o Serial Killer? Bom, essa visão simplista não iria valer se o local invadido fosse sua própria casa, não é mesmo? É isso, as pessoas de uma forma em geral não conseguem entender que todos esses direitos e garantias individuais servem para proteger o cidadão do próprio Estado, que sem nenhum tipo de norma que regulasse o seu poder iria obviamente abusar do mesmo. Assim nos próximos meses prevejo o tema novamente na boca do povo, com todos indignados pelos direitos que serão aplicados em relação ao assassino de Glauco. Para muitos seria muito melhor que ele fosse vingado, linchado em praça público, ou então que algum justiceiro como Dirty Harry desse cabo dele de uma vez por todas. Na mente de muitos basta uma bala para resolver tudo. As pessoas geralmente confundem vingança com justiça. Isso pode até mesmo dar certo em um filme policial mas na vida real tenho certeza que ninguém gostaria de ter sua vida nas mãos de um Dirty Harry da Polícia brasileira.
O Desafio das Águias
General americano é feito prisioneiro por tropas alemãs. O alto oficial tem conhecimento dos planos aliados para o desembarque do dia D. Temendo que sob tortura ele revele esses planos uma equipe de elite do exército inglês é enviado com a missão de resgatá-lo de uma fortaleza quase inexpugnável onde ele é feito prisioneiro. Juntar o veterano Richard Burton ao jovem Clint Eastwood em um filme que une II Guerra Mundial e contra espionagem parece, a priori, uma ótima ideia. Foi justamente isso que o diretor Brian G. Hutton fez no finalzinho dos anos 60 com esse "O Desafio das Águias". O filme é ágil (apesar da duração) e mantém um bom nível nas diversas cenas de ação. Embora haja uma interessante subtrama de espionagem envolvida no roteiro o que dá o tom aqui realmente são as cenas de batalha, sabotagem e alpinismo. O filme em nenhum momento nega seu objetivo de ser um entretenimento de bom nível apenas. Em uma época em que os efeitos visuais eram primitivos, as cenas no teleférico da base alemã nos alpes impressiona. Embora o uso de back projection seja claro se percebe também que os dublês realmente ficaram pendurados por lá em diversos momentos, o que demonstra como eram bons em suas funções. Curioso entender que "O Desafio das Águias" faz parte da última geração de filmes de guerra aonde não se discutia ou se colocava em debate os problemas que conflitos como esse causavam. De certa forma os filmes de guerra mudariam radicalmente com o lançamento de "Apocalypse Now" alguns anos depois. Ao invés de simples filmes de ação as produções desse gênero iriam ser bem mais psicológicas, nada ufanistas ou patrióticas. Tudo iria desandar no chamado círculo do Vietnã com filmes que iriam invadir as telas na década de 80. Nesse aspecto não procurem nada parecido aqui em " Where Eagles Dare" pois o filme é pura diversão escapista apenas. Se o roteiro não inova o elenco pelo menos é de primeira linha. Richard Burton, já envelhecido e com olhos de ressaca (seu alcoolismo só aumentou ao longo dos anos) consegue dar conta do recado, apesar de estar visivelmente fora de forma. Já Clint Eastwood mostra porque iria se tornar um dos grandes astros de Hollywood. Jovial, com vasta cabeleira e pinta de durão o futuro Dirty Harry não economiza nas balas e nas porradas, ambas distribuídas fartamente ao longo do filme. Enfim, "Desafio das Águias" é indicado para apreciadores de filmes de guerra bem movimentados, com fartas doses de ação e que não se importem com um ou outro furo do roteiro. Faz parte de uma linda de produção que estava chegando ao fim. Filmes de guerra com muita ação e só. Se isso faz seu gosto pessoal procure assistir, não vai se arrepender.
Coração de Caçador
Um diretor excêntrico leva toda uma equipe de cinema de Hollywood para a África onde pretende rodar um filme de sucesso para pagar seus inúmeros credores. Chegando no continente selvagem ele se torna obcecado em caçar um elefante africano nas extensas savanas da região. O filme foi baseado numa história real. O diretor de cinema que Clint Eastwood interpreta é na realidade o famoso John Huston e o filme que eles tentam concluir é na verdade o clássico "Uma Aventura na África" com Katherine Hepburn e Humphrey Bogart. De tão conturbadas essas filmagens na África selvagem entraram para a mitologia de Hollywood. O roteirista do filme escreveu seu próprio diário das filmagens que acabaria dando origem a um popular romance (do qual esse filme é baseado). Até mesmo Katherine Hepburn resolveu colocar no papel todas as aventuras que passou ao lado de Huston. Material do que se passou realmente não falta. Para quem não sabe John Huston foi um dos maiores diretores da era de ouro do cinema americano. Gênio na direção era também um cineasta complicado de se lidar. Geralmente comprava brigas com produtores e estúdios e colocava seu elenco em situações de saia justa durante as filmagens. Huston colecionou tantos sucessos como inimizades no meio e por isso era uma personalidade controvertida. Mais de uma vez largou um filme pela metade e abandonou tudo sem maiores explicações. Seus projetos inacabados são geralmente citados em várias passagens da história de Hollywood. "Adeus às Armas" é um exemplo disso. Um belo dia se encheu das exigências do estúdio, pegou seu chapéu e simplesmente foi embora sem dar satisfação. Geralmente era processado depois, perdia fortunas em indenizações mas não mudava seu jeito de ser. Se auto denominava um autêntico artista e odiava os aspectos comercias de seus filmes. Coração de Caçador é seguramente um dos filmes mais inspirados do cineasta Clint Eastwood, um inteligente exercício de metalinguagem que passeia pela história do cinema americano. Também é sua homenagem muito particular a John Huston, diretor que ele sempre admirou e procurou seguir seus passos. Clint certamente aprendeu muito com o mestre. Sua direção aqui é um exemplo, firme, segura e muito correta mas não é só. Quem acha que Eastwood é um ator limitado, de poucas caracterizações, precisa ver o filme para assistir uma de suas melhores interpretações. Compondo um tipo bem diferente do habitual Clint traz de volta à tona todas as nuances de John Huston: suas excentricidades, seu jeito despojado de ser e sua incrível sede de viver intensamente. Recentemente vi cenas de Huston captadas por membros de sua equipe dentro dos sets de filmagens. Basta assistir a essas imagens para entender como Clint foi feliz em sua caracterização. Até nos pequenos gestos, no cigarro eternamente acesso no canto da boca, no olhar fixo e penetrante, Clint recriou a personalidade de John Huston com extrema fidelidade. Enfim, "White Hunter, Black Heart" (Caçador Branco, Coração Negro) é seguramente uma das melhores obras da filmografia de Clint Eastwood. Uma homenagem mais do que sincera de um cineasta para outro. Simplesmente imperdível.
Cartas de Iwo Jima
Clint Eastwood foi extremamente ousado ao iniciar um projeto que daria origem a dois filmes sobre a II Guerra Mundial em 2005. O primeiro filme se chamaria "A Conquista da Honra" e se focava bastante no lado americano do conflito. A segunda produção seria essa, "Cartas de Iwo Jima", mostrando o lado japonês de uma das batalhas mais sangrentas da guerra. Iwo Jima era uma pequena ilha vulcânica no meio do Pacífico considerada naquele momento histórico como a "porta de entrada" para a invasão americana ao Japão. Era a ante sala de uma enorme invasão das tropas aliadas nas duas ilhas principais do império japonês, por essa razão a batalha foi das mais aguerridas e sangrentas de todo o conflito. Não havia a possibilidade do exército do imperador abrir mão de um território tão vital como aquele. O roteiro foi baseado em uma publicação que compilava cartas do general Tadamichi Kuribayashi. O curioso desses relatos que sobreviveram ao conflito é que mostram um militar de alta linhagem que a despeito de toda a hierarquia e rigidez de sua patente não conseguiu esconder o lado humano daquela tragédia que iria se abater sobre suas tropas. Seu relato é de ansiedade mas também de realismo pois sabia que seria quase impossível deter a invasão e a conquista do local. Como sabemos dentro daquele contexto a derrota militar era vista com uma carga de desonra pessoal tão profunda que muitos preferiam se matar do que voltarem derrotados para o Japão. O general sabia que se falhasse não iria sobreviver à luta. "Cartas de Iwo Jima" foi recebido com certa má vontade por alguns veteranos americanos. Não era para menos. Eles se ressentiram pelo fato de um filme americano, dirigido por um americano ter que retratar justamente as tropas inimigas, sob seu ponto de vista. Esqueceram que esse foi um dos aspectos que Clint Eastwood mais prezou em seu projeto que era justamente mostrar os dois lados do mesmo conflito. O resultado provou-se melhor do que em "A Conquista da Honra". O material era melhor e o filme conta com um excelente elenco. Além disso aqui Clint não precisou se preocupar com o lado da patriotada americana que sempre está presente nesse tipo de filme. Mais solto o cineasta conseguiu um lado mais humano bem mais presente do que em seu outro filme. Todos os personagens são muito humanos, sem a necessidade de posarem de heróis ou símbolos da pátria. No saldo final temos um dos melhores trabalhos já realizados mostrando o dia a dia, o cotidiano e as angústias das tropas japonesas naquela pequena ilha perdida que quase ninguém realmente queria mas que não poderiam se dar ao luxo de perdê-la. Aula de história e humanismo que não se aprende na escola.
O Estranho Sem Nome
Um cavaleiro errante (Clint Eastwood) chega na pequenina cidade de Lago. Hostilizado por alguns moradores locais acaba tendo que usar de sua habilidade no gatilho. Após matar 3 deles é convidado para defender a cidade de um grupo de malfeitores que ao saírem da prisão tinham jurado vingança contra àqueles que os mandaram para atrás das grades. O estranho aceita defender Lago desses bandidos mas começa a abusar de sua nova posição, enfrentando as autoridades locais e exigindo que se cumpra suas ordens, algumas bem estranhas, como pintar toda a cidade de vermelho, por exemplo. “O Estranho Sem Nome” é um belo registro do talento de Eastwood como cineasta. Assumindo a direção pela terceira vez em sua carreira ele mostra muita firmeza no desenrolar da estória, criando inclusive todo um clima misterioso e enigmático sobre a verdadeira identidade de seu personagem. Clint Eastwood se mostra muito habilidoso ao manipular e tirar o melhor proveito de alguns dos símbolos mais caros à mitologia do western. Por exemplo a figura do cavaleiro errante, solitário, que chega num pequeno local para impor justiça ou então promover sua vingança pessoal. O pistoleiro rápido e invencível no gatilho também está presente, além do suspense e tensão que rondam a chegada de um bando de facínoras na cidadela. Clint usa de todos esses elementos com elegância e nunca perde a mão no filme. Alguns poderiam até dizer que são meros clichês mas o fato é que sob o comando de Eastwood tudo soa como novo e impactante. Tem que realmente ser muito inventivo para conseguir algo assim – e Clint certamente conseguiu. “O Estranho Sem Nome”, um faroeste de primeira linha, merece ser revisto sempre que possível e mais ainda pelos fãs de Eastwood, aqui em plena forma.
Por Um Punhado de Dólares
Esse é um dos grandes clássicos do chamado western spaghetti. O termo que pode até soar engraçado hoje em dia se refere aos faroestes produzidos e rodados na Itália com atores e equipe técnica daquele país, muitas vezes usando pseudônimos americanizados. Como se sabe o Western é um gênero tipicamente norte-americano pois o tema central é justamente a conquista do oeste daquela nação. Os italianos porém não se importaram muito com esse detalhe e a partir da década de 60 intensificaram a produção desse tipo de filme. Além da nacionalidade outras características distinguem bem os filmes italianos dos americanos. A ação é bem mais incessante, não há muita preocupação com roteiros bem elaborados e as interpretações tendem ao exagero, com vilões cartunescos e muita violência. Esse "Por Um Punhado de Dólares" tem tudo isso mas também é uma fita diferenciada. Essa singularidade tem nome: Sergio Leone. Cineasta talentoso, hábil, ele mostra nesse filme porque ainda hoje é um considerado um dos grandes mestres do cinema. O uso de tomadas ousadas, cenas com muito clima e detalhes, além da combinação muito bem realizada entre trilha sonora e ação fizeram toda a diferença do mundo. As cenas de violência não são ainda tão bem elaboradas como às que veríamos em futuros trabalhos assinados pelo diretor mas aqui já há nitidamente um esboço de seu estilo e forma de trabalhar. O roteiro simplório não impede que Leone consiga mostrar grandes feitos em sua direção. O próprio duelo final é um exemplo, com ótima edição e enquadramento. Para coroar ainda mais esse faroeste temos a presença de um dos grandes atores desse gênero: Clint Eastwood. Aqui ele interpreta o pistoleiro sem nome que chega numa cidadezinha empoeirada no meio do deserto. O local é disputado por dois grupos rivais, ambos violentos e extremamente armados. O personagem de Eastwood então resolve tirar proveito dessa rivalidade. O que se sucede são muitos tiroteios, duelos e cenas de ação bem ao estilo do western spaghetti. A trilha sonora de Ennio Morricone pontua cada cena, cada tensão, cada troca de tiros. Parece ser onipresente. A conclusão que se chega ao final de sua exibição é que embora muitos aspectos do filme estejam datados e ultrapassados ele ainda resiste como um excelente exemplo do tipo de cinema que se realizava na Itália durante a década de 60. Além disso é um ótimo testemunho do talento de Sergio Leone, um diretor de muito tato e inspiração.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 20 de abril de 2006
Filmografia Comentada: Randolph Scott
Randolph Scott surgiu como dublê de Gary Cooper mas logo conseguiu seu próprio espaço no cinema americano. Embora tenha estrelado filmes de vários estilos foi no Western que ele finalmente encontrou seu nicho. Scott durante as décadas de 40, 50 e 60 se tornou campeão de bilheteria no mais americano dos gêneros cinematográficos. Suas produções eram bem realizadas, visando geralmente ocupar as matinês de fim de semana onde eram consumidos por fãs de faroestes. Segue abaixo comentários sobre alguns fillmes de sua vasta filmografia.
O Homem Que Luta Só
Um dos últimos filmes de Randolph Scott também é um dos melhores. Aqui ele interpreta o ex xerife e atual caçador de recompensas Ben Brigade. Ele caça o criminoso Billy John no deserto e acaba o capturando. Sua missão passa então a ser levar o bandoleiro para a cidade de Santa Cruz para que ele seja julgado e enforcado pelo homicídio que lá praticou. O problema é que no caminho ele terá que enfrentar índios hostis, outros caçadores de recompensas e o bando de Billy John, liderado agora por Jack, seu irmão (interpretado pelo famoso ator de vilões de western Lee Van Cleef). O roteiro de "O Homem Que Luta Só" pode até parecer simplista mas é um engano pois é primoroso. O personagem de Scott, um sujeito durão e de poucas palavras, não é exatamente o que parece ser. Na verdade ele nem tem tanta pressa assim em levar Billy John ao seu cadafalso. Suas reais intenções só são reveladas no clímax do filme e aí o espectador já está totalmente fisgado. Aliás vamos admitir que a cena final de "Ride Lonesome" é uma das mais belas que já vi em faroestes - Randolph Scott parado em frente a uma árvore de enforcamentos em chamas! Maravilhosa tomada! O diretor de "O Homem Que Luta Só" é o cineasta Budd Boetticher que fez vários westerns ao lado de Randolph Scott. Hoje em dia a obra desse diretor tem despertado muito interesse nos EUA pois todos reconhecem que ele nunca foi reconhecido em vida. Era um diretor inteligente, que fazia maravilhas em cena, mesmo com roteiros aparentemente simples. Esse aqui seria o penúltimo filme que rodaria ao lado de Scott (a última produção que reuniria a parceria seria "Cavalgada Trágica" no ano seguinte). Em conclusão digo que "Ride Lonesome" é sem dúvida um dos melhores momentos de Randolph Scott - extremamente bem escrito e dirigido prende a atenção da primeira à última cena.
O Pistoleiro
Mais uma produção bancada pelo próprio Randolph Scott. Curioso é que em pleno auge do chamado Star System (onde os atores eram quase escravos dos estúdios) Scott tenha trilhado um caminho próprio, produzindo seus próprios filmes e depois os negociando com os estúdios para distribuição (o que também aconteceu aqui com "O Pistoleiro" que acabou sendo lançado pela Columbia Pictures). Esse conta a estória de Jeff Travis (Randolph Scott) um renegado da Guerra Civil que para escapar da forca do exército ianque foge para uma pequena cidade do oeste com um nome falso. Lá se envolve com um grupo de assaltantes de diligências. Ao mesmo tempo em que planeja o roubo de cargas de ouro se enamora pela filha do dono da empresa de transportes, a bela Josie (Claire Trevor). O personagem de Scott é curioso. Nem é um mocinho de filmes típico de westerns e nem é um vilão assumido pois tem consciência e sente quando injustiças são cometidas. O interessante é que o ponto de partida dessa produção é a mesma de um filme de Audie Murphy chamado "Kansas Raiders" que assisti recentemente. Tanto o personagem de Scott como o de Murphy fazem parte do bando de Quintrail, um personagem histórico real que assaltava bancos e cidades inteiras durante a Guerra Civil Americana. E assim como o filme de Audie Murphy esse aqui também tem um bom elenco de apoio com os veteranos atores Ernest Borgnine e Lee Marvin. Em suma, outro bom faroeste de Scott que diverte acima de tudo.
O Resgate de um Bandoleiro
Pat Brennan (Randolph Scott) é um pequeno fazendeiro que vai até uma cidade para comprar um touro reprodutor para seu rebanho. Na viagem de volta a diligência em que se encontra é sequestrada pelo bando de Frank Usher (Richard Boone) que exige um resgate de 50 mil dólares pela vida da jovem filha de um rico dono de minas da região, que também estava na mesma carruagem. Esse é mais um faroeste produzido pelo próprio ator Randolph Scott. A fita é ágil, curtinha (para passar nas matinês) mas mesmo assim consegue manter bem o interesse. Enquanto estão sequestrados começa um jogo psicológico entre o mocinho Pat (Scott) e o vilão (Boone). Esse aliás é um dos pontos altos do roteiro que consegue criar bastante tensão e suspense em um filme que basicamente só seria um faroeste convencional. Grande parte do filme se passa num casebre no alto de uma colina em pleno deserto. O clima árido e hostil combina bem com o clima tenso. Curiosamente no comecinho do filme o personagem de Scott é amenizado, inclusive participando de uma pequena aposta ao montar um touro feroz. Além disso ele faz amizade com um garotinho, numa sacada do roteiro que achei ser inspirado em "Os Brutos Também Amam". Enfim, vale a pena conhecer mais esse trabalho de Scott.
Colt .45
Fitinha rápida estrelado por Randolph Scott para a Warner. Aqui ele interpreta Steve Farrell, um vendedor de armas da fábrica Colt que é roubado em pleno escritório do xerife por um bandido perigoso chamado Jason Brett (Zachary Scott, bem canastrão). Em posse dessas armas roubadas o criminoso forma um bando que fica conhecido como a "Quadrilha do Colt" e começa a assaltar diligências, bancos e moradores da região. Randolph Scott então sai em encalço do grupo de malfeitores. O filme é o que se pode chamar de "Bang Bang" autêntico pois o roteiro realmente foca na ação e nos tiroteios. A fita é curtinha (72 minutos) e foi feita assim visando aumentar as exibições nas matinês dos cinemas dos anos 50. O roteiro é bem simples e vai direto ao ponto, sem firulas. O elenco de Colt .45 chama atenção por causa da presença de Lloyde Bridges (o pai de Beau e Jeff Bridges). Seu papel é um tanto secundário mas ele se esforça para ser notado. Como sua esposa a estrelinha Ruth Roman, amiga pessoal de Randolph Scott que apesar da extensa filmografia (mais de cem filmes!) nunca conseguiu se tornar uma estrela de primeira grandeza. O diretor Edwin L. Marin era muito produtivo mas morreu pouco tempo depois da realização desse filme. Era um diretor de estúdio e fazia o que lhe era pedido pelos produtores. Realizador competente conseguiu bons resultados mesmo em produções B. Enfim, um faroeste bang bang legítimo, eficiente e divertido. Vale a pena assistir.
Pistoleiros do Entardecer
Grande filme. Esse western mostra muito bem a diferença que faz um grande diretor. Veja, tinha tudo para ser mais um faroeste de rotina da carreira de Randolph Scott mas isso seria óbvio demais. Sam Peckinpah consegue reverter certas máximas do gênero ao mesmo tempo em que é respeitoso à mitologia do velho oeste. Ao contrário de usar personagens que são indiscutivelmente mocinhos ou bandidos, o diretor coloca em cena sujeitos dúbios, que transitam entre cometer crimes ou protagonizar momentos de grande honra pessoal. É o caso de Gil Westrum (o último personagem da carreira de Randolph Scott que abandonaria o cinema logo após). Gil tem como objetivo roubar o ouro que foi contratado a transportar mas como acompanhamos no desenrolar do filme esse é apenas o ponto de partida de tudo o que acontecerá nas montanhas. É bom frisar porém que a estética da violência que seria marca registrada do diretor ainda não está presente nesse filme, o que era de se esperar. Filmado na primeira metade dos anos 60 o cineasta ainda não havia levado às últimas consequências suas escolhas estéticas e cinematográficas. Mesmo assim o filme é surpreendentemente bem roteirizado, com um clímax excelente, de tirar o chapéu. No final quem melhor define a essência do filme é a personagem Elsa (interpretada pela atriz Meriette Hartley). Ela explica que sempre foi levada a crer que havia o bem e o mal absolutos na vida, mas que depois de tudo o que passou compreendeu que na vida há pessoas que transitam de um lado ao outro, em uma zona cinzenta, tal como os personagens desse western. Uma conclusão simplesmente perfeita.
O Laço do Carrasco
O Major confederado Matt Stewart (Randolph Scott) acaba liderando uma tropa que decide roubar um carregamento de ouro do exército da União durante a guerra civil americana. O problema é que após ter em mãos toda essa fortuna acabam descobrindo que a guerra finalmente havia chegado ao fim! A partir daí o que fazer? Entregar o ouro ao exército da União o que os levaria inexoravelmente à morte por enforcamento ou ficar com todo o carregamento para eles? O choque de ambições seria inevitável. Assim Scott e seus subordinados (entre eles Lee Marvin) terão que lidar com a situação ao mesmo tempo em que lutam para preservar o ouro que agora é cobiçado por um bando de assassinos e ladrões. Mais um western produzido e estrelado pelo astro Randolph Scott. Na década de 1950 o ator decidiu que iria produzir seus próprios filmes. Como já havia ganho bastante dinheiro no cinema percebeu que tinha um público cativo e que por isso valia a pena investir em suas próprias películas. Além do mais nenhum investimento no mercado financeiro lhe traria tanto retorno como esse. A decisão foi mais do que acertada. Geralmente trabalhando com os grandes estúdios para distribuição Randolph Scott acabou fazendo fortuna pessoal com seus westerns. Realizando em média três filmes por ano o ator foi ficando cada vez mais milionário. Quando se aposentou das telas em 1962 estimava-se que já era dono de uma fortuna avaliada em mais de 100 milhões de dólares! "O Laço do Carrasco" ainda é um de seus filmes mais lembrados por fãs de western hoje em dia. O enredo é bem interessante mas o diretor e roteirista Roy Huggins não o desenvolve muito bem, pois muito potencial dessa estória foi desperdiçada na minha opinião. O principal erro é que ao invés de mostrar o desenlace dessa questão optou-se por priorizar mais o chamado Bang Bang (tiroteios e emboscadas). Scott segue com sua caracterização típica. Não há uma preocupação melhor em desenvolver os personagens do ponto de vista psicológico como acontecia nas parcerias entre Scott e o diretor Budd Boetticher. Aqui temos nitidamente um western de matinê - que aliás foi o ponto forte de Scott, onde ele realmente fez fortuna com filmes rápidos, ágeis e eficientes. Enfim, "O Laço do Carrasco" é um bom western dos anos 50 muito embora poderia sim ser bem melhor do que realmente é. Não é assim um dos melhores trabalhos de Randolph Scott mas merece ser visto (ou revisto) sempre que possível.
Arizona Violenta
Mais uma das produções de western de Randolph Scott da décade de 50: "Arizona Violenta". O filme é curioso por alguns motivos interessantes. O primeiro é que ele foi rodado nas mesmas locações em que "Sete Homens e um Destino" seria feito anos depois. Aquela mesma vilazinha ao pé da montanha. Produzido pelo próprio Randolph Scott que inclusive escolheu o local que depois ficaria famoso pelos fãs do gênero. Atuando ao seu lado no filme temos a atriz Jocelyn Brando, irmã de Marlon Brando. Para quem não sabe foi por causa da irmã Jocelyn que Brando resolveu ser ator ao se mudar para Nova Iorque após ser expulso da Academia Militar onde estudava. Jocelyn Brando porém nunca chegou a se tornar uma estrela. Era um atriz mediana, esforçada mas não muito brilhante.. Aqui sua atuação soa exagerada, o que contrasta com a tranquilidade e a austeridade de Scott, sempre com boa presença de cena (embora ele modestamente não se considerasse um grande ator). No filme Randolph Scott interpreta John Stewart, um rancheiro que tem problemas com um proprietário de terras (Richard Boone) que quer a todo custo dominar a região. O roteiro, muito eficiente por sinal, foi escrito por Irving Ravetch, um talentoso escritor que fez roteiros para grandes filmes como "O Mercador de Almas", "O Indomado" e um dos mais curiosos filmes da carreira de John Wayne, "Os Cowboys" onde ele virava um tipo de mestre para vários pupilos, garotos que queriam se tornar cowboys como ele. O diretor H. Bruce Humberstone (1901–1984) era um veterano que conseguiu imprimir ao filme uma excelente dose de aventura e ação. Não é para menos, ele era muito competente nesse aspecto, tanto que depois seria escalado para fazer filmes de Tarzan. A parceria com Scott daria mais frutos e ele voltaria a dirigir o ator no também eficiente faroeste "Colt 45". Enfim, "Arizona Violenta" é um western com cara de matinê - curtinho, divertido e eficiente. Vale a pena assistir.
Sete Homens Sem Destino
Ben Strike (Randolph Scott) é um ex xerife que parte em busca da captura de sete ladrões de bancos que durante um assalto acabaram matando sua esposa. Durante sua jornada pelo deserto do Alabama acaba encontrando um jovem casal que tenta chegar ao oeste selvagem. O que Strike não sabe é que de uma forma ou outra todos os acontecimentos estão interligados entre si. "Sete Homens Sem Destino" tem um dos melhores roteiros que já vi em westerns dos anos 50. Uma produção ágil, rápida, muito bem escrita e extremamente eficiente. Randolph Scott repete seu papel de homem íntegro, de moral induvidosa e firmeza de caráter. Aqui ele conta com um elenco de apoio muito bom a começar pela presença de um jovem Lee Marvin, fazendo o papel de um cowboy oportunista que está no encalço do dinheiro roubado. Não era a primeira vez que Scott e Marvin dividiam a cena juntos (e nem seria a última) mas aqui Lee Marvin teve muito mais oportunidades de atuar, com mais diálogos e cenas que não se resumiam apenas a tiroteios no meio do deserto. Sua cena de assédio com a personagem da atriz Gail Russell é uma das melhores e mais tensas partes da produção. O filme foi dirigido novamente pelo diretor e parceiro de Randolph Scott, Budd Boetticher. Já tive oportunidade de exaltar as qualidades desse cineasta que na minha opinião foi totalmente subestimado na época. Boetticher tinha um feeling incrível para contar as estórias em uma edição enxuta, onde não havia espaço para desperdício. Todas as cenas possuem um propósito bem definido, sem perda de tempo ou enrolação. O que resulta daí são faroestes onde o espectador não tira os olhos da tela, sempre interessado no que vai acontecer. O mais interessante é que seus filmes não são longos (70 minutos em média) e em nenhum momento ficamos com a impressão de que algo faltou em cena. Enfim, "Sete Homens Sem Destino" é uma boa pedida para os fãs de Randolph Scott e os admiradores dos filmes "rápidos no gatilho" de Budd Boetticher. Vale a sessão certamente.
O Romântico Defensor
Cole Armin (Randolph Scott) é um cowboy texano que vai até a cidade de Albuquerque para trabalhar ao lado de seu tio, John Armin (George Cleveland). um bem sucedido homem de negócios na região. Durante a viagem a diligência onde se encontra é assaltada por uma quadrilha de bandidos. Quando finalmente chega em seu destino acaba descobrindo que seu tio John teve participação no roubo. Em pouco tempo tio e sobrinho entram em choque por causa do crime ocorrido, ficando em lados opostos da lei. "Albuquerque" é um western ao velho estilo onde tudo funciona muito bem. O roteiro é caprichado, bem desenvolvido, criando situações ora mais dramáticas, ora mais bem humoradas. O lado romântico também não é deixado de lado e aqui Randolph Scott corteja a mocinha Celia Wallace (Catherine Craig). O elenco de apoio é excepcionalmente bom com destaque para George Cleveland como o tio Armin, um vilão mais cerebral do que visceral (tanto que não pega em armas, apenas planeja de longe formas de prejudicar o seu sobrinho). George 'Gabby' Hayes, um veterano nas telas com quase 200 filmes também está excelente como Juke, um velho barbudo e ranzinza que trabalha para o personagem de Randolph Scott. Ele funciona muito bem como alívio cômico dentro da trama. "Albuquerque" ficou muito conhecido pelo público americano por causa das inúmeras reprises televisivas ao longo de todos esses anos. Na década de 50 a Paramount, produtora do filme, negociou com a Universal a venda dos direitos autorais de mais de 700 faroestes, todos para serem exibidos no canal NBC no período vespertino. "Albuquerque" fazia parte desse pacote. Passando constantemente na TV norte-americana o filme foi criando uma espécie de intimidade com o público, se tornando uma obra muito conhecida e querida entre os fãs americanos de western. Até no Brasil o filme também foi bem reprisado nos primórdios da TV brasileira. Por aqui quando em sua exibição na extinta TV Tupi a produção recebeu o título pomposo de "O Romântico Defensor". Enfim é isso. "Albuquerque" certamente tem todos os ingredientes que fazem um bom western. Além disso seu clima nostálgico é completamente irresistível. Um faroeste dos bons que merece ser conhecido pelos fãs do gênero.
Cavalgada Trágica
"Cavalgada Trágica" é um dos melhores westerns da carreira de Randolph Scott. Não é de se admirar já que aqui temos novamente Scott dirigido pelo ótimo cineasta Budd Boetticher. O diferencial de Budd para outros diretores de faroestes é que ele tinha profundo respeito pela mitologia do gênero. Admirador do estilo de vida do velho oeste o diretor tirava o máximo de roteiros que em essência eram simples. Esse é um exemplo típico. No filme Randolph Scott interpreta Jefferson Cody, um ex veterano das guerras indígenas que dedica sua vida em uma busca desesperada. Sua esposa há muito fora raptada por tribos Comanches hostis e assim Scott percorre os territórios indígenas na esperança de um dia encontrá-la. Numa dessas buscas acaba libertando a jovem e bela Nancy (Nancy Lowe) cujo marido ofereceu uma recompensa de 5 mil dólares para seu resgate. Claro que com tanto dinheiro em jogo vários caçadores de recompensas sairiam em seu encalço. É justamente isso que motiva Ben (Claude Atkins) e seu bando que querem colocar as mãos na mulher para receberem eles próprios sua recompensa. Todos os ingredientes que fizeram a fama de Scott no cinema estão lá: o cavaleiro errante, a busca pelo ente querido, as tribos Comanches sedentas por sangue e os bandoleiros com más intenções. A locação é de rara beleza, rochedos de forte impacto na tela, localizados em Alabama Hills em Lone Pine, Califórnia. Além disso o diretor Budd Boetticher capricha no desenvolvimento psicológico dos personagens e no clima de tensão entre eles. O desfecho é brilhante, se tornando mais um dos grandes trabalhos da dupla Scott / Boetticher. Juntos realizaram alguns dos faroestes mais elegantes da história do cinema americano. A cena final com Randolph Scott e o por do sol ao longe, cavalgando nas pradarias é marcante, um momento único, difícil de se esquecer depois.
A Sétima Cavalaria
"A Sétima Cavalaria" começa onde praticamente todos os filmes sobre o General Custer terminam. Aqui acompanhamos a volta do Capitão Tom Benson (Randolph Scott) ao Forte Lincoln após ir buscar sua noiva, a bela Martha (Barbara Hale). Ele era o braço direito de Custer na tropa e saiu de licença por motivos pessoais. O que Benson não sabe é que ao retornar não encontrará mais ninguém no forte! Toda a Sétima Cavalaria da qual fez parte acabara de ser massacrada pelos guerreiros Sioux e Cheyennes comandados por Cavalo Louco e Touro Sentado. "A Sétima Cavalaria" é seguramente um dos melhores westerns estrelados por Randolph Scott. O roteiro é muito bem escrito e se concentra nos eventos que ocorreram após a morte de Custer e a Sétima Cavalaria. O inquérito aberto pelo exército americano, as dúvidas sobre as reais intenções de Benson ao pedir licença, a necessidade de resgatar todos os restos mortais dos militares em Little Big Horn, tudo é extremamente bem exposto em grande momento de Scott no cinema. Há cenas impactantes como a volta do cavalo do general ao campo de batalha e a questão sobre a quem pertenceria os despojos da grande batalha - aos vencedores ou aos soldados da cavalaria? Uma das coisas que mais chamam atenção nesse filme é a questão sobre quem teria sido responsável pelo massacre das tropas americanas. Durante muitos anos após o desastre em Little Big Horn houve uma glorificação do General Custer. Considerado herói pois morreu lutando, seu legado foi incontestável por anos. Depois descobriu-se que Custer cometeu muitos erros no campo de batalha. Extremamente vaidoso e egocêntrico, Custer queria alcançar os picos da glória ao acreditar que venceria toda uma nação Sioux apenas com poucos homens extremamente bem treinados. Se equivocou feio o que acabaria custando a vida de centenas de soldados e oficiais americanos. O filme não tem medo de tocar nessa ferida e o faz de forma brilhante. Para quem gosta da história do velho oeste "A Sétima Cavalaria" é essencial.
Jesse James
Elenco: Um dos grande méritos do filme “Jesse James” é o seu elenco. Tyrone Power está bem como o personagem principal embora haja limitações em sua caracterização pois ele está de certa forma muito polido em cena (o verdadeiro Jesse James era mais turrão e rude). Melhor se sai Henry Fonda, com trejeitos rústicos do interior, sempre cuspindo fumo e com olhar de caipirão desconfiado. Sua atuação demonstra uma preocupação maior em construir um personagem mais próximo da realidade. Seu Frank James não aparece muito mas quando surge chama bem a atenção. A atriz Nancy Kelly que faz a esposa de James surpreende em ótimas cenas. São dela inclusive os momentos mais dramáticos como àquele em que resolve ir embora com o filho recém nascido. Por fim, completando o núcleo do elenco principal temos Randolph Scott. Em papel coadjuvante o ator está excepcionalmente bem na pele de um sujeito que caça Jesse James no começo do filme mas que depois compreende a situação do criminoso e acaba mudando de atitude, ajudando inclusive sua família. / Roteiro e Argumento: Não há como negar que o roteiro de Jesse James é romanceado mas mesmo assim tenta manter um pé na realidade (o filme inclusive contou com consultores históricos para recriar a biografia do famoso criminoso de forma mais fiel aos acontecimentos reais). No começo da estória ainda há uma tentativa de justificar a entrada de Jesse James no mundo do crime mas depois, de forma acertada, o texto demonstra a mudança em sua personalidade quando ele se torna realmente um criminoso por vontade própria, ciente de seus atos. Embora haja traços do Jesse James da literatura de entretenimento, dos famosos livros de bolso (que ajudou a popularizar seu nome) o roteiro procura sempre seguir os fatos reais quando possível. A cena final de seu assassinato, embora com erros históricos, é bem realizada. / Produção: Embota não tenha sido creditado o filme foi produzido pessoalmente pelo chefão da Fox, Darryl F. Zanuck. Isso significa que “Jesse James” contou com o melhor que estava disponível na época no estúdio. De fato a produção é de muito bom gosto, com boa reconstituição de época (inclusive no que diz respeito a pequenos detalhes como figurino). Há ótimas cenas de roubos de trens, bancos e perseguições. Uma sequência que inclusive chama a atenção até hoje é aquela em que Jesse e Frank James pulam com seus cavalos do alto de um despenhadeiro em um rio abaixo. Pela altura e pela coragem dos dublês o resultado final realmente impressiona. A nota triste é que os animais foram sacrificados após soltarem daquela altura o que levou o filme a ser enquadrado em uma lista do American Human Associate por crueldade animal em filmes de Hollywood. / Direção: O diretor Henry King soube ser conciso em “Jesse James” e realizou um trabalho enxuto e eficiente. Evitou glamorizar a vida do criminoso. Como o filme teve um cronograma de filmagens muito austero Henry King contou com a ajuda de outro diretor da Fox, Irving Cummings, que acabou não sendo creditado. Henry King aqui trabalhou novamente ao lado de um de seus atores preferidos, Tyrone Power. Juntos tiveram grandes êxitos de bilheteria em filmes de capa e espada – sendo esse “Jesse James” mais uma bem sucedida parceria entre ambos. O filme foi a quarta maior bilheteria do ano só ficando atrás apenas de fenômenos como “E o Vento Levou” e “O Mágico de Oz”.
Águas Sangrentas
Após o assalto a uma diligência, Chris Danning (Randolph Scott) sai no encalço dos criminosos responsáveis pelo roubo e morte dos passageiros. Após cavalgar por várias cidades atrás de pistas chega na pequena Coroner Creek no Arizona. Lá descobre que um próspero homem de negócios e fazendeiro chamado Younger Miles (George Macready) está por trás do terrível crime. “Águas Sangrentas” é mais um bom western do final da década de 40 que traz todos os elementos que os fãs do estilo certamente vão gostar. Há o cavaleiro errante que parte em busca de vingança, o malfeitor rico e poderoso que usa de seu poder econômico para dominar toda uma região e por fim a sede de justiça que move o personagem principal. Só no final conseguimos compreender completamente porque o personagem de Randolph Scott se empenha tanto em vingar a morte dos passageiros da diligência no assalto que ocorre no começo do filme. Uma odisséia em busca de vingança, justiça e redenção pessoal e também uma bela estória de amor. A produção de “Águas Sangrentas” é de bom nível. O filme foi produzido pela Columbia, na época a lanterninha entre os estúdios de Hollywood. Mesmo assim nada deixa a desejar no filme nesse aspecto. As filmagens foram realizadas no conhecido Iverson Ranch, localizado nos arredores de Los Angeles, na Califórnia. A Columbia quase sempre rodava seus faroestes nesse local e muitos anos depois ele ficaria ainda mais conhecido por ter sido utilizado como locação da famosa e popular série de TV Bonanza. ”Coroner Creek” foi dirigido pelo conhecido cineasta Ray Enright que inclusive já havia trabalhado com Randolph Scott anos antes no popular “Gung Ho”, um grande sucesso de bilheteria. Detalhista e disciplinado sempre fazia um bom trabalho mesmo quando lidava com orçamentos mais modestos. “Águas Sangrentas” é mais uma interessante película assinado por ele. Também é considerado um momento marcante da carreira de Randolph Scott. Algumas cenas aqui ficaram bem conhecidas entre os fãs do ator como a que ele tem uma de suas mãos esmagada nas pedras de um leito do rio (dando origem ao título nacional). Ferido, acaba tendo que passar o restante do filme sacando e atirando com a mão esquerda o que era bem complicado para ele já que era destro! Enfim, temos aqui mais um trabalho marcante na extensa e rica filmografia do velho Randy. Não deixe de conhecer.
De Arma em Punho
Ransome Callicut (Randolph Scott) é um forasteiro que chega na pequena vila de Los Angeles, um lugar inóspito perdido no meio do deserto, infestada de malfeitores. Ele desembarca no local afirmando ser um simples professor de crianças mas o oficial da cavalaria na região, o capitão Roy Giles (Philip Carey), acredita que ele esteja mentindo pois é bastante parecido com um major desertor das forças armadas durante a guerra civil. Enquanto investiga o recém chegado ele percebe que Ransome está cada vez mais envolvido nos problemas políticos locais. Há um grupo de rebeldes que deseja a separação do sul da Califórnia da federação americana, o que pode levar a uma nova guerra de secessão. Afinal qual seria a ligação entre o misterioso personagem de Randolph Scott com a turbulenta situação política em Los Angeles? “De Arma em Punho” é mais uma produção com o ator Randolph Scott para a Warner. Esse aqui tem um roteiro bem mais trabalhado com uma intrigada trama que provavelmente vá confundir um pouco o espectador menos atento. Callicut (Scott) pode ser tanto um desertor do exército como também um espião enviado pelo governo americano para investigar os problemas envolvendo os rebeldes californianos. O filme foi rodado praticamente todo dentro do estúdio. Existem cenas em locações reais mas essas são geralmente pontuais, feitas com uma segunda unidade. As principais seqüências que contam com Scott e o elenco principal são praticamente todas recriadas em cenários dentro dos estúdios da Warner. Hoje em dia esse tipo de técnica é facilmente perceptível. Alguns não gostam pois soa artificial mas pessoalmente acho tudo muito charmoso e elegante. O horizonte ao longe é pintado, por exemplo, mas tudo com tão bom gosto que não há como se aborrecer com detalhes assim. Além dos costumeiros tiroteios e perseguições “De Arma em Punho” ainda tem uma dupla de atores mais cômicos (um se veste de mulher para enganar os rebeldes) e duas seqüências musicais com canções cantadas em espanhol pela atriz e intérprete Lina Romay. Para os fãs de Randolph Scott é bom salientar que "Stardust", seu lindo cavalo Palomino branco e marrom, está em cena, mostrando todo seu porte imponente e beleza. Em conclusão é isso, mais um bom filme com Scott que ainda conta com o diferencial de mostrar pequenos toques de mistério e tramas políticas. "De Arma em Punho" é um eficiente western da década de 50 que deve ser assistido pelos fãs do gênero.
Pablo Aluísio.
O Homem Que Luta Só
Um dos últimos filmes de Randolph Scott também é um dos melhores. Aqui ele interpreta o ex xerife e atual caçador de recompensas Ben Brigade. Ele caça o criminoso Billy John no deserto e acaba o capturando. Sua missão passa então a ser levar o bandoleiro para a cidade de Santa Cruz para que ele seja julgado e enforcado pelo homicídio que lá praticou. O problema é que no caminho ele terá que enfrentar índios hostis, outros caçadores de recompensas e o bando de Billy John, liderado agora por Jack, seu irmão (interpretado pelo famoso ator de vilões de western Lee Van Cleef). O roteiro de "O Homem Que Luta Só" pode até parecer simplista mas é um engano pois é primoroso. O personagem de Scott, um sujeito durão e de poucas palavras, não é exatamente o que parece ser. Na verdade ele nem tem tanta pressa assim em levar Billy John ao seu cadafalso. Suas reais intenções só são reveladas no clímax do filme e aí o espectador já está totalmente fisgado. Aliás vamos admitir que a cena final de "Ride Lonesome" é uma das mais belas que já vi em faroestes - Randolph Scott parado em frente a uma árvore de enforcamentos em chamas! Maravilhosa tomada! O diretor de "O Homem Que Luta Só" é o cineasta Budd Boetticher que fez vários westerns ao lado de Randolph Scott. Hoje em dia a obra desse diretor tem despertado muito interesse nos EUA pois todos reconhecem que ele nunca foi reconhecido em vida. Era um diretor inteligente, que fazia maravilhas em cena, mesmo com roteiros aparentemente simples. Esse aqui seria o penúltimo filme que rodaria ao lado de Scott (a última produção que reuniria a parceria seria "Cavalgada Trágica" no ano seguinte). Em conclusão digo que "Ride Lonesome" é sem dúvida um dos melhores momentos de Randolph Scott - extremamente bem escrito e dirigido prende a atenção da primeira à última cena.
O Pistoleiro
Mais uma produção bancada pelo próprio Randolph Scott. Curioso é que em pleno auge do chamado Star System (onde os atores eram quase escravos dos estúdios) Scott tenha trilhado um caminho próprio, produzindo seus próprios filmes e depois os negociando com os estúdios para distribuição (o que também aconteceu aqui com "O Pistoleiro" que acabou sendo lançado pela Columbia Pictures). Esse conta a estória de Jeff Travis (Randolph Scott) um renegado da Guerra Civil que para escapar da forca do exército ianque foge para uma pequena cidade do oeste com um nome falso. Lá se envolve com um grupo de assaltantes de diligências. Ao mesmo tempo em que planeja o roubo de cargas de ouro se enamora pela filha do dono da empresa de transportes, a bela Josie (Claire Trevor). O personagem de Scott é curioso. Nem é um mocinho de filmes típico de westerns e nem é um vilão assumido pois tem consciência e sente quando injustiças são cometidas. O interessante é que o ponto de partida dessa produção é a mesma de um filme de Audie Murphy chamado "Kansas Raiders" que assisti recentemente. Tanto o personagem de Scott como o de Murphy fazem parte do bando de Quintrail, um personagem histórico real que assaltava bancos e cidades inteiras durante a Guerra Civil Americana. E assim como o filme de Audie Murphy esse aqui também tem um bom elenco de apoio com os veteranos atores Ernest Borgnine e Lee Marvin. Em suma, outro bom faroeste de Scott que diverte acima de tudo.
O Resgate de um Bandoleiro
Pat Brennan (Randolph Scott) é um pequeno fazendeiro que vai até uma cidade para comprar um touro reprodutor para seu rebanho. Na viagem de volta a diligência em que se encontra é sequestrada pelo bando de Frank Usher (Richard Boone) que exige um resgate de 50 mil dólares pela vida da jovem filha de um rico dono de minas da região, que também estava na mesma carruagem. Esse é mais um faroeste produzido pelo próprio ator Randolph Scott. A fita é ágil, curtinha (para passar nas matinês) mas mesmo assim consegue manter bem o interesse. Enquanto estão sequestrados começa um jogo psicológico entre o mocinho Pat (Scott) e o vilão (Boone). Esse aliás é um dos pontos altos do roteiro que consegue criar bastante tensão e suspense em um filme que basicamente só seria um faroeste convencional. Grande parte do filme se passa num casebre no alto de uma colina em pleno deserto. O clima árido e hostil combina bem com o clima tenso. Curiosamente no comecinho do filme o personagem de Scott é amenizado, inclusive participando de uma pequena aposta ao montar um touro feroz. Além disso ele faz amizade com um garotinho, numa sacada do roteiro que achei ser inspirado em "Os Brutos Também Amam". Enfim, vale a pena conhecer mais esse trabalho de Scott.
Colt .45
Fitinha rápida estrelado por Randolph Scott para a Warner. Aqui ele interpreta Steve Farrell, um vendedor de armas da fábrica Colt que é roubado em pleno escritório do xerife por um bandido perigoso chamado Jason Brett (Zachary Scott, bem canastrão). Em posse dessas armas roubadas o criminoso forma um bando que fica conhecido como a "Quadrilha do Colt" e começa a assaltar diligências, bancos e moradores da região. Randolph Scott então sai em encalço do grupo de malfeitores. O filme é o que se pode chamar de "Bang Bang" autêntico pois o roteiro realmente foca na ação e nos tiroteios. A fita é curtinha (72 minutos) e foi feita assim visando aumentar as exibições nas matinês dos cinemas dos anos 50. O roteiro é bem simples e vai direto ao ponto, sem firulas. O elenco de Colt .45 chama atenção por causa da presença de Lloyde Bridges (o pai de Beau e Jeff Bridges). Seu papel é um tanto secundário mas ele se esforça para ser notado. Como sua esposa a estrelinha Ruth Roman, amiga pessoal de Randolph Scott que apesar da extensa filmografia (mais de cem filmes!) nunca conseguiu se tornar uma estrela de primeira grandeza. O diretor Edwin L. Marin era muito produtivo mas morreu pouco tempo depois da realização desse filme. Era um diretor de estúdio e fazia o que lhe era pedido pelos produtores. Realizador competente conseguiu bons resultados mesmo em produções B. Enfim, um faroeste bang bang legítimo, eficiente e divertido. Vale a pena assistir.
Pistoleiros do Entardecer
Grande filme. Esse western mostra muito bem a diferença que faz um grande diretor. Veja, tinha tudo para ser mais um faroeste de rotina da carreira de Randolph Scott mas isso seria óbvio demais. Sam Peckinpah consegue reverter certas máximas do gênero ao mesmo tempo em que é respeitoso à mitologia do velho oeste. Ao contrário de usar personagens que são indiscutivelmente mocinhos ou bandidos, o diretor coloca em cena sujeitos dúbios, que transitam entre cometer crimes ou protagonizar momentos de grande honra pessoal. É o caso de Gil Westrum (o último personagem da carreira de Randolph Scott que abandonaria o cinema logo após). Gil tem como objetivo roubar o ouro que foi contratado a transportar mas como acompanhamos no desenrolar do filme esse é apenas o ponto de partida de tudo o que acontecerá nas montanhas. É bom frisar porém que a estética da violência que seria marca registrada do diretor ainda não está presente nesse filme, o que era de se esperar. Filmado na primeira metade dos anos 60 o cineasta ainda não havia levado às últimas consequências suas escolhas estéticas e cinematográficas. Mesmo assim o filme é surpreendentemente bem roteirizado, com um clímax excelente, de tirar o chapéu. No final quem melhor define a essência do filme é a personagem Elsa (interpretada pela atriz Meriette Hartley). Ela explica que sempre foi levada a crer que havia o bem e o mal absolutos na vida, mas que depois de tudo o que passou compreendeu que na vida há pessoas que transitam de um lado ao outro, em uma zona cinzenta, tal como os personagens desse western. Uma conclusão simplesmente perfeita.
O Laço do Carrasco
O Major confederado Matt Stewart (Randolph Scott) acaba liderando uma tropa que decide roubar um carregamento de ouro do exército da União durante a guerra civil americana. O problema é que após ter em mãos toda essa fortuna acabam descobrindo que a guerra finalmente havia chegado ao fim! A partir daí o que fazer? Entregar o ouro ao exército da União o que os levaria inexoravelmente à morte por enforcamento ou ficar com todo o carregamento para eles? O choque de ambições seria inevitável. Assim Scott e seus subordinados (entre eles Lee Marvin) terão que lidar com a situação ao mesmo tempo em que lutam para preservar o ouro que agora é cobiçado por um bando de assassinos e ladrões. Mais um western produzido e estrelado pelo astro Randolph Scott. Na década de 1950 o ator decidiu que iria produzir seus próprios filmes. Como já havia ganho bastante dinheiro no cinema percebeu que tinha um público cativo e que por isso valia a pena investir em suas próprias películas. Além do mais nenhum investimento no mercado financeiro lhe traria tanto retorno como esse. A decisão foi mais do que acertada. Geralmente trabalhando com os grandes estúdios para distribuição Randolph Scott acabou fazendo fortuna pessoal com seus westerns. Realizando em média três filmes por ano o ator foi ficando cada vez mais milionário. Quando se aposentou das telas em 1962 estimava-se que já era dono de uma fortuna avaliada em mais de 100 milhões de dólares! "O Laço do Carrasco" ainda é um de seus filmes mais lembrados por fãs de western hoje em dia. O enredo é bem interessante mas o diretor e roteirista Roy Huggins não o desenvolve muito bem, pois muito potencial dessa estória foi desperdiçada na minha opinião. O principal erro é que ao invés de mostrar o desenlace dessa questão optou-se por priorizar mais o chamado Bang Bang (tiroteios e emboscadas). Scott segue com sua caracterização típica. Não há uma preocupação melhor em desenvolver os personagens do ponto de vista psicológico como acontecia nas parcerias entre Scott e o diretor Budd Boetticher. Aqui temos nitidamente um western de matinê - que aliás foi o ponto forte de Scott, onde ele realmente fez fortuna com filmes rápidos, ágeis e eficientes. Enfim, "O Laço do Carrasco" é um bom western dos anos 50 muito embora poderia sim ser bem melhor do que realmente é. Não é assim um dos melhores trabalhos de Randolph Scott mas merece ser visto (ou revisto) sempre que possível.
Arizona Violenta
Mais uma das produções de western de Randolph Scott da décade de 50: "Arizona Violenta". O filme é curioso por alguns motivos interessantes. O primeiro é que ele foi rodado nas mesmas locações em que "Sete Homens e um Destino" seria feito anos depois. Aquela mesma vilazinha ao pé da montanha. Produzido pelo próprio Randolph Scott que inclusive escolheu o local que depois ficaria famoso pelos fãs do gênero. Atuando ao seu lado no filme temos a atriz Jocelyn Brando, irmã de Marlon Brando. Para quem não sabe foi por causa da irmã Jocelyn que Brando resolveu ser ator ao se mudar para Nova Iorque após ser expulso da Academia Militar onde estudava. Jocelyn Brando porém nunca chegou a se tornar uma estrela. Era um atriz mediana, esforçada mas não muito brilhante.. Aqui sua atuação soa exagerada, o que contrasta com a tranquilidade e a austeridade de Scott, sempre com boa presença de cena (embora ele modestamente não se considerasse um grande ator). No filme Randolph Scott interpreta John Stewart, um rancheiro que tem problemas com um proprietário de terras (Richard Boone) que quer a todo custo dominar a região. O roteiro, muito eficiente por sinal, foi escrito por Irving Ravetch, um talentoso escritor que fez roteiros para grandes filmes como "O Mercador de Almas", "O Indomado" e um dos mais curiosos filmes da carreira de John Wayne, "Os Cowboys" onde ele virava um tipo de mestre para vários pupilos, garotos que queriam se tornar cowboys como ele. O diretor H. Bruce Humberstone (1901–1984) era um veterano que conseguiu imprimir ao filme uma excelente dose de aventura e ação. Não é para menos, ele era muito competente nesse aspecto, tanto que depois seria escalado para fazer filmes de Tarzan. A parceria com Scott daria mais frutos e ele voltaria a dirigir o ator no também eficiente faroeste "Colt 45". Enfim, "Arizona Violenta" é um western com cara de matinê - curtinho, divertido e eficiente. Vale a pena assistir.
Sete Homens Sem Destino
Ben Strike (Randolph Scott) é um ex xerife que parte em busca da captura de sete ladrões de bancos que durante um assalto acabaram matando sua esposa. Durante sua jornada pelo deserto do Alabama acaba encontrando um jovem casal que tenta chegar ao oeste selvagem. O que Strike não sabe é que de uma forma ou outra todos os acontecimentos estão interligados entre si. "Sete Homens Sem Destino" tem um dos melhores roteiros que já vi em westerns dos anos 50. Uma produção ágil, rápida, muito bem escrita e extremamente eficiente. Randolph Scott repete seu papel de homem íntegro, de moral induvidosa e firmeza de caráter. Aqui ele conta com um elenco de apoio muito bom a começar pela presença de um jovem Lee Marvin, fazendo o papel de um cowboy oportunista que está no encalço do dinheiro roubado. Não era a primeira vez que Scott e Marvin dividiam a cena juntos (e nem seria a última) mas aqui Lee Marvin teve muito mais oportunidades de atuar, com mais diálogos e cenas que não se resumiam apenas a tiroteios no meio do deserto. Sua cena de assédio com a personagem da atriz Gail Russell é uma das melhores e mais tensas partes da produção. O filme foi dirigido novamente pelo diretor e parceiro de Randolph Scott, Budd Boetticher. Já tive oportunidade de exaltar as qualidades desse cineasta que na minha opinião foi totalmente subestimado na época. Boetticher tinha um feeling incrível para contar as estórias em uma edição enxuta, onde não havia espaço para desperdício. Todas as cenas possuem um propósito bem definido, sem perda de tempo ou enrolação. O que resulta daí são faroestes onde o espectador não tira os olhos da tela, sempre interessado no que vai acontecer. O mais interessante é que seus filmes não são longos (70 minutos em média) e em nenhum momento ficamos com a impressão de que algo faltou em cena. Enfim, "Sete Homens Sem Destino" é uma boa pedida para os fãs de Randolph Scott e os admiradores dos filmes "rápidos no gatilho" de Budd Boetticher. Vale a sessão certamente.
O Romântico Defensor
Cole Armin (Randolph Scott) é um cowboy texano que vai até a cidade de Albuquerque para trabalhar ao lado de seu tio, John Armin (George Cleveland). um bem sucedido homem de negócios na região. Durante a viagem a diligência onde se encontra é assaltada por uma quadrilha de bandidos. Quando finalmente chega em seu destino acaba descobrindo que seu tio John teve participação no roubo. Em pouco tempo tio e sobrinho entram em choque por causa do crime ocorrido, ficando em lados opostos da lei. "Albuquerque" é um western ao velho estilo onde tudo funciona muito bem. O roteiro é caprichado, bem desenvolvido, criando situações ora mais dramáticas, ora mais bem humoradas. O lado romântico também não é deixado de lado e aqui Randolph Scott corteja a mocinha Celia Wallace (Catherine Craig). O elenco de apoio é excepcionalmente bom com destaque para George Cleveland como o tio Armin, um vilão mais cerebral do que visceral (tanto que não pega em armas, apenas planeja de longe formas de prejudicar o seu sobrinho). George 'Gabby' Hayes, um veterano nas telas com quase 200 filmes também está excelente como Juke, um velho barbudo e ranzinza que trabalha para o personagem de Randolph Scott. Ele funciona muito bem como alívio cômico dentro da trama. "Albuquerque" ficou muito conhecido pelo público americano por causa das inúmeras reprises televisivas ao longo de todos esses anos. Na década de 50 a Paramount, produtora do filme, negociou com a Universal a venda dos direitos autorais de mais de 700 faroestes, todos para serem exibidos no canal NBC no período vespertino. "Albuquerque" fazia parte desse pacote. Passando constantemente na TV norte-americana o filme foi criando uma espécie de intimidade com o público, se tornando uma obra muito conhecida e querida entre os fãs americanos de western. Até no Brasil o filme também foi bem reprisado nos primórdios da TV brasileira. Por aqui quando em sua exibição na extinta TV Tupi a produção recebeu o título pomposo de "O Romântico Defensor". Enfim é isso. "Albuquerque" certamente tem todos os ingredientes que fazem um bom western. Além disso seu clima nostálgico é completamente irresistível. Um faroeste dos bons que merece ser conhecido pelos fãs do gênero.
Cavalgada Trágica
"Cavalgada Trágica" é um dos melhores westerns da carreira de Randolph Scott. Não é de se admirar já que aqui temos novamente Scott dirigido pelo ótimo cineasta Budd Boetticher. O diferencial de Budd para outros diretores de faroestes é que ele tinha profundo respeito pela mitologia do gênero. Admirador do estilo de vida do velho oeste o diretor tirava o máximo de roteiros que em essência eram simples. Esse é um exemplo típico. No filme Randolph Scott interpreta Jefferson Cody, um ex veterano das guerras indígenas que dedica sua vida em uma busca desesperada. Sua esposa há muito fora raptada por tribos Comanches hostis e assim Scott percorre os territórios indígenas na esperança de um dia encontrá-la. Numa dessas buscas acaba libertando a jovem e bela Nancy (Nancy Lowe) cujo marido ofereceu uma recompensa de 5 mil dólares para seu resgate. Claro que com tanto dinheiro em jogo vários caçadores de recompensas sairiam em seu encalço. É justamente isso que motiva Ben (Claude Atkins) e seu bando que querem colocar as mãos na mulher para receberem eles próprios sua recompensa. Todos os ingredientes que fizeram a fama de Scott no cinema estão lá: o cavaleiro errante, a busca pelo ente querido, as tribos Comanches sedentas por sangue e os bandoleiros com más intenções. A locação é de rara beleza, rochedos de forte impacto na tela, localizados em Alabama Hills em Lone Pine, Califórnia. Além disso o diretor Budd Boetticher capricha no desenvolvimento psicológico dos personagens e no clima de tensão entre eles. O desfecho é brilhante, se tornando mais um dos grandes trabalhos da dupla Scott / Boetticher. Juntos realizaram alguns dos faroestes mais elegantes da história do cinema americano. A cena final com Randolph Scott e o por do sol ao longe, cavalgando nas pradarias é marcante, um momento único, difícil de se esquecer depois.
A Sétima Cavalaria
"A Sétima Cavalaria" começa onde praticamente todos os filmes sobre o General Custer terminam. Aqui acompanhamos a volta do Capitão Tom Benson (Randolph Scott) ao Forte Lincoln após ir buscar sua noiva, a bela Martha (Barbara Hale). Ele era o braço direito de Custer na tropa e saiu de licença por motivos pessoais. O que Benson não sabe é que ao retornar não encontrará mais ninguém no forte! Toda a Sétima Cavalaria da qual fez parte acabara de ser massacrada pelos guerreiros Sioux e Cheyennes comandados por Cavalo Louco e Touro Sentado. "A Sétima Cavalaria" é seguramente um dos melhores westerns estrelados por Randolph Scott. O roteiro é muito bem escrito e se concentra nos eventos que ocorreram após a morte de Custer e a Sétima Cavalaria. O inquérito aberto pelo exército americano, as dúvidas sobre as reais intenções de Benson ao pedir licença, a necessidade de resgatar todos os restos mortais dos militares em Little Big Horn, tudo é extremamente bem exposto em grande momento de Scott no cinema. Há cenas impactantes como a volta do cavalo do general ao campo de batalha e a questão sobre a quem pertenceria os despojos da grande batalha - aos vencedores ou aos soldados da cavalaria? Uma das coisas que mais chamam atenção nesse filme é a questão sobre quem teria sido responsável pelo massacre das tropas americanas. Durante muitos anos após o desastre em Little Big Horn houve uma glorificação do General Custer. Considerado herói pois morreu lutando, seu legado foi incontestável por anos. Depois descobriu-se que Custer cometeu muitos erros no campo de batalha. Extremamente vaidoso e egocêntrico, Custer queria alcançar os picos da glória ao acreditar que venceria toda uma nação Sioux apenas com poucos homens extremamente bem treinados. Se equivocou feio o que acabaria custando a vida de centenas de soldados e oficiais americanos. O filme não tem medo de tocar nessa ferida e o faz de forma brilhante. Para quem gosta da história do velho oeste "A Sétima Cavalaria" é essencial.
Jesse James
Elenco: Um dos grande méritos do filme “Jesse James” é o seu elenco. Tyrone Power está bem como o personagem principal embora haja limitações em sua caracterização pois ele está de certa forma muito polido em cena (o verdadeiro Jesse James era mais turrão e rude). Melhor se sai Henry Fonda, com trejeitos rústicos do interior, sempre cuspindo fumo e com olhar de caipirão desconfiado. Sua atuação demonstra uma preocupação maior em construir um personagem mais próximo da realidade. Seu Frank James não aparece muito mas quando surge chama bem a atenção. A atriz Nancy Kelly que faz a esposa de James surpreende em ótimas cenas. São dela inclusive os momentos mais dramáticos como àquele em que resolve ir embora com o filho recém nascido. Por fim, completando o núcleo do elenco principal temos Randolph Scott. Em papel coadjuvante o ator está excepcionalmente bem na pele de um sujeito que caça Jesse James no começo do filme mas que depois compreende a situação do criminoso e acaba mudando de atitude, ajudando inclusive sua família. / Roteiro e Argumento: Não há como negar que o roteiro de Jesse James é romanceado mas mesmo assim tenta manter um pé na realidade (o filme inclusive contou com consultores históricos para recriar a biografia do famoso criminoso de forma mais fiel aos acontecimentos reais). No começo da estória ainda há uma tentativa de justificar a entrada de Jesse James no mundo do crime mas depois, de forma acertada, o texto demonstra a mudança em sua personalidade quando ele se torna realmente um criminoso por vontade própria, ciente de seus atos. Embora haja traços do Jesse James da literatura de entretenimento, dos famosos livros de bolso (que ajudou a popularizar seu nome) o roteiro procura sempre seguir os fatos reais quando possível. A cena final de seu assassinato, embora com erros históricos, é bem realizada. / Produção: Embota não tenha sido creditado o filme foi produzido pessoalmente pelo chefão da Fox, Darryl F. Zanuck. Isso significa que “Jesse James” contou com o melhor que estava disponível na época no estúdio. De fato a produção é de muito bom gosto, com boa reconstituição de época (inclusive no que diz respeito a pequenos detalhes como figurino). Há ótimas cenas de roubos de trens, bancos e perseguições. Uma sequência que inclusive chama a atenção até hoje é aquela em que Jesse e Frank James pulam com seus cavalos do alto de um despenhadeiro em um rio abaixo. Pela altura e pela coragem dos dublês o resultado final realmente impressiona. A nota triste é que os animais foram sacrificados após soltarem daquela altura o que levou o filme a ser enquadrado em uma lista do American Human Associate por crueldade animal em filmes de Hollywood. / Direção: O diretor Henry King soube ser conciso em “Jesse James” e realizou um trabalho enxuto e eficiente. Evitou glamorizar a vida do criminoso. Como o filme teve um cronograma de filmagens muito austero Henry King contou com a ajuda de outro diretor da Fox, Irving Cummings, que acabou não sendo creditado. Henry King aqui trabalhou novamente ao lado de um de seus atores preferidos, Tyrone Power. Juntos tiveram grandes êxitos de bilheteria em filmes de capa e espada – sendo esse “Jesse James” mais uma bem sucedida parceria entre ambos. O filme foi a quarta maior bilheteria do ano só ficando atrás apenas de fenômenos como “E o Vento Levou” e “O Mágico de Oz”.
Águas Sangrentas
Após o assalto a uma diligência, Chris Danning (Randolph Scott) sai no encalço dos criminosos responsáveis pelo roubo e morte dos passageiros. Após cavalgar por várias cidades atrás de pistas chega na pequena Coroner Creek no Arizona. Lá descobre que um próspero homem de negócios e fazendeiro chamado Younger Miles (George Macready) está por trás do terrível crime. “Águas Sangrentas” é mais um bom western do final da década de 40 que traz todos os elementos que os fãs do estilo certamente vão gostar. Há o cavaleiro errante que parte em busca de vingança, o malfeitor rico e poderoso que usa de seu poder econômico para dominar toda uma região e por fim a sede de justiça que move o personagem principal. Só no final conseguimos compreender completamente porque o personagem de Randolph Scott se empenha tanto em vingar a morte dos passageiros da diligência no assalto que ocorre no começo do filme. Uma odisséia em busca de vingança, justiça e redenção pessoal e também uma bela estória de amor. A produção de “Águas Sangrentas” é de bom nível. O filme foi produzido pela Columbia, na época a lanterninha entre os estúdios de Hollywood. Mesmo assim nada deixa a desejar no filme nesse aspecto. As filmagens foram realizadas no conhecido Iverson Ranch, localizado nos arredores de Los Angeles, na Califórnia. A Columbia quase sempre rodava seus faroestes nesse local e muitos anos depois ele ficaria ainda mais conhecido por ter sido utilizado como locação da famosa e popular série de TV Bonanza. ”Coroner Creek” foi dirigido pelo conhecido cineasta Ray Enright que inclusive já havia trabalhado com Randolph Scott anos antes no popular “Gung Ho”, um grande sucesso de bilheteria. Detalhista e disciplinado sempre fazia um bom trabalho mesmo quando lidava com orçamentos mais modestos. “Águas Sangrentas” é mais uma interessante película assinado por ele. Também é considerado um momento marcante da carreira de Randolph Scott. Algumas cenas aqui ficaram bem conhecidas entre os fãs do ator como a que ele tem uma de suas mãos esmagada nas pedras de um leito do rio (dando origem ao título nacional). Ferido, acaba tendo que passar o restante do filme sacando e atirando com a mão esquerda o que era bem complicado para ele já que era destro! Enfim, temos aqui mais um trabalho marcante na extensa e rica filmografia do velho Randy. Não deixe de conhecer.
De Arma em Punho
Ransome Callicut (Randolph Scott) é um forasteiro que chega na pequena vila de Los Angeles, um lugar inóspito perdido no meio do deserto, infestada de malfeitores. Ele desembarca no local afirmando ser um simples professor de crianças mas o oficial da cavalaria na região, o capitão Roy Giles (Philip Carey), acredita que ele esteja mentindo pois é bastante parecido com um major desertor das forças armadas durante a guerra civil. Enquanto investiga o recém chegado ele percebe que Ransome está cada vez mais envolvido nos problemas políticos locais. Há um grupo de rebeldes que deseja a separação do sul da Califórnia da federação americana, o que pode levar a uma nova guerra de secessão. Afinal qual seria a ligação entre o misterioso personagem de Randolph Scott com a turbulenta situação política em Los Angeles? “De Arma em Punho” é mais uma produção com o ator Randolph Scott para a Warner. Esse aqui tem um roteiro bem mais trabalhado com uma intrigada trama que provavelmente vá confundir um pouco o espectador menos atento. Callicut (Scott) pode ser tanto um desertor do exército como também um espião enviado pelo governo americano para investigar os problemas envolvendo os rebeldes californianos. O filme foi rodado praticamente todo dentro do estúdio. Existem cenas em locações reais mas essas são geralmente pontuais, feitas com uma segunda unidade. As principais seqüências que contam com Scott e o elenco principal são praticamente todas recriadas em cenários dentro dos estúdios da Warner. Hoje em dia esse tipo de técnica é facilmente perceptível. Alguns não gostam pois soa artificial mas pessoalmente acho tudo muito charmoso e elegante. O horizonte ao longe é pintado, por exemplo, mas tudo com tão bom gosto que não há como se aborrecer com detalhes assim. Além dos costumeiros tiroteios e perseguições “De Arma em Punho” ainda tem uma dupla de atores mais cômicos (um se veste de mulher para enganar os rebeldes) e duas seqüências musicais com canções cantadas em espanhol pela atriz e intérprete Lina Romay. Para os fãs de Randolph Scott é bom salientar que "Stardust", seu lindo cavalo Palomino branco e marrom, está em cena, mostrando todo seu porte imponente e beleza. Em conclusão é isso, mais um bom filme com Scott que ainda conta com o diferencial de mostrar pequenos toques de mistério e tramas políticas. "De Arma em Punho" é um eficiente western da década de 50 que deve ser assistido pelos fãs do gênero.
Pablo Aluísio.
Cavalgada Trágica
"Cavalgada Trágica" é um dos melhores westerns da carreira de Randolph Scott. Não é de se admirar já que aqui temos novamente Scott dirigido pelo ótimo cineasta Budd Boetticher. O diferencial de Budd para outros diretores de faroestes é que ele tinha profundo respeito pela mitologia do gênero. Admirador do estilo de vida do velho oeste o diretor tirava o máximo de roteiros que em essência eram simples. Esse é um exemplo típico. No filme Randolph Scott interpreta Jefferson Cody, um ex veterano das guerras indígenas que dedica sua vida em uma busca desesperada. Sua esposa há muito fora raptada por tribos Comanches hostis e assim Scott percorre os territórios indígenas na esperança de um dia encontrá-la. Numa dessas buscas acaba libertando a jovem e bela Nancy (Nancy Lowe) cujo marido ofereceu uma recompensa de 5 mil dólares para seu resgate. Claro que com tanto dinheiro em jogo vários caçadores de recompensas sairiam em seu encalço. É justamente isso que motiva Ben (Claude Atkins) e seu bando que querem colocar as mãos na mulher para receberem eles próprios sua recompensa.
Todos os ingredientes que fizeram a fama de Scott no cinema estão lá: o cavaleiro errante, a busca pelo ente querido, as tribos Comanches sedentas por sangue e os bandoleiros com más intenções. A locação é de rara beleza, rochedos de forte impacto na tela, localizados em Alabama Hills em Lone Pine, Califórnia. Além disso o diretor Budd Boetticher capricha no desenvolvimento psicológico dos personagens e no clima de tensão entre eles. O desfecho é brilhante, se tornando mais um dos grandes trabalhos da dupla Scott / Boetticher. Juntos realizaram alguns dos faroestes mais elegantes da história do cinema americano. A cena final com Randolph Scott e o por do sol ao longe, cavalgando nas pradarias é marcante, um momento único, difícil de se esquecer depois.
Cavalgada Trágica (Comanche Station, Estados Unidos, 1960) Direção: Budd Boetticher / Roteiro: Burt Kennedy / Elenco: Randolph Scott, Nancy Lowe, Claude Atkins / Sinopse: No filme Randolph Scott interpreta Jefferson Cody, um ex veterano da guerras indígenas que dedica sua vida em uma busca desesperada. Sua esposa há muito fora raptada por tribos Comanches hostis e assim Scott percorre os territórios indígenas na esperança de um dia encontrá-la. Numa dessas buscas acaba libertando a jovem e bela Nancy (Nancy Lowe) cujo marido ofereceu uma recompensa de 5 mil dólares para seu resgate.
Pablo Aluísio.
Todos os ingredientes que fizeram a fama de Scott no cinema estão lá: o cavaleiro errante, a busca pelo ente querido, as tribos Comanches sedentas por sangue e os bandoleiros com más intenções. A locação é de rara beleza, rochedos de forte impacto na tela, localizados em Alabama Hills em Lone Pine, Califórnia. Além disso o diretor Budd Boetticher capricha no desenvolvimento psicológico dos personagens e no clima de tensão entre eles. O desfecho é brilhante, se tornando mais um dos grandes trabalhos da dupla Scott / Boetticher. Juntos realizaram alguns dos faroestes mais elegantes da história do cinema americano. A cena final com Randolph Scott e o por do sol ao longe, cavalgando nas pradarias é marcante, um momento único, difícil de se esquecer depois.
Cavalgada Trágica (Comanche Station, Estados Unidos, 1960) Direção: Budd Boetticher / Roteiro: Burt Kennedy / Elenco: Randolph Scott, Nancy Lowe, Claude Atkins / Sinopse: No filme Randolph Scott interpreta Jefferson Cody, um ex veterano da guerras indígenas que dedica sua vida em uma busca desesperada. Sua esposa há muito fora raptada por tribos Comanches hostis e assim Scott percorre os territórios indígenas na esperança de um dia encontrá-la. Numa dessas buscas acaba libertando a jovem e bela Nancy (Nancy Lowe) cujo marido ofereceu uma recompensa de 5 mil dólares para seu resgate.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 19 de abril de 2006
Sete Homens e Um Destino
Moradores de um pacato vilarejo mexicano pedem ajuda a um grupo de pistoleiros liderados por Chris (Yul Brynner) e Vin (Steve McQueen) para que os protejam do terrível bando de bandidos e assassinos do pistoleiro Calvera (Eli Wallach). Refilmagem americana do filme "Os Sete Samurais" de Akira Kurosawa. Uma das grandes ideias dos roteiristas foi transpor a estória para o velho oeste, pois essa é a verdadeira mitologia americana. Saem os samurais e entram os pistoleiros e cowboys do filme. Nada mais adequado. Mas não foi apenas por essa adaptação que a produção se tornou um clássico. Provavelmente esse seja o western com a mais lembrada e famosa música tema da história do cinema. Muito evocativa e tocada várias vezes ao longo do filme em diversas versões diferentes logo fica claro porque se tornou um marco no estilo. Elmer Bernstein era realmente um grande compositor como bem demonstrado aqui. Basta a música tocar para o espectador entrar imediatamente no clima do gênero western.
Outro ponto muito forte de "The Magnificent Seven" é seu elenco acima da média, liderado pelos carismas de Yul Brynner e Steve McQueen, ambos estrelas em ascensão em Hollywood na época. Os sete pistoleiros contratados para defender a pequena vila são variações do velho mito do cavalheiro solitário e errante (como bem resume uma cena em que eles discutem sobre os prós e contras da vida que levam). O elenco de apoio é excepcionalmente bom, com destaque para Charles Bronson (ainda em sua fase de coadjuvante), Robert Vaughn (que iria virar astro da TV anos depois) e James Coburn (um dos atores que melhor personificou pistoleiros em filmes de faroeste). Produzido pela Mirisch cia, a produção não é muito rica (essa empresa era especializada em fitas B que depois eram distribuídas pelos grandes estúdios como Universal e MGM) mas esse pequeno detalhe não compromete o filme em nenhum momento. Já a direção do veterano John Sturges é eficiente (embora um corte na duração final cairia bem). De qualquer forma não há como negar que para quem gosta de western esse é sem dúvida um filme obrigatório.
Sete Homens e Um Destino (The Magnificent Seven, Estados Unidos, 1960) Direção: John Sturges / Roteiro: William Roberts / Musica: Elmer Bernstein / Elenco: Steve McQueen, Yul Brynner, Charles Bronson, Eli Wallach, Robert Vaughn, James Coburn / Sinopse: Moradores de um pacata vilarejo mexicano pedem ajuda a um grupo de pistoleiros liderados por Chris (Yul Brynner) e Vin (Steve McQueen) para que os protejam do terrível bando de bandidos e assassinos do pistoleiro Calvera (Eli Wallach).
Pablo Aluísio.
Outro ponto muito forte de "The Magnificent Seven" é seu elenco acima da média, liderado pelos carismas de Yul Brynner e Steve McQueen, ambos estrelas em ascensão em Hollywood na época. Os sete pistoleiros contratados para defender a pequena vila são variações do velho mito do cavalheiro solitário e errante (como bem resume uma cena em que eles discutem sobre os prós e contras da vida que levam). O elenco de apoio é excepcionalmente bom, com destaque para Charles Bronson (ainda em sua fase de coadjuvante), Robert Vaughn (que iria virar astro da TV anos depois) e James Coburn (um dos atores que melhor personificou pistoleiros em filmes de faroeste). Produzido pela Mirisch cia, a produção não é muito rica (essa empresa era especializada em fitas B que depois eram distribuídas pelos grandes estúdios como Universal e MGM) mas esse pequeno detalhe não compromete o filme em nenhum momento. Já a direção do veterano John Sturges é eficiente (embora um corte na duração final cairia bem). De qualquer forma não há como negar que para quem gosta de western esse é sem dúvida um filme obrigatório.
Sete Homens e Um Destino (The Magnificent Seven, Estados Unidos, 1960) Direção: John Sturges / Roteiro: William Roberts / Musica: Elmer Bernstein / Elenco: Steve McQueen, Yul Brynner, Charles Bronson, Eli Wallach, Robert Vaughn, James Coburn / Sinopse: Moradores de um pacata vilarejo mexicano pedem ajuda a um grupo de pistoleiros liderados por Chris (Yul Brynner) e Vin (Steve McQueen) para que os protejam do terrível bando de bandidos e assassinos do pistoleiro Calvera (Eli Wallach).
Pablo Aluísio.
Cine Western - Paul Newman, Glenn Ford
Cine Western - Paul Newman, Glenn Ford
Dois ótimos atores da era de ouro de Hollywood. Eles não fizeram apenas filmes de faroeste em suas longas e produtivas carreiras, mas sempre que entraram nesse estilo cinematográfico presentearam ao seu público um grande filme.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 18 de abril de 2006
Winchester '73
Lendo a autobiografia do ator Rock Hudson nos deparamos com um capítulo onde ele relembra o lançamento desse western. De como viajou ao lado de James Stewart para promover o filme nas cidades. Na época ele era apenas um coadjuvante de luxo nesse faroeste que tem um ótimo roteiro. E é justamente o roteiro que se destaca nessa produção. Posso afirmar, sem parecer exagerado, que temos aqui um roteiro muito bem escrito, algo bem inovador mesmo. Várias histórias vão sendo mostradas e aos poucos todas convergem para o mesmo local. O roteiro na verdade segue o rifle Winchester 73 que vai passando de mão em mão ao longo do filme. A arma é uma espécie de prêmio que o personagem de James Stewart ganha em um concurso na cidade de Dodge City. Nessa cena temos direito até mesmo a uma aparição do famoso homem da lei Wyatt Earp. O rifle acaba sendo roubado depois, indo parar nas mãos de um grupo Sioux. Depois ele vai parar nas mãos de militares da cavalaria, vira objeto de ostentação de um covarde etc. O fio condutor de todo o enredo então passa a ser justamente esse rifle. E assim várias histórias do velho oeste vão sendo contadas.
Além do bom roteiro, o filme se destaca também pelo excelente elenco. Astros de Hollywood da sua era de ouro estão aqui. O ator James Stewart repete seu tradicional papel de homem íntegro e honesto. Para falar a verdade ele não precisava de muito mais do que isso. Sempre carismático e correto, Stewart liderou um elenco acima da média. O mais curioso é a presença de dois jovens atores que iriam virar grandes astros nos anos que viriam: Rock Hudson e Tony Curtis. O primeiro está quase irreconhecível como um chefe Sioux. Ele atuou no filme de peruca e pintado nas cores tradicionais dos nativos americanos, algo bem fora dos padrões de sua carreira. Já Tony Curtis, muito, muito jovem, faz um soldado da cavalaria no meio de um cerco indígena. Ambos estavam em começo de carreira, tentando um lugar ao sol em Hollywood.
Na época os dois eram contratados da Universal Pictures, que tinha um quadro de treinamento de novos atores. A Universal era conhecida por realizar vários faroestes B, mas aqui caprichou um pouco mais na produção. Isso porque contava com o astro James Stewart como estrela do filme. Assim o estúdio decidiu produzir um faroeste classe A para fazer jus a ele. A empresa cinematográfica sabia do potencial das bilheterias com sua presença. E tudo isso resultou numa produção caprichada. A direção também foi entregue a um cineasta experiente. Anthony Mann foi para James Stewart o que John Ford foi para John Wayne, ou seja, uma bela parceria se firmou entre ambos ao longo dos anos. Aqui a sintonia da dupla funciona novamente. Mann, com mão firme, não deixa o filme em nenhum momento cair na banalidade. Excelente trabalho de direção. Em suma, esse é um daqueles grandes filmes de western da história de Hollywood. Um filme para se ter na coleção.
Winchester '73 (Winchester '73, Estados Unidos, 1950) Direção: Anthony Mann / Roteiro: Robert L. Richards, Borden Chase / Elenco: James Stewart, Rock Hudson, Tony Curtis, Shelley Winters, Dan Duryea / Sinopse: Lin McAdam (James Stewart) vence uma competição de tiro cujo prêmio é um rifle Winchester 73, a melhor arma da época. Após perder sua posse a arma cai nas mãos de várias pessoas ao longo do tempo. Filme indicado ao Writers Guild of America.
Pablo Aluísio.
Além do bom roteiro, o filme se destaca também pelo excelente elenco. Astros de Hollywood da sua era de ouro estão aqui. O ator James Stewart repete seu tradicional papel de homem íntegro e honesto. Para falar a verdade ele não precisava de muito mais do que isso. Sempre carismático e correto, Stewart liderou um elenco acima da média. O mais curioso é a presença de dois jovens atores que iriam virar grandes astros nos anos que viriam: Rock Hudson e Tony Curtis. O primeiro está quase irreconhecível como um chefe Sioux. Ele atuou no filme de peruca e pintado nas cores tradicionais dos nativos americanos, algo bem fora dos padrões de sua carreira. Já Tony Curtis, muito, muito jovem, faz um soldado da cavalaria no meio de um cerco indígena. Ambos estavam em começo de carreira, tentando um lugar ao sol em Hollywood.
Na época os dois eram contratados da Universal Pictures, que tinha um quadro de treinamento de novos atores. A Universal era conhecida por realizar vários faroestes B, mas aqui caprichou um pouco mais na produção. Isso porque contava com o astro James Stewart como estrela do filme. Assim o estúdio decidiu produzir um faroeste classe A para fazer jus a ele. A empresa cinematográfica sabia do potencial das bilheterias com sua presença. E tudo isso resultou numa produção caprichada. A direção também foi entregue a um cineasta experiente. Anthony Mann foi para James Stewart o que John Ford foi para John Wayne, ou seja, uma bela parceria se firmou entre ambos ao longo dos anos. Aqui a sintonia da dupla funciona novamente. Mann, com mão firme, não deixa o filme em nenhum momento cair na banalidade. Excelente trabalho de direção. Em suma, esse é um daqueles grandes filmes de western da história de Hollywood. Um filme para se ter na coleção.
Winchester '73 (Winchester '73, Estados Unidos, 1950) Direção: Anthony Mann / Roteiro: Robert L. Richards, Borden Chase / Elenco: James Stewart, Rock Hudson, Tony Curtis, Shelley Winters, Dan Duryea / Sinopse: Lin McAdam (James Stewart) vence uma competição de tiro cujo prêmio é um rifle Winchester 73, a melhor arma da época. Após perder sua posse a arma cai nas mãos de várias pessoas ao longo do tempo. Filme indicado ao Writers Guild of America.
Pablo Aluísio.
Cine Western - Os Filhos de Katie Elder
Cine Western - Os Filhos de Katie Elder
Fotos promocionais do clássico do faroeste "Os Filhos de Katie Elder", cujoa elenco contava com John Wayne e Dean Martin. A primeira vez que assisti a esse filme foi na saudosa Sessão da Tarde, ainda nos anos 80.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 17 de abril de 2006
Seminole
Rock Hudson não fez muitos filmes de western ao longo de sua carreira. Se formos analisar bem sua filmografia logo perceberemos que ele sempre foi um ator de dramas e depois de comédias românticas, como os grandes sucessos de bilheteria que filmou ao lado da atriz e cantora Doris Day. Isso porém não significa que não foi para o velho oeste nas telas. Claro que fez filmes no estilo, ainda mais na época em que os filmes de faroeste eram extremamente populares. Aqui ele volta à boa forma. Na trama um tenente do exército americano chamado Lance Caldwelll (Rock Hudson) chega em distante forte militar situado nos pântanos da Flórida. Sua guarnição tem a missão de pacificar o local, destruindo e capturando um bando de índios renegados da tribo Seminole liderados pelo rebelde chefe conhecido como Osceola (Anthony Quinn).
O argumento do filme é baseado em fatos reais. A tribo Seminole realmente lutou contra o exército americano na Flórida. O grande chefe Osceola também é um personagem real. Já o tenente Lance Cadwell (Rock Hudson) é totalmente fictício. O desfecho do filme também não condiz com a realidade dos fatos. O chefe Osceola não morreu conforme vemos na tela. Apesar disso e do fato de existir outros erros históricos no roteiro, não há como negar que "Seminole" é um western muito bom. Seus méritos surgem logo no começo do filme com uma curiosa inversão de valores - algo realmente raro na década de 1950. Aqui os índios não são vilões carniceiros e nem os soldados americanos são heróis virtuosos. Pelo contrário, o que vemos no roteiro é uma civilização tentando manter seus hábitos e costumes, seu estilo de vida, em vista da invasão do homem branco. Já era um sinal de mudança dos filmes retratando esse período histórico dos Estados Unidos. A mentalidade começava a mudar, mesmo que aos poucos.
Outra questão importante: o mais alto oficial americano na estória é simplesmente um sujeito antipático, que toma as decisões erradas. Em um grande trabalho de caracterização, o ator Richard Carlson compõe um major totalmente fora de controle, megalomaníaco e até mesmo psicótico em certos momentos. Assistindo ao filme, vendo as tropas atoladas no pântano da Flórida, me lembrei daquela frase que diz: "Não existe situação mais grave do que a de ser comandado por um idiota". É isso o que vemos aqui - uma tropa liderada por um completo inepto. Outro aspecto curioso do filme é o fato dele se passar na Flórida, no meio pantanoso, bem diferente dos faroestes que estamos acostumados a assistir, em longas planícies do deserto no oeste selvagem. Enfim, gostei bastante de "Seminole", um filme com pequenos erros históricos certamente, mas socialmente muito consciente. Um parente distante de produções como "Dança com Lobos" onde a questão do nativo americano foi tratada com respeito e seriedade.
Seminole (Seminole, Estados Unidos, 1953) Direção: Budd Boetticher / Roteiro: Charles K. Peck Jr. / Elenco: Rock Hudson, Anthony Quinn, Richard Carlson, Barbara Hale / Sinopse: Um tenente do exército americano é enviado para um forte localizado na Flórida. A região é constantemente fonte de tensão pois os nativos americanos não aceitam a presença do homem branco em suas terras ancestrais.
Pablo Aluísio.
O argumento do filme é baseado em fatos reais. A tribo Seminole realmente lutou contra o exército americano na Flórida. O grande chefe Osceola também é um personagem real. Já o tenente Lance Cadwell (Rock Hudson) é totalmente fictício. O desfecho do filme também não condiz com a realidade dos fatos. O chefe Osceola não morreu conforme vemos na tela. Apesar disso e do fato de existir outros erros históricos no roteiro, não há como negar que "Seminole" é um western muito bom. Seus méritos surgem logo no começo do filme com uma curiosa inversão de valores - algo realmente raro na década de 1950. Aqui os índios não são vilões carniceiros e nem os soldados americanos são heróis virtuosos. Pelo contrário, o que vemos no roteiro é uma civilização tentando manter seus hábitos e costumes, seu estilo de vida, em vista da invasão do homem branco. Já era um sinal de mudança dos filmes retratando esse período histórico dos Estados Unidos. A mentalidade começava a mudar, mesmo que aos poucos.
Outra questão importante: o mais alto oficial americano na estória é simplesmente um sujeito antipático, que toma as decisões erradas. Em um grande trabalho de caracterização, o ator Richard Carlson compõe um major totalmente fora de controle, megalomaníaco e até mesmo psicótico em certos momentos. Assistindo ao filme, vendo as tropas atoladas no pântano da Flórida, me lembrei daquela frase que diz: "Não existe situação mais grave do que a de ser comandado por um idiota". É isso o que vemos aqui - uma tropa liderada por um completo inepto. Outro aspecto curioso do filme é o fato dele se passar na Flórida, no meio pantanoso, bem diferente dos faroestes que estamos acostumados a assistir, em longas planícies do deserto no oeste selvagem. Enfim, gostei bastante de "Seminole", um filme com pequenos erros históricos certamente, mas socialmente muito consciente. Um parente distante de produções como "Dança com Lobos" onde a questão do nativo americano foi tratada com respeito e seriedade.
Seminole (Seminole, Estados Unidos, 1953) Direção: Budd Boetticher / Roteiro: Charles K. Peck Jr. / Elenco: Rock Hudson, Anthony Quinn, Richard Carlson, Barbara Hale / Sinopse: Um tenente do exército americano é enviado para um forte localizado na Flórida. A região é constantemente fonte de tensão pois os nativos americanos não aceitam a presença do homem branco em suas terras ancestrais.
Pablo Aluísio.
Roy Bean: O Homem da Lei
O filme conta a história real de Roy Bean (Paul Newman), um pistoleiro e ladrão, que chegou numa região remota do Texas. Na ausência de qualquer lei ou autoridade judicial no local, o bandoleiro resolveu se auto intitular "juiz" e começou a impor aos moradores locais sua inusitada versão da lei e da ordem. A história do filme foi baseada na vida real do juiz Roy Bean, um fora da lei que chegou numa região inóspita do Texas, depois do Rio Pacos (considerado a fronteira entre o mundo civilizado e a terra sem lei) e lá se auto proclamou "juiz" mandando os foras da lei para a forca, sem nem pensar duas vezes. De posse de um velho livro empoeirado de direito que ele nunca leu na verdade (pois era praticamente analfabeto e cego de um olho), o velho bandoleiro trouxe sua visão muito particular de justiça a todos os que cruzaram seu caminho.
O cineasta John Huston mais uma vez se mostrou genial na direção desse western, isso porque ao longo de todo o filme ele imprime um tom de fino humor negro e ironia que caiu muito bem na bizarra história. Já Paul Newman estava totalmente à vontade no papel e deu show ao interpretar o personagem principal. Seguro de si, cínico, o ator dominou todas as cenas, mesmo quando contracenou com o ótimo elenco de apoio, com direito a participação especial do próprio John Huston, interpretando um caçador de ursos que chega na distante localidade. Por essa época de sua carreira Paul Newman procurava por personagens mais ousados, que fugissem do habitual. Ele, por exemplo, jamais faria um faroeste convencional, como os que eram produzidos na era de ouro do gênero. O ator procurava mesmo por maiores desafios.
Depois que vi o filme ficou a curiosidade de saber mais sobre o verdadeiro Roy Bean. Para minha surpresa descobri que seu saloon (que era também o seu tribunal improvisado) ainda existe no Texas e virou ponto turístico. Seu nome é bem reverenciado naquele Estado e ele goza de uma reputação de fazer inveja a outros grandes nomes do western como Billy The Kid e Jesse James. Talvez por representar a famosa "justiça pelas próprias mãos", Roy Bean acabou virando um símbolo de uma era há muito perdida. Mesmo que sua decisões fossem absurdas e sem qualquer ligação com as leis reais, ele foi visto na época (e hoje em dia também por alguns) como alguém que tentou impor justiça em uma terra sem lei, marcada pelo crime, violência e pela injustiça sem limites. Se você gosta da história do faroeste americano e seus personagens, então o filme é obrigatório. Esse Roy Bean foi mesmo uma figura histórica mais do que curiosa.
Roy Bean - O Homem da Lei (The Life and Times of Judge Roy Bean, Estados Unidos, 1972) Direção: John Huston / Roteiro: John Milius baseado no livro de C.L. Sonnichsen / Elenco: Paul Newman, Ava Gardner, Roy Jenson / Sinopse: Filme baseado em fatos históricos reais. No velho oeste um ladrão e pistoleiro chamado Roy Bean (Paul Newman) chega numa região selvagem do Texas. Por lá não existia nem lei e nem ordem. Assim o velho Roy resolve assumir a figura de carrasco e juiz, mandando para a morte todos aqueles que cruzavam seu caminho. Filme indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Música Original ("Marmalade, Molasses & Honey" de Maurice Jarre, Alan Bergman e Marilyn Bergman).
Pablo Aluísio.
O cineasta John Huston mais uma vez se mostrou genial na direção desse western, isso porque ao longo de todo o filme ele imprime um tom de fino humor negro e ironia que caiu muito bem na bizarra história. Já Paul Newman estava totalmente à vontade no papel e deu show ao interpretar o personagem principal. Seguro de si, cínico, o ator dominou todas as cenas, mesmo quando contracenou com o ótimo elenco de apoio, com direito a participação especial do próprio John Huston, interpretando um caçador de ursos que chega na distante localidade. Por essa época de sua carreira Paul Newman procurava por personagens mais ousados, que fugissem do habitual. Ele, por exemplo, jamais faria um faroeste convencional, como os que eram produzidos na era de ouro do gênero. O ator procurava mesmo por maiores desafios.
Depois que vi o filme ficou a curiosidade de saber mais sobre o verdadeiro Roy Bean. Para minha surpresa descobri que seu saloon (que era também o seu tribunal improvisado) ainda existe no Texas e virou ponto turístico. Seu nome é bem reverenciado naquele Estado e ele goza de uma reputação de fazer inveja a outros grandes nomes do western como Billy The Kid e Jesse James. Talvez por representar a famosa "justiça pelas próprias mãos", Roy Bean acabou virando um símbolo de uma era há muito perdida. Mesmo que sua decisões fossem absurdas e sem qualquer ligação com as leis reais, ele foi visto na época (e hoje em dia também por alguns) como alguém que tentou impor justiça em uma terra sem lei, marcada pelo crime, violência e pela injustiça sem limites. Se você gosta da história do faroeste americano e seus personagens, então o filme é obrigatório. Esse Roy Bean foi mesmo uma figura histórica mais do que curiosa.
Roy Bean - O Homem da Lei (The Life and Times of Judge Roy Bean, Estados Unidos, 1972) Direção: John Huston / Roteiro: John Milius baseado no livro de C.L. Sonnichsen / Elenco: Paul Newman, Ava Gardner, Roy Jenson / Sinopse: Filme baseado em fatos históricos reais. No velho oeste um ladrão e pistoleiro chamado Roy Bean (Paul Newman) chega numa região selvagem do Texas. Por lá não existia nem lei e nem ordem. Assim o velho Roy resolve assumir a figura de carrasco e juiz, mandando para a morte todos aqueles que cruzavam seu caminho. Filme indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Música Original ("Marmalade, Molasses & Honey" de Maurice Jarre, Alan Bergman e Marilyn Bergman).
Pablo Aluísio.
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