Gostei desse filme. É uma bem elaborada crítica contra o sistema colonial. O cenário é um forte localizado bem no meio do deserto, na fronteira mais externa do império. Bom, antes de mais nada cabe uma informação. O filme erra ao não informar a época, nem a nacionalidade do exército invasor. De qualquer forma, temos a figura do colonizador. É um símbolo. E tudo corre relativamente bem. O comandante do forte é um homem sensato, já velho, calejado pela experiência. Identificado apenas como "o magistrado" ele trata bem todos os povos daquela região. Interpretado pelo ator veterano Mark Rylance, ele é o verdadeiro protagonista do filme.
Tudo muda com a chegada de um novo coronel chamado Joll (Johnny Depp). O sujeito é arrogante, perverso e com ar de superioridade. A pura boçalidade de um colonizador que acredita que todos os nativos são seres inferiores a ele. O militar acredita numa suposta superioridade racial e cultural sobre todos e as coloca em cima da mesa. Também é obcecado, acreditando que está para se formar uma grande rebelião contra o forte. Tudo pura ilusão de sua cabeça. Ele então começa sistematicamente uma série de torturas e barbaridades cometidas contra os locais. Mata pessoas idosas, cega mulheres jovens, agride e humilha os homens, tudo em suas sessões de tortura sem fim. Pura insanidade. Um jovem oficial, igualmente psicopata, interpretado pelo ator Robert Pattinson, faz todo o serviço sujo. Enquanto tortura, ri de forma sádica.
Assim o filme desfila a tragédia de se tornar membro de um grupamento militar nas mãos de um completo imbecil. Depp, que pelo visto em seus últimos filmes, está se especializando em interpretar vilões, está muito bem em seu papel. Porém quem merece aplausos de fato é o veterano Mark Rylance como o sensato magistrado. Em uma época em que isso era solenemente ignorado por forças de ocupação, ele defende os direitos humanos das populações locais. A fina ironia do roteiro é que os invasores chamam os nativos de "bárbaros", porém a verdadeira barbaridade é cometida pelos colonizadores, mostrando a verdade face dessa moeda histórica que até os dias de hoje ainda incomoda.
À Espera dos Bárbaros (Waiting for the Barbarians, Estados Unidos, Itália, 2019) Direção: Ciro Guerra / Roteiro: J.M. Coetzee / Elenco: Mark Rylance, Johnny Depp, Robert Pattinson / Sinopse: Um oficial de um país colonizador começa a cometer barbaridades e torturas contra as populações locais de uma região distante e inóspita do império, causando revolta e indignação por onde passa.
Pablo Aluísio.
Cinema
ResponderExcluirWaiting for the Barbarians (2019)
Pablo Aluísio.
Ah Pablo:
ResponderExcluirAté hoje os conquistadores se acham superiores a todos. Nos EUA, então!
Ontem escolheram uma negra pra ser vice do candidato Bernie Sanders e presidência dos EUA, nas esperança que a onda de revolta contra o racismo venha capitalizar para um candidato com uma vice negra e ativista. Os EUA, diferente do Brasil, só tem 12% da sua população
de negros, e todo americano, mesmo os que não confessam, se acham melhores e superiores aos negros, e/ou não gostam de negros, com raríssimas exceções. Já viu que o Trump vai levar de novo, não?
Concordo plenamente com você, Serge. Sem querer generalizar, mas o americano mais centrado, aquele que vive naquelas regiões do meio oeste e do sul, são bem racistas mesmo. É um racismo cultural, infiltrado na alma daquelas pessoas. Eles se acham superiores a todos, negros, latinos, etc. E isso certamente explica a vitória do Trump. Se ele vai levar esse ano? Ah, realmente já não sei. As cartas estão na mesa nesse exato momento.
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