domingo, 31 de dezembro de 2017
Elvis Presley - Burning Love and Hits from His Movies Vol. 2
2. Tender Feeling (Bernie Baum / Bill Giant / Florence Kaye) - Como era de se esperar em uma coletânea como essa, da RCA Camden, há uma boa dose de bobagens no repertório do disco. Curiosamente porém há também boas faixas, mesmo que retiradas das trilhas sonoras dos filmes de Elvis em Hollywood. Um bom momento vem com a romântica "Tender Feeling" do filme "Kissin Cousins" de 1964. Hoje em dia já gosto mais dessa trilha sonora. O filme é muito fraco, com um roteiro explorando dois personagens interpretados por Elvis, um caipira das montanhas e um oficial da força aérea. A única diferença entre eles era uma peruca loira. A parte musical do filme é bem melhor. Com o passar dos anos e com a inúmeras audições a trilha sonora hoje em dia me soa até bem divertida, com alguns momentos que se destacam. Essa canção "Tender Feeling" eleva a qualidade do disco como um todo. Elvis estava em um excelente momento vocal, cantando com aquela tonalidade do começo dos anos 60, caprichando realmente na interpretação. A melodia também ajuda muito. Não foge muito de certos clichês, mas o arranjo (igualmente adequado) preserva o romantismo à prova de falhas. Alguns podem até se enganar pensando tratar-se de mais uma composição de Don Robertson, mas não, essa é uma criação, quem diria, do trio Bernie Baum, Bill Giant e Florence Kaye. Aliás praticamente toda a trilha de "Kissin Cousins" é uma criação deles.
3. Am I Ready (Roy Bennett / Sid Tepper) - "Am I Ready" é outra balada romântica de filmes. Essa porém fez parte do filme "Spinout", um derivado de "Viva Las Vegas", onde Elvis voltava a interpretar um piloto de pistas de corridas. Até considero o filme bem produzido, fruto de um certo capricho do estúdio pois essa produção foi lançada para celebrar os 10 anos de Elvis em Hollywood. Até o famoso piloto Bruce McLaren, fundador da igualmente conhecida equipe de Fórmula 1, fez uma pequena pontinha no filme. Aliás um dos carrões que Elvis pilota em cena era uma autêntica máquina McLaren, uma das primeiras de sua recém fundada indústria de carros esporte. Pois bem, deixando de lado essas curiosidades automobilísticas, o fato é que a sonoridade da trilha sonora desse filme nunca me convenceu completamente. Há algo estranho nas gravações dessas músicas. Algo que incomoda. Os arranjos também sempre me soaram como menos caprichados do que de outras trilhas do passado. Essa baladinha romântica tem seus momentos, mas como fez parte de um pacote maior, acabou sendo prejudicada justamente por causa de sua sonoridade fora de tom. Também passava longe de ser uma novidade dentro da discografia de Elvis. Havia outras faixas dos anos 60, algumas arquivadas há anos, que certamente chamariam mais a atenção dos fãs.
4. Tonight Is So Right for Love (Joseph Lilley / Abner Silver / Sid Wayne) - "Tonight Is So Right for Love" é da trilha sonora do filme "Saudades de um Pracinha" (G.I. Blues, 1960). Elvis não gostava desse álbum. Para ele um disco sobre um soldado cantor era ir um pouco longe demais. Claro que "G.I. Blues" tinha mesmo uma alta dose de oportunismo barato, pois era Hollywood tentando faturar em cima do fato de que Elvis foi para a Alemanha prestar seu serviço militar. Isso é um ponto de vista inegável. Porém no caso específico desse disco devo discordar de Elvis. Em minha opinião "G.I. Blues" é uma das melhores trilhas sonoras dos anos 60. Tudo muito caprichado, músicas bonitas e bem gravadas, além de trazer uma nova versão ótima para seu clássico "Blue Suede Shoes". Se formos comparar "G.I. Blues" com outras trilhas sonoras, principalmente após 1965, perceberemos que Elvis estava reclamando de um material que no final das contas era muito bom. Claro que um roqueiro não poderia se sentir muito confortável em cantar marchas militares, mas isso é uma visão um pouco limitada, simplista. Dentro do que Hollywood fazia na época, com seus musicais, digo e reafirmo que esse álbum era realmente muito bom, tanto que foi elogiado em seu lançamento e ganhou indicações importantes em prêmios de música. Prova de sua inegável qualidade artística.
5. Guadalajara (Pepe Guízar / Joseph Lilley) - Eu não gosto de "Guadalajara". Não tem jeito. São coisas distintas. Uma coisa é ouvir uma música mexicana. Outra coisa completamente diferente é ouvir uma música feita por americanos de Hollywood que tenta se parecer com a verdadeira música do México. A segunda é apenas uma imitação da primeira. Infelizmente esse é o caso dessa canção gravada por Elvis para o filme "O Seresteiro de Acapulco" (Fun in Acapulco, 1963). Para não dizer que é um desperdício completo vale mencionar o bom arranjo, que acho muito interessante, embora não salve a música de ser fake, falsa. Fica apenas o prazer de ouvir todos aqueles metais ecoando pelas caixas de som. Obviamente não deixa de ser divertido ouvir Elvis se contorcendo todo para cantar alguns trechos em espanhol sem parecer algo completamente esquisito. É curioso que um dos grandes cantores da história da música norte-americano, o maravilhoso Nat King Cole, sempre se saía muito bem cantando em espanhol. Aliás algumas das suas mais lindas gravações são no idioma ibérico. Lindas, lindas performances. Eu não me importaria em nada em ouvir um álbum totalmente em espanhol cantado por Elvis Presley. Só que para funcionar, obviamente, as músicas teriam que ser originais, mexicanas ou espanholas de verdade, não algo composto por um maestro em Hollywood, feito meio às pressas, para cumprir contratos com estúdios de cinema. Joseph Lilley, o produtor dessas sessões, compôs "Guadalajara". É como se um compositor nascido no Alabama fizesse um samba carioca para um filme de Hollywood! Tem coisas que simplesmente não poderiam dar certo desse jeito.
6. It's a Matter of Time (Clive Westlake) - Bela canção romântica. Lado B do single "Burning Love". O compacto aliás amarrava todo o álbum. Esse tipo de estratégia hoje em dia nem faz muito sentido, mas nos anos 70 a gravadora ainda pensava dessa maneira equivocada. Esse disco, nem preciso dizer, é uma bagunça tremenda. A RCA pegou as duas canções do single "Burning Love" (que ainda trazia "It's a Matter of Time") para abrir os respectivos Lados A e B do vinil. Depois encheu linguiça colocando várias canções de trilhas sonoras dos anos 60, sem qualquer critério visível. Tudo jogado ao vento, sem nenhuma organização. Agora veja como a obra de Elvis conseguia sobreviver até mesmo aos erros de sua gravadora. Mesmo sendo mal lançado, desorganizado, de um selo menor e sem prestigio da RCA, o álbum fez sucesso comercial, vendendo 700 mil cópias! As pessoas gostaram tanto de "Burning Love" que imediatamente compraram o disco. Lançado em novembro de 1972 o álbum rapidamente se destacou nas paradas. Claro que o fã mais experiente sabia que estava sendo de certa forma enganado. Para ter "Burning Love" e "It's a Matter of Time" no formato LP ele teria que comprar outras oito músicas sem nenhum atrativo para quem era colecionador. Velhas canções de trilhas sonoras. Era a velha tática do Coronel Parker em lançar a mesma coisa duas, três, quatro vezes, se fosse possível. Um desrespeito para o consumidor. O ideal teria sido aproveitar diversas outras faixas que foram gravadas para a trilha sonora do disco "Elvis on Tour" (que jamais seria lançado) para preencher esse álbum. Aí sim teríamos um grande lançamento em mãos. Isso porém só aconteceria em um mundo perfeito, onde a RCA respeitasse mesmo os admiradores da obra de Elvis Presley. Algo que definitivamente não aconteceu.
7. No More (Hal Blair / Don Robertson) - Durante muitos anos a trilha sonora de "Blue Hawaii" foi o álbum mais vendido de toda a carreira de Elvis Presley. Um disco que comercialmente trouxe muito sucesso para Elvis. A crítica porém nunca gostou muito dele artisticamente. Disseram que era Hollywoodiano demais, sem consistência, com arranjos enjoativos (a tal sonoridade havaiana). Nem tudo o que se disse foi equivocado. Há de fato músicas que não se sustentam fora da trilha do filme, porém há também bela canções ali. Um exemplo é "No More", bela balada romântica escrita por Don Robertson (ótimo compositor romântico) e Hal Blair. Gravada e lançada em 1961, justamente dentro da trilha sonora de "Blue Hawaii" (Feitiço Havaiano, no Brasil), essa canção tem uma linda melodia que até hoje surpreende. Além disso Elvis estava em um momento vocal realmente maravilhoso. Um grande momento de sua carreira, sem dúvida alguma. Penso até que Elvis deveria ter aproveitada essa canção romântica nos palcos durante os anos 70.
8. Santa Lucia (Tradicional) - Outra boa faixa que foi usada nessa coletânea, outra que também veio de Hollywood, foi a italianíssima "Santa Lucia". Fã de Dean Martin, Elvis sempre flertou com a música italiana, algo que se acentuou depois quando ele retornou do exército em 1960. De tempos em tempos surgia no mercado novas gravações de Elvis nesse estilo, todas herdeiras de uma forma ou outra de seu grande sucesso "It´s Now Or Never" (seu compacto mais vendido em todos os tempos). Pois bem, essa faixa foi gravada para fazer parte do filme "Viva Las Vegas" (Amor à toda Velocidade, 1963). No filme ela não chegou a ser bem utilizada, mas dentro dos estúdios Elvis se empenhou e acabou tendo uma excelente performance, cantando a música com um capricho todo especial. Gosto muito do resultado final.
9. We'll Be Together (Phillip Brooks / O'Curran) - "We'll Be Together" foi tirada da trilha sonora do filme "Girls, Girls, Girls". Para os mais cínicos esse filme foi mais um dos vários genéricos de "Blue Hawaii" que Elvis filmou durante os anos 60. O Coronel Parker considerava esse o "produto perfeito" para Elvis, com trilha sonora cheia de músicas havaianas, clima bonito, bela fotografia e obviamente muitos dólares em caixa por causa do sucesso de bilheteria. Assim para "Girls, Girls, Girls" Elvis voltou ao Havaí. Ele interpretava um jovem pescador que tentava comprar um barco para ganhar a vida, enquanto cantava aqui e acolá nos night clubs locais. A música em si é apenas razoável, como praticamente todas as músicas desse filme. Nada muito memorável. Alguns ainda elogiam seu ritmo, sua sonoridade caribenha, mas sinceramente não me apetece.
10. I Love Only One Girl (Roy Bennett / Sid Tepper) - "I Love Only One Girl" era outra de trilha sonora dos anos 60. O filme "Double Trouble" era uma tentativa de levar Elvis para o mundo dos filmes de espionagem, ao estilo James Bond, o agente 007 que tinha permissão para matar. Já deu para perceber que era outro desperdício de tempo e dinheiro. O roteiro trazia um enredo que se passava na Europa, mas o Coronel Parker e a MGM acharam que isso sairia muito caro. Assim uma unidade foi enviada para a Bélgica e outros países do velho continente. Cenas exteriores foram gravadas e trazidas para Hollywood. Dentro do estúdio, já em Hollywood, Elvis iria apenas contracenar com essas imagens sendo exibidas atrás dele. Era a técnica chamada Back Projection Screen (algo como projeção atrás do elenco), que servia para economizar orçamento, mas que não parecia muito convincente nas telas de cinema. O filme acabou sendo feito assim. Era bem fraco, assim como toda a sua trilha sonora. Embora Elvis tente dar um gás, a verdade pura e simples era que o material era todo sem inspiração, feito às pressas. Assim não haveria mesmo salvação. Só serve mesmo para dar saudades das melhores trilhas de Elvis, que apresentavam boa qualidade artística, algo que ia ficando cada vez mais raro de acontecer, principalmente após 1965.
Elvis Presley - Burning Love and Hits from His Movies Volume 2 (1972) - Elvis Presley (vocais, violão) / James Burton (guitarra) / Scotty Moore (guitarra) / The Jordanaires (vocais) / Dj Fontana (bateria) / Ronnie Tutt (bateria) / Charlie Hodge (violão e vocais) / Jerry Scheff (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / Glen Hardin (piano) / J.D.Summer and the Stamps (vocais) / The Sweet Inspirations (vocais) / Kathy Westmoreland (vocais) / Bob Moore (baixo) / Buddy Harman (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Selo: RCA Camden, depois relançado pelo selo RCA Victor / Data de Lançamento: Outubro de 1972.
Pablo Aluísio.
sábado, 30 de dezembro de 2017
The Beatles - Abbey Road (1969)
1. Come Together (John Lennon / Paul McCartney) - Eu considero "Come Together" a última grande música de John Lennon nos Beatles. Ela foi lançada no disco "Abbey Road" que de certa maneira era uma colcha de retalhos composta e organizada por Paul McCartney. Havia literalmente um monte de pedaços de canções, letras inacabadas e melodias pela metade. Paul foi genial e com esse material em mãos criou uma verdadeira obra prima, principalmente no lado B do álbum que seguia uma linha bem inovadora, com várias composições de John, Paul e George que se entrelaçavam, quase como se não houvesse uma separação entre elas. Já "Come Together" fugia um pouco dessa linha. Era uma composição cem por cento John Lennon e que havia sido criada de forma independente ao conceito que Paul havia criado para "Abbey Road". A letra de John Lennon era na realidade um jogo de palavras. Isso já havia se tornado uma característica de John desde os tempos de "Revolver". Ele decidira romper com a velha fórmula de canções sobre amor, paixões de adolescente e afins. Para John isso não tinha mais nenhuma importância. Ele supostamente descreve um sujeito nada convencional, fora dos padrões, mas isso é apenas a espinha dorsal de sua composição. Lennon, inspirado por Dylan, não queria mais soar previsível ou convencional. Assim ele procurava sempre romper barreiras, tanto em termos de letra como melodia. Essa música tem um estilo estranho, com tensão em cada linha escrita. O ouvinte fica esperando pelo clímax que parece nunca chegar. Curiosamente ela seria regravada por Michael Jackson e Aerosmith alguns anos depois, mas nada supera realmente a beleza e a originalidade dessa gravação de Abbey Road. Realmente uma grande faixa que marcou a despedida de Lennon dos melhores anos de sua vida artística.
2. Something (Harrison) - Durante anos George Harrison viveu à sombra da dupla John Lennon e Paul McCartney. Em entrevistas John Lennon costumava dizer que o grupo sempre deixava um espaço nos álbuns dos Beatles para que George cantasse ou até mesmo encaixasse uma composição própria dentro do repertório. Além de ser mais jovem do que os colegas de banda, George ainda tinha que conviver com a genialidade deles na composição de dezenas de obras primas. Mesmo assim Harrison foi se aperfeiçoando com o tempo. Para muitos a canção "Something" foi a prova definitiva de seu talento como compositor, a sua melhor canção. Pena que ela veio um pouco tarde demais pois quando foi lançada no álbum "Abbey Road" de 1969 os Beatles já estavam separados. Composta por volta de 1968 George esperou alguns meses para levar a música para o estúdio. Queria trabalhar melhor nela. Uma demo crua, apenas com ele e sua guitarra, foi gravada pelo próprio George e em cima dela os demais Beatles e o produtor George Martin começaram a trabalhar nos arranjos. Logo no começo George Harrison percebeu que apenas uma guitarra seria insuficiente para criar a sonoridade que queria. Por isso tocou várias delas, de diferentes modelos, para que depois fossem unidas na edição da gravação original. O curioso é que John Lennon se ofereceu para tocar a guitarra base, mas George achou por bem ele mesmo tocar todas elas sozinho, dando sua própria marca registrada para cada detalhe da canção. Assim Lennon acabou indo para os teclados onde fez um trabalho apenas básico para o fundo instrumental da melodia. Os demais Beatles foram para seus instrumentos tradicionais, com Paul McCartney no baixo e Ringo Starr na bateria. Para a parte instrumental George Martin criou um arranjo envolvendo violinos, violoncelos e violões. Tudo foi acrescentado bem depois, na sala de edição de Abbey Road. O resultado ficou realmente ótimo, embora alguns críticos tenham reclamado do arranjo que para alguns se tornou excessivo. Ao longo dos anos "Something" (que foi lançada como single ao lado de "Come Together") se tornou um dos maiores sucessos dos Beatles sendo regravada por alguns grandes cantores, entre eles Frank Sinatra e Elvis Presley (que lançou sua versão ao vivo no álbum "Aloha From Hawaii"). Em suma, essa é provavelmente a maior obra prima da carreira de George Harrison. Uma prova de que ele não era apenas mais um nos Beatles.
3. Maxwell's Silver Hammer (John Lennon / Paul McCartney) - Essa é uma das músicas mais interessantes do álbum "Abbey Road" dos Beatles. Essa canção foi uma das mais perfeitas, do ponto de vista técnico, da discografia do grupo. Essa perfeição porém teve seu preço. Os demais membros do grupo começaram a se irritar com Paul McCartney porque a gravação parecia nunca ter fim... Paul sempre aparecia querendo lapidar ainda mais a faixa, acrescentar algum detalhe, alguma novidade em sua sonoridade. O preciosismo absurdo de Paul irritou tanto os outros que Lennon simplesmente sumiu do estúdio por duas semanas apenas para não se envolver mais na gravação dessa faixa. Para ele "Maxwell's Silver Hammer" era de uma chatice indescritível. Depois que John foi embora, George Harrison também começou a criticar a música de Paul, dizendo que ela era uma coisa velha, ultrapassada, Parecia a música que Paul estava fazendo para seu avô - por causa da sonoridade anos 1920 que McCartney queria trazer para a faixa. Tentando amenizar tudo Ringo Starr (sempre ele, o conciliador) afirmou que havia um exagero na rabugice de John e George. Ok, a música tinha um timing envelhecido, de tempos antigos, mas também era verdade que ela resultou em uma gravação absurdamente perfeita, cheia de inovações sonoras, que não eram comuns em discos de banda de rock dos anos 60. Mais uma inovação sem precedentes dos Beatles nesse aspecto.
4. Oh! Darling (John Lennon / Paul McCartney) - Depois ouvimos a bela canção romântica "Oh Darling!". Que Paul McCartney sempre foi um grande compositor de baladas, isso provavelmente todo mundo já sabe. O que poucos conhecem é que nos bastidores dos Beatles sempre havia uma disputa surda envolvendo Paul e John. Enquanto McCartney estava sempre lapidando suas criações românticas, John ficava pegando em seu pé, dizendo que ele estava sempre fazendo canções piegas. O próprio John chegou a declarar sobre isso em uma entrevista: "Eu estava sempre surgindo nos estúdios com rocks pesados, enquanto Paul surgia como o poeta romântico dos Beatles. Eu ficava perplexo com isso porque queria contrabalancear nos discos dos Beatles e como Paul só parecia surgir com músicas de amor eu tinha que me virar criando rocks! Quando os Beatles se separaram eu até mesmo fiquei em dúvida se ainda conseguiria compor alguma música romântica depois de anos de pauleira". Pois é, não foi fácil para John aguentar por anos e anos as intermináveis declarações de amor de Paul em forma de notas musicais... De qualquer forma, indiferente com as críticas de John, Paul surgiu no estúdio Abbey Road com essa nova faixa romântica "Oh Darling!" - aliás mais do que isso, uma das mais sinceras e ternas melodias de sua carreira. A inspiração de Paul veio de velhas músicas americanas dos anos 50, com todos aqueles refrãos pegajosos e ultra românticos. Para gravar seus vocais Paul também decidiu que iria chegar mais cedo no Abbey Road para chegar no tipo de vocalização que considerava a ideal. Ele acreditava que sua voz ficava particularmente mais bonita nas primeiras horas da manhã. Assim mal o estúdio era aberto às sete da manhã e lá estava Paul gravando sozinho, sem os demais Beatles que só apareciam muitas horas depois. Depois que Paul finalmente gravou seus vocais o resto da banda contribuiu com a parte instrumental. John foi para o piano tirar algumas notas evocativas daquele espírito rock romântico dos 50´s. George criou um bonito solo de guitarra e Ringo fez o feijão com arroz com sua bateria. Até Billy Preston (que havia trabalhado em "Let It Be") deu uma pequena canja tocando seu sintetizador (embora na versão oficial Paul tenha eliminado essa parte). Então é isso, uma canção despudoradamente apaixonada, como tem que ser. Afinal grandes amores sempre são melhores quando são loucamente vividos.
5. Octopus's Garden (Starkey) - A canção "Octopus's Garden" tem algumas características bem próprias. Essa música foi composta por Richard Starkey, ou melhor dizendo, Ringo. Desde os primeiros discos dos Beatles sempre uma faixa era separada para ser cantada por Ringo. Segundo John as músicas mais simples eram escolhidas por ele e Paul para o baterista soltar a voz. Em um momento pouco feliz de sua tagarelice, John chegou a debochar do baterista durante uma entrevista nos anos 70 dizendo que ele definitivamente "não era o melhor cantor do mundo!". Não deveria ter dito algo assim. De qualquer maneira era tradicional abrir esse espaço para o bom e velho Ringo. A novidade era que "Octopus's Garden" era uma criação própria de Ringo e não apenas uma música composta por Lennon e McCartney e interpretada por ele. De certa maneira causou até mesmo uma surpresa entre John e Paul o fato de Ringo surgir no estúdio com uma canção nova, feita apenas por ele! Não era algo que eles esperavam acontecer durante aquelas sessões. Desde o momento em que ele mostrou uma demo bem crua para os demais, Paul, John e o produtor George Martin decidiram que ali deveria haver muitos efeitos sonoros, tal como havia acontecido com "Yellow Submarine". Aliás para muitos críticos e especialistas da obra dos Beatles essa canção era mesmo uma espécie de sequência daquela famosa música do álbum "Revolver". Paul e John sentaram no estúdio e escreveram alguns efeitos que deveriam aparecer na gravação. Embora não tenham sido creditados na autoria da canção o fato é que a participação deles foi essencial para que "Octopus's Garden" tivesse aquela sonoridade bem conhecida, diferente de todas as outras músicas desse disco.
6. I Want You (She's so Heavy) (John Lennon / Paul McCartney) - Já "I Want You (She's So Heavy)" era uma composição inteiramente feita por John Lennon. Na verdade eram duas músicas diferentes, sobre temas diversos que Lennon resolveu unir em uma só para ser lançada no álbum "Abbey Road". A primeira chamada "I Want You" foi composta para Yoko Ono. John dizia que em relação a ela tinha que compor versos primários mesmo, pois sua paixão pela japonesa era algo primal, praticamente visceral. Por essa razão a maioria das letras falando de seu romance com Yoko eram de uma sinceridade e singeleza que chegavam a incomodar. Essa linha seria seguida por John Lennon em praticamente todos os seus discos da carreira solo que invariavelmente também tinha um só tema: seu amor por Yoko Ono. Por outro lado "She´s So Heavy" era bem mais pesada. O "She" (Ela) da letra não se referia a uma mulher, mas sim a uma droga. Na época em que a criou John estava afundado em um pesado vício na heroína, uma droga da pesada que causava forte dependência em seus usuários. John já tinha tido problemas antes em escrever letras sobre drogas, principalmente no que dizia respeito a boicotes em rádios inglesas e americanas. Aqui as coisas foram mais amenizadas pois como a música foi unida a outra criou-se a (falsa) impressão que toda a letra dizia somente respeito a Yoko Ono. No estúdio John também resolveu inovar. Criou uma parede sonora, bem pesada, que anos depois seria associada ao Rock Progressivo. Também resolveu fazer um corte abrupto no final da faixa, o que fez alguns compradores voltarem às lojas dizendo que seus discos estavam com defeito! Não era defeito de fabricação, mas sim um jeito inovador que Lennon resolveu criar na sala de edição do produtor George Martin.
7. Here Comes the Sun (Harrison) - Durante muitos anos "Something" foi considerada a grande música de George Harrison no álbum "Abbey Road". Não havia nada de errado nisso. Realmente é um grande clássico e provavelmente o auge da fase criativa de Harrison nos Beatles. Acontece que esse disco trazia também outra obra prima do repertório de George, a linda "Here Comes The Sun". Ela abria o lado B do vinil original e era realmente um primor. O curioso é que as origens dessa música trazem um claro paradoxo por parte de Harrison. A música, como podemos notar em sua letra e melodia, tem clara inspiração no movimento hippie. A letra evocando amor, natureza e bucolismo, se encaixa perfeitamente bem nesse sentido. A questão é que o próprio George não tinha uma opinião muito favorável sobre esse mesmo movimento. Em mais de uma vez ele criticou os hippies. Em certa ocasião George foi convidado para participar de um encontro hippie na Califórnia. Ele prontamente aceitou o convite pois achou que iria encontrar pessoas comprometidas em criar um novo mundo, baseado na difundida mensagem da paz e do amor. Mas ao chegar lá George encontrou algo completamente diferente. Em suas próprias palavras: "Quando cheguei no encontro tudo o que encontrei foi um bando de jovens drogados... drogados e sujos, ralando pela lama. Ninguém ali queria discutir filosofia, paz ou amor, mas sim tomar drogas...". Apesar da decepção com os hippies, George acabou compondo e gravando essa canção que para muitos é a maior canção hippie já feita. Contraditório? Sim, mas isso fazia parte da personalidade complexa do Beatle.
8. Because (John Lennon / Paul McCartney) - "Because" é mais uma obra prima desse álbum. Para entender bem essa canção é interessante saber de onde ela veio e que movimentos musicais acabaria inspirando. O rock progressivo ficou muito associado a uma característica básica: a união entre o rock, música popular por excelência, e o clássico, com sua erudição. Isso é bem demonstrado em álbuns de grupos como Pink Floyd e Yes. O auge do progressivo aconteceu justamente na década de 1970, quando os Beatles já não existiam mais. Isso porém não significa que o grupo não tenha explorado essa linha mais erudita. Um dos maiores exemplos vem nessa faixa do Abbey Road chamada "Because". Aqui os Beatles usaram um arranjo vocal bem de acordo com sua linha tradicional acompanhados de uma orquestração que nos faz lembrar das peças escritas pelo grande Mozart. O uso de instrumentos clássicos, nada comuns de se encontrar em discos de rock, acentua ainda mais esse aspecto. Nem é complicado entender em gravações como essa a importância de George Martin na produção dos discos dos Beatles. Vou mais além, em minha opinião Lennon e McCartney deveriam ter dado a coautoria da música para Martin pois foi ele, com seus conhecimentos de maestro, que criou toda a sonoridade que aqui ouvimos. Um toque de gênio, com certeza. Ainda insistindo um pouco mais na questão do arranjo vocal penso que esse foi um dos melhores de toda a carreira do grupo. Existe uma versão apenas com as vozes de John, Paul e George, completamente isoladas da parte instrumental, que é de arrepiar. Desde que começaram a cantar, ainda nos tempos de colegiais, sempre seguindo a linha de grupos como The Everly Brothers, os Beatles procuravam a melhorar a cada ano. Pois foi justamente em Abbey Road, nessa canção "Because", que eles atingiram o seu auge de perfeição. Perfeitamente sincronizados e com uma afinação de fazer qualquer amante de boa música, bater palmas, essa faixa e sua execução vocal está certamente entre os grandes momentos do conjunto. "Because" é outro momento desse álbum que pode ser chamado, sem favor algum, de obra prima da música. Um verdadeiro primor musical.
9. You Never Give Me Your Money (John Lennon / Paul McCartney) - Música de Paul McCartney que traz em sua letra uma clara mensagem para Alain Klein que estava passando a mão nos bolsos dos Beatles quando ele se tornou o responsável pela Apple. Obviamente Lennon entendeu o recado de Paul, mas resolveu bancar a provocação. Como se sabe foi John quem trouxe Klein para a Apple, brigou para que ele se tornasse o responsável pelos negócios dos Beatles, mesmo contra a opinião de Paul, e depois acabou sendo processado pelo desonesto agente. Se tivesse ouvido seu companheiro de banda nada disso teria acontecido.... Na parte musical houve algumas pequenas inovações dentro dos estúdios: Paul tocou piano e baixo; John ficou na guitarra; George Harrison no piano, pandeiro e em duas guitarras e finalmente Ringo criou algumas variações em sua bateria. George Martin ainda arranjou espaço para acrescentar um segundo piano para melhorar a harmonia da gravação.
10. Sun King (John Lennon / Paul McCartney) - John Lennon gostava de passar suas férias na Espanha, nas praias que banhavam a costa do mar Mediterrâneo. Foi justamente numa dessas viagens que ele compôs "Sun King". Ele inclusive decidiu colocar algumas palavras em espanhol na letra original(que depois contaria com a preciosa colaboração de Paul que sabia mais algumas frases na língua espanhola). Embora seja um bom momento do disco não há como negar que se trata de mais um pedaço de música inacabada por John que acabou sendo encaixada no lado B do álbum. Como havia muitos trechos como esse, Paul teve a brilhante ideia de juntá-las todas, como se fizessem parte de um grande medley.
11. Mean Mr Mustard (John Lennon / Paul McCartney) - Essa composição era mais uma contribuição de John. Ele havia escrito poucas linhas do que viria a se tornar a canção quando estava na Índia. De certa forma era uma sobra das gravações do "White Album" que John resolveu resgatar. O curioso é que anos depois ele destruiu a música ao comentar sobre ela durante uma entrevista. Ele próprio reconheceu que a composição era "Um lixo que ele havia escrito em algum pedaço de papel quando estava na Índia". Como se pode ver John não deixava pedra sobre pedra com seu estilo mordaz de criticar não apenas os outros, como também a si próprio.
12. Polythene Pam (John Lennon / Paul McCartney) - Depois de Paul era a vez de John apresentar uma nova canção nos estúdios chamada "Polythene Pam". A palavra "nova" deve ser encarada em termos. Embora essa canção tenha sido lançada no álbum "Abbey Road", ela quase entrou no "White Album". Lennon só não a colocou naquele disco porque ele não a considerava ainda finalizada. Uma bobagem já que na verdade a composição nunca foi terminada por John. Assim quando os Beatles gravavam seu último LP John concordou com Paul McCartney em colocá-la no meio do medley do lado B - o que acabou virando uma das marcas registradas desse maravilhoso trabalho do grupo. Anos depois o próprio John iria esclarecer que "Polythene Pam" havia sido composta na Índia, quando os Beatles estavam por lá para meditar e aprender aspectos da religião hindu. Nessa época a rotina de John era fumar muito maconha, assistir as palestras de seu guru (que depois iria se revelar um picareta) e compor, com seu violão nas horas vagas. Assim a música foi criada, de forma bem despretensiosa e sem muita sofisticação. No "Abbey Road" temos uma versão bem básica, praticamente inacabada, servindo apenas como um link entre as diversas faixas. Pelo visto o próprio John cansou da música e nem sequer se preocupou muito em finalizá-la adequadamente. De qualquer maneira o bom solo de guitarra e a garra da gravação já valem a pena por si só.
13. She Came in Through the Bathroom Window (John Lennon / Paul McCartney) - Durante uma entrevista nos anos 70 John Lennon aceitou fazer uma espécie de bate-bola onde o entrevistador ia citando algumas músicas dos Beatles e ele ia respondendo sobre elas, de forma rápida e simples, dizendo o que primeiro lhe vinha a cabeça. Quando surgiu o nome de "She Came in Through the Bathroom Window" do álbum Abbey Road, John disparou: "Essa música é completamente de Paul. Não tenho a menor ideia do que se trata! Provavelmente Linda tenha entrado pela janela do banheiro, não sei, alguém entrou pela janela do banheiro...". Pois é, a origem dessa canção segue sendo um mistério Beatle. Na verdade a música em si não passava de um pequeno refrão sem importância que havia sido ensaiada durante os trabalhos de "Get Back" (que depois iria se transformar no filme e álbum "Let It Be"). Nada sem muita importância, nada muito bem trabalhado por Paul. Alguns boatos dizem que a tal pessoa que entrou pela janela do banheiro foi a filha de Linda, durante um dia em que Paul estava tão drogado que não conseguia nem abrir a porta de seu apartamento, fazendo com que a garotinha pulasse pela janela para abrir a porta por dentro. Quem sabe o que realmente teria acontecido? Acredito que nessa altura do campeonato nem mesmo Paul saiba mais explicar a origem da letra. De qualquer maneira a faixa é um bom momento do super Medley que Paul havia concebido para fazer parte do disco. Sua fusão com o rock "Polythene Pam" de John funciona muito bem. De uma coisa ninguém duvidava: Paul era realmente um mestre de estúdio, fazendo o melhor dentro de Abbey Road ao lado de George Martin. Coisa fina.
14. Golden Slumbers (John Lennon / Paul McCartney) - Paul McCartney tirou a ideia da canção de uma obra infantil, um conto de fadas. Depois escreveu o arranjo como se fosse uma velha canção de ninar. Para a letra Paul usou a obra do poeta Thomas Dekker. Mesmo com tantas fontes de inspiração Paul não se sentiu muito confortável com o resultado final. Para ele ainda estava faltando algo, pois a gravação original realmente tinha ficado bem curta. Assim ele resolveu unir esse trecho com "Carry That Weight", outra de suas composições que ele trazia para o álbum.
15. Carry that Weight (John Lennon / Paul McCartney) - John Lennon ficou um pouco irritado após ouvir a primeira demonstração dessa música por Paul dentro do estúdio porque a letra era obviamente outra indireta contra Allen Klein, o sujeito que John havia trazido para ser o novo empresário dos Beatles. Paul havia ficado muito irritado com essa escolha pois ele queria que seu sogro se tornasse o novo homem de negócios do grupo. John porém passou por cima de Paul, colocando Klein no comando. A troca de farpas entre eles dentro dos estúdios Abbey Road assim se tornou bem óbvia. John inclusive cogitou mais uma vez sabotar a criação de seu colega de banda, colocando todos os tipos de problemas para tocar na gravação. Sua má vontade tinha se tornado bem clara para todos.
16. The End (john Lennon / Paul McCartney) - É um desfecho, a última faixa a ser creditada na contracapa do álbum original de 1969. Nela Paul canta um verso que ficou bem conhecido dos fãs: "E no fim, todo o amor que você recebe é igual ao amor que você deu". Como a baladinha "Her Majesty" não foi creditada, muitos pensaram na época que ela era na verdade "The End", mas são músicas diferentes, que até hoje confundem os ouvintes.
17. Her Majesty (john Lennon / Paul McCartney) - O que muitos pensam ser "The End" na verdade é "Her Majesty". Depois de uma longa pausa Paul surge repentinamente tocando seu violão, numa baladinha com poucos versos. Essa gravação nem mesmo iria aparecer no disco, mas de última hora Paul achou que seria divertido causar uma "surpresa" aos ouvintes. Quando todos pensavam que o álbum havia terminado eis que surgia do nada Paul e seu violão para um recadinho final.
The Beatles - Abbey Road (1969) - John Lennon (vocais, guitarra, violão e piano) / Paul McCartney (vocais, baixo, violão e piano) / George Harrison (vocais, violão e guitarra) / Ringo Starr (vocais, bateria e percussão) / Produção: George Martin / Local de gravação: Abbey Road Studios, Londres / Data de gravação: 22 de fevereiro a 20 de agosto de 1969 / Data de Lançamento: Setembro de 1969 / Selo: Apple Records - Emi Odeon / Melhor Posição nas paradas: #1 (Estados Unidos), #1 (Reino Unido).
Pablo Aluísio.
10 curiosidades sobre o álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band
🎵 1. Conceito inovador
Foi um dos primeiros álbuns conceituais da história. A ideia era que os Beatles “interpretassem” uma banda fictícia, a Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, o que deu liberdade criativa total ao grupo.
🎨 2. Capa histórica
A capa icônica — com os Beatles cercados por figuras famosas — foi criada por Peter Blake e Jann Haworth. Entre os rostos estão Marilyn Monroe, Bob Dylan, Karl Marx, Marlon Brando, e até Edgar Allan Poe.
Ela é considerada uma obra de arte pop e custou uma fortuna para a época.
🎚️ 3. Revolução em estúdio
Foi gravado entre dezembro de 1966 e abril de 1967, com o produtor George Martin, usando técnicas de gravação inovadoras: fitas invertidas, sobreposições múltiplas e sons de orquestra mixados com instrumentos de rock.
🧠 4. Ausência de singles
Nenhuma música do álbum foi lançada como single na época. Isso foi incomum para os Beatles, que sempre tinham sucessos nas paradas. Mesmo assim, o disco vendeu milhões.
🎻 5. “A Day in the Life”
A faixa final, “A Day in the Life”, é considerada uma das mais ambiciosas canções dos Beatles, com uma orquestra de 40 músicos tocando um crescendo caótico. O acorde final dura mais de 40 segundos!
🌈 6. Influência do LSD
O álbum foi fortemente associado à cultura psicodélica dos anos 60. Letras como as de “Lucy in the Sky with Diamonds” e o clima geral das músicas refletem o espírito experimental da época (embora os Beatles negassem referências diretas ao LSD).
🎺 7. Instrumentos inusitados
Além das guitarras e baterias, foram usados harmônio, sitar, órgão Hammond, sons de circo e até sinos de igreja. Cada faixa tem arranjos cuidadosamente planejados.
🧥 8. Uniformes coloridos
Os Beatles aparecem na capa vestidos com uniformes de banda marcial vitoriana, desenhados especialmente para eles. Cada cor representava um membro, reforçando o tema teatral e fantasioso.
📀 9. Revolução cultural
O álbum mudou a forma como o público via o LP como arte completa, e não apenas uma coleção de músicas. Inspirou artistas como The Beach Boys, Pink Floyd, David Bowie e The Who.
🏆 10. Reconhecimento histórico
“Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” ganhou 4 prêmios Grammy em 1968, incluindo Álbum do Ano — o primeiro de um grupo de rock a conquistar essa categoria.
Em 2003, a Rolling Stone o elegeu o melhor álbum de todos os tempos.
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
The Beatles - Revolver
Paul McCartney - Tug of War (1982)
Após a separação dos Beatles, Paul McCartney resolveu formar seu próprio grupo musical. Assim ele reuniu o músico Denny Laine e sua esposa Linda McCartney e fundou o Wings. Paul passaria praticamente toda a década de 70 promovendo o conjunto mas no começo dos anos 80 resolveu encerrar suas atividades. A partir daí ele próprio assinaria seus discos, assumindo definitivamente uma carreira solo. Tug Of War seria assim seu próximo projeto estritamente pessoal desde McCartney II em 1980. Porém ao contrário desse primeiro disco nos anos 80, que foi extremamente experimental, Paul iria desenvolver um disco bem mais produzido e feito para fazer bonito nas paradas. Para tanto chamou o produtor dos Beatles, George Martin, para conduzir as gravações. Paul tinha claras ambições de voltar a reconduzir sua carreira para o caminho do grande sucesso. Com Martin ao seu lado, Paul conseguiu produzir aquele que, muito provavelmente, foi seu melhor trabalho musical nos anos 80, Tug Of War. Além da presença marcante de George Martin, Paul resolveu escalar um grupo de excelentes músicos para lhe acompanhar no projeto. Assim ele convidou Steve Wonder para participar (e dividir a autoria) em dois belos momentos do disco: What's That You're Doing? e Ebony and Ivory, essa última lançada em single de grande sucesso. Para homenagear suas raízes musicais trouxe o lendário cantor da Sun Records, Carl Perkins e com ele gravou uma das faixas mais deliciosas de Tug Of War, Get It. Stanley Clarke, famoso músico de jazz também se uniu ao grupo que ficou completo com a participação muito especial do ex-Beatle Ringo Starr. Como o disco foi gravado meses após a trágica morte de John Lennon, Paul resolveu homenagear seu antigo amigo e parceiro musical na linda faixa Here Today. A faixa título traria uma temática que seria depois desenvolvida no próximo trabalho de McCartney, Pipes Of Peace, e Ballroom Dancing se tornaria uma das mais conhecidas (e dançantes) faixas de toda a carreira de McCartney. Completando o LP, Paul ainda emplacou aquela que está entre algumas de suas mais bonitas melodias, Wanderlust. Em suma o disco é ótimo em qualquer aspecto que se analise. Com ele Paul foi logo aclamado pela crítica e pelo público, fazendo com que o álbum logo se tornasse o mais vendido nas principais paradas musicais do mundo, como a Billboard e a NME (em ambas Tug Of War chegaria ao primeiro lugar). Esse grande sucesso comercial acabou colocando Paul em contato com Michael Jackson, que naquele mesmo ano desenvolvia seu fenomenal disco Thriller. Paul até mesmo participaria do disco do astro na faixa The Girl Is Mine e no ano seguinte lançaria um single ao lado de Michael, Say, Say, Say, mas essa é uma outra história...
Tug of War (Paul McCartney) - Linda canção tema desse que considero um dos grandes discos da carreira solo de Sir Paul McCartney. Aqui temos mais um exemplo do grande trabalho de arranjo e orquestra por parte do maestro George Martin. É interessante notar que Paul continuou a trabalhar com ele após o fim dos Beatles. Isso trouxe muita qualidade para os trabalhos solos do cantor, ao contrário de John Lennon, por exemplo, cujos discos gravados após o final dos Beatles sempre foram criticados por causa dos arranjos simples, sem muita sofisticação. A falta de George Martin era sempre realçada e lembrada quando qualquer novo álbum do ex-beatle chegava nas lojas. A melodia de "Tug of War" é até simples. Embora seja uma faixa onde a parte orquestral é sentida desde o primeiro segundo, o fato é que Martin e Paul chegaram na conclusão que sua simplicidade - como o inicial acompanhamento de violão, onde foi composta - deveria ser mantida. Em cima disso toda a orquestral seria construída, sem nunca porém se sobressair ao seu refrão singelo, diria até naturalista. A letra também é destaque porque é aberta a todo tipo de interpretação. Estaria Paul falando de um cabo de guerra dentro de um relacionamento, onde o casal acaba se vendo em uma disputa por poder e controle, ou ao contrário Paul estaria se referindo a um aspecto maior, envolvendo toda a sociedade humana como um todo? Ambas as formas de entender a canção são válidas. Em suma, mais uma bela composição do gênio Paul, sempre surpreendendo a cada novo álbum.
Take It Away (Paul McCartney) - Muito bem. Dando sequência aos textos sobre esse excelente disco de Paul McCartney (desde sempre um dos meus preferidos em sua discografia), vamos tecer alguns comentários sobre essa canção "Take It Away". Como era praxe nos álbuns de Paul durante os anos 80, ele sempre escolhia duas ou três músicas que se tornariam os "cavalos de batalha" do disco, ou melhor dizendo, as canções de trabalho, como se diz no Brasil. Eram as músicas que deveriam fazer sucessos nas rádios, puxando as vendas do álbum. Também como era comum desde o começo, Paul lançava essas faixas, que ele acreditava ter mais potencial para o sucesso nas rádios, em singles. Tudo acompanhado de um bom clipe musical para ser exibido na TV e isso, percebam bem, antes do surgimento do canal MTV, que era em seu começo especializado na exibição desse tipo de vídeo promocional, algo que foi muito difundido por Michael Jackson justamente a partir dessa época, no comecinho dos anos 80. Por falar em clip esse era quase uma paródia dos próprios Beatles. Paul aparecia ao lado de seu grupo musical (Ringo, Linda e George Martin!) como se fossem membros de um conjunto bem no começo da carreira. Depois surge um empresário (interpretado pelo ator John Hurt) que os eleva para o sucesso máximo. Claro que tudo de forma bem rápida e instantânea. Esse clip é curioso por algumas coisas, entre elas o fato de que visualmente tudo é muito colorido, plastificado, como era comum nos anos 80. Já o single (com "I'll Give You a Ring" no lado B), lançado em junho de 1982, conseguiu alcançar o Top 10 da parada de sucessos da revista Billboard, se tornando assim o primeiro grande hit do álbum, demonstrando o grande potencial comercial do disco que acabaria se transformando em um grande sucesso de vendas.
Somebody Who Cares (Paul McCartney) - "Somebody Who Cares"é uma balada ao estilo voz e violão que conquista o ouvinte por causa de sua simplicidade. Poderia ter sido gravada pelos Beatles em sua primeira fase. Não há maior sofisticação em seu arranjo e talvez essa seja sua principal qualidade. A vocalização é ao estilo Wings, inclusive com Linda McCartney no coro. Paul ainda inseriu um instrumento não muito comum em seus discos, a flauta doce, que aparece em determinado momento da canção. O destaque instrumental porém vai para o violão - tocado pelo próprio Paul que depois explicaria que havia composto a música na praia, quando estava passando férias nas Bahamas. Por isso a simplicidade de um luau. O resultado é dos melhores, sem dúvida.
What's That You're Doing? (Paul McCartney) - Já "What's That You're Doing?" tem a marca característica do som da Motown. Também pudera, essa é uma parceria - tanto na composição como no vocais, entre Paul McCartney e Stevie Wonder, o garoto maravilha da Motown. Para falar a verdade essa canção é, se pudesse dizer em termos percentuais, oitenta por cento Stevie Wonder e apenas vinte por cento Paul McCartney. A batida, o arranjo, a letra, tudo nos remete aos discos de Wonder. Curioso perceber como Paul abriu mão de sua sempre conhecida força dentro dos estúdios em prol do convidado Stevie Wonder. Em termos gerais ele virou coadjuvante em seu próprio disco, vejam só! No geral é uma ótima faixa, extremamente bem gravada (o velho perfeccionismo de Paul se fez presente de novo), porém com as portas abertas para que Wonder deitasse e rolasse em seus próprios termos. Poucas vezes em sua carreira Paul abriu tanto espaço para outro artista como aqui. Ele o faria de novo, com Michael Jackson, no disco que viria, mas essa é obviamente uma outra história.
Here Today (Paul McCartney) - A morte de John Lennon foi um choque em todo o mundo. Agora imagine para Paul McCartney que foi seu amigo mais próximo desde quando era apenas um mero adolescente em Liverpool. É verdade que o fim dos Beatles abalou muito a amizade entre ambos. Houve até processos judiciais entre eles, principalmente envolvendo a gravadora e empresa Apple, que foi um desastre comercial de proporções épicas. Eles não eram homens de negócios, mas músicos e quando tudo deu errado começou o jogo de culpas, um culpando o outro pelo fracasso. Coisas ásperas foram ditas e John e Paul ficaram anos sem se falar - nem por telefone! Segundo o próprio Paul meses antes de John morrer eles voltaram a se falar e as velhas mágoas pareciam superadas. Paul ligava constantemente para John em Nova Iorque e chegou a visitá-lo em seu apartamento na cidade. Enfim, não era mais a bela amizade da juventude, mas havia uma pequena luz de aproximação entre eles. E então quando as coisas começavam a melhorar veio o desastre. John Lennon foi assassinado brutalmente por um louco na frente do Dakota. A ficha para Paul demorou a cair e só dois anos depois, no maravilhoso álbum "Tug Of War" ele resolveu homenagear o velho amigo de banda. Assim foi escrita "Here Today", uma canção simples, de arranjo bem modesto, quase violão e voz, mas que trazia um grande sentimento em sua melodia e letra. Um dos mais belos momentos da carreira solo de Paul McCartney e uma canção à altura da genialidade musical de seu parceiro de longos anos.
Ballroom Dancing (Paul McCartney) - Algumas coisas são bem interessantes na obra solo de Paul. Ele sempre disse que tinha atração muito especial pela década de 1920 e sua sonoridade. Isso foi uma herança de seu pai que também era músico e chegou a ter um grupo vocal no passado. Assim Paul acabou desenvolvendo uma grande cultura musical, passada principalmente por James McCartney, o seu velho. É até divertido o depoimento do pai de Paul recordando da primeira vez que ouviu os Beatles em sua própria casa. Na época o grupo era na verdade apenas um bando de adolescentes que não acertavam muitas notas e não tinham qualquer tipo de experiência. Anos depois James diria: "Eles eram completamente horríveis, mas com o tempo fui percebendo que eles melhoraram muito. Um dia cheguei em casa e tive uma surpresa ao ver como estavam bons com seus instrumentos". Com a morte da mãe de Paul, ainda muito jovem, e com seu pai trabalhando o dia todo fora, a casa de Paul acabou virando o primeiro "estúdio" de ensaio dos jovens Beatles. Pois bem, em 1982 Paul resolveu gravar esse sua antiga composição, "Ballroom Dancing", que lembrava justamente os anos 20. Essa foi uma das faixas que mais exigiram a atenção de Paul dentro do álbum "Tug of War". Uma pequena orquestra foi contratada para dar a sonoridade de uma velha banda de bailes. Ao lado do produtor e amigo George Martin (sim, o gênio por trás dos melhores discos dos Beatles), Paul escreveu um dos melhores arranjos de sua carreira solo. A letra era completamente nostálgica, louvando o clima e a musicalidade dos grandes bailes de salão e dança da velha Inglaterra. Paul sempre teve um carinho muito especial por essa gravação, a tal ponto que a usaria novamente (com nova gravação em estúdio) para usar na trilha sonora de "Give My Regards to Broad Street", dois anos depois. Em termos técnicos não há o que criticar. É realmente um trabalho primoroso.
The Pound Is Sinking (Paul McCartney) - Bom, se você ainda tinha dúvida sobre o fato de Paul McCartney ser um excelente e astuto homem de negócios, que tal ouvir essa faixa fora do comum do disco "Tug of War"? Embora o ritmo e a melodia sejam bem no estilo de Paul, sua letra é completamente surreal e incomum. Na verdade até hoje não sei aonde McCartney estava com a cabeça quando escreveu esses versos. Vou além, se formos prestar bem a atenção notaremos que provavelmente a canção seja a fusão de duas músicas diferentes, com duas letras bem diversas. Na primeira estrofe Paul faz um joguete com as principais moedas do mundo (Libra esterlina britânica, Marco alemão e o Dólar americano, entre outras). Em tempos pré-União europeia, Paul parece se divertir em sair nomeando todas elas em uma canção, mostrando a oscilação do mercado mobiliário de valores (não disse que ele era um business man?... pois é...). Depois dessa introdução singular Paul começa a tecer pensamentos sobre um relacionamento em crise. Inicialmente ele começa a relembrar o passado com quem está falando. Os anos que se foram voltam à tona. Então, seguindo em frente, o bom e velho Paul conclui tudo o que tenta dizer usando uma máxima do Darwinismo social que diz: "Apenas os fortes sobrevivem"! Depois disso, sem maiores explicações, fecha a canção de maneira um pouco precipitada! Fez muito sentido para você? Estranho realmente. A conclusão que chegamos é que Sir Paul McCartney quis fazer uma analogia entre o mundo do capitalismo e o mundo dos relacionamentos e sentimentos humanos. O resultado ficou apenas surreal e diferente (bem diferente!). O melhor mesmo dessa canção é sua melodia. George Martin criou efeitos parecidos com a de moedas caindo ao chão em sua introdução. Depois entra a harmonia. O arranjo ora é simples (com violão despojado), ora lembra os melhores rocks da fase Wings. Uma montanha russa melódica que sempre gostei bastante. Paul que sempre foi um compositor realmente criativo demonstra nessa faixa que não há limites para quem procura sempre por algo mais inovador.
Wanderlust (Paul McCartney) - Em poucas palavras: adoro "Wanderlust", Aliás é uma das minhas preferidas nesse disco. Eu gosto de dizer que Paul McCartney foi um dos mais brilhantes compositores de baladas de todos os tempos. Quando ele se viu distante das críticas e amarras de John Lennon, que sempre estava falando mal de suas canções de amor, as coisas ficaram ainda melhores. Provavelmente se ainda tivesse nos Beatles Paul seria soterrado por ironias ácidas por parte de John se aparecesse no estúdio com uma música como "Wanderlust", mas como esse tempo já havia passado, John já estava morto e ele já se considerava seguro de si em sua carreira solo não houve maiores problemas em gravar essa faixa. Além da boa letra (nada demais, porém evocativa), a canção ainda se sobressaiu pelo ótimo arranjo. Paul sempre afirmou em entrevistas que suas canções soavam diferentes, se compostas no piano ou no violão. Para compor as músicas do álbum "Tug of War" Paul mandou instalar um belo piano de calda em sua casa de praia nas Bahamas. Uma foto desse lugar inclusive aparece na capa interna do vinil original lançado em 1982 (pois é, eu ainda tenho uma cópia até hoje!). Como as músicas foram criadas em sua grande maioria nesse piano podemos perceber claramente sua riqueza em termos de melodia e escala. "Wanderlust" assim se tornou mais uma bela balada da discografia de Paul, tão boa que ele resolveu gravar uma outra versão para aparecer na trilha sonora do filme "Give My Regards to Broad Street", quatro anos depois de sua gravação original. Em suma, temos aqui outro ponto alto desse LP que é realmente um dos melhores da discografia solo do genial ex-Beatle. Excelente mesmo.
Get It (Paul McCartney) - Uma das melhores faixas desse álbum "Tug of War" de Paul McCartney é essa canção chamada "Get It" que ele gravou em dueto com o cantor e compositor Carl Perkins. Paul, como todos sabemos, sempre foi um fã declarado da geração de inigualáveis roqueiros que surgiram na pequenina gravadora Sun Records de Sam Phillips em Memphis. Foi nesse estúdio acanhado e quase amador que gravaram pela primeira vez verdadeiros gênios e ícones da primeira geração do rock americano como Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Johnny Cash e, é claro, Carl Perkins. Esse ídolo da Sun foi inclusive o autor de um dos maiores hits da carreira de Elvis, "Blue Suede Shoes". Assim quando pintou a chance em 1982 para Paul trabalhar com Perkins ele não deixou a oportunidade passar em branco. Paul queria acima de tudo homenagear esse seu verdadeiro ídolo de sua juventude. Ao aceitar cantar com Paul, esse logo organizou a viagem de Perkins para a Inglaterra, pois Paul queria que ele gravasse no lendário estúdio Abbey Road ao lado de George Martin, o famoso produtor dos Beatles, que também estava trabalhando com Paul em "Tug of War" e que também tinha grande vontade de trabalhar ao lado de Perkins. O resultado foi inesquecível. O curioso de tudo é que Paul resolveu fazer uma gravação bem acústica, onde ouvimos praticamente apenas ele e Perkins tocando seus respectivos violões. Nada de sofisticado ou muito super produzido. Em entrevistas Paul explicou que queria recriar um pouquinho a sonoridade da Sun Records, onde todos aqueles seus ídolos do passado estiveram. Assim nada de orquestrações ou coisas do tipo. Apenas voz, violão e muita descontração. Inclusive o próprio Paul resolveu deixar na edição final do disco uma gostosa risada de Perkins que ele deu logo após o fim da gravação. Não poderia terminar melhor esse dueto realmente histórico. Foi a única vez que Paul McCartney e Carl Perkins trabalharam juntos pois o grande rockstar da Sun Records morreria poucos anos depois, com apenas 65 anos de idade. Uma grande perda para a história do rock certamente. Seu ótimo dueto com Paul porém sempre será eterno no repertório desse excelente disco.
Be What You See (Link) / Dress Me Up as a Robber (Paul McCartney) - Sempre associei muito "Dress Me Up As A Robber" à fase Wings de Paul. Apesar de tecnicamente "Tug Of War" ser um álbum solo de Paul, quando ele definitivamente já tinha abandonado a ideia do grupo Wings, o fato é que velhas composições daquela época que Paul ainda não havia gravado vieram à tona novamente. Essa faixa deveria ter entrado em "McCartney II", mas Paul sabiamente quis deixá-la fora daquele disco, caracterizado pela som mais fora do comum, experimental. No meio de tantas "maluquices" não convinha enfiar uma canção como essa, que tinha um sabor de balada antiga. Já que "Dress Me Up As A Robber" tinha uma linha melódica mais tradicional, Paul resolveu que iria trabalhar melhor na canção depois. Quando voltou aos estúdios para trabalhar ao lado de George Martin em "Tug of War" Paul chegou na conclusão que havia chegado a hora de trabalhar melhor a música. Ele trouxe a composição para Martin em Abbey Road e ambos começaram a discutir seu arranjo. O resultado mais uma vez se mostrou excelente. Curiosamente a gravação começa com uma guitarra forte, solada. Depois ela ganha um balanço bem agradável, puro swing, com Paul vocalizando como se estivesse em um disco de sua banda Wings. Esse tipo de melodia me lembra também dos discos de Marvin Gaye da época, por volta do começo dos anos 1980. George Martin criou um arranjo soul, intercalado com um belo solo de violão ao estilo ibérico. Nada mal. Depois Paul faz contra-voz de sua própria vocalização. E assim como começa, as guitarras vão pontuando toda a música, preparando o terreno para o grande sucesso comercial do disco, a ótima "Ebony and Ivory". A dupla McCartney & Martin pelo visto ainda funcionava extremamente bem.
Ebony and Ivory (Paul McCartney) - O grande sucesso nas rádios do álbum "Tug of War" de 1982 foi a canção "Ebony And Ivory". Seu single foi um dos grandes campeões de vendas naquele ano, sucesso que inclusive se repetiu no Brasil. Quando Paul resolveu deixar de lado o projeto do grupo Wings ele decidiu que iria se lançar apenas como artista solo, sem a necessidade de dividir a autoria e o nome de seus álbuns com um conjunto. Depois de mais de dez anos do fim dos Beatles, Paul finalmente parecia pronto para se assumir como um cantor e compositor solo. Isso porém não significaria que ele iria trabalhar sozinho pelo resto de sua carreira. Uma boa ideia seria convidar outros astros para cantar e tocar ao seu lado. Um dos primeiros convidados foi o cantor Stevie Wonder. Paul admirava seu trabalho desde os tempos em que Wonder era apenas um jovem contratado do selo Motown. Com o passar dos anos sua admiração só aumentou. Quando os Wings acabaram, Paul decidiu convidar Stevie para ir até Londres, trabalhar lado a lado em seu novo disco. Inicialmente eles tinham planejado a gravação de duas faixas, sendo "Ebony And Ivory" a primeira delas. O tema da letra é bem óbvio, uma analogia entre as teclas de um piano (onde vivem em harmonia teclas brancas e negras) e a própria sociedade, onde homens brancos e negros também poderiam viver em paz, sem conflitos raciais. A letra poderia até parecer um pouco pueril demais, mas obviamente foi salva por suas boas intenções. Também se sobressai a linda harmonia composta por Paul McCartney, um verdadeiro gênio nesse tipo de balada. Enfim, um ótimo momento da discografia do mais talentoso ex-beatle.
Tug Of War - Paul McCartney / Data de gravação: Outubro de 1980 a Setembro de 1981 / Local de Gravação: Abbey Road Studios, Londres / Produtor: George Martin / Músicos: Paul McCartney (vocais, violão, guitarra, piano), Steve Wonder (vocais, teclados), Denny Laine (guitarra), Eric Stewart (guitarra), Ringo Starr (bateria), George Martin (piano), Linda McCartney (órgão), Stanley Clark (baixo), Carl Perkins (violão), Adrian Shepard (bateria).
Pablo Aluísio.
sábado, 23 de dezembro de 2017
Filmes no Cinema - Edição XVII
E entre os filmes em cartaz se destacam algumas produções. "Mulher-Maravilha 1984" continua em exibição na maioria das salas de cinema no Brasil. O filme não teve boa recepção nem da crítica e nem do público. A diretora Patty Jenkins foi bastante criticada por trazer um filme com roteiro sem foco e considerado até mal realizado por muitos que o assistiram. Até os fãs de quadrinhos reclamaram bastante. O filme também não convenceu nas bilheterias, faturando apenas 37 milhões de dólares dentro do mercado americano. No mercado internacional foi bem melhor, chegando perto dos 150 milhões. Porém mesmo com esses números o filme ainda não conseguiu se pagar.
"Legado Explosivo", dirigido por Mark Williams, traz novamente o ator Liam Neeson como herói de filmes de ação (sim, ele não desiste!). O filme havia sido colocado em toque de espera até o fim da pandemia, mas como essa ainda não acabou, o estúdio, para evitar maiores prejuízos finaneiros, decidiu lançar nos cinemas mesmo no meio dessa crise que o mundo vive. E como era de esperar a bilheteria foi pequena, com pouco mais de 14 milhões arrecadados dentro do mercado americano e 30 milhões no mercado internacional. Essa produção vai tentar recuperar seu investimento dentro do mercado de streaming.
Outra produção que segue em cartaz nos cinemas brasileiro é o dark e sombrio "Pinóquio". Dirigido pelo cineasta Matteo Garrone, esse filme passa longe da animação infantil da Walt Disney e procura encontrar um caminho mais de acordo com o conto original, que tinha passagens completamente fora da curva, com momentos até mesmo assustadores. Não é recomendado para crianças. Em breve irei publicar resenha em nosso blog.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
A Primeira Noite de um Homem
Ela pede carona a Ben e quando chega em casa literalmente parte para o ataque. Sem muita sutileza, sem muita perda de tempo. Simplesmente abre o jogo e tenta levar o jovem para a cama. Claro que ele declina e fica nervoso, ainda mais quando o marido dela chega em casa. Só que sendo um homem, bom, você já sabe, logo sucumbe à tentação, por mais errado que seja levar aquela mulher para a cama. Ele não perde muito tempo e logo liga para a senhora Robinson para um encontro em um hotel da cidade. E depois daí começam todos os seus problemas, que definitivamente não serão poucos. Uma coisa que chama a atenção nesse filme é sua narrativa, que de certa forma procura imitar a falta de jeito do protagonista, um sujeito que parece sempre estar meio constrangido, até mesmo um pouco atrapalhado. A trilha sonora - ainda uma das grandes qualidades dessa produção - é toda da dupla Simon & Garfunkel e a não ser que você não conheça absolutamente nada de música dos anos 60, vai imediatamente assoviar todas as melodias. "Mrs. Robinson" e "The Sounds of Silence" são grandes sucessos da dupla. Ainda hoje verdadeiros hinos daquela geração.
O filme é muito simpático e tem um roteiro muito coeso, diria até bem inovador para aquela época. Afinal tratar da infidelidade de uma mulher madura com um fedelho recém saído da universidade era algo até bem surpreendente, pois mexia com tabus que até hoje se fazem presentes na sociedade. O único deslize do roteiro é a cena final, que de certa maneira revive velhos clichês das fitas românticas da velha Hollywood. Isso porém não chega a ser um problema pois quando o filme chega nessa parte final o jogo já está ganho. O espectador já se divertiu o bastante e gostou de todo o desenvolvimento da história. Então é isso. Um excelente momento do cinema folk americano, com um Dustin Hoffman bem novinho, passando por alguns apertos por ter se relacionado com a senhora Robinson!
A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, Estados Undos, 1967) Direção: Mike Nichols / Roteiro: Calder Willingham, Buck Henry/ Elenco: Dustin Hoffman, Anne Bancroft, Katharine Ross / Sinopse: Benjamin (Hoffman) é um jovem recém formado na universidade que volta para a casa dos pais sem saber direito o que fará de sua vida dali em diante. Após um jantar ele atende o pedido da esposa do sócio de seu pai, a senhora Robinson (Bancroft), para levá-la para casa. Uma vez lá ela o seduz, de forma direta, algo que vai trazer muitos problemas para Ben! Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Direção (Mike Nichols). Também vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Ator (Dustin Hoffman), Melhor Atriz Coadjuvante (Katharine Ross), Melhor Direção (Mike Nichols), Melhor Atriz (Anne Bancroft) e Melhor Filme - Comédia ou Musical.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
Maria Antonieta
Título Original: Marie Antoinette
Ano de Produção: 1938
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: W.S. Van Dyke
Roteiro: Claudine West, Donald Ogden Stewart
Elenco: Norma Shearer, Tyrone Power, John Barrymore
Sinopse:
Marie Antoinette (1755-1793) é uma jovem princesa austríaca que é enviada para a França para se casar com o herdeiro do trono, Louis XVI. O casamento arranjado pelas duas monarquias logo se revela problemático por causa da personalidade infantil e boba do jovem príncipe francês. Para Marie Antoinette porém tudo é válido, até porque ela se tornará em breve a nova rainha da França, um dos títulos de nobreza mais cobiçados da Europa de seu tempo. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Norma Shearer), Melhor Ator Coadjuvante (Robert Morley), Melhor Direção de Arte e Melhor Música (Herbert Stothart).
Comentários:
Drama histórico que foca a atenção na rainha Maria Antonieta (interpretada aqui pela bonita e talentosa atriz Norma Shearer, que inclusive foi indicada ao Oscar). A produção é luxuosa, com lindo figurino e filmagens realizadas no próprio Chateau de Versailles. Tecnicamente se trata de um filme irrepreensível. Também é muito instrutivo por mostrar a vida daquela foi a última rainha da França, em seu tempo absolutista. Maria Antonieta, como todos sabemos, foi decapitada pelos revolucionários franceses, em um banho de sangue irracional e violento. Ela foi acusada de crimes que nunca cometeu, além de ter sido alvo de uma verdadeira campanha de difamação promovida por publicações anônimas que inventavam mentiras sobre ela. De bom é interessante saber que o roteiro não deu voz a esse tipo de mentiras, como àquela que dizia que ela teria dito: "Se não tem pão, que se dê brioches ao povo" - algo que ela nunca disse. Um boato para destruir sua imagem pública. Curiosamente o elenco não traz nenhuma grande estrela de Hollywood, com exceção talvez do galã Tyrone Power no papel do conde Axel de Fersen. John Barrymore e sua figura imponente como o monarca Louis XV também ajudam bastante no resultado final. Então é isso, um filme bonito, bem produzido. Vale como entretenimento com ares românticos, acima de tudo.
Pablo Aluísio.
A Viúva Negra
Título Original: Black Widow
Ano de Produção: 1954
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Nunnally Johnson
Roteiro: Nunnally Johnson, Hugh Wheeler
Elenco: Ginger Rogers, Van Heflin, Gene Tierney, Peggy Ann Garner
Sinopse:
Nancy 'Nanny' Ordway (Peggy Ann Garner) é uma garota do interior que decide se mudar para Nova Iorque com o sonho de se tornar escritora de sucesso. Os primeiros meses na grande cidade porém não parecem muito animadores. Sem dinheiro ela acaba aceitando a oferta de se tornar garçonete. Sua ambição porém continua intacta. Durante um jantar ela acaba conhecendo casualmente o produtor de teatro Peter Denver (Van Heflin). O que começa como uma simples amizade para ele acaba se revestindo de tragédia em seu próprio apartamento.
Comentários:
Bom filme que explora o lado mais sórdido e ambicioso de seus personagens. O enredo se desenvolve basicamente em cima da suposta amizade entre um homem mais velho, veterano produtor da Broadway, e uma garota muitos anos mais jovem do que ele que sonha se tornar escritora. Depois de uma aproximação casual ambos se tornam amigos e Peter Denver (Heflin) lhe concede uma gentileza. Ela reclama que mora em um pequeno cafofo sem qualquer luxo, o que de certa forma inibe sua inspiração ao escrever. Como Peter passa o dia todo fora trabalhando ele lhe oferece seu maravilhoso apartamento para que ela possa escrever seus livros durante à tarde, fitando pela janela o arborizado Central Park e toda a beleza da cidade de Nova Iorque. Como sua esposa está em outra cidade, cuidando de sua mãe, Peter não vê maiores problemas sobre isso. O problema é que tragicamente a garota é encontrada enforcada em seu próprio quarto! Depois desse evento sinistro sua vida vira do avesso pois a polícia começa a formar a convicção de que ele estaria envolvido romanticamente com a jovem e que a teria assassinado após sofrer algum tipo de chantagem! Teria Peter alguma coisa mesmo a ver com a tragédia? O roteiro é muito bem armado e aos poucos a solução do caso vai sendo tecendo na tela. Curiosamente apesar de lidar com morte, traição e interesse, os personagens estão sempre impecavelmente bem vestidos, com toda a elegância típica dos moradores da cidade. A estrela Ginger Rogers lidera o elenco, mas seu personagem é coadjuvante, uma atriz veterana que se diverte soltando farpas de maldades para todos os seus convidados. Para apreciadores de moda em geral a produção também chama a atenção por causa dos luxuosos figurinos em cena. Com direção enxuta, eficiente e segura e boa trama de mistério, o filme realmente é uma boa pedida para os fãs de cinema que gostam de desvendar intrigados casos policiais.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Os Desgraçados não Choram
Em pouco tempo ela se infiltra dentro da organização criminosa e é enviada para a costa oeste, com a finalidade de descobrir se um gângster que toma conta de um cassino na Califórnia está roubando os chefes da quadrilha. Essa parte do roteiro é obviamente baseado na história real do mafioso Bugsy Siegel, que teve inclusive uma versão de sua vida levada para o cinema, com direção e atuação de Warren Beatty. A situação que ela se coloca é perigosa, pois ao menor deslize pode ser eliminada. O filme, quando começa, mostra a polícia encontrando um corpo no deserto. Então começa um grande flashback, justamente para contar a história da personagem de Joan Crawford.
O filme tem todo aquele charme das produções ao estilo noir dos anos 50. Os cenários são escuros, com farto uso de luz e sombras em cada cena. Joan Crawford está bastante convincente como essa mulher que decide tomar as rédeas do destino em suas próprias mãos, embora com desdobramentos sequer imaginados por ela. Chegando ao ponto de assumir uma falsa identidade, com o sobrenome dos milionários Forbes, ela começa a afundar cada vez mais em sua ganância pessoal. Joan Crawford que ficou tristemente marcada por causa do livro biográfico de sua filha que a retratava como uma mulher cruel e louca, aqui mostra seu talento de atriz. Embora fosse perturbada em sua vida pessoal. na tela do cinema se mostrava uma atriz bem talentosa. Sua atuação é o grande atrativo para se assistir a esse filme nos dias de hoje.
Os Desgraçados não Choram (The Damned Don't Cry, Estados Unidos, 1950) Direção: Vincent Sherman / Roteiro: Harold Medford, Jerome Weidman / Elenco: Joan Crawford, David Brian, Steve Cochran / Sinopse: Após a morte de seu filho de seis anos, Ethel Whitehead (Joan Crawford) decide acabar seu casamento, que já vinha muito mal e parte para Nova Iorque. Assume outra identidade, passando-se a se chamar Lorna Hansen Forbes e se envolve com a máfia local.
Pablo Aluísio.
Quinteto
Não é incomum pessoas serem mortas durante essas jogatinas. Pelas paisagens desertas e geladas há muitos corpos sendo devorados por cães selvagens. O personagem de Newman tem uma mulher que está grávida. O fato logo causa espanto nos demais membros da comunidade, já que há muito não se ouvia falar de mulheres esperando bebês. O roteiro não explica a situação, mas fica subentendido que o mundo vive uma crise de fertilidade, causada principalmente pela radiação. Teria sido efeito de uma guerra nuclear? Novamente nenhuma resposta é dada pelo roteiro.
Após um tempo na nova comunidade, Essex (Newman) descobre que de fato há uma lista com o nome de cinco pessoas que vão morrer muito em breve.Tudo soa como se o jogo tivesse entrado na vida real das pessoas. Os perdedores não perderiam apenas o jogo em si, mas suas vidas também. O fato é que logo Newman entende também que está em um jogo do quinteto do mundo real, onde ele próprio pode ser eliminado a qualquer momento, tal como se fosse um jogador desse estranho tabuleiro. Seu objetivo então passa a ser sobreviver de todas as formas, já que sua vida corre sério risco. Ir além disso seria estragar parte das surpresas do filme.
O fato é que o diretor Robert Altman fez um filme não apenas esquisito, mas frio também. E isso não se refere ao cenário polar onde tudo acontece. Os personagens que rondam essa trama não parecem ter muitas emoções humanas. São indiferentes a pessoas sendo mortas, à violência e a todo tipo de barbárie. O próprio protagonista interpretado por Paul Newman passa longe de ter atitudes heroicas. Ele simplesmente vai vivendo um dia de cada vez, sem muita emoção, procurando apenas sobreviver. Eu acredito que Altman quis realizar uma ficção bem inovadora, mas no final das contas só conseguiu ser esquisito e estranho, diria até mesmo bizarro em certos momentos. Não é um filme para todo mundo, não pense que é uma espécie de Mad Max passado no círculo polar ártico. É muito mais singular do que se possa imaginar.
Quinteto (Quintet, Estados Unidos, 1979) Direção: Robert Altman / Roteiro: Frank Barhydt, Robert Altman / Elenco: Paul Newman, Vittorio Gassman, Fernando Rey / Sinopse: Em um mundo pós-apocalíptico congelado, o caçador Essex (Paul Newman) chega em uma pequena comunidade de sobreviventes. São pessoas estranhas, frias, que não se importam mais com a violência e a barbárie. Elas passam o dia inteiro jogando "Quinteto", um estranho jogo de tabuleiro. A mulher de Essex está grávida, mas logo ele percebe que entrou em um território perigoso, onde sua vida corre um sério perigo.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
O Trem do Diabo
Título Original: Grand Central Murder
Ano de Produção: 1942
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: S. Sylvan Simon
Roteiro: Peter Ruric, Sue MacVeigh
Elenco: Van Heflin, Patricia Dane, Cecilia Parker
Sinopse:
Baseado no romance de suspense e mistério escrito pela autora Sue MacVeigh, "Grand Central Murder" explora a figura do detetive particular 'Rocky' Custer (Van Heflin) que deverá usar de toda a sua técnica, intuição e perspicácia investigativa para descobrir quem teria sido o autor de um assassinato durante uma longa e obscura viagem de trem. A vítima é uma jovem mulher, que parece ter tido problemas no passado com vários dos passageiros, incluindo aí um foragido e diversos homens que, de uma forma ou outra, tinham contas a acertar com ela. Todos são suspeitos no final das contas.
Comentários:
Esse enredo me lembrou muito do clássico de Agatha Christie "Assassinato no Expresso do Oriente". Não precisa ir muito longe para perceber que o argumento é extremamente parecido. A premissa é a mesma, coloca-se um grupo de personagens em um trem, durante uma viagem, explora-se o assassinato de alguém e depois insere-se um detetive no meio para descobrir quem seria o autor do crime. Para complicar ainda mais o mistério, cada passageiro parece ter sua própria motivação para ter cometido o crime. É o tipo ideal de filme para o espectador que gosta de desvendar crimes misteriosos. Deixando isso de lado o que mais se sobressai nessa produção é sua inegável linguagem noir, usando e abusando das sombras, dos personagens dúbios e do lado mais sórdido da natureza humana. Praticamente não existem personagens completamente íntegros pois cada um parece esconder um aspecto desprezível em sua própria personalidade. As mulheres são fatais e os homens se movem por motivos sombrios e inconfessáveis. Resumindo, todos os ingredientes que fizeram do cinema noir uma preciosidade da sétima arte estão presentes. O diferencial vem também de um bem inserido humor negro em seu texto, que vai inclusive chocar os mais adeptos do politicamente correto que impera nos dias atuais. É realmente surpreendente que um filme que foi realizado em plena década de 1940 tenha tanta acidez e morbidez como esse, em seu roteiro. Um exemplo perfeito de uma era em que Hollywood conseguia ousar e ser realmente revolucionária em suas produções cinematográficas.
Pablo Aluísio.
A Mulher que Soube Amar
Título Original: Alice Adams
Ano de Produção: 1935
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: George Stevens
Roteiro: Dorothy Yost
Elenco: Katharine Hepburn, Fred MacMurray, Fred Stone
Sinopse:
Baseado no romance escrito por Booth Tarkington, o filme narra a história de Alice Adams (Katharine Hepburn), uma jovem pobre, de origem humilde, que se encanta com a vida dos ricos e famosos. Após ser convidada para uma festa de grã-finos de sua cidade, ela descobre que a barreira social pode ser tão complicada de se superar como qualquer outro preconceito existente na sociedade. Apaixonada pelo rico e bonitão Arthur Russell (Fred MacMurray), ela precisará superar várias barreiras para concretizar sua paixão. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz (Katharine Hepburn).
Comentários:
Bom drama social que investe no problema sempre presente do chamado preconceito social. A personagem de Katharine Hepburn é filha de um simples trabalhador, que inclusive se encontra sem trabalhar por problemas de saúde. Ela sonha com a vida luxuosa dos ricos, mas não tem condições financeiras de viver no meio de todo daquele luxo e ostentação. Tão pobre é que precisa sempre reformar o mesmo vestido barato para frequentar as festas ricas às quais consegue ser convidada. Sem dinheiro para comprar um belo buquê de flores na floricultura da cidade precisa ir ao campo para colher ela mesma as flores que estarão em seu próprio arranjo floral feito de forma artesanal, em sua própria casa. Para piorar descobre da pior maneira possível que sua condição social também a impede de se entrosar completamente com as garotas ricas de sua idade, ficando geralmente escanteada e ignorada nos grandes bailes festivos. Sua roupa modesta, fruto de remendos e reformas, também não passa despercebida pelas meninas ricas, que não deixam de fazer comentários maldosos sobre isso. Apesar de toda essa situação desfavorável ela mantém uma personalidade feliz e vibrante, sempre falando muito para expressar seus sentimentos. Quando encontra com Arthur, um sujeito rico e elegante, acaba percebendo que finalmente pode ter encontrado a felicidade em sua vida. Duas coisas chamam a atenção nesse belo romance social. A primeira é a jovialidade de Katharine Hepburn como Alice Adams! Ela está esfuziante, com muita vontade de atuar bem. Isso transparece claramente na tela. A segunda é a presença do galã Fred MacMurray, também ainda bastante jovem, esbanjando olhares cândidos (e em certos aspectos bem canastrões também). E pensar que anos depois ele iria se especializar em filmes de faroeste e comédias da Disney. Enfim, um bom filme valorizado por um roteiro bem escrito e a sempre correta direção do mestre George Stevens, aqui já explorando o lado menos louvável do ser humano.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
Montanhas Ardentes
Título Original: Red Skies of Montana
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Joseph M. Newman
Roteiro: Harry Kleiner, Art Cohn
Elenco: Richard Widmark, Constance Smith, Jeffrey Hunter
Sinopse:
Quando um grande incêndio irrompe nas montanhas de Montana, um esquadrão de 'Smoke Jumpers' (grupo formado por pára-quedistas de elite do corpo de bombeiros do serviço florestal dos Estados Unidos) é levado para o centro do foco do desastre natural. A situação é desesperadora por causa da extensão do fogo que se alastra pela floresta com ferocidade, o que leva todos aqueles bravos homens ao limite de suas forças. Enquanto isso um dos membros é dado como morto pelo fogo, mas seu filho não se convence e tenta provar que ele foi vítima da covardia de um dos integrantes dos 'Smoke Jumpers'.
Comentários:
Uma aventura focando na vida dos bombeiros que foi muito complicada de se realizar. Nos anos 1950 a tecnologia dos efeitos especiais era ainda muito pouco sofisticada. Para se recriar um incêndio de grandes proporções no meio da floresta não havia outra maneira a não ser colocar fogo de verdade em grandes áreas florestais. Nem precisa dizer que isso era muito perigoso não apenas para a equipe como também para o meio ambiente. Mesmo assim o diretor Joseph M. Newman topou o desafio. O resultado é bem impactante na tela, com os atores literalmente exaustos pela complicada provação física a que foram submetidos. Por falar em elenco ele é de fato muito bom, valorizado pelas esforçadas presenças de Richard Widmark e Jeffrey Hunter (ainda muito jovem, em começo de carreira). O roteiro se desdobra em duas linhas narrativas básicas. Uma explorando a missão dos bombeiros na floresta em si e outra na questão envolvendo a morte de um dos membros da equipe - teria ele sido morto por omissão e covardia de seus próprios colegas de trabalho? A produção tem um estilo levemente documental, tentando recriar em detalhes a vida dos bombeiros do mundo real, mas isso não atrapalha em nada a diversão. Um filme realmente muito interessante, valorizado por um roteiro que mantém a atenção do começo ao fim. Um exemplo de aventura inteligente na era do cinema clássico americano.
Pablo Aluísio.
Mata Hari
Título Original: Mata Hari
Ano de Produção: 1931
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: George Fitzmaurice
Roteiro: Benjamin Glazer, Leo Birinsky
Elenco: Greta Garbo, Ramon Novarro, Lionel Barrymore
Sinopse:
Durante a Primeira Guerra Mundial, a jovem cortesã holandesa Margaretha Gertruida Zelle (Greta Garbo) assume o nome artístico de Mata Hari. Divorciada e decepcionada com seu casamento anterior, ela resolve ir para Paris e cria uma identidade nova e própria para si. Usando de coreografias aprendidas enquanto morou no Oriente, Margaretha começa a encantar os homens durante suas sensuais apresentações de dança em teatros na capital francesa. Não tarda e ela acaba sendo procurada pelos principais órgãos de inteligência dos países envolvidos no conflito. Como tem livre passe tanto entre franceses, ingleses e alemães, ela logo se torna uma importante agente dupla de espionagem internacional.
Comentários:
Esse filme é historicamente importante porque traz uma lenda interpretando outra lenda. No papel principal temos uma das maiores atrizes e mitos da história de Hollywood, a imortal Greta Garbo, que interpreta uma das mulheres mais famosas (ou infames, dependendo do ponto de vista) da história da Primeira Guerra Mundial, a sensual e perigosa Mata Hari (1876 - 1917). Há duas maneiras de encarar a vida e a biografia de Hari, a primeira é abraçar a lenda, que a ajudou a ser extremamente conhecida, até mesmo nos dias de hoje. Sob esse ângulo ela era o que chamamos de mulher fatal. Em uma época em que as mulheres eram extremamente reprimidas, Mata Hari conseguia ser ao mesmo tempo independente e também perigosa, muito por causa de seu envolvimento com espionagem internacional durante essa guerra que devastou a Europa. A outra forma de encarar sua vida é aquela do ponto de vista puramente histórico. Recentes biografias afirmam que Margaretha não foi tudo aquilo que disseram dela. Na realidade ela se aproximou mais de ser uma vítima de interesses políticos do que propriamente uma perigosa espiã que flertou perigosamente com os alemães, os inimigos. Executado por crimes de guerra em 1917, com apenas 41 anos de idade, Mata Hari virou um ícone, inclusive do movimento feminista, quem diria. Essa produção de 1931 abraça o mito e não a história. Garbo está maravilhosa em cena, esbanjando estilo e glamour. Obviamente que se trata de uma obra cinematográfica feita para o puro entretenimento, o que não o desqualifica como um dos grandes filmes da era do cinema clássico em Hollywood. Um filme que conseguiu unir duas grandes lendas do mundo das artes da primeira metade do século XX com raro brilhantismo.
Pablo Aluísio.