1. Burning Love (Dennis Linde) - O maior sucesso de Elvis em termos de singles nos anos 70 foi a música "Burning Love". O compacto vendeu muito e trouxe Elvis de volta às rádios. Um som contagiante, ótimos arranjos, uma sonoridade jovial, alegre! Era basicamente o que os fãs esperavam de Elvis Presley, o tão aclamado Rei do Rock! Pois bem, naqueles tempos a RCA Victor tinha essa política de não colocar músicas de singles nos álbuns oficiais de Elvis. Isso vinha desde os anos 50. "Hound Dog", "Don´t Be Cruel", entre outras, venderam milhões de singles, mas não fizeram parte do repertório de nenhum disco do cantor. Elas só chegavam depois, em coletâneas de sucessos, do tipo "Elvis Golden Records". O mesmo aconteceu com esse hit "Burning Love". Por volta de 1972 a canção não foi incluída em nenhum dos álbuns oficiais de Elvis que estavam à venda. A RCA porém não conseguia ignorar mais o sucesso dessa música. Por essa razão inventou um disco próprio para lançar a música intitulado "Burning Love and Hits from His Movies, Volume 2". É absurdo pensar que os executivos preferiram colocar o grande sucesso de Elvis na época em um disco do selo RCA Camden (de preço promocional), misturada com inúmeras outras músicas antigas de filmes que não tinham mais apelo ou potencial para o sucesso, do que encaixá-la adequadamente em um disco de inéditas, do selo principal (RCA Victor), para colocar novamente um álbum de Elvis no topo da parada Billboard Hot 100.
2. Tender Feeling (Bernie Baum / Bill Giant / Florence Kaye) - Como era de se esperar em uma coletânea como essa, da RCA Camden, há uma boa dose de bobagens no repertório do disco. Curiosamente porém há também boas faixas, mesmo que retiradas das trilhas sonoras dos filmes de Elvis em Hollywood. Um bom momento vem com a romântica "Tender Feeling" do filme "Kissin Cousins" de 1964. Hoje em dia já gosto mais dessa trilha sonora. O filme é muito fraco, com um roteiro explorando dois personagens interpretados por Elvis, um caipira das montanhas e um oficial da força aérea. A única diferença entre eles era uma peruca loira. A parte musical do filme é bem melhor. Com o passar dos anos e com a inúmeras audições a trilha sonora hoje em dia me soa até bem divertida, com alguns momentos que se destacam. Essa canção "Tender Feeling" eleva a qualidade do disco como um todo. Elvis estava em um excelente momento vocal, cantando com aquela tonalidade do começo dos anos 60, caprichando realmente na interpretação. A melodia também ajuda muito. Não foge muito de certos clichês, mas o arranjo (igualmente adequado) preserva o romantismo à prova de falhas. Alguns podem até se enganar pensando tratar-se de mais uma composição de Don Robertson, mas não, essa é uma criação, quem diria, do trio Bernie Baum, Bill Giant e Florence Kaye. Aliás praticamente toda a trilha de "Kissin Cousins" é uma criação deles.
3. Am I Ready (Roy Bennett / Sid Tepper) - "Am I Ready" é outra balada romântica de filmes. Essa porém fez parte do filme "Spinout", um derivado de "Viva Las Vegas", onde Elvis voltava a interpretar um piloto de pistas de corridas. Até considero o filme bem produzido, fruto de um certo capricho do estúdio pois essa produção foi lançada para celebrar os 10 anos de Elvis em Hollywood. Até o famoso piloto Bruce McLaren, fundador da igualmente conhecida equipe de Fórmula 1, fez uma pequena pontinha no filme. Aliás um dos carrões que Elvis pilota em cena era uma autêntica máquina McLaren, uma das primeiras de sua recém fundada indústria de carros esporte. Pois bem, deixando de lado essas curiosidades automobilísticas, o fato é que a sonoridade da trilha sonora desse filme nunca me convenceu completamente. Há algo estranho nas gravações dessas músicas. Algo que incomoda. Os arranjos também sempre me soaram como menos caprichados do que de outras trilhas do passado. Essa baladinha romântica tem seus momentos, mas como fez parte de um pacote maior, acabou sendo prejudicada justamente por causa de sua sonoridade fora de tom. Também passava longe de ser uma novidade dentro da discografia de Elvis. Havia outras faixas dos anos 60, algumas arquivadas há anos, que certamente chamariam mais a atenção dos fãs.
4. Tonight Is So Right for Love (Joseph Lilley / Abner Silver / Sid Wayne) - "Tonight Is So Right for Love" é da trilha sonora do filme "Saudades de um Pracinha" (G.I. Blues, 1960). Elvis não gostava desse álbum. Para ele um disco sobre um soldado cantor era ir um pouco longe demais. Claro que "G.I. Blues" tinha mesmo uma alta dose de oportunismo barato, pois era Hollywood tentando faturar em cima do fato de que Elvis foi para a Alemanha prestar seu serviço militar. Isso é um ponto de vista inegável. Porém no caso específico desse disco devo discordar de Elvis. Em minha opinião "G.I. Blues" é uma das melhores trilhas sonoras dos anos 60. Tudo muito caprichado, músicas bonitas e bem gravadas, além de trazer uma nova versão ótima para seu clássico "Blue Suede Shoes". Se formos comparar "G.I. Blues" com outras trilhas sonoras, principalmente após 1965, perceberemos que Elvis estava reclamando de um material que no final das contas era muito bom. Claro que um roqueiro não poderia se sentir muito confortável em cantar marchas militares, mas isso é uma visão um pouco limitada, simplista. Dentro do que Hollywood fazia na época, com seus musicais, digo e reafirmo que esse álbum era realmente muito bom, tanto que foi elogiado em seu lançamento e ganhou indicações importantes em prêmios de música. Prova de sua inegável qualidade artística.
5. Guadalajara (Pepe Guízar / Joseph Lilley) - Eu não gosto de "Guadalajara". Não tem jeito. São coisas distintas. Uma coisa é ouvir uma música mexicana. Outra coisa completamente diferente é ouvir uma música feita por americanos de Hollywood que tenta se parecer com a verdadeira música do México. A segunda é apenas uma imitação da primeira. Infelizmente esse é o caso dessa canção gravada por Elvis para o filme "O Seresteiro de Acapulco" (Fun in Acapulco, 1963). Para não dizer que é um desperdício completo vale mencionar o bom arranjo, que acho muito interessante, embora não salve a música de ser fake, falsa. Fica apenas o prazer de ouvir todos aqueles metais ecoando pelas caixas de som. Obviamente não deixa de ser divertido ouvir Elvis se contorcendo todo para cantar alguns trechos em espanhol sem parecer algo completamente esquisito. É curioso que um dos grandes cantores da história da música norte-americano, o maravilhoso Nat King Cole, sempre se saía muito bem cantando em espanhol. Aliás algumas das suas mais lindas gravações são no idioma ibérico. Lindas, lindas performances. Eu não me importaria em nada em ouvir um álbum totalmente em espanhol cantado por Elvis Presley. Só que para funcionar, obviamente, as músicas teriam que ser originais, mexicanas ou espanholas de verdade, não algo composto por um maestro em Hollywood, feito meio às pressas, para cumprir contratos com estúdios de cinema. Joseph Lilley, o produtor dessas sessões, compôs "Guadalajara". É como se um compositor nascido no Alabama fizesse um samba carioca para um filme de Hollywood! Tem coisas que simplesmente não poderiam dar certo desse jeito.
6. It's a Matter of Time (Clive Westlake) - Bela canção romântica. Lado B do single "Burning Love". O compacto aliás amarrava todo o álbum. Esse tipo de estratégia hoje em dia nem faz muito sentido, mas nos anos 70 a gravadora ainda pensava dessa maneira equivocada. Esse disco, nem preciso dizer, é uma bagunça tremenda. A RCA pegou as duas canções do single "Burning Love" (que ainda trazia "It's a Matter of Time") para abrir os respectivos Lados A e B do vinil. Depois encheu linguiça colocando várias canções de trilhas sonoras dos anos 60, sem qualquer critério visível. Tudo jogado ao vento, sem nenhuma organização. Agora veja como a obra de Elvis conseguia sobreviver até mesmo aos erros de sua gravadora. Mesmo sendo mal lançado, desorganizado, de um selo menor e sem prestigio da RCA, o álbum fez sucesso comercial, vendendo 700 mil cópias! As pessoas gostaram tanto de "Burning Love" que imediatamente compraram o disco. Lançado em novembro de 1972 o álbum rapidamente se destacou nas paradas. Claro que o fã mais experiente sabia que estava sendo de certa forma enganado. Para ter "Burning Love" e "It's a Matter of Time" no formato LP ele teria que comprar outras oito músicas sem nenhum atrativo para quem era colecionador. Velhas canções de trilhas sonoras. Era a velha tática do Coronel Parker em lançar a mesma coisa duas, três, quatro vezes, se fosse possível. Um desrespeito para o consumidor. O ideal teria sido aproveitar diversas outras faixas que foram gravadas para a trilha sonora do disco "Elvis on Tour" (que jamais seria lançado) para preencher esse álbum. Aí sim teríamos um grande lançamento em mãos. Isso porém só aconteceria em um mundo perfeito, onde a RCA respeitasse mesmo os admiradores da obra de Elvis Presley. Algo que definitivamente não aconteceu.
7. No More (Hal Blair / Don Robertson) - Durante muitos anos a trilha sonora de "Blue Hawaii" foi o álbum mais vendido de toda a carreira de Elvis Presley. Um disco que comercialmente trouxe muito sucesso para Elvis. A crítica porém nunca gostou muito dele artisticamente. Disseram que era Hollywoodiano demais, sem consistência, com arranjos enjoativos (a tal sonoridade havaiana). Nem tudo o que se disse foi equivocado. Há de fato músicas que não se sustentam fora da trilha do filme, porém há também bela canções ali. Um exemplo é "No More", bela balada romântica escrita por Don Robertson (ótimo compositor romântico) e Hal Blair. Gravada e lançada em 1961, justamente dentro da trilha sonora de "Blue Hawaii" (Feitiço Havaiano, no Brasil), essa canção tem uma linda melodia que até hoje surpreende. Além disso Elvis estava em um momento vocal realmente maravilhoso. Um grande momento de sua carreira, sem dúvida alguma. Penso até que Elvis deveria ter aproveitada essa canção romântica nos palcos durante os anos 70.
8. Santa Lucia (Tradicional) - Outra boa faixa que foi usada nessa coletânea, outra que também veio de Hollywood, foi a italianíssima "Santa Lucia". Fã de Dean Martin, Elvis sempre flertou com a música italiana, algo que se acentuou depois quando ele retornou do exército em 1960. De tempos em tempos surgia no mercado novas gravações de Elvis nesse estilo, todas herdeiras de uma forma ou outra de seu grande sucesso "It´s Now Or Never" (seu compacto mais vendido em todos os tempos). Pois bem, essa faixa foi gravada para fazer parte do filme "Viva Las Vegas" (Amor à toda Velocidade, 1963). No filme ela não chegou a ser bem utilizada, mas dentro dos estúdios Elvis se empenhou e acabou tendo uma excelente performance, cantando a música com um capricho todo especial. Gosto muito do resultado final.
9. We'll Be Together (Phillip Brooks / O'Curran) - "We'll Be Together" foi tirada da trilha sonora do filme "Girls, Girls, Girls". Para os mais cínicos esse filme foi mais um dos vários genéricos de "Blue Hawaii" que Elvis filmou durante os anos 60. O Coronel Parker considerava esse o "produto perfeito" para Elvis, com trilha sonora cheia de músicas havaianas, clima bonito, bela fotografia e obviamente muitos dólares em caixa por causa do sucesso de bilheteria. Assim para "Girls, Girls, Girls" Elvis voltou ao Havaí. Ele interpretava um jovem pescador que tentava comprar um barco para ganhar a vida, enquanto cantava aqui e acolá nos night clubs locais. A música em si é apenas razoável, como praticamente todas as músicas desse filme. Nada muito memorável. Alguns ainda elogiam seu ritmo, sua sonoridade caribenha, mas sinceramente não me apetece.
10. I Love Only One Girl (Roy Bennett / Sid Tepper) - "I Love Only One Girl" era outra de trilha sonora dos anos 60. O filme "Double Trouble" era uma tentativa de levar Elvis para o mundo dos filmes de espionagem, ao estilo James Bond, o agente 007 que tinha permissão para matar. Já deu para perceber que era outro desperdício de tempo e dinheiro. O roteiro trazia um enredo que se passava na Europa, mas o Coronel Parker e a MGM acharam que isso sairia muito caro. Assim uma unidade foi enviada para a Bélgica e outros países do velho continente. Cenas exteriores foram gravadas e trazidas para Hollywood. Dentro do estúdio, já em Hollywood, Elvis iria apenas contracenar com essas imagens sendo exibidas atrás dele. Era a técnica chamada Back Projection Screen (algo como projeção atrás do elenco), que servia para economizar orçamento, mas que não parecia muito convincente nas telas de cinema. O filme acabou sendo feito assim. Era bem fraco, assim como toda a sua trilha sonora. Embora Elvis tente dar um gás, a verdade pura e simples era que o material era todo sem inspiração, feito às pressas. Assim não haveria mesmo salvação. Só serve mesmo para dar saudades das melhores trilhas de Elvis, que apresentavam boa qualidade artística, algo que ia ficando cada vez mais raro de acontecer, principalmente após 1965.
Elvis Presley - Burning Love and Hits from His Movies Volume 2 (1972) - Elvis Presley (vocais, violão) / James Burton (guitarra) / Scotty Moore (guitarra) / The Jordanaires (vocais) / Dj Fontana (bateria) / Ronnie Tutt (bateria) / Charlie Hodge (violão e vocais) / Jerry Scheff (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / Glen Hardin (piano) / J.D.Summer and the Stamps (vocais) / The Sweet Inspirations (vocais) / Kathy Westmoreland (vocais) / Bob Moore (baixo) / Buddy Harman (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Selo: RCA Camden, depois relançado pelo selo RCA Victor / Data de Lançamento: Outubro de 1972.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Burning Love and Hits from His Movies Volume 2
ResponderExcluirTexto Compilado
Pablo Aluísio.
Essa Santa Lucia ficou muito boa com o Elvis; ainda mais se lembrarmos de que está sendo cantada por um Batista que não poderia crer em santos.
ResponderExcluirNesse aspecto religioso Elvis era bem eclético. Ele tinha imagens católicas em Graceland. Além disso gravou uma canção para Nossa Senhora, "Miracle of Rosary".
ResponderExcluirEu sei, e isso é que é espantoso em um Luterano.
ResponderExcluirPablo por favor, mantenha o blog só sobre Elvis rs, um abraço
ResponderExcluirDepois de muitos pedidos coloquei o blog de Elvis no ar novamente. Para acessar basta procurar o link ai do lado na seção "Outros Bloga".
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